Oo Artigo de opinião GEOGRAFIA O sismo no Japão: contributo para uma Geografia mais interessante O poder destrutivo da Natureza sempre assombrou o ser humano, especialmente quando a devastação resulta de eventos catastróficos de carácter súbito e imprevisível, como aquele que aconteceu no Japão, em março passado. Às 14:46 (hora local) do dia 11 de março de 2011, um forte sismo, com uma magnitude de 9.0 na escala de Richter, ocorreu no oceano Pacífico, a cerca de 130 quilómetros a leste da região de Tohoku (nordeste do Japão). O abalo fez acionar alertas de tsunami em pelo menos 20 países, incluindo nas regiões costeiras da América do Norte e da América do Sul. Ondas com mais de 10 metros de altura atingiram o Japão e penetraram vários quilómetros terra adentro, destruindo muitas infraestruturas (estradas, caminhos de ferro, barragens…) e arrasando completamente algumas localidades. Para além disso, o fornecimento de energia elétrica foi interrompido na central nuclear de Fukushima I, localizada 200 quilómetros a norte de Tóquio. Pelo facto do tsunami ter provocado avarias no sistema de refrigeração, vários reatores nucleares explodiram, libertando grandes quantidades de material radioativo. Todos os residentes num raio de 20 quilómetros da central nuclear foram evacuados. Sabe-se que esta série de desastres causou 28 mil mortos e desaparecidos, afetou seriamente as estruturas de mais de 50 mil edifícios e obrigou à evacuação de pelo menos 200 mil pessoas. De um momento para o outro, um sismo e as suas consequências saltaram para a linha da frente dos assuntos noticiados pela comunicação social: ocuparam as primeiras páginas de jornais (tanto nas versões impressas, como nas versões online) e foram tema de abertura nos espaços informativos de estações de televisão e de rádio. Simultaneamente, a catástrofe ganhou lugar cativo nas conversas entre as pessoas, estendendo-se rapidamente às redes sociais. Aquele país do extremo oriente passou a estar no centro das atenções. Ao longo de várias semanas, o mundo foi acompanhando com apreensão o desenrolar dos acontecimentos. Na Internet, multiplicaram-se as notícias, as fotografias e os vídeos, documentando a situação japonesa e oferecendo um manancial de informação com grande potencial educativo e pedagógico. De facto, nos meios de comunicação social e, particularmente, na Internet proliferam recursos multimédia que podem desempenhar um papel crucial na compreensão do fenómeno e na perceção dos efeitos da catástrofe. Numa era caracterizada por um volume de informação inquantificável, que satura e esmaga os nossos alunos, cabe ao professor privilegiar a organização dessa informação, selecionando-a pela sua pertinência e rigor. Aproveitando o destaque dado nos media ao forte sismo do leste do Japão, o presente artigo pretende, por um lado, sugerir um conjunto variado de recursos, disponíveis na Internet (portanto facilmente acessíveis), que podem ser alvo de exploração mais ou menos aprofundada nas aulas de Geografia, em qualquer um dos anos de escolaridade do 3.º Ciclo do Ensino Básico: Ano de escolaridade 7.º ano Unidade didática Tema Riscos e catástrofes Meio Natural Causas das catástrofes naturais. Efeitos sobre o ser humano e sobre o ambiente. Prevenção de catástrofes naturais. Modos de reação em situações de catástrofe. Mobilidade População e Povoamento Tipos de migração (migrações forçadas). Causas e consequências das migrações. Situação dos refugiados. Atividades económicas: recursos, processos de produção e sustentabilidade Atividades Económicas Recursos energéticos não renováveis, como o urânio, e seus impactes ambientais, sociais e económicos. Interdependência entre espaços com diferentes níveis de desenvolvimento Contrastes de Desenvolvimento Obstáculos ao desenvolvimento. Ação das instituições internacionais e das organizações não governamentais (ONG) em situações de catástrofe. Grandes desafios ambientais Ambiente e Sociedade 8.º ano ©q 9.º ano Conteúdo Problema da energia nuclear. Concentração de população no litoral. Neste contexto, coloco à sua disposição um documento (link 1) contendo uma série de ligações úteis para recursos, nomeadamente galerias de fotografias, vídeos e infográficos*, oriundos de jornais e outras publicações nacionais e internacionais. Para além disso, disponibilizo uma sugestão de atividade (link 2) baseada nos recursos propostos, bem como uma atividade prática (link 3) para realizar com os seus alunos. Por outro lado, este artigo procura alertar para a necessidade de adoção de métodos e técnicas que facultem à Geografia o potencial formativo enunciado em 2000 pela Geographical Association, no qual é reconhecido o valor desta ciência, ao permitir por exemplo: – construir o conhecimento e a compreensão dos acontecimentos, em diferentes escalas geográficas; – abordar a complexidade dos ambientes físicos e humanos; – estabelecer relações entre os sistemas naturais, económicos, sociais, políticos e tecnológicos; – desenvolver a competência da literacia visual (interpretação de mapas, diagramas, fotografias aéreas e imagens de satélite); – estimular o interesse e a admiração pelo mundo. Deve o professor de Geografia aproveitar a ocorrência de determinados eventos, catastróficos ou não, para desenvolver nos seus alunos competências relacionadas com a perceção/explicação dos fenómenos ocorridos no nosso planeta? Deve mobilizar temas e técnicas que permitam aos seus alunos reconhecerem a importância do estudo da ciência geográfica? Deve ainda «estar em cima do acontecimento», transportando para as aulas assuntos e problemáticas à escala local, regional e/ou mundial, que envolvam o quotidiano dos seus alunos? O sismo, o tsunami e a crise nuclear no Japão constituem uma excelente oportunidade para os professores de Geografia demonstrarem a credibilidade e utilidade da disciplina junto dos alunos. Talvez o trabalho/estudo deva estar mais centrado nos problemas, do que em unidades temáticas, que a maior parte das vezes se apresentam como gavetas, dificultando a relação entre os sistemas físicos e humanos, entre o ambiente e a sociedade. Neste sentido, cabe ao professor adotar nas suas aulas uma nova postura, desafiadora e desafiante, que facilite e motive os alunos na descoberta de uma Geografia mais interessante. Bom trabalho! Hélio Pinho ©q Professor de Geografia do Ensino Básico e Secundário *Os infográficos são representações visuais de informação, que podem combinar fotografias, ilustrações, diagramas, mapas e textos. São usados no jornalismo e em publicações de carácter técnico, educativo e científico, com a finalidade de transmitirem informação de modo mais dinâmico.