A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CAPITAL NO VALOR DE MERCADO DAS EMPRESAS NO BRASIL André Silva Oliveira Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em AdministraçãoCOPPEAD/UFRJ Mestrado em Administração Orientador: Cláudio R. Contador PhD em economia Rio de Janeiro 1998 ii A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CAPITAL NO VALOR DE MERCADO DAS EMPRESAS NO BRASIL André Silva Oliveira Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração – COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre. Aprovada por: Prof.___________________________________ - Orientador Cláudio R. Contador (COPPEAD/UFRJ) Phd em economia Prof.___________________________________ Ricardo Leal (COPPEAD/UFRJ) Phd em administração de empresas Prof.___________________________________ Alvaro Vieira (UERJ) Phd em administração de empresas Rio de Janeiro 1998 iii Oliveira, André Silva. A influência da estrutura de capital no valor de mercado das empresas no Brasil /André Silva Oliveira. Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 1998. ix, 87 p.,il. Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD. 1.Mercado de Capitais 2.Economia Financeira. 3. Tese (Mestr. – UFRJ/COPPEAD. I. Título. iv AGRADECIMENTOS Ao André Lóes, pela ajuda no trabalho de coleta de dados econômicos. À Danielle Perrota, pelo valioso trabalho de revisão do formato da dissertação. Ao Cláudio Contador, pela atenciosa orientação. Ao Ricardo Leal, pela importante colaboração nas correções dos rumos finais do trabalho. v OLIVEIRA, André Silva. A influência da estrutura de capital no valor de mercado das empresas no Brasil. Orientador: Cláudio Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1998. Diss. Ao longo desta dissertação procuramos mostrar a relevância da estrutura de capital no valor de uma empresa, com objetivo último de testá-la dentro da realidade brasileira. Nesse sentido, procedemos à revisão da teoria de finanças que versa sobre o assunto, resumimos o cenário encontrado pelas empresas no Brasil para buscarem novos recursos, e por fim realizamos os testes estatísticos que denotaram a que nível a estrutura de capital afeta o valor das empresas de diferentes setores no mercado acionário brasileiro. Apesar do mercado acionário nacional, objeto de nossos testes estatísticos, apresentar um universo amostral bastante restrito, encontramos forte significância para alguns resultados, que se mostraram, por vezes, bastante surpreendentes em relação ao que dita a teoria de Finanças. As empresas mais alavancadas dos setores estudados, de maneira geral, não apresentaram índices de exigência de retorno significativamente maior que suas congêneres de mercado menos alavancadas, exceção feita ao grupo setorial Siderurgia e Mineração. As razões que vislumbramos para esta ocorrência são: a dificuldade generalizada de financiamento no país, onde só as melhores empresas o conseguem obter a taxas razoáveis; a consequente baixa alavancagem das empresas no Brasil e; a estreita liquidez de nosso mercado de ações, de onde os retornos exigidos das empresas foram obtidos. vi OLIVEIRA, André Silva. A influência da estrutura de capital no valor de mercado das empresas no Brasil. Orientador: Cláudio Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1998. Diss. In this paper we try to show the importance of the capital structure to the firm value, with the special purpose of testing it in the brazilian reality. In this sense, we made a capital structure theory review, summarized the economic scenerio in which the companies in Brazil have to work to get new resources, and for the last, we made statistics tests that showed at what level the capital structure influences the firm value of many companies whose shares are traded in the São Paulo Stock Exchange. The result of our experiments were quite surprising in regards of Finance Theory statements. The more leveraged firms in the considered sectors, in general, did not show significant higher demanded rates of return than its peers in the market that were less leveraged. The reasons that we found to explain this are the following: the general financing difficulty in Brazil, where just the better companies are succesful in getting debt at reasonable prices; the consequent low debt ratio of the companies and; the low trade volume in the major part of the shares traded in São Paulo Stock Exchange from where the demanded rates of return were taken. vii Lista de Figuras p. Figura 1.1: Distribuição das empresas do IBOVESPA por níveis de dividendos distribuídos em1997................................................................................................... 13 Figura 1.2: Retorno exigido pelo acionista X alavancagem....................................... 19 Figura 1.3: Valor da firma X Endividamento............................................................... 22 Figura 2.1: Poupança doméstica bruta como percentual do PIB – médias não ponderadas (1960-93)............................................................................................... 31 Figura 2.2: Emissões primárias de ações e debêntures............................................ 35 Figura 2.3: Capitalização e liquidez da BOVESPA. .................................................. 36 Figura 2.4: Reservas cambiais brasileiras: evolução................................................. 42 Figura 2.5: Taxa de juros do Federal Reserve: evolução........................................... 43 Figura 3.1: Empresas americanas: % Alavancagem financeira X Retorno exigido – 1996........................................................................................................................... 54 Figura 3.2a: Retorno exigido X % Alavancagem financeira – 1996........................... 63 Figura 3.2b: Retorno exigido X % Alavancagem financeira – 1997........................... 65 Figura 3.3: Resultados financeiros / Lucro operacional de 1997 das 300 empresas mais líquidas da BOVESPA distribuídos por quintis.................................................. 71 viii Lista de Quadros p. Quadro 1.1: Lucros retidos e dividendos nas empresas americanas....................... 10 Quadro 1.2: Lucros e dividendos pagos nas empresas americanas........................ 11 Quadro 1.3: Dividendos pagos / Lucro Líquido nas empresas brasileiras do IBOVESPA (1997)..................................................................................................... 12 Quadro 1.4: Setores divididos por alavancagem...................................................... 24 Quadro 1.5: Resultados do consolidado de estudos de Smith, Clifford.................... 27 Quadro 1.6: Principais pontos a serem considerados em relação à estrutura de capital de uma empresa............................................................................................ 29 Quadro 2.1: Composição do passivo do BNDES -1996........................................... 38 Quadro 2.2: TJLP, ANBID e C-BOND....................................................................... 39 Quadro 2.3: Bancos de Desenvolvimento: Indicadores Financeiros Comparativos – 1996....................................................................................................................... 40 Quadro 2.4: Balanço de Pagamentos do Brasil........................................................ 41 Quadro 2.5: Volumes financiados por intermediário financeiro................................ 48 Quadro 3.1: Resultado dos testes com empresas americanas – Dívida LP X L/P – 1996.......................................................................................................................... 52 Quadro 3.2a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Patrimônio Líquido X L/P (1996)............................................................................... 61 Quadro 3.2b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Patrimônio Líquido X L/P (1997)............................................................................... 62 Quadro 3.3: Comparação de endividamento de LP: EUA X Brasil........................... 67 Quadro 3.4a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Valor de Mercado X L/P (1996)............................................................................................... 68 Quadro 3.4b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Valor de Mercado X L/P (1997)............................................................................................... 68 ix Sumário p. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1 1 – ESTRUTURA DE CAPITAL: A TEORIA............................................................ 3 1.1 – O financiamento interno................................................................................ 1.1.1 – A política de dividendos................................................................................ 1.1.2 – Os fundos de depreciação............................................................................ 1.2 – O Financiamento externo.............................................................................. 1.2.1 – A teoria estática das compensações............................................................ 1.2.2 – A teoria da ordem de captação..................................................................... 4 4 14 15 20 26 2 – O FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO NO BRASIL.................................... 30 2.1 – O mercado interno de capitais...................................................................... 2.2 – O BNDES......................................................................................................... 2.3 – As captações internacionais......................................................................... 2.3.1 – A estabilidade da moeda na qual o financiamento é concedido................... 2.3.2 – Risco de crédito administrável...................................................................... 2.3.3 – Taxas de juros relativamente atrativas......................................................... 2.4 – Novas alternativas......................................................................................... 2.4.1 – O Project Finance......................................................................................... 2.4.2 – Fundos em cotas para fins específicos......................................................... 2.5 – Os Doadores de recursos............................................................................. 34 36 40 41 42 43 44 44 45 46 3 – TESTES ESTATÍSTICOS................................................................................... 50 4 – CONCLUSÕES FINAIS...................................................................................... 73 ANEXOS................................................................................................................... 77 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 84 Introdução A otimização da estrutura de capital é um dos pontos mais discutidos em Finanças. Alguns, como Modigliani e Miller (apud Brealey, Myers,1991), argumentam que não existe uma estrutura ótima, ou seja, o valor da empresa é reflexo de seus investimentos e não de como o fluxo de caixa gerado é distribuído (como remuneração de dívida ou de capital próprio). Já a corrente dos Tradicionalistas acha que, ao contrário, existe um ponto ótimo da estrutura de capital que maximiza o valor da firma. O que todos concordam é que, ao aumentar o endividamento, há um consequente aumento de exigência, por parte do acionista, de um maior retorno. Isto porque um maior endividamento tende a elevar o risco financeiro da empresa. O presente trabalho procura investigar em que grau a exigência de retorno é afetada pela estrutura de capital nas empresas brasileiras. Para chegar a esse objetivo utilizamos testes estatísticos do tipo cross-section, onde procuramos estudar a correlação entre a estrutura de capital, identificada por Exigível Total dividido pelo Patrimônio Líquido, e a exigência de retorno do acionista, representada pelo Lucro Líquido anual dividido pelo seu Valor de Mercado. 2 Os testes foram aplicados para as 150 empresas mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo nos anos de 1996 e 1997, que foram agrupadas setorialmente e reagrupadas com outros setores afins em grupos setoriais, dada a pouca disponibilidade intra-setorial de ações com liquidez em nosso mercado. Antes de procedermos aos testes estatísticos, entretanto, fazemos uma revisão teórica da relevância da estrutura de capital no valor da firma no capítulo I e relatamos, no capítulo II, o ambiente particularmente hostil enfrentado pelas empresas para se endividarem a longo prazo no Brasil, que dependem basicamente de recursos administrados pelo governo, via BNDES, ou captados no exterior via bonds e notes. Assim, ao analisarmos no capítulo III os resultados dos testes estatísticos e suas causas, nos pautamos nos argumentos teóricos aludidos no primeiro capítulo e nas evidências apresentadas no segundo. Capítulo 1 3 Estrutura de capital: a teoria Antes de qualquer análise objetiva da influência da estrutura de capital no valor das empresas, se faz necessário a apresentação de um retrospecto da teoria sobre estrutura de capital. Quais as vantagens e desvantagens da empresa se financiar interna ou externamente? Quais são as consequências de uma política de dividendos mais generosa ou de uma maior alavancagem financeira? À essas e outras perguntas a moderna teoria de finanças tenta responder, e é essa teoria que apresentaremos nesse capítulo. Toda empresa tem uma certa gama de bens sob seu controle. Esses bens, por sua vez, são financiados por dois tipos de agente econômico, proprietários ou credores da empresa. Desse modo, de maneira genérica a empresa tem duas formas de se financiar: através de recursos próprios, utilizando-se de seus lucros retidos, fundos de depreciação (financiamento interno) ou de novas captações no mercado acionário ou através de endividamento, fazendo uso do capital de terceiros em troca de uma taxa de juros previamente contratada (financiamento externo). Dividiremos a exposição da teoria sobre a estrutura de capital em dois blocos principais, o primeiro tratará do financiamento interno da empresa, no qual seus lucros retidos e fundos para depreciação são os principais geradores de fundos. No segundo bloco trataremos do financiamento externo, aquele em que a empresa vai ao mercado em busca de novos capitais. Essa busca pode 4 se dar através de endividamento, com a venda de títulos que oferecem um 1 rendimento pré-determinado, ou através da emissão de novas ações . Vamos começar pelo estudo do financiamento interno, que como dissemos acima, provêm em grande parte dos lucros obtidos pela empresa. Sendo assim, a política de distribuição/retenção desses recursos, ou política de dividendos, passa a ser um importante aspecto a ser considerado. Vamos então repassar o que a teoria de finanças nos diz a seu respeito. 1.1- O Financiamento Interno 1.1.1 - A Política de Dividendos Nessa matéria, os autores têm frequentemente opiniões bastante diversas. Abordaremos aqui as conclusões a que chegaram Modigliani e Miller apud Brealey e Myers (1991), e os próprios Brealey e Myers em cujo trabalho Principles of Corporate Finance estão as bases da moderna teoria de finanças corporativas. Não deixaremos, no entanto, de citar outros autores cuja contribuição consideremos oportuna para a discussão do assunto. De forma geral, a relevância da política de dividendos depende, como lembra Filardo (1980), de quatro pontos (aos quais acrescentamos mais um), tais como: 1)padrão de comportamento dos acionistas; 2)relacionamento entre o administrador e o acionista; 3)formas alternativas de financiamento à disposição da empresa; 4)desempenho do mercado de ações; 5)padrão dos impostos. 1 É claro que podem existir mecanismos híbridos de captação, que misture emissão de ações com de títulos de dívida, tais como debêntures conversíveis em ações. No entanto, para simplificar, estudaremos as duas 5 Para Modigliani e Miller, a quantidade de dividendos distribuídos é irrelevante para a valorização das ações da empresa, isto porque segundo eles, o único fator relevante é a política de investimentos, cujos resultados, estes sim, influenciam os preços das ações da empresa. Se enquadrarmos a teoria de Modigliani e Miller no arcabouço de análise adaptado de Filardo veremos que para chegar a suas conclusões os autores assumiram que os pontos em que a política de dividendos interfere sobre o valor da firma são dados da seguinte forma: no quesito “padrão de comportamento dos acionistas” Modigliani e Miller o consideram como indiferentes ao risco e à liquidez, já que assumem que os acionistas não hesitarão em deixar seu dinheiro retido na empresa, desde que esta ofereça as perspectivas mais promissoras para seus recursos. O promissor futuro da empresa, no presente, não passa de uma intenção dos administradores, assim, Modigliani e Miller acabam por assumir que no “relacionamento entre o administrador e o acionista” não existe divergência de objetivos, sendo o administrador um legítimo representante do acionista, não inclinado à decisões oportunistas. Os administradores não estão vulneráveis, segundo Modigliani e Miller, à tentações, tais como manter parte dos lucros sob seu controle, mesmo sabendo que não será possível a aplicação desses recursos em projetos com rendimento semelhante à melhor aplicação do mercado. Isto se deve à assunção, por parte de Modigliani e Miller, da existência de uma ampla gama de “formas alternativas de financiamento à disposição da empresa”, e de que formas de captação em separado. 6 não existem custos de transação para a obtenção desses recursos quando forem necessários. Por último, ainda seguindo a estrutura de análise de Filardo, Modigliani e Miller consideram que o “desempenho do mercado de ações” reflete imediatamente as informações sobre a situação das empresas, assim, tanto faria para os acionistas receber seus rendimentos via dividendos, ou ganhos de capital, vendendo-os ao preço justo nas bolsas de valores. Quanto ao quinto ponto acrescentado, Modigliani e Miller consideram um mundo onde não há impostos. Mesmo se os houvesse, as interferências que poderiam causar manifestar-se-iam apenas se as alíquotas cobradas nos ganhos de capital (através da venda das ações) fossem diferentes das aplicadas aos dividendos ganhos. Isto porque, como não há assimetria de informações no mercado, o valor da firma se refletirá automaticamente seja via dividendos seja via valorização de suas ações. O argumento de Modigliani e Miller quanto à irrelevância dos dividendos para o valor da firma não está de fato próximo da realidade do mundo. Mas considerando-se as premissas por eles estabelecidas dentro dos pontos influenciadores do dividendo no valor da firma, pode-se dizer que ao menos sua proposta tem coerência. Além disso, em 1961, o artigo no qual mostraram a irrelevância da política de dividendos abriu uma nova frente de discussão acerca da importância do dividendo, numa época em que a maioria das pessoas acreditavam que qualquer aumento no fluxo de dividendos aumentava o valor da firma. Com a contribuição de Modigliani e Miller, o debate passou a girar em torno da possibilidade dos impostos e outras imperfeições de mercado 7 influenciarem a importância da política de dividendos, e em que grau isso ocorreria. Conforme Brealey e Myers (1991), os opositores e defensores do pagamento de altos dividendos são classificados como direitistas (defensores) e esquerdistas (contrários). Nas tabelas a seguir seus argumentos. Méritos do argumento direitista • A distribuição total dos lucros faz com que o acionista passe a ter ingerência total sobre o que fazer com sua parte dos recursos gerados pela empresa, assim, presumindo um comportamento racional por parte deste, os recursos gerados pelas empresas seriam alocados de maneira ótima na economia, havendo a maximização do retorno para o acionista. • É provável que o acionista prefira o lucro a que tem direito em dinheiro, ao invés de receber uma promessa de mais dinheiro no futuro, o que na verdade representa a retenção do lucro na companhia. • pagamento de dividendos desonera o acionista de custos de transação, caso este queira liberar recursos, já que para se vender ações costuma-se incorrer em taxas de corretagem. • Presumindo-se que o mercado não é eficiente, e que existe assimetria de informações, o preço das ações da firma pode não refletir seu valor justo e assim, caso o acionista queira liberar recursos através da venda de seus papéis da companhia, pode incorrer em prejuízo em relação ao que poderia obter recebendo dividendos. Méritos do argumento esquerdista • Com a retenção dos dividendos na firma evita-se os custos de transação inerentes a uma captação de recursos no mercado. Considerando-se que quanto mais barato forem os fatores de produção de uma companhia, maior o retorno para seus acionistas, esses gastos adicionais para obter capital para os projetos passam a ir contra o interesse do acionista. • Estrategicamente é importante a retenção de parte dos recursos gerados pela empresa para que ela possa reagir mais rapidamente a uma repentina necessidade de novos investimentos, ou seja, retendo recursos oriundos de seu lucro a empresa minimiza o risco de não conseguir captar a quantidade de recursos no tempo eventualmente necessário. 8 Apesar de termos arrolado o dobro de argumentos para os direitistas, isto não significa que estes estão mais certos que os outros, pois a importância dos dois argumentos esquerdistas possuem uma grande força, ainda mais quando se tem em conta o longo tempo e os altos custos envolvidos numa operação de captação externa de recursos. Os Middle-Of-The-Roaders Brealey e Myers se incluem nesse grupo cuja conclusão é de que o valor da firma não é afetado pela sua política de dividendos. Eles argumentam: se os acionistas dão maior valor à firma que paga maiores dividendos, porque estas não o fazem ?, ou ao contrário, se os acionistas dão mais valor àquela que paga menos dividendos, porque as empresas não retêm os lucros ? A resposta é, segundo eles, que nem todos os acionistas têm a mesma preferência, assim investidores que preferem ações com maiores dividendos, as compram, enquanto os que preferem menores dividendos comprarão ações de empresas que retêm uma parcela maior de seus lucros. Não há estímulos para a empresa aumentar ou diminuir seus dividendos uma vez que seus acionistas estejam satisfeitos. Brealey e Myers admitem que existe uma falha nessa conclusão, pois se existir alguma vantagem fiscal para retenção ou pagamento dos lucros, os acionistas tenderão a preferir uma maior retenção ou distribuição dos lucros, conforme for a direção da vantagem fiscal. 9 Com respeito ao padrão de comportamento da política de dividendos das empresas, John Lintner, em 1956, realizou uma pesquisa empírica baseando-se nas decisões de distribuição de dividendos de 28 empresas durante 7 anos. Suas conclusões podem ser sumarizadas em quatro pontos. São eles: 1)As firmas têm objetivos de longo prazo em relação ao percentual de lucros a distribuir; 2)Os administradores se atêm mais às mudanças relativas dos dividendos do que em seus níveis absolutos; 3)Mudanças no pagamento de dividendos são seguidas de maiores ganhos no longo prazo. Ganhos transitórios não afetam os pagamentos de dividendos; 4)Os administradores relutam em fazer mudanças nos dividendos que terão que ser revertidas. Estão particularmente preocupados em ter que rescindir um aumento dos dividendos. Como se vê, as empresas não julgavam a política de dividendos irrelevante para o valor da firma, muito pelo contrário (ver quadro 1.1). No quadro 2.2 demonstramos que as empresas americanas continuam pagando altos índices de dividendos sobre seus lucros. No Brasil também parece haver igual preocupação com o nível de dividendos pagos. No quadro 1.3 e figura 1.1 verificamos o comportamento da política de dividendos das empresas do índice Bovespa no ano de 1997. 10 Quadro 1.1: Lucros retidos e dividendos nas empresas americanas 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 Lucro Retido/Lucro Líquido 0,50 0,42 0,52 0,43 0,41 0,45 0,45 0,50 0,54 0,55 0,50 0,46 0,41 0,29 0,40 0,49 0,55 0,49 0,48 Dividendos /Lucro Líquido 0,50 0,58 0,48 0,57 0,59 0,55 0,55 0,50 0,46 0,45 0,50 0,54 0,59 0,71 0,60 0,51 0,45 0,51 0,52 Fonte: Flow of funds accounts, apud Filardo (1980). 11 Quadro 1.2: Lucros e dividendos pagos nas empresas americanas 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Lucros depois dos Impostos (US$ bilhões) 113,6 135,5 150,1 133,4 116,1 166,5 217,3 206,8 231,2 240,8 263,4 300,2 348,5 409,4 447,6 480,4 Dividendos Pagos (US$ bilhões) 69,8 80,8 83,2 92,8 110,2 107,0 116,8 138,9 151,9 163,1 169,5 195,3 216,3 264,4 304,8 336,1 Dividendos (%do lucro) 61 59 55 69 95 64 53 67 65 67 64 65 62 65 68 70 Fonte: Flow of Funds Accounts, FED. Quadro 1.3: Dividendos pagos / Lucro Líquido nas empresas brasileiras do IBOVESPA (1997) Empresas Electrolux PN Aracruz PNB Copene PNA Copesul ON (%) 192,2 182,3 118,2 94,2 12 Light ON Cemig PN Souza Cruz ON Bradesco PN Vale Rio Doce PN Telerj PN Votorantim C P PN Sid Tubarao PN Usiminas PN Sid Nacional ON Itaubanco PN Acesita PN White Martins ON Sadia Concord PN Eletrobras PNB Duratex PN Belgo Mineira ON Petrobras BR PN Brasmotor PN Cesp PN Brahma PN Brasil PN Telesp PN Ericsson PN Banespa PN Inepar PN Itausa PN Telepar PN Petrobras PN Celesc PNB Telebras PN LightPar ON Ipiranga Pet PN Paul F Luz ON Sharp PN Média Fonte: Banco de dados da Economática. 90,9 88,0 75,2 71,6 68,1 66,0 59,3 57,6 53,8 52,3 50,3 47,6 45,3 44,8 44,0 34,3 32,7 32,5 30,9 29,3 29,0 28,5 27,9 27,4 26,9 26,2 26,1 25,4 24,9 23,8 16,4 3,5 3,1 0,3 0,0 50,0 Figura 1.1: Distribuição das empresas do IBOVESPA por níveis de dividendos distribuídos em 1997 (% Lucro líquido) 13 Div>100%LL 50%<Div<100%LL 25%<Div<50%LL 15%<Div<25%LL 0%<Div<15%LL Fonte: Banco de dados da Economática Pela figura acima percebemos que mais de 70% das empresas do Ibovespa distribuíram dividendos acima de 25% de seus lucros líquidos no ano de 1997. Na verdade, no Brasil, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) impõe um dividendo mínimo de cerca de 25% do lucro líquido. De qualquer forma, o mercado parece dar valor à política de dividendos, pois 40% das empresas do Índice pagaram dividendos entre 50 e 100% de seus lucros líquidos, bem acima do mínimo estabelecido pela CVM. Isso significa que há uma restrição quanto ao financiamento interno da empresa (baseado em lucros retidos), ou seja, a empresa se vê de certa forma obrigada ao pagamento de dividendos regulares, sob o risco de ver seu valor de mercado cair e assim inviabilizar um futuro lançamento de ações no mercado de capitais. 1.2 - Os Fundos de Depreciação 14 A outra fonte de recursos internos que as empresas podem utilizar no seu financiamento são os recursos relativos à depreciação de seu capital. Os fundos de depreciação refletem-se contabilmente no demontrativo de resultados como uma redução do lucro operacional e final, ou seja, parte da receita obtida com vendas é apropriada pela conta “depreciação acumulada”, e os recursos registrados nessa conta é que são usados no autofinanciamento da companhia. É interessante notar que a própria reserva de parcela da receita da empresa para uma futura renovação de seu parque produtivo é por si só um argumento daqueles que defendem o financiamento interno em detrimento do externo. Pois, alternativamente, a firma poderia transformar a parcela destinada à depreciação em lucro disponível. Não o fazem porque têm tratamento fiscal diferenciado para as reservas de depreciação (consideradas como custos) e porque reconhecem que ao captarem recursos no mercado, para dar continuidade à firma, incorrerão em custos e dificuldades adicionais. A existência da reserva de depreciação em si é uma prova de não se acredita em mercados pefeitos com eficiência alocativa e sem assimetria de informação. Cabe alertar, apesar de ser bastante óbvio, que a participação da depreciação na poupança interna das empresas tendem a aumentar quando se tem uma quantidade maior de capital imobilizado, já que os recursos da depreciação são um percentual desse capital. 2 - O Financiamento Externo 15 Depois de termos visto o que a moderna teoria de finanças diz sobre as possibilidades e restrições que as empresas têm para se autofinanciarem, vamos ver as alternativas que elas possuem para captar novos recursos fora da empresa. A captação de recursos via endividamento, como sabemos, aumenta a alavancagem financeira e seu risco financeiro. Se, por outro lado, a empresa resolver captar novos recursos via mercado acionário, incorrerá além de custos bastante elevados, e de maior dificuldade de captação (vide maiores riscos associados para os investidores), em “insatisfação dos atuais acionistas que normalmente vêem novos lançamentos de ações como uma decisão que sinaliza menores lucros futuros ou maiores riscos” (BREALEY, MYERS, 1991, p.325). Vamos agora detalhar um pouco mais nossa análise. Modigliani e Miller mostraram que as decisões financeiras não são relevantes para o valor da firma se houver mercados perfeitos. É isso que dizem em sua Proposição I: "Uma firma não pode mudar seu valor simplesmente distribuindo seus fluxos de caixa de diferentes maneiras. O valor da firma é determinado por seus ativos reais não pelos papéis que emite. Assim a estrutura de capital é irrelevante enquanto as decisões de investimento são consideradas como dadas." (apud BREALEY, MYERS, 1991, p.397). Entende-se por mercados perfeitos a possibilidade do acionista pegar emprestado, ou emprestar, à mesma taxa que a firma obtém, assim, tanto faz 16 para o acionista se a empresa não se alavancar, pois o próprio acionista poderá fazê-lo por conta própria (pegando empréstimo e comprando mais ações da companhia por exemplo). Analogamente, o investidor, em meio a mercados perfeitos, poderá se desalavancar caso a firma se endivide mais (vendendo ações da companhia e emprestando no mercado). Modigliani e Miller, seguindo a mesma linha de análise, formulam a Proposição II, que diz: "A taxa esperada de retorno do equity de uma firma cresce na proporção em que aumenta a razão entre dívida e equity, expressa em valores de mercado. A taxa de crescimento depende do spread entre a taxa esperada de retorno da firma e a taxa esperada de retorno dos papéis de sua dívida emitida." (apud BREALEY, MYERS, 1991, p.405). Matematicamente a Proposição II poderia ser escrita assim: re= ra + D (ra - rd) E Onde re = retorno esperado do equity da firma; ra = retorno esperado dos ativos; rd = retorno esperado da dívida da firma; D é total da dívida emitida e E total do equity. Assim, vamos tomar um exemplo citado por Brealey e Myers. Nessa ilustração, uma empresa tem uma renda de 1.500$ para um valor de mercado de 10.000$ (todo em equity), sua taxa de retorno esperada (ra) é consequentemente de 15% (1.500/10.000) e seu rd é 10%. Se esta mesma 17 firma decide alterar sua estrutura de capital para, digamos 50% dívida, 50% equity, de modo a se alavancar mais e obter maiores lucros por ação, ainda assim o ra será de 15%, então, baseando-se na fórmula acima exposta, teremos: re = 0,15 + 5.000 (0,15 - 0,10) = 0,20 5.000 A Proposição II pressupõe que os bonds da firma são essencialmente livres de risco em baixos níveis de endividamento, assim, rd é independente de (D/E) e re aumenta linearmente em relação a (D/E), no entanto, quando a firma pega mais recursos emprestados seu risco de insolvência cresce e esta é obrigada a pagar taxas de juros mais altas. A Proposição II prevê que quando isso ocorre, a taxa de crescimento de re declina, ou seja, quanto mais a firma se endivida, re se torna cada vez menos sensível a aumentos do endividamento. Isso ocorre porque os credores da firma assumem de forma crescente o risco da empresa, havendo uma transferência do risco no sentido acionistascredores. O que se depreende quando se observa em conjunto as proposições I e II de Modigliani e Miller é que na verdade, a estrutura de capital altera a riqueza dos acionistas, mas como para ganhar mais, é necessário incorrer-se em mais risco, a vantagem de um maior retorno esperado é anulada pelo maior risco que os acionistas terão que correr. Assim, pelo exemplo dado acima, o retorno sobre as ações, depois do endividamento de 5.000$, passa a 20%, mas isso não representa benefício algum para os acionistas, que 18 consideram 20% o mínimo aceitável de retorno para suas ações, dada a nova situação de alavancagem financeira da empresa. Em contraste à posição de Modigliani e Miller se coloca a dos "tradicionalistas" que defendem que o ra (custo médio ponderado de capital da firma) pode ser minimizado desde que se utilize um montante ótimo de dívida e equity. Assim, haveria uma possibilidade de aumentar o valor da firma através do manejo da estrutura de capital. Brealey e Myers, entretanto, nos alertam que minimizar o custo médio ponderado de capital de um companhia (ra) não significa necessariamente maximizar seu valor de mercado. Os dois objetivos só serão equivalentes se o lucro operacional for invariável em relação às mudanças na estrutura de capital, pois, como o custo de capital é o lucro operacional dividido pelo valor das dívidas e equity, qualquer mudança na estrutura de capital que aumente o valor do denominador resultará em menor custo de capital e maximização do valor da firma. Se, por outro lado, o lucro operacional também variar, não se poderá concluir que a minimização do custo de capital seja acompanhado pela maximização do valor da firma. Pela fórmula do custo médio ponderado de capital (dada abaixo), podemos esperar que o menor custo (ra) seja obtido através do financiamento integral por dívida, entretanto, obviamente isso não é possível, dessa forma, o que os "tradicionalistas" advogam é que existe um meio termo entre o máximo custo (all-equity financed) e o mínimo custo (all-debt financed) que minimizaria, o custo de capital da empresa, maximizando seu valor de mercado. Supondose que o lucro operacional não é afetado pelo endividamento. 19 ra= E x re + D x rd , onde V é valor V V da firma (E+D) Na verdade, os "tradicionalistas" admitem que há um aumento de re ao se aumentar o endividamento. No entanto, esse aumento não anula completamente a vantagem, em termos de custo, da maior alavancagem financeira. A figura a seguir, retirada de Brealey e Myers, ilustra essa questão. Figura 1.2: Retorno exigido pelo acionista X alavancagem Fonte: Brealey e Myers (1991) Existe um forte argumento em favor da posição dos "tradicionalistas", que é a possibilidade das firmas tomarem recursos mais baratos que o investidor individual. Dessa forma, este último estaria obtendo um beneficio da maior alavancagem da empresa e poderia estar disposto a pagar um prêmio pelas suas ações. No entanto, com essa possibilidade visualizada de forma 20 geral pelo mercado a tendência é que aumentasse fortemente o número de firmas alavancadas, fazendo com que o prêmio que o investidor estava disposto a pagar tenda a zero. Até aqui pautamos nossa análise pelas proposições I e II de Modigliani e Miller. A partir de agora, passaremos a analisar a questão da estrutura de capital sob a ótica das imperfeições de mercado, ou seja, as possibilidades de influência da estrutura de capital no aumento do valor da firma, dado que as proposições I e II de Modigliani e Miller não se aplicam, principalmente nos mercados menos desenvolvidos, como é o caso brasileiro. Em excelente artigo, Myers (1993) aborda as principais questões acerca da decisão de estrutura de capital. Baseando-se em seu artigo, vamos analisálas. 2.1 - A Teoria Estática das Compensações (The Static Tradeoff Theory) A estrutura de capital é vista por esta teoria como sendo passível de otimização. Assim, existiria uma composição de capital próprio e de terceiros (dívida e equity) que maximizaria o valor da firma. A teoria tem o nome de estática das compensações porque visa alcançar um ponto ótimo fixo, que é assumido como a melhor situação em termos de estrutura de capital da empresa, justamente por oferecer o melhor balanço (tradeoff) entre as vantagens e desvantagens do endividamento. Diferentemente do que vimos antes sob as limitações das pressuposições de Modigliani e Miller, agora trabalhamos com a presença de 21 perturbadores do mercado eficiente, tais como a cobrança de impostos, custos de falência e dificuldade financeira, bem como custos de agência relativos às emissões ou recompras de títulos da empresa e assimetria de informações entre administradores e investidores. Desse modo, a estrutura de capital passa a assumir importância na valorização da firma. A Teoria Estática das Compensações trabalha somente com as vantagens e desvantagens financeiras diretas do endividamento, assim não está incluída a possível assimetria de informações entre investidores e gerentes. Dentro dessa perspectiva o endividamento oferece para a empresa o benefício básico de dedução de seus serviços (juros) no imposto devido. Esse benefício logicamente tem uma contrapartida em termos de custo, que é representado por todos os gastos derivados da emissão de dívida (agency costs), mais os custos associados à possíveis dificuldades financeiras. A figura abaixo adaptada de Myers (1993) ilustra as razões dessa linha de pensamento sobre a estrutura de capital. Figura 1.3: Valor da firma X Endividamento 22 O ponto C representa o valor da firma se esta for totalmente financiada por capital próprio; a linha A representa os benefícios oriundos do abatimento de imposto possibilitado pelo endividamento; a linha B é a que mais nos interessa. Significa o valor da firma fazendo-se uso do endividamento. Repare que à medida que se aumenta o endividamento da firma, o valor desta sobe em relação ao seu valor correspondente quando 100% financiada via capital próprio. Mas isso ocorre somente até o ponto ótimo, onde a firma começa a ter menos valor à medida em que se aumenta o endividamento. Essa região do gráfico (após o ponto ótimo), reflete a perda de valor resultante do aumento das possibilidades de dificuldade financeira e a diminuição do potencial de dedução de imposto por se utilizar mais financiamento via dívidas. Repare ainda que sempre existe uma diferença entre as curvas A e B, isso em função dos custos de emissão de títulos correspondentes ao maior endividamento (os agency costs). Esse modelo teórico de otimização da estrutura de capital pode apresentar a curva A e B com diferentes inclinações, no caso da curva A, a 23 inclinação depende da quantidade de lucros que a firma gera, se for uma indústria muito lucrativa, certamente ter-se-á muito espaço para deduções de imposto e a curva se apresentará mais inclinada e demorará mais a descer. No caso da curva B, o que a tornará mais inclinada serão os custos de agência e o que deslocará seu ponto máximo (para a esquerda ou direita) será a qualidade de seus ativos, ou seja, sua vulnerabilidade à dificuldades financeiras. Myers (1990) cita o exemplo de um hotel e uma companhia produtora de aparelhos eletrônicos. O primeiro tem maiores facilidades para se endividar pois os custos inerentes às dificuldades financeiras são muito menores que no caso da companhia produtora de aparelhos eletrônicos. Isso porque o hotel tem bens tangíveis que podem servir como garantia de dívida, o que não se aplica ao caso da fábrica de eletrônicos, pois essa tem seu maior capital investido em ativos não tangíveis como tecnologia, conhecimento, recursos humanos e oportunidades de negócio. Em caso de falência, ou mesmo de dificuldades financeiras, o hotel pode entregar seu imóvel e resolver seus problemas financeiros, entretanto, a fábrica de eletrônicos não pode empenhar seus empregados e seu conhecimento é de difícil comercialização, assim, as empresas que têm a maior parte de seus ativos em bens muito específicos ou mesmo intangíveis tendem a ter a curva B atingindo um máximo mais a esquerda, levando-as a procurar um menor nível de endividamento. O raciocínio simétrico inverso pode ser feito para as empresas que tem seus ativos baseados em bens reais e menos sofisticados. Harris e Raviv (1991) mostram num quadro comparativo, os resultados das pesquisas empíricas conduzidas por quatro autores acerca da maior ou 24 menor alavancagem das indústrias por setor de atuação. Incluímos aqui somente os setores onde há consenso e que tenham sido pesquisados por mais de um autor (o critério adotado para definir como alta, baixa ou média alavancagem é de Harris e Raviv, sendo definido por eles como "somewhat arbitrary"). Quadro 1.4: Setores divididos por alavancagem Baixa alavancagem Farmacêutico Ferramentas Eletrônico Média alavancagem Vestuário Alta alavancagem Aviação Civil Cimento Fonte: Harris e Raviv (1991) Repare que a pesquisa empírica, nesse caso, comprova o que foi observado por Myers, ou seja, indústrias com ativos mais baseados em bens intangíveis se alavancam menos, ao contrário das que têm maior proporção de bens reais. Harris e Haviv (1991) montaram também outro quadro, que consolida as pesquisas feitas por nove autores, nas quais estes procuravam identificar os determinantes da alavancagem. Os fatores nos quais há consenso (e existe pesquisa de mais de um autor) são: ativos fixos (relação positiva); gastos em publicidade (relação negativa) e; investimento em pesquisa e desenvolvimento (relação negativa). O que também comprova o exposto acima. O fator lucratividade também foi abordado na pesquisa de cinco dos nove autores, sendo apontado como tendo relação negativa com a alavancagem por três deles (dos outros dois, um achou relação positiva e outro 25 negativa, sem contudo alcançarem significância estatística para seus resultados). Essa tendência de negatividade na relação lucratividade-alavancagem parece ferir o argumento básico da Static Tradeoff Theory, segundo a qual maiores lucros significam maiores oportunidades de dedução de impostos via aumento da alavancagem. Uma possível causa para isso, segundo Myers, poderia ser reflexo do atraso dos ajustes das firmas em direção às suas proporções ótimas de dívida. “Por exemplo, uma sequência de altos e inesperados lucros poderia empurrar a firma em direção a uma proporção de endividamento abaixo da desejada. Se os custos de transação impedem rápidos movimentos de volta ao ponto ótimo, uma correlação negativa é estabelecida.” (MYERS, 1993, p. 6) Outra possibilidade para a explicação da relação negativa entre lucratividade e alavancagem é dada pela teoria da Ordem de Captação que vemos a seguir. 2.2 - A Teoria da Ordem de Captação (The Pecking Order Theory) Segundo essa linha de pensamento as firmas não perseguem uma proporção de capital ótima que poderia vir a minimizar seu custo de capital maximizando seu valor. O que elas procuram é seguir uma ordem de prioridades em suas captações de recursos. 26 Em primeiro lugar as empresas tentam se financiar internamente, se não for de todo possível, ou seja, se ainda restarem projetos com valor presente positivo a serem financiados, elas recorrem ao financiamento externo. Mas essa captação externa de recursos também obedece a uma escala de preferências. Assim, primeiro lança-se os títulos mais seguros, de menor risco para o investidor, ou seja, bônus de dívida. Somente como último recurso a firma lançaria novas ações. Note-se que se a firma agir baseada nessa linha de pensamento então responde-se o porquê da negatividade da relação entre lucrarividade e alavancagem dentro de uma indústria, pois somente aquelas empresas que não foram lucrativas o suficiente para reter os recursos necessários ao financiamento de seus novos projetos recorrerá ao financiamento externo, sendo este calcado na maior parte das vezes em títulos de dívida, o que aumenta a alavancagem da firma. Mas, porque as firmas agiriam dentro da perspectiva da Pecking Order Theory ? Brealey e Myers (1991) e Myers (1993) levantam algumas possibilidades. A primeira seria a tentativa de fuga do administrador das "disciplining influences of the securities markets". O administrador não precisaria expor seus planos ao mercado para captar novos recursos, pois usaria o próprio financiamento interno da empresa. Uma segunda explicação tem uma justificativa mais racional e econômica: os custos mais altos do financiamento externo em relação ao interno, e do financiamento via lançamento de novas ações em relação ao lançamento de novos títulos de dívida. 27 Uma terceira alternativa para explicar o porquê das empresas seguirem uma certa ordem em suas captações de recursos externos seria a assimetria de informações entre os investidores e administradores da empresa, isto é, supõe-se que o administrador tem melhores informações que os investidores e estes sabem disso. Assim sendo, a empresa só lançaria novas ações no mercado se considerasse que os preços de mercado estivessem iguais ou acima do que os administradores considerassem justo. Desse modo, só seria possível a venda de novas ações mediante um desconto em relação em preço de mercado, o que teria impacto negativo na cotação das ações da empresa como um todo, fato que é comprovado nos estudos empíricos consolidados por Smith (1986), cujos resultados vemos no quadro 1.5. Quadro 1.5: Resultados do consolidado de estudos de Smith Tipo de Lançamento Ações ordinárias Ações preferenciais Preferenciais conversíveis Dívida conversível Dívida Tamanho Médio da Amostra 262 102 30 80 221 Retornos Anormais* -1,6% +0,1% -1,4% -2,1% -0,2% Fonte: Smith (1986) *Retorno médio ponderado pelo tamanho da amostra dos respectivos estudos, depois de dois dias do lançamento ajustado pelas mudanças gerais do mercado. Repare que o lançamento de títulos de dívida, segundo o estudo de Smith, também deprecia o valor das ações no curtíssimo prazo, entretanto de forma sensivelmente menor que o lançamento de equity. Uma das razões para que isso ocorra é que ao vender dívida no mercado, a empresa não precisa revelar o que pensam seus executivos em termos do real valor da companhia, já que os compradores de dívida só estão interessados na capacidade futura da empresa honrar os serviços e principal da dívida adquirida. O lançamento 28 de dívida, então, parece minimizar a questão da assimetria de informações entre administradores e investidores. Outro aspecto relevante é o fato de que se a empresa sempre depender de captações externas para fazer frente a seus projetos, pode correr o risco de não conseguir financiamento para algum deles, o que certamente terá impacto negativo no valor da firma. Conclui-se daí que é importante e valioso ter uma certa folga financeira. Não só porque pode-se utilizar os próprios recursos internos para financiar alguns projetos como também torna-se mais rápido e barato obter novos recursos via dívida se a empresa tiver folga financeira. Somando toda essa argumentação, verifica-se que é valioso contar com uma situação financeira confortável, e se financiar externamente (se não for possível usar recursos internos), de preferência, através de dívida, justamente o que prega a teoria da ordem de captação (Pecking Order Theory). Para finalizar, apresentamos no quadro a seguir um resumo com os principais pontos a serem considerados na escolha da estrutura de capital de uma empresa, de acordo com o que vimos nesse capítulo. Quadro 1.6: Principais pontos a serem considerados em relação à estrutura de capital de uma empresa Impostos- quanto mais lucrativa for a companhia mais impostos estará sujeita a pagar, aumentando-se a alavancagem dá-se espaço para o abatimento dos impostos no valor dos serviços da dívida, portanto uma alavancagem relativamente maior é benéfica para aquelas empresas que trabalham com altas probabilidades de grande massa de lucros. Exatamente o inverso se pode dizer para as empresas que esperam lucros pequenos no futuro. Risco inerente ao negócio- quanto maior o risco menos as empresas devem se alavancar, posto que os custos de falência e dificuldades financeiras são altos. 29 Tipos de ativos- quanto mais específicos e intangíveis forem os ativos de uma companhia menos ela deve se endividar, pois os custos de dificuldades financeiras para estas empresas é muito maior que para as empresas com grandes somas de ativos fixos que podem ser facilmente negociados no mercado. Folga financeira- quanto maiores as oportunidades de crescimento de uma firma mais folga financeira ela deve ter (consequentemente menos alavancagem). Isto porque a probabilidade dela não conseguir financiamento para alguns de seus projetos aumenta caso não tenha um certo nível de folga finaceira. 30 Capítulo 2 O Financiamento de Longo Prazo no Brasil Neste capítulo procuraremos expor e analisar o ambiente econômico, em termos de oportunidades de financiamento, a que estão expostas as empresas brasileiras. Não é novidade que existem grandes dificuldades na captação de recursos de longo prazo por parte das empresas no país, e é essa dificuldade que procuraremos analisar, expondo-as e investigando suas causas. A nosso ver as dificuldades de financiamento no Brasil se pautam basicamente em duas questões: a baixa taxa de poupança interna e o deficiente sistema de intermediação financeira. Em relação à primeira, observamos no país uma taxa significativamente inferior a dos países de renda mais elevada; e em relação à segunda: temos um sistema de intermediação financeira de recursos de longo prazo muito dependente da atividade estatal (via BNDES), que apesar de manter um expressivo orçamento não chega a representar 10% do volume de investimentos realizados no país. Identificados os dois fatores básicos das dificuldades de financiamento no Brasil, vamos então analisá-los de forma conjunta. A menor taxa de poupança em países de menor renda é uma evidência comprovada por inúmeros trabalhos, entre os quais destacamos o trabalho de Hebel, Servén e Solimano (1996), do qual extraímos a figura abaixo. 31 Figura 2.1:Poupança doméstica bruta como percentual do PIB médias não ponderadas (1960-93) Fonte: Hebel, Servén e Solimano (1996) Isoladamente, baixas taxas de poupança interna, (a do Brasil em 1996 foi cerca de 16% do PIB) já sugerem uma maior dificuldade de financiamento por parte das empresas, já que dispõem assim de menos recursos para investimento. Essa restrição faria com que a economia como um todo crescesse a um ritmo abaixo daquele que seria possível com taxas de poupança mais elevadas. Na verdade, existe hoje um grande debate entre os economistas acerca da relação de causalidade entre poupança e crescimento econômico. Além e Giambiagi (1997) resumem o debate em três linhas diferentes de pensamento: A primeira linha advoga que um maior nível de poupança precede uma maior acumulação de capital e essa, por sua vez, aumenta a taxa de crescimento econômico. A segunda linha defende a endogeneidade da poupança em seus modelos, ou seja, o crescimento determinaria maiores taxas de poupança, 32 entretanto, essas também ajudariam a gerar maiores taxas de crescimento, estabelecendo-se assim um círculo virtuoso e uma relação de bicausalidade entre as variáveis. Por fim, a terceira linha de pensamento aponta para uma determinação unilateral da poupança pelo crescimento. Essa corrente, contudo, não descarta a influência da poupança no crescimento, mas relega à poupança um papel secundário. Dessa discussão, o que nos interessa é extrair a idéia de que não há um consenso sobre a relação de causalidade poupança-investimento. Assim, não basta concluir que nossa taxa de poupança é menor que a dos países mais ricos, e portanto se quisermos ter maiores facilidades de financiamento, devemos simplesmente trabalhar para aumentá-la. Um maior esforço de poupança não se traduz automaticamente em um fluxo maior de investimento. Em relação a esta questão Além e Giambiagi (1997) citam Keynes: “ ‘tem sido suposto que qualquer ato individual de abstenção de consumir leva necessariamente a um aumento no mesmo valor do investimento’ [Keynes (1936, p. 19)]. Nesse caso, ‘... um ato de poupança individual conduz inevitavelmente a um ato paralelo de investimento’ [Keynes (1936, p. 21)]. Entretanto, em uma economia onde as decisões de se abster de consumir e as decisões de investir - associada a uma expectativa de consumo futuro - são tomadas por agentes diferentes, vale a ressalva de Keynes de que aqueles que acreditam na relação acima explicada são vítimas de uma ilusão de óptica, ‘... que faz duas atividades essencialmente 33 diferentes parecerem a mesma. Eles estão supondo de forma falaciosa que há um vínculo que une a decisão de se abster de consumir no presente à decisão de prover o consumo futuro; quaisquer que sejam os motivos que determinem a última, eles não se relacionam de forma alguma com os motivos que determinam a primeira.’ (KEYNES, 1936, p. 21)” (ALÉM, GIAMBIAGI, 1997, p.19-20) Um aumento da poupança não gera per se um correspondente aumento dos investimentos, já que nem sempre o agente poupador será o agente investidor na economia, e como isso ocorre, é necessário termos além de recursos disponíveis para o financiamento a novos investimentos, um sistema de intermediação financeira que seja suficientemente eficiente para não deixar que um aumento de poupança (ou redução do consumo), se transforme em redução da demanda agregada. “não basta apenas a decisão de não consumir para que o investimento se realize, o que requer a constituição de mecanismos de funding para que esses recursos sejam canalizados para viabilizar os novos projetos de investimento.” (ALÉM, GIAMBIAGI, 1997, p.20) Os mecanismos de funding de longo prazo que temos hoje se amparam em três pilares: fundos governamentais, recursos provenientes do exterior e os próprios lucros retidos pelas empresas. 34 Desse modo, a empresa que não tiver acesso ao mercado internacional de capitais, ou não estiver entre as empresas visadas pelo governo em seus programas de financiamento, fica com sérias restrições para obtenção de novos recursos de longo prazo. As empresas que, por outro lado, conseguem obter financiamento do governo (usualmente via BNDES), “fogem” do nível de taxas de juros que lhes seria cobrado caso tentassem e conseguissem recorrer ao mercado interno de capitais. Isto porque, como veremos adiante, o funding dos financiamentos governamentais é baseado em contribuições fiscais e pára-fiscais que não são remuneradas aos níveis de juros correntes do mercado. O mesmo ocorre com as empresas que conseguem obter recursos no exterior. Essas pagam juros compatíveis com os do mercado internacional1 para o seu risco de crédito, logicamente acrescido por ser uma empresa situada no Brasil e estar sujeita a situações de stress cambial. Vamos agora apresentar separadamente as alternativas de financiamento que se colocam para as empresas no Brasil. 2.1 - O Mercado Interno de Capitais O mercado de capitais como fonte de financiamento, que envolve o mercado primário de ações e debêntures, nunca teve uma signigicativa importância no financiamento às empresas no Brasil. Entretanto, nos últimos 1 Juros compreendidos como retorno exigido pelo investidor. Assim, se for uma captação via emissão de ações esse retorno exigido refletir-se-ia no preço obtido por ação no lançamento. 35 anos com o advento da estabilização monetária propiciada pelo Plano Real em 1994, este mercado tem ganho importância, conforme demonstra a figura 2.2. O crescimento registrado dos lançamentos de ações e debêntures nos últimos anos, no entanto, não são suficientes para nos fazer crer que essas fontes de financiamento já se configuram como uma importante fonte de funding para as empresas. Isto porque, apesar da expressividade dos números consolidados vistos na figura 2.2 para a emissão de debêntures, existe uma forte concentração de emissores provenientes dos setores de Leasing (39% em 1996 e 43% em 1997) e Empresas de Administração e Participações (30% em 1996 e 20% em 1997). Apenas cerca de um terço das emissões de debêntures nos últimos dois anos foram, portanto, feitas diretamente por empresas do chamado setor real da economia, isto é, US$2,7 bilhões em 1996 e US$3,0 bilhões em 1997. Isto representa menos de 1/3 do total de financiamentos concedidos pelo BNDES no período. Cabe lembrar ainda que parte dos lançamentos de debêntures realizados pela empresas é comprada para as carteiras do BNDES, o que ajuda a minimizar a importância do mercado interno de capitais no financiamento das empresas. Figura 2.2: Emissões primárias de ações e debêntures (US$ milhões) 10000 8000 6000 Ações 4000 Debêntures 2000 0 1992 Fonte: CVM 1993 1994 1995 1996 1997 36 O mercado primário de ações, apesar de registrar uma mudança de patamar no volume de negócios entre a última década (US$0,5 bilhão) e os últimos 6 anos (US$1,8 bilhão), ainda não se apresenta como importante instrumento de financiamento. De qualquer forma, a capitalização do mercado acionário brasileiro, bem como sua liquidez têm crescido consideravelmente nos últimos anos (figura 2.3), o que pode ser um sinal de que os lançamentos de ações venham a desempenhar no futuro um papel mais relevante no financiamento das empresas. Figura 2.3: Capitalização e liquidez da BOVESPA (US$milhões) 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0 Capitalização Volume diário 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Fonte: Federação Ibero-americana de Bolsa de Valores e CVM 2.2 - O BNDES O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi criado no ano de 1952, com o intuito de financiar a formação da infra-estrutura e da industrialização brasileira. Seu funding sempre foi constituído majoritariamente de poupança fiscal ou de natureza compulsória. Conforme 37 relata Prochnik (1995), de acordo com a predominância da fonte de recursos para o Banco, é possível identificar quatro etapas: “A primeira etapa, entre 1952 e 1966, caracteriza-se pela presença de recursos arrecadados na forma de adicionais ao imposto de renda; na segunda etapa, entre 1967 e 1973, verifica-se a importância das dotações orçamentárias e dos recursos oriundos das reservas monetárias, quando, portanto, o então BNDE integra os orçamentos fiscal e monetário; na terceira, entre 1974 e 1988 são destinados ao Banco recursos das contribuições sociais do PIS e ao Pasep, sendo que, após 1988, apesar de a maioria dos recursos continuar proveniente dessas mesmas contribuições, a vinculação constitucional do BNDES ao Programa do Seguro-Desemprego e, através de lei, ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) define um novo quadro institucional, configurando uma quarta etapa atualmente em vigor” (PROCHNIK, 1995, p.144) A partir da Lei 7998/90, da criação do FAT, que visa financiar o SeguroDesemprego criado no bojo da Constituição de 1988, estabeleceu-se que as novas contribuições ao PIS-Pasep passassem ao novo Fundo criado (FAT). Dessa forma o BNDES deixa de contar com essa fonte de recursos, sendo obrigado inclusive a devolver os recursos absorvidos por este meio à medida em que os trabalhadores beneficiários do PIS-Pasep efetuem seus resgates. 38 Entretanto, a Constituição de 1988 prevê que ao menos 40% das contribuições ao FAT sejam gerenciadas pelo BNDES e aplicadas em seus programas de financiamento. Assim, o Banco continua contando com um funding de longo prazo, estabelecido a partir da poupança compulsória dos trabalhadores, cuja remuneração fica bem abaixo das altas taxas de juros do mercado interno. Essa remuneração relativamente baixa de seu funding é que permite ao Banco emprestar recursos a taxas internacionalmente competitivas. Por conta disso, pode-se argumentar que há um subsídio aos investimentos privados em detrimento da poupança dos trabalhadores. No entanto, como nunca se formou no Brasil um mercado privado de financiamento de longo prazo, cabe questionar se seria viável nosso atual nível de desenvolvimento industrial sem a utilização de poupança compulsória a juros mais baixos que os do mercado interno. Quadro 2.1: Composição do passivo do BNDES (1996) Fonte PIS-Pasep FAT Fin.nacionais Fin.internacionais Outros exigíveis Patrimônio Líquido Total US$ milhão 13.468 17.622 580 2.025 1.088 9.655 44.438 % passivo 30 40 1 5 2 22 100 Fonte: Relatório anual do BNDES Ademais, se outrora existiram reais subsídios embutidos nas taxas de financiamento do BNDES, hoje eles não mais ocorrem, o que não quer dizer que os juros do Banco sejam os mesmos do mercado interno. A questão é que os juros vigentes no mercado interno são muito altos e não que as taxas de 39 juros do BNDES são baixas, pois estas se equiparam às taxas cobradas no mercado internacional de dívida de longo prazo. No quadro abaixo temos uma comparação das taxas balizadoras dos financiamentos de longo prazo no Brasil. Repare na disparidade dos custos do financiamento interno via debêntures (cuja taxa base é a da ANDIB) e na relativa similitude das taxas básicas cobradas internacionalmente ao Brasil (C-BOND) e das taxas cobradas nos empréstimos do BNDES (TJLP)2. Quadro 2.2: TJLP, ANBID E C-BOND (%) 2S95 1S96 2S96 1S97 2S97 TJLP* 37,76 25,75 22,87 18,60 17,88 C-BOND* n.d. 21,90 20,92 19,32 19,34 ANBID 43,49 28,12 23,35 21,25 26,37 Fonte: Anbid, BNDES e Bloomberg News *Para efeito de comparação com as taxas ANBID, a TJLP e o C-BOND yield foram acrescidos da correção cambial do período, pois o C-BOND é uma taxa em dólares e a TJLP usada para empréstimos sempre se soma à alguma taxa de correção monetária. Por fim, cabe lembrar que, apesar dos recentes esforços no sentido de criar um mercado de dívida de longo prazo, ainda não o temos, e mesmo se um dia o tivermos, o BNDES certamente será um dos importantes participantes desse mercado, já que desde 1952 acumulou um grande Know-How nas técnicas de financiamento de longo prazo, expressivas posições no mercado de debêntures (anexo I), e ainda um grande patrimônio, sendo hoje o segundo 2 O que não deve causar nenhuma surpresa já que a TJLP (Taxa de juros de Longo Prazo) é calculada com forte peso ponderado do custo dos títulos da dívida externa brasileira. 40 maior banco de desenvolvimento do mundo com um patrimônio líquido de mais de US$10 bilhões. (figura 2.3) Quadro 2.3: Bancos de Desenvolvimento: Indicadores Financeiros Comparativos (1996) Em US$ bilhões Ativos Totais Patrimônio Desembolsos Líquido Banco Mundiala 169 30 21,8 Sistema BNDES 46 10 9,6 BID 39 9 5,2 Nafinsa 33 3 4,5 CAF 3 1 1,0 Fonte: Relatório Financeiro e Gerencial da Área Financeira do BNDES. a O ano fiscal do Banco Mundial termina em 30 de junho. 2.3 - As Captações Internacionais Os recursos captados no mercado internacional são de suma importância para a economia brasileira. Por dois aspectos: 1) Dependemos de ingressos de capitais para fazermos frente aos nossos déficits na conta de serviços, uma vez que não mais temos grandes saldos na Balança Comercial; 2) Não temos um mercado de intermediação financeira desenvolvido, o que não nos permite que tenhamos financiamento de longo prazo disponível na quantidade adequada. É nos mercados internacionais de capital que suprimos então boa parte de nossas necessidades de financiamento, uma prática atualmente bem vista pelas autoridades econômicas nacionais, porque é a captação de recursos no exterior que, como dissemos, ajuda a equilibrar nosso Balanço de Pagamentos (Quadro 2.4). Para encorajar-se a financiar uma empresa ou projeto, o capital requer condições básicas de garantia: estabilidade da moeda na qual o financiamento é concedido, risco de crédito administrável e taxas de juros relativamente 41 atrativas. Essas condições estão muito mais presentes para os agentes financiadores internacionais que para os nacionais. Senão, vejamos: Quadro 2.4: Balanço de Pagamentos do Brasil Saldo comercial Serviços Transferências Conta Corrente Capital Investimentos Financiamentos Amortizações Empréstimos a médio e L.P. Capitais a C.P Outros capitais Erros/omissões Superávit BP(+) 1993 13.307 (15.585) 1.686 (592) 10.115 6.170 2.380 (9.978) 10.790 1994 10.466 (14.743) 2.588 (1.689) 14.294 8.131 1.939 (50.411) 52.893 1995 (3.352) (18.594) 3.974 (17.972) 29.359 4.663 2.834 (11.023) 14.736 869 (216) (1.119) 8.404 909 750 334 12.939 18.834 (1.069) 2.093 13.480 Em US$ milhões 1996 1997 (5.554) (8.372) (20.483) (27.288) 2.900 2.216 (23.137) (33.445) 34.263 26.087 15.540 20.664 4.307 18.409 (14.419) (28.714) 22.841 28.870 5.752 (290) (2.109) 9.017 (17.516) 4.224 (488) (7.845) Fonte: Boletim do Banco Central do Brasil 2.3.1 - A estabilidade da moeda na qual o financiamento é concedido O financiador precisa saber se o que ele ganhará com a operação de financiamento realmente o tornará mais rico. Precisa assim acreditar que o valor monetário desenbolsado mais os juros cobrados venham a representar no futuro (no repagamento do empréstimo) um maior nível de riqueza. Há bem pouco tempo atrás, (antes do Plano Real) o Brasil não exibia essa condição para os financiadores nacionais. Já os financiadores dos mercados internacionais de capital contam tradicionalmente com uma certa estabilidade da moeda na qual têm que prestar suas contas. 42 2.3.2 – Risco de crédito administrável Uma vez que o financiador tenha confiança de que enriquecerá com a concessão de um financiamento, outra questão que se coloca é: e se o devedor não pagar sua dívida ? Esse é um risco que faz parte do negócio e seu preço se reflete no custo do financiamento, mas se esse risco se mostrar por demais elevado, fica difícil atribuir-lhe um preço e o financiador se retrai. É isso que acontece nos períodos de crise cambial nos países em desenvolvimento. O Brasil nos últimos anos acumulou uma gigantesca reserva cambial (Figura 2.4) e acena com muitos bilhões de dólares de ativos a realizar representados pelas empresas estatais a serem privatizadas. As captações externas explodiram, em parte por conta dessas garantias. (o outro aspecto são as taxas de juros atrativas). (Quadro 2.4) Fonte: Boletim do Banco Central Abr/98 1997 1996 1995 1994 1993 80000 70000 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 1992 Figura 2.4: Reservas cambiais brasileiras: evolução (US$ milhão) 43 2.3.3 – Taxas relativamente atrativas Os dois primeiros pontos, vistos acima, são apenas pré-requisitos básicos para a operação. A taxa de retorno é a grande questão colocada aos detentores de recursos quanto a uma decisão de financiamento. E nesse aspecto, as taxas têm sido sempre bem mais elevadas que as taxas nos mercados desenvolvidos. Uma consequência lógica, já que empréstimos em moeda estrangeira feitos ao país estão sujeitos a um eventual stress cambial. Por outro lado, as taxas básicas de juros nos mercados desenvolvidos têm ficado em níveis muito baixos (Figura 2.5), e a conjunção desse ponto com as atrativas taxas oferecidas por outros países, entre eles o Brasil, tem sido uma questão essencial para a atratibilidade de capitais nos últimos anos. Figura 2.5: Taxa de juros do Federal Reserve: evolução 10 8 6 4 2 0 1988 1990 1992 1994 1996 Fonte: FED Internamente, os agentes financiadores, ao contrário dos estrangeiros (dos mercados desenvolvidos) se deparam com altíssimas taxas básicas de juros, o que torna o crédito muito caro e o financiamento privado de longo 44 prazo, destinado aos investimentos das empresas, quase que inviável. (ver taxa ANBID no Quadro 2.2 ). Esse fato, juntamente com a falta de um histórico de estabilidade monetária e a relativamente baixa taxa de poupança interna faz com que os financiadores privados tão cedo não se disponham efetivamente a constituir um mercado de financiamento de longo prazo, que terá que continuar a ser suprido pelo BNDES e por financiamentos externos. No anexo II apresentamos as captações via bonds e notes feitas pelo Brasil no mercado internacional no ano de 1997, com seus respectivos custos, prazos e emissores. 2.4 - Novas alternativas A continuar a estabilidade econômica é de se esperar que novos instrumentos de financiamento surjam e se aprimorem. Hoje, já podemos observar alguns novos instrumentos funcionando no país, ainda que de forma inexpressiva. Entre eles, o Project Finance e os fundos em cotas para fins específicos (Fundos Imobiliários, Audio-Visuais, Empresas Emergentes). 2.4.1 - O Project Finance O Project Finance, como o nome diz, visa o financiamento de um projeto. Diferentemente de um financiamento à uma empresa já constituída, que implica na avaliação do risco de crédito da empresa, no project finance o risco que importa é o risco do projeto em si. Assim, o financiador pode quantificar mais precisamente o risco que estará correndo seu dinheiro. 45 De modo resumido, o project finance funciona assim: o patrocinador de um projeto consulta um financiador sobre a possibilidade de financiamento do mesmo. Depois de estudá-lo e avaliar as necessidades de capital do projeto, o financiador garantirá os recursos para a execução da obra. A garantia de pagamento do empréstimo será o próprio projeto e as rendas que vierem a ser geradas por ele. À medida em que o projeto termine de ser implementado e comece a gerar fluxos de caixa positivos, o financiador terá direito a uma participação nesses fluxos, os quais serão repassados sob a forma de juros e quitação do financiamento. Após o total pagamento do principal, encerra-se o project finance, restaurando-se o pleno direito do patrocinador do projeto sobre os fluxos de caixa deste. É claro, que este instrumento é muito mais sofisticado do que pode ser percebido nesta breve explicação. Muitos detalhes técnicos e jurídicos tornam a operação um instrumento caro, que normalmente é usado para grandes projetos de infra-estrutura. 2.4.2 - Fundos em cotas para fins específicos São fundos de investimento que têm um orçamento limitado e que uma vez atingida a captação prevista são fechados a novas captações. Os recursos levantados são aplicados em algum projeto previamente específicado aos cotistas. A remuneração dos investidores pode se dar via dividendos do projeto, ou resgate das cotas, o que no entanto só poderá acontecer se o negócio referente ao Fundo for vendido, ou se o titular da cota vendê-la a outro investidor. O mercado secundário desses títulos no entanto ainda não ganhou 46 dinamismo, até porque existem relativamente poucas experiências com esses tipos de Fundos. Os que já existem aplicam em projetos imobiliários, cinematográficos e em empresas emergentes (com grande potencial de crescimento vislumbrado). 2.5 - Os Doadores de Recursos Devemos pensar o sistema de captação de recursos como um processo de duas etapas paralelas. De um lado as empresas apresentam seus planos de investimento ao mercado financeiro e de outro os poupadores oferecem suas poupanças individuais ao mercado financeiro. Vimos os instrumentos de financiamento utilizados pelas empresas, ou seja, vimos os caminhos pelos quais os fluxos de poupança chegam às empresas para que estas invistam. Agora, quais seriam os caminhos pelos quais passam as poupanças individuais para o mercado financeiro ? Em geral o que ocorre é que as poupanças individuais, sejam elas de pessoas físicas ou jurídicas, são acumuladas em Fundos. E são estes Fundos que repassam recursos às empresas. No Brasil, os principais canais receptores de poupança são: Fundos de Investimento, Fundos de Pensão e os Fundos Fiscais, constituídos de poupança compulsória dos trabalhadores (PIS/PASEP e FAT). Os Fundos de Investimento oferecidos pelo mercado costumam aplicar em títulos do governo, em ações (mercado secundário) e derivativos. Não podem ser considerados provedores de recursos para os instrumentos de financiamento às empresas. Até mesmo porque, estes fundos tem um prazo de resgate relativamente curto (usualmente 60 dias) e assim não podem 47 comprometer recursos por prazos muito longos ou em títulos de pouca liquidez.3 Os Fundos de Pensão são fundos que objetivam garantir a aposentadoria dos trabalhadores. Muitas grandes empresas concedem este tipo de benefício a seus funcionários. A contribuição para este fundo, em geral, provêm do próprio trabalhador e da empresa empregadora, e os prazos médios de resgate são mais longos, já que do início das contribuições até o início dos saques, passa-se uma vida inteira de trabalho. Os recursos provenientes desses fundos, juntamente com os recursos da poupança compulsória do FAT e PIS-PASEP formam hoje a principal fonte interna de funding para as operações de financiamento de longo prazo das empresas. Estima-se que a cada ano entrem no sistema cerca de US$9 bilhões e a continuidade da estabilidade econômica pode propiciar um fluxo ainda maior, calcado nos Fundos de Previdência Privada que várias instituições financeiras já começam a oferecer. É bom lembrar que boa parte dos recursos dos Fundos de Pensão são de funcionários de empresas estatais. Esses Fundos costumam ser presididos por pessoas indicadas pelo governo, que dessa forma tem um controle indireto sobre o dinheiro desses fundos. Os recursos dos Fundos Fiscais são provenientes de contribuições compulsórias dos empregadores, administrados pelo BNDES e utilizados como funding para suas operações. A remuneração desses fundos giram em torno de 3 Na verdade esses fundos têm liberdade para comprar títulos de empresas não financeiras e ações no mercado primário, no entanto, suas aplicações nestes papéis são muito reduzidas, como reduzido é nosso 48 6% a.a. e permitem ao BNDES emprestar os recursos a taxas muito atraentes para as empresas. Como vemos, somente recursos descomprometidos com resgates de curto prazo (e exigências de retorno de curto prazo) ou provenientes de poupança compulsória podem ser aplicados no longo prazo e assim constituir fonte de financiamento para as empresas. Desse modo, a continuidade da estabilidade econômica e a queda dos juros de curto prazo são essenciais para dar confiança aos poupadores privados de alongar o prazo de suas aplicações. É igualmente importante a redução do déficit público que não só retira recursos que poderiam estar sendo disponiblizados para um mercado privado de dívida, como também aumenta o custo da dívida privada ao balizar os juros internos de mercado em níveis muito altos. Como forma de sintetizar as relativas importâncias dos diversos mecanismos de financiamento de médio e longo prazo, apresentamos abaixo um quadro com os valores operados por cada um nos últimos anos. Quadro 2.5: Volumes financiados por intermediário financeiro 1992 1993 1994 1995 1996 1997 BNDES 4.585 4.104 6.151 7.831 9.609 16.460 Cap. internacionais 4.833 7.598 5.961 9.650 18.046 20.448 a Em US$ milhões Ações Debêntures 942 339 841 3.843 2.590 3.303 2.111 7.574 1.152 8.288 3.504 6.875 Fonte: Coordenação de Estatística da Área de Planejamento do BNDES, CVM e Boletim do Banco Central (jan/98 p.138) a Foram somente consideradas as captações via bônus e notas por guardarem maior afinidade com financiamentos de médio e longo prazo às empresas. mercado de capitais. 49 Com o cenário das oportunidades de financiamento às empresas no Brasil em mente, vamos agora passar aos testes estatísticos de correlação entre endividamento e valor de mercado que realizamos com as empresas mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo. 50 Capítulo 3 Testes Estatísticos A teoria de finanças nos diz que a um aumento do endividamento de uma empresa, ou sua alavancagem financeira, estará associado um maior retorno esperado pelo acionista, já que este perceberá um risco financeiro maior em seu investimento. Tanto Modigliani e Miller quanto os “tradicionalistas” admitem que ao se elevar o endividamento, o retorno esperado do acionista aumenta, sendo que segundo os “tradicionalistas” essa elevação não chega a comprometer o ganho que se tem ao aumentar a alavancagem, já que o custo do endividamento costuma ser menor que o custo de capital próprio (Figura 2.4). O que faremos nesse capítulo que se apresenta é investigar empiricamente em que medida o grau de alavancagem das empresas afeta o retorno exigido. Para tanto realizamos testes estatísticos de correlação com empresas listadas nas bolsas americanas e brasileiras agrupadas por setores de atuação na economia. Optamos por correlacionar as variáveis Endividamento e Exigência de retorno por dois métodos alternativos: Método de Pearson e Método de Spearman. O método de Pearson é o método usual, representado matematicamente por: Cov (X,Y) DP (X) X DP(Y) ________________________________________________________________________________ 51 Já o método de Spearman reflete a correlação entre o ranking da variável A contra o ranking da variável B. Assim, o Xi e o Yi inseridos na fórmula de correlação apresentada anteriormente serão representados pelas posições no ranking de Ai e Bi respectivamente. Calculando a correlação dessa maneira eliminamos a possibilidade de fortes influências por valores extremos e não necessitamos assumir a normalidade da distribuição das variáveis. (NEWBOLD, 1991) O Intervalo de Confiança (I.C.) mínimo exigido para darmos como significativa uma correlação foi de 80% e pelas características do método de Spearman, consideramos a correlação derivada de seu método como a determinante para nossos comentários. Em primeiro lugar, apresentamos os resultados dos estudos feitos com os dados de empresas americanas. Trabalhamos com 8 setores envolvendo um total de 242 empresas. Os dados foram obtidos a partir de publicação da “Value Line” na qual encontram-se listados os principais indicadores de mais de 1.600 empresas listadas nas bolsas dos EUA. Para efeito da nossa amostragem foram incluídas todas as empresas, dos setores escolhidos, que tiveram seus dados de L/P (lucro líquido / preço de mercado) médio para 1996, dívida de longo prazo e patrimônio líquido incluídos na referida publicação da “Value Line”. Os setores analisados no mercado americano foram os seguintes: Eletric Utilities (energia elétrica) Building Materials (materiais de construção) Retail Stores (lojas de varejo) 52 Steel (siderurgia) Telecom (telecomunicações) Food Processor (alimentos) Basic Chemicals (químicos básicos) Eletronics (eletrônico) A escolha dos setores se pautou pelo seguinte critério: ser um setor que tivesse importância, em termos de liquidez, nas bolsas brasileiras. As variáveis utilizadas, como já dissemos, são L/P médio de 1996, dívida de longo prazo e patrimônio líquido do último balanço publicado. Foram ainda retiradas da amostragem empresas que apresentaram retornos exigidos anormais (menor que 2% ou maior que 50%) ou que tiveram seus resultados muito fora dos padrões de seu setor (outlinear points). Vamos aos resultados: Quadro 3.1: Resultado dos testes com empresas americanas – Dívida LP X L/P (1996)* Setor Eletrônicos Lojas de Varejo Mat. construção Alimentos Siderurgia Energia elétrica Telecomunicações Químicos Básicos Obs (n) 19 20 18 34 17 85 21 7 Spearman Correl. I.C. 0,44 94% 0,37 90% 0,39 89% -0,22 79% -0,16 47% -0,05 38% 0,10 33% 0,07 12% Pearson Correl. I.C. 0,40 91% 0,46 96% 0,48 96% -0,20 75% -0,17 49% 0,03 19% 0,00 1% 0,13 21% *Resultados obtidos a partir de dados da empresa Value Line. Dos 8 setores analisados, 3 apresentaram resultados estatisticamente significativos, entendidos como tal por apresentarem intervalo de confiança (I.C.) superiores a 80%, são eles: Eletrônicos; Lojas de varejo e; Materiais de 53 construção. Todos apresentaram correlações positivas. Quanto aos 5 setores restantes que não apresentaram significância estatística em seus resultados, Telecomunicações e Químicos Básicos apresentaram correlações positivas e Alimentos e Siderurgia apresentaram correlações negativas. Energia elétrica apresentou correlação positiva de Spearman e negativa de Pearson, em ambos os testes, o grau de confiança foi bastante baixo, 38% e 19% respectivamente. Nas páginas seguintes apresentamos, na figura 3.1, os gráficos de dispersão dos setores estudados. O eixo das abcissas representa a alavancagem financeira (dívida de longo prazo/patrimônio líquido) e o das ordenadas representa o retorno exigido pelo acionista (L/P médio de 1996). Os experimentos realizados anteriormente consideraram, por falta de disponibilidade de dados, apenas o endividamento de longo prazo. Utilizandose o grau de alavancagem como Exigível total / Patrimônio Líquido, talvez obtivéssemos um resultado mais significativo. De qualquer forma, dos oito setores testados, três apresentaram correlação significativa e positiva. Tratase, portanto, de uma evidência, ainda que não conclusiva, de que o mercado norte americano apresenta uma correlação positiva entre alavancagem financeira e retorno exigido pelo acionistas. E no mercado brasileiro ? Como se comporta o retorno exigido pelo acionista diante da alavancagem financeira das empresas ? Realizamos com ações do mercado brasileiro os mesmos testes estatísticos já apresentados para o mercado americano. Existem, no entanto algumas mudanças nos critérios, estabelecidas em função de algumas características do mercado nacional, como excessiva concentração de negócios em poucos papéis e 56 consequente baixa liquidez para a maior parte das empresas listadas. Uma vez que liquidez no mercado é um critério básico para validar os preços pagos no mercado pelas ações, acabaríamos ficando com um universo bastante reduzido de amostragem. Como um reduzido número de observações poderia prejudicar nossos testes estatísticos intra-setoriais optamos por agrupar alguns setores com características semelhantes em termos de intensibilidade de capital e cliente final. Assim os grupos setoriais trabalhados foram1: Energia elétrica Telecomunicações Química e Petroquímica Eletro-eletrônicos e Eletrodomésticos Siderurgia e Mineração Alimentos, Bebidas e Comércio Varejista Indústria Mecânica, Materiais de Transporte e Autopeças Cimento, Metalurgia e Madeira Os critérios para a obtenção do universo amostral foram os seguintes: 1) Foram selecionadas as 150 ações mais líquidas nos pregões do ano considerado2. Somente uma ação por empresa foi incluída, assim empresas que tiveram ações de diferentes espécies (ON e PN por exemplo) incluídas 1 A classificação setorial é da empresa Economática O índice de liquidez foi obtido a partir da seguinte fórmula: 100 x p/P x raíz quadrada (n/N x v/V), onde p é número de dias em que a ação foi negociada no ano; P é número total de pregões no ano; n é número de negócios com a ação em 1 ano; N é número de negócios com todas as ações em 1 ano; v é volume de dinheiro envolvido em negócios com a ação em 1 ano; V é volume total de dinheiro envolvido nos pregões do ano. 2 57 entre as 150 mais líquidas, ficaram, na amostra final, somente com sua ação mais líquida. 2) Exclusão das empresas com retorno esperado menor que 2% e maior que 50%, valores que denotam, no nosso entender, resultados anormais. 3) Exclusão das empresas que apresentaram prejuízo no período. 4) Exclusão de ações de empresas financeiras. Assim, das 150 ações inicialmente consideradas, restaram 83, sendo ainda desconsideradas outras 16 por não se encaixarem em nenhum grupo com um número suficiente de observações para realizarmos algum teste. As ações por fim consideradas em nossos testes para 1997 foram as seguintes (subdivididas nos já referidos grupos setoriais): Energia elétrica Celesc Cemig Light Copel F. Cataguazes Paulista Força e Luz Cesp Coelce Coelba Cerj Eletrobrás Iven Lightpar Telecomunicações Telebrás Telefônica Borda do Campo Telesp Telepar Telemig Telerj Química e Petroquímica Ipirânga Refinaria 58 Ipirânga Petróleo Copesul Petrobrás Petrobrás Distribuidora White Martins Bombril Copene Eletro-eletrônicos e Eletrodomésticos Sharp Embraco Ericsson Brasmotor Arno Electrolux Multibrás Weg Siderurgia e Mineração Belgo Mineira Gerdau Sid. Tubarão Usiminas Sid. Nacional Magnesita Vale do Rio Doce Acesita Caemi Samitri Alimentos, Bebidas e Comércio Varejista Perdigão Avipal Sadia Concórdia Brahma Casa Anglo Lojas Renner Pão de Açúcar Globex Indístria Mecânica, Materiais de Transporte e Autopeças Mangels Indústrias Romi Bardella Randon Participações Marcopolo OSA Metal Leve 59 Elevadores Atlas Cimento, Metalurgia e Madeira Cimento Itaú Duratex Gerdau Metalúrgica Metalúrgica Barbará Confab Eternit Outra diferença dos critérios adotados nos testes com empresas americanas e brasileiras diz respeito ao indicador de alavanvagem financeira. No caso americano, por falta de dados consolidados, usamos Dívida de Longo Prazo / Patrimônio Líquido, no caso brasileiro usamos Exigível Total / Patrimônio Líquido. Por fim, no caso brasileiro realizamos os testes para o ano de 1997 e 1996, uma vez que a alta volatilidade de nosso mercado poderia nos levar a conclusões precipitadas ao analisarmos apenas um período isoladamente. Ainda mais quando se tem em conta que em 1997 tivemos a chamada “Crise do Sudeste Asiático” que perturbou fortemente nosso mercado nos últimos meses de 1997. Abaixo apresentamos as empresas consideradas nos testes para 1996. (os critérios nos testes para 1996 foram rigorosamente os mesmos dos testes para 1997) Energia elétrica Eletrobrás Celesc Cemig Light Copel F. Cataguazes Paulista Força e Luz Eletropaulo Lightpar 60 Telecomunicações Telebrás Telefônica Borda do Campo Telesp Telepar Telemig Química e Petroquímica Ipirânga Refinaria Ipirânga Distribuidora Ipirânga Petróleo Copesul Petrobrás Petrobrás Distribuidora White Martins Bombril Unipar Eletro-eletrônicos e Eletrodomésticos Brasmotor Continental Electrolux Multibrás Ericsson Sharp Weg Siderurgia e Mineração Belgo Mineira Gerdau Sid. Tubarão Usiminas Sid. Nacional Magnesita Vale do Rio Doce Samitri Alimentos, Bebidas e Comércio Varejista Perdigão Lorenz Avipal Sadia Concórdia Casa Anglo Lojas Arapuã Globex Lojas Renner Pão de Açúcar Ceval 61 Santista Alimentos Antártica Polar Brahma Indístria Mecânica, Materiais de Transporte e Autopeças Bardella Marcopolo Cofap Fras-Le Varga Freios Indústrias Villares Cimento, Metalurgia e Madeira Cimento Itaú Duratex Gerdau Metalúrgica Metalúrgica Barbará Confab Forjas Taurus Antes de apresentar os resultados dos testes, lembramos que para efeito dos resultados finais desconsideramos empresas cujos resultados se mostraram muito fora dos padrões de seu grupo setorial, ou seja, cortamos da amostra os chamados “outlinear points”. Vamos agora aos resultados finais obtidos: Quadro 3.2a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Patrimônio Líquido X L/P (1996)* Setor Siderurgia e Mineração Energia elétrica Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. Química e Petroquímica Alim.,Bebidas e Comércio Telecomunicações Eletro-eletrônicos Metalurgia,Cim. E Madeira Obs (n) 8 7 5 8 12 5 6 5 Spearman Correl. I.C. 0,67 93% -0,57 82% -0,60 72% -0,26 47% 0,06 15% -0,10 13% -0,03 4% 0,00 0% Pearson Correl. I.C. 0,70 95% -0,43 66% -0,82 91% -0,09 17% 0,11 27% -0,50 61% -0,16 24% 0,18 23% *Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática 62 Quadro 3.2b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Patrimônio Líquido X L/P (1997)* Setor Energia elétrica Siderurgia e Mineração Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. Eletro-eletrônicos Alim.,Bebidas e Comércio Telecomunicações Química e Petroquímica Metalurgia,Cim. E Madeira Obs (n) 11 8 6 7 8 6 7 6 Spearman Correl. I.C. -0,66 97% 0,69 94% -0,37 53% 0,29 47% -0,38 35% -0,20 30% 0,07 12% -0,03 4% Pearson Correl. I.C. -0,66 97% 0,65 92% -0,41 58% -0,05 9% -0,38 65% -0,20 30% 0,34 55% -0,20 30% *Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática Para o ano de 1996, dois grupos setoriais (Siderurgia e Mineração e Energia elétrica) apresentaram resultados significativos. Siderurgia e Mineração apresentou correlação positiva enquanto Energia elétrica mostrou correlação negativa. Em 1997, novamente os mesmos dois grupos setoriais apresentaram resultados significativos, mantendo os sinais de sua correlação Endividamento-Exigência de Retorno. Como se vê, apenas dois grupos setoriais dentre os oito estudados apresentaram consistência nos resultados dos testes. O interessante é que o setor elétrico manteve a significância de resultados negativos nos dois anos estudados. (as figuras 3.2a e 3.2b exibem a dispersão dos pontos utilizados nos testes de 1996 e 1997 respectivamente) Acreditamos que a falta de significância para os testes realizados em seis dos oito grupos setoriais em 1996 e 1997 e a correlação significativamente negativa encontrada para o setor elétrico se devam em parte ao baixo índice de alavancagem presente nas empresas brasileiras. A título de comparação veja o quadro 3.3, com os endividamentos de longo prazo de alguns setores nos EUA e no Brasil. O quadro fala por si mesmo. 67 Quadro 3.3: Comparação de endividamento de LP: EUA X Brasil Setor Eletrônicos Siderurgia Lojas de varejo Telecomunicações Energia elétrica Dívida de LP / PL* EUA Brasil 0,14 0,09 0,31 0,25 0,43 0,13 0,60 0,06 1,03 0,21 *Dados de 1997 retirados das empresas utilizadas nos nossos testes. Fonte: Value Line e Economática. Crook (1974), realizou estudo similar ao nosso, no qual pesquisou empresas de 3 setores: Siderurgia, Têxtil e Vestuário e Máquinas, Motores e Equipamentos Pesados. Em cada qual utilizou 7 observações das empresas com maior liquidez em Bolsa. O resultado obtido foi uma correlação positiva significativamente forte: Siderurgia: 73%; Têxtil e Vestuário: 65%; Máquinas, Motores e Equipamentos Pesados: 91%. O critério usado por este autor em seus testes se assemelha ao nosso, entretanto, o índice de alavancagem por ele utilizado é definido por Exigível Total / Valor de Mercado, enquanto em nossos testes usamos Exigível Total / Patrimônio Líquido. Assim, realizamos também os mesmos testes anteriores com o critério de Crook, mas não obtivemos resultados mais significativos3. Veja-os no quadro 3.4a e 3.4b. 3 Infelizmente não pudemos reproduzir os testes nos mesmos setores observados por Crook, já que os setores que ele analisou não apresentam mais, segundo nossa avaliação, suficiente liquidez em bolsa para validar os resultados obtidos. 68 Quadro 3.4a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Valor de Mercado X L/P (1996)* Setor Siderurgia e Mineração Alim.,Bebidas e Comércio Energia elétrica Metalurgia,Cim. E Madeira Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. Química e Petroquímica Telecomunicações Eletro-eletrônicos Obs (n) 8 12 8 5 5 8 5 6 Spearman Correl. I.C. 0,79 98% 0,36 76% -0,26 47% 0,30 38% 0,20 25% -0,10 18% -0,10 13% -0,03 4% Pearson Correl. I.C. 0,84 99% 0,48 88% -0,07 13% -0,04 6% 0,06 8% -0,15 27% -0,66 78% 0,03 5% *Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática Quadro 3.4b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Valor de Mercado X L/P (1997)* Setor Siderurgia e Mineração Energia elétrica Eletro-eletrônicos Alim.,Bebidas e Comércio Metalurgia,Cim. E Madeira Química e Petroquímica Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. Telecomunicações Obs (n) 8 12 8 8 6 7 7 6 Spearman Correl. I.C. 0,69 94% -0,43 84% 0,43 71% 0,43 71% 0,14 21% 0,11 18% 0,04 6% -0,03 4% Pearson Correl. I.C. 0,77 98% -0,44 85% 0,45 74% 0,34 59% 0,05 8% 0,14 23% -0,30 49% 0,32 47% *Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática Percebe-se pelo quadro acima que a situação não muda muito quando substituímos o Patrimônio Líquido pelo valor de mercado no denominador da função grau de alavancagem financeira. Na verdade, a única alteração significativa em relação ao teste apresentado nos quadros 3.3 é a diminuição do intervalo de confiança (I.C.) para a correlação negativa encontrada no grupo setorial de Energia elétrica no ano de 1996. Após a realização dos testes dos quadros 3.3 e 3.5, o que podemos afirmar é que o mercado não está dando muita importância para o risco 69 financeiro decorrente do maior grau de alavancagem das empresas no Brasil, ao menos não dentro do universo amostral estudado (exceção feita ao grupo setorial Siderurgia e Mineração). Porque isso acontece ? Nossa opinião é que em alguns casos, existem fatores conjunturais que perturbam a correlação estudada. Por exemplo, em Telecomunicações e em Energia elétrica, o processo de privatização, juntamente com a forte expectativa de aumento dos lucros pode estar minimizando a questão da alavancagem financeira atual das empresas. Entretanto, tal fato não explicaria a correlação significativamente negativa encontrada para o setor elétrico. Acreditamos que para esse, o mercado vê um grande espaço para um maior endividamento, vide a comparação com suas congêneres americanas em termos de endividamento de longo prazo. Além dos referidos fatores conjunturais, outras questões ajudam a entender melhor os resultados: 1) As empresas mais promissoras tendem a estar mais alavancadas, mas também são as preferidas pelo mercado, que exige menor retorno em suas ações. Para comprovar esse fenômeno, fizemos duas listagens das empresas do universo amostral usado nos testes de correlação de 1997. Ordenamos uma por ordem de alavancagem (Exigível / PL) e a outra por aumento dos lucros no período 1994-97 (lucro ajustado pela inflação). Constatamos que das 17 empresas mais lucrativas no período, 9 estavam entre as 20 mais alavancadas. 70 Das 8 mais lucrativas restantes 5 eram do setor de Telecomunicações, que experimentou um “boom” no faturamento dos últimos anos por conta dos ajustes promovidos pelo governo visando preparar o setor para privatização. Assim, fica bem explícito que empresa alavancada e com liquidez em bolsa no Brasil tende a ser das mais lucrativas e como consequência das mais disputadas no mercado, fazendo com que seus P/L subam muito e denotem um grau de exigência de retorno menor. Nesse sentido é interessante notar que enquanto o retorno médio exigido das 17 empresas mais lucrativas no período 1994-97 foi de 11,9%, as demais empresas usadas nos testes de correlação de 1997 apresentaram um retorno médio exigido de 14,9%. Estatisticamente, a hipótese da diferença entre os grau de exigência de retorno é aprovada com 83% de confiança. (teste não paramétrico de Kruskal-Wallis) 2) Como realizamos um teste privilegiando a liquidez das ações no mercado, acabamos por selecionar empresas que em geral não estão perto de enfrentar dificuldades financeiras e portanto, o mercado não dá tanta importância à sua alavancagem financeira quando determina seu valor. Para comprovarmos este ponto, ordenamos as 67 empresas com ações mais líquidas em 1997 (já selecionadas para os testes estatísticos anteriormente realizados) em ordem do quociente de Resultado financeiro / Lucro operacional antes do resultado financeiro, e a seguir montamos uma tabela de frequência amostral em valores percentuais. O mesmo fizemos para 71 as ações menos líquidas que não entraram no nosso universo4. Tiramos desse grupo as ações de empresas financeiras; de retornos anormais (2%>L/P>50%); as que tinham mais de uma espécie de ação no grupo menos líquido; ou que já possuiam ações no grupo mais líquido. De ambos os grupos foram também retiradas as empresas que apresentaram prejuízos operacionais antes do resultado financeiro ou que apresentaram resultado financeiro inexistente no ano de 1997. A figura 3.3 ilustra os resultados encontrados, onde os resultados financeiros positivos começam a aparecer a partir da metade do terceiro quintil. Nas empresas menos líquidas, 57,9% da amostra apresenta resultados financeiros negativos, enquanto nas empresas mais líquidas apenas 45,1% exibem resultados negativos. A hipótese da diferença entre o resultado financeiro / lucro operacional das empresas mais líquidas contra o mesmo quociente das empresas menos líquidas, é confirmada por teste estatístico não paramétrico (Kruskal-Wallis) com grau de confiança superior a 98%. Figura 3.3: Resultados financeiros / Lucro operacional de 1997 das 300 empresas mais líquidas da BOVESPA* distribuídos por quintis % amostra 100% 80% 60% 40% 20% 150 menos líquidas 0% 1 2 3 4 Quintis 5 150 mais líquidas *O critério de liquidez é o mesmo mencionado na nota de rodapé n.2 p.56. Fonte: Banco de dados da Economática. 4 Por ordem de liquidez: da 151 até a 300° ação mais líquida. 72 Assim, concluímos que as empresas mais líquidas, incluídas em nossos testes de correlação, tendem a ter melhores resultados financeiros, fazendo com que o grau de alavancagem dessas empresas não constituam atualmente, de modo geral, uma preocupação para o investidor. Em resumo, o que verificamos é que a dificuldade generalizada de financiamento de longo prazo na economia brasileira faz com que as empresas estejam de modo geral sub-alavancadas. Consequentemente o mercado não exige maior retorno de empresas relativamente mais alavancas, ainda mais quando estas apresentam um bom potencial de crescimento dos lucros. 73 Capítulo IV Conclusões Os diversos modelos teóricos sobre estrutura de capital e valor da firma não chegam a um consenso em torno de qual seria uma ótima proporção entre capital próprio e capital de terceiros, mas convergem quando vislumbram que o maior endividamento deve determinar uma maior exigência de retorno do acionista, divergindo no quantum da mesma por endividamento marginal. As restrições quanto ao financiamento interno, via geração interna de caixa, é um fato observado por estudos empíricos realizados, que mostram que as empresas têm o costume, em seu conjunto, de distribuir boa parte do lucro sob a forma de dividendos. O mesmo se pode dizer em relação ao financiamento externo, que é limitado pelas garantias que podem ser oferecidas aos credores (caso do endividamento) e pelos interesses prejudicados dos acionistas e a desconfiança do mercado (caso do lançamento de novas ações). No caso do endividamento, adiciona-se ainda outras limitações que o administrador deve ter em mente ao traçar suas metas de estrutura de capital, como a exaustão dos benefícios fiscais possíveis e o risco inerente ao projeto ou negócio da firma (ver quadro 1.6). Vistas as restrições gerais, passamos à análise do ambiente para o financiamento externo às empresas no Brasil e percebemos que é um 74 ambiente hostil, com poucos recursos de longo prazo a custos razoáveis sendo ofertados no país. Os mecanismos de funding limitam-se à poupança compulsória representada por fundos pára-fiscais e fundos de pensão de grandes empresas estatais. Os recursos provenientes do exterior também se mostram limitados, pois só os conseguem obter empresas de certo porte econômico, e mesmo estas ainda estão sujeitas ao desempenho macroeconômico brasileiro, já que para o financiador externo tanto a saúde financeira da empresa como do país são essenciais para que haja garantia do pagamento do financiamento em moeda forte. Desse modo, ao negar acesso ao financiamento à milhares de empresas, o precário sistema de intermediação financeira do país reduz as possibilidades de maior dinamismo e crescimento das mesmas. Por fim, após a revisão teórica sobre a influência da estrutura de capital no valor da firma e a apresentação da realidade acerca das estreitas possibilidades de financiamento oferecidas no país, realizamos estudos estatísticos visando identificar o grau de correlação entre a estrutura de capital das empresas em diversos setores e seus respectivos índices de exigência de retorno. Os resultados que encontramos divergem do que prega a teoria. Enquanto esta aponta um aumento nos níveis de exigência de retorno à medida em que se amplia o grau de endividamento, os resultados de nossos testes não apontaram significância para a maior parte dos grupos setoriais estudados. As exceções ficaram por conta dos grupos setoriais de Mineração e Siderurgia e Energia Elétrica. Enquanto o primeiro apresentou correlação 75 Endividamento-Exigência de retorno positiva, o segundo mostrou correlação negativa. A divergência entre a teoria de finanças e a realidade brasileira pode ser explicada por três aspectos identificados no trabalho: 1) As empresas se encontram sub-alavancadas no Brasil, devido ao já exposto problema de dificuldade de acesso a novos financiamentos; 2) As empresas mais promissoras têm exigência de retorno menor e tendem a estar mais alavancadas; 3) A liquidez do mercado acionário brasileiro está concentrada em poucas empresas, que de modo geral estão em boas condições financeiras. Em resumo, as empresas cujas ações têm liquidez em bolsa no Brasil são tidas como promissoras (seu histórico recente ilustra isso), e essas em geral desfrutam de boa saúde financeira tendo mais facilidade para se endividar no país ou no exterior. Por isso são mais alavancadas. Ao mesmo tempo, como contam com maior confiança do investidor, exibem menores índices de exigência de retorno. Sanciona-se assim inexistência de correlação positiva em 7 dos 8 grupos setoriais analisados. O esquema abaixo ilustra os comentários deste parágrafo. LIQUIDEZ => EMPRESAS => SAÚDE PROMISSORAS FINANCEIRA => FACILIDADE DE ENDIVIDAMENTO LIQUIDEZ => EMPRESAS => CONFIANÇA DO => MENOR EXIGÊNCIA PROMISSORAS INVESTIDOR DE RETORNO No caso do Setor Elétrico acreditamos que a negatividade na correlação Endividamento-Exigência de retorno obtida nos testes é explicada não só pelos 76 3 aspectos apresentados anteriormente, válido para todos os setores, como também: pelo nível de endividamento exageradamente baixo para um setor com baixa volatilidade de receitas; (vide comparação com o setor nos EUA no quadro 3.4) e pela proximidade da privatização total do setor que projeta aumento de eficiência e lucratividade nas empresas. Merece destaque ainda o comportamento do grupo setorial Siderurgia e Mineração, único a apresentar correlação positiva em todos os testes efetuados. Este grupo setorial parece ter atingido uma faixa de endividamento que torna a exigência de retorno positiva e significativamente correlata com o grau de alavancagem financeira, convergindo com o que diz a teoria de finanças. 77 ANEXOS 78 Anexo I BNDES: BALANÇO PATRIMONIAL EM 31 DE DEZEMBRO (Em R$ Milhares) 1996 ATIVO CIRCULANTE DISPONIBILIDADES Caixa Depósitos Bancários 5.425.776 BNDES 1995 (Reclassificado) 5.813.770 1996 8.967.309 CONSOLIDADO 1995 (Reclassificado) 8.113.204 16.335 3 16.332 43.019 3 43.016 16.335 3 16.332 43.024 3 43.021 APLICAÇÕES INTERFINANCEIRAS DE LIQUIDEZ Fundo BB Extramercado - Resolução 2.108/94 Aplicação no Mercado Aberto 660.425 655.952 4.473 459.366 417.664 41.702 1.203.858 1.199.385 4.473 532.732 491.030 41.702 TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS Debêntures Dívidas Vencidas Regularizadas (DVRs) Adiantamento para Aquisição de Títulos e Valores Mobiliários Certificado de Depósito Interbancário Vendas de Ações a Termo Outros 459.857 119.697 4.842 249.863 85.377 252.295 252.295 794.227 180.369 4.842 249.863 85.377 270.010 3.766 361.670 358.697 1.234 69 1.165 4.320 RELAÇÕES INTERFINANCEIRAS Créditos Vinculados - Banco Central Créditos Vinculados - Banco do Brasil OPERAÇÕES DE CRÉDITO Financiamentos e Repasses Provisão para Risco de Crédito Operações de Crédito em Atraso Provisão para Operações de Crédito em Atraso Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa Provisão para Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa CRÉDITOS PERANTE O TESOURO NACIONAL Decretos-Leis 1.452/76 e 1.679/79 Avais Honrados e Outros Créditos Impostos e Contribuições - Antecipações Impostos e Contribuições a Recuperar OUTROS CRÉDITOS Operações da Carteira de Câmbio Avais e Fianças Honrados Provisão para Risco de Crédito Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa - Avais Honrados Provisão para Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa Venda de Investimentos Dividendos a Receber Juros sobre o Capital Próprio a Receber Rendas a Receber Diversos 78 1.234 69 1.165 4.001.108 3.937.116 101.759 (37.767) 1.002.817 (1.002.817) 187.968 76.543 82.056 29.369 4.320 3.772.467 3.851.201 (102.285) 29.439 (5.888) 631.538 (631.538) 1.017.098 852.114 67.210 97.774 6.573.638 6.491.214 138.613 (56.189) 1.270.439 (1.270.439) 245.171 76.543 117.768 50.860 1.066.178 852.114 67.210 138.964 7.890 32.253 (32.253) 24.193 59.598 23.431 23.774 292 161 131 220 180 40 331 161 170 220 180 40 31.517.464 25.758.658 29.256.089 22.909.857 1.637.860 232.674 331.030 426.759 1.462.220 432.252 94.994 377.220 2.260.922 999.351 94.994 607.524 647.397 557.754 3.779.804 2.111.479 331.030 684.235 4.150 648.910 29.871.756 29.871.756 24.259.215 24.259.215 25.454.413 25.454.413 20.590.959 20.590.959 CRÉDITOS PERANTE O TESOURO NACIONAL Impostos e Contribuições a Recuperar 5.758 5.758 4.889 4.889 8.688 8.688 7.514 7.514 OUTROS CRÉDITOS Aplicações em Incentivos Fiscais Diversos 2.090 2.090 32.334 26.899 5.435 13.184 5.022 8.162 50.462 45.027 5.435 REALIZÁVEL A LONGO PRAZO TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS Debêntures Dívidas Vencidas Regularizadas (DVRs) Programa Nacional de Desestatização Cotas de Fundo de Investimentos Notas do Tesouro Nacional - Privatização OPERAÇÕES DE CRÉDITO Financiamentos e Repasses PERMANENTE INVESTIMENTOS IMOBILIZADO DE USO Custo Corrigido Depreciações Acumuladas TOTAL DO ATIVO 9.245.739 9.110.346 135.393 237.426 (102.033) 46.188.979 7.169.239 7.032.027 137.212 235.714 (98.502) 38.741.667 132.515 14.766 4.320 5.822.682 5.939.534 (142.043) 31.489 (6.298) 679.646 (679.646) 264.985 186.669 31.232 (121) 13 (13) OUTROS VALORES E BENS Outros Valores e Bens Despesas Antecipadas 98.557 14.766 4.320 2.973 33.355 (33.355) 135 22.985 6.856 24.193 63.580 8.265.261 8.129.868 135.393 237.426 (102.033) 46.488.659 282.378 186.669 31.232 (121) 1.115 (1.115) 30.755 33.843 559.053 8.281.370 8.144.158 137.212 235.714 (98.502) 39.304.431 79 1996 PASSIVO CIRCULANTE 2.643.719 BNDES 1995 (Reclassificado) 2.774.327 CONSOLIDADO 1995 (Reclassificado) 2.943.399 3.337.091 1996 DEPÓSITOS Depósitos a Prazo Depósitos Vinculados Diversos 178.848 214.800 3.909 210.357 534 174.502 177.940 908 173.594 908 194.134 3.909 189.691 534 OBRIGAÇÕES POR EMPRÉSTIMOS Empréstimos no País Empréstimos no Exterior 656.304 623.441 32.863 398.477 395.169 3.308 658.501 625.638 32.863 400.451 397.143 3.308 1.163.728 971.004 1.009.901 796.882 1.163.728 971.004 1.009.901 796.882 644.839 12.292 202.348 946.668 12.292 403.454 2.419 1.151.149 186.255 128.779 435.596 3.314 238.354 235.972 1.732.605 186.255 226.881 435.596 5.599 3.722 235.972 411.213 OBRIGAÇÕES POR REPASSES No País OUTRAS OBRIGAÇÕES Operações da Carteira de Câmbio Impostos e Contribuições sobre o Lucro Imposto de Renda Diferido Outros Impostos e Contribuições Negociação no Mercado de Opções Vinculadas ao Tesouro Nacional Provisão para Contingências Fiscais Diversas 3.722 11.468 238.354 24.944 20.830 53.561 35.623 EXIGÍVEL A LONGO PRAZO 33.510.340 26.847.716 33.510.340 26.847.716 OBRIGAÇÕES POR EMPRÉSTIMOS Empréstimos no País Empréstimos no Exterior 19.329.874 18.302.775 1.027.099 14.560.691 14.400.622 160.069 19.329.874 18.302.775 1.027.099 14.560.691 14.400.622 160.069 OBRIGAÇÕES POR REPASSES No País No Exterior 14.180.466 13.327.968 852.498 12.287.025 11.308.473 978.552 14.180.466 13.327.968 852.498 12.287.025 11.308.473 978.552 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 10.034.920 9.119.624 10.034.920 9.119.624 7.457.500 144.702 1.261 122.071 2.309.386 7.457.500 136.716 53.822 206.481 1.265.105 1.261.565 363.624 98.335 1.565.660 -1.267.074 -43.816 4.637 7.457.500 144.702 1.261 122.071 2.309.386 7.457.500 136.716 53.822 206.481 1.265.105 0 363.624 98.335 1.565.660 -1.267.074 -43.816 4.637 Capital Social Reservas de Capital Reservas de Reavaliação Reservas de Lucros Lucros Acumulados Lucro do exercício anterior Resultado do 1º semestre Resultado do semestre em curso Receitas da intermediação financeira Despesas da intermediação financeira Outras receitas/despesas operacionais Resultado não operacional 80 Anexo II Emissões de dívida de empresas brasileiras no mercado internacional (1997) Emissor Ford Brasil Safra Cayman Unibanco Aracruz Bradesco Cayman Banco Cidade Vicunha do Nordeste COPEL Rep. Federativa do Brasil BNDES Petrobrás Parmalat Sudameris Sul América CESP RBS Participações S.A Bozano, Simonsen Dixie Toga Parmalat AGF BRASEG BNB Citibank COPEL COPEL Semp Toshiba CST Itaú Cayman CST White Martins Credibanco Globopar BNL Brascan Globopar Bradesco Cayman Rep. Federativa do Brasil Rep. Federativa do Brasil Rep. Federativa do Brasil COPEL Arisco BNDES BCN Braclays Furnas Valor emitido US$ milhões 200 200 150 120 100 75 50 23 610 322 120 68 6,5 40 200 125 100 77 66 50 50 50 30 25 13 120 100 90 75 50 33 20 20 15 300 205 170 165 150 150 150 100 90 Prazo meses 120 96 6 60 36 96 12 12 120 60 12 96 12 36 120 120 96 96 96 96 96 36 12 12 12 84 36 60 12 36 12 72 12 12 12 60 60 60 96 96 96 96 96 Coupon % 9,3 8,4 n.d. 10,4 8,0 10,6 0,0 0,0 8,0 8,5 7,3 9,1 7,1 9,3 8,8 10,8 9,1 9,6 10,2 8,1 9,6 8,1 0,0 0,0 0,0 8,2 8,3 Libor+1,25 0,0 8,5 0,0 8,6 0,0 0,0 0,0 6,6 6,6 6,6 9,7 10,8 6,5 9,0 9,0 81 Embraer Preferential Holding BMC Singer Ferrovia Centro-Atlântica BBA Creditanstalt Tabriza Investment Rep. Federativa do Brasil CSN Votorantim CESP Bradesco Rep. Federativa do Brasil Banco do Brasil Banco do Brasil Bozano, Simonsen Copene Safra Unibanco Inter-Atlântico Pagenet Boavista Citibank Ultragaz Bahia Bank Ltd BCSP Souto Vidigal CBPO Cosipa Citibank AGF BRASEG Banco Dibens O Estado de S. Paulo Banco América do Sul Rep. Federativa do Brasil Itaú Gradiente BMG Real Real Brazil Realty Camargo Côrrea Industrial Triken BBA Creditanstalt Banco Cidade CCF Sabesp Josapar BBA Creditanstalt 70 53 50 50 40 22 75 750 600 400 300 300 294 200 200 150 150 150 150 125 125 100 70 60 51 40 26 22 15 15 1 50 75 70 147 100 100 100 175 75 75 150 250 200 50 100 275 35 40,3 15 6 96 96 12 36 60 360 120 96 120 12 240 60 120 12 120 96 36 36 96 36 36 96 12 96 36 1 6 60 6 96 96 36 240 36 96 96 36 48 96 96 120 96 96 36 96 12 60 10,3 0,0 10,3 12,0 0,0 16,6 9,8 10,1 9,1 10,1 9,1 n.d. 11,0 8,4 9,4 0,0 9,0 8,1 8,0 8,3 n.d. 10,0 7,8 9,0 n.d. 10,6 n.d. 0,0 0,0 8,5 0,0 10,0 9,4 8,6 11,0 7,5 9,6 9,6 7,9 8,1 10,1 8,8 10,6 8,1 8,8 7,8 10,0 0,0 8,4 82 ABN AMRO BCN ING Bank Unibanco Feniciapar S.ª Credibanco MRS Logística MRS Logística Rabobank Pactual Sudameris Mangels Metalúrgica Sudameris ABN AMRO Light BBA Creditanstalt Petrobrás ABN AMRO HSBC Bameríndus BNDES GD Empreendimentos GD Empreendimentos Kaiser Método Engenharia Localiza Rent a car Unibanco Votorantim Bombril Overseas Inc. Map Trading Corp. Triken Safra Cosipa BCN Braclays Bradesco Cayman Unibanco Cayman Banco Fibra Vigor Odebrecht Safra ABN AMRO Andrade Gutierrez Portoreal BNDES Sharp Citibank Bozano, Simonsen Safra Cayman Petrobrás Playcenter CRT 50 100 50 250 30 100 195 125 100 50 22 15 25 60 130 40 248 33 75 250 15 20 80 5 100 100 50 33 15 33,2 200 35 100 200 101 100 50 75 100 100 32 228,8 120 50 282 100 150 12,5 60 12 96 96 36 96 96 96 96 36 60 12 12 36 12 6 60 72 4 12 120 12 15 96 12 96 12 36 7 12 12 96 12 96 36 72 24 96 96 60 12 6 240 96 36 96 36 120 12 6 0,0 8,1 7,8 7,8 8,8 7,8 10,6 9,0 7,5 9,1 7,4 0,0 8,3 0,0 0,0 Libor+1,5 4,1 n.d. 0,0 9,0 0,0 0,0 8,9 0,0 10,3 6,8 8,0 0,0 0,0 0,0 Libor+1,45 0,0 8,0 7,6 10,0 9,5 9,8 10,0 8,8 7,1 0,0 9,0 9,6 7,3 8,3 8,1 10,0 0,0 0,0 83 ING Bank Banco Sul América S/A BankBoston Sudameris Banque Nationale Paris Banco Votorantim Santander Brasil COELBA COELBA 50 30 50 20 20 60 188 270 30 60 12 12 12 12 12 36 96 96 9,1 8,4 8,9 8,8 0,0 9,0 Libor+1,65 11,5 11,5 84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85 ALÉM, A.C.D., GIAMBIAGI, F. 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Ithaca : Cornell