CONHECIMENTO DE ACADÊMICOS DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA SOBRE AVULSÃO DENTÁRIA E USO DE PROTETOR BUCAL KNOWLEDGE OF PHYSICAL EDUCATION STUDENTS ABOUT TOOTH AVULSION AND USE OF MOUTHGUARD Haylla Silva COSTA1 Márcia Cristina Pereira de Souza LIMA2 Katiane Vieira Menezes LEITE3 Paulo Roberto Martins MAIA4 Gabrielle Ribeiro Lima MUNIZ5 RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o grau de conhecimento sobre trauma dentário e uso de protetor bucal entre estudantes do curso de educação física, de uma faculdade particular, da cidade de Imperatriz-MA . Um estudo transversal foi realizado com 46 acadêmicos, através de um questionário contendo questões objetivas sobre avulsão dentária e uso de protetor bucal. Após responderem todo o questionário, os mesmos receberam folhetos explicativos sobre o tema. Os dados obtidos foram trabalhados em planilha Excel e analisados no programa estatístico SPSS versão 18, por meio de análise descritiva, através valores absolutos e percentuais. Os resultados mostraram que 57% dos entrevistados não tiveram no decorrer de sua formação orientações sobre traumatismo dentário e 48% afirmaram que recolocariam no alvéolo um dente decíduo avulsionado. Com relação a correta manipulação do elemento avulsionado, a maioria (61%) manipularia pela raiz ou coroa/raiz juntas e 33% dos alunos colocariam o dente avulsionado em um guardanapo limpo até que a criança fosse ao dentista e apenas 11% acondicionariam o elemento dental em leite fresco. A respeito do método de prevenção do trauma dental, apenas 30% optou pelo uso de protetor bucal. Com isso, pode-se concluir que os estudantes de educação física apresentam carência de informações sobre o tema em questão, evidenciando-se a necessidade de inclusão de cursos e palestras sobre primeiros socorros em relação à avulsão dentária durante a formação desses futuros profissionais. UNITERMOS: Avulsão Dentária; Conhecimento; Esportes. INTRODUÇÃO Os traumas dentários implicam em vários tipos de problemas e injúrias, que envolvem desde a fratura do esmalte até a fratura óssea, sendo mais comum em ambiente escolar e durante o lazer. Dentre os vários tipos de traumatismos dentários, a avulsão dental é a mais freqüente, sendo classificada como uma injúria dentária que consiste no deslocamento total de um dente de sua cavidade. Esse trauma é um dos que provocam maior apreensão aos pais e aos acidentados, principalmente quando o dente envolvido é permanente1. As conseqüências dos traumatismos dentários em dentes permanentes, decorrente da falta de 1. 2. 3. 4. 5. tratamento imediato ou pelo prognóstico individual do caso, podem ser: alteração de cor, mobilidade, necrose pulpar, reabsorções ósseas e dentárias. Além disso, o trauma dental e, em especial, a avulsão, causam na qualidade de vida das crianças e adolescentes problemas em termos de desconforto físico e psicológico, além do alto potencial de interferência negativa nas relações sociais2. A carência de informação da população quanto às medidas emergenciais a serem tomadas em casos de traumas dentários, tem gerado perdas dentárias após o trauma ou quando realizado o tratamento, pois o prognóstico do mesm o tem se m ostrado desfavorável. Além da ausência de conhecimento sobre Especializanda em Ortodontia ABO- Secção Imperatriz-MA; Mestre em Odontopediatria e docente do curso de Odontologia da Faculdade de Imperatriz-FACIMP; Mestre em Prótese Dentária e docente do curso de Odontologia da FACIMP; Especialista em Ortodontia e docente do curso de Odontologia da FACIMP, Mestre em Odontologia e docente do curso de Odontologia da FACIMP. Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 36-40, Julho/Dezembro, 2015 36 os métodos de prevenção, como o uso de protetor bucal, que aj uda a ev it ar ou mini mizar as conseqüências de um possível acidente durante a prática de esportes e reduzir em mais da metade o risco de traumatismo dentário3. Os estudantes dos cursos de Educação Física, que futuramente serão professores, atletas, técnicos de grande responsabilidade apresentam-se muito susceptíveis a ocorrência de traumas dentários, e tornam-se alvo importante pra receber as informações precisas, visto que estes profissionais exercem um papel essencial na divulgação e incentivo quanto à prática de medidas preventivas e conduta imediata após um trauma dentário4. É importante que o educador físico seja capaz de realizar os primeiros socorros diante de avulsões dentárias, onde o manuseio do dente traumatizado é decisivo para o sucesso do tratamento dentário realizado posteriormente pelo cirurgião-dentista, e para isso, é essencial que o conhecimento do profissional envolvido no atendimento inicial seja adquirido no período de formação profissional5. Considerando a freqüência de traumas dentários em atividades recreativas escolares, este trabalho avaliou o conhecimento dos estudantes do curso de educação física sobre o uso de protetores bucais e conduta em caso de avulsões dentárias. MATERIAL E MÉTODO Essa pesquisa foi aprovada pelo comitê de Ética e Pesquisa e Núcleo de Pesquisa e Extensão da Faculdade Imperatriz (COEP/NUPEX FACIMP) conforme o parecer nº 63/2014. Tratou-se de um estudo transversal, observacional, com uma abordagem quantitativa, utilizando-se a técnica de coleta de informações através de questionário com 13 questões objetivas sobre o tema avulsão dental e uso de protetor bucal. Não foi permitido nenhum tipo de consulta e apenas o pesquisador poderia esclarecer alguma dúvida dos entrevistados. O público alvo foi formado por uma amostra de conveniência na qual fizeram parte os acadêmicos do último ano do curso de Educação Física de uma faculdade particular da cidade de ImperatrizMA. Foram avaliados 46 estudantes após a autorização da coordenadora responsável e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Ao final da pesquisa os estudantes receberam um folheto informativo sobre o tema em questão. Foram excluídos da amostra os questionários incompletos e os estudantes que não se dispuserem a participar da pesquisa, negando-se a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Os dados obtidos foram tabulados em planilha Excel e a análise descritiva foi realizada por meio do programa SPSS versão 18. feminino. Em relação á idade, 23% situavam-se na faixa etária entre 20 a 25 anos e 77% entre 26 a 32 anos de idade. Foi perguntado aos estudantes se durante sua formação acadêmica, eles receberam orientação ou treinamento de primeiros-socorros e todos (100%) responderam positivamente. Com relação à inclusão de informações sobre traumatismo dentário nesses treinamentos, nota-se que, 43% dos acadêmicos tiveram a inclusão desse tema. A maioria (57%) não teve no decorrer de sua formação orientações sobre traumatismo dental (Gráfico 1). Gráfico 1- Distribuição da freqüência das respostas dos alunos participantes da pesquisa quando indagados se receberam ou não orientaç ão sobre traumatismos dentários em seu treinamento de primeiros-socorros. Sobre como lidar diante da situação de um elemento dental que saiu de seu alvéolo, 89% relataram que sua conduta neste caso seria de controlar sangramento, armazenar o dente em um liquido e ir ao dentista. Uma pequena porcentagem (4%), disseram que procurariam o dente, lavariam e entregariam ao aluno para levar para casa. Existem aqueles também que não dão a devida importância ao elemento dental avulsionado, pois 7% disseram que jogariam o dente dentro do lixo apropriado. Ao se questionar se o dente decíduo deve ser recolocado no alvéolo, 48% afirmam que sim, 46% disseram que não e 6% não sabiam responder. Ao responderem sobre o tempo ideal para procurar atendimento quando um dente permanente for avulsionado, 35% disseram que seria após estancar o sangue, 13% não souberam responder e 52% dos alunos, sendo estes a maioria, responderam corretamente af irmando que o ideal é levar imediatamente a vítima do trauma para um consultório odontológico (Tabela 1). Tabela 1 – Distribuição absoluta e percentual dos acadêmicos de educação física de acordo com o tempo ideal para procurar atendimento em casos de avulsão. RESULTADOS O estudo foi realizado com 46 estudantes, sendo 63% do sexo masculino e 37% do sexo Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 36-40, Julho/Dezembro, 2015 37 Com relação à correta manipulação do elemento dental avulsionado, 39% dos alunos responderam que é pela coroa, no entanto, a maioria mostrou não saber, visto que, 30% afirmaram que manipulariam pela raiz, e 31% pela coroa e pela raiz juntas. Sobre o comportamento adequando frente ao elemento dental avulsionado caído em um local sujo, 25% relataram que não saberiam o que fazer e apenas 11% dos alunos disseram que enxaguariam o dente em água de torneira (Tabela 2). Tabela 2 – Distribuição absoluta e percentual dos acadêmicos de educação física de ao responderem sobre o que fazer se o dente caísse em um local sujo. Quando i ndagados sobre a f orma acondicionamento do elemento dental até que a criança seja atendida por um profissional, 33% dos alunos disseram que colocariam o elemento dental em um guardanapo limpo, 21% não souberam responder e apenas 11% responderam leite fresco (Tabela 3). Tabela 3 – Distribuição absoluta e percentual dos acadêmicos de educação física de acordo com o acondicionamento do dente avulsionado. A respeito do método de prevenção do traumatismo dentário durante a prática desportiva, 48% acreditam que a melhor maneira seria dar instrução de auto defesa para os alunos, e apenas 30% relatou que a conduta correta seria a prevenção pelo uso de protetores bucais (Tabela 4). Tabela 4 – Distribuição absoluta e percentual dos acadêmicos de educação física com relação ao método de prevenção do traumatismo dentário. DISCUSSÃO Os traumatismos dentários são cada vez mais comuns em ambiente escolar durante atividades físicas e os professores normalmente são os primeiros a terem contato com a criança, tornando-se imperativo o conhecimento dos mesmos acerca do assunto. A maioria dos professores não tem o conhecimento sobre traumatismo dentário, nem possui a informação correta da conduta a ser seguida em casos de ocorrência deste traumatismo6. Esta informação foi confirmada por meio dos resultados obtidos nesta pesquisa, já que de uma forma geral os alunos demonstraram conhecimento insuficiente sobre o assunto, provavelmente pelo fato de 57% dos entrev istados não terem a inclusão do tema traumatismo dental durante o treinamento de primeiros socorros. Nesta pesquisa quando os estudantes foram indagados à respeito de sua conduta em caso de avulsão dentária, 89% adotariam a conduta adequada de controlar o sangramento, armazenar o dente em um líquido e ir ao dentista. No estudo de Dias et al.7 (2012) o mesmo obteve resultados semelhantes, pois a conduta que os profissionais da área de educação física tomaria em caso de fratura e avulsão dentária observ ou que a maioria dos alunos, tinham conhecimentos adequados a este respeito, pois os mesmos afirmaram que, armazenar o dente em um líquido e ir ao dentista. Freitas et al.8 (2008) afirma que se o dente avulsionado for decíduo, a colocação deste de volta em seu lugar não é indicada, pelo risco de lesionar o germe permanente e uma vez que a probabilidade de sucesso é mínima. Da amostra total 48% dos alunos mostraram desconhecimento e afirmaram que o dente decíduo poderia ser reimplantado. Damasceno et al.9 (2001) afirma que o reimplante de dentes decíduos avulsionados é indicado em situações muito restritas, sendo um procedimento impraticável ou questionável, necessitando, portanto, de um diagnóstico correto a fim de instituir uma estratégia terapêutica adequada. Para Bittencourt et al. 10 (2008) o manejo emergencial das crianças que sofrem avulsão é fundamental para o sucesso e longevidade do tratamento, pois o prognóstico está diretamente relacionado ao tempo decorrido e ao local de armazenamento, caso o dente não seja recolocado imediatamente. Com relação ao tempo ideal de se procurar atendimento profissional em caso de avulsão 52% dos entrevistados deste estudo afirma que a procura dever ser imediata. No estudo de Hanan e Costa6 (2010) os resultados foram semelhantes aos encontrados nesta pesquisa, pois 55,9% dos entrevistados relataram que o tempo ideal para procurar atendimento era imediatamente após o traumatismo. Torna-se imperioso considerar o tempo em que um dente permanece fora do alvéolo, ou seja, o intervalo de tempo decorrido entre a avulsão e o reimplante dentário. Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 36-40, Julho/Dezembro, 2015 38 Vasconcelos et al.11(2001) a forma de manuseio do dente av ulsionado também influencia no prognóstico. Não se deve tocar e/ou raspar o ligamento periodontal, pois a remoção pode resultar em anquilose dentária. Estas considerações não condizem com os relatos encontrados nesta pesquisa, uma vez que a maioria dos alunos relatou que manipularia o elemento dentário avulsionado pela a raiz ou pela a coroa e raiz juntas com 30% e 31%. O melhor meio de armazenamento de dentes avulsionados seria o próprio alvéolo, pois o meio de acondicionamento também está relacionado diretamente com a integridade do ligamento periodontal. Quando não há possibilidade de manutenção do elemento dentário na boca do paciente, o ideal são soluções como: leite, saliva e solução salina fisiológica que favorecem a cura pulpar e periodontal; por isso, meios como lenço de papel, pano ou saco plástico são desfavoráveis, pois comprometem a vitalidade e a viabilidade do tecido conjuntivo aderir novamente1. Conforme os resultados obtidos neste estudo, 33% dos alunos acomodariam o elemento dentário em um guardanapo limpo, apenas 11% e 17%, respectivamente, acomodaria o elemento no leite e soro fisiológico. Freitas et al. (2008) em seu estudo constatou a falta de conhecimento dos acadêmicos de educação física, mostrando a necessidade de uma mudança geral no processo de educação, pois a maioria dos alunos (61,1%) acomodaria o elemento dentário em um guardanapo limpo sendo compatível com os resultados obtidos nesta pesquisa. Já no estudo de Berti et al.12 (2011), a solução escolhida pela maioria foi a água (50%), o leite foi escolhido por 27,63%, a saliva foi escolhida por 15,78% dos entrevistados, enquanto 2,63% uti lizariam o soro f i siológico. Nenhum dos entrevistados escolheu a alternativa que utilizaria o álcool como meio de acondicionamento. De acordo com Calado et al. 13 (2004), os traumas dentais são os acidentes mais comuns dentre os que ocorrem na face durante as competições desportivas; porém o uso de protetores bucais intra e extraorais em esportes de contato e atividades infantojuvenis resulta em uma significativa queda tanto na freqüência quanto na intensidade de traumas dentários. Dos entrevistados nesta pesquisa, a maior parte (48%) afirmou que daria instruções de auto defesa aos alunos, e apenas 30% indicariam a utilização de protetores bucais. CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos neste estudo, conclui-se que, os alunos de Educação Física possuem conhecimentos limitados sobre o tema abordado, a maioria não sabe como proceder corretamente em casos de avulsão dentária e desconhece a importância do uso de protetores bucais. Evidencia-se assim a necessidade de inclusão de informações sobre o tema durante a vida acadêmica desses alunos, através de cursos e palestras, visando a qualificação destes futuros profissionais, já que eles exercerão um importante papel na prevenção e conduta emergencial dos traumas dentários. ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the degree of knowledge about dental trauma and use of mouthguard between undergraduate students of physical education, a private college in the city of Imperatriz-MA. A cross-sectional study was conducted with 46 students through a questionnaire with objective questions about tooth avulsion and a mouth protector. After answering all the quiz, they received brochures on the subject. The data were worked into an Excel spreadsheet and analyzed in SPSS version 18, using descriptive analysis, through absolute and percentage values. The results showed that 57% of respondents did not have in the course of their training guidance on dental injuries and 48% said they recolocariam the alveoli one primary tooth avulsed. Regarding the correct handling of the avulsed element, the majority (61%) manipulate the root or crown / root together and 33% of students would place the tooth avulsed in a clean napkin until the child went to the dentist and only 11% acondicionariam the element dental fresh milk. Regarding dental trauma prevention method, only 30% chose to use mouthguard. Thus, it can be concluded that physical education students have lack of inf ormation about the subject in question, demonstrating the need for inclusion of courses and lectures on first aid in relation to dental avulsion during the training of future professionals. UNITERMS: Avulsion Tooth; Knowledge; Sports. REFERÊNCIAS 1. Granville-Garcia AF, Lima EM, Menezes VA. Avaliação do Conhecimento dos Professores de Educação Física de Caruaru-PE Sobre Avulsão— Reimplante. Pesq Bras Odontoped Clín Integr 2007; 7 (1): 15-20 2. Sanabe ME, Cavalcante LB, Coldebella CR, Abreu FC. Urgências em traumatismos dentários: classificação, características e procedimentos. Rev Paul Pediatr 2009; 27(4): 447-551. 3. Futaki J, Motta LFG. Protetores bucais; promoção da saúde na odontologia. Rev Odontol Univ St Amaro 2000; 5 (2):98-105. 4. Barbosa CL, Lacerda RA, Alves AC. Análise do nível de conhecimento dos odontopediatras sobre prevenção de traumatismos relacionados a esportes. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Gabrielle Ribeiro Lima MUNIZ Professora do curso de Odontologia da Faculdade de Imperatriz/FACIMP Especialista em Radiologia Odontológica pela ABO/GO Mestre em Odontologia pela Universidade Federal do Maranhão/UFMA Endereço: Av. Prudente de Morais, s/n, Residencial Kubitscheck - Imperatriz-MA CEP: 65900-000 Telefax: 99 3524 8298 Email: [email protected] Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 36-40, Julho/Dezembro, 2015 40