UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA BRUNA DE MIRANDA ERN BRUNA VIEIRA GERALDI PERDA ÓSSEA PROVOCADA POR USO DO PIERCING LINGUAL – ESTUDO DE CASO CLÍNICO Itajaí (SC), 2011 2 BRUNA DE MIRANDA ERN BRUNA VIEIRA GERALDI PERDA ÓSSEA PROVOCADA POR USO DO PIERCING LINGUAL – ESTUDO DE CASO CLÍNICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista pelo Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profª Mabel Philipps Co-orientador: Prof. Eduardo Wayhs Matte Itajaí (SC), 2011 3 BRUNA DE MIRANDA ERN BRUNA VIEIRA GERALDI PERDA ÓSSEA PROVOCADA POR USO DO PIERCING LINGUAL – ESTUDO DE CASO CLÍNICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista, Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, aos três dias do mês de maio do ano de dois mil e onze, é considerado aprovado. 1. Profª Mabel Philipps (Presidente) ___________________________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 2 Profº Eduardo Wayhs Matte ________________________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 3. Dr. Abelardo Nunes Lunardelli ________________________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 4 À Deus dedico, reconhecendo sua intensa presença em todas as horas, a dádiva do dom da vida, sem o qual não acordaria a cada nova manhã. Por sua graça, alcanço este objetivo. Aos meus incomparáveis pais, Evandro e Ana Christina, exemplos perfeitos de pessoas honradas, únicas, dedico este trabalho, em retribuição a todo o carinho, apoio, amor e ensinamento. Pela presença constante e indispensável em minha vida. À minha amada irmã, Beatriz, amiga de sempre, compreensiva, conselheira, obrigada por todas as horas de dedicação, amo você. Ao meu amado Bruno, agradeço seu ombro amigo e compreensivo, seu amor e admiração, és um presente de Deus na minha vida, e este trabalho também é uma vitória sua. Bruna de Miranda Ern Á Deus, pelo dom da vida, por ser tão generoso e por estar sempre guiando e iluminando os meus caminhos. Aos meus pais Pedro e Neusa, que acreditaram em meu sucesso e caminharam sempre ao meu lado, renunciando seus sonhos para que pudesse realizar os meus. A minha irmã Mariana, amiga, companheira, muito obrigado, pela sua presença, palavras, orações, foram essenciais para mim. Ao meu namorado Peeter, homem de Deus que tem abençoado a minha vida, com sua paciência, compreensão, amor e incentivo para a concretização deste trabalho. Bruna Vieira Geraldi 5 AGRADECIMENTOS À Dra. Mabel Philipps, não apenas pela orientação do mais alto nível científico, mas pela amizade e exemplo de profissional, dedicada ao que faz, uma verdadeira inspiração daquilo que desejamos nos tornar. Este trabalho é apenas um dos incontáveis frutos que esta convivência nos proporcionou. Ao Dr. Eduardo Wayhs Matte, grande profissional e mestre, pela valiosa coorientação e por tantos ensinamentos. A professora Elisabete Rabaldo Bottan, pela paciência, compreensão, amizade, pela incomparável assessoria, conhecimento e dedicação, és uma pessoa admirável, obrigada por tudo. Aos nossos grandes amigos, que sabem quem são, tanto os antigos quanto os que ganhamos na faculdade, companheiros de tantas histórias, momentos especiais e que tornam nossas vidas uma alegria, agradecemos pelo apoio e inspiração na confecção deste trabalho. 6 PERDA ÓSSEA PROVOCADA POR USO DO PIERCING LINGUAL – ESTUDO DE CASO CLÍNICO Bruna de Miranda ERN e Bruna Vieira GERALDI Orientadora: Profª Mabel PHILIPPS Defesa: Setembro de 2011 Resumo Atualmente a arte do body piercing vem ganhando elevado número de adeptos, principalmente entre os jovens, sendo a cavidade oral, e, mais especificamente, a língua, o local de maior aceitação. O presente relato visa descrever um caso clínico de uma paciente usuária de piercing na língua onde fez-se presente: recessão gengival, pulpite aguda irreversível e abscesso periodontal agudo. O uso deste adorno pode acarretar inúmeras alterações patológicas tanto sistêmicas, quanto locais, portando torna-se de suma importância a atualização dos profissionais da área da saúde no que diz respeito ao alerta e possíveis tratamentos destes usuários. Palavras chave: Piercing lingual; Bolsa periodontal; Recessão gengival. 7 SUMÁRIO 1 ARTIGO.................................................................................................................. 08 2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 24 8 1 ARTIGO (A ser submetido à Revista Excelências em Odontologia) 9 PERDA ÓSSEA PROVOCADA POR USO DO PIERCING LINGUAL – ESTUDO DE CASO CLÍNICO BONE LOSS INDUCED BY USE OF TONGUE PIERCING – STUDY OF CASE Mabel Philipps Bruna de Miranda Ern Bruna Vieira Geraldi Endereço para correspondência: Mabel Philipps Rua Uruguai, 458 – Centro CEP 88302-202 – Itajaí – SC E-mail: [email protected] Curso de Odontologia, Universidade do Vale do Itajaí – Itajaí – SC - Brasil 10 PERDA ÓSSEA PROVOCADA POR USO DO PIERCING LINGUAL – ESTUDO DE CASO CLÍNICO BONE LOSS INDUCED BY USE OF TONGUE PIERCING – STUDY OF CASE Resumo Atualmente a arte do body piercing vem ganhando elevado número de adeptos, principalmente entre os jovens, sendo a cavidade oral, e, mais especificamente, a língua, o local de maior aceitação. O presente relato visa descrever um caso clínico de uma paciente usuária de piercing na língua onde fez-se presente: recessão gengival, pulpite aguda irreversível e abscesso periodontal agudo. O uso deste adorno pode acarretar inúmeras alterações patológicas tanto sistêmicas, quanto locais, portando torna-se de suma importância a atualização dos profissionais da área da saúde no que diz respeito ao alerta e possíveis tratamentos destes usuários. Palavras chave: Piercing lingual; Bolsa periodontal; Recessão gengival. Abstract Now a days, the art of body piercing has been gaining a great number of followers, especially between the youngest, with the oral cavity and, more specific, the tongue, the site of biggest acceptance. The objective of the present report is to describe a clinical case of a pacient who wears tongue piercing where she developed gingival recession, acute pulpitis and acute periodontal abscess. The use of this piece can induce several pathological alterations, both systemic and local, so it`s extremely important the constant improvement of knowledge of the health professionals when it comes about the warning e possible treatment for this users. Keywords: tongue piercing; periodontal pocket; gingival recession. 11 INTRODUÇÃO A prática do piercing (do inglês: piercing) tem sido realizada por várias civilizações. Na sociedade atual ele apresenta uma ligação com a adolescência e a vontade de ser diferente, sendo motivo de preocupação e discussão pelos profissionais da saúde, devido suas interferências prejudiciais na cavidade oral e complicações que podem ser de origem infecciosa ou não1. Estas “jóias orais” podem ser colocadas em um ou em múltiplos locais. No entanto, conforme estudo de Saquet et al.2 o piercing na língua foi o mais prevalente entre os jovens, totalizando 35 usuários (54%). O exagerado aumento do número de praticantes de piercing oral vem sendo preocupante para a classe odontológica, pois se sabe que, a microbiota bucal é extremamente rica, desde comensais a bactérias patogênicas, razão pelo qual uma das seqüelas mais comuns observadas nas pessoas que usam piercing é a infecção bacteriana. A colocação, como a utilização de piercing na região oral e peri-oral podem estar relacionadas com complicações transitórias ou até problemas mais graves e irreversíveis, sendo que algumas podem comprometer seriamente a saúde do paciente, com repercussão oral como: halitose, parestesia, edema, dor, dificuldade de fala, infecções, hemorragia de tecidos orais, recessões gengivais, acúmulo de placa, entre outros3 e sistêmica: hepatite, tétano, angina de Ludwig, endocardite, abscessos cerebrais, sangramento excessivo, obstrução das vias aéreas, e aspiração ou deglutição de componentes soltos4. O objetivo deste trabalho é apresentar um caso clínico de uma paciente usuária de piercing lingual, onde se fez presente inúmeras complicações locais e evolução para um quadro de abscesso periodontal agudo com envolvimento do tecido pulpar, caracterizando uma lesão endo-periodontal. RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, 22 anos, procurou uma clínica particular numa situação de urgência queixando-se de aumento de volume da gengiva e mobilidade do incisivo central inferior direito (41) acompanhado de dor espontânea e contínua que aumentava ao ingerir líquidos frios. Relatou ter procurado outro profissional e o tratamento sugerido foi exodontia do elemento e futura colocação de implante. 12 Ao exame clínico percebeu-se que a mesma apresentava um piercing na língua, em metal, com forma de esfera (Figura 1). Na anamnese a paciente relatou estar usando-o há quatro anos e que há seis meses havia trocado por um de haste mais longa (30 mm). Percebeu que fazia em torno de 3 anos que na região a “gengiva havia descido”. Observou-se que ao projetar a língua este tocava a face lingual dos incisivos inferiores anteriores (31,41). Observou-se ainda, recessão gengival e a presença de bolsa periodontal com profundidade de sondagem de 8mm por lingual do 31 e 10mm no 41 onde confirmou-se o aumento de volume da gengiva por lingual e mobilidade alterada, além de acúmulo de placa bacteriana e cálculo dental na região (Figura 2). Ao teste de sensibilidade usando o Endo-Ice, o dente 31 respondeu normalmente, enquanto o 41 acusou dor intensa que demorou a passar. Figura 1: Demonstração do piercing lingual. Figura 2: Presença de bolsa periodontal, demonstrada através de sondagem periodontal no elemento 31 com 8mm. 13 Com base na anamnese e exame clínico, foi diagnosticado um quadro de abscesso periodontal agudo associado a uma pulpite aguda irreversível no elemento 41. Ao exame radiográfico constatou-se perda óssea severa na região (Figura 3). Figura 3: Radiografia periapical da região, com extensa perda óssea. Realizou-se anestesia local infiltrativa, raspagem subgengival com a remoção do cálculo dental e profilaxia com pasta profilática na região. Seguiu-se com a pulpectomia do dente 41, curativo com clorexidina gel a 2% e selamento provisório. Foi realizado um pequeno alívio oclusal na incisal. Após estes procedimentos a paciente concordou com a remoção do piercing. Recebeu orientações quanto à higienização bucal e foi medicada com antibiótico e antiinflamatório. Após 10 dias, no retorno do paciente, comprovou-se que o pós-operatório transcorreu sem complicações, com ausência de dor. Observou-se normalização da mucosa gengival e diminuição da mobilidade. Foi realizada então a remoção do curativo e o preparo do canal radicular através da técnica coroa-ápice preconizada pela disciplina de endodontia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Foi colocado uma medicação intracanal a base de hidróxido de cálcio PA, manipulado com clorexidina gel a 2% e selado provisoriamente com restauração de resina fotopolimerizável. Foi realizada uma nova raspagem subgengival e a paciente foi alertada quanto a importância da higiene bucal. Foi então agendada para um 14 controle clínico e radiográfico após 40 dias. Decorrido este prazo, o elemento apresentou mobilidade normal e radiograficamente imagem compatível com controle da infecção. Foi realizada então, a obturação do canal radicular e restauração definitiva com resina composta fotopolimerizável. Foi reforçada a necessidade de cuidados com a higienização do local. Apesar de ser observado, após 5 meses, o início de reparo perirradicular através de radiografias de proservação, constatou-se, na sondagem, a permanência de bolsa periodontal estreita com profundidade de 8 mm no 31 e 41 e sendo assim, a necessidade de uma raspagem radicular em campo aberto para que o tecido periodontal de proteção fosse preservado, levando em consideração a sua vulnerabilidade com relação à aguda inflamação sofrida. Foi então realizada assepsia com gel de clorexidina 2% na face da paciente, assim como também solicitado um bochecho de 30 segundos com solução de clorexidina 0,12% anteriormente ao início do procedimento cirúrgico. Primeiramente foi realizada uma anestesia de bloqueio, pterigomandibular em ambos os lados, direito e esquerdo, e como complemento anestesia infiltrativa na face lingual do elemento em questão, 41, dando seqüência incisionou-se a região intra-sulcular dos elementos 32 a 42, com lâmina de bisturi número 15. Utilizando curetas gracey, foi realizada a raspagem, alisamento radicular e tratamento químico da superfície radicular com EDTA 24% pH neutro dos elementos 31 e 41. Durante este procedimento houve irrigação com solução de soro fisiológico 0,9% constantemente com o auxílio de seringa luer de vidro (Figura 4). O procedimento cirúrgico foi finalizado com uma sutura suspensória contínua, utilizando fio de nylon 6-0, reposicionando o retalho ao nível da crista óssea alveolar. A orientação terapêutica foi utilização de antiinflamatório não esteroidal, por um período de 3 dias, analgésico, em caso de dor, e utilização de solução antimicrobiana, clorexidina 0,12% de 12 em 12 horas, como auxiliar à higiene, até que remoção da sutura. 15 Figura 4: Cirurgia periodontal. Raspagem à campo aberto. Na reavaliação, feita após 30 dias, a profundidade de sondagem do elemento 31 e 41 foi de 2mm, demonstrando um resultado positivo do tratamento instituído. Observou-se ainda, radiograficamente, o desenvolvimento do reparo do tecido ósseo perirradicular (Figura 5). Figura 5: Radiografia periapical da região, após conclusão do tratamento DISCUSSÃO A arte do corpo vem ganhando popularidade atualmente, onde o piercing é uma forma de expressão desta arte e está bem difundido principalmente entre 16 jovens. No entanto, complicações sistêmicas e locais associadas ao uso do piercing são relatadas na literatura1,3,5,6,7. Em relação às complicações locais, as mais citadas são infecções, fraturas dentais, aumento de gengivite e doença periodontal, reabsorções ósseas e sangramento decorrentes do trauma local por contato e formações de cicatrizes6,8,9. A presença de inflamação gengival e perda óssea foram complicações observadas no caso clínico descrito onde a paciente era portadora de piercing localizado na língua, sendo esta a de maior prevalência, confirmado por diversos autores7,10,11,12. Geralmente são colocados na linha média, à metade da distância da ponta da língua ao freio lingual1. Esta localização é a que mais se destaca como fator prejudicial à saúde, pois, além da língua ser um órgão ricamente vascularizado e inervado, facilita a disseminação de vírus e bactérias10. Andrade, Andrade Júnior e Terezan5 e Trindade, Guaré e Bonecker9 relataram um caso clínico em que o paciente apresentou-se nas mesmas condições deste relato de caso onde observou-se a presença de recessão gengival e abscesso periodontal associado ao uso do piercing lingual. Considera-se que o trauma mecânico do piercing no dente tenha agravado uma inflamação gengival levando a formação de bolsa periodontal, visto que a paciente apresentava placa bacteriana e cálculo dentário na região, demonstrando uma higiene oral deficiente. Como afirma Bozelli et al.6, a presença de cálculo e placa bacteriana e principalmente a baixa eficiência na escovação do usuário deste adereço são fatores que contribuem para agravar essa injúria aos tecidos de sustentação. O trauma oclusal pode ser definido como a lesão induzida nos tecidos de inserção dentária decorrente de forças oclusais excessivas. Neste caso, o trauma foi provocado pelo contato direto e repetitivo do piercing sobre a superfície lingual dos incisivos inferiores, provocando uma agressão às estruturas periodontais e levando, desta forma, a reabsorção óssea com formação de bolsa periodontal observada clinicamente através de sondagem e com imagem radiográfica expressiva de trauma de oclusão (alargamento do espaço do ligamento periodontal). De acordo com Romagna e Gomes13 inicialmente, o desconforto sintomatológico nem sempre está presente e em muitos casos o paciente acomoda-se; sendo que o trauma oclusal, por ser subclínico, pode evoluir silenciosamente para conseqüências mais graves, como a perda óssea e o comprometimento pulpar, o que observou-se durante a anamnese, onde a paciente relatou que após 3 anos de uso observou apenas uma 17 recessão gengival e com o tempo evoluiu para um quadro agudo periodontal e pulpar. De acordo com Brooks, Hooper e Reynolds4 e Morosolli14 as chances de se observar tais problemas locais decorrentes do uso do piercing lingual aumentam com o tempo de uso, sendo que a média dos casos relatados na literatura foi de 2 meses a 9 anos , período que compreende as complicações observadas neste caso, que foi após 4 anos de uso. A recessão gengival na região lingual dos incisivos inferiores de usuários de piercing lingual é uma das conseqüências mais citadas na literatura através de relatos de casos (Brooks, Hooper e Reynolds4; Andrade, Andrade Júnior e Terezan5; Bozelli et al.6; Pécora et al.8 ; Morosolli et al.14), pois o íntimo e constante contato físico entre a esfera do piercing lingual e o tecido gengival que protege os dentes anteriores inferiores, acarreta uma perda de inserção periodontal e conseqüentemente o desenvolvimento de uma recessão gengival, o que observouse neste caso, visto que ao fazer a protrusão da língua a paciente alcançava facilmente o piercing na gengiva desta região e provavelmente por ser de haste longa (30mm) aumentou o risco de recessão o que também foi observado por Andrade, Andrade Júnior e Terezan5. Marquezan, Souza e Tanaka15 observaram ainda que os usuários de piercing também podem desenvolver hábitos parafuncionais por brincar com a jóia, o que acentua os riscos de trauma e fraturas dentárias. Apesar de esta paciente afirmar não ter este hábito, provavelmente poderia estar fazendo-o de forma inconsciente. Como afirma Consolaro16, na cronologia de uma lesão induzida nos tecidos de sustentação dentária, decorrente da presença de um corpo estranho, pode ocorrer inicialmente uma sintomatologia caracterizada por uma dor difusa até um discreto aumento da mobilidade dentária, que podem durar dias, semanas e até meses. Num segundo momento, algumas semanas depois de iniciado o processo, pode-se notar, radiograficamente, o alargamento uniforme do espaço periodontal, com espessamento da lâmina dura que representa a cortical óssea alveolar em conseqüência da necessidade de fibras periodontais para suportar o aumento da função, ou seja, para absorver forças oclusais mais intensas. Na evolução no trauma, com o rompimento de feixe de fibras colágenas e injúrias às células do ligamento periodontal, ocorre um aumento nos níveis de mediadores químicos locais, resultando num quadro de reabsorção óssea local concordando com Chambrone e Chambrone11 que afirmam que a possibilidade de trauma mecânico 18 sobre áreas de gengiva inserida leva ao desenvolvimento de retrações gengivais e a perda precoce dos tecidos periodontais, com eventual presença de bolsa periodontal. O que foi observado no caso clínico relatado onde a presença de profundidade de sondagem aumentada pode estar relacionada com a presença do piercing, já que o restante dos dentes apresentava profundidade de sondagem normal. Neste relato, a paciente só procurou ajuda profissional quando o caso agravou-se para um quadro agudo de abscesso periodontal associado à pulpite aguda irreversível. Levando-se em consideração que a coroa do elemento 41 apresentava-se hígida, acredita-se que devido à proximidade existente entre o periodonto e a cavidade pulpar, é possível que o processo inflamatório periodontal tenha alcançado a polpa dentária via forame ou canais acessórios, como afirma Gomes Filho et al.17 , pois levando-se em consideração a familiar relação anatômica entre os dois tecidos conjuntivos possibilita que agentes agressores transitem livremente entre ambos os sentidos, o que certamente pode causar comprometimentos patológicos associados18. É essencial destacar fatores que podem favorecer ou definir uma elevada previsibilidade de sucesso no tratamento da lesão endodôntica-periodontal, como o estado pré-operatório da polpa dental (vital ou infectado) ou do ligamento periodontal (saudável ou infectado)18. Neste caso a polpa manteve suas funções vitais, mesmo que inflamada, sendo improvável que ela produzisse irritantes capazes de provocar problemas no periodonto, o que poderia confirmar o efeito negativo do piercing na região18. Observou-se ainda que, apesar da polpa estar com vitalidade, confirmada durante o teste de sensibilidade e a abertura da câmara pulpar em função do sangramento, a radiografia demonstrou a presença de uma área radiolúcida periapical compatível com uma lesão periapical, no entanto como demonstrado por Gomes Filho et al.17, pode-se sugerir que esta imagem foi decorrente de um tipo de reabsorção periodontal que acomete o osso radicular, pelas faces vestibular ou lingual, estendendo-se apicalmente, e assemelhando-se à imagem radiográfica de lesão periapical. Outra explicação do autor para a presença destas áreas em dentes vitais é que doenças inflamatórias da polpa poderiam provocar reabsorção do osso periapical, mesmo antes da necrose da polpa. Quanto ao plano de tratamento, com a manutenção da vitalidade pulpar, apenas o tratamento periodontal deveria ser realizado18. No entanto, neste caso, em 19 função da polpa estar inflamada e resultar num quadro de pulpite aguda em estágio irreversível, dado os sinais e sintomas apresentados pela paciente como dor espontânea e contínua que aumentava com a ingestão de líquidos frios, foi necessário realizar o tratamento endodôntico. De acordo com Decurcio18, o esvaziamento, o preparo do canal radicular e a manutenção de uma medicação intracanal favorecem o controle da microbiota em ambos os microambientes sendo assim, o curativo intracanal foi mantido por 40 dias afim de proporcionar tempo suficiente para a cicatrização inicial periapical e melhorar a condição periodontal, através de uma substância antimicrobiana, no caso a pasta de hidróxido de cálcio manipulado com a clorexidina gel a 2%. Removido o piercing, feito um controle da paciente no que se refere à higienização e após a obturação do canal radicular, foi realizada proservação do caso, a fim de se avaliar critérios físicos e radiográficos que poderiam ser considerados representativos quanto à cicatrização da região. Na literatura, encontram-se sugestões de que a avaliação possa ser feita radiograficamente, onde nos casos bem-sucedidos, a reposição óssea poderia ser detectada por meio de pontículos radiográficos, observáveis após quatro meses de tratamento13, compatível com o tempo observado neste caso (5 meses). Portanto, assim como Andrade, Andrade Júnior e Terezan5 concluiu-se que o abscesso periodontal parece ter sido uma complicação do uso do piercing lingual sem a devida orientação odontológica necessária, pois após a sua remoção, juntamente com o controle de placa e o tratamento adequado das complicações locais, houve sinais radiográficos e ganho de inserção clínica indicativos do reparo da região evitando assim, a perda do elemento dental. No entanto, existem poucos estudos publicados na literatura que mostram claramente as complicações do uso do piercing relacionados à saúde bucal. Como muitas complicações são observadas, em razão da grande atração desta prática entre a população jovem, acredita-se que mais dados serão avaliados num futuro próximo. 20 CONSIDERAÇÕES FINAIS É de fundamental importância que os profissionais da área da saúde, não só os Cirurgiões - Dentistas estejam vigilantes para diagnosticar possíveis reações teciduais que possam resultar em patologias sistêmicas ou locais. Estes profissionais devem estar em alerta no que diz respeito, a orientação, a manutenção e possíveis intervenções. É essencial que busquem informações sobre este atual tema, para que possam estar capacitados ao se depararem com pacientes usuários deste adorno. Outra consideração refere-se às injúrias e riscos decorrentes da negligência e imperícia aos preceitos de biossegurança, quando da instalação do piercing bucal. Provavelmente os profissionais técnicos (“tatuadores”) que atuam nessa prática não possuem conhecimento anatômico e fisiológico, bem como sobre biossegurança em relação aos riscos de transmissão de doenças. Seria interessante ainda, realizar campanhas de saúde pública para informar e instruir adolescentes e adultos jovens sobre os efeitos adversos do uso do piercing em saúde bucal e sistêmica. 21 REFERÊNCIAS 1. Costa LAL. Piercing oral e suas complicações. Medcenter [on line], Disponível em <http://www.odontologia.com.br/artigos.asp?id=452>. Acesso em 21 abr. 2011. 2. Saquet PN et al. Perfil dos usuários de piercing oral e implicações decorrentes de seu uso. RGO (Porto Alegre) 2009 jan/mar; 57(1):41-5. 3. Ribeiro ED et al. Complicação após a colocação de piercing na região de lábio inferior: Relato de caso clínico. Rev Pau. Odontol 2010 abr/jun; 32(2):9-12. 4. Brooks JK, Hooper KA, Reynolds MA. Formation of mucogingival defects associated with intraoral and perioral. J Am Dent Assoc 2003; 134(7):837-43. 5. Andrade RA, Andrade Junior ACC, Terezan MLF. Abcesso periodontal em paciente usuária de piercing lingual: relato de caso clínico. Rev bras odontol 2007; 64(1/2):49-52. 6. Bozelli JV et al. Piercing oral e perioral: a moda que marca. Rev Inst Ciênc Saúde 2004 out/dez; 22(4):331-36. 7. Silva ER, Oliveira Júnior JP, Miranda S. Piercing intra e peri-oral – Revisão Bibliográfica. Biosci J 2005 maio/ ago; 21(2):115-22. 8. Pécora GA et al. Complicações decorrentes da utilização do piercing bucal avaliação e conduta clínica. Odonto 2010; 18(36):51-7. 9. Trindade CP, Guaré RO, Bonecker MJS. Piercing oral: considerações gerais e relato de casos clínicos. J bras odontopediatr odontol bebê 2003 maio/jun; 6(31): 203-09. 10. Carvalho VTC, Barbosa E, Silva CMOM. Estudo das alterações patológicas causadas por colocação de piercings orais (Revisão Bibliográfica) VII Encontro Latino Americano de Iniciação Cientifica e IV Encontro Latino Americano de PósGraduação – Universidade do Vale do Paraíba; 2004. 11. Chambrone L, Chambrone LA. Aspectos clínicos associados ao uso de piercing oral. Rev ABO Nac 2006 fev/mar; 14(1):40-3. 12. Espírito Santo RA et al. Piercing oral: fator de risco para o câncer. Rev Ciênc Méd Biol 2007 maio/ago; 6(2):233-9. 13. Romagna R, Gomes SC. Lesão endo-pério: plausibilidade biológica para o tratamento endodôntico prévio ao periodontal. Stomatos 2007; 13(25):113-30. 14. Morosolli ARC. et al. Piercing bucal: complicações e alternativas para o cirurgião-dentista. Robrac 2004; 13(36). 15. Marquezan M, Souza LT, Tanaka O. Piercing oral: beleza, riscos e o papel da odontologia. Rev Fac Odontol 2008 jan/abr; 12(1):8-11. 16. Consolaro A. Trauma oclusal antes, durante e depois do tratamento ortodôntico: aspectos morfológicos de sua manifestação. Rev Dent Press Ortod Ortop Facial 2008 nov/dez; 13(6). 22 17. Gomes Filho IS et al. A influência da doença periodontal sobre o tecido pulpar – avaliações clínicas e radiográfica. Sitientibus, 2006 jan/jun; (34):101-14. 18. Decurcio RA. Eficácia do tratamento da lesão endodontica-periodontal frente à influencia dos procedimentos endodônticos ou periodontais – Revisão sistemática. Trabalho de conclusão de curso [dissertação] Curso de Odontologia, Universidade Federal de Uberlândia; 2007. 23 2 REVISÃO DE LITERATURA 24 REVISÃO DE LITERATURA Brooks, Hooper e Reynolds (2003) verificaram que o interesse emergente nos adornos corporais tem estimulado um grande aumento no uso de piercing intra e peri-orais. Os locais mais comuns da cavidade oral são a língua e o lábio (81,0% e 38,1% respectivamente) entre as pessoas com piercing em locais não tradicionais do corpo. As jóias orais podem ser colocadas em um ou em múltiplos locais. Áreas de piercing menos freqüentes incluem bochecha, úvula e freio lingual. Resultados de uma pesquisa recente feita em uma universidade relevou que 10,5% dos entrevistados (47 de 446) admitiram que tiveram sua língua perfurada. Pacientes com piercing intra e peri-oral podem ter um risco elevado de desenvolver uma significante perda do ligamento periodontal envolvendo dentes vizinhos.Profissionais da área da saúde tem reconhecido diversos incidentes associados a piercing nas estruturas orais. Neste trabalho, os autores relataram cinco casos clínicos, na qual, os pacientes apresentavam piercing na língua e no lábio. Em três casos tinham piercing na língua e apresentaram profundidade de sondagem de 5 a 8 mm além da presença de recessão gengival. Porém, apenas 18,57% de dentistas e 26,67% de acadêmicos acreditam que a bolsa periodontal possa ser uma conseqüência mesmo que indireta do uso do piercing. Enquanto os piercings intra e peri-orais tem tornadose cada vez mais um modo de expressão, eles têm promovido uma onda de preocupações. A maioria das lesões periodontais relacionadas com piercing envolvia o uso de piercing lingual, visto em 64,3% dos locais afetados (27 de 42), e piercing labial, visto em 35,7% dos locais afetados (15 de 42). O local mais comum da recessão relacionada ao piercing lingual foi à face lingual dos dentes 31 e 41 e foi visto em 75% dos pacientes (9 dos 12 que especificaram o local).O desenvolvimento da recessão gengival está relacionado a múltiplos fatores etiológicos e locais predisponentes que freqüentemente agem combinados. Apesar dos fatores etiológicos - incluindo trauma físico - o tipo mais comum de injúria é a inflamação gengival. A média de tempo de uso das jóias orais nos casos relatados foi de 27,3 meses, variando de 2 meses a 9 anos. Conseqüências dentais adversas das jóias orais relatadas na literatura incluem dentes lascados ou fraturados; dor, edema, infecção, inflamação ou lesão de nervos nos locais com piercing; dificuldade mastigatória; disfagia; interferência na fala; hipersalivação, entre outros. 25 Complicações médicas associadas com o piercing oral são: hepatite, tétano, angina de Ludwig, endocardite, abcessos cerebrais, sangramento excessivo, obstrução das vias aéreas, e aspiração ou deglutição de componentes soltos. Recentemente, os primeiros sintomas de um abscesso de mama e pericardite foram associados com a prática de perfuração lingual. Portanto, os profissionais da saúde precisam enfatizar que o uso de jóias orais e piercings ornamentais, até mesmo por breves períodos, podem resultar em significantes deformidades mucogengivais que não possuem um tratamento cirúrgico com resultados satisfatórios e, de fato, podem levar a perda dental. Trindade, Guaré e Bonecker (2003) verificaram que o uso de piercing para arte e decoração do corpo vem sendo amplamente proposto e explorado nos últimos anos. Em relação a complicações locais, as mais citadas são fraturas dentais, aumento de gengivite e doença periodontal, reabsorções ósseas e sangramento, traumas locais e formações de cicatriz. As regiões do corpo em que o piercing pode ser encontrado variam desde lóbulos das orelhas, nariz, sobrancelha, umbigo até região de mamilo e genitália. No caso do piercing usado intraoralmente, podemos verificar problemas que vão desde processos inflamatórios e infecciosos até dificuldade de cicatrização, bem como reabsorções ósseas, fraturas e perdas dentárias. Os profissionais de Odontologia devem estar preparados e atualizados para dar suporte ao paciente quando for notado algum efeito negativo resultante da colocação e utilização do piercing oral. Este efeito pode ter conseqüências que afetam diretamente ou indiretamente a saúde física e psicoemocional do paciente, como, por exemplo, deformidades plásticas e estéticas permanentes. De acordo com Andrade, Andrade Júnior e Terezan (2004) a arte do corpo vem ganhando popularidade atualmente. O uso de piercing é uma forma de expressão desta arte e esta bem difundido principalmente entre jovens. A cavidade oral e, mais especificamente, a língua, é um dos locais mais comuns. Neste artigo foi relatado um caso cínico de uma paciente, sexo feminino, 31 anos, procurou a Faculdade de Odontologia da UERJ, relatando que sua gengiva estava retraindo e sentia dor. No exame clínico foram observados edema e exsudato na região lingual dos incisivos inferiores. A paciente apresentava diversos piercings, sendo eles, língua, umbigo, orelha e nariz, esta também relatou ter colocado o piercing na língua em 2002 e observou após seis meses uma leve recessão gengival na lingual dos incisivos inferiores, que foi aumentando até provocar dor em julho de 2004 quando 26 deixou de usar o adorno, onde observou-se um abscesso periodontal na lingual do 31. O cirurgião dentista realizou um teste de sensibilidade com o Endo-Ice no elemento 31. Este respondeu positivamente, sendo feito apenas uma raspagem subgengival. Depois de um ano, em 2005, a paciente retornou ao consultório, ainda com o abscesso periodontal. Realizou-se então uma cirurgia exploratória, realizando uma raspagem aberta na região, depois foi feito a sutura e meses depois a paciente retornou e foi orientada a não voltar a usar o piercing. Os autores concluíram que o abscesso periodontal parece ter sido uma complicação do uso do piercing lingual sem a devida orientação odontológica necessária. É importante ressaltar que este adorno pode provocar diversas complicações tanto na dentição como ao periodonto, na qual os cirurgiões-dentistas devem estar cientes para instruir e tratar estes pacientes. Bozelli et al. (2004) verificaram que a procura por esse tipo de adereço cresce exponencialmente, pois se acredita que estes diferentes tipos de ornamentação corporal utilizadas pela população, preferencialmente jovem, lhes proporcionarão a ruptura dos estigmas sociais vigentes, e também lhes tornarão sensualmente mais atraentes. Os piercings são encontrados em diversos lugares no corpo, entretanto, os locais de interesse ao cirurgião-dentista são: nas bochechas, nos lábios, no freio, na úvula e na língua. Com o aumento de pacientes portadores de piercings orais e periorais, o cirurgião-dentista deve estar atento para suas complicações nos tecidos bucais. Entre as complicações mais observadas incluem- se: dor, inflamação, aumento do fluxo salivar, fraturas dos dentes trauma no tecido periodontal e mucosa, infecções, obstrução das vias aéreas, dificuldade na fala, deglutição e mastigação.Os piercings podem ser: piercing lingual (tipo Barbell), que pode estar localizado no dorso ventral (o mais comum) e lateral da língua; o piercing labial (tipo Labrette) – este se encontra no lábio inferior abaixo do vermelhão labial; os piercings de bochecha e de freio também foram apresentados. Os autores também enfatizaram a manutenção da saúde oral e perioral do paciente com piercing, como controle, manutenção e prevenção de possíveis transtornos causados por esses ornamentos. A maior parte da literatura relata o excesso de sangramento no ato de instalação do ornamento lingual pela alta vascularização da língua e a dor ao desconforto pelo procedimento cruento. Os profissionais de piercings, geralmente não são orientados e precavidos quanto à esterilização e desinfecção dos materiais perfurantes para realização desse procedimento, levando assim o usuário a correr 27 riscos de contrair diversas doenças. O íntimo e constante contato entre a esfera do piercing lingual e o tecido gengival que protege os dentes anteriores inferiores, acarreta uma perda de inserção periodontal e conseqüentemente o desenvolvimento de uma recessão gengival. Entretanto, outros fatores podem contribuir para agravar essa injúria aos tecidos de sustentação, como acessórios dos piercings irregulares e não polidos, a presença de cálculo e placa bacteriana e principalmente a baixa eficiência na escovação do usuário deste adereço. Portanto, o cirurgião-dentista deve estar preparado para diagnosticar e tratar as possíveis seqüelas de piercings orais e orientar estes pacientes sobre as injúrias que estes ornamentos podem lhes acarretar. Carvalho, Barbosa e Silva (2004) verificaram que o piercing é uma palavra de origem inglesa que significa perfurar, mas popularmente a palavra tomou a conotação de uma jóia que se usa em diversas partes do corpo como, por exemplos, região peribucal e cavidade bucal. A arte que parece bonita para seus praticantes vem sendo um motivo de preocupação e constantes discussões entre os profissionais da área da saúde, além de trazer sérios problemas de saúde aos seus adeptos, muitas são as propagandas enganosas que relatam a inexistência de riscos que esta prática causa ao organismo e também são muitas as ausências de orientações que deveriam ser passadas pelos “bodypiercers” (aplicadores de piercing), aos seus clientes. O exagerado aumento do número de praticantes de piercing oral vem sendo preocupante para a classe odontológica, pois se sabe que, a microbiota bucal é extremamente rica, desde bactérias comensais a bactérias patogênicas, razão pela qual uma das seqüelas mais comuns observadas nas pessoas que usam piercing é a infecção bacteriana. Um dado preocupante é que muitos dentistas sequer sabem como aconselhar seus pacientes, que usam tais peças metálicas nos lábios ou na cavidade oral. Quanto ao uso de piercing oral, o lingual é o que mais se destaca como fator prejudicial à saúde, pois, além da língua ser um órgão ricamente vascularizado e inervados, facilitando assim a disseminação de vírus e bactérias. Os cirurgiões-dentistas precisam estar atentos a quaisquer condições que fogem da normalidade, orientar seus pacientes quanto aos riscos do uso de piercing e motivá-los a não usar tal adorno. Portanto, é de fundamental importância o conhecimento do cirurgião dentista sobre essas alterações bucais provocadas pelos piercings orais, já que falta informação a respeito do tema e falta aconselhamento aos pacientes sobre tais riscos. Os cirurgiões dentistas e 28 bodypiercers devem estar cientes das manifestações negativas que o piercing oral pode gerar ao organismo como: fraturas dos elementos dentais, mobilidade dental, alteração do fluxo salivar, irritação gengival por trauma, traumas periapicais ou periodontais, hemorragias, edemas, dificuldade de fonação e mastigação, carcinomas orais e infecções de variados tipos como a endocardite bacteriana, hepatite B, C e D além da AIDS. Os adeptos dessa moda devem procurar esclarecimentos antes da aplicação do piercing oral, e essa orientação deve ser de responsabilidade dos cirurgiões dentistas e de outros profissionais da saúde. Morosolli et al. (2004) relatam que a colocação do piercing na cavidade oral tem crescido nos últimos tempos, podendo provocar uma série de complicações onde as mais comumente observadas são: dor, fraturas e desgastes dentários, tecidos dilacerados (mucosa jugal, língua e gengiva), periodontites, halitose, trauma no palato, hemorragia, além de quadros inflamatórios e outras conseqüências que estão sendo pesquisadas. Observaram que são poucos estudos publicados na literatura que mostram claramente os efeitos negativos do “piercing” relacionados à saúde bucal. Como muitas complicações são observadas, em razão da grande atração desta prática entre a população jovem, acredita-se que mais dados serão avaliados num futuro próximo. Os autores relataram dois casos clínicos, no primeiro é de um paciente usuário de “piercing” na região mediana abaixo do lábio inferior por um período aproximadamente de três anos e observou-se recessão gengival na região do dente 31, no segundo caso relata um paciente usuário de “piercing” bucal na região mediana abaixo do lábio inferior, por um período aproximadamente de dois anos e meio, clinicamente observou-se pequeno nódulo séssil, medindo 3 mm no seu maior diâmetro, coloração semelhante à da mucosa, compatível com lesão por agente físico correspondente ao local do adorno. Na revisão de casos clínicos publicados, considera-se que complicações gengivais e dentárias associados com “piercing” lingual podem ocorrer durante o primeiro ano de uso. Apesar das leis e proibições existirem, elas não garantem a aplicação de “piercing” na cavidade bucal sem riscos e complicações, sendo uma responsabilidade do profissional da saúde o conhecimento sobre tais enfermidades, para que se possa orientar de forma adequada e tratar, quando necessário, pacientes que se encontrem nestas situações. Portanto é preciso que os cirurgiões- dentistas fiquem atentos a obter mais informações sobre uso de “piercing” bucal, bem como de alternativas que preservem a saúde dos tecidos bucais, de modo a poder melhor informar ao seu 29 paciente a respeito das conseqüências e complicações do uso indevido destes ornamentos na cavidade bucal. O objetivo do estudo de Torres et al. (2004) foi analisar as perfurações na língua e em regiões periorais, assim como suas conseqüências. Por a língua estar em constante movimento, tanto durante a fala quanto durante a mastigação, ao inserir algum adorno nesta região, pode causar uma série de lesões como: hemorragia, inflamação, infecção, recessão gengival, fratura dental, abrasão dental, dificuldades na deglutição, salivação excessiva, entre outros. Neste estudo foram selecionados 100 indivíduos portadores de piercing, divididos em grupos por idade e pelo local das perfurações. Após a detecção do uso dos piercings orais, foi realizado um exame clinico para determinar a existência de lesões causadas pelo piercing nesta região. A partir do exame clinico foram estabelecidas também outras variantes como: sexo, tipo de lesão, complicação do piercing, o número de perfuração, tipo de tratamento necessário, localização do piercing e quanto tempo demorou para cicatrizar e se foi necessário intervenção médica ou dentária após a perfuração. Dos indivíduos utilizados na amostra, 62% correspondem ao sexo masculino e 38% ao sexo feminino. Em 67% dos indivíduos portadores do piercing na língua, 54 eram homens e 13 mulheres. Em termos da presença de lesões, sinais e sintomas foram relatados como resultados: inflamação hemorrágica, infecção, recessão gengival, abrasão dental, dificuldades na mastigação, sensibilidade nos dentes e dificuldade na deglutição. Quanto ao tempo de execução do piercing, 30% utilizavam menos de 12 meses, 53% de 1 a 2 anos e 17% relataram fazer o uso a mais de 2 anos. Além disso, 76% relataram que após a remoção do piercing a cura foi obtida dentro de 4 semanas e 24% foram mais meses. Foi observado que 55% dos indivíduos exigiam um trabalho médico ou dentário após a perfuração, dos quais 23% relataram o uso de analgésicos e 32% de antibióticos. Não foram encontradas lesões em todos os indivíduos da amostra, concluiu-se que o fato de usar um piercing na cavidade bucal não significa que vai ter uma lesão, mas é um alto fator de risco para obtê-lo. Andrade, Terezan e Andrade Júnior (2005) verificaram que no mundo moderno é cada vez mais importante que os profissionais da área da saúde acompanham os temas que fazem parte da atualidade, como a arte do corpo (body art). Quando o piercing é colocado na cavidade bucal, ou ao redor dela, torna-se responsabilidade do cirurgião dentista preservá-lo, já que trata-se de sua área de atuação. Por isso é de extrema importância que os odontólogos estejam cientes das 30 possíveis conseqüências do uso de piercing, para informar e tratar pacientes usuários destas jóias. Seguindo a linha preventiva da odontologia moderna, os odontólogos devem ensinar e alertar os pacientes que tenham interesse em colocar um piercing oral ou perioral. E caso o paciente já possua este piercing, orientar como mantê-lo da forma menos agressiva para o periodonto e para os dentes e, ainda, tratar as possíveis complicações que possam aparecer com o seu uso. Portanto, neste artigo foi realizado um questionário com 100 acadêmicos e profissionais de odontologia, fornecendo dados sobre a prevalência de usuários de piercing e a presença de complicações, se os profissionais e acadêmicos de odontologia conhecem as possíveis complicações do uso de piercing oral e estão cientes da importância do seu papel como educadores sobre o tema e se a população em geral procura informações sobre o piercing antes de fazê-lo. Os resultados demonstraram que 41% dos profissionais de odontologia e acadêmicos entrevistados atenderam pacientes usuários de piercing oral ou perioral. Entre estes usuários de piercing, 24,39% apresentavam algum tipo de alteração, confirmando que esta já é uma realidade nos consultórios odontológicos. A alternativa mais marcada por acadêmicos (90%) foi a possível ocorrência de reação alérgica quando a jóia de metal é colocada na região oral e perioral, mostrando que estes estão mais conscientes do que os profissionais (77,14%). A interferência na fala e deglutição foi a opção mais assinala na freqüência total (87%), sendo 80% acadêmicos e 90% dos profissionais. A grande maioria (99%) concordou que é função do cirurgião-dentista informar os pacientes sobre os problemas que podem ser conseqüências do uso do piercing oral e perioral. Portanto, é possível concluir que apenas uma parte dos profissionais e acadêmicos de odontologia já atenderam pacientes usuários de piercing oral e perioral, sendo necessário que estes, aprofundem seus conhecimentos sobre as conseqüências deste adorno, para orientar e tratar melhor estes pacientes. Silva, Oliveira Júnior e Miranda (2005) verificaram que os piercings orais localizados dentro e em volta da cavidade oral são colocados nos lábios, dentes, frênulos, bochechas, língua, úvula, com a língua sendo local mais comum entre os intra-orais. As complicações deste adorno vão desde fratura dental, reações alérgicas ao metal, sangramentos excessivos, formação de cicatrizes até graves infecções, obstrução das vias aéreas e garganta pela presença da jóia aspirada e interferências na fala, mastigação ou deglutição, sangramento prolongado da língua 31 pode, também, ocorrer se acontecer à perfuração de algum vaso durante o procedimento, injúrias na gengiva, pelo contato constante do metal podendo também causar recessão gengival, no elemento dental, o contato com a jóia pode lascar ou fraturar o dente, onde os que possuem restaurações podem ser danificados mais facilmente ainda. Portanto, na literatura odontológica há poucas informações que são encontradas sobre body piercing, porém, os piercers orientam os pacientes a lavar com Listerine e Gly-Oxide (SmithKline Beecham Consumer Health) para evitar infecção. Atualmente, os profissionais que cuidam da saúde oral estão vendo, com uma freqüência cada vez maior, pacientes que usam piercings orais e periorais. Por isso, estes profissionais devem estar preparados para advertir, instruir e tratar os usuários ou os interessados nessa prática. Deve ser, também, função do cirurgiãodentista ou do profissional de saúde, alertar o paciente quanto aos problemas que essa prática pode trazer para sua saúde sistêmica e intra oral. Chambrone e Chambrone (2006) observaram que é cada vez maior a presença de piercing em regiões de cavidade oral e perioral. Confeccionados em diferentes materiais, podem estar relacionados à língua, mucosa jugal e frênulo labial e bochechas, na qual os dois primeiros citados tem maior freqüência na literatura como possíveis agentes etiológicos responsáveis pela instalação e desenvolvimento de trauma sobre os tecidos orais. Este artigo teve como objetivo apresentar cinco casos clínicos de pacientes portadores de piercing oral e alertar o cirurgião-dentista para determinados aspectos clínicos relacionados ao seu uso. Os usuários podem vir a apresentar algum tipo de alteração tecidual imediata, ou mesmo no decorrer de um espaço de tempo. Outros relatos apresentados enfocam como trauma específico sofrido pela língua o sangramento prolongado, devido à perfuração de vasos durante o ato, e dor devido ao procedimento a ser executado sem o uso de anestesia local. Entretanto, piercings orais tendem a aumentar o risco de infecções e também a possibilitar a transmissão de organismos. Outro fator a ser analisado é a possibilidade de trauma mecânico sobre áreas de gengiva inserida com propensão ao desenvolvimento de retrações gengivais, levando a perda precoce dos tecidos periodontais. Portanto, é necessário alertar os profissionais da área odontológica para uma correta orientação de seus pacientes portadores deste tipo de artefato para que os mesmos busquem um cuidado maior, tanto na assepsia do piercing e dos tecidos vizinhos, quanto na possibilidade de ocorrência de trauma sobre as estruturas intra-orais. O cirurgião-dentista deve estar alerta às diversas 32 reações dos tecidos vizinhos aos piercings orais e orientar seus pacientes quanto à necessidade de um controle periódico, com o intuito de evitar danos maiores, já que muitos mesmo sendo informados dos possíveis danos continuam utilizando piercings. De acordo com Gomes Filho et al. (2006) a doença periodontal tem início no tecido gengival e pode progredir, caso não tratada, em direção ao tecido ósseo. Em alguns casos, a reabsorção óssea pode envolver grande parte do osso de suporte dentário, o que leva inexoravelmente à perda do dente. A doença periapical, por sua vez, tem início após a necrose da polpa, quando bactérias e seus produtos metabólicos atingem a região além do ápice dentário. Devido à proximidade existente entre o periodonto e a polpa dentária, é possível que exista a passagem dos elementos nocivos oriundos da necrose pulpar para o tecido periapical, assim como, nos casos de doença periodontal, que o processo inflamatório periodontal alcance a polpa dentária, via forame apical ou canais acessórios. Neste estudo os autores avaliaram clinica e radiograficamente a influência da doença periodontal sobre o tecido pulpar, em dentes humanos. Foram avaliados 52 indivíduos em tratamento da doença periodontal, que possuíam dentes com extração indicada, por razões periodontais, na Clínica da Cooperfeira (UEFS). Estes dentes foram submetidos ao teste de sensibilidade pulpar e radiografados de forma padronizada. Os resultados dos testes de sensibilidade pulpar foram relacionados com os seguintes aspectos radiográficos: presença de área radiolúcida periapical, câmara pulpar e/ou canal radicular atrésico e calcificação pulpar. Concluíram que não existe uma associação entre essas variáveis e sugerem a necessidade de mais investigações que analisem parâmetros clínicos e radiográficos que venham a auxiliar no diagnóstico, prognóstico e prevenção das patologias relacionadas à polpa e às estruturas periodontias. Em relação à lesão endodôntica-periodontal, Decurcio (2007) afirma que esta situação clínica vincula-se a um processo infeccioso com positiva correlação entre os tecidos pulpares e os periodontais. A familiar relação anatômica entre estes dois tecidos conjuntivos possibilita que agentes agressores transitem livremente entre ambos os sentidos, o que certamente pode causar comprometimentos patológicos associados. Entre as vias de acesso que permitem o íntimo contato entre os tecidos conjuntivos que preenchem a cavidade pulpar e o espaço do ligamento periodontal 33 incluem conexões anatômicas naturais (túbulos dentinários, ramificações dentárias, forame apical) e agentes acidentais ou iatrogênicos (perfurações, fraturas radiculares, reabsorções dentárias). O forame apical favorece uma verdadeira comunicação entre estes dois tecidos. Situações clínicas como a bolsa periodontal e o abscesso endodôntico permitem suspeitas de envolvimento entre ambos tecidos – a polpa dental e o ligamento periodontal. Torna-se fundamental conhecer os fatores de risco para as lesões endodônticas-periodontais relacionados à endodontia, como os relacionados à periodontia e, também, associados a ambas as condições. Assim, dentro do contexto endodôntico pode-se considerar algumas condições susceptíveis e de risco ao prognóstico das lesões endodônticas-periodontais, como os microrganismos oriundos das infecções periodontais localizadas ou sistêmicas, associadas ou não a alterações imunológicas, incluem dentro dos fatores de risco. Destacam-se também o trauma oclusal, placas bacterianas (biofilme periodontal), raspagem e alisamento radicular. É essencial destacar fatores que podem favorecer ou definir uma elevada previsibilidade de sucesso no tratamento da lesão endodôntica-periodontal, como o estado pré-operatório da polpa dental (vital ou infectado) ou do ligamento periodontal (saudável ou infectado). Espírito Santo et al. (2007) salientaram que a prática do piercing tem grande popularidade e está fortemente associada à juventude, simbolizando atração sexual, provocação social, rebeldia e estética. A colocação e o uso do piercing oral envolvem possíveis complicações, que podem ser de origem infecciosa ou não, como lesões inflamatórias e pré-malignas. O piercing consiste na perfuração da pele ou de tecidos adjacentes, com o intuito de inserir um objeto metálico. A perfuração do corpo para a colocação do piercing é uma prática bastante antiga. Os motivos para a colocação do artefato já foram de caráter religioso, cultural, político, e até mesmo, para a identificação de escravos. Os piercings orais são localizados preferencialmente na língua, geralmente na linha média, na metade da distância entre o ápice lingual e o freio da língua. Embora as estatísticas acerca da freqüência de complicações decorrentes do uso do piercing oral sejam controversas, não há dúvida de que esse uso não está livre de riscos, e que está ocorrendo uma freqüência de seu uso, resultando no aumento do número de casuísticas de complicações. Vários estudos já relataram desde injúrias locais e reversíveis até complicações mais severas que colocaram a vida do paciente em risco. Existem muitas complicações que podem decorrer da inserção do piercing, dentre elas, a 34 dor, a infecção, a fratura dentária, a recessão gengival, o dano nervoso e a hemorragia são as usualmente observadas. A presença de recessão gengival pode ser justificada pelo fato de os usuários possuírem o hábito de projetar o objeto contra o tecido gengival. Entretanto, o cirurgião-dentista como profissional da área da saúde, deve estar preparado para instruir os usuários sobre riscos e cuidados envolvidos, bem como propor políticas publicas que visem à regulamentação e fiscalização dos profissionais que realizam a perfuração para a colocação do piercing e de seus estabelecimentos. Feuser, Monteiro Júnior e Araújo (2007) verificaram que o uso do piercing é um potencial para complicações, sendo que os profissionais da área de Odontologia devem manter vigilância com os piercings bucais. A ocorrência e a severidade destas complicações dependem do local do piercing, sua colocação, esterilização do material, experiência do operador, material usado e saúde geral do paciente. Os piercings bucais e peribucais mais comuns são na língua, lábio, freio lingual, septo nasal, narinas e bochechas. É importante que, na visita ao dentista, se remova o objeto para melhor avaliação e radiografias. A jóia deve ser recolocada imediatamente, visto que ha grande possibilidade de cicatrização do local. Os dentistas devem estar atentos e vigilantes a quaisquer alterações ou seqüelas causadas pelos piercings bucais e peribucais, para que munidos de conhecimento cientifico possam ministrar a terapêutica mais adequada para cada caso. Se houver complicações como dor, inflamação e outros problemas pode-se adotar procedimentos como antibioticoterapia, uso de clorexidina e debridamento local, alem de maior acompanhamento e, claro, remoção do piercing. Profissionais da área de Odontologia devem estar preparados para aceitarem a liberdade de pensamento e respeitarem os que procuram por adornos corporais, como tatuagens e piercings, guardando para si filosofias, preconceitos ou crenças. Exames clínicos cuidadosos devem ser realizados como rotina e os cuidados devem ser mencionados com atenção, fazendo corretos diagnósticos para prevenir e orientar, evitando, assim, ocorrências desagradáveis. Segundo Romagna e Gomes (2007) as lesões de origem distinta podem se localizar em dentes isolados ou podem ser combinadas (em um mesmo dente, sem comunicação) ou comunicantes (em um mesmo dente, com comunicação). Quando as lesões estiverem totalmente isoladas umas das outras, elas serão tratadas convencionalmente de acordo com a origem endodôntica ou periodontal. No entanto, 35 quando as lesões se comunicam, não se sabe, exatamente, qual a seqüência ideal de tratamento. Espera-se que a parte da lesão sustentada pela infecção do canal radicular se resolva depois do tratamento endodôntico apropriado, e, a outra parte, causada pela infecção periodontal, seja resolvida após a terapia periodontal. Esta terapêutica permitiria a cicatrização dos tecidos periapicais e evitaria a remoção de tecido viável (desmineralizado) por meio da instrumentação periodontal. Durante o processo de resolução das lesões endo-periodontais, é de fundamental importância entender quais modificações e eventos biológicos acontecem nos tecidos pulpares e periodontais adjacentes, e a sua relevância em relação ao tratamento da lesão. Estas relações biológicas, anatômicas e microbiológicas, entre os dois tecidos, revelam a plausibilidade da influência da polpa sobre o periodonto e, também, de maneira inversa, do periodonto sobre a polpa. Como foi comentado, é comum haver comprometimento endodôntico e periodontal comunicante em um mesmo dente. Assim, a terapia deveria ser direcionada para a remoção dos fatores etiológicos responsáveis pela destruição do tecido pulpar e, posteriormente, do tecido periodontal. O reparo do aparato de inserção e o reparo ósseo são resultados previsíveis após a terapia endodôntica adequada, uma vez que os fatores etiológicos são removidos e o canal radicular é adequadamente obturado. Não se sabe, exatamente, quanto tempo após o tratamento endodôntico poderá ser iniciada a intervenção periodontal. Sob o ponto de vista periodontal, alem dos sinais radiográficos, o ganho de inserção clinica poderia ser um bom indicador de que houve resolução do problema endodôntico. Pode-se observar que existem diversos caminhos de comunicação entre a polpa e o periodonto. Estes funcionam como possíveis vias para a troca de microorganismos e seus produtos entre estes tecidos, tornando, assim, plausível que a infecção em um deles, possa afetar patologicamente, o outro. Essa observação evidencia questões importantes não só em relação ao diagnóstico, mas, também, ao plano de tratamento e prognóstico. Cerri e Silva (2008) afirmam que a cavidade bucal pela sua localização anatômica está sujeita a uma série de injúrias, quer sejam biológicas, físicas e químicas entre outras, propiciando a essa cavidade inúmeras lesões que variam desde simples reações inflamatórias até neoplasias locais, como o carcinoma espino celular (CEC), além de representar em muitos casos reflexos de doenças sistêmicas. Ultimamente, devido ao modismo, a língua tem sido utilizada para outros fins, com a colocação de jóias ou piercings, como forma de ornamentos ou alegorias. O uso e 36 os malefícios do piercing na boca é um assunto polêmico que transcende quaisquer ponderações ideológicas, culturais e até do imaginário, uma vez que esse artifício é utilizado em todas faixas etárias, sexo ou raça.O uso do body piercing, ao contrário de outros modismos parece que veio para se instalar definitivamente entre os jovens. Dessa forma os malefícios atribuídos a esse artifício tendem a aumentar a medida que o número de usuários dessa mania também cresce. Assim sendo é de fundamental importância que se conheça as enfermidades oriundas dessa nova moda. A presente pesquisa baseou-se na análise histopatológica obtida pela biópsia incisional da mucosa lingual onde se encontravam inseridos "piercings" de todos os tipos e modelos. Foram selecionados 100 pacientes usuários de piercing na língua, com pelo menos seis meses de uso. Pra esta pesquisa foram utilizados os pacientes que por qualquer motivo procuraram a clínica da Faculdade de Odontologia da Unisa. Essas alterações vão desde um simples processo inflamatório crônico inespecífico, sem maiores consequências aparentes, até casos de lesões consideradas cancerizáveis como a leucoplasia constatada em cinco pacientes, além de três casos de displasia epitelial.Portanto, os pacientes devem ser orientados no sentido de não utilizarem desse adorno, em vista de suas implicações conhecidas e desconhecidas. A utilização de piercings na mucosa oral é uma realidade nos dias atuais e o Cirurgião Dentista tem a obrigação de alertar seus pacientes para os riscos potenciais e malefícios que esta prática representa. De acordo com Consolaro (2008) o trauma oclusal pode ser definido como a lesão periodontal induzida pela pressão dos dentes antagonistas, quer seja direta ou indiretamente. O trauma oclusal também pode ser definido como a lesão induzida nos tecidos de inserção dentária decorrente de corpos estranhos. Num primeiro momento, o trauma oclusal primário pode ser assintomático ou subclínico. Em muitos casos produz, inicialmente, uma sintomatologia caracterizada por dor difusa associada a um discreto aumento da mobilidade dentária, que podem durar dias, semanas e até meses. Num segundo momento, algumas semanas depois de iniciado o processo, pode-se notar, radiograficamente, o alargamento uniforme do espaço periodontal, com espessamento da lâmina dura que representa a cortical óssea alveolar. Esta alteração óssea em conseqüência da necessidade de fibras periodontais para suportar um aumento da função, ou seja, para absorver as forças oclusais mais intensas. Aumenta-se, assim, a espessura do ligamento periodontal. Na evolução do trauma, a continuidade da demanda funcional aumentada pela força 37 oclusal excessiva promove um estiramento intenso e repetitivo das fibras periodontais, especialmente as cervicais, que se inserem na parte mais cervical da crista óssea alveolar. Esta sobrecarga pode romper eventuais feixes colágenos, estressar excessivamente as células do ligamento periodontal e, em decorrência, aumentar significantemente o nível local de mediadores químicos por elas liberados, principalmente os associados à reabsorção óssea local. Marquezan, Souza e Tanaka (2008) estudaram que os piercings são adereços aplicados no corpo através de perfuração, e seu uso tem aumentado, em todo o mundo, entre jovens de diferentes classes sociais. O ato da aplicação da jóia e o seu uso podem ser prejudiciais à saúde do paciente. Ao buscar, por estética ou moda, os usuários de piercings peri e intraorais estão sujeitos a riscos que muitas vezes desconhecem, cabe ao cirurgião-dentista conhecê-los, para orientar seus pacientes. Entretanto, os cirurgiões-dentistas, devem alertar seus pacientes sobre os riscos e possíveis malefícios inerentes à aplicação e ao uso. Medina e Zuluaga (2009) avaliaram que o uso de piercing é um hábito pouco convencional que ganhou popularidade, especialmente entre adolescentes. Entre os piercings, a preferência é nos tecidos orais, não é incomum e há relatos de diferentes casos mostrando algumas condições patológicas associadas a eles, incluindo edema, dor, trismo, reações do corpo estranho, angina de Ludwig, dentes fraturados, infecção, traumatismo mucogengivais e recessão gengival. Apesar da importância relacionada com os efeitos indesejáveis produzidos pelo piercing oral, conforme documentado na literatura, algumas alterações periodontais, incluindo problemas de recessão gengival e perda mucogengivais óssea. Neste artigo o autor relata dois casos clínicos, na qual, os pacientes apresentavam piercing lingual, sendo que em nenhum dos dois casos foi relatado complicações após a instalação do piercing e nenhuma alteração patológica. No entanto, no caso dois observou-se através do exame intrabucal o elemento 41 com exposição radicular, sendo recessão gengival classe I de Miller. Nestes casos relatados, foram avaliados os efeitos do piercing nos dentes, em tecidos orais e perioral e a saúde em geral. Portanto, os resultados sugerem que o piercing na língua esta associado com a recessão gengival lingual nos incisivos inferiores. Isso reforça a provável contribuição mecânica do piercing na língua em relação à superfície lingual dos incisivos inferiores, talvez pela protrusão da língua. Os resultados deste artigo indicam que o piercing na língua pode ser um fator importante no surgimento de 38 recessão gengival na lingual nos incisivos inferiores. A prevenção de uma recessão lingual surge como uma opção mais adequada, devido às dificuldades técnicas e os resultados associados como a cirurgia mucogengival ou regenerativa, na superfície lingual dos incisivos inferiores. Portanto, é necessário realizar campanhas de saúde pública para informar e instruir adolescentes e adultos jovens, sobre os efeitos adversos do uso do piercing oral em saúde bucal e sistêmica. De acordo com Saquet et al. (2009) o piercing é um hábito utilizado por várias civilizações. A decoração do corpo com o uso de piercing vem conquistando mais popularidade, principalmente entre os adolescentes, pois este adorno atualmente é visto por eles como um meio de se diferenciar, expressar sua identidade, confrontar seus familiares ou, simplesmente, como uma moda que se transformou em símbolo de beleza. Devido o aumento da utilização, principalmente na região da cavidade oral, alguns estudos demonstram que o uso do piercing pode provocar alterações bucais, sendo que algumas podem comprometer seriamente a saúde do usuário. Essas jóias são confeccionadas em diferentes materiais, podendo funcionar como prováveis agentes etiológicos no desenvolvimento de traumas na cavidade bucal, principalmente na mucosa. As complicações decorrentes do uso do piercing oral podem ter variados graus de risco como dor, infecção, edema, fratura dental, transmissão de doenças, hemorragia, interferência na mastigação e na fala, recessão gengival, parestesia e até angina de Ludwing em casos de extrema gravidade. Foram entrevistados 51 usuários de piercing oral residentes na cidade de Santa Maria (RS), com idade entre 18 e 42 anos. Para obtenção de informações precisas sobre o perfil dos usuários e implicações decorrentes do uso deste tipo de piercing, foi elaborado um questionário contendo 16 perguntas objetivas. Com base nos questionários analisados, a maioria dos usuários possui piercing na língua ou no lábio como uma maneira de expressar a identidade. O piercing de língua e o de lábio é o mais comum em grande parte do mundo. O procedimento de colocação do piercing, bem como seu uso são fatores que acarretam riscos e conseqüências adversas para a saúde oral dos usuários. Também existem relatos na literatura de alterações que causam efeitos indesejados, desde simples patologias localizadas até algumas que atingem sistemicamente o organismo do usuário de piercing. Os resultados deste trabalho demonstraram que 45% dos usuários de algum tipo de piercing oral sofreram ou sofrem de alguma alteração. Foi observado também que, quanto maior o tempo de uso, mais prejudicial ele se torna. Portanto, muitas dessas 39 alterações são prejudiciais à saúde bucal e/ou geral do usuário do piercing, devendo-se alertar os profissionais da área de Odontologia a esclarecer seus pacientes que fazem uso da jóia sobre as conseqüências que podem ter e a necessidade de cuidados especiais para amenizar estes problemas. De acordo com Claveria Clark et al. (2010) a palavra piercing vem do inglês, pierce, que significa perfurar,atravessar. O piercing consiste em perfurar um tecido do corpo, ou seja, a pele e suas camadas adjacentes, com o objetivo de inserir um objeto de metal que serve como adorno. Após várias pesquisas científicas recentes, os médicos “declararam guerra” ao uso do piercing. Em um informativo publicado por cirurgiões dentistas britânicos British Dental Journal, foi citado: “A prática do uso do piercing, agora difundido entre jovens, pode causar não só hemorragias, como também cicatrizes na cavidade oral, infecções, fraturas nos dentes e danos ao sistema nervoso. Os especialistas calculam que uma a cada cinco pessoas que realizam perfurações na boca sofrem de saúde dessa natureza”. O piercing pode causar complicações locais ou gerais, seja infeccioso ou não, principalmente relacionado com dois fatores: qualidade do procedimento e tipo de material acessório. O que realmente chama atenção é que em sua maioria são colocados por pessoas que não tem conhecimento necessário para resolver qualquer problema durante ou após o ato ou até mesmo uma reação adversa ao corpo estranho, esta podendo ser até grave. O uso indiscriminado do piercing tem aumentado grandemente nos últimos tempos, as pessoas têm feito seu uso sem conhecer os perigos ocultos que esta prática pode acarretar, o que pode parecer um simples adorno pode transformar-se em uma verdadeira ameaça a saúde. Segundo Conti (2010) o uso do piercing vem a constituir parte da imagem estética, cada vez mais, dos jovens sendo muito usado nos lábios e até na língua, representando um símbolo de modernidade. Por outro lado, convém ter presente que, no futuro, poderá facilitar a formação de um câncer bucal, sendo considerado, sob o ponto de vista odontológico, como uma forma de injúria intra-oral. Não se deseja condenar a moda do uso do piercing, mas é preciso fazer um alerta para as pessoas que pretendem usar, sobre os riscos que elas podem correr, principalmente do piercing na língua. Mesmo com uma boa higiene bucal, os adeptos não estão livres de uma doença. Os cirurgiões-dentistas devem informar os riscos da utilização do adorno e estarem atentos aos clientes que os utilizam na região peribucal, em especial no lábio inferior e na cavidade bucal, isto é, na língua. Na boca, sem dúvida 40 nenhuma, as regiões onde mais se coloca o piercing são a língua e o freio lingual, outros locais, como a mucosa labial inferior, são áreas anatômicas menos utilizadas, tendo em vista o desconforto provocado pelo metal. O dentista deve conhecer os riscos dessas peças e divulgar seu conhecimento na comunidade e aos seus pacientes. Se, por acaso, a pessoa insistir em colocar um piercing, ela deve ser examinada periodicamente pelo seu dentista e ser orientada a colocar a jóia num local higiênico e com um profissional experiente. Através de biópsias nas línguas de usuários, foi observado que em todas elas havia alguma alteração histológica: desde uma simples inflamação, como também um processo inflamatório crônico chegando a lesões mais graves, conforme já relatado. Porém, a boca, não há como negar, é uma cavidade escura, úmida, sensível e altamente vascularizada, sendo que a possibilidade de infecção e de outras doenças é bem maior. Portanto, a conduta correta do profissional de Odontologia é requisitar a retirada de tais acessórios, permitindo uma visão livre de obstáculos, no exame da boca. Importa assinalar que o uso do piercing não será abolido através de leis proibitivas ou punições. O usuário tem de ser esclarecido sobre os riscos do piercing, assim como se faz com o cigarro, contudo o livre-arbítrio deve ser preservado. A exemplo de outros órgãos internacionais, nossas entidades deveriam se pronunciar sobre o piercing bucal. O Conselho Federal de Odontologia se mostra sensibilizado e pretende tomar uma posição, pois neste caso, omissão é prejudicial a toda classe odontológica, ressaltando-se que, segundo o Instituto Nacional do Câncer, INCA, os casos de câncer bucal aumentaram em 37% nos últimos 10 anos. Dos novos casos da doença que surgem por ano, de 7% a 8% do total estão relacionados à boca. Portanto, o dano decorrente do ato odontológico não é necessariamente da culpa do cirurgião-dentista. Fragelli, Campos e Gaspar (2010) verificaram que o piercing é muito difundido entre os jovens, sendo utilizados com freqüência na orelha, sobrancelha, umbigo, nariz, genitália e cavidade oral. Na cavidade oral, os lábios são muito procurados, mas o piercing lingual está se tornando cada vez mais popular. Neste estudo verificaram-se as implicações do uso de piercing lingual em indivíduos da cidade de Araraquara (SP). Foi realizada uma pesquisa com 100 indivíduos de ambos os sexos, acima de 18 anos, que fazem ou fizeram o uso do piercing lingual. A amostra esteve composta por 61 mulheres e 39 homens sendo que, 93 indivíduos ainda faziam o uso do piercing lingual no momento da aplicação do formulário, onde 41 grande parte dos indivíduos avaliados (n=77) utiliza piercing lingual a mais de seis meses. O tempo de cicatrização, após colocação do piercing relatado por 59 pessoas foi menor que quatro semanas e de 5 a 8 semanas para 34 indivíduos. Nota- se que 11 pessoas relataram não ter apresentado sintoma algum decorrente da colocação do piercing lingual enquanto 49 indivíduos relataram mais de dois sintomas como edema, dor, febre, sangramento, infecções e abscessos. As principais complicações relatadas pelos usuários de piercing lingual como aumento da salivação, dificuldade de fala, fraturas dentárias, traumas na gengiva ou mucosa e dificuldades na alimentação foram resultados por 56 pessoas. Quanto às possíveis complicações durante as primeiras semanas de uso do piercing lingual, 11 pessoas relataram não apresentar sintoma algum decorrente da colocação do piercing e 40 indivíduos relataram mais de dois sintomas como edema, dor, febre, sangramento, infecções e abscessos. Frente a estas implicações justifica-se o despendimento de esforços na orientação de jovens frente à opção de utilização de piercing na cavidade oral. Mustelier Ferrer et al. (2010) verificaram que é impossível determinar exatamente quando o piercing apareceu na história da humanidade, mas o fato é que sua origem é tão antiga quanto a pele. Não há evidências da segurança dessa prática, onde complicações são causadas pela falta de higiene, tanto na limpeza do piercing ou de cuidados após a inserção. De maneira geral, é evidente que a inserção do piercing em uma parte do corpo deve ser com instrumentos esterilizados e condições assépticas, pois, doenças como a AIDS, tuberculose e hepatite B, C, D e G podem ser transmitidas através da reutilização de materiais sem limpeza adequada. Por isso, os autores se sentiram motivados para fazer uma revisão da literatura sobre o piercing, pois atualmente o assunto sobre as complicações e a prevenção deste ato é pouco conhecido entre os profissionais da saúde e, especialmente, porque as pessoas ou profissionais não são treinados para realizar esta prática em nosso meio. Portanto, quando o paciente perguntar sobre a possibilidade de usar um piercing, devem ser informada das possíveis complicações de acordo com o local de implantação e as medidas a serem tomadas contra ela. É difícil determinar onde definir a freqüência em segundo lugar, embora pudesse ser o umbigo ou na língua. No entanto, é evidente que o lugar com mais complicações descritas na literatura é a língua. Erosões no esmalte, dentes quebrados e recessão gengival são complicações freqüentes de piercing na bochecha, lábio ou língua. 42 Antes de sinais de alerta, como a formação de abscesso, reação de corpo estranho, dor e sinais inflamatórios ao redor do piercing, entre outros, a peça deve ser removida, e o tratamento sintomático realizado. O conhecimento dos riscos, antes da aplicação pode evitar o sofrimento desnecessário para o futuro portador de um piercing. No entender de Pécora et al. (2010) o uso de ornamentação corporal, historicamente, advém de civilizações antigas e representaram valores culturais, sociais e religiosos. Todavia, o aumento da freqüência do uso na cavidade bucal vem sendo focalizada pela atenção dos cirurgiões-dentistas. Nesta perspectiva, a atuação preventiva do profissional torna-se essencial para a preservação da saúde bucal e gengival e colaborando com a saúde sistêmica do paciente. Neste artigo foram relatados três casos clínicos, de pacientes portadores de piercing bucal, nos quais foram motivados a remover os adereços e, quando não admitiram a remoção, foram orientados preventivamente para evitar maiores complicações. A aplicação dos piercings bucais raramente apresenta alterações na saúde sistêmica. Particularmente, complicações e transtornos decorrentes de sua instalação referemse à região de cabeça e pescoço, além da própria cavidade bucal e do sistema estomatognático. Dentre os transtornos sistêmicos decorrentes da aplicação dos piercings na cavidade bucal, foram citadas a bacteremia e septicemia, endocardite, Angina de Ludwig, hemorragia, alterações em níveis leucocitários e a possibilidade de aspiração ou ingestão do piercing. Outra consideração a ser tecida refere-se às injúrias e riscos decorrentes da negligência e imperícia aos preceitos de biossegurança, quando da instalação do piercing bucal. Os profissionais técnicos (“tatuadores”) que atuam nessa prática não possuem conhecimento anatômico e fisiológico, bem como sobre biossegurança. Foi atribuída à prática de aplicação dos piercings bucais, a possibilidade de transmissão de infecções fúngicas (Candida albicans) e virais como pelo HIV, hepatites B, C, D e G, herpes simples e EpsteinBarr vírus. Portanto, cabe ao cirurgião- dentista o esclarecimento sobre os possíveis riscos e complicações, bem como a remoção destes ornamentos. Em casos de pacientes irredutíveis e resistentes quanto à remoção dos piercings bucais, a demonstração das injúrias clínicas pode ser um fator convincente. O Cirurgiãodentista, particularmente o periodontista, desempenha papel relevante na orientação e prevenção em referência a não aplicação do piercing bucal. De acordo com Ribeiro et al. (2010), a utilização de piercing na região oral e 43 peri-oral podem estar relacionadas com complicações transitórias ou até problemas mais graves e irreversíveis, sendo que algumas podem comprometer seriamente a saúde do paciente, com repercussão oral e sistêmica, como: halitose, galvanismo, parestesia, edema, dor, dificuldade fala, sialorréia, hemorragia, infecções, transmissão do Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV), hepatite, deglutição do piercing, traumatismo de tecidos orais, recessões gengivais, fratura dental, acúmulo de placa, hiperplasia gengival, incorporação do corpo estranho no local da jóia. O autor relatou um caso clínico de um paciente do sexo masculino 21 anos, leucoderma, natural de Bauru-SP, que procurou o pronto atendimento do Hospital Unimed em Bauru-SP, com queixa principal de “piercing enterrado” no lábio esquerdo há 4 dias com dor à palpação e a presença de infecção no local após a colocação do piercing o que não permitiu a sua remoção. Foi realizado exame físico extra-oral e intra-oral, a remoção cirúrgica do piercing sob anestesia local. Após uma semana foi realizado a remoção dos pontos e não havia sinal clínico de infecção ou inflamação. Para a colocação de piercing no lábio inferior, se faz necessário a perfuração da pele e mucosa o que pode resultar em complicações. Portanto, é papel importante do cirurgião- dentista informar aos pacientes portadores de piercings orais que a sua permanência mesmo que por pouco tempo, pode causar inúmeras complicações, e resultar até na perda dos dentes. Alves et al. (2011) relataram que a menor C.V.O., do gênero feminino, com 15 anos de idade, procurou a clínica da Disciplina de Saúde Oral do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro queixando-se de que “quebrou o dente quando comia”. Ao exame clínico percebeu-se uma fratura no elemento dentário 24 e uso de piercing lingual, provável causador do trauma dentário. A paciente relatava sensibilidade dentária no local, uma vez que havia exposição da dentina. O tratamento consistiu no esclarecimento quanto aos riscos do uso de piercing e confecção de uma restauração conservadora indireta de cerâmica. Após o tratamento e orientação, a paciente resolveu remover o piercing. Portanto, o uso de piercing na língua, assim como em outros sítios bucais, leva a complicações imediatas e posteriores. O profissional de saúde, no geral, deve orientar e apresentar as possíveis complicações e intervindo quando necessário. No entender de Costa (2011) a prática do piercing, na sociedade atual, apresenta uma ligação com a adolescência e a vontade de ser diferente, sendo motivos de preocupação e discussão pelos odontólogos, devido suas interferências 44 prejudiciais na cavidade oral e complicações que podem ter origem infecciosa ou não. Os piercings são encontrados em vários tamanhos e tipos, por exemplo, na língua geralmente é colocado na linha média (pois lateralmente a ela passam nervos e vasos), à metade da distância da ponta da língua ao freio lingual. Medem aproximadamente 30 mm, sendo mais utilizado o circunferencial em ambas extremidades. Várias complicações decorrentes do uso do piercing têm sido relatadas na literatura. Os dentistas devem estar atentos a esta prática e aos problemas causados pelos mesmos. Dor e edema são as complicações mais comuns. Quanto ao edema, devemos ficar atentos, principalmente os relacionados ao piercing lingual, pois em casos extremos poderão comprometer as vias aéreas superiores. Sangramento prolongado e/ou parestesia podem ocorrer se a perfuração na língua não coincidir com a linha média (paralelamente a esta passam os feixes vásculo - nervoso lingual). Fratura dental, trauma à mucosa, gengiva e palato também são comuns. O usuário tem o hábito de brincar com a jóia ou mesmo o simples ato da mastigação pode causar danos aos tecidos adjacentes. Portanto, os colocadores de piercings deveriam receber instruções para minimizar os riscos a que expõem o usuário e alertá-los sobre possíveis complicações e nós dentistas devemos considerar os danos causados pelos piercings, pois podemos ser solicitados para tratamento dos mesmos. 45 REFERÊNCIAS ALVES, L.V. et al. Problemas relacionados com o uso de piercing na língua – relato de caso. Adolesc. Saúde. Rio de Janeiro, v.8, n.1, p.59-62, jan./mar. 2011. 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Itajaí SC, 2011 Profª. Mabel Phillipps Orientadora Bruna de Miranda Ern Acadêmica Bruna Vieira Geraldi Acadêmica