502 nação régia, surgida em circunstâncias inesperadas para estas e outras instituições, algumas já pluricentenárias”. De facto, na esteira da aprovação por D. Manuel I da Confraria da Misericórdia de Lisboa, instituída por D. Leonor, Regente do Reino, foi deliberado executar o arrolamento de todos os hospitais, confrarias, morgados e demais estabelecimentos que tivessem de alguma maneira carácter assistencial. O estudo empreendido pela historiadora reporta-se, assim, ao inventário extensivo da capela de D. Branca de vilhena, datado de 24 de Maio de 1499, e de que se encarregou Diogo Borges, juiz que superintendia esse tipo de processos organizados na referida província. Descritiva e expressiva no seu tratamento dos dados, Judite de Freitas compõe nesta monografia uma cabal identificação da geografia e das gentes associados ao território abrangido pela demanda, das suas relações sociais de dependência, dos regime dos foros e modos de produção económica, tudo convergindo numa detalhada teia de composição quantitativa que tinha como epicentro o convento dominicano de Guimarães. Rodeia-se a autora, para melhor certificação da paisagem patrimonial aqui descrita, com a segurança de elucidativos anexos que traduzem e auxiliam a leitura discursiva do extenso tombo patrimonial aqui reproduzido e faz jus a uma reavaliação historiográfica necessária das nossas micro-realidades locais num tempo de fortalecimento do poder central. Joaquim Fernandes CSI CATÁSTROFES Maria de Fátima Terra Pinheiro Pereira (Org.) As catástrofes naturais, ou provocadas pelo homem, sempre o deixaram perplexo e a contas com reflexões sobre a natureza e o sentido da existência. Lembro a discussão que se desencadeou na Europa de então no seguimento do terramoto de 1755, em Lisboa, acontecimento que provocou uma profunda comoção na época e levou a que homens como voltaire e kant levantassem questões de ordem metafísica a propósito do caso. O Holocausto foi outro acontecimento axial que levou, aparentemente, a que nada ficasse como dantes em termos éticos, políticos ou filosóficos. Mais proximamente, os genocídios no Ruanda ou na Bósnia, a crise do Darfur, os atentados contra as torres gémeas em New York, o tsunami na Tailândia, os desastres de Chernobyl e de Seveso, abriram portas a todas as teorias e discussões. é neste contexto que surge com toda a oportunidade este livro em boa hora organizado por Maria de Fátima Terra Pinheiro Pereira. De facto, aqui se procura responder à pergunta como agir em situações de catástrofe natural tecnológica ou provocada por situações de guerra ou por grupos terroristas. Artur Pereira procura responder no seu texto ao modo de como intervir, apoiando-se igualmente na legislação em vigor sobre esta temática. Assim, elege como tema central a constituição de equipas especializadas na identificação de vítimas, como acção determinante de uma doutrina de como actuar em situações de catástrofe. No mesmo sentido vai Maria Cristina Mendonça, ao pôr a tónica na investigação forense e ao dar nestes contextos preciosas informações acerca das diversas técnicas da identificação médico-legal. Assim, elege entre outras os exames gerais (traços fisionómicos, sexo, cor de olhos, tatuagens…) até exames radiológicos, medicina dentária forense, dactiloscopia e genética forense. Maria de Fátima Pinheiro segue uma linha semelhante, mas centra-se numa problemática fundamental no que concerne à identificação de pessoas vítimas de catástrofes, a análise do DNA, tema igualmente tratado pela autora conjuntamente com Laura Cainé num outro texto onde se abordam dificuldades presentes nesta técnica como a preservação do material biológico ou a contaminação. Arlindo Marques Lagoa e de novo Maria de Fátima Pinheiro procuram num texto seguinte uma sensibilização para as noções básicas de biologia concernentes à análise genética em situação de catástrofe. Já Márcia Cláudia Dias Carvalho aborda a questão extremamente pertinente dos agentes tóxicos presentes em muitas catástrofes quer naturais (erupções vulcânicas), quer tecnológicas (Chernobyl ou Seveso), quer provocadas por grupos terroristas ou situações de guerra (gás sarin, gás mostarda, desfolhantes, radiações…). Ana Rita Nóbrega fala por sua vez da intervenção odontológica em situação de catástrofe como forma de identificação de cadáveres, retomando, de certa forma, uma temática já aflorada por Maria Cristina Mendonça, mas de um modo desta feita mais aprofundado sob o ponto de vista técnico. Por fim tanto Patrícia Jardim e Teresa Magalhães como Isabel Silva falam nos seus textos das situações pós-traumáticas numa situação de catástrofe a partir das perspectivas médico-legal e psicológica. José Soares Martins LITERATURA E GEOGRAFIA Isabel Patim et al. (Coord.) é dentro de um processo que vem a desenhar-se há alguns anos, sob o enquadramento envolvente e norteador de Encontros de Estudos sobre Ciências e Culturas, que surgem agora publicadas as “Actas do Iv Encontro,” co-ligando a Literatura e a Geografia, sob o quadro operante de um quase quiasmo: − da geografia das palavras à geografia das migrações 503