COMPARAÇÃO DE DIFERENTES METODOLOGIAS PARA O BRANQUEAMENTO DA CASCA DE ARROZ Vitória Gouveia Resta (Bolsista PROIC-CNPq); Suzana Mali de Oliveira, e-mail: [email protected] Universidade estadual de Londrina/ Departamento de Bioquímica e Biotecnologia/ CCE Área e subárea do conhecimento: Ciências Biológicas, Bioquímica, Química de Macromoléculas Palavras-chave: Celulose; Resíduo Agroindustrial; Ácido Peracético; Prétratamento Alcalino. Resumo O objetivo deste trabalho foi o branqueamento da casca de arroz empregando diferentes metodologias analíticas, e a caracterização do material obtido através da medida de luminosidade, teor de celulose e espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR). A casca de arroz in natura (Amostra A1) foi submetida a tipos diferentes de tratamentos gerando mais 8 amostras: A2 tratada com ácido peracético a 60°C; A3 tratada duas vezes com ácido peracético a 60°C; A4 tratada com ácido peracético a 70°C; A5 tratada com ácido peracético a 80°C; A6 resultante de pré-tratamento alcalino (com NaOH) e peróxido alcalino; A7 tratada duas vezes com pré-tratamento alcalino (com NaOH) e peróxido alcalino; A8 resultante de pré-tratamento alcalino (com NaOH) e A9 resultante de pré-tratamento alcalino (com NaOH) seguido de tratamento com ácido peracético a 60oC. A metodologia que resultou em maior alvura (maior luminosidade) e maior teor de celulose foi a A9. Nesta mesma amostra também foi possível observar que as bandas associadas à hemicelulose e lignina nas análises de FT-IR desapareceram. Neste trabalho empregou-se reagentes não clorados, e foram gerados efluentes menos poluentes quando comparados aos métodos convencionais de branqueamento. Introdução A agroindústria no Brasil produz grande quantidade de resíduos de natureza lignocelulósica, dentre eles a casca de arroz (SILVA et al., 2009). Sabe-se que a casca do arroz é composta majoritariamente de celulose (30%), hemicelulose (20%) e lignina (26%) e pode ser usada como uma alternativa à madeira para extração da celulose (SATYANARAYANA; ARIZAGA; WYPYCH, 2009). A extração da celulose requer a retirada de lignina e hemiceluloses 1 através de processos de branqueamento. Os processos convencionais de branqueamento utilizam reagentes clorados de alta toxidez. A obtenção das fibras branqueadas pode ser feita também por agentes oxidantes que geram menor impacto ambiental, como os perácidos (ácido peracético) e peróxido de hidrogênio alcalino, resultando em fibras de maior resistência e menor degradação da celulose (BRASILEIRO; COLODETTE; PILÓ-VELOSO, 2001). O objetivo deste trabalho foi o branqueamento da casca de arroz empregando diferentes metodologias analíticas, e a caracterização do material obtido através da medida de luminosidade, teor de celulose e espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR). Procedimentos metodológicos As cascas de arroz, doadas pela empresa HT-Nutri (Camaquã – RS), foram lavadas e moídas até granulometria 40 – 80 mesh. Para o branqueamento da casca de arroz foram empregados os procedimentos: (1) branqueamento com ácido peracético (Pa) (BRASILEIRO, COLODETTE; PILÓ-VELOSO, (2001); (2) branqueamento com pré-tratamento alcalino seguido de etapa com peróxido de hidrogênio alcalino (TEODORO et al., 2011) e (3) branqueamento utilizando pré-tratamento alcalino seguido de etapa de branqueamento em ácido peracético uma combinação dos procedimentos (1) e (2). Foram obtidas 9 amostras, descritas na Tabela 1. Tabela 1 - Descrição dos tratamentos empregados para o branqueamento da casca de arroz Amostra Tratamento empregado A1 Casca de arroz in natura A2 Ácido peracético 60°C A3 Ácido peracético 60°C (duas vezes) A4 Ácido peracético 70°C A5 Ácido peracético 80°C A6 Pré-tratamento alcalino (com NaOH) + Peróxido Alcalino A7 Pré-tratamento alcalino (com NaOH) + Peróxido Alcalino (duas vezes) A8 Pré-tratamento alcalino (com NaOH) A9 Pré-tratamento alcalino (com NaOH) + Ácido peracético 60oC Os materiais foram caracterizados quanto à sua luminosidade (L*) a partir do emprego de um colorímetro portátil (Minolta CR-10-Estados Unidos). O teor de celulose foi determinado de acordo com Updegraff (1969), e a espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier (FT-IR) em 2 aparelho Shimadzu FTIR-8300 no Laboratório de Espectroscopia da Central Multiusuária de Laboratórios de Pesquisa da UEL. Resultados e Discussão Na Tabela 2 estão demonstrados os resultados dos parâmetros de luminosidade (L*) e teor de celulose, e na Figura 1 os espectros obtidos FT-IR. Tabela 2 – Medida de luminosidade e do teor de celulose das amostras. Amostra Luminosidade (L*) Teor de celulose (%) A1 24,68 ± 0,68d 35,47 ± 4,48d A2 47,89 ± 2,00b 42,20 ± 1,27c b A3 50,55 ± 3,90 45,17 ± 4,58c A4 38,61 ± 2,58c 40,08 ± 2,13c,d c A5 36,99 ± 0,36 45,00 ± 5,64c A6 33,64 ± 0,17c 52,76 ± 5,16b c A7 36,71 ± 0,31 58,58 ± 5,56b A8 29,92 ± 4,53 51,05 ± 5,84b A9 73,67 ± 2,99a 72,15 ± 3,97a Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa pelo teste te Tukey (p0,05). Figura 1 - Espectros de FT-IR das amostras de casca de arroz in natura e branqueadas por diferentes metodologias. A maior luminosidade e o maior teor de celulose foram verificados na A9 (Tabela 2), sugerindo que a combinação do tratamento alcalino seguido do tratamento com ácido peracético, usado em A9, é o mais eficaz resultando em 3 produtos mais alvos e com maior teor de celulose. Observando-se os espectros de FT-IR (Figura 1), na amostra A9 pode-se verificar aumento da intensidade de bandas características da celulose em comparação com as outras amostras, principalmente nas bandas de 894 e 1019 cm -1, referentes a ligações αglicosídicas, e 1050, 1100 e 1150 cm-1, referentes ao estiramento das ligações C-O. Assim como uma diminuição de bandas referentes a hemicelulose e lignina, como o desaparecimento da banda em 1250 cm–1, referente a grupos C-O-C, e o desaparecimento da banda em 1505 cm–1, referente a ligações dos anéis aromáticos da lignina, e em 1375 cm–1, referente a deformação axial de C-H, indicando a remoção de moléculas não celulósicas (ALEMDAR; SAIN, 2008). Conclusões A metodologia mais eficaz foi a que empregou o pré-tratamento com NaOH seguido do tratamento com ácido peracético (Pa) (A9). A amostra A9 apresentou maior alvura, maior teor de celulose e o espectro de FT-IR onde as bandas associadas à hemicelulose e lignina desapareceram. Os métodos aplicados não envolveram uso de reagentes clorados, gerando efluentes menos tóxicos quando comparados aos métodos convencionais de branqueamento. Agradecimentos Agradeço à Fundação Araucária pela concessão da Bolsa de IC. Referências ALEMDAR, A.; SAIN, M. Isolation and characterization of nanofibers from agricultural residues – Wheat straw and soy hulls. Bioresource Technology, v.99, p. 1664–1671, 2008. BRASILEIRO, L. B.; COLODETTE, J. L.; PILÓ-VELOSO, D. A utilização de perácidos na deslignificação e no branqueamento de polpas celulósicas. Química Nova, v. 24, n. 6, p. 819-829, 2001. LIU, L.; CHEN, H.; PAN, D. Modification of polyacrylonitrile precursor fiber with hydrogen peroxide. Fibers and Polymers, v. 13, p. 587-592, 2012. SATYANARAYANA, K. G.; ARIZAGA, G. G. C.; WYPYCH. Biodegradable composites based on lignocellulosic fibers—An overview. Progress in Polymer Science, v. 34, n. 9, p. 982–1021, 2009. TEODORO, K. B. R.; TEIXEIRA, E. DE M.; CORRÊA, A.C.; CAMPOS, A.; MARCONCINI, J. M.; MATTOSO, L. H. C. Whiskers de fibra de sisal obtidos sob diferentes condições de hidrólise ácida: efeito do tempo e da temperatura de extração. Polímeros, v. 21, n. 4, p. 280-285, 2011. 4