Clique aqui para ler - Marina Knöbl Evangelista

Propaganda
Fotojornalismo ‒ 4o semestre
~ se
Letras verdes de 'Carlos Adao'
popularizam na capital Paulista
A assinatura do “grafiteiro” pode ser vista em diversos muros das capitais
brasileiras e em algumas cidades litorâneas do país.
Por: Marina Knöbl Evangelista
Você, provavelmente, já cruzou com essas
letras de forma verdes em um quadrado preto, sempre pintadas à mão. Mesmo que não as
tenha notado. Embora seja uma imagem relativamente conhecida para muitos paulistanos,
a maioria não sabe o que o nome significa.
Natural de São Paulo, Carlos Alberto Adão,
56 anos, é um economista aposentado e exbancário. Há pelo menos 16 anos ele dedica o
tempo livre para deixar sua marca em locais
espalhados pela cidade inteira e escolhidos
de forma aleatória. E não é difícil encontrar
seu nome por aí. Apesar de morar no Butantã,
ele já deixou sua marca registrada em cidades
como Itapecerica da Serra, Bragança Paulista, Santo André, Campos do Jordão, Cruzeiro, São Bernardo do Campo, e muitas outras,
além do litoral norte e sul de São Paulo. Ele
espalhou seu ‘logotipo’, inclusive, em outros
estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina e até na Bahia.
Mas o que ninguém entende é o porquê
de ele escrever seu nome em verde por aí. Seu
nome e sua marca estão registrados pelo país,
desde 1996. No início, ele só queria se tornar
1
mais conhecido - e, de fato, quando questionadas sobre quem é Carlos Adão, as pessoas associam o nome com a tipografia verde. Mas em
2006, ele resolveu se candidatar a deputado federal pelo partido PT do B. Como não tinha recursos financeiros suficientes para veicular uma
propaganda eleitoral nos meios de comunicação de massa, como a televisão, por exemplo,
a prática ganhou ainda mais força. Seu número,
7010, foi divulgado em novos muros e paredes
com o slogan “A Seleção de 70 foi 10”. Mas
seu objetivo não foi alcançado. Com apenas
3.314 votos, Carlos Adão não chegou nem perto de ser eleito. Mesmo assim, as famosas letras
verdes continuam ganhando espaço a cada dia
que passa. E os slogans são cada vez mais inusitados: “Carlos é Adão”, “Volte Carlos Adão”,
“Carlos Adão é amor”, “Ame Carlos Adão”.
Ele não se considera um pichador. Segundo sites especializados em arte urbana, essa
prática não é considerada pichação e é conhecida por marketing de guerrilha. “O marketing de guerrilha é tudo aquilo que foge da comunicação convencional. E ele faz isso. Criou
mais do que uma marca, um estilo”, explica
Luiz Fernando Biagiotti, professor da ESPM
(Escola Superior de Propaganda e Marketing). “Mesmo que ele não tenha alcançado o
objetivo político, lançou mão do marketing de
guerrilha e se tornou conhecido entre grafiteiros e pichadores”, completa.
Embora as pessoas não entendam o significado de seu nome, ou mesmo a frase exposta, o simples fato de que as elas se recordem
delas já é uma grande jogada de marketing. O
segredo está justamente na curiosidade. Carlos já se tornou um dos personagens anônimos
mais populares de São Paulo. Muitas pessoas,
dentro de seus carros ou do transporte público, mesmo que inconscientemente, reparam
nas letras verdes chamativas que se tornam
ainda mais realçadas com o trânsito.
2
Para Carlos Adão, suas assinaturas eram
apenas uma ‘alternativa financeira perante a
escassez de recursos’. Mas hoje, é muito mais
que isso. É sua diversão (ele conta que desde
criança já pintava seu próprio tênis). Falando
em recursos financeiros, ele conta que chega a
gastar, em média, R$1500 com tintas e demais
despesas, mas diz valer muito a pena. “Quem
não gosta do que eu faço, é porque não presta
atenção”, declara sem modéstia.
Em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo,
ele afirma que só deixa sua marca em terrenos
baldios e casas abandonadas, por conta de um
desentendimento com grupos de grafiteiros.
No início de sua atividade, chegou a “atropelar” outros grafiteiros e pichadores, descumprindo uma das normas da rua. “Por muitos
anos, o Carlos Adão fazia suas pinturas por
cima dos ‘pichos’ e grafites, o que mostra que
ele não conhecia ou não respeitava uma das
principais leis da rua” diz Mundano, um famoso grafiteiro paulista.
Mesmo que Carlos Adão não se torne um
político famoso ou um grafiteiro bem sucedido, ele foi (e é) uma das maiores lendas urbanas da atualidade. Na Internet, existem diversos fóruns de debates que discutem sobre
sua real existência. Hoje, existem aproximadamente 90 comunidades a respeito dele no
Orkut. Sua popularidade lhe trouxe alguns
benefícios. Com ajuda de Mundano, sua marca passou a ser considerada arte de rua. E foi,
inclusive, exposta numa galeria de arte, em
novembro do ano passado, na capital paulista.
“Apesar de tomar o espaço urbano de forma
ilegal e buscar ibope, ambas características
relacionadas à pichação e ao grafite, a intervenção dele não se enquadra em nenhuma delas”, alega Mundano. Neste ano, Carlos Adão
conta com algumas inovações. Agora, suas
assinaturas agora vêm acompanhadas de frases mais longas e alguns desenhos. ■
Download