A CONTABILIDADE SOB À ÓTICA DAS TEORIAS DA

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A CONTABILIDADE SOB À ÓTICA DAS TEORIAS DA
COMUNICAÇÃO E DA SEMIÓTICA: UM ESTUDO REVISIONAL
Área Temática: 2. Ciências Contábeis
Modalidade: Artigo Científico
Diego Messias (UNIOESTE) [email protected]
Resumo
Devido à sua finalidade de comunicar o impacto dos eventos econômicos sob o patrimônio
das instituições aos usuários, a Contabilidade pode ser compreendida como um processo de
comunicação e, ao mesmo tempo, uma forma de linguagem. Dessa forma, nas últimas
décadas vem sendo desenvolvidas pesquisas que abordam a ciência contábil sob a ótica de
teorias que estudam as linguagens e comunicação interpessoal, como a Semiótica e a Teoria
da Comunicação. Nessa linha, a presente investigação buscou, por meio de uma revisão
integrativa de teses e dissertações que abordaram a temática, compreender o foco dos estudos
dessa natureza em âmbito nacional, e identificar as principais ênfases, metodologias e
achados, além dos encaminhamentos dados para estudos futuros. Os resultados indicam que a
teoria da Comunicação é a mais abordada, algumas vezes complementada pela teoria da
Informação. A teoria da Semiótica não embasou nenhum dos estudos analisados, mesmo
sendo constante a percepção dos autores acerca de problemas nos signos utilizado pela
Contabilidade e a não consideração, por parte do Contador, quanto as necessidades
específicas de cada usuário da informação contábil. Ademais, os estudos revisados
apresentaram foco nos elementos componentes do processo de comunicação contábil, seu
encadeamento e interdependência, e os resultados indicam a necessidade de melhorias no
processo, de forma a ampliar a efetividade da comunicação contábil aos usuários finais.
Palavras chave: Contabilidade, Teoria da Comunicação, Semiótica.
1
Introdução
A Contabilidade origina-se da relação entre a captação e processamento dos fatos
econômico-financeiros que impactam as riquezas das organizações, de acordo com
paradigmas e metodologias próprias, e a comunicação desses fatos a agentes interessados em
conhece-los. Como ensinado por Iudícibus, Martins e Carvalho (2005), a Contabilidade tem o
desafio de capturar a ocorrência dos eventos econômicos, precifica-los e comunicar seus
efeitos sobre o patrimônio aos usuários.
Para atingir sua finalidade de maneira eficiente, todo o processo contábil, que se inicia
na ocasião dos fatos econômicos e se encerra na compreensão dos reflexos desses fatos pelos
usuários, necessita ser pensado criticamente e planejado. Que tipo de fato ocorreu? Como
medi-lo? A quem interessa? Como e quando transmitir? Perguntas como essas devem ser
consideradas pelo contador para atribuir qualidade à informação contábil, uma vez que a
Contabilidade somente cumpre seu papel se o destinatário/usuário da informação contábil a
compreende efetivamente.
Nessa linha de raciocínio, a Contabilidade pode ser compreendida como um processo
de comunicação entre o profissional contábil e o usuário final da informação, seja ele interno
ou externo à organização. Dessa forma, teorias relacionadas aos estudos da linguagem e da
comunicação interpessoal são bem-vindas ao campo de estudo da Contabilidade, ao
possibilitarem a análise e melhoria do processo reconhecimento, mensuração e evidenciação
contábil.
Partindo deste ponto de vista, Bedford e Baladouni (1962) desenvolveram um modelo
de descrição e avaliação do processo contábil de acordo com os preceitos da Teoria da
Comunicação de Claude E. Shannon. Segundo os autores, a referida teoria já vinha sendo
introduzida com sucesso em outros ramos do conhecimento como a psicologia experimental,
a linguística e a biofísica, e, considerando o fluxo contábil como um processo, perceberam a
relevância de se desenvolver estudos com esta abordagem.
Além dos elementos e dimensões do processo contábil, o sentido e significado dos
termos e expressões utilizadas pelos contadores vem sendo objeto frequente de estudos.
Hendriksen e Van Breda (1999) destacam, nessa linha, que a Contabilidade se caracteriza,
entre outras, como uma linguagem aplicada ao mundo dos negócios. Ao resgatarem os
conceitos de semântica, sintaxe e pragmatismo da Semiótica, os autores também ressaltam a
relevância da interpretação adequada das informações pelos usuários e resgatam frequentes
problemas de compreensão dos termos empregados.
Neste contexto, a abordagem do processo de construção (reconhecimento e
mensuração) e transmissão (evidenciação) da informação contábil sob as lentes das Teoria da
Comunicação e da Semiótica é de suma importância para o desenvolvimento da Ciência
Contábil. Assim sendo, torna-se relevante o conhecimento acerca do direcionamento dos
estudos sob a temática, de forma a compreender o avanço do campo do conhecimento e a
balizar estudos futuros. Isto posto, pretende-se com a presente pesquisa responder as seguintes
indagações: Qual tem sido o foco dos estudos nacionais que relacionam a Contabilidade e as
teorias da Comunicação e da Semiótica? Quais os resultados encontrados?
Para responder as questões levantadas, tem-se como objetivo analisar as teses e
dissertações que abordaram a temática e identificar as principais ênfases, metodologias e os
principais achados, além dos encaminhamentos dados para estudos futuros.
Além desta introdução, o trabalho está estruturado por uma seção de revisão da
literatura, onde são resgatados trabalhos reconhecidos na área. Na sequência é apresentada
uma descrição dos procedimentos metodológicos. Na sequência são abordadas e analisadas as
dissertações e teses localizadas na busca. Ao final são apresentadas as principais conclusões e
considerações finais.
2
2.1
Revisão da literatura
Informação Contábil
A informação contábil se constitui como o principal produto da atividade contábil, e
por esta razão tem de atender a padrões elevados de qualidade, sob pena de inviabilizar o
atingimento das finalidades da Contabilidade. Tais padrões, designados como características
qualitativas da informação contábil, podem ser interpretados como propriedades que
indispensáveis para torná-las úteis ao processo de tomada de decisão (HENDRIKSEN; VAN
BREDA, 1999).
Entre outros pronunciamentos e orientações de entidades voltadas ao desenvolvimento
da Contabilidade em âmbito internacional, o Financial Accounting Standards Board (FASB)
por meio do Statement of Financial Accounting Concepts (SFAC) nº 2, organizou as
características qualitativas da informação contábil, apresentando-as de forma sistematizada e
demonstrando o seu encadeamento e interdependência.
Ao elencar as características qualitativas, o FASB procedeu uma distinção entre
específicas para usuários e específicas para a tomada de decisões, de forma a facilitar a
compreensão do leitor quanto a aplicabilidade de cada uma, bem como sua relação com o
produto final e com a finalidade do processo. Hendriksen e Van Breda (1999) citam como
exemplo o fato de usuários sofisticados poderem considerar alguma informação irrelevante
porque já a conhecem, ao mesmo tempo que veem informações complexas como mais
relevantes. Por outro lado, usuários novatos apenas compreenderiam informações
simplificadas. Como destacado pelos autores, a natureza do usuário é um fator determinante
para a decisão a respeito da forma e tipo da informação a ser divulgada.
Qualidades
específicas a
usuários
Compreensibilidade
Utilidade para a tomada de decisão
Principais
qualidades
específicas a
decisões
Elementos das
qualidades
principais
Qualidades
secundárias
Relevância
Confiabilidade
Oportunidade
Valor
preditivo
Verificabilidade
Fidelidade de
representação
Valor como
feedback
Comparabilidade
Neutralidade
Figura 1 – Hierarquia das qualidades da informação contábil
Fonte: adaptado de FASB (1980)
Fica evidenciado no esquema apresentado na Figura 1 a hierarquia existente entre as
características qualitativas da informação, seus elementos componentes (valor preditivo, valor
de feedback, oportunidade, verificabilidade e fidedignidade) e as características secundárias
(comparabilidade e neutralidade). Em outros termos, é necessário que a informação seja
comparável e neutra (qualidades secundárias) e contenha os elementos de relevância e
confiabilidade (necessários à decisão) para que supra o usuário interno ou externo de maneira
satisfatória.
Nesse contexto de construção de uma informação direcionada a um ouvinte específico
(usuário), com componentes constituintes necessários (características qualitativas) e que
segue um encadeamento lógico (fluxo), a Contabilidade pode ser vista como um processo de
comunicação, como defendido por Bedford e Baladouni (1962) e Dias Filho e Nakagawa
(2001), e, nesse sentido, ser estudada sob a ótica de teorias voltadas à comunicação e
linguagem interpessoal como as Teorias da Comunicação e da Semiótica.
2.2
Teoria da Comunicação
A comunicação, de maneira bastante simplória, pode ser compreendida como a ação
de se transmitir e receber uma mensagem (BERLO, 1999). É um fluxo no qual uma
informação é coletada, compreendida, processada e repassada a outro interlocutor de forma
codificada, para que este possa também compreendê-la após proceder a decodificação.
Considerando que a comunicação está presente em todas as relações entre os
indivíduos, é evidente e plausível que estudos de diversos campos do conhecimento se
utilizem de suas bases e preceitos para compreender o comportamento humano naquele ramo,
para desenvolvimento da ciência (HAYAKAWA, 1967).
Dentro do campo de estudo da Teoria da Comunicação tem-se, dentre outras, que o
processo comunicativo é composto por cinco elementos a saber: emissor, mensagem, código,
canal e receptor (BERLO, 1999). Essa percepção é oriunda do trabalho de Shannon e Weaver
(1949), que, mesmo tendo como objeto de estudo as telecomunicações, estabeleceram esse rol
de elementos que são adotados pela maioria maciça das pesquisas na área da comunicação,
como percebido por Berlo (1999) e abordado por Bedford e Baladouni (1962).
Resgatando, então, os conceitos da comunicação de Aristóteles e da teoria matemática
da comunicação de Shannon e Weaver (1949), Bedford e Baladouni (1962) proporam um
modelo de abordagem da Contabilidade sob a ótica da Teoria da Comunicação, onde os
indivíduos e as ações do processo foram segregados e analisados individualmente, de forma a
possibilitar a identificação dos problemas inerentes ao processo. Segundo os autores, a
interpretação e análise da Contabilidade como um sistema de comunicação pode fornecer uma
imagem mais clara de sua função no sistema da macroeconomia.
Nesta análise, os autores vislumbraram o processo contábil, sob a ótica da Teoria da
Comunicação, é composto por quatro elementos: os eventos econômicos, o contador, os
relatórios contábeis e o usuário da informação. O referido modelo incorpora, ainda, conceitos
de fidelidade e significância, com o objetivo de caracterizar a relação desejada entre o
contador e o usuário e a relação entre os demonstrativos contábeis e os eventos econômicos
(DIAS FILHO; NAKAGAWA, 2012).
A significância abordada pelos autores refere-se ao grau de relevância e adequação
com que os fatos econômicos são descritos pelas atividades de Contabilidade. Como
defendido por Valente (2014), a preocupação com as reais necessidades do usuário final da
informação contábil, deve ser um princípio orientador e balizador do contador.
A fidelidade por sua vez se refere à correspondência que deve existir entre os
significados que o usuário atribui às mensagens e aqueles que o contador pretende transmitir.
Esse atributo se relaciona primordialmente com o emissor da comunicação (no caso da
Contabilidade, o contador), onde se faz necessário estudo aprofundado acerca das
terminologias utilizadas e sua adequação com perfil do usuário. Complexidade e finalidade
são pontos fundamentais a serem considerados (BERLO, 1999).
Figura 2 – Matriz da comunicação contábil
Fonte: Bedford e Baladouni (1962)
Como ressaltado por Dias Filho e Nakagawa (2001) são muitos os estudos que
indicam problemas quanto a compreensibilidade das informações e dos relatórios contábeis,
em virtude das terminologias empregadas em sua construção, geralmente em desacordo com o
perfil do usuário. Problemas como esses, presentes no elemento “mensagem”, são também
objeto de estudo de ciências vinculadas às linguagens, como a Semiótica, onde se busca
otimizar a compreensão do receptor da comunicação.
2.3
Semiótica
A Semiótica pode ser compreendida como a ciência de todas as linguagens, que
fornece recursos metodológicos para facilitar a compreensão dos fenômenos que tocam a
consciência humana (MORRIS, 1976). Ela aborda as linguagens sob três níveis a saber:
sintático, semântico e pragmático. No nível sintático busca-se compreender as informações
contábeis em relação ao conjunto de normas e princípios que regem a sua elaboração. Já no
nível semântico a preocupação está na compreensão da informação pelo receptor com o
significado pretendido pelo emissor. Por fim, no nível pragmático a atenção está na eficácia
da comunicação, ou seja, se a informação atende a necessidades do demandante.
Em análise às características qualitativas da informação contábil tratadas no SFAC 2
do FASB, percebe-se que a compreensibilidade se encontra no topo hierárquico das
qualidades necessárias. O FASB (1980) destaca também que o grau de fidelidade da
representação contábil depende em muito do significado das palavras utilizadas no processo
de evidenciação. Nesse sentido, verifica-se a relação da Contabilidade com a Semiótica, uma
vez que se utilizam de diversos signos com o objetivo de informar. Mason e Swanson (1981)
reforçam essa ideia, ao exemplificar a mensuração contábil como um signo quantitativo
acerca dos eventos econômicos.
Assim sendo, a Semiótica, como ciência dedicada ao estudo dos signos, pode
contribuir para aprimorar a Contabilidade à medida que nos conduza a uma melhor percepção
dos eventos econômicos que impactam o desempenho das organizações (DIAS FILHO;
NAKAGAWA, 2012). Pode oferecer, segundo Nakagawa e Pretto (2000), instrumental
metodológico para auxiliar na identificação, observação e análise dos fenômenos que
provocam as variações patrimoniais.
3
Procedimentos metodológicos
Em virtude do objetivo estabelecido para o presente estudo, realizou-se uma revisão
integrativa das pesquisas nacionais que relacionam a Contabilidade com as teorias da
Comunicação e da Semiótica. Conforme Broome (2006), uma revisão integrativa é um
método específico, que resume o passado da literatura empírica ou teórica, para fornecer uma
compreensão mais abrangente de um fenômeno particular. Esse método de pesquisa objetiva
traçar uma análise sobre o conhecimento já construído sobre um determinado tema.
A revisão integrativa possibilita a síntese de vários estudos já publicados, permitindo a
geração de novos conhecimentos, pautados nos resultados apresentados pelas pesquisas
anteriores (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011). Foram revisados métodos, teorias,
estudos empíricos e principais achados sobre o tema, conforme propósito da revisão
integrativa defendido por Redeker (2000).
O método da revisão integrativa adotado neste estudo seguiu as seis etapas elencadas
por Botelho, Cunha e Macedo (2011), conforme detalhado no Quadro 1.
Etapa Descrição
Procedimentos realizados
1
Identificação do tema e
seleção da questão de
pesquisa
• Tema: relação entre Contabilidade e as teorias da Comunicação e da
Semiótica.
• Questão: Qual tem sido o foco dos estudos nacionais que relacionam
a Contabilidade e as teorias da Comunicação e da Semiótica? Quais
os resultados encontrados?
2
Estabelecimento dos
critérios de inclusão e
exclusão
• Tipo: teses e dissertações nacionais
• Base: Capes e BDTD/IBICT
• Período: sem limitações
• Palavras-chave: contabil*, teoria da comunicação, semiótica.
3
Identificação dos estudos
pré-selecionados e
selecionados
• Pré-seleção: 18 teses e dissertações
• Exclusão: 12 trabalhos excluídos após leitura dos resumos
• Seleção: 6 trabalhos (3 teses e 3 dissertações)
4
Categorização dos estudos
selecionados
• Metodologia: empírico ou teórico
• Abordagem: qualitativa ou quantitativa
• Teorias abordadas: Comunicação ou Semiótica
5
Análise dos resultados
• A análise encontra-se apresentada na seção 4
6
Apresentação da revisão
• A revisão encontra-se apresentada na seção 4
Quadro 1 – Etapas da revisão integrativa
Fonte: elaborado pelos autores
Os trabalhos selecionados para a revisão encontram-se listados no quadro 2:
ID
Ano
Programa
Autor
Título
1
2010 PPGCC/USP
Fernando H.
Camara Gouveia
Uma incursão pela abordagem de pesquisa em contabilidade no
Brasil fundamentada em teorias semióticas e da comunicação
2
2006
Cláudio Augusto
Dias
Método de avaliação de programas de governo eletrônico sob a
ótica do cidadão-cliente: uma aplicação no contexto brasileiro
3
2010 PGE/UFRGS
Sérgio Luiz dos
Santos
Contribuição ao estudo do papel da controladoria nos processos
de demandas informacionais: problemas de comunicação e
assimetria informacional
4
2007
PPGCI/USP
Angela Denise
Gratão Amorim
A mediação da informação contábil sob a ótica da ciência da
informação
5
2007
PPGCI/UnB
Ana Valéria M.
Mendonça
A integração de redes sociais e tecnológicas: análise do
processo de comunicação para inclusão digital
6
2004
PPGA/UnB
Paulo Henrique
Governo eletrônico no Brasil: aspectos institucionais e reflexos
Ramos Medeiros na governança
PPGCI/UnB
Quadro 2 – Trabalhos selecionados
Fonte: elaborado pelos autores
4
Apresentação e análise dos dados
4.1
Apresentação dos dados
Como primeira etapa da revisão integrativa procedeu-se a definição da temática e a da
problemática de pesquisa. Essa etapa serve como um norte para a construção do método e
deve subsidiar o raciocínio e decisões do pesquisador. Neste estudo, definiu-se como tema a
relação entre a Contabilidade e as teorias da Comunicação e da Semiótica, e as questões que
servem de guia são: Qual tem sido o foco dos estudos nacionais que relacionam a
Contabilidade e as teorias da Comunicação e da Semiótica? Quais os resultados encontrados?
A partir destas questões, foram empregadas as demais etapas do método.
Optou-se pela análise de trabalhos de conclusão de cursos de pós-graduação stricto
sensu – dissertações de mestrado e teses de doutorado – em virtude de se caracterizarem como
estudos mais aprofundados sobre a temática abordada. Como base de dados de consulta foi
definida a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD/IBICT), uma vez que
a mesma objetiva reunir, em um só portal de busca, as teses e dissertações defendidas em todo
o país e por brasileiros no exterior. Também foi consultada a base de dados da Capes que
concentra os trabalhos da grande maioria dos programas de pós-graduação nacionais.
Nas bases consultadas foram utilizadas as palavras-chave: contabil*, teoria da
comunicação, semiótica. Como não foram localizados muitos trabalhos com as palavraschave, optou-se por não incluir filtro de tempo, de forma a não reduzir a massa de análise.
Realizadas as buscas nas bases foram pré-selecionados 18 teses e dissertações que
continham as palavras-chave no título ou subtítulo. Na sequência foram lidos os resumos dos
trabalhos, de forma a identificar se os objetivos se alinhavam ao tema da revisão integrativa.
Por não se alinharem, 12 trabalhos foram excluídos do grupo a ser analisado, o qual, por fim,
foi formado por 6 pesquisas. No Quadro 3 apresenta-se a categorização dos trabalhos
componentes da amostra analisada.
ID
Tipo
Metodologia
Abordagem
Teorias
1
Dissertação
Teórico (revisão sistemática)
Qualitativa
Comunicação e Semiótica
2
Tese
Empírico (estudo de caso)
Qualitativa
Comunicação
3
Dissertação
Teórico (ensaio teórico)
-
Comunicação e Informação
4
Tese
Empírico (estudos de caso)
Qualitativa
Comunicação e Informação
5
Tese
Empírico (pesquisa-ação)
Qualitativa
Comunicação
6
Dissertação
Empírico (entrevistas, análise)
Qualitativa
Comunicação
Quadro 3 – Categorização dos trabalhos
Fonte: elaborado pelos autores
4.2
Análise dos dados
4.2.1 Gouveia (2010)
O estudo de Gouveia (2010), por meio da revisão sistemática buscou identificar as
abordagens dadas às teorias da Comunicação e da Semiótica em periódicos nacionais. O autor
classificou as abordagens conforme segue:
Abordagem
Teóricos
Compreensão de
termos técnicos
Evolução de
significados
Compreensibilidade
de relatórios
Fidelidade de
representação
Influência no preço
das ações
Descrição
As teorias da Comunicação e da Semiótica podem ser ferramentas importantes para
estudar se a Contabilidade atinge seus objetivos. Os campos mais férteis de pesquisa
relacionados a essas teorias são o da compreensibilidade e da fidelidade de
representação.
De forma geral, muitos dos termos normalmente empregados nas demonstrações
contábeis de empresas comerciais ou governamentais não são compreendidos por seus
usuários. O entendimento a respeito de termos como Contabilidade, custo e investimento
varia conforme a formação do indivíduo.
O atual comportamento dos contribuintes brasileiros frente à atividade tributária
governamental pode ser explicado pela representação que o termo “tributo” incorporou
com o passar do tempo na sociedade, relacionado com autoritarismo e opressão.
Os fatos relevantes publicados no Brasil podem ser considerados como de difícil leitura,
e essa dificuldade varia conforme o assunto tratado no documento.
O otimismo, pessimismo e assunto tratado nos Relatórios da Administração estão
relacionados com o desempenho e a situação financeira das empresas. Há evidências de
baixa relação entre a informação financeira (numérica) e textual (relatórios anuais) das
empresas.
Fatos relevantes pessimistas são refletidos nos preços das ações, enquanto fatos otimistas
não causam impacto no valor de mercado das empresas.
Quadro 4 – Abordagens teóricas
Fonte: Gouveia (2010)
4.2.2 Dias (2006)
No estudo de caso de Dias (2006), foi desenvolvido e proposto um modelo de
divulgação e de avaliação dos serviços públicos via internet pelos cidadãos. O autor concluiu
que o modelo por ele proposto pode contribuir com a gestão pública e com a sociedade por
apresentar uma forma válida de avaliar os serviços públicos via internet, que por sua vez
permitirá o feedback do cidadão para implementação de melhorias contínuas.
4.2.3 Santos (2010)
Resgatando a literatura especializada e relacionando com abordagens e contexto
atuais, Santos (2010) entende que o contador, diante das características das organizações e do
mercado atual, necessita quebrar paradigmas e mudar o centro de suas atenções para o usuário
das informações contábeis. Diferentes usuários, com diferentes interesses, têm necessidades
específicas sobre as organizações e demandam informações diferenciadas. Nesse sentido, o
autor concluiu que os controllers devem ser conhecedores do processo de comunicação, uma
vez que é de sua responsabilidade a produção de informações fidedignas, claras e objetivas
aos usuários.
4.2.4 Amorim (2007)
Como a autora analisou os setores de relacionamento com investidores de algumas
organizações, percebeu que esses setores especializados são mais efetivos no processo de
comunicação contábil com os usuários externos. Isso porque essas unidades atuam como
mediadoras dos investidores e consideram os ditames da ciência da informação, quando do
desenvolvimento de suas atividades.
Um dos primeiros passos da atividade contábil, na perspectiva da autora, é a
identificação do perfil dos usuários, de forma a modelar a informação contábil conforme suas
demandas. Outro ponto que merece destaque é interpretar e classificar o tipo de informação
passada pela Contabilidade e que canais são utilizados na transmissão. A informação
necessita ser decodificada para posterior modelagem conforme perfil do usuário. A simples
disponibilização da informação contábil, seja online ou impressa, não constitui um processo
comunicativo efetivo e necessita ser estudado sob a ótica da ciência da informação.
4.2.5 Mendonça (2007)
A tese desenvolvida por Mendonça (2007) aborda a teoria da comunicação, todavia
não a vinculada a Contabilidade. Entretanto, a mesma foi selecionada para a revisão
integrativa por analisar atividades do setor público (programa governamental) sob a ótica da
Teoria da Comunicação. O processo de accountability no setor público se assemelha muito à
evidenciação contábil.
A autora analisou um programa governamental que, em suma, se trata de comunicação
de prestação de contas do governo para a com a sociedade. Sumariamente concluiu que
programa governamental foi criado de forma desestruturada, e, por este motivo não atinge
toda a eficácia possível. O modelo proposto, segundo a autora, pode otimizar o programa.
4.2.6 Medeiros (2004)
Em sua dissertação, Medeiros (2004) buscou identificar o nível de institucionalização
do governo eletrônico no Brasil. Diante do grande número de informações analisadas e da
grande abrangência que o autor deu à interpretação dos dados, chegou-se a muitas conclusões.
Destaca-se a que se vincula ao tema da presente revisão integrativa: a tecnologia da
informação não deve ser vista apenas como um meio (canal) de comunicação do governo com
a sociedade, mas sim como uma política de governança e de gestão, que tende a modernizar e
otimizar o aparelho estatal.
4.3
Revisão
Os estudos componentes da presente revisão indicam que a abordagem das teorias da
Comunicação e Semiótica, em investigações relacionadas à Contabilidade, contribuem
significativamente com a ciência contábil ao possibilitar a identificação dos elementos do
processo de transmissão das informações sobre os eventos econômicos aos usuários.
Considerando a ampliação da gama de usuários interessados, faz-se necessária a
personalização da informação de acordo com as necessidades de cada stakeholder.
A Teoria da Comunicação apresenta-se mais constante nas teses e dissertações, assim
como a análise do processo contábil sob a perspectiva dos elementos (Aristóteles, Shannon e
Weaver, Bedford e Baladouni) e sua efetividade ao suprir o usuário final com informações
que sejam úteis. Assim sendo, se justifica a opção única pela abordagem qualitativa nos
estudos analisados.
Mesmo havendo a percepção pelos autores sobre problemas relacionados à linguagem
utilizada nos relatórios contábeis e sua interpretação pelos usuários, nenhum dos trabalhos
revisados abordou a Semiótica em estudos empíricos, de forma a identificar e propor
melhorias aos signos contábeis adotados. Apenas a dissertação de Gouveia (2010) tem a
Semiótica como teoria de base para sua revisão sistemática.
5
Considerações finais
Objetivou o presente estudo analisar as teses e dissertações que abordaram a temática
e identificar as principais ênfases, metodologias e os principais achados, além dos
encaminhamentos dados para estudos futuros. Para tal, procedeu-se uma revisão integrativa
das teses e dissertações que relacionam a Contabilidade com as teorias da Comunicação e da
Semiótica.
Restou evidenciado que a Contabilidade pode ser compreendida como uma forma de
linguagem vinculada ao mundo dos negócios, que atua como facilitadora do relacionamento
entre a organização e os usuários reais ou potenciais das informações acerca dos eventos
econômicos que impactam a entidade. Assim sendo, justifica-se a abordagem da
Contabilidade sob a ótica de teorias que estudam de forma aprofundada a comunicação
interpessoal e as diversas formas de linguagem.
A revisão realizada em seis trabalhos de conclusão de cursos de pós-graduação stricto
sensu, identificou que a teoria da Comunicação é a mais abordada, algumas vezes
complementada pela teoria da Informação. A teoria da Semiótica não embasou nenhum dos
estudos analisados, mesmo sendo constante a percepção dos autores acerca de problemas nos
signos utilizado pela Contabilidade e a não consideração, por parte do Contador, quanto as
necessidades específicas de cada usuário da informação contábil.
Os estudos revisados apresentaram foco no elementos componentes do processo de
comunicação contábil, seu encadeamento e interdependência, e os resultados indicam a
necessidade de melhorias no processo, de forma a ampliar a efetividade da comunicação
contábil aos usuários finais. Assim sendo, as questões de pesquisa restam devidamente
respondidas.
Cita-se como limitação da pesquisa a localização de poucos estudos (teses e
dissertações) alinhados a temática, que não permitem análises mais aprofundadas acerca da
similaridade (ou não) entre resultados. O fato, todavia, aponta a incipiência de estudos nessa
linha e, ao mesmo tempo, aponta para um campo frutífero para pesquisas futuras.
Referências
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