UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS CONTABÉIS E TURISMO CURSO DE TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO MARJORIE SOUZA DE OLIVEIRA TURISMO DE SAÚDE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: A DIMENSÃO ESTÉTICA Niterói 2012 2 MARJORIE SOUZA DE OLIVEIRA TURISMO DE SAÚDE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: A DIMENSÃO ESTÉTICA Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito final de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo. Orientadora – Prof. Msc. Carolina Lescura Niterói 2012 3 TURISMO DE SAÚDE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: A DIMENSÃO ESTÉTICA Por Marjorie Souza de Oliveira Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito final de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________ PROF. MSC. CAROLINA LESCURA – Orientadora ___________________________________________________________ PROF. MSC. ERLY MARIA DE CARVALHO E SILVA – Convidada ___________________________________________________________ PROF. MSC. ARI DA SILVA FONSECA FILHO – Departamento de Turismo Niterói, de de 2012. 4 Dedico este trabalho aos meus pais e à minha irmã, por todo o apoio e amor incondicional. 5 AGRADECIMENTOS O que antes parecia um sonho impossível, agora se tornou realidade. Esse trabalho é a prova disso. E ele não estaria completo se não fosse todo o amor, apoio e compreensão da minha família. Aos meus pais e à minha irmã, o meu muito obrigada e todo o meu amor. Agradeço a Deus, por nunca me deixar na mão e pela iluminação nas horas em que achei que tudo ia dar errado. À minha avó Rosalina, aos meus padrinhos Solange e Jorge Henrique e aos meus primos Danilo e Agatha, obrigada pelo acolhimento, compreensão, palavras de carinho, almoços, viagens ao sítio, jogos de cartas e filmes no final de tarde. Aos meus primos Renata e José Maria, o meu imenso obrigada pelo acolhimento em sua casa por todo esse tempo, pelas conversas, pelo apoio e pelo carinho. À Ana Carolina, pelas suas risadas e “conversas” que sempre me alegraram! Meu agradecimento à Professora Erly Carvalho por ter iniciado a minha orientação, dando conselhos e encaminhando meu pensamento. À Professora Carolina Lescura, por me receber e ajudar no final da monografia. Sem vocês, não teria conseguido terminar esse trabalho. Ao Professor Ari Fonseca, por fazer parte da banca examinadora, muito obrigada. Obrigada aos médicos da Clínica Ivo Pitanguy e Hospital da Plástica, por me receberem para as entrevistas com gentileza e por ajudar a construir esse trabalho com seus depoimentos. O meu agradecimento aos meus amigos de longa data, Yasmin, Larissa, Thaísa, Marianna e Flávio, por me apoiarem, oferecerem chocolates, entenderem a minha ausência e, principalmente, por estarem ao meu lado por todo esse tempo. Às “meninas da UFF”, Bia, Kamila, Luiza, Marjorie e Naira, obrigada pelas choppadas, almoços com marmita, filmes, discussão de livros, conversas e risadas. Meu agradecimento especial à Naira, pelo apoio, por ficar comigo ao telefone por horas e por nunca ter me deixado duvidar de que conseguiria terminar esse trabalho. 6 Para conquistar coisas importantes, devemos não apenas agir, mas também sonhar, não apenas planejar, mas também acreditar. Anatole France 7 RESUMO O turismo de saúde vem ganhando espaço na mídia, devido ao seu grande crescimento nos últimos anos. Dentro desse segmento, destaca-se o turismo de estética, quando os pacientes se deslocam para a realização de tratamentos estéticos. O Rio de Janeiro ganhou fama através do médico Ivo Pitanguy e, junto com os preços mais acessíveis do mercado brasileiro emergente, colocaram a cidade no mapa da plástica, atraindo ao país centenas de pacientes que buscam a excelência brasileira. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo investigar o Turismo de Saúde na cidade do Rio de Janeiro, com foco na Estética. Para isso, pretende-se fazer um levantamento bibliográfico sobre turismo de saúde, privilegiando a dimensão estética, entrevistar gestores de clínicas renomadas da cidade do Rio de Janeiro e analisar os relatos dos entrevistados, verificando a relação com o desenvolvimento do turismo de saúde. Para atingir a este objetivo, optou-se por uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória, a partir de entrevistas com um roteiro semi-estruturado. Os principais resultados encontrados foram o crescente fluxo de pacientes estrangeiros que chegam ao país em busca de tratamentos estéticos, o pouco interesse por parte dos gestores de saúde em relação ao turismo, a divergência de opiniões entre os gestores de saúde a respeito de parcerias entre eles e gestores do turismo e a incipiência de estudos relacionados com o tema. As principais conclusões desse trabalho são a necessidade de um estudo mais profundo na área, a criação de parcerias entre gestores da saúde e do turismo, criação e aprimoramento de cursos e especializações e a proposta de uma pesquisa direta com o consumidor de saúde. Com isso, deseja-se que os pacientes-turistas sejam mais bem recepcionados e que as clínicas e hospitais tenham mais segurança em lidar com esse público. Palavras-chave: Turismo de Saúde. Cirurgia Plástica. Estética. Rio de Janeiro. 8 ABSTRACT The health tourism has been gaining space in the media, due to its great growth in recent years. Within this segment, the highlight is the esthetic tourism, when patients travel for performing aesthetic treatments. Rio de Janeiro won fame through Doctor Ivo Pitanguy and, along with the low prices of the Brazilian emerging market, placed the city on a map, attracting to the country hundreds of patients who seek the Brazilian excellence. Thus, the present study aims to investigate the Health Tourism in the city of Rio de Janeiro, with a focus on aesthetics. For this, were intend to do a literature review on health tourism, focusing on the aesthetic dimension, interview managers of clinics renowned in the city of Rio de Janeiro and analyze the interviewees, verifying the relationship with the development of health tourism. To achieve this goal, were opted for a qualitative research exploratory in nature, from a route semi-structured interviews The main results were found the growing flow of foreign patients coming into the country in search of aesthetic treatments, the little interest on the part of health managers in relation to tourism, the divergence of opinions among the managers of health concerning partnerships between them and tourism managers and the precarious studys. The main conclusions of this work are the need for a deeper study in the area, the creation of partnerships between managers of health and tourism, creation and improvement of courses and specializations and the proposal of a forward lookup with the health consumer. With this, it is hoped that patients are more well welcomed tourists-and that the clinics and hospitals have more security in dealing with this audience. Key-words: Health Tourism. Plastic Surgery. Esthetic. Rio de Janeiro. 9 LISTA DE SIGLAS ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária CEM Código de Ética Médica CFM Conselho Federal de Medicina CMET Código Mundial de Ética no Turismo DICQ Sistema Nacional de Acreditação Ltda DNV Det Norske Veritas FCAV Fundação Carlos Alberto Vanzolini GL Germanischer Lloyd Certification IAC Instituições Acreditadoras Credenciadas IAHCS Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde IPASS Instituto Paranaense de Acreditação de Serviços em Saúde IQG Instituto Qualisa de Gestão ISAPS Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética MTur Ministério do Turismo ONA Organização Nacional de Acreditação SBA Sistema Brasileiro de Acreditação SBCP Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica SBHM Sociedade Brasileira de História da Medicina SLACP Sociedade Latino Americana de Cirurgia Plástica WTO Organização Mundial do Turismo 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 12 2 SEGMENTAÇÃO DO TURISMO DE SAÚDE ............................... 15 2.1 TURISMO DE SAÚDE ................................................................... 17 2.1.1 Acreditação das instituições de saúde ..................................... 20 2.1.2 Ética no Turismo de Saúde ........................................................ 21 2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO TURISMO DE SAÚDE .................. 23 2.2.1 A Medicina desde os Tempos Antigos ...................................... 23 2.2.2 A Saúde Moderna: busca por tratamentos eficientes .............. 27 2.3 TURISMO MÉDICO ....................................................................... 32 3 TURISMO DE ESTÉTICA ............................................................. 34 3.1 A BUSCA PELA BELEZA: DOS ENFEITES AO BISTURI ............ 38 3.2 O TURISMO DE ESTÉTICA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO . 42 3.3 AS CLÍNICAS CARIOCAS: RENOME INTERNACIONAL ............ 43 3.4.1 Clínica Ivo Pitanguy .................................................................... 44 3.4.2 Hospital da Plástica ..................................................................... 44 4 A VISÃO DOS ATORES DO TURISMO DE ESTÉTICA .............. 46 4.1 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS ............................................ 48 4.1.1 Pesquisa anterior a entrevista ................................................... 48 4.1.2 Análise das entrevistas ............................................................... 49 4.1.2.1 Dados gerais sobre os turistas de saúde ................................. 49 4.1.2.2 Relação entre gestores de saúde e serviços turísticos ........... 51 11 4.1.2.3 Relação entre pacientes e serviços de saúde .......................... 54 4.1.2.4 Relação entre pacientes e equipamentos turísticos ................ 56 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 59 REFERÊNCIAS ............................................................................. 62 APÊNDICE .................................................................................... 68 12 1 INTRODUÇÃO O Brasil recebe milhares de turistas durante o ano. Suas regiões heterogêneas e singulares possibilitam a formação de produtos turísticos atrativos, que são oferecidos no mercado para satisfazer distintas necessidades ou desejos das pessoas. Muitos destinos propiciam aos turistas o entretenimento e lazer. Mas, ao valorizar os elementos que conferem identidade à oferta turística do país, podese identificar a existência de diferentes segmentos. Embora haja várias motivações de viagem que dinamizem o setor turístico, os mais reconhecidos e citados são aqueles voltados para o turismo de lazer e de negócio. No entanto, nos últimos anos, o turismo de saúde vem passando por um processo de resignificação, obtendo destaque como um segmento promissor. Muitas pessoas viajam para localidades fora de seu entorno habitual em busca de tratamentos médicos ou recuperação de sua saúde. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS apud JORNAL PANROTAS, 2011), o turismo de saúde movimenta US$ 60 bilhões por ano no mundo, com média de 35% de crescimento ao ano. Além disso, a projeção de crescimento desse segmento para o Brasil, nos próximos cinco anos, é também de 35% (JORNAL PANROTAS, 2011). Conforme explicado por Adalto Felix Godoi (2010), nos últimos anos o turismo de saúde passou a crescer nos países menos desenvolvidos, atraindo um fluxo considerável de pacientes internacionais. Dentre os fatores que contribuíram para este desenvolvimento, pode-se citar o aumento do custo de tratamentos de saúde nos países mais ricos, ao mesmo tempo em que os países menos desenvolvidos passaram a oferecer serviços de saúde a baixo custo, boa eficiência e qualidade. Alguns países da Ásia e América Latina apresentam-se como destinos relevantes para o turismo de saúde. Neste âmbito, pode-se destacar o Brasil, referência internacional em cirurgia plástica, ortopedia, fertilização humana, ortodontia, entre outras especialidades: O Brasil tornou-se um importante destino médico atraindo parte importante da demanda internacional e consolidando a imagem de referência em diversas especialidades médicas. Com uma ampla e avançada estrutura hospitalar, o país tem sido reconhecido por órgãos internacionais e se mostrado no mesmo nível que os grandes centros de excelência mundiais. (GODOI, 2010, p.5) 13 Algumas instituições médicas brasileiras seguem padrões rigorosos de qualidade, buscando por certificações de organizações que comprovam a garantia e excelência dos serviços de saúde prestados. Dentre os destinos procurados no país, que apresentam instituições acreditadas por alguma organização, destacam-se as cidades de São Paulo, Recife e Rio de Janeiro (COLLUCCI, 2010). Entretanto, de acordo com Fernandes e Fernandes (2011), os estados brasileiros que possuem o maior número de hospitais, particulares e públicos, são: São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. Neste contexto, destaca-se o turismo de saúde voltado para a estética, realizado quando a viagem tem como maior motivação a busca por tratamentos médicos voltados para beleza e autoestima. Os deslocamentos com esta finalidade incluem uma estada pré e/ou pós-operatória, fazendo com que o paciente possa realizar atividades amenas, mas respeitando as recomendações médicas. Desta forma, para aquelas localidades que já apresentam atrativos turísticos, é possível que os pacientes sintam vontade de conhecê-los. O Rio de Janeiro, além de ser visitado por turistas internacionais motivados em conhecer seus atrativos naturais, culturais e históricos, passou a ser frequentado nos últimos anos, também, por estrangeiros em busca de tratamentos estéticos (MIRON; POPOV, 2010). Tal fato se deve, principalmente, pela qualidade e fama que o Brasil ganhou com o Dr. Ivo Pitanguy, considerado referência mundial em cirurgia plástica. De um modo geral, pacientes e seus acompanhantes costumam utilizar equipamentos turísticos durante sua estada na cidade. No entanto, são poucos os estudos acadêmicos que mostram como a área de saúde estética da cidade do Rio de Janeiro está buscando atender a este público internacional. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo investigar o Turismo de Saúde na cidade do Rio de Janeiro, com foco na Estética. Para isso, pretende-se fazer um levantamento bibliográfico sobre turismo de saúde, privilegiando a dimensão estética, entrevistar gestores de clínicas renomadas da cidade do Rio de Janeiro e analisar os relatos dos entrevistados, verificando a relação com o desenvolvimento do turismo de saúde. Para ajudar na compreensão do tema, o seguinte estudo foi encaminhado através de uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória. Para atingir os objetivos propostos, foram levantados, em um primeiro momento, dados e 14 informações sobre as clínicas cariocas especializadas em cirurgia plástica, a partir de uma pesquisa bibliográfica, por meio virtual e impresso. Posteriormente, foram realizadas duas entrevistas com roteiros semi-estruturados com representantes da Clínica Ivo Pitanguy e Hospital das Plásticas, ambas localizadas no bairro Botafogo, Zona Sul da cidade. A partir da coleta e organização das informações, a pesquisa apontou dados sobre o crescente fluxo de pacientes estrangeiros que chegam ao país em busca de tratamentos estéticos, o pouco interesse por parte dos gestores de saúde em relação ao turismo, a divergência de opiniões entre os gestores de saúde a respeito de parcerias entre eles e gestores do turismo e a incipiência de estudos relacionados com o tema. Sendo assim, pretende-se contribuir para futuras pesquisas sobre turismo de estética na cidade do Rio de Janeiro, facilitando o entendimento do tema pelos gestores, além de melhor recepcionar os pacientesturistas, fazendo com que as clínicas e hospitais tenham mais segurança em lidar com esse público. O presente estudo está estruturado em 6 (seis) partes, sendo esta a primeira, a introdução do trabalho. O capítulo 2 (dois) refere-se a uma abordagem teórica sobre o tema turismo de saúde, sendo apresentados conceitos e ideias de autores já conceituados na área. São feitas considerações sobre acreditação de instiruições, ética no turismo, contexto histórico e turismo médico (sub-segmento do turismo de saúde). O capítulo 3 (três) faz uma abordagem específica a respeito do turismo de estética, foco principal deste trabalho. É apresentada a história desse segmento do turismo, a fim de melhor compreensão. Para inclusão do tema na atualidade, são apresentados dados recentes de reportagens e estudos sobre turismo e saúde, além de situá-los na cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente é apresentada a clínica e hospital onde as entrevistas foram realizadas. No capítulo 4 (quatro) é explicada a metodologia da pesquisa, tanto da análise bibliográfica quanto das entrevistas realizadas em campo. Já no capítulo 5 (cinco) são apresentados os resultados da pesquisa descrita no capítulo anterior. E, por fim, todo o estudo leva a constituição das considerações final, tendo este como o último capítulo. 15 2 SEGMENTAÇÃO DO TURISMO DE SAÚDE Os avanços tecnológicos nos meios de transportes e comunicação, no final do século XX permitiram o crescimento do turismo mundial. Com o encurtamento da distância e a facilidade em produzir e difundir informações, novos destinos se formaram e os existentes se consolidaram. A globalização facilitou o deslocamento de pessoas para diferentes partes do mundo. Com isso, o mercado turístico cresceu, recebendo relevantes investimentos para o desenvolvimento do setor, além de contribuir para a formação de novos segmentos turísticos (BENI, 2003). Segundo o Ministério do Turismo - (BRASIL, 2010, p.7), [...] em um mundo globalizado, onde se diferenciar adquire importância a cada dia, os turistas exigem, cada vez mais, roteiros turísticos que se adaptem às suas necessidades, sua situação pessoal, seus desejos e preferências. O Ministério adota essas tendências de consumo como oportunidades de valorizar a diversidade do Brasil. A segmentação do mercado turístico pode ser analisada a partir da demanda ou da oferta. Segmentar a demanda significa agrupar pessoas que apresentam características, motivações e necessidades parecidas, que tendem a consumir produtos que se adéquam ao perfil analisado. Por sua vez, a segmentação da oferta seria combinar os elementos da oferta turística de um local, de modo a formar produtos turísticos singulares que atenda às expectativas de um perfil da demanda. A permanente busca de novos produtos turísticos pelos consumidores tem levado a certas mudanças nas estratégias de planejamento, gestão e promoção do turismo, privilegiando a segmentação da oferta de produtos turísticos. Sendo assim, aumenta, cada vez mais, a criação e oferta de produtos direcionados para demandas específicas, visando oferecer diferentes experiências para os visitantes (BRASIL, 2010). Sendo assim, a segmentação é importante para a elaboração de produtos e políticas públicas específicas para uma determinada demanda. É importante ressaltar que a segmentação do turismo pode ser analisada a partir de diferentes e inúmeras variáveis. Analisando o turismo a partir da variável meio de transportes, por exemplo, encontram-se categorias, como náutico, aéreo, rodoviário, ferroviário, marítimo ou fluvial. Outro critério de segmentação pode ser a 16 análise a partir das motivações, importante para o presente estudo. As pessoas podem viajar para se divertir, por motivos profissionais, para visitar amigos e parentes, realizar tratamentos de saúde, entre outros. Para o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), segmentar o turismo é mais do que alojar produtos e serviços turísticos semelhantes para uma mesma demanda. É conhecer o comportamento do turista em um todo, planejando “estratégias e ações com o objetivo de promover uma posição competitiva do destino junto aos nichos de mercado que se deseja” (BRASIL, 2010, p.11). Assim, haverá uma melhor profissionalização e aperfeiçoamento da atividade turística oferecida. A partir dessas motivações, um lugar pode procurar desenvolver um ou mais segmentos, conforme possibilidades de combinar sua oferta turística. Esta questão pode ser ilustrada, citando os diferentes tipos de turismo: de lazer, negócio, ecoturismo, religioso, gastronômico, de saúde, de pesca, entre outros. Esse trabalho acadêmico dará foco ao turismo de saúde, mais especificamente o voltado para tratamentos estéticos. A figura 1, adaptada de Licínio Cunha (2006), mostra a segmentação do Turismo, onde o Turismo de Saúde é subsegmentado em médico e bem-estar. O subsegmento de turismo médico pode envolver medidas cirúrgicas e não cirúrgicas. No segundo caso, utiliza equipamentos de saúde semelhantes ao do turismo de saúde bem-estar. No caso do turismo de estética, precisa da intervenção de um médico e, muitas vezes, cirurgias. Figura 1: Motivação do Turista Fonte: Licínio Cunha (2006, p.83) (adaptado pela autora) 17 Percebe-se, com isso, que a demanda de turistas específicos para o turismo de saúde é diferenciada dos demais segmentos turísticos. A partir disso, podem-se entender melhor os desejos e expectativas dos viajantes, melhorando o atendimento e a prestação de serviços, 2.1 TURISMO DE SAÚDE Para Ruiz-de-Chavez et al (1994, apud MATOS, 2011, p.17) “o turismo e a saúde são dois conceitos estreitamente relacionados, ambos incidem diretamente no desenvolvimento econômico dos países e são parte importante da política social a cargo dos governos”. Já de acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010, p.15), o “Turismo de Saúde constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos”. Para Silva (1994), o Turismo de Saúde são atividades realizadas pelas pessoas que procuram meios de manutenção ou bom funcionamento de seus físicos e/ou saúde mental. A cartilha “Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo” do Ministério do Turismo (REGULES et al, 2007, p.56) relata que: Turismo de saúde é toda a atividade praticada na procura da conservação ou obtenção de bem-estar físico e mental. Essa modalidade se caracteriza pelo deslocamento e utilização de serviços turísticos associados à cura. Outra particularidade relevante é que se trata de um turismo que não sofre com a sazonalidade, podendo ser praticado o ano todo. Para o Ministério do Turismo, existem algumas terminologias que podem ser utilizadas como sinônimos de turismo de saúde: “turismo hidrotermal, turismo hidromineral, turismo hidroterápico, turismo termal, turismo de bem-estar, turismo de águas, turismo medicinal, turismo médico-hospitalar, entre outros” (BRASIL, 2010, p.15). Entretanto, algumas delas, podem ser utilizadas como sub-segmentos do Turismo de Saúde, como será visto nesse trabalho. O deslocamento de pessoas para outras localidades, com a finalidade de tratamentos e recuperação da saúde não é algo recente. O que ocorre é que 18 atualmente o turismo de saúde vem ganhando mais espaço nas questões sobre o desenvolvimento econômico de uma região, com base na atividade turística. Dentro do segmento de turismo da saúde há os subsegmentos, que consistem em pequenos grupos que caracterizam ainda mais o Turismo de Saúde. Desta forma, o segmento de saúde pode ser dividido em termalismo, talassoterapia, climatismo, recuperação da forma, turismo médico e turismo estético (FERNANDES; FENANDES, 2011). O Turismo de Saúde é comumente confundido com Saúde do Viajante. Esse segundo, no entanto, refere-se a “uma área que trata dos riscos, individuais e coletivos, ocasionados pela movimentação de pessoas e por sua interação com diversos ambientes”, segundo Matos (2010; p.1). Essa área tem importância dentro do Turismo, pois a estrutura da atividade turística está diretamente relacionada com a interação das atividades humanas. Os estudos nessa área são, ainda, restritos a algumas recomendações médicas sobre como proceder em localidades com risco de contaminação de certas doenças. O uso de recursos naturais para efeitos terapêuticos é o que define, basicamente, o Termalismo. O termo é usado, de maneira genérica, para designar o emprego de águas minerais em estâncias naturais com o fim curativo (SILVA; BARREIRA, 1994). O termo “estância” é utilizado pelo Governo do Estado de São Paulo1 para caracterizar os municípios com perfis semelhantes. São quatro categorias de estâncias: Turística, Hidrominerais, Climáticas e Balneárias. Atualmente são 67 municípios paulistas cadastrados, que contam com o auxílio do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias (DADE) (FONSECA FILHO, 2007). Segundo o Ministério da Saúde (2008), o Termalismo deve ser empregado de maneira complementar aos outros tratamentos de saúde, principalmente por que o Brasil dispõe de recursos naturais ao seu desenvolvimento. O perfil das estâncias está mudando com o passar do tempo. Antigamente, os frequentadores mais comuns era um público de meia-idade ou idade avançada. Atualmente, “as famílias também passaram a frequentar as estâncias e, com a tendência dos tratamentos preventivos, o público jovem é cada vez mais frequente nesses espaços” (REGULES et al, 2007, p.56). 1 Link para a página do Governo de São Paulo sobre o Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias (DADE): <http://www.turismo.sp.gov.br/dade/o-que-e-o-dade.html>. 19 A Talassoterapia pode ser confundida com o tratamento por águas termais, porém utiliza a “água do mar além de outros recursos naturais (climas, maresia, ondas, sol, areia, algas, lamas etc.) para fins profiláticos e terapêuticos” (BRASIL, 2010, p.22). De acordo com Fernandes e Fernandes (2011), esse tratamento tem por finalidades a prevenção e regeneração de doenças, pois a água do mar é suavizadora de diversas doenças e atenua o envelhecimento. Outra modalidade de turismo de saúde é a Climaterapia: exposição a diferentes condições climáticas (calor, frio, umidade, luz, ar), estimulando naturalmente o organismo e promovendo a capacidade de autocura do paciente. Essa ativação do metabolismo ajuda no sistema cardiovascular, respiratório e nervoso. Muitos lugares ficaram conhecidos pelo seu clima mais ameno e propício para a cura de certas doenças, principalmente as respiratórias. É o caso de Campos do Jordão, em São Paulo, que é conhecida como a Suíça Brasileira pelo seu clima (PAULO FILHO, 2012). Outras cidades, como Águas de São Pedro, igualmente localizada em São Paulo, não só possui um clima favorável, como também possui águas medicinais. Nesse caso, a cidade é uma estância Hidrotermal. (FONSECA FILHO, 2007). Já os spas são conhecidos pela procura para a recuperação da forma, mas também são instalações (centros ou clínicas) que prestam serviços à saúde física e mental, a partir de tratamentos feitos pelas propriedades terapêuticas da água com o objetivo de prevenção, cura, reabilitação, fitness e/ou beleza (FERNANDES; FERNANDES, 2011). De acordo com Silva (in REGULES et al, 2007), os spas, hoje em dia, têm como característica principal oferecer toda a infraestrutura de serviços sofisticados e tratamentos relacionados à “perda de peso, alívio do estresse, rejuvenescimento, desintoxicação e melhora da aparência estética” (p.57). Esses “hotéis de luxo” foram criados para atender a uma demanda de turistas que, além do relaxamento e do lazer, procuram tratamentos medicinais. De acordo com Ann Dis (2002), os spas tiveram origem na cidade belga chamada Spa, ainda no século XIV, quando uma terma de água curativa foi descoberta. Dis (2002) também associa o nome à expressão latina spagere, (umedecer), ou, até mesmo, ao acrônimo para a frase em latim sanitas per aquas (saúde através da água). Os spas, entretanto, sofreram algumas transformações ao longo dos anos. O início se deu através das águas termais curativas, a fim de lazer e 20 relaxamento e seu perfil, hoje em dia, está associado à estética e dietas, especialmente no Brasil (DIS, 2002). Sendo assim, oferecem “uma dieta balanceada, programas de esportes e recreação, tratamentos corporais, massagens, salas de banho, salão de beleza, palestras relacionadas à saúde, venda de produtos naturais, etc” (REGULES et al,, 2007, p.57). Para tal, dependem de outros fatores, como a temperatura, a pressão e a composição química das águas. Os tratamentos de hidroterapia estão associados a outros, como massagens, dietas (nutriterapia), músicas ambientes (musicoterapia), aromas (aromoterapia), entre outros, criando uma perspectiva do bem-estar integral (corpo, mente e espírito) (FERNANDES; FERNANDES, 2011). De acordo com Hall (2011), os turistas de saúde necessitam dos mesmos requisitos médicos que os moradores locais, sendo que, como aumentam o número de pacientes em tratamento, deve haver uma reorganização da saúde local para atender à demanda. Além do mais, qualquer tipo de turista carrega em sua bagagem seus costumes, cultura, tecnologia, mas também um grande risco de bioseguridade, devido às doenças dos locais de origem, comida, roupas, hábitos higiênicos entre outros (WILSON, 1995; HALL, 2005 apud HALL, 2011). O Turismo de Saúde é, portanto, um segmento do turismo que engloba os tratamentos relacionados à saúde física e psicológica, utilizando tanto os equipamentos turísticos, quanto os de saúde. 2.1.1 Acreditação das instituições de saúde Ao realizar um tratamento de saúde, o paciente deve saber se o hospital, clínica ou consultório está de acordo com as regras de prestação de serviço e vigilância sanitária. Para mensurar o grau de qualidade de uma instituição de saúde foi criada o Sistema Brasileiro de Acreditação (SBA). O SBA é coordenado pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), uma organização não governamental com atuação nacional que conta para a regulamentação e vistoria com o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A ONA tem como objetivo a acreditação de instituições de saúde através das Instituições Acreditadoras. 21 Segundo Gastal et al (2004, p.1), acreditação é “um sistema de avaliação e certificação da qualidade de serviços de saúde, voluntário, periódico e reservado”. As Instituições Acreditadoras são organizações de direito privado, com ou sem fins lucrativos, credenciadas pela ONA, com a responsabilidade de realizar a avaliação e a certificação da qualidade dos serviços de saúde, dentro das normas técnicas previstas (GASTAL, 2004). Atualmente, o Brasil conta com sete Instituições Acreditadoras Credenciadas (IACs): DNV (Det Norske Veritas); DICQ (Sistema Nacional de Acreditação Ltda); FCAV (Fundação Carlos Alberto Vanzolini); GL (Germanischer Lloyd Certification); IAHCS (Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde); IPASS (Instituto Paranaense de Acreditação de Serviços em Saúde); e IQG (Instituto Qualisa de Gestão) (ONA; 2012). Segundo o site oficial da ONA, a Organização alcançou em 2012 a marca de 300 certificações válidas em todo o Brasil. São instituições de 19 estados brasileiros e São Paulo é o que apresenta maior quantidade de instituições de saúde certificadas (ONA, 2012). A região Sudeste detém a maior parte das certificações (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, são os três primeiros lugares, respectivamente), seguida pela região Sul. O estado do Rio de Janeiro conta com 17 instituições (ONA, 2012). Para uma instituição, a acreditação serve como uma forma de credibilidade, garantindo a qualidade dos serviços prestados ao paciente e diminuindo os riscos à saúde. Para o paciente, é uma forma de estar seguro do serviço que será realizado, principalmente por que está relacionado à sua saúde (FERNANDES; FERNANDES, 2011). Mensurar a qualidade de um serviço é difícil, pois ele não é tangível e as pessoas têm opiniões diferentes. A acreditação de uma instituição é uma forma de tangibilizar o serviço e padronizar o atendimento. 2.1.2 Ética no Turismo de Saúde A ética é um conjunto de deveres, normas, princípios e regras de conduta que fazem parte indissociavelmente de uma atividade (FERNANDES; FERNANDES, 22 2011). Para que ela seja cumprida, são aprovados códigos específicos para cada uma dessas atividades. Por se tratar de uma atividade multidisciplinar, o turismo de saúde é regido tanto pela ética do turismo, exposta no Código Mundial de Ética no Turismo, quanto pela ética da saúde, encontrada no Código de Ética Médica. O Código Mundial de Ética no Turismo (CMET)2 foi criado pela Organização Mundial do Turismo (WTO, no original em inglês) e tem por finalidade a promoção do turismo responsável e sustentável, de forma acessível a todas as pessoas, levando em consideração que qualquer indivíduo tem o direito de utilizar o seu tempo livre em lazer ou viagens. O Código de Ética estimula os deslocamentos por motivo de saúde, religião, educação e intercâmbio cultural, pois os consideram como “formas particularmente interessantes de turismo que merecem ser encorajadas” (CMET, p.6). Entretanto, a maior parte das referências à saúde está relacionada à saúde do viajante e precauções em relação a lugares propensos a epidemias. O Código de Ética Médica (CEM)3 foi criado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e contém as normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício de sua profissão, independentemente da função ou cargo que ocupem. As organizações de prestação de serviços médicos também estão sujeitas às normas do Código. O CEM não menciona o tratamento de pacientes que sejam provenientes de outras cidades ou países, porém, faz referência ao fato de que o agente de saúde não deve ter preconceito à pessoa que será tratada. Além do mais, o médico deve exercer sua função com autonomia, salvo em casos prejudiciais ao paciente (Art. 7° - CEM), não pode utilizar a medicina como forma de comércio (Art. 9° - CEM) e deve respeitar todos aqueles que trabalhem na área de saúde, independentemente de seu cargo (Art. 18° - CEM). O grande impasse atual a respeito da ética no turismo de saúde é exposto por Rothenberg (2010) como a saúde pública de alguns países sofrendo com o turismo de saúde. Ele afirma que alguns governos estão sacrificando alguns setores da saúde pública, particularmente das camadas mais pobres da população e do setor 2 Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/novocodigo/legislacao.asp>. Acesso em: Acesso em 24 abr. 2012. 3 Disponível em: <http://ethics.unwto.org/en/content/global-code-ethics-tourism>. Acesso em 24 abr. 2012. 23 rural, em função de facilitar a ida dos turistas estrangeiros aos seus países cuidar das suas saúdes. Rothenberg (2010) diz, ainda, que essa atitude é antiética por parte dos governantes, pois é dever deles levar a saúde a toda a população. Entretanto, também diz que seguir a ética é uma opção do setor de saúde e da população, pois a opinião acerca dos benefícios do turismo de saúde pode mudar. No turismo em geral, a qualidade, a excelência, a segurança e a ética estão indissociavelmente associadas, sendo sinônimos de qualidade no atendimento de serviços (FERNANDES; FERNANDES, 2011). No turismo de saúde, em especial, os serviços devem inspirar confiança nos pacientes, pois os prestadores estão lidando com a saúde de outra pessoa. A ética se torna uma forma de proteção ao turista e um atributo de qualidade. 2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO TURISMO DE SAÚDE A preocupação com a saúde não é algo recente. A busca por cura de males que afligiam às pessoas já existia na idade da Pedra, segundo Moraes et al (2004). Com o passar do tempo, novos métodos de tratamento foram sendo descobertos e, hoje em dia, os melhores médicos são reconhecidos no mundo todo e atraem um grande fluxo de turistas que procuram por seus tratamentos de saúde. 2.2.1 A medicina desde os tempos antigos A preocupação com doenças e males é algo tão antigo quanto à condição humana. As pessoas sempre procuraram curandeiros, ervas e plantas que pudessem de alguma forma, ajudar em suas saúdes. O poder de cura era passado de geração em geração pela tradição oral (MORAES et al, 2004). Os homens da Idade da Pedra, segundo Moraes et al (2004), já haviam identificado algumas funções e órgãos vitais do organismo e já utilizavam técnicas para facilitar o parto, realizavam cirurgias, trepanações (abertura do crânio para retirada de tumores e sucção de líquidos) e participavam de rituais místicos realizados por feiticeiros-médicos. Ainda segundo Moraes et al (2004), foram encontrados crânios pré-históricos com sinais de incisões cirúrgicas, realizadas com 24 o paciente ainda vivos. Foram descobertos, também, sinais de que muitos desses pacientes sobreviveram à cirurgia, morrendo tempos depois por outros motivos. O principal medicamento dessa época, entretanto, era a água. O seu uso para tratamento de males, de acordo com Silva e Barreira, (1994), remonta aos homens primitivos, que descobriram quando lavadas, suas feridas e machucados cicatrizavam de maneira mais rápida. Na Idade Antiga, os banhos foram utilizados como forma de prevenção de doenças e utilizavam águas minerais. Sendo assim, percebe-se que a saúde sempre foi uma preocupação da humanidade. Entretanto, com o passar das eras, essa preocupação passa da recuperação para a prevenção. Com a expansão da economia do Mediterrâneo, a cultura e os ensinamentos dessa região foram difundidos por todo o mundo. Algumas civilizações arcaicas tinham grande influência sobre a região da Europa, como as civilizações do Norte da África (Egito) e Ásia ocidental (Mesopotâmia). Os conhecimentos médicos da época eram escritos em papiros e seu conteúdo continha: [...] diagnósticos, tratamentos, prognósticos já estabelecidos; conhecimento exato de muitas afecções de causa visível; aplicação de conhecimentos práticos eficazes associados à magia e a encantamentos (MORAES et al, 2004). Os primeiros deslocamentos para a busca por tratamentos de saúde remontam às civilizações antigas, que utilizavam águas medicinais, principalmente sobre a forma de banhos, para curas de doenças. Hammerl e Oliveira (2007) afirmam que o Turismo de Saúde, como o conhecemos hoje, começou com as Termas em Roma, quando as pessoas viajavam para se curarem com águas termais e utilizavam de certos equipamentos turísticos, com a concepção parecida com a dos atuais, como meios de transporte, meios de hospedagem, entre outros. Eram comuns as viagens realizadas por grupos de pessoas que procuravam por tratamentos nessas águas, principalmente quando seus lugares de origens não possuíam termas. Estas, então, foram ganhando força, tanto para sua forma de tratamento como de repouso. Os gregos e romanos são os povos com termas mais populares, apesar de serem conhecidas, também, termas no Egito, Índia e terras árabes (FERNANDES; FERNANDES, 2011). 25 Os famosos banhos públicos eram presentes em quase todas as cidades, e somente os homens ricos podiam frequenta-los. Muitas casas de banho possuíam um sofisticado sistema de aquecimento e algumas utilizavam, também, as propriedades medicinais das águas minerais. A expressão Termalismo, referente ao uso das termas, teve origem na região de Roma, durante o auge do período termal (SILVA; BARREIRA, 1994). As propriedades terapêuticas da água foram tendo seu declínio com a queda do Império Romano do Ocidente e a chegada da Idade Média. Os deslocamentos de pessoas durante esse período não tiveram como finalidade a saúde e bem-estar. Estavam ligados às expansões e Cruzadas promovidas pela Igreja Católica, que teve grande influência na época Medieval. Entre os Séculos V e XV, a doutrina católica imperou nos feudos, fazendo com que o pensamento fosse voltado para a religião e ensinamentos bíblicos (SCHMIDT, 2001). A Igreja Católica baniu as casas de banhos, alegando serem espaços pecaminosos e de perversão. A limpeza espiritual era mais importante que a limpeza física (FERNANDES; FERNANDES, 2011). As pragas e epidemias que assolaram essa época também colaboraram para que o uso de banhos públicos fosse abandonado (SILVA; BARREIRA, 1994). No Século XVI, com a Renascença, intensificou-se o movimento de produção artística e científica, apreciando a razão e natureza, valorizando o ser humano e seus pensamentos. Mudanças nos hábitos e costumes possibilitaram o retorno do Termalismo (SILVA; BARREIRA, 1994). Houve, também, grande progresso na medicina e anatomia, colocando um novo olhar sobre a saúde. Assim, a procura por termas e águas medicinais, principalmente pelo fato de os estudos médicos usarem fontes antigas com bases gregas e romanas, volta a fazer parte do cotidiano das pessoas (ALVES, 2009). Já nos séculos XVII e XVIII, os reis frequentavam as termas com suas comitivas, fortalecendo o redescobrimento das termas. Como usavam apenas uma parte do dia para se banharem, restava tempo para o desenvolvimento de outras atividades. Segundo Silva e Barreira (1994, p.15), “criaram-se opções de entretenimento que não tinham necessariamente alguma ligação com o aspecto medicinal” e instalaram-se na região teatros, casas de ópera, cassinos, pistas de corrida, livrarias, salões de baile, etc., fortalecendo o turismo a essas áreas (SILVA; BARREIRA, 1994). 26 No Brasil, os índios já utilizavam a água para diversos tratamentos, mas as primeiras fontes de água natural foram encontradas a partir do século XVIII e foram introduzidas “junto com a colonização portuguesa, que trouxe ao País seus hábitos de usar águas minerais para tratamento de saúde” (MTur, 2008, p.6). Muitas águas possuíam gosto e odores diferentes, o que as diferenciavam das águas comuns. As águas que “brotavam” dos solos traziam consigo minerais que amenizavam sintomas de algumas doenças (MTur, 2010). Os donos das terras onde as fontes se encontravam começaram, então, a comercializar seu produto, criando um aspecto comercial para a atividade. A partir do século XIX, a instalação de ferrovias impulsionou ainda mais o deslocamento por tratamentos com águas termais, pois facilitou o acesso às fontes naturais. O avanço da ciência também ajudou, pois comprovou as propriedades medicinais das águas (BRASIL, 2010). Com a crescente demanda pelas termas, foram sendo criados equipamentos para receber esses viajantes, como hospedarias, alimentação, transporte. Nasce, assim, o Turismo de Saúde. Villar (2004) afirma que há um grande avanço da medicina nos séculos XVIII, XIX e início do XX, devido às muitas epidemias e enfermidades da época. Com a Segunda Guerra Mundial, houve um avanço da indústria farmacêutica, começando a era dos antibióticos e corticoides. O efeito rápido de medicamentos fez com que a terapia com águas fosse, novamente, decaindo (SILVA; BARREIRA, 1994). De acordo com o Ministério do Turismo, com esse avanço na medicina aumentou o interesse das pessoas nessas novas formas de cura. Houve, então, uma busca por “centros urbanos, dotados de instalações e avançados equipamentos médicohospitalares” (BRASIL, 2010, p.14). Por outro lado, o progresso também trouxe o chamado “estresse urbano” ao cenário social. Este, somado à crescente valorização da estética levou as pessoas, segundo o Ministério do Turismo, a procurarem por tratamentos anti-estresse e estéticos. Há a volta dos tratamentos com águas termais, a procura por balneários e o surgimento de spas e hotéis de lazer, com produtos e serviços específicos para esse público. 27 2.2.2 A saúde moderna: busca por tratamentos eficientes Hoje em dia, a prática do Turismo de Saúde é diferente dos tempos antigos. O deslocamento para tratamentos deixou de ser excepcionalmente para a cura de doenças, mas também para descanso e relaxamento (cura da mente cansada) e estética (tratamentos de beleza com ou sem cirurgias). De acordo com Silva e Barreira (1994) há, também, uma preocupação com a manutenção e prevenção de doenças, o que influencia as pessoas a procurarem por destinos com melhores médicos e tratamentos. Alguns destinos foram entrando em declínio, enquanto outros foram sendo consolidados, pois oferecem novos tratamentos e criam diferenciais atrativos aos olhos dos turistas. A saúde é algo muito importante para ser arriscada por um profissional inexperiente ou por um hospital que não seja adequado às normas de higiene e segurança. Cada vez mais as pessoas buscam por melhores tratamentos, mesmo que sejam em outros países. Segundo Godoi (2009, p.15), os fatores que levam os pacientes a viajar por saúde são: [...] falta de um convênio ou seguro médico que custeie as despesas médicas e/ou hospitalares; inexistência de cobertura pelo convênio ou seguro médico para o procedimento solicitado; redução de custo ou economia com o procedimento; restrições do sistema de saúde local, de infraestrutura e/ou legais; conciliar turismo e tratamento médico; país ser referência internacional em determinada especialidade com intervenção de qualidade similar ou superior à local e diáspora. Com o passar do tempo, muitos países se destacaram no atendimento médico e tratamentos de saúde. O estímulo ao crescimento tem grande influência da globalização, quando o acesso à saúde e à informação ficou mais fácil. Além do mais, houve um grande avanço tecnológico no mundo moderno, que fez com que a cura e soluções de problemas tivessem que ser mais rápidas (GODOI, 2009). O que mais estimula o crescimento do turismo médico mundial, hoje em dia, são as alterações na tecnologia, no comportamento e na demografia. Ou seja, há muitas inovações tecnológicas, que tornam a busca por serviços mais rápida e eficiente e o risco de intervenções cirúrgicas menores; a mudança na mentalidade das pessoas, que buscam serviços médicos melhores e em vista da prevenção de 28 doenças e o envelhecimento da população, que teve a necessidade maior por serviços de saúde, além da longevidade e a busca por melhor qualidade de vida. O turismo de saúde passou a ser mais do que o deslocamento de pessoas em busca de médicos, pois há a “possibilidade de envolvimento do paciente em alguma atividade turística, cultural ou de lazer durante o tratamento” (GODOI, 2009, p.17), conciliando necessidade com prazer, conhecimento e experiências culturais. Conforme explicado por Godoi (2010, p.1), o turismo de saúde: “pode ser entendido simplesmente como o deslocamento de pessoas entre países em busca de tratamento médico a um custo menor sem abrir mão da segurança e da qualidade do serviço médico prestado”. Vários fatores contribuíram para o desenvolvimento do turismo de saúde. Com base em Bolis (2001; apud FROZÉ; GIANOTTI; GIANOTTI, 2010), as razões para as pessoas buscarem serviços de saúde no exterior são: a falta de serviços no país de origem, baixo custo e boa qualidade nos países pouco desenvolvidos, sentimento de segurança de pessoas residentes no exterior, regressando ao seu país de origem para receber tratamentos médicos e integração regional, que promove facilidade das pessoas em transladar de um lugar para o outro. Segundo Fernandes e Fernandes (2011), os países receptores que mais atraem turistas para tratamentos médicos são: África do Sul, Brasil, Chile, Colômbia Coréia do Sul, Costa Rica, Cuba, Dubai, El Salvador, Filipinas, Guatemala, Hungria, Índia, Israel, Jordânia, Malásia, México, Panamá, Singapura, Tailândia, Tunísia, Turquia e Vietnã. Os procedimentos médicos mais procurados no mundo são, de acordo com Godoi (2009), os de ortodontia, cirurgia plástica, ortopedia e cirurgia cardiovascular. A medicina do bem-estar também está em alta, como uma alternativa aos tratamentos que tenham intervenções médicas. A indústria de turismo médico movimenta US$ 40 bilhões em cirurgias, como cardíaca e plástica, e em tratamentos como dentário e de fertilidade, de acordo com a reportagem da Natália Paiva do jornal Folha de São Paulo4. Segundo a reportagem “Recife discutirá turismo de saúde”5, a cidade com maior fluxo de turistas de saúde é São Paulo, seguida por Recife e Rio de Janeiro. O país está investido, cada vez mais, em tecnologias para as cirurgias e na 4Folha de São Paulo, São Paulo, Turismo médico mundial gira US$ 40 bilhões, 21/02/2012. 5 Jornal do Commércio, Pernambuco, Recife discutirá turismo de saúde, 01/09/2011. 29 capacitação de profissionais da área de saúde. Segundo dados do Ministério do Turismo (BRASIL, 2011), esse segmento atrai cerca de 31 mil pacientes por ano ao Brasil. Com a globalização, ficou mais fácil para os países em desenvolvimento terem uma tecnologia e profissionais no mesmo nível de qualidade do que os dos países desenvolvidos. Há um aumento na pesquisa médica dos países do terceiro mundo, por conta dessa demanda em crescimento. As que estão em alta são cirurgia bariátrica e tratamento com células-tronco (PAIVA, 2012). Segundo, ainda, a reportagem de Natália Paiva6, Cingapura contou com um apoio em larga escala de agências estatais para se tornar um dos principais centros de diagnóstico avançado. Mesmo assim, seus hospitais mais caros chegam a cobrar até 40% menos que os dos Estados Unidos. A Coreia do Sul teve um aumento de 8.000 pacientes estrangeiros para 82 mil de 2009 para cá e ainda pretende chegar a 300 mil até 2015. Oferece cirurgia robótica e terapia de proton beam para tratar câncer por radiação a "preços acessíveis". A reportagem completa dizendo que por ano são 6 (seis) milhões de viajantes em busca de tratamentos de saúde e que a maior parte desses estrangeiros provém dos Estados Unidos, onde os serviços médicos são um dos mais caros do mundo, tendo, ainda, muitas pessoas sem seguros ou subseguradas. O Brasil vem se destacando no turismo médico internacional, não somente pelos preços baixos, mas também pela qualidade no atendimento. A figura abaixo (Figura 2) mostra que os países de terceiro mundo vêm ganhando força no turismo médico internacional, pois oferecem preços mais competitivos em relação aos Estados Unidos. 6 Folha de São Paulo, São Paulo, Turismo médico mundial gira US$ 40 bilhões, 21/02/2012. 30 Figura 2: Pelo Mundo: principais destinos e tratamentos dos “pacientes-turistas” Fonte: Folha Online, 2012. Com o crescimento que o Brasil vem tendo com o turismo de estética, não é difícil encontrar empresas especializadas em trazer pacientes de outros países para se tratarem nas clínicas e hospitais brasileiros. É o caso da SPHERA Internacional, uma empresa que lida com os trâmites burocráticos para que o paciente possa ser tratado me outro país. A SPHERA Internacional afirma em seu sítio eletrônico7 que o Brasil está se destacando na saúde, por sua tecnologia, dedicação e competência nos setores de cirurgia plástica, cirurgia para redução de peso, tratamentos odontológicos, ortopedia, dermatologia, implante capilar, medicina esportiva, procedimentos de reabilitação, check-ups completos. Além disso, mostra em sua página que o Brasil é perfeito para a prática do turismo, com muitas possibilidades de lazer, descanso e cultura, alegando que o paciente e sua família poderão ter uma temporada agradável, enquanto cuidam da saúde. A Universidade de Montreal realizou um estudo sobre o turismo de saúde na América Latina, divulgado pelo jornal Developing World Bioethics. De acordo com o pesquisador Williams-Jones, a última década foi marcada por um boom de clínicas 7 SPHERA INTERNACIONAL. Disponível em: <http://www.brazilmedicaltourism.com/>. Acesso em 28 abr. 2012. 31 de fertilidade privadas nos países em desenvolvimento. O principal atrativo desses lugares é justamente o preço mais baixo. Além do mais, as clínicas divulgam um pacote completo: preços fixos, hospedagem, traslados, intérpretes e tratamentos de fertilidade (UNIVERSIDADE DE MONTREAL, 2009). Williams-Jones continua, dizendo que os países com maior envolvimento na área de fertilidade são, ainda, a Índia e a Polônia, mas já encontram concorrência no mercado latino-americano. Países como Brasil, Chile, México e Argentina já estão virando o alvo de pacientes da América do Norte e Europa. A principal via de informação é a Internet (UNIVERSIDADE DE MONTREAL, 2009). Em vista desse grande crescimento do turismo de saúde, os hospitais e clínicas enfrentam uma concorrência que não existia anos atrás. Há, então, uma tendência sobre o Turismo de Saúde: uma maior preocupação com a Hotelaria Hospitalar, pois, segundo Taraboulsi (2009; p.2) é: “uma tendência que veio para livrar os hospitais da ‘cara de hospital’ e que traz em sua essência uma proposta de adaptação a nova realidade do mercado, modificando e introduzindo novos processos, serviços e condutas”. Essa nova compreensão dos serviços hospitalares veio a partir do reconhecimento de alguns gestores sobre quem é realmente o cliente de saúde: pessoas enfermas, familiares, acompanhantes e visitantes. Segundo Taraboulsi (2009), esse cliente se difere do hospitalar, pois, em muitos casos, não está doente, como o paciente que busca uma cirurgia estética, por exemplo. Uma mudança que o aumento da demanda por serviços médicos trouxe foram as novas oportunidades de negócios ligados ao atendimento de um cliente de serviços. Atender a esse tipo de cliente traz implicações próprias, pois se trata de um produto intangível e com consequências diretas ao cliente, por se tratar se sua saúde. Para isso, são necessários equipamentos próprios voltados para a saúde, além da adaptação de outros para o turista de saúde. Essa mudança impacta no desenvolvimento econômico do país e na distribuição de renda (GODOI, 2009). 32 2.3 TURISMO MÉDICO O Turismo Médico envolve as práticas de tratamentos curativos, baseados em cirurgias, transplantes e tratamentos de saúde que necessitem da intervenção de um médico especializado e conceituado, além de uma infraestrutura própria adequada, com clínicas e hospitais que prestem os cuidados necessários ao paciente (FERNANDES; FERNANDES, 2011). Godoi (2009, p.14) afirma que o Turismo Médico pode ser definido como: [...] a viagem de uma pessoa a outro país em busca de tratamento, de cuidado médico ou bem-estar físico, psicológico e espiritual, normalmente associado a benefícios, podendo ou não envolver atividades turísticas, culturais e de lazer. O autor completa, ainda, dizendo que o turismo médico vem sendo entendido como um conjunto de serviços com alto valor agregado, com viagens para tratamentos médicos ou recuperação da saúde. A definição que inclui a estética como uma das práticas do Turismo Médico vem do Ministério do Turismo (BRASIL, 2010, p.17): Deslocamentos motivados pela realização de tratamentos e exames diagnósticos por meio do acompanhamento de recursos humanos especializados e integrados em estruturas próprias, tendo como objetivo tanto a cura ou a amenização dos efeitos causados por diferentes patologias, como fins estéticos e terapêuticos. Hall (2009, apud HALL, 2011) traz dois conceitos das Nações Unidas e Comissão Social da Ásia e Pacífico: a diferença entre medical travel (“viagem médica”, tradução livre) e medical tourism (“turismo médico”, tradução livre). Essa “viagem médica” seria um deslocamento individual de pessoas que buscam por tratamentos médicos em outros países por não existir em seu país de origem, ou por longas filas de espera ou por simplesmente ser melhor em outro lugar. O “turismo médico” seria especificamente a tendência mundial que essas “viagens médicas” estão tendo em combinação com serviços turísticos comuns. Ou seja, para ser turismo médico, tem que utilizar equipamentos turísticos. 33 Um conceito mais simples de turismo médico é apresentado por Balaban e Marano (2010, apud HALL, 2011), alegando ser qualquer viagem com o propósito de realizar um tratamento médico. Segundo Godoi (2009), o termo “Turismo Médico” é mais conhecido pelo mundo, embora o termo “Turismo de Saúde” seja bastante empregado. No Brasil, a definição mais utilizada é a de “Turismo de Saúde”, pois é mais abrangente e relaciona-se, também, a outros tipos de tratamentos que não exigem intervenção médica. Porém, com o crescimento da medicina brasileira e a exportação cada vez maior de médicos e tratamentos, o termo “Turismo Médico” está sendo cada vez mais usado no país. Esse trabalho acadêmico terá como tema principal o Turismo de Estética, sub-segmento do Turismo de Saúde e que será abordado a seguir. 34 3 TURISMO DE ESTÉTICA O turismo de estética envolve “tratamentos profiláticos, terapêuticos ou de reabilitação, bem como de relaxamento, recuperação e beleza ou estética” (FERNANDES; FERNANDES, 2011, p.36) e deve ser considerado como “uma modalidade de turismo médico e abrange diversos tipos de tratamentos, principalmente cirurgias plásticas, muitas vezes designado turismo de bisturi” (FERNANDES; FERNANDES, 2011, p.89) Esses tratamentos podem compreender intervenções cirúrgicas, como lipoaspirações e colocações de próteses de silicone que, segundo Godoi (2009), vêm colocando o Brasil no ranking dos destinos estéticos mais procurados para a realização desses procedimentos ou, simplesmente, pode ser um tratamento simples, como aplicação de botox ou peeling facial, que vêm tendo grande crescimento no país, segundo a repostagem Plástica não invasiva se torna a mais comum8 (AGÊNCIA ESTADO, 2010). O depoimento do médico e Professor Ivo Pitanguy para o sítio eletrônico de sua clínica diz que: A busca da cirurgia plástica emana de uma finalidade transcendente. É a tentativa de harmonização do corpo com o espírito, da emoção com o racional, visando estabelecer um equilíbrio que permita ao indivíduo sentirse em harmonia com sua própria imagem e com o universo que o cerca (PITANGUY, 2012). De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS, no original em inglês), o Brasil é o terceiro país em número de cirurgias plásticas realizadas no mundo, atrás somente dos Estados Unidos e da China. O turismo de estética conta com um agravante: o tratamento tem que ser perfeito. Há um grande risco de insatisfação por parte do paciente aos resultados obtidos, já que, por se tratar da estética, o resultado deve ser perfeito. Segundo Fernandes e Fernandes (2011), os tratamentos devem ser realizados durante o período de outono ou inverno, pois as exposições ao calor e ao sol podem 8 AGÊNCIA ESTADO. Plástica não invasiva se torna a mais comum. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/08/plastica-nao-invasiva-se-torna-a-mais-comum.html>. Acesso em: 20 abr. 2012. 35 comprometer o resultado final esperado. Para isso, além de um bom diálogo anterior com o paciente, a clínica ou hospital deve contratar cirurgiões acreditados, utilizar tecnologia de ponta, estar dentro das normas da vigilância sanitária e obedecer a todos os requisitos previstos pelo conselho Federal de Medicina (CFM) (FERNANDES; FERNANDES, 2011). O Brasil vem demonstrando os seus avanços na área de saúde com médicos competentes, hospitais de primeira linha, investimentos em tecnologia e, tudo isso, a preços acessíveis. O mesmo vem acontecendo com a medicina estética. O médico e professor Ivo Pitanguy colocou o Brasil no mapa das cirurgias plásticas. O país atrai pacientes do mundo todo, em busca do “corpo brasileiro”. Entre os países que realizaram mais cirurgias plásticas, a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (ISAPS, no original em inglês) afirma que são os Estados Unidos, seguido pelo Brasil, China, Índia e Japão, respectivamente, de acordo com Fernandes e Fernandes (2011). Os autores destacam, também, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Itália, Malásia, México, Tunísia e Turquia (FERNANDES; FERNANDES, 2011). Os procedimentos mais realizados são: Lipoaspiração (remoção de gorduras), Mamoplastia (redução dos seios femininos), Blefaroplastia (levantamento das pálpebras), Rinoplastia (plástica do nariz) e Abdominoplastia (remoção de gorduras e peles do abdômen). A colocação dos países se repete no que diz respeito aos procedimentos estéticos não cirúrgicos, sendo os mais realizados: aplicação de Toxina Botulínica tipo A (Botox Dysport), injeção de ácido hialurônico (preenchimento de rugas e aumento de volume de certas áreas do corpo), injeção autóloga de gordura (enxerto de gordura), depilação a laser, tratamento Laser IPL (emissão de ondas de calor para perda de gordura) (FERNANDES; FERNANDES, 2011). O grande problema do turismo médico estético hoje em dia é a banalização das cirurgias plásticas. Um repórter do programa Fantástico, na reportagem Brasileiras se ariscam em cirurgias plásticas no Paraguai e na Bolívia9, declarou que “é cada vez maior o número de pacientes brasileiras em cirurgiões plásticos estrangeiros. O motivo são os preços baixos”. Um cirurgião boliviano chega a realizar até 10 cirurgias por dia. O médico José Horácio Aboudib, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgiões Plásticos, declarou que “não há a intenção de 9 Programa Fantástico, Rede Globo, Brasileiras se ariscam em cirurgias plásticas no Paraguai e na Bolívia, 20/11/2011. 36 oferecer um bom serviço” nesses outros países. Até porque, a paciente realiza a cirurgia e volta ao seu país de origem, não tendo mais contato com o médico10. O presidente do Conselho Federal de Medicina alerta para a conduta antiética dos médicos em geral: aceitar tudo o que o paciente diz, pois ele vai com ânsia, na vontade de realizar várias cirurgias ao mesmo tempo e, em muitos casos, nem são necessárias; fazer consulta por telefone, pois o médico não analisa o que realmente o paciente precisa; exames de última hora, pois podem não acusar algum problema sério que levará a complicações na cirurgia; oferecer serviços grandes de graça, pois todo serviço médico necessita de uma mão de obra de ajuda, como anestesistas, enfermeiros, instrumentadores, que precisam ser pagos e clínicas sem Unidade de Tratamento Intensiva (UTI), pois o paciente pode precisar com urgência de tratamento por causa de alguma complicação11. Segundo o presidente da Associação Boliviana de Cirurgiões Plásticos, o médico Marcelo Salvatierra para a reportagem do programa Fantástico12, esse tipo de turismo médico vem sustentando a economia das cidades que fazem fronteira com o Brasil e onde a fiscalização é pequena. Ele afirma, inclusive, que muitas cirurgias são realizadas por médicos que não possuem especialização em Cirurgia Plástica. Esse tipo de turismo médico sem fiscalizações e com resultados negativos não vem ocorrendo no Brasil. Médicos como o Ivo Pitanguy elevaram o status dos procedimentos estéticos que vem sendo realizados dentro do país. Por isso é comum que cada vez mais, estrangeiros e brasileiros procurem médicos brasileiros para a realização de cirurgias plásticas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o universo da plástica está presenciando a chamada “revolução dos 60”. Esse termo é usado para designar a pessoas maiores de 60 anos que estão realizando plásticas hoje em dia. Os cirurgiões afirmam que, antigamente, realizar uma cirurgia plástica em uma pessoa maior de 60 anos era perigoso, um risco. Atualmente, com o avanço da medicina e das tecnologias empregadas nas cirurgias, esse risco diminuiu muito. Há 20 anos não havia os cremes combatentes dos primeiros sinais de rugas, que hoje já são aplicados por jovens de 25 anos, nem produtos como Botox, laser e 10 Programa Fantástico, Rede Globo, Brasileiras se ariscam em cirurgias plásticas no Paraguai e na Bolívia, 20/11/2011. 11 Idem nota 10. 12 Idem nota 10. 37 preenchimentos, que suavizam a expressão dos 40 ou 50 anos. A pele da mulher moderna é mais elástica, devido aos tratamentos de beleza que estão submetidas desde sempre. Isso, somado a melhoria das condições gerais de saúde, dos hospitais e a maior quantidade de informações sobre as cirurgias, tem como resultado a diminuição significativa das complicações cirúrgicas e os resultados são mais naturais. De acordo com o Portal G1 de Notícias (2010), a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) realizou uma pesquisa13 sobre os procedimentos estéticos mais realizados e o resultado é de que os cirurgiões plásticos realizam hoje mais procedimentos não invasivos, como aplicações de Botox, colágeno e ácido hialurônico, do que cirurgias estéticas propriamente ditas. A pesquisa14 aponta o Brasil como o terceiro país em número de cirurgias plásticas realizadas no mundo, atrás somente dos Estados Unidos e da China. A ISAPS informou que não existem pesquisas anteriores para comparação de dados, mas não ignora o fato de que houve uma grande mudança no cenário da estética mundial. Segundo o médico João Carlos Sampaio Góes, ex-presidente da ISAPS, essa mudança é uma tendência que vem de anos atrás. O cirurgião plástico somente identificou uma oportunidade em um nicho de mercado que antes era ocupado apenas por dermatologistas (AGÊNCIA ESTADO, 2010). Ainda segundo a reportagem do Portal G115,o crescimento dos procedimentos estéticos não cirúrgicos se deve ao fato de que possuem um custo mais baixo em relação às cirurgias e seu uso está sendo feito por muitos pacientes jovens, que não necessitam de grandes intervenções. Enquanto o mundo tem por padrão de beleza a magreza exagerada, no Brasil as curvas estão sendo cada vez mais valorizadas16. Brasileiras e estrangeiras pagam para serem esculpidas nas mesas de cirurgia e terem seios e nádegas maiores, além de cintura e quadris, buscando o chamado corpo curvilíneo perfeito. O Brasil ser considerado como o país das mulheres bonitas e sensuais faz com que o fluxo de pacientes para realizar cirurgias plásticas aumente cada vez mais, 13 AGÊNCIA ESTADO. Plástica não invasiva se torna a mais comum. 15/08/2010. Idem nota 13. 15 Idem nota 13. 16 Roberta Jansen para O Globo online. Pela cirurgia plástica, brasileiras buscam seios e nádegas maiores. 15/08/2010. 14 38 valorizando o Turismo Estético e divulgando os avanços da medicina brasileira pelo mundo. O que mais contribui para o crescimento do turismo de estética no Brasil é a fama das mulheres brasileiras no exterior. A nação brasileira é formada por diferentes perfis genéticos (principalmente indígena e africana), o que ajudou a mulher a ter o corpo mais curvilíneo e com mais formas. Além disso, existe o fato de o Brasil ter uma grande extensão de praias e ter clima tropical faz com que muitas pessoas usem roupas pequenas e que deixem o corpo mais à mostra. Isso influencia para a busca de um corpo perfeito (GOLDENBERG, 2002). 3.1 A BUSCA PELA BELEZA: DOS ENFEITES AO BISTURI A preocupação com a beleza remonta aos tempos antigos. O ser humano sempre procurou adornos para enfeitar-se, mostrando beleza e, na maioria dos casos, seu status dentro da sociedade. Algumas práticas para a beleza incluíam modificações corporais permanentes em uma busca pelo perfeito. Desde aqueles tempos e até os dias de hoje a mulher é a que mais procura atingir a esse padrão de beleza. Há 25 mil anos o conceito de estética estava diretamente relacionado com o conceito de fertilidade. A mulher precisava ser gorda, para poder aguentar a gravidez e dar sustento ao seu filho. A reprodução mais famosa desse período é a Vênus de Willendorf, também conhecida como Mulher de Willendorf. Trata-se de uma estatueta com cerca de 14 centímetros, representando uma mulher com barriga e seis fartos (KRINOY, 2011). Em seu livro Nova História Crítica, o Professor e Historiador Mario Schmidt (2001) afirma que no período paleolítico, o homem começa a se reunir em grupos, fixando-se na terra e ficando mais sedentário. É nesse período que surgem os primeiros sinais de vaidade. O homem pré-histórico já se enfeitava, usando a pele de sua caça como uma espécie de vestimenta, não só para proteger-se do frio, mas também como uma forma de mostrar sua força e poder dentro de seu grupo. Pedaços de ossos e pedras serviam como pingentes de colares e adornos para os cabelos. Já os feiticeiros e curandeiros adornavam o corpo com pinturas “mágicas”. 39 Com a evolução do homem, surgiram as primeiras pinturas de guerras. Com o surgimento das civilizações, o homem procurou formas diferentes de se enfeitar. Surgem, assim, os produtos de maquiagem a base de carvão para os olhos, henna e outros resíduos naturais. No Egito Antigo, os homens e mulheres mais ricos utilizavam as sedas mais finas, colares de ouro e pedras preciosas, perucas e kohl, a maquiagem típica egípcia, conhecida pelos olhos bem marcados. Cleópatra mostrou que não era somente com a maquiagem que a mulher precisava se importar. A eterna rainha do Egito imortalizou seu tratamento de beleza, banhandose em leite, cobrindo as faces com argila e maquilando seus olhos com pó de kohl (PANDOLFO, 2008). Em Roma, a preocupação com a beleza se dava através do banho diário e os banhos de sol; atividades físicas; uso de maquiagem, perfumes e unguentos e as ervas mastigadas para evitar o mau hálito. Algumas mulheres usavam máscaras de farinha, miolo de pão e leite durante a noite sobre o rosto para melhorar a pele (PANDOLFO, 2008). Já na Grécia, estátuas de deuses eram criadas com proporções perfeitas, mostrando o padrão de beleza da época e deixando o bordão “deus grego” na história. Para os gregos, a aparência de seu corpo era mais importante do que a maquiagem que usavam (ULLMANN, 2005). Na China, as mulheres quebravam os pés e os dobravam, para que ficassem pequenos. Na Europa Medieval as pessoas usavam roupas que cobriam o corpo todo, com tecidos grossos e bordados (SCHMIDT, 2001). No século XV o Renascimento trouxe outro padrão de beleza para o ocidente. Vigarello (2006) comenta que ateliês ficaram repletos de pinturas de mulheres nuas, exibindo seus corpos “rechonchudos”. A beleza ideal era o oposto do que a Europa Medieval estava acostumada: saem os quadros com temas religiosos e pinturas de paisagem e entram os quadros com as mulheres belas. É nesse mesmo período que surgem os espartilhos, peças do vestuário íntimo da mulher que apertavam as cinturas, levantavam os seios e valorizavam a forma feminina. O espartilho, entretanto, era praticamente um objeto de tortura, pois dificultava a respiração e, em alguns casos, impedia a mulher de se sentar (PRIORE, 2000). Nessa intensidade de informação sobre o corpo perfeito, cresce a preocupação com a beleza. Concomitantemente, é mais aceita a preocupação com os cuidados com o corpo e o apego à estética e ao prazer. No mesmo período dos 40 quadros nus, os escritores descreviam com palavras aquilo que era belo para a época (VIGARELLO, 2006). Esse período é conturbado, pois, se por um lado a beleza e a estética estavam cada vez mais presentes no mundo ocidental, os padrões não estavam bem definidos. O culto ao corpo ainda é algo recente na sociedade e começou pelos olhares de cada um e foi passando para aquilo que os pintores e escritores colocavam como belo. Começa, então, a padronização do “belo” e da busca pela moda. No século XX houve a revolução do mundo da moda. Estilistas como Christian Dior, Coco Chanel e Yves Saint Laurent ditavam as tendências em roupa, maquiagem e acessórios. Começam os grandes desfiles e as modelos de passarela passam a ser o padrão de beleza (GARCIA, 2012). Foi também no século XX que a medicina teve um grande salto. Segundo o médico Lybio Martire Junior, da Sociedade Brasileira de História da Medicina (SBHM)17 a descoberta da anestesia geral impulsionou os estudos de cirurgias no mundo. Mas foi com a Primeira Guerra Mundial e a necessidade de cirurgias reparadoras que a Cirurgia Plástica oficializa-se como especialidade médica (alguns registros mostram que por volta de 1840 alguns transplantes de pele para reparar feridas foram bem sucedidos) (MARTIRE JUNIOR, 2005). É importante ressaltar que, dependendo da localização da civilização, o padrão de beleza é diferente por causa da cultura e costumes locais. Sendo assim, as práticas realizadas para se atingir esse padrão serão diferentes. Com o grande avanço da medicina e das cirurgias, o padrão de beleza foi sendo elevado a outro nível. Surgiram as cirurgias reparadoras e construtoras, aplicações de silicone e lipoaspirações. A busca pela beleza chegou ao nível de mudança radical na aparência das pessoas. Passou dos espartilhos para o bisturi. Segundo Martire Junior (2005), a vinda da Família Real para o Brasil em 1808 trouxe consigo o avanço nas escolas de medicina. D. João VI cria, estimulado pelo cirurgião-mor do reino de Portugal, José Maria Picanço (brasileiro de Recife formado em Lisboa), as Escolas de Cirurgia, a primeira na Bahia e a segunda no Rio de Janeiro, marcos do nascimento do ensino superior de medicina no país. 17 Médico Lybio Martire Junior; Sociedade Brasileira de História da Medicina (SBHM). Disponível em: <http://www.sbhm.org.br/> 41 A primeira clínica específica em cirurgia plástica no Brasil surge na década de 30, na cidade de São Paulo, criada por José Rebello Netto na Santa Casa de Misericórdia. No final dessa década a cirurgia plástica brasileira já era conhecida e respeitada em outros países. Em 1939 o médico argentino Ernesto Malbec procura pelo cirurgião brasileiro Antonio Prudente, sugerindo a criação de uma sociedade que congregasse especialistas em cirurgia plástica de toda a América Latina (MARTIRE JUNIOR; 2005). Surge, então, a Sociedade Latino Americana de Cirurgia Plástica, em 6 de julho de 1940, com sede em São Paulo. A cirurgia plástica brasileira começava a delinear seu papel de liderança na América Latina e a salientar-se mundialmente (MARTIRE JUNIOR; 2005). Em 1948, de acordo com Martire Junior (2005), Rebello Neto sugere a criação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, tendo 07 de Dezembro como data de fundação. E em 1949, o médico Ivo Pitanguy iniciou suas atividades no pronto socorro do Hospital Souza Aguiar e, posteriormente, em 1954 criou o serviço de Cirurgia Plástica Reparadora da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. A partir de 1950 os serviços de cirurgia plástica em hospitais nas capitais brasileiras e em outras cidades passam a se multiplicar, começando a surgir novos cirurgiões, especialistas com formação específica e dedicando-se integralmente à especialidade. A partir das décadas de 60 e 70, a cirurgia plástica brasileira já é vista como uma das melhores do mundo (MARTIRE JUNIOR; 2005). O grande boom da indústria de beleza brasileira ocorreu com a abertura do mercado na pós-ditadura militar. A transição da democracia para o neoliberalismo, de acordo com Goldenberg (2002), somada à estabilização da moeda brasileira com o Plano Real, possibilitaram o aumento das cirurgias plásticas no país. De acordo com a reportagem da revista Veja, Brasil, o império dos bisturis18, o Brasil superou os Estados Unidos como o país com maior número de cirurgias plásticas per capita do mundo. Dweck, 1999 (apud GOLDENBERG, 2002) expõe uma série de fatores que possibilitaram a explosão da indústria da beleza no mundo, tais como: mulheres ocupando postos de trabalho, competição e discriminação nos lugares de trabalho, estímulo à “vaidade” por meio da mídia e “medo de envelhecer”. 18 Daniela Pinheiro para Veja online. Brasil, Império do bisturi. 17/01/2001. 42 Seja por meio de espartilhos ou por cirurgias e métodos estéticos gerais, a preocupação pela beleza sempre esteve presente na humanidade, principalmente nas mulheres. 3.2 O TURISMO DE ESTÉTICA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO O Rio de Janeiro é a terceira cidade brasileira que mais atrai turistas para o tratamento de saúde (por conta de seu polo hospitalar), perdendo apenas para São Paulo e Recife, segundo o Jornal do Commércio de Pernambuco19. Em compensação, para o turismo estético, é a primeira cidade a ser mencionada pelos estrangeiros. O padrão de beleza brasileiro começou com a chegada da família real ao Brasil, em 1808. Quando a corte aportou no Rio de Janeiro, os brasileiros inspiravam-se nas roupas e penteados da nobreza para vestir-se. As historiadoras Braick e Mota (2006) afirmam que toda a cidade adquiriu um “ar imperial”, ocasionando uma verdadeira mudança cultural e estética. Até os mais abastados financeiramente tentavam imitar os hábitos europeus (BRAICK; MOTA, 2006): A Rua do Ouvidor, no centro do Rio, ganhou ares de cidade européia. Surgiram elegantes cabeleireiros, costureiras francesas, lojas de roupas, joalherias, chapelarias e tabacarias, entre outras novidades. [...] As damas da corte exibiam seus chapéus, luvas e leques. Os homens usavam casacas com golas altas enfeitadas por lenços coloridos e gravatas de renda, calções até os joelhos e meias. Tudo isso era observado pelos brasileiros. (BRAICK; MOTA, 2006, p.190) É também com a vinda da Família Real que o Brasil ganha duas faculdades de medicina, uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro. É, entretanto, na década de 1930 que São Paulo, ganha a primeira clínica específica em cirurgia plástica, segundo Martire Junior (2005). No Rio de Janeiro, em 1949, Ivo Pitanguy iniciou suas atividades no pronto socorro do Hospital Souza Aguiar e, posteriormente, em 1954 criou o serviço de Cirurgia Plástica Reparadora da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Em 1963, inaugura a sua clínica em Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro. O 19 Jornal do Commércio, Pernambuco, Recife discutirá turismo de saúde, 01/09/2011. 43 médico Ivo Pitanguy contribuiu para a projeção internacional e difusão da especialidade (MARTIRE JUNIOR, 2005). De acordo com Goldenberg (2002), a preocupação com a aparência e a juventude chega a ser uma obsessão nos dias de hoje e está cada vez mais disseminada em todas as classes. Esse dado, somado ao fator de que o Rio o Janeiro é considerado como um dos lugares mais belos do mundo, tanto pela sua natureza quanto por suas mulheres esculturais, tornou a cidade um lugar privilegiado para estudar o culto ao corpo. A grande visibilidade do Rio de Janeiro no exterior criou uma espécie de estereótipo do corpo da carioca. Como dito anteriormente, quando se fala da cidade, as praias vêm em primeiro lugar. Nas fotos dos turistas, mulheres com fio dental e corpos malhados criam um imaginário do corpo perfeito, tanto nos homens, quanto nas mulheres. Essa imagem carioca ajudou no desenvolvimento do Turismo de Estética da cidade. 3.3 AS CLÍNICAS CARIOCAS: RENOME INTERNACIONAL O Brasil está atraindo, cada vez mais, pacientes do mundo todo, em busca dos tratamentos de saúde oferecidos no país (FOLHA, 2011). A cidade do Rio de Janeiro, por sua vez, atrai pessoas interessadas em realizar tratamentos relacionados à estética, fato que colocou o Brasil como um dos países que mais recebem turistas para cirurgias plásticas (PINHEIRO, 2001). Tendo em vista esse fator, podem-se selecionar inúmeras clínicas e consultórios que recebem pacientes estrangeiros na cidade. Mas uma clínica e um hospital destacam-se por seu reconhecimento e excelência em serviços prestados: Clínica Ivo Pitanguy e Hospital da Plástica. 44 3.3.1 Clínica Ivo Pitanguy20 A Clínica do Doutor Ivo Pitanguy fica localizada no bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. O professor Ivo Pitanguy comanda sua equipe desde 1963 e conta com uma equipe de cirurgiões e profissionais altamente qualificados que atuam e acordo com suas técnicas e filosofia. De acordo com o site da clínica, a recepção dos pacientes é feita por secretárias trilíngues. A estrutura do centro hospitalar é moderna e conta com quatro salas de cirurgia planejadas e equipadas, uma sala de terapia intensiva, seis salas para atendimento ambulatorial com suporte pós-operatório e check-up pré-operatório completo. Além disso, dispõe de 14 suítes para conforto dos pacientes e seus acompanhantes. A administração da clínica é feita pela Gisela Pitanguy, médica- psicoterapeuta, que implantou um serviço de apoio aos pacientes para pré e pósoperatório. A clínica ainda segue a filosofia do médico Ivo Pitanguy, que acredita que, assim como o procedimento cirúrgico, os tratamentos estéticos também fazem parte do processo que integra beleza, saúde e qualidade de vida. Sendo assim, a clínica conta com um centro de tratamentos estéticos não cirúrgicos, tais como: aplicação de Botox, peeling facial, massagens e drenagens linfáticas, entre outros. Esse setor é chefiado pela médica, que deu seu depoimento sobre Turismo de Saúde Estética para esse trabalho acadêmico. 3.3.2 Hospital da Plástica21 O Hospital da Plástica fica localizado em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, e foi fundado em 1971 pelo médico Farid Hakme, ex-aluno do Doutor Ivo Pitanguy. Atualmente, o doutor Farid é o único cirurgião plástico carioca acreditado pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (ISAPS), de um total de oito brasileiros acreditados. 20 Informações retiradas do sítio eletrônico oficial da Clínica Ivo Pitanguy. Disponível em: <http://www.pitanguy.com.br/>. Acesso em: 22 out. 2011. 21 Informações retiradas do sítio eletrônico oficial do Hospital da Plástica. Disponível em: <http://www.hospitaldaplastica.com.br/>. Acesso em: 22 out. 2011. 45 Segundo o sítio eletrônico do Hospital da Plástica22, já foram realizadas cerca de 35.000 intervenções cirúrgicas no hospital e não houve nenhum caso de infecção hospitalar até hoje. Possui o Selo de Qualificação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, estando adequada às normas da Vigilância Sanitária e mantendo atualizados todos os requesitos de documentação. Suas instalações possuem um Centro Cirúrgico com 12 salas equipadas com aparelhos de alta tecnologia; uma Sala de Recuperação Pós Anestésica com quatro leitos; um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para caso haja complicações cirúrgicas com médicos de plantão 24 horas; 22 suítes para recuperação de pacientes e permanência de acompanhantes; farmácia, central de esterilização e lavanderia próprias e estacionamento para 100 veículos. O Hospital da Plástica possui parceria com alguns equipamentos turísticos, facilitando a vinda de pessoas para tratamentos na cidade: Ipanema Tower Apart Hotel (Ipanema), Parthenon Arpoador (Arpoador), Parthenon Sorocaba (Botafogo), indicação ao serviço de van para translados e passeios e indicação de aluguel de quarto na casa de uma enfermeira. Um dos médicos responsáveis pela clínica na ausência do doutor Farid Hakme é o médico conhecido por ser um dos primeiros cirurgiões plásticos brasileiros a usar a tecnologia de simulação em 3D para mostrar a seus pacientes como será o resultado pós-operatório (e-Stetix), antes mesmo da cirurgia ser realizada. Esse foi o cirurgião que deu seu depoimento sobre Turismo de Saúde Estética para esse trabalho acadêmico. 22 Disponível em: <http://www.hospitaldaplastica.com.br/>. Acesso em: 22 out. 2011. 46 4 A VISÃO DOS ATORES DO TURISMO DE ESTÉTICA O Turismo de Saúde, como dito anteriormente, é um segmento antigo, que vem ganhando espaço na mídia, devido ao crescimento e reconhecimento que o segmento vem tendo no país, nos últimos anos. Este fato pode ser percebido a partir do aumento de reportagens e entrevistas com especialistas da área, em diferentes meios de comunicação. No entanto, as informações e dados sobre turismo estético encontram-se dispersos e não sistematizados, dificultando estudos a respeito do tema. A integração entre os gestores do turismo e da saúde é cada vez mais notada, principalmente pelo aumento no fluxo de pacientes que vão se tratar em outros países. Sendo assim, essa pesquisa teve por objetivo procurar entender o ponto de vista dos gestores de saúde em relação ao turismo de saúde, especificamente o turismo de estética, que recebem turistas estrangeiros, na cidade do Rio de Janeiro. Para atingir o objetivo proposto e favorecer uma reflexão sobre o tema, optouse por uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória. Uma pesquisa qualitativa é aquela em que os dados coletados são predominantemente descritivos e a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo (LUDKE; ANDRE, 1986). A pesquisa exploratória é quando há pouco conhecimento sobre o assunto e procura-se conhecê-lo com maior profundidade, a fim de torná-lo claro e construir um pensamento para outras pesquisas (RAUPP; BEUREN, 2004). A princípio, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a fim de levantar e reunir dados e informações sobre turismo de saúde e cirurgia plástica. A primeira fonte de busca foi a internet, onde foram encontrados todos os artigos e teses deste trabalho. Foram utilizados os portais do Periódico CAPES, EMERALD, Scielo e Google Acadêmico. Alguns artigos foram encontrados em bases de editoras e universidades. Pela internet foram identificados, também, 7 (sete) consultórios médicos e 4 (quatro) clínicas localizados na cidade do Rio de Janeiro que recebem turistas estrangeiros para tratamentos estéticos e que receberam contato para a pesquisa. Os livros sobre o tema que foram utilizados como fonte de pesquisa faziam menção, em sua maioria, ao Turismo de Saúde como Bem-estar, o que dificultou a 47 formação de uma linha de pensamento em relação ao Turismo de Saúde Estética. Outros tinham como tema a Hotelaria Hospitalar. Os que não mencionavam o turismo foram utilizados para pesquisa sobre história do turismo e da saúde, conceitos de beleza e hospitalidade. Em um segundo momento foram avaliadas as informações contidas nos sítios eletrônicos das 4 (quatro) clínicas e 7 (sete) consultórios que recebem turistas estrangeiros para tratamentos estéticos na cidade do Rio de Janeiro, investigando se elas estavam disponíveis em outros idiomas e se haveria alguma informação sobre serviços turísticos, como hospedagem e traslados, por exemplo. Após isso, foram enviadas mensagens por correio eletrônico para saber qual clínica/consultório estaria disponível para uma entrevista posteriormente. Não houve nenhuma resposta. Sendo assim, entrou-se em contato através do telefone e, novamente, nenhum resultado foi obtido. Em seguida, o contato foi pessoal, indo às clínicas/consultórios localizados na Zona Sul da cidade. Duas clínicas disponibilizaram médicos para atender a pesquisa. Foram, então, realizadas duas entrevistas semi-estruturadas com os médicos que responderam ao contato. Esse tipo de entrevista foi escolhida, pois possibilita discorrer sobre o tema, além das perguntas propostas. Cabe ao entrevistador dirigir a entrevista para o assunto que achar oportuno (BONI; QUARESMA, 2005). O objetivo da pesquisa de campo foi coletar dados mais específicos sobre a relação da clínica/consultório com algum tipo de serviço turístico, para assistência aos pacientes oriundos do exterior. As entrevistas foram realizadas na primeira quinzena de Novembro de 2011 com a Clínica Ivo Pitanguy e com o Hospital da Plástica, ambos localizados no bairro de Botafogo, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. A principal limitação encontrada para a realização das entrevistas foi o desinteresse por parte dos gestores de saúde em relação ao tema. Muitos tiveram receio sobre para que fim as informações obtidas seriam utilizadas. Outro problema encontrado foi a falta de conhecimento dos gestores de saúde sobre Turismo de Saúde, já que muitos não sabiam sobre o que se tratava. Sendo assim, a pesquisa não teve o caráter conclusivo, mas passível de contribuição para as discussões e estudos sobre a relação entre serviços turísticos e clínicas de estética no Rio de Janeiro. 48 4.1 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS Os resultados que aqui serão apontados referem-se tanto à pesquisa bibliográfica anterior às entrevistas, quanto aos resultados obtidos com as entrevistas realizadas com médicos representantes da Clínica Ivo Pitanguy e Hospital da Plástica, ambos localizados no bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro 4.1.1 Pesquisa anterior à entrevista O primeiro contato com as clínicas foi feito por meio do e-mail. Por ele foi explicado sobre o tema Turismo de Saúde, o trabalho acadêmico, o motivo das entrevistas, nome da professora orientadora, data prevista para apresentação do trabalho acadêmico, disponibilidade da agenda (explicando que se entendia a rotina do médico, e que a entrevista seria breve). O e-mail foi enviado duas vezes. Como não houve respostas, o segundo contato com as clínicas foi realizado por telefone. Em todos os casos, os médicos não estavam disponíveis, o que dificultou o entendimento do tema por parte de suas secretárias e assistentes. Foi explicado por telefone sobre o que se tratava Turismo de Saúde, já que nenhum gestor de saúde sabia do seu significado. O contato posterior foi realizado pessoalmente, indo às clínicas e falando diretamente com médicos e enfermeiras, que também tiveram que ser esclarecidos sobre o tema. Antes de realizar as entrevistas, foi pesquisado sobre a apresentação das clínicas em meio virtual (sítio eletrônico e e-mail). Ambas disponibilizam informações sobre a clínica, instalações e os tipos de procedimentos estéticos realizados em dois idiomas: português e inglês. Ao pesquisar se as clínicas disponibilizam informações sobre serviços relacionados ao turismo, foi verificado que somente a clínica Ivo Pitanguy não fornece nenhum tipo de dado. O Hospital da Plástica apresenta os contatos para três opções de hospedagem localizadas na Zona Sul da cidade, para o serviço de traslado e para uma enfermeira que está disponível para dar assistência ao paciente em recuperação. Essas informações foram importantes para a elaboração de perguntas durante as entrevistas. 49 4.1.2 Análise das entrevistas As entrevistas foram analisadas qualitativamente, buscando sistematizar as informações através da criação de categorias de análise. Desse modo, as entrevistas foram ouvidas exaustivamente, a fim de encontrar dados que pudessem ser agrupados. No caso desse trabalho acadêmico, foram criadas 4 (quatro) categorias de análise: dados gerais sobre os turistas de saúde; relação entre gestores de saúde e serviços turísticos; relação entre os pacientes e serviços de saúde e relação entre os pacientes e equipamentos turísticos. 4.1.2.1 Dados gerais sobre os turistas de saúde Em relação à média de turistas estrangeiros que as clínicas recebem por ano, a Clínica Ivo Pitanguy, informou que aproximadamente 20% dos pacientes atendidos na clínica eram provenientes de localidades fora do Brasil. O informante do Hospital da Plástica afirmou que a clínica recebe um número considerável de pessoas vindo do exterior, mas devido ao grande quadro de doutores no local, a quantidade de pacientes que cada um recebe não se encontra agrupada, dificultando uma análise estatística. O entrevistado pediu para que fosse verificado o número de pacientes por médico com a responsável pelos documentos do Hospital. Entretanto, não existem dados desse tipo arquivados. Segundo a responsável, os médicos usam as dependências da clínica, mas os dados dos pacientes ficam sob suas responsabilidades, não com o Hospital. Os períodos do ano em que a Clínica e o Hospital recebem os turistas estrangeiros para os tratamentos estéticos são diferentes. A entrevistada da Clínica Ivo Pitanguy afirma que fluxo de pacientes internacionais é maior durante o verão (entre os meses de Novembro e Fevereiro), pois, devido ao clima quente do Brasil e à proximidade das festas de fim de ano e o Carnaval, os pacientes aproveitam para realizar outros tipos de turismo na cidade, sem importar-se, com as manchas roxas do pós-operatório. Já no Hospital da Plástica a maioria de seus pacientes estrangeiros realiza os procedimentos estéticos no inverno brasileiro, pois aproveitam as férias de verão do 50 hemisfério norte para virem à cidade e para o pós-operatório. O Hospital orienta-os a não se exporem ao sol, pois as cicatrizes dos procedimentos cirúrgicos poderão ficar marcadas. Os médicos estão sempre acompanhando os pacientes, pois, assim, evitam que eles “abusem” e prejudiquem os resultados do procedimento. Quanto ao tempo de permanência dos pacientes na cidade, depende do tratamento realizado: quanto mais procedimentos e quanto mais complicados forem, mais tempo de reabilitação será necessário. O entrevistado do Hospital da Plástica enfatizou a questão da ética médica, ao se referir sobre observar o paciente no pósoperatório, evitando liberá-lo rapidamente. Segundo ele, o acompanhamento do turista deve ser feito da mesma maneira que o paciente local, pois a responsabilidade pelas consequências é a mesma. “No caso da cirurgia plástica, ou de qualquer tipo de cirurgia, a gente tem que ter uma ética médica. Você não pode operar o paciente e mandar ele embora.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). Tanto ele quanto a entrevistada da clínica Ivo Pitanguy informaram sobre a importância de orientar o paciente estrangeiro a permanecer na cidade após o tratamento, num período de 15 a 30 dias. Segundo eles, esse é um bom período de recuperação para que possam realizar a viagem de retorno ao país de origem. O médico do Hospital da Plástica afirma: “A gente pede, no mínimo, de 15 a 30 dias, que é o normal, dependendo do tamanho da cirurgia. De 15 a 30 dias você tem uma segurança, para quando ele voltar [ao seu país de origem], ter um acompanhamento mais estético.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). O médico do Hospital da Plástica informou, ainda, a respeito do tempo de chegada anterior à cirurgia: “Tem que chegar com, no mínimo, uma semana, cinco dias antes. Porque a gente exige que os exames sejam daqui, o pré-operatório. [...] Exatamente tem isso também. [sobre a possível embolia por permanecer muito tempo sentado em um vôo] Você não pode. Porque dentro de uma cirurgia você tem que ter uma rotina.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). 51 Os dois entrevistados responderam que os estrangeiros costumam vir com acompanhantes e que estes quase sempre realizam outro tipo de turismo na cidade, como cultural ou sol e praia. Porém, os médicos não tem a preocupação de divulgar a cidade e seus atrativos turísticos, deixando-os visitarem o que quiserem. Alguns pacientes e acompanhantes têm o interesse de procurar os atendentes da clínica e do hospital para saberem mais sobre locais para visitação. O médico do hospital da Plástica ainda afirma que os acompanhantes já vêm ao Rio de Janeiro com a finalidade de realizar outro tipo de turismo na cidade: “É natural de quem vem pro Rio de Janeiro, que não tá envolvido com cirurgia, que tá aqui de acompanhante, turismo pra ela é questão principal. [...] Então, geralmente, o acompanhante vem com essa finalidade. E tem que conhecer atrativo, né, do turismo. [...] Geralmente os hotéis que fazem tudo.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). O acompanhante, segundo os relatos dos entrevistados, vem para que o paciente possa ter alguém para ajudá-lo no pós-cirúrgico. Esse acompanhante, que não precisa ficar de repouso, pode aproveitar os atrativos da cidade. A vinda de um paciente estrangeiro envolve não só gestores da saúde, mas também serviços turísticos. 4.1.2.2 Relação entre gestores de saúde e serviços turísticos Sobre a relação entre os gestores de saúde e os serviços turísticos oferecidos pela cidade, a entrevistada da Clínica Ivo Pitanguy informou que eles não divulgam a cidade para os pacientes realizarem outro tipo de turismo e que eles já procuraram na internet os pontos turísticos cariocas antes de virem ao Brasil. Segundo a doutora, eles perguntam sobre lugares bons para fazer compras: “Eles me perguntam muito onde comprar, onde é mais barato. Eles gostam muito de feira. Então eu falo para ir na feira de Ipanema. A gente vê o mais próximo [...].” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). A preocupação com o paciente estrangeiro deixa de ser exclusivamente a cirurgia, mas também com os cuidados que devem tomar durante um passeio pela 52 cidade. A médica da Clínica Ivo Pitanguy disse que alerta os turistas a respeito da vestimenta, para evitar possíveis assaltos. Entretanto, ela afirma ao final que acredita que a cidade está melhorando o seu policiamento para os turistas: “[...] sempre na preocupação de mandar não andar com joia, porque eles [os turistas] são caracterizados, é estrangeiro mesmo. Só tomar um pouco de cuidado mesmo. Apesar de que melhorou muito o Rio de Janeiro nessa parte de turista [...] Copacabana, Ipanema, achei que o policiamento tá bem mesmo.” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). O Hospital da Plástica possui informações sobre alguns serviços turísticos em seu site. Ao perguntar sobre a relação entre a clínica e os serviços pontuados, foi afirmado não ter qualquer tipo de parceria. O motivo do Hospital da Plástica colocar em sua página eletrônica alguns serviços se deve ao fato de auxiliar seus pacientes na escolha de hospedagem e deslocamento. Além disso, a clínica conhece os hotéis divulgados e acredita que seus clientes serão atendidos de forma hospitaleira: “Não há uma parceria, mas uma indicação. Não uma indicação para questões financeiras; acredito que receber o paciente de fora já é um grande lucro pra gente. Mas indicação para saber que o paciente vai tá num lugar apropriado, bem assegurado. [...] É muito importante pra que a gente saiba distinguir que esse, esse e esse hotel são indicações nossas, que o paciente vai ser bem tratado lá, entendeu? Não é um hotel errado, não é um hotel que vai oferecer uma dieta errada, não é um hotel que vai oferecer você ficar trancado no quarto, porque o paciente tem que andar. Tem que estimular, mas sem que complique a sua forma [recuperação].” (Entrevistado – Hospital da Plástica). Como a Clínica Ivo Pitanguy não tem em seu site qualquer tipo de informação turística foi perguntado se há alguma parceria com serviços ligados à hospedagem e deslocamento de seus pacientes. A informante respondeu que a clínica não possui nenhuma parceria e não indica nenhum serviço. A explicação para isso são os possíveis problemas que podem ser gerados por conta de mal-entendimentos entre clínica e paciente: “Normalmente a gente não faz isso porque o nosso púbico é muito complicado. Então, se a gente der qualquer tipo de informação fora do nosso domínio e da nossa prestação de serviço, eles entram com processo por conta de tudo”. (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). 53 E completa dizendo que fornece uma lista de hotéis que ficam próximos à clínica, quando solicitado pelo paciente, mas não nega ajuda ao turista estrangeiro: “A gente não tem parceria nenhuma. A gente indica os melhores.” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). “Eu posso ajudar, mas me dá o seu CPF, me dá o seu cartão, me dá os seus dados”. (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). Assim, a clínica não se envolve financeiramente nem por responsabilidade com outros serviços. É importante ressaltar que, nas duas clínicas, é informado anteriormente ao turista que qualquer serviço turístico deve ser reservado e pago pelo próprio paciente. Com relação a disponibilidade de funcionários que falem outra línguas, a Clínica Ivo Pitanguy afirma ter recepcionistas bilíngues e alguns médicos trilíngues. Segundo a doutora, são os próprios pacientes que exigem que tenha alguém de fale suas línguas nativas: “Eles chegam aqui falando a língua deles. Eles não aceitam outro tipo. A gente pergunta em inglês e eles ‘não, falo francês, quero alguém que fale francês.’” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). Também foi questionado se os doutores entrevistados achariam interessante haver uma relação mais direta entre a clínica e algum serviço turístico. As respostas foram distintas. A representante da Clínica Ivo Pitanguy não considera ser significante estabelecer parcerias entre hotéis e empresas de traslados. Ela elucida que a ligação entre a clínica e esses tipos de serviços pode acarretar em possíveis problemas, como o não pagamento do serviço pelo cliente e a cobrança ser direcionada à clínica: “Muitas pessoas chegam aqui, vão para o hotel, falam: ‘eu tô na Clínica Ivo Pitanguy’ e depois que eles vão embora, eles mandam a conta pra gente”. (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). Visando proteger a imagem e qualidade e evitar possíveis associações negativas, a clínica não possui vínculos com serviços externos, até mesmo com 54 aqueles ligados a saúde. Por sua vez, o representante do Hospital da Plástica, acredita ser interessante haver uma relação mais direta com serviços que os pacientes utilizam, principalmente, no período pós-operatório: “O Rio de Janeiro tem uma hotelaria ótima e a gente unindo isso a um bom serviço de cirurgia plástica, fecha um casamento perfeito.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). Ele ainda afirma que é importante haver tranquilidade após a cirurgia, para uma boa recuperação, ao ratificar que o procedimento não acaba quando o último ponto se fecha. Principalmente pelo fato de que a cirurgia é estética, e o resultado tem que ser o melhor. Desta forma, ressalta que a parceria com bons hotéis, por exemplo, possibilitaria dar confiança e segurança ao paciente e ao médico: “[...] a cirurgia não acaba quando a gente fecha o último ponto. A cirurgia é 50% nossa e 50% do que o paciente vai fazer depois. O pós-operatório é muito importante. [...] dentro da área de medicina, é uma especialidade [a cirurgia plástica] que nos traz uma cobrança maior. [...] mas na cirurgia plástica é diferente. O paciente já vem buscando a estética corporal. Você tem que oferecer um estilo de vida pro paciente. [...] A gente não faz pacote. [...] mas ele gosta que a gente indique, até porque ele se sente seguro. O paciente quando entra no cento cirúrgico ele oferece a vida dele nas suas mãos. Então, assim, se ele tá te confiando isso, com certeza ele também quer que indique qual hotel ele vai ficar, qual hotel ele vai ser bem cuidado, a pesar do hotel não ter essa parte de hotelaria e enfermagem.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). O Hospital da plástica oferece, também, o contato de uma enfermeira, caso o paciente deseje. O “home care” é pago pelo paciente, por dia, pelo tempo que desejar. Isso possibilita mais segurança e descanso, até mesmo para o acompanhante. 4.1.2.3 Relação entre pacientes e serviços de saúde Há uma concordância entre os dois entrevistados a respeito dos tipos de tratamentos estéticos mais realizados pelos pacientes estrangeiros. Ambos afirmam que são a mamoplastia de aumento, lipoaspiração e face, tendo o público feminino ainda como predominante. A Clínica Ivo Pitanguy oferece, ainda, intervenções não 55 cirúrgicas (“lifting sem cirurgia”, segundo a entrevistada), como aplicação de botox, massagens e tratamentos que não necessitem de corte. Muitos pacientes acabam retornando ao Brasil para realizarem outras cirurgias, pois o resultado da primeira foi satisfatório. A médica da Clínica Ivo Pitanguy afirma, ainda, sobre a possibilidade da realização do turismo: “Volta pra cá, normalmente sim. Vêm aqui, fazem a primeira cirurgia e volta pro país, fica um ano, aí volta, faz outra. E passeia! (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). O Hospital da Plástica, por sua vez, não só confirma o retorno, como o associa ao mérito brasileiro nas cirurgias plásticas, que vem aumentando no exterior: “Muito comum [o retorno de pacientes para uma segunda cirurgia]. São pacientes que são diferenciados, né? Paciente que vêm até o Brasil fazer cirurgia plástica, como se você for até a Rússia para tomar uma vodca, que é a melhor vodca do mundo. Aqui, graças a Deus, tá virando a melhor cirurgia plástica do mundo. O Ivo Pitanguy deixou um legado imenso, entendeu? Então eles vêm na fonte, buscar mesmo o melhor tratamento estético do mundo. [...] Então a gente cria clientes de anos, assim. A gente tem bastante retorno.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). A entrevistada da Clínica Ivo Pitanguy não deixou claro qual é a sua opinião a respeito da fama do Brasil no ramo das cirurgias plásticas, mas afirma que uma grande motivação para os turistas é a qualidade do serviço prestado. Os preços, segundo ela, não são sempre os mais baratos. O paciente, muitas vezes, paga o mesmo valor que no seu país de origem, mas ele prefere o resultado final brasileiro: “Eu pessoalmente acho que depende muito do ambiente lá fora e elas [as pessoas] vêm fazer aqui. [...] Aqui dentro é a referência mundial, então ela [a pessoa] vem buscando a referência. E quando chega aqui, se assusta, porque não é aquilo que pensou [em relação aos valores da cirurgia].” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). O Hospital da Plástica enfatiza, a respeito da ética médica a respeito das visitas pós-operatórias com os pacientes-turistas. Segundo o médico entrevistado, o acompanhamento do turista deve ser feito da mesma maneira que o paciente local, pois, segundo ele, a responsabilidade pelas consequências é a mesma: 56 “No caso da cirurgia plástica, ou de qualquer tipo de cirurgia, a gente tem que ter uma ética médica. Você não pode operar o paciente e mandar ele embora. [...] A gente mantém o contato [depois do retorno do paciente ao seu país de origem] porque uma vez operado, o paciente é seu pro resto da vida, de acordo com o Código de Ética Médica.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). O paciente confia no médico e na clínica/hospital que será operado. Segundo o médico do Hospital da Plástica em sua entrevista, é necessário haver um contato permanente com o paciente, mesmo após muito tempo. A fama da cirurgia plástica brasileira no exterior é responsável, segundo o médico, pelo grande número de estrangeiros operando-se no país. A entrevistada da Clínica Ivo Pitanguy diz que os preços nem sempre são os mais baratos, mas a fama da clínica internacionalmente atrai dezenas de pacientes por ano. 4.1.2.4 Relação entre pacientes e equipamentos turísticos Segundo os médicos entrevistados, os pacientes buscam o Rio de Janeiro para a realização de seus procedimentos estéticos não só pela sua fama, excelência e preços baixos na cirurgia plástica, mas também por ser uma cidade conhecida internacionalmente e com muitas oportunidades de passeios turísticos. O Hospital da Plástica informou que alerta aos pacientes recém-operados a não saírem do hotel onde estão hospedados para longas caminhadas e exposições ao sol, somente para andar e não ficarem deitados o dia inteiro. O médico mantém o contato constante com os pacientes para verificar as condições em que eles se encontram e quando poderão viajar e voltar aos seus países de origem. A Clínica Ivo Pitanguy, por sua vez, diz que alerta os pacientes recémoperados a respeitos dos riscos de saírem ao sol e à exposição ao calor, mas que, mesmo assim, eles optam por sair na rua, principalmente aqueles que vêm ao país na época do Carnaval. A entrevistada informa que eles colocam um chapéu grande, e saem na rua, mesmo ainda roxos da operação: “[...] durante mesmo eles aproveitam [referindo-se ao período de recuperação do operatório] [...] roxinhos mesmo [...] chegam com o chapéu desse tamanho, com uma aba enorme para poder proteger, por causa das manchas. Eles não se incomodam, passeiam mesmo.” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). 57 Considerando a importância de uma estada pré e pós-operatória, perguntouse aos entrevistados se os pacientes realizavam atividades que envolviam o turismo, durante sua permanência na cidade do Rio de Janeiro. Na Clínica Ivo Pitanguy, muitos pacientes, mesmo sendo orientados para não realizarem atividades pré e pós-tratamento, costumam fazer passeios turísticos antes, durante e depois. Como citado pela médica entrevistada, os estrangeiros colocam um chapéu para amenizar o sol, não se incomodam com as marcas roxas e passeiam pela cidade. Inclusive, exemplificou com a ida desses turistas-pacientes ao Sambódromo durante o Carnaval: “Carnaval isso aqui lota! Aproveita, toda roxinha, e vai pra Sapucaí!” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). A médica ainda faz uma previsão para a época da Copa do Mundo de Futebol de 2014: “Muita gente vai vir para a copa, vai fazer cirurgia e ainda vai pros jogos.” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). Em relação aos pacientes do Hospital da Plástica, o entrevistado disse que busca sempre frisar a importância do repouso. Além disso, grande parte do seu público já visitou a cidade anteriormente, focando apenas no seu tratamento. No entanto, os acompanhantes costumam visitar os atrativos turísticos, buscando informações nos hotéis em que ficam hospedados: “[...] não há muita possibilidade do que fazer no pós-operatório. [...] eles não podem ficar andando em locais públicos. Pacientes que já moram aqui a gente fala para não trabalhar, não pegar metrô. A gente deixa isso bem claro, porque eles ficam ‘puxa, eu to viajando!’ [referindo-se à vontade de sair e visitar a cidade, por ser uma viagem]. Só que, geralmente, eles são pacientes diferenciados, já conheceram a cidade, então vem pra cá com outra cabeça, vem pra repousar mesmo.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). Os entrevistados informaram que os pacientes comentam com eles sobre os pontos positivos e negativos da cidade. O hospital da Plástica informou que não 58 possui dados exatos a respeito do retorno dos turistas em relação ao Rio de Janeiro, mas que, em geral, é positivo: “Nesse feedback, a gente fica um pouco por fora disso, tá? O paciente quando chega aqui, ele chega com a cabeça muito voltada para a cirurgia. Então se acontece ou não acontece [alguma intempérie com o paciente], a gente fica um pouco em falha em te passar isso. [...] O que a gente sabe é que, no geral, eles gostam muito da vinda, entendeu? Tem retornado e eu acredito que para eles gostarem da vinda, realmente deve ter sido bem agradável. [...] Se você vem de turismo, você já tem um limite de tolerância, mas para cirurgia, a sua tolerância tá bem diminuída.” (Entrevistado – Hospital da Plástica). Já na Clínica Ivo Pitanguy, como a maioria de seus pacientes estrangeiros provém dos Estados Unidos, a entrevistada informou que eles acabam surpreendendo-se com o estilo de vida brasileiro e a economia atual e mudam a sua imagem pessoal do Brasil como um país não civilizado: “Não, porque, principalmente dos Estados Unidos. Estão vivendo uma fase que nós já estamos carecas de viver. E agora nós estamos mais estabilizados economicamente e eles estão sentindo isso; Antigamente era um sub-mundo, que eles vinham aqui, faziam o que queriam, achavam que tinha macaco na rua e que hoje é um outro tipo de realidade. Eu digo, também, porque a minha filha vai todo anos pros Estados Unidos e lá, muitas das vezes, o pessoal pergunta: ‘mas lá tem prédio?’, quem nunca veio. Então eles acham que as pessoas aqui no Brasil, os brasileiros, são muito primitivos, que não têm uma cultura. Então ele já vem cheio de pose, aí levam aquele choque, porque tem a impressão melhor do que têm nos Estados Unidos. Lá é uma coisa, então quando você chega aqui, você tem uma secretária que fica diariamente na sua casa, que você tem carro para se locomover. Então eles acham assim, que é uma coisa que não existe lá, entendeu? Lá é tudo muito prático, as coisas são muito caras, o dia-a-dia, a comida é cara, e aqui, tá indo pro mesmo caminho, né? [risos]” (Entrevistada – Clínica Ivo Pitanguy). Para os médicos, o repouso e a pouca exposição ao sol e ao calor são fatores importantes para a boa recuperação da cirurgia. Entretanto, mesmo com as recomendações médicas, muitos pacientes optam por realizar outros tipos de turismo. O que não impede um feedback positivo em relação à cidade. Para os entrevistados, o ponto de vista dos pacientes a respeito do Rio de Janeiro é positivo. 59 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil é um país que possui uma enorme diversidade de produtos turísticos, atraindo milhares de turistas durante todo o ano. As paisagens naturais, principalmente as praias, ainda são a maior motivação dos visitantes. Porém, atualmente percebe-se o aumento da demanda pelo turismo de saúde, especialmente para o turismo estético, com foco no Rio de Janeiro, um destino reconhecido internacionalmente pela prática de tratamentos estéticos. Esse segmento do turismo possibilita que o paciente possa realizar outro tipo de turismo na cidade, enquanto realiza o seu tratamento estético. Com isso, mais gestores são beneficiados e podem virar potenciais parceiros. Sendo assim, como dito anteriormente, a pesquisa teve por objetivo analisar o ponto de vista dos gestores de saúde, mais especificamente das clínicas de estéticas da cidade do Rio de Janeiro, que recebem pacientes estrangeiros, relacionam-se com serviços ligados ao turismo. Percebe-se, a partir da coleta de dados e entrevistas, que as clínicas recebem um grande e crescente fluxo de turistas estrangeiros para a realização de tratamentos estéticos. Entretanto, não há o interesse em pesquisas na área de turismo de saúde. Essa foi a principal limitação encontrada para a realização das entrevistas, pois os gestores de saúde não se mostraram disponíveis e/ou interessados para a realização de uma entrevista. É possível observar, também, uma divergência de opiniões por parte dos entrevistados. Enquanto o Hospital da Plástica mostra interesse em apresentar informações sobre serviços turísticos, a Clínica Ivo Pitanguy, referência mundial em cirurgia plástica, não informa e não mostrou interesse em estabelecer futuras parcerias. Acredita-se, no entanto, que uma parceria entre clínicas de estética e serviços turísticos pode dar mais segurança para o paciente. Hospedar-se em um meio de hospedagem indicado pela clínica gera um conforto ao turista estrangeiro, pois, assim, ele sabe que será bem atendido, que o quarto será bem limpo e que, caso haja alguma decorrência do seu tratamento estético, o hotel estará preparado para melhor atendê-lo e encaminhá-lo ao médico. Em um mundo no qual a diferenciação de serviços e a percepção da qualidade vêm sendo cada vez mais procuradas pelos consumidores, e levando em 60 consideração o reconhecimento que o Rio de Janeiro vem tendo na saúde estética, acredita-se que uma relação mais estreita entre as clínicas e os serviços turísticos possibilitaria uma melhor recepção aos turistas do segmento de turismo de saúde. Além disso, seria possível gerar mais confiança para os estrangeiros e credibilidade para as clínicas, criando um diferencial no mercado. É importante ressaltar que, caso haja uma interação entre as duas áreas, um planejamento é inevitável para que ambas previnam-se de possíveis problemas. A falta de pesquisas específicas na área de turismo de saúde e a pouca bibliografia sobre o tema tornam a sua compreensão mais difícil. Os gestores de saúde não mostraram interesse em aprofundar seus conhecimentos na área, sendo assim, a pesquisa contou com uma amostra limitada e poucos detalhes específicos sobre os pacientes-turistas. A divergência citada anteriormente pode, inclusive, ser fruto da pouca quantidade de pesquisas e estudos na área, pois os gestores não têm onde informarem-se sobre o assunto. Sendo assim, é preciso haver um estudo mais profundo na área de turismo de saúde, para que todos os gestores de saúde e turismo possam estar mais informados sobre esse segmento e terem o interesse de envolver-se mais com as atividades de saúde e turismo. Ao início da pesquisa, pensou-se em realizar uma pesquisa quantitativa diretamente com os consumidores do turismo de saúde, ou seja, os pacientes. Entretanto, por questões éticas, os médicos não autorizaram a entrega de questionários. Por isso, é interessante e útil, também, que seja realizada uma pesquisa direta com os turistas, a fim de saber quais são suas reais expectativas, se estas foram atendidas durante a sua estada, se têm interesse em realizar atividades turísticas na cidade, antes ou depois do procedimento estético, o que acharam do Rio de Janeiro, se têm o interesse em retornar futuramente para a realização de outro tipo de turismo. Com o resultado de uma pesquisa específica com os turistas-pacientes, podem-se criar pacotes turísticos específicos para aqueles que vêm realizar algum tratamento estético; certos passeios turísticos podem ser adaptados para que o recém operado não sofra com o calor e sol (passeios noturnos, por exemplo); os meios de hospedagem podem adaptar-se para uma hotelaria hospitalar mais acolhedora, entre muitos outros. Não se deve esquecer, entretanto, que mesmo que esses estrangeiros sejam pacientes, ainda são turistas que possivelmente têm o interesse em conhecer a 61 cidade. Mesmo que isso não ocorra durante o pré e/ou pós-operatório, é interessante cativar o paciente para que ele deseje retornar futuramente como turista. Essa demanda potencial deve ser identificada tanto pelos gestores de saúde, quanto pelos gestores de turismo. Para melhor atender ao público desse segmento, alguns cursos e especializações na área também poderiam ser criados e os poucos já existentes poderiam ser atualizados. Atualmente, poucas faculdades oferecem pós-graduações para Turismólogos na área de Turismo de Saúde. Mesmo com todo o atual desinteresse por parte dos gestores de saúde, considera-se que o presente estudo possa ser um impulsor para futuras pesquisas, sendo investigado por especialistas de ambas as áreas e com maior amplitude, para que haja uma melhor recepção dos turistas estrangeiros e uma maior segurança das clínicas para lidar com esse público. 62 REFERÊNCIAS AGÊNCIA ESTADO. Plástica não invasiva se torna a mais comum. 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Acha que há a possibilidade em relacionar o deslocamento da pessoa para tratamento estético e fazer turismo na cidade? 10. É orientado um tempo de permanência na cidade antes e depois desses tratamentos? 11. Qual sua opinião em realizar turismo pré e pós operatório? 12. Quais são os tratamentos estéticos mais realizados na clínica pelos turistas?