Economia urbana das cidades ribeirinhas e os possíveis impactos

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Economia urbana das cidades ribeirinhas e os possíveis impactos de
eventos climáticos extremos: o caso de Tefé, Amazonas.
Eubia Andréa Rodrigues¹
Tatiana Schor²
Cidades ribeirinhas são aquelas cidades que tem sua vida pautada pela sua relação com o
rio. No Amazonas, onde uma boa parte de suas 62 cidades tem como único meio de transporte o
rio as variações nos regimes fluviais impactam diretamente as funções urbanas. Este é o caso das
cidades localizadas ao longo da calha do rio Solimões. Este impacto pode no seu limite implicar em
mudança de sítio ou pode implicar em desarticulação de cadeias produtivas. Eventos climáticos
extremos, cheias ou secas muito extensas, impactam diretamente o funcionamento dessas cidades,
em especial a sua dinâmica econômica e comercial. No contexto de mudanças climáticas extremas
prevê-se um aumento de eventos climáticos extremos que poderão gerar cheias ou secas mais
longas. Qual serão os impactos desses eventos nas atividades econômicas, principalmente aquelas
dependentes do fluxo de transporte fluvial, das cidades ribeirinhas? Resultados preliminares obtidos
no Programa de Pesquisa Tipificação da Rede Urbana na calha Solimões-Amazonas coordenado
pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB)
evidenciaram a necessidade de se compreender a dependência sócio-espaço-econômica das
cidades ribeirinhas. Com relação à regulação do clima regional em especial eventos climáticos
extremos, principalmente com relação às atividades econômicas das quais as cidades dependem
verificou-se que em conseqüência da sazonalidade a atividade comercial, ou melhor, o fluxo de
pessoas e mercadorias tende a sofrer um acréscimo ou decréscimo, dependo do período. Parte-se
da hipótese que possíveis alterações climáticas decorrentes da mudança ambiental global ou
eventos climáticos extremos deverão modificar a estrutura urbana e, principalmente, a rede urbana
das cidades localizadas ao longo dos grandes rios, em especial do rio Solimões. Essa especialidade
tem contribuído para que os pesquisadores do NEPECAB atuem constantemente na região,
verificando e atualizando os dados, considerando que esta sazonalidade implica a busca de novos
dados ou atualização dos mesmos.
_________________
¹ Mestranda em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas – [email protected]
² Professora e orientadora do Mestrado em Geografia da UFAM – [email protected]
Com o intuito de melhor compreender a relação eventos climáticos extremos, mudanças de uso da
terra e dinâmica urbana foi selecionada uma cidade na calha do rio Solimões no estado do Amazonas
– Tefé. Tefé foi recentemente classificada como cidade de responsabilidade territorial o que significa
que impactos na cidade produzem impactos nas cidades vizinhas e em seus municípios. O Amazonas é
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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o estado brasileiro com maior extensão territorial, com uma área de 1.577.820 km, dividido em 62
municípios. Entre os mais populosos, no estado do Amazonas, situa-se Tefé, com uma área
aproximada de 148.890Km², de acordo com a classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), faz parte da microrregião número 6. Dista da capital do Estado a 516 km em linha reta e
663 km por via fluvial, localizada entre 31º 21’ 27” de Latitude Sul e 64º 40’ 21” de Longitude Oeste.
Seus aspectos naturais não diferem muito dos outros municípios que se localizam a montante do médio
Solimões rio Amazonas, apresentando um relevo pouco aplainado – altura média de 47 metros acima
do nível do mar. Salienta-se que as áreas mais elevadas ficam no interior do município, chegando à
cota altimétrica de 100 metros. No que se refere à vegetação, o município é coberto pela Floresta
Amazônica que, aos poucos vai perdendo suas características naturais, cedendo espaço para as
atividades antrópicas. Sobre as condições naturais de Tefé, o que impressiona seus visitantes é o
grande lago que banha a cidade e tem o nome do município – Tefé -, proveniente do grande rio que
corta grandes extensões do município. Quanto ao aspecto populacional, abriga uma população de
64.576 habitantes aproximadamente (IBGE - Censo, 2000), correspondendo a 2,62% da população do
Estado do Amazonas, com uma densidade de 0,36 hab/ Km². Segundo os dados oficiais, a média de
habitantes por família é de seis pessoas. A origem da população tefeense é resultante do processo de
miscigenação entre os portugueses, espanhóis e indígenas. A migração, proveniente de vilarejos do
interior, cidades vizinhas e de outras regiões do país contribuíram, sobremaneira, para o súbito
crescimento urbano, provocando um crescimento desorganizado no centro e nas regiões periféricas da
cidade trazendo, como conseqüência, uma série de problemas sócios ambientais, como acontece em
muitas áreas urbanas do Brasil. Com base nos dados do Censo de 1980, Tefé tinha uma população de
53.570 habitantes. Em vinte e seis anos, houve um crescimento absoluto da ordem de 64.576
habitantes, com o índice de 19.43 %, certamente um dos maiores do estado do Amazonas. Esse
aumento populacional aliado às condições naturais tem desarticulado todo o processo de urbanização
da cidade. O Lago de Tefé, atualmente, é o único meio de ligação com os municípios vizinhos. Ao
norte: Alvarães, Marãa, Uarini, Fonte Boa, Japurá, Santo Antonio do Içá, Amaturá, Tonantins, São
Paulo de Olivença; ao sul: Coari Codajás, Anori, Anamã Manacapuru, Iranduba e (Manaus-AM) a
capital do Estado, serve como intercâmbio entre os municípios do Médio e Alto Solimões, ou seja, a
montante do Rio Solimões-Amazonas, do qual este serve como receptor e fornecedor de mercadorias
e uma via de circulação de pessoas. Desta forma, pode ser analisado dentro de uma abordagem
sistêmica, sendo considerado um sistema aberto, pois depende de ambientes externos, recebendo
elementos de cunho econômico, social, já que é uma área de intercâmbio de pessoas e mercadorias. A
mobilidade territorial entre Tefé e as cidades ao seu entorno, proveniente da situação econômica,
política, cultural e social, a caracteriza como um “nó”. Esta característica funcional remonta a história
colonial da região quando esta área servia de troca entre os produtos manufaturados europeus pelas
chamadas “drogas do sertão”. Diante desta questão, a atividade comercial só tem se intensificado e o
lago servia e serve como escoadouro de produtos entre Tefé e os municípios vizinhos e a capital do
estado, através do seu principal rio Solimões/Amazonas, e que dependendo da sazonalidade isto reflete
na demanda comercial. O NEPECAB se lança em busca de evidências concretas e propõe a
classificação de Tefé como “cidade média de responsabilidade territorial” na região oeste do Médio
Solimões-Amazonas. Com a finalidade precípua de descobrir esta realidade, que a presente pesquisa
recorre à análise in loco acerca desta condição, com base na questão econômica. Portanto, todo esse
processo vem acompanhado de problemas, que se pode salientar, são peculiares a qualquer cidade
com as características que Tefé possui hoje. Esta classificação é oriunda de estudos preliminares,
realizada pelos pesquisadores do núcleo supracitado, considerando alguns arranjos institucionais e a
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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importância da cidade na rede urbana do Amazonas além de sua primazia no oeste da calha do rio
Solimões-Amazonas. Assim sendo a análise dos impactos de eventos climáticos extremos em Tefé
possibilita compreender esses impactos em um conjunto de cidades que formam a região denominada
de Médio Solimões. Para se analisar Tefé, foi realizado um conjunto de trabalhos de campo com o
objetivo de identificar e caracterizar atividades urbanas que são dependentes da sazonalidade fluvial.
O texto apresentado relaciona os dados obtidos nas pesquisas sobre a rede urbana das cidades na
calha do rio Solimões. Os dados obtidos em campo e as possíveis conseqüências de eventos climáticos
extremos na dinâmica urbana nas cidades localizadas ao longo da calha do rio Solimões, em especial
com relação à dinâmica econômica dos arranjos produtivos locais, tornam o resultado mais consistente
e coeso. Estes resultados são fruto de pesquisas realizadas pelo NEPECAB via o sub-projeto
Interações Sociais e Mudanças de Uso da Terra do Projeto Milênio LBA2 e do Projeto Dinâmica
das Cidades Amazônicas, Globalização e Desenvolvimento Regional, Edital MCT/CNPq 15/2007Universal.
Palavras-chave: cidades, arranjos produtivos locais, eventos climáticos extremos, rede urbana,
Tefé, Amazonas.
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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