Perfil Etnobotânico e Etnofarmacológico de Phyllanthus amarus

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Perfil Etnobotânico e Etnofarmacológico de Phyllanthus amarus Schum & Thonn
Anjos,G. C. (UFRN), Cunha, A. F. (UFRN), Maciel*, M. A. M. (UFRN)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Química, Campus
Universitário, 59072-970, Natal, RN. *E-mail: [email protected]
Resumo
O gênero Phyllanthus da espécie Phyllanthus amarus Schum & Thonn vem da família
Euphorbiaceae é composto por várias espécies, muitas das quais apresentando
propriedades similares e sendo conhecidas pelos mesmos nomes populares, são
encontradas em regiões tropicais e subtropicais, sendo utilizada como medicamento por
diversos povos. Sua ação medicinal é consequência dos seus distintos metabólitos
secundários que contém grande variedade de lignanas, alcalóides, flavonóides, taninos,
fenólicos, esteróis e glicosídeos que agem contra diferentes microrganismos e
participam das defesas vegetais e apresentam diversas atividade medicinais, dentre elas:
antinociceptiva, antiviral, antimutagênico, antitumoral, antiflamatório. Neste trabalho,
aspectos relevantes das espécies P. niruri L. e P. amarus Schum & Thorn., são
apresentados em um compilamento de dados etnobotânicos e etnofarmacológiocos, com
enfoque principal para recentes dados botânicos que diferenciam uma espécie da outra.
Palavras-chave: Phyllanthus amarus Schum & Thonn, botânica, etnobotânica,
etnofarmacologia.
Introdução
A etnobotânica informa sobre a utilização medicinal de espécies vegetais e é
citada como sendo um dos caminhos alternativos que mais evoluiu nos últimos anos
para a descoberta de produtos naturais bioativos. Atualmente, é considerada uma ciência
que agrega áreas multidisciplinares e dependendo do projeto a ser desenvolvido,
aspectos de diferentes áreas científicas (botânica, antropologia, agronomia, química,
farmacologia, dentre outras) poderão estar correlacionados. A etnofarmacologia por sua
vez, trabalha em estreita cumplicidade com a etnobotânica, e consiste na exploração
científica interdisciplinar de agentes biologicamente ativos tradicionalmente utilizados
por humanos. Um estudo etnofarmacológico se caracteriza pela escolha etnobotânica da
planta a ser investigada e pelo envolvimento de pesquisadores de no mínimo três áreas:
botânica, química e farmacologia (MACIEL et al., 2002).
Neste trabalho avaliou-se aspectos relevantes das espécies P. niruri L. e P. amarus
Schum & Thorn., objetivando a divulgação da real identificação destas plantas e
compilamento de seus dados etnobotânicos e etnofarmacológiocos.
A denominação Phyllanthus vem do grego phyllon (folha) e anthos (flor), em
referência às flores produzidas nos ramos que se assemelham a folhas compostas. A
maior parte do gênero é de origem paleotropical, com cerca de 200 espécies distribuídas
pelas Américas, principalmente Brasil e Caribe. Cerca de onze espécies atingem
latitudes temperadas, mas não são encontradas na Europa e na costa pacífica do
continente americano. No Brasil, as espécies mais conhecidas e chamadas popularmente
de quebra-pedra, arrebenta-pedra ou erva-pombinha são as Phyllanthus niruri
L.,Phyllanthus amarus Schum. & Thonn e Phyllanthus tenellus Roxb. Müll. Arg
(SILVA; SALES, 2004.
Resultados e Discussão
No Brasil o gênero Phyllanthus (Euphorbiaceae) está presente em quase todo o
seu território e especificamente, cinco espécies deste gênero são conhecidas pelas
mesmas designações vulgares (quebra-pedra, arrebenta-pedras, arranca-pedras, fura
parede, erva-pombinha e filantro). De acordo com dados previamente reportados, a
espécie P. niruri L. ocorre principalmente no sul do país; P. tenellus Roxb. no Sul,
Sudeste e Centro-Oeste (com concentração significativa em São Paulo); P. sellowianus
Mull. Arg. na região Sul (com concentração significativa em Santa Catarina); P.
urinaria L. na região Norte; P. amarus Schum & Thorn. na região Nordeste. Devido ao
clima quente e úmido das regiões tropicais e subtropicais do Brasil que favorece o
crescimento espontâneo de espécies do gênero Phyllanthus, é comum encontrar P.
niruri e/ou P. amarus em rachaduras de calçadas e muros (CALMON, 2005; MATOS et
al., 2004; KISSMANN; FRANCO, 1996; GROTH, 1991; BACCHI, 1984). A seguir
destacam-se alguns dos aspectos mais característicos das espécies P. niruri L. e P.
amarus Schum & Thorn.
Aspectos botânicos de P. niruri e P. amarus: estas espécies vêm sendo alvo de trabalhos
etnofarmacológicos realizados em todo o mundo, podendo-se destacar: Estados Unidos,
Malásia, Cuba, Peru, Caribe, China, Nigéria, África, Índia e Brasil (MACIEL et al.,
2007) Apesar do amplo registro literário que divulga estas espécies como sendo
sinonímia, comprovou-se através de estudos botânicos recentes, que existem diferenças
significativas entre estas duas espécies, tendo sido apontado como diferenças principais
o tipo de base, sementes e estigma. De acordo com estes estudos, a espécie P. niruri L.
apresenta caracteristicamente lâmina com base assimétrica, estigma capitado e sementes
densamente verruculosas em linhas longitudinais. Para a espécie Phyllanthus amarus
Schum & Thorn. a lâmina possui base assimétrica, estigma não capitado e as suas
sementes são estriadas (SILVA, 2006; SILVA; SALES, 2004). Neste contexto, é
interessante destacar que WEBSTER, em 1957, havia notificado que a espécie
Phyllanthus niruri L. nunca havia sido confirmada fora do Continente Americano.
Atualmente, a avaliação das informações publicadas para as espécies Phyllanthus niruri
L., Phyllanthus amarus Schum & Thorn e Phyllanthus sellowianus Mull. Arg. torna-se
uma tarefa difícil que não gera resultados satisfatórios, uma vez que em muitos países as
espécies P. amarus e P. sellowianus são consideradas uma variedade de P. niruri, ou
então, as três espécies são consideradas sinonímias.
Aspectos etnobotânicos e etnofarmacológicos de P. niruri e P. amarus: a utilização
de P. niruri e/ou de P. amarus na medicina popular ocorre por infusão de toda a planta
(em média 30 –50 cm de planta em um copo de água fervente), com ampla aplicação
terapêutica: no tratamento dos rins (expulsão de pedras dos rins, combate cistite e litiase
renal), hepatite viral, epilepsia, gripes, infecção brônquica, asma, tuberculose,
constirpação, diarréia, cólicas, icterícia, furúnculo, hipertensão arterial, infecções
intestinal e gênito urinária (vaginites), gonorréia, sífilis, malária, relaxante muscular, no
controle do diabetes e de índices elevados de colesterol; vem sendo citado também
como um agente antitumoral, hipoglicemiante, hipotensor, antiinflamatório, analgésico,
antiplasmódico, antibacterial, antimalarial, antiviral (incluindo AIDS). Muitas destas
propriedades terapêuticas já foram cientificamente validadas (SWERDLOW, 2005;
CALMON, 2005; ALMEIDA, 2003; CALIXTO et al., 1998, 1997; BACCHI, 1984). A
medicina popular brasileira utiliza amplamente a espécie Phyllanthus amarus Schum
& Thorn. não só no tratamento de problemas relacionados ao aparelho urinário, mas
também como auxiliar no combate a problemas estomacais. Reconhecida popularmente
por suas propriedades diuréticas, sendo utilizadas na eliminação de cálculos renais,
recentes pesquisas descobriram em várias espécies do gênero uma atividade anti-viral,
com possíveis aplicações no tratamento da Hepatite-B e câncer. Ao contrário do que o
nome popular diz, o chá de quebra-pedra não funciona exatamente quebrando as pedras
nos rins, tendo sido comprovado que Phyllantus amarus evita que os cálculos se
formem e relaxa o sistema urinário, o que ajuda a expeli-los (referência X). A pesquisa
mostrou que o chá de quebra-pedra reduz a adesão de cristais de oxalato de cálcio às
paredes do túbulo renal referência X. Com relação aos aspectos fitofarmacológicos é
conhecido que desde os anos de 1920 as espécies P. niruri e P. amarus tem sido alvo de
estudos científicos, tendo sido intensificados a partir dos anos de 1960. Como
resultados destas pesquisas, ao longo dos últimos 40 anos comprovou-se que estas
espécies são uma fonte rica em componentes bioativos, muitos deles encontrados
apenas em espécies do gênero Phyllanthus. Entre as espécies deste gênero que ocorrem
no Brasil, foram observadas certas semelhanças na constituição química e propriedades
farmacológicas. Dentre os vários metabólitos que foram isolados do P. niruri e/ou P.
amarus que tiveram sua ação biológica comprovadas, encontram-se: alcalóides,
flavonóides, lignanas, taninos, fenólicos, esteróis e glicosídeos (MACIEL et al., 2007;
CALMON, 2005; GILBERT, 2005; CALIXTO et al., 1998; 1997; FRANCO, 1996;
CRUZ, 1982).
Conclusão
Muitas vezes, plantas medicinais são investigadas parcialmente, validando,
portanto, o interesse em novas investigações científicas que possam contribuir com o
avanço científico de uma determinada espécie medicinal, podendo-se destacar como
exemplos a existência de espécies vegetais que possuem diversos nomes comuns
(conhecidos popularmente), bem como diferentes nomes científicos. Os nomes comuns
variam de acordo com a região em que uma determinada espécie vegetal se encontra.
Em quaisquer circunstâncias, um levantamento científico bibliográfico rigoroso deve ser
efetuado levando-se em consideração estas diferenças. Adicionalmente, fatores como:
gênero, família e classes de substâncias predominantes também devem ser levados em
consideração. (MACIEL et al., 2002). Neste contexto, estão inseridas as espécies
medicinais Phyllanthus niruri L. e Phyllanthus amarus Schum & Thorn., mundialmente
conhecidas como sendo sinonímias, que foram identificadas recentemente, como sendo
duas espécies diferentes (SILVA, 2006; SILVA; SALES, 2004).
A investigação literária realizada neste trabalho com foco para a espécie medicinal
Phyllanthus amarus Schumn. & Thonn., foi direcionada pelos seguintes fatores “correta
identificação botânica de espécies medicinais”, “espécie escolhida para um determinado
estudo ser encontrada em diferentes regiões do país ou em outros países” (que pode
acarretar em modificações significativas no seu quimismo, levando a intensificação,
diminuição ou ausência de algum tipo de ação biológica) e “investigações etnobotânica
e etnofarmacológica que confirmem um uso terapêutico tradicional específico de
espécies medicinais (no caso as espécies P. niruri L. e P. amarus Schum & Thorn.)”.
Referências
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p.73, 2005.
CALIXTO, J.B.; SANTOS, A.R.; CECHINEL FILHO, V.; YUNES, R.A. A review of the
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CALIXTO, J.B.; SANTOS, A.R.S.; PAULINO, N.; CECHINEL FILHO, V.; YUNES, R.A. The
plans of the genus Phyllanthus as a potential source of new drugs. Ciencia e Cultura, v.49,
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GILBERT, B.; FERREIRA, J.L.P.; ALVES, L. F. Monografias de plantas medicinais
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MACIEL, M. A. M.; PINTO, A. C.; JR VALDIR,F. V.; Plantas Medicinais: a Necessidade de
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MACIEL, M. A. M.; CUNHA, A. F.; DANTAS, T. N. C.; KAISER, C. R.; NMR
Characterization of Bioactive Lignans from Phyllanthus amarus Schum & Thorn,v,6, n.3, p. 7682, 2007.
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