ARTIGO Células Tronco Os médicos estão preparados para orientar os pacientes sobre esse assunto? As pesquisas com células-tronco têm sido amplamente comentadas nos meios de comunicação e cada vez mais os pacientes chegam aos consultórios médicos, de qualquer especialidade, com dúvidas e expectativas referentes ao assunto. Estão os médicos preparados para orientá-los? Não são poucas as famílias que procuram o médico geneticista nutridas pela esperança de que as doenças genéticas possam ser curadas através da terapia com células-tronco. Casais com filhos portadores de mal formações, autismo ou retardo mental também tem esta expectativa. Preocupante é o fato de que muitas destas famílias são orientadas por seus médicos a buscarem essa terapia, ainda em fase experimental em todo o mundo. De outro modo, é crescente a busca de muitos casais pelo armazenamento de sangue de cordão umbilical de seus bebês, sem a devida orientação quanto aos benefícios desta prática. Este artigo tem por objetivo abordar o assunto das células-tronco sem mitos, baseado no que as pesquisas apresentam até este momento. Cabe ao médico estar informado desta realidade para que não alimente em seus pacientes expectativas de tratamento e cura a curto prazo. As células–tronco são células não diferenciadas que dão origem a diversos tipos de linhagens celulares. O potencial para originar vários tipos de tecidos é diferente entre as células-tronco tipo adultas e as células-tronco embrioná- rias. Como exemplo de celulas-tronco tipo adulto temos as obtidas de cordão umbilical, medula óssea, dentes decíduos e outros tecidos diferenciados. As células de cordão umbilical são ricas em células-tronco hematopoiéticas, e embora sejam provenientes de recém-nascidos, são células com características adultas, pois já apresentam diferenciação. Essas células tem tido uma ampla utilização no tratamento de doenças hematológicas, como leucemias, linfomas, hemofilia, talassemias, anemia de Fanconi. Funcionam como o transplante de medula óssea e já existem bancos de cordão umbilical conectados, em rede mundial, para a captação de doadores compatíveis. Até o momento, estudos têm demonstrado que o grande potencial das células de cordão destina-se a formação de células sanguíneas. Espera-se que algum dia essas células possam ser utilizadas pelo próprio indivíduo para a regeneração de tecidos lesados por trauma, por vírus ou medicamentos. É muito importante chamar a atenção dos pais que hoje estão armazenando sangue de cordão de seus bebês para o fato de que, sendo a doença do paciente de origem genética, a terapia deverá ser realizada com células-tronco de doadores sadios. Não há como utilizar as células-tronco do próprio doente, uma vez que elas possuem o mesmo DNA, com o mesmo erro genético determinante da doença. Como exemplo podemos citar as doenças musculares, as doenças de erro inato do metabolismo, as leucemias e a talassemia. As células primitivas encontradas nos dentes decíduos têm potencial para originar tecido ósseo, reconstruir fissuras labiopalatinas e corrigir doenças periodontais. Alguns estudos vêm sendo desenvolvidos para a utilização de tais células também na regeneração de lesões de córnea, e há indicadores de que as mesmas possam originar células nervosas. Em 2003 foram iniciadas as pesquisas com células-tronco de dentes decíduos para o tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Mais recentemente um subgrupo de células mesenquimais do tecido adiposo vem sendo usadas na tentativa de substituir a função pancreática na produção de insulina. Muitos pacientes já apresentaram melhoras nos níveis glicêmicos e necessitam de doses menores de insulina. No entanto, as pesquisas ainda precisam avançar. Na cardiologia os avanços nas pesquisas com células tipo adultas têm tido aplicação mais imediata. O procedimento mais usual é retirar da medula óssea uma quantidade de células-tronco do próprio paciente e transplantá-las diretamente para a área do músculo cardíaco lesionada. Em dezembro de 2001, a equipe do cardiologista Hans Fernando Dohmann, do Hospital Pró-Cardíaco do Rio de Janeiro, fez o primeiro teste. Desde então, vários pacientes foram submetidos a esta técnica e há noticias de que muitos dos pacientes levam uma vida normal. Experiências mais recentes visam trans- 11 REVISTA CREMESC