CONVÊNIOS CNPq/UFU & FAPEMIG/UFU Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA COMISSÃO INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2008 – UFU 30 anos EFEITO DE Carica papaya L. (CARICACEAE) E Chenopodium ambrosioides L. (CHENOPODIACEAE) SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE OVOS DE NEMATÓDEOS GASTRINTESTINAIS DE OVINOS Eurípedes Vilela da Silva1 Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Medicina Veterinária, Av. Pará, 1720. E-mail: [email protected] Patrícia Soares1 E-mail: [email protected] Dagmar Diniz Cabral2 E-mail: [email protected] Hudson Armando Nunes Canabrava2 E-mail: [email protected] Resumo: As parasitoses gastrintestinais ocasionam perdas econômicas significativas para os ovinos e o desenvolvimento da resistência parasitária alerta para um esgotamento dos compostos disponíveis. Torna-se importante o estudo de novas alternativas para o controle parasitário. Entre estas, as plantas medicinais podem apresentar resultados promissores, vindo a incentivar a criação orgânica. Este trabalho tem por objetivo avaliar in vitro a ação dos extratos aquoso, alcoólico e hidroalcoólico de Chenopodium ambrosioides e de sementes maduras de Carica papaya sobre o desenvolvimento de ovos de nematódeos gastrintestinais de helmintos. Os testes foram realizados incubando-se 200 µL dos extratos diluídos em 200 µL de DMSO (Dimetilsulfóxido) e igual volume da suspensão de ovos e controles negativos (diluente e água destilada) e positivo (levamisol), sendo realizada leitura após 24h. O efeito in vitro dos extratos vegetais sobre o desenvolvimento dos ovos foi analisado utilizando-se o teste de eclodibilidade para determinação de eficácia anti-helmíntica. Os resultados obtidos evidenciaram uma atividade anti-helmíntica de todos os produtos testados, sendo esta de 100%, porém faz-se necessário novo estudo para verificar a atuação do diluente utilizado, uma vez que o mesmo pode ter influenciado na atividade observada. Palavras-chave: Carica papaya, nematódeos gastrintestinais, ovinos. Chenopodium ambrosioides, anti-helmíntico, 1. INTRODUÇÃO As verminoses acometem intensamente os rebanhos ovinos e caprinos, representando prejuízos na produção de leite e carne e, muitas vezes, levando os animais ao óbito. Entre os parasitas que infectam pequenos ruminantes, estão os chamados trichostrongilídeos, pertencentes à família Trichostrongylidae, que compreende os gêneros Haemonchus, Trichostrongylus, Ostertagia, Nematodirus e Cooperia (Fortes, 1997). O controle efetivo destes parasitas pelo uso de produtos químicos convencionais tem encontrado dois grandes problemas: o desenvolvimento de resistência ao princípio ativo e a preocupação da população e dos órgãos governamentais com os resíduos nos produtos de origem animal. O crescente interesse de países desenvolvidos em fitoterápicos é uma conjuntura propícia 1.Acadêmicos do curso de Medicina Veterinária 2.Orientadores 1 para o estímulo à pesquisa de plantas medicinais e desenvolvimento de medicamentos delas derivados (Chagas, 2004). No entanto, apesar de bastante promissor, este campo ressente-se da falta de estudos farmacológicos, em especial no Bioma Cerrado que ocupa cerca de dois milhões de quilômetros quadrados no interior do país, o que representa 25% do território nacional, abrangendo 13 estados e Distrito Federal, apresentando uma biodiversidade pouco conhecida e superada apenas pela Amazônia (Neto & Morais, 2003). Várias espécies vegetais nativas ou naturalizadas do cerrado apresentam interessante potencial de uso medicinal como anti-helmínticos. Dentre muitas, apontadas em levantamentos etnobotânicos, podemos listar: Carica papaya (mamão papaia) e Chenopodium ambrosioides (Ervade - Santa - Maria), as quais foram objeto de investigação neste estudo. Historicamente as plantas se constituem na principal fonte primária de substâncias biológicas e farmacologicamente ativas, além de alimentares. A pesquisa com plantas e a produção de medicamentos originados a partir de plantas com atividade medicinal comprovada cientificamente envolve várias etapas desde a seleção da planta até a comercialização do produto final (Rates, 2001). A etapa de validação de uma planta envolve vários testes que visam confirmar a sua eficácia e determinar a segurança de sua utilização em organismos vivos. Os testes de eficácia podem ser realizados, in vitro e in vivo (Camurça-Vasconcelos et al., 2005). Estes testes servem como uma indicação inicial da atividade que está sendo pesquisada, e quando utilizados no início de uma triagem, permitem selecionar as plantas que apresentam melhores resultados, diminuindo gastos, evitando perda de tempo e uso indiscriminado de animais de experimentação. Para determinação do potencial anti-helmíntico de plantas podem ser realizados os testes de inibição de eclosão de ovos, de motilidade ou de desenvolvimento larvar de nematóides, além de ensaios com nematóides de vida livre. Uma substância que têm sido utilizada intensivamente em medicina veterinária é o dimetilsulfóxido. Já foram verificadas acima de trinta propriedades farmacológicas e terapêuticas do DMSO as quais resultam da sua capacidade de interagir ou combinar com ácidos nucléicos, carboidratos, lipídeos, proteínas e muitas drogas sem alterar de forma irreversível a configuração molecular (Sojka et al., 1990), o que o torna um excelente solvente. A ação permeante do DMSO em membranas biológicas tem permitido a sua utilização como potencializador de drogas antibacterianas, antifúngicas, antivirais e antiparasitárias (Brayton, 1986). O objetivo fundamental desta proposta é verificar a eficácia de plantas medicinais do cerrado brasileiro e do DMSO como recurso potencial no controle de helmintos gastrintestinais de ovinos. 2. MATERIAL E MÉTODOS As amostras das partes aéreas, raízes, caules e sementes foram coletadas em campos de cultivo e no ambiente natural na região do Triângulo Mineiro - Minas Gerais. Os materiais foram acondicionados e transportados adequadamente aos laboratórios da Universidade Federal de Uberlândia, onde, depois de herborizados e identificados por especialista, foram depositadas as suas exsicatas no Herbarium Uberlandenses da Universidade Federal de Uberlândia. Os materiais coletados foram lavados em solução alcoólica a 70 % e, em seguida, imersos em solução de hipoclorito de sódio a 0,2% por 5 minutos, secados em estufa, em temperatura controlada (40ºC), moídos e homogeneizados, obtendo-se um pó ou farinha. Os extratos foram preparados pelo processo de turbólise, utilizando os solventes: água 50% p/v, solução etanólica 50 % p/v e solução hidroetanólica 50% p/v. O macerado foi filtrado e submetido à evaporação rotativa, sob vácuo, para retirada dos solventes. O material resultante foi liofilizado em equipamento específico para posterior armazenamento. 2 Para a obtenção dos ovos de helmintos, utilizou-se ovinos com aproximadamente oito meses de idade de uma propriedade particular da região do Triângulo Mineiro/MG, criados em sistema semi-intensivo e com status parasitológico de contagem média de 5000 ovos por grama de fezes (OPG), segundo o método de Gordon & Whitlock modificado (Ueno & Gutierres, 1983). Os ovos encontrados possuíam características morfológicas típicas da superfamília Strongyloidea, família Trichostrongylidae. Foram coletadas cerca de 10 g de fezes diretamente da ampola retal, acondicionadas em sacos plásticos e encaminhadas sob temperatura ambiente ao laboratório de Parasitologia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. O material foi triturado em graal contendo solução salina hipersaturada, filtrado em tamizes de malhas de 250 mn/µm. O material obtido foi centrifugado a 2.000 RPM por cinco minutos e o sobrenadante foi submetido a três lavagens consecutivas com água destilada (2.000 RPM/5 min). Na última lavagem o sedimento foi mantido com um pequeno volume de líquido, ressuspendido e transferido para tubos de ensaio em alíquotas de 200µL, de modo a comporem uma suspensão com aproximadamente 1500 ovos de helmintos por tubo. O efeito in vitro dos extratos vegetais sobre o desenvolvimento dos ovos foi analisado utilizando-se o teste de eclodibilidade para determinação de eficácia anti-helmíntica proposto por Batista et. al. (1999), modificado. Placas de PCR com 96 pocinhos receberam, em duplicata, 200 µL da suspensão de ovos, igual volume de extrato vegetal, DMSO nas concentrações de 40%, 30%, 20% e 10% e controles negativos com solução salina 0,9% e diluentes, também em duplicata, controle positivo com 1 (um) mL de levamisol (Protall VP, da Vallée 18,8 %). Estes foram incubados em estufa à temperatura de 26 ± 1º C, com umidade controlada. Decorridas 24h, o material foi analisado em microscopia de luz invertida classificando-se todos os ovos presentes na amostra de acordo com o estágio de desenvolvimento em que se encontravam. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na avaliação do desenvolvimento dos ovos em 24 horas de incubação foram encontrados 100% dos ovos com alteração no desenvolvimento, deformados (não foi observada blastomeração) quando submetidos ao teste com os extratos aquoso, alcoólico e hidroalcóolico de Carica papaya, Chenopodium ambrosioides e nos pocinhos que continham DMSO, em todas as concentrações testadas, o que pode ser observado na Figura 1. Figura 1 - Ovo deformado e com desenvolvimento inibido pela ação de Chenopodium ambrosioides. Não houve diferença quanto ao solvente utilizado para extração dos princípios e não ocorreu nenhuma influência dos mesmos sobre o desenvolvimento dos helmintos, uma vez que a eclosão procedeu-se normalmente nos grupos controles. Quando submetidos à ação da solução salina 0,9% foram encontrados 50% dos ovos eclodidos e 50% de larvas livres, conforme Figuras 2 e 3, respectivamente. 3 Figura 2 – Ovo eclodindo e liberando a larva, observada no teste com solução salina 0,9%. Figura 3 - Larva livre observada no teste com solução salina 0,9% (seta). Considerando-se que para um tratamento anti-helmíntico ser eficiente ele deve alterar o desenvolvimento normal dos ovos impedindo que os mesmos eclodam e liberem as larvas que se tornarão infectantes, o ideal é que se tenha um produto que impeça que a fase de blastomeração prossiga (Furtado et al., 2005), como ocorreu neste experimento. Segundo a classificação do índice de eficácia proposto pela World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology - W.A.A.V.P. - (Powers et al.,1982), um produto seria altamente efetivo se apresentasse mais de 90% de ação contra o parasita tratado, moderadamente efetivo quando atuasse entre 80 a 90%, pouco efetivo quando a ação fosse entre 60 e 80% e não efetivo em níveis abaixo de 60%. Analisando-se os resultados obtidos em 24h de incubação dos ovos em relação à ação antiparasitária de Carica papaya e Chenopodium ambrosioides conclui-se que as mesmas possuem alta eficácia frente aos nematódeos testados, assim como o DMSO em qualquer uma das concentrações utilizadas. A ação nematicida de Carica papaya L. é indicada por Nagesh et al. (2002) que demonstraram que o óleo destilado em vapor de sementes secas e frescas tem propriedades nematicidas, in vitro, superiores a do carbofurano. Mpoame & Essomba (2000) e Singh & Nagaich (1999) identificaram ação nematicida das sementes de C. papaya em parasitas gastrintestinais de frangos de corte. Com relação à ação de Chenopodium ambrosioides L., Rodrigues et al. (2004) administrando extrato hidroalcóolico da planta à crianças do estado da Paraíba, observaram redução de 100% no parasitismo por helmintos e nenhuma ocorrência de efeitos tóxicos. Inibição de 95,66% da eclodibilidade de ovos de Haemonchus contortus pelo extrato de Chenopodium ambrosioides foi encontrada por Pessoa (2001). 4 Silva et al. (2004) utilizaram em seu experimento a concentração de 10% da infusão da planta que reduziu significativamente a motilidade de larvas L3 de nematódeos gastrintestinais nos períodos de 24 e 48 horas de observação, o que corrobora com este estudo e indica ação deste extrato em outras fases de vida do parasita. O controle positivo com levamisol promoveu a inibição de 100% da eclosão de ovos. O que sugere que na propriedade em questão não há resistência dos parasitos à base testada. Resultado semelhante foi observado por Veríssimo et. al. (2002) em uma ovinocultura no estado de São Paulo - Brasil, no qual o cloridrato de levamisol apresentou eficácia de 99,6% sobre helmintos da família Trichostrongylidae. De acordo com os resultados obtidos, o DMSO poderá atuar tanto como uma alternativa de combate às verminoses como um aditivo em extratos de plantas, uma vez que sua permeabilidade às membranas biológicas pode potencializar a ação destes extratos, como já o faz com produtos antimicrobianos. Vale salientar que o teste in vitro é apenas uma etapa inicial na pesquisa sobre atividade medicinal e, portanto, os resultados positivos obtidos com este teste, isoladamente, não são suficientes para validação científica de qualquer atividade pesquisada (Camurça-Vasconcelos et al., 2005). Os testes de eficácia in vitro servem como uma indicação inicial da atividade que está sendo pesquisada, e quando utilizados no início de uma triagem, permitem selecionar as plantas que apresentam melhores resultados diminuindo gastos, evitando perda de tempo e uso indiscriminado de animais de experimentação. 3. CONCLUSÕES Os resultados in vitro evidenciaram atividade anti-helmíntica de 100% de todas as plantas testadas e do DMSO sobre a eclosão de ovos e desenvolvimento larvares, o que justifica a continuidade de pesquisas que visem validar estas plantas medicinais como alternativa para o tratamento de parasitoses gastrintestinais de ovinos. A análise fitoquímica das plantas, os testes para a comprovação da ação efetiva dos princípios ativos sobre os parasitas e um conhecimento mais amplo das estratégias de controle, podem oferecer novas oportunidades de controle efetivo e econômico das doenças parasitárias. A condução de novos experimentos deve ser realizada de maneira que todas as etapas de desenvolvimento de um novo produto sejam investigadas para que possa ocorrer sua real aplicação. 4. AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela Bolsa de Iniciação Científica concedida (Projeto B - 005/2006). 5. REFERÊNCIAS Athayde, A. C. R., Almeida, W. V. 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(CHENOPODIACEAE) ON THE DEVELOPMENT OF GASTROINTESTINAL NEMATODE EGGS FROM SHEEP. Eurípedes Vilela da Silva1 Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Medicina Veterinária, Av. Pará, 1720. E-mail: [email protected] Patrícia Soares1 E-mail: [email protected] Dagmar Diniz Cabral2 E-mail: [email protected] Hudson Armando Nunes Canabrava2 E-mail: [email protected] Abstract: The gastrintestinals parasitism cause significant to economic losses for the sheep and the development of the alert parasitic resistance for an exhaustion of available composites. The study of new alternatives for the parasitic control becomes important. Between these, the medicinal plants can present resulted promising, come to stimulate the organic creation. This work has for objective to evaluate in vitro the action of extracts watery, alcoholic and hidroalcoholic of Chenopodium ambrosioides and mature seeds of Carica papaya on the egg development of gastrintestinals nematodes of helmints.The tests had been carried through were incubated 200µL of extracts diluted in 200µL of DMSO (dimethylsulfoxide) and equal volume of the egg suspension and negative controls (diluent and distilled water) and positive (levamisol), being carried through reading after 24h. The effect in vitro of vegetable extracts on the development of eggs was analyzed using the test of eclodibility for determination of anti-helmintic effectiveness. The gotten results had evidenced the anti-helmintic activity of all the tested products, being this of 100%, however new study becomes 7 necessary to verify the performance of diluent used, a time that the same can have influenced in the observed activity. Keywords: Carica papaya, Chenopodium ambrosioides, anti-helmintic, nematodes gastrintestinals, sheep. 8