- Congresso Brasileiro de Meteorologia

UM ESTUDO DO AUMENTO DE CASOS DE DOENÇAS RESPIRATÓRIAS E DESIDRATAÇÃO EM
CRIANÇAS DE 0 a 4 ANOS EM CAMPINA GRANDE – PB, E SUA POSSÍVEL RELAÇÃO COM AS
FLUTUAÇÕES NOS PARÂMETROS CLIMÁTICOS EM ANOS DE EL NIÑO
Maria Cristina Lemos da Silva
E-mail : [email protected]
Roseclaire de A. e S. Bandeira
Vanessa C. de Almeida
Manoel F. Gomes Filho
Departamento de Ciências Atmosféricas
UFPB - Campina Grande– 58.109-970 – PB.
ABSTRACT
It is presented a study of the possible influence of the great temperature variations and humidity of the air that
happen in years with events El Niño, on the children's organism in the age group of 0 to 4 years in the City of
Campina Grande. That influence happens mainly as dehydration in response to the increase accentuated in the
temperature of the air in the period of spring/summer, as well as, the cases of internment for diseases of the
breathing apparel in the winter, when the temperatures tend to lower. The immediate consequence is the increase in
the number of internments and death.
INTRODUÇÃO
Um dos ramos da Meteorologia menos explorado até o presente momento no Brasil é o que trata da influência
dos parâmetros atmosféricos/meteorológicos sobre o organismo dos seres vivos, denominado de bioclimatologia.
Ainda assim, os grupos que estão trabalhando nessa direção, tem explorado muito mais essa influência sobre as
plantas e os animais [ ver por exemplo, Azevedo et al. (1998) ; Faria et al. (1998); Nääs et al. (1998) ; Santos Dias
et al. (1998) ; Silva (1998) ; Souza et al. (1998) ; Titto et al (1998) ]. Alguns trabalhos foram apresentados,
principalmente em revistas não especializadas, de mídia (ver por exemplo, SUPERINTERESSANTE, ano 14, no.
1, jan. 2000) sobre a influência das temperaturas altas e baixas no comportamento das pessoas, especialmente em
anos com variações extremas desse parâmetro como é o caso de anos com ocorrência do fenômeno El-Niño, por
exemplo. Nesses anos, ocorre um aumento bastante pronunciado dessas temperaturas, levando a um aumento
considerável de casos de desidratação, especialmente das crianças com idade na faixa de 0 a 4 anos. Pretende-se
com este trabalho, correlacionar o aumento do número de casos de desidratação infantil com o aumento irregular
(anômalo) das temperaturas em anos com ocorrência do fenômeno El-Niño. Evidentemente, esse trabalho tem uma
dependência direta da existência de registros, ou prontuários médicos, desses pacientes. Em uma etapa mais
avançada, será feito um estudo fisiológico da atuação dessas temperaturas nos órgãos humanos assim como
também, um estudo comportamental dos indivíduos afetados por esse tipo de anomalia climática.
DADOS E METODOLOGIA.
Como já citado, os dados que serão utilizados nesse trabalho, serão levantados a partir dos prontuários médicos
dos principais hospitais da cidade, especialmente do Hospital Universitário. Será importante que essa série de
informações seja a mais longa possível e tenha sido colecionada de forma contínua, sem interrupções senão, isso
modificaria completamente nossa expectativa de resultados significativos. Esses dados foram colecionados mês
amês e por tipo de doença para que as correlações sejam realizadas e de forma direta entre as variações dos
parâmetros climáticos considerados e o aumento (ou diminuição conforme o caso ) da incidência das doenças
observadas.
A análise de correlações matemáticas é recomendada, quando se quer descobrir se uma determinada variável
possui algum tipo de relação com uma outra, por exemplo, se uma diminui à medida que a outra cresce ou viceversa. Essa análise está sendo utilizada em uma próxima etapa desse trabalho, quando tivermos em mãos uma
massa maior de resultados apresentaremos o método usado como parte da metodologia.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Casos de internação por Doenças
Respiratórias-Campina Grande
1998
Temperatura Máxima MensalCampina Grande 1998
33
31
29
27
25
450
350
250
150
50
jan
mar mai
jul
set
jan
nov
(a)
mar
mai
jul
set
nov
(b)
Figura 1 - Oscilação dos parâmetros do clima e número de internações por doenças respiratórias em Campina
Grande - PB
.a) Internações em 1998. b) Temperatura máxima mensal no mesmo ano.
O ano de 1998, foi considerado pela Organização Meteorológica Mundial – OMM, como o mais quente do
século. Examinando os casos de internação de crianças com idade entre 0 e 4 anos em Campina Grande, vemos
pela figura 1 que, ao contrário do normal, que é essas doenças se manifestarem mais no inverno, meses de junho a
agosto, há um máximo de internações em abril, ainda no outono, no período em que o clima começa a mudar de
quente para frio.
Umidade Relativa Média-Campina Grande 1998
Umidade Relativa Média-Campina Grande 1997
90
80
70
60
50
40
85
80
75
70
65
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
(a)
(b)
Figura 2 – Oscilação da umidade relativa média mensal em Campina Grande, nos anos de :
a) 1997 e b) 1998.
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Temperatura Máxima MensalCampina Grande 1997
Casos de internação por Doenças
Respiratórias-Campina Grande 1997
32
30
28
26
24
500
400
300
jan
mar
mai
jul
set
nov
jan
(a)
mar
mai
jul
set
nov
(b)
Figura 3 - Oscilação dos parâmetros do clima e número de internações por doenças respiratórias em Campina
Grande - PB
.
a) Internações em 1997. b) Temperatura máxima mensal no mesmo ano.
Um exame da mesma situação para um ano normal, mostra o máximo de internações no inverno, quando a
temperatura atinge o seu mínimo. Dos dez (10) anos estudados, 1990 a 1999, apenas o ano de 1998 tem esse
comportamento atípico, mostrando que variações consideráveis nos parâmetros do clima influem de modo decisivo
na saúde das crianças. Foram examinados também outras variáveis climáticas como temperatura média mensal,
temperaturas mínimas mensais, umidade do ar e pressão atmosférica à superfície, todas ao que parece, exercem as
mesmas influências sobre a saúde das crianças. Um exame preliminar dos resultados com as correlações mostra que
as doenças respiratórias parecem estar bem melhor correlacionadas com as variáveis atmosféricas, principalmente
com a umidade relativa do ar, ver Figura 2, por exemplo, que a desidratação e diarréia. Entretanto, devido ao
caráter preliminar dos resultados, ainda é cedo para se tirar conclusões.
CONCLUSÃO
Considerando os dados que dispomos, por limitação na base de dados hospitalares do sistema SUS (guardam
poucos anos de dados) analisamos preliminarmente, apenas dez (10) anos de dados de internação e sua relação
com as variáveis climáticas. Nesses anos analisados, parece existir uma influência das temperaturas máximas sobre
o número de internações por doenças respiratórias entre crianças de 0 a 4 anos em Campina Grande, especialmente
no ano 1998, que foi um dos mais quentes. Outras variáveis também parecem exercer influência sobre essas
internações, mas não tão marcante quanto as temperaturas máximas.
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