AIDS: Prevenção e Cuidado. 1 2 AIDS: Prevenção e Cuidado. Carta ao leitor Após ter infectado o primeiro ser humano por volta dos anos 1920, na África, o HIV (vírus da imunodeficiência humana) começou a se alastrar pelo mundo no final da década de 1970. Nestes quase 40 anos de convivência com a aids, os cientistas ainda não conseguiram desenvolver uma vacina que evite a infecção. Por outro lado, também há boas notícias. Usados desde os anos 1990, os medicamentos antirretrovirais elevaram a expectativa de vida de quem tem o vírus. Hoje se sabe, inclusive, que a terapia é capaz de brecar a replicação do vírus e de manter a carga viral indetectável, ou seja, o número de cópias do HIV por mililitro de sangue está abaixo do limite necessário para a detecção do vírus . Atualmente, quem chega a esse resultado tem 90% menos de chances de transmitir o HIV. E estão sendo estudados pacientes que conseguiram manter a carga viral indetectável mesmo depois de parar de tomar os medicamentos. Seria o caminho da cura? Ainda não se sabe, mas é um indício animador. Alto Baixo Indetectável O leque de métodos preventivos também aumentou muito. Se antes só tínhamos o preservativo, hoje já existem as profilaxias pré e pós-exposição e se sabe que há práticas sexuais mais seguras, aumentando as chances de as pessoas se protegerem. Para chegar lá, porém, há um desafio: é preciso fazer com que as pessoas conheçam todas as possibilidades de prevenção, e que façam o teste. Se for positivo, elas poderão iniciar o tratamento e diminuir sua vulnerabilidade em relação a aids. Vale reforçar que, no Brasil, os antirretrovirais são gratuitos. Agora, tem o seguinte: precisamos falar sobre prevenção em todos os lugares – nas escolas, nos serviços de saúde, nas igrejas, na comunidade, nas partidas de futebol, na feira – , desconstruindo a ideia de que, como já existe tratamento , não é preciso fazer nada. Muito pelo contrário. Os antirretrovirais melhoram (em muito) a vida das pessoas que vivem com o HIV e a aids, no entanto, tem vários efeitos colaterais. Boa leitura! AIDS: Prevenção e Cuidado. 3 4 AIDS: Prevenção e Cuidado. Sumário Carta ao leitor3 Fim da epidemia é possível, mas ainda demanda esforço 6 Precisamos acabar com a epidemia de preconceito: Entrevista com o epidemiologista Alexandre Grangeiro. 8 Aids e direitos humanos: tudo a ver 14 O que é vulnerabilidade? Entrevista com José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres17 Enquanto a vacina não chega22 Filhos, por que não?24 Temos de ser menos caretas: Entrevista com Gabriela Junqueira Calazans29 A prevenção tem que começar o mais cedo possível 34 AIDS: Prevenção e Cuidado. 5 6 AIDS: Prevenção e Cuidado. lin ha do te m po Foto: Istockphoto Fim da epidemia é possível, mas ainda demanda esforço Passados mais de 30 anos dos primeiros casos da doença, identificada em 1982 como aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), a ciência ainda busca por uma vacina e pela cura. O uso combinado de certos medicamentos, o chamado coquetel antiaids (também conhecido como terapia antirretroviral de alta potência) reduziram drasticamente o número de mortes nos últimos anos. Para você ter uma ideia, em 2013 morreram 35% menos pessoas em decorrência da aids do que haviam morrido em 2005 em todo o mundo. O número de novas infecções também caiu 38% entre 2001 e 2013 e, entre 2002 e 2013, a quantidade de casos em crianças despencou 58%. Ou seja, é inegável que passos importantes foram dados. É bom, porém, ter em mente que para alcançar esse objetivo, ainda há muito o que fazer. Não é hora, ainda, de deixar os esforços dedicados à prevenção e ao tratamento esmorecerem, estagnarem. Ao contrário. É fundamental continuar esclarecendo, informando, refletindo sobre as formas de evitar a infecção, ao mesmo tempo em que, nos laboratórios, os cientistas seguem buscando a cura e a vacina. Quebra-cabeças incompleto Os cientistas não sabem com certeza como surgiu o vírus, não chegaram a uma vacina e nem tampouco à cura, mas conseguiram progressos que facilitaram a convivência das pessoas com o HIV e a aids. Início do século XX É quando pode ter ocorrido a primeira transmissão do HIV a humanos, em Camarões, por meio da manipulação ou do consumo de carne de chimpanzés, segundo revela pesquisa sobre história genética do vírus. Várias cepas teriam chegado ao homem dessa forma, mas apenas uma, o HIV 1 do grupo M, viraria pandemia. AIDS: Prevenção e Cuidado. 7 Precisamos acabar com a EPIDEMIA DE PRECONCEITO Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil Entrevista com o epidemiologista Alexandre Grangeiro, pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Anos 1920 O HIV1 teria chegado a Leopoldville, hoje Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, de onde começa a se alastrar. 8 AIDS: Prevenção e Cuidado. 1959 Primeira morte comprovada por aids ocorre em Kinshasa, o que se fica sabendo apenas décadas mais tarde, a partir de teste feito em sangue que ficara congelado. 1977/1978 Surgem os primeiros casos nos Estados Unidos, Haiti e África Central, que seriam definidos como aids apenas em 1982. Os principais sintomas apresentados era o Sarcoma de Kaposi, tipo de câncer que leva a lesões na pele, e pneumonia causada pelo micro-organismo Pneumocystis carinii. Foto: Ed Viggiani E m 2013, um diretor do Programa de Aids das Nações Unidas previu que a epidemia da doença terá fim em 2030. O que significa isso? Significa que nós temos todos os conhecimentos necessários para acabar com a epidemia, ou seja, para evitar que uma pessoa se infecte, ou seja infectada, que morra em decorrência da doença. Para isso, não precisamos desenvolver novas tecnologias nem novos conhecimentos ou novas formas de atuação. As que existem são suficientes. E essa constatação vem depois de algumas descobertas importantes, como a de que os medicamentos antirretrovirais podem ter grande impacto também na prevenção. Já conhecíamos o efeito deles para evitar que pessoas infectadas tivessem um agravamento do seu estado de saúde e morressem em função da aids e agora sabemos que eles têm também efeitos preventivos. O primeiro é que as pessoas infectadas, a partir do momento em que são medicadas e suprimem a replicação do vírus, podem deixar de transmiti-lo. Isso mesmo: nas pessoas infectadas e tratadas oportunamente, a chance de transmitir o vírus se reduz em mais de 90%. O segundo é que se esses medicamentos forem utilizados por pessoas não infectadas, elas podem não adquirir o vírus se entrarem em contato com ele em relações sexuais. Isso aumentou o leque preventivo. Os métodos podem ser conjugados para proteger um maior número de pessoas: o preservativo, os antirretrovirais, a mudança de Entrevista com o epidemiologista Alexandre Grangeiro, pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. a 1980 Surge o primeiro caso brasileiro, em São Paulo, só classificado em 1982. AIDS: Prevenção e Cuidado. 9 comportamento para adoção de práticas sexuais de menor risco, o teste anti-HIV para fazer acordos entre parceiros. Isso é suficiente para brecar a proliferação do vírus? A aids é uma doença infecciosa, que passa de uma pessoa para outra principalmente por meio das relações sexuais. Se nós interrompermos essa cadeia de transmissão ela não se propaga mais. O que vai restar? As pessoas que já estão infectadas. Mas nós já sabemos que pessoas que iniciam o tratamento no momento oportuno, com drogas adequadas e que tenham adesão, ou seja, que usem a droga direito, vão ter uma expectativa de vida próxima das pessoas que não estão infectadas. O conhecimento de hoje já permite que pouquíssimas ou nenhuma pessoa morra de aids usando esses medicamentos. Terminar de desenvolver essas tecnologias é esse serviço. E em boa parte essas dificuldades estão ligadas ao preconceito e ao estigma. Reduzi-los significa possibilitar que essas políticas avancem mais intensamente e cheguem a todos. Esse é o motivo de a infecção ter crescido 11% no Brasil entre 2005 e 2013, como informou o último relatório da ONU? Esse número é questionável. Pode ser menos e pode ser mais. Porém, uma coisa é consenso: hoje temos uma epidemia no Brasil com maior gravidade do que há 20 anos. Temos um número maior de pessoas que morre por aids do que no começo da década. Nas regiões Norte e Sul o número de mortes é maior até mesmo do que o de antes do início do uso dos antirretrovirais, em 1996. tudo o que nos falta para conseguir que ninguém mais se infecte ou morra por causa da aids? Qual é a explicação para esse crescimento? Não, as pessoas precisam ter acesso a elas e, para isso, há uma outra dimensão, da qual se fala pouco, que é necessidade de acabar com a epidemia do preconceito associado ao HIV/aids. Nós sabemos que todo conhecimento e tecnologia disponíveis não têm sido usados como deveriam, quer pela falta de capacidade dos serviços em absorvê-las, quer pela dificuldade da população de chegar a Não tem uma explicação única. Temos uma parcela de pessoas que não foi diagnosticada ou está demorando para chegar ao serviço após o diagnóstico. Além disso, tem uma parcela de pessoas que, embora conheça o diagnóstico e tenha chegado ao serviço, abandonou o tratamento. É importante percebermos que hoje o número de pessoas que sabe do diagnóstico e 1981 A doença misteriosa começa a preocupar as autoridades e passa a ser conhecida nos Estados Unidos como a “dos 5 H”, por atingir homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína) e hookers (profissionais do sexo). Morre o chamado “paciente zero” naquele país, um comissário de bordo. Percebe-se que o contágio se dá por contato sexual, com sangue e derivados e pelo uso de drogas injetáveis. 10 AIDS: Prevenção e Cuidado. 1983 Surgem os primeiros casos em crianças, profissionais de saúde e mulheres. O Jornal do Brasil dá a primeira notícia sobre a doença no país: Brasil registra dois casos de câncer gay. No mesmo ano já se suspeita de transmissão heterossexual e começam as críticas ao termo “grupos de risco”, por ser discriminatório. não faz o tratamento é maior do que o daquelas que não sabem de seu diagnóstico. Assim, teria mais impacto melhorar a adesão dos pacientes do que promover o diagnóstico. Claro que os dois precisam ser feitos, mas do ponto de vista de impacto na epidemia a adesão é mais importante. Eu estimaria que o controle da epidemia hoje depende de 60 a 65% da adesão ao tratamento e os outros 35, 40% do diagnóstico precoce. número de testes, mas o número de infectados identificados permanece mais ou menos igual. Isso porque as pessoas que têm mais risco são as que mais resistem a fazer o diagnóstico. Elas têm medo do preconceito, têm medo da doença e justamente por achar que a chance de terem o vírus é alta, preferem não saber, tendem a postergar. Qual a melhor estratégia para encontrar essas pessoas e motivá-las a fazer o teste? Por que as pessoas não aderem ao tratamento? Por ele não se adequar à rotina de vida, pela toxicidade, pelos efeitos adversos e a dificuldade de lidar com eles no dia a dia, pelo fato de que com o passar do tempo fazer o tratamento vai ficando cansativo. A pessoa para ou interrompe o tratamento por um longo tempo para depois retomar. Acredito que precisaremos de várias estratégias. Uma pode ser a inclusão da testagem de HIV na rotina do pronto-socorro. Ali chega uma população jovem, que se expõe mais. Tem também a possibilidade dos testes diagnósticos que podem ser feitos em casa, junto com a parceria sexual. Esses testes devem estar disponíveis em breve no Brasil. Teremos de usar a criatividade. Como seria possível reduzir diagnóstico tardio de modo a evitar esses problemas? E a redução do preconceito, não ajudaria? Temos quebrado a cabeça com isso. Estimamos que haja no Brasil umas 200 mil pessoas sem saber o seu diagnóstico. Seria preciso localizá-las entre 200 milhões de habitantes. Em São Paulo devem estar umas 150 mil, num universo de 40 milhões. O Sistema Único de Saúde tem aumentado o Sem dúvida. É preciso criar uma tolerância na sociedade. O preconceito também explica o aumento da epidemia no Brasil. Nós tivemos um grande envolvimento da sociedade nos vinte primeiros anos da doença, com incentivo da solidariedade e da tolerância, mas houve uma redução nas campanhas, nas iniciativas. Acredito que as pessoas começaram a achar que a aids já era um problema solucionado. Paramos de ver a infecção pelo HIV como um problema de saúde a 1984 O vírus causador da aids é isolado e começa a disputa entre norteamericanos e franceses pela primazia da descoberta. Surge o primeiro programa de controle da aids no Brasil, na Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. 1985 Surge a denominação Human Immunodeficiency Virus (HIV) e o primeiro teste para diagnosticar a doença, o ELISA, baseado na detecção de anticorpos contra o vírus. O uso do teste reduz muito a transmissão via transfusão de sangue. Comprova-se o primeiro caso de transmissão vertical (da mãe para o bebê). AIDS: Prevenção e Cuidado. 11 pública e passamos a encará-la com uma política de saúde pública de muito sucesso, como se a doença já estivesse controlada. Com isso, deixouse de perceber que tem situações de preconceito e estigma que são mais subterrâneas, não tão visíveis, mas que com a diminuição das campanhas voltam a aflorar de forma mais intensa. Quais são as tendências que devem ser levadas em conta por quem lida com prevenção? Essa é uma questão interessante. Nesses 20, 30 anos de convivência com a aids nós criamos uma cultura de que todo mundo está vulnerável ao HIV. Então as campanhas sempre foram voltadas para a população em geral, mas o fato é que há alguns comportamentos que aumentam o risco. Não importa se a pessoa é hetero, homo ou bissexual. O que importa é que ela se proteja. Hoje a gente vai num serviço de testagem do HIV e nota que a população que mais relata ter se exposto a um risco é a heterossexual. A população homossexual que está no serviço, proporcionalmente, tem comportamentos mais seguros, embora ela apresente as maiores taxas de prevalência do HIV. É com essa complexidade que a prevenção tem que lidar. Na prática, qual é a prevenção que funciona? Eu diria que temos de estar atentos a comportamentos. Pessoas que têm uma rede sexual ampla e aberta têm mais chance de entrar em contato e circular o vírus do que pessoas que têm redes sexuais mais fechadas e menores. Não adianta mais dizer só que tem de usar o preservativo, mesmo porque hoje existem outras formas de prevenção e uma parte da população não quer ou não consegue usa-la. Temos que falar sobre sexo, como se transa, com quem se transa, e perceber qual é a rede que essa pessoa estabelece, se é ampla, ou não, se são parceiros ocasionais. Aí, discutir com as pessoas qual a melhor forma de se prevenir. Para cada pessoa tem uma forma diferente. Pode usar o preservativo. Se não usar o preservativo pode usar medicamentos pré ou pós a relação sexual, se não usar o medicamento, pode usar o teste e fazer acordos com a parceria sexual. Se não quiser fazer o teste, pode hierarquizar as práticas sexuais, preferindo as de menor risco. E, claro, pode conjugar todas essas alternativas dependendo de cada situação ou momento. Como seria possível se trabalhar a prevenção nas escolas hoje? O que eu diria para uma pessoa que está fazendo prevenção hoje, que está no dia a dia de uma escola, que está no contato face a face com as pessoas é: converse sobre sexualidade, 1986 É criado o Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids do Ministério da Saúde (hoje, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais), órgão responsável pela coordenação da política de aids no país. 12 AIDS: Prevenção e Cuidado. 1987 Início do uso da zidovudina, mais conhecida como AZT, utilizada em pacientes com câncer, que reduz a multiplicação do HIV, para o tratamento da aids. O dia 1° de dezembro é escolhido como Dia Mundial de Luta Contra a Aids e adotado no Brasil em 1988. perceba como a pessoa estabelece suas práticas e suas redes sexuais, discuta os vários métodos de prevenção para que aquela pessoa reflita sobre quais são os métodos mais adequados ao cotidiano e à rotina dela. Na verdade, para a prevenção ser mais efetiva, é preciso atuar em várias frentes. A educação em saúde sexual e saúde reprodutiva nas escolas, para começar, é fundamental. Nós temos mais de 30 anos de epidemia. Se tivéssemos universalizado o ensino sobre sexualidade e saúde reprodutiva desde o início já teríamos algumas gerações que saberiam lidar muito melhor com a questão. Enfim, uma a campanha massiva cria um ambiente mais favorável e não pode deixar de ser feita, mas aquilo que vai levar à mudança de comportamento é a intervenção face a face, que poderá levar a uma mudança de comportamento mais imediato. Não é surpreendente que essa juventude de hoje, tão atolada de informações por todos os lados, ainda esteja vulnerável ao HIV? É que a informação não é suficiente. Todas as pesquisas mostram que o nível de informação da população é alto e em jovens é mais alto ainda. O problema é que a informação só não define o 1988 Primeiro caso diagnosticado na população indígena do Brasil. Morre o cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil, aos 43 anos, em decorrência da aids. comportamento, porque tem outras questões que vão mediar o comportamento. Por exemplo, achar que aquela relação implica risco. Grande parte das transmissões, algo por volta de 30 a 40%, ocorre em relações de parceria fixa, tanto entre homossexuais como entre heterossexuais. Então, identificar o risco na relação é importante, o quanto a pessoa se sente vulnerável ou invulnerável em relação à epidemia, ter os insumos na hora em que vai transar, não estar submetido a situações de violência, são muitos aspectos. E em relação ao cuidado com as pessoas que vivem com o HIV ou aids, como estamos? O Brasil é pioneiro no sentido de envolver organizações e serviços para atendimento, incorporou os medicamentos, o acesso é relativamente tranquilo, temos um corpo profissional capacitado, o serviço público dá um atendimento melhor do que as redes conveniadas. Mas como a aids, para muitos, se tornou crônica, há outras demandas, como uma maior incidência de doenças cardiovasculares, câncer, problemas ósseos. Isso exige mais atenção e tratamento. 1989 Pressionada por ativistas, a indústria farmacêutica Burroughs Wellcome reduz em 20% o preço do AZT no Brasil. Morre de aids o ator Lauro Corona. É estabelecida, em Porto Alegre, a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids. AIDS: Prevenção e Cuidado. 13 Aids e direitos humanos: tudo a ver Você sabia que meninas adolescentes e mulheres jovens respondem por uma em cada quatro novas infecções por HIV que acontecem na África subsaariana? Ou que no Brasil, nos últimos dez anos, houve um aumento de 67,8% nos casos entre jovens do sexo masculino, notadamente os que fazem sexo com homens? Ou ainda que a prevalência de aids pode ser até 12 vezes maior entre profissionais do sexo e 22 vezes maior entre usuários de drogas e transexuais femininas? O que estes dados têm em comum? Eles mostram que alguns grupos estão mais vulneráveis à infecção pelo HIV do que outros por questões como pobreza, discriminação, desigualdade ou exclusão social. Mostram, também, que é preciso criar estratégias preventivas específicas para eles e elas. Uma delas é não perder de vista os Direitos Humanos que, em seu artigo 1º, afirma: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil 1990 Morre o cantor Cazuza, em decorrência da aids. Surgem outras drogas para o tratamento da doença em pessoas com intolerância ao AZT: dideoxicitidine (DDC) e dideoxinosine (DDI). 14 AIDS: Prevenção e Cuidado. 1991 O antirretroviral Videx é aprovado nos Estados Unidos e o laço vermelho é adotado como símbolo mundial de luta contra a Aids. Os antirretrovirais passam a ser distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O jogador de basquete norte-americano Magic Johnson anuncia que tem HIV. Relembrando o começo da epidemia Os mais velhos certamente se lembram de que, quando surgiu, a aids recebeu o apelido de câncer gay, peste cor de rosa e outros do gênero. É que, no começo, sabia-se pouco ou nada sobre o vírus e a doença e as 1992 Inicia-se o tratamento combinando o AZT com DDC, a primeira combinação terapêutica a apresentar sucesso. A infecção pelo HIV é incluída no código internacional de doenças e o tratamento entra para a tabela do SUS. Menina de 5 anos, portadora do vírus, tem matrícula rejeitada em escola de São Paulo. principais vítimas eram mesmo os homossexuais, além de pessoas que recebiam transfusão de sangue e seus derivados. Em não muito tempo, porém, a epidemia se alastrou, atingindo em cheio as mulheres e os heterossexuais em geral. Aquela primeira impressão, criada a partir da desinformação generalizada e do medo, de qualquer forma, já tinha sido suficiente para alimentar o preconceito e o estigma sobre a doença e as pessoas que se infectavam com o HIV. Era como se as vítimas fossem culpadas por seu destino. Havia no ar a ideia de que “tinham feito por merecer”. Tudo em cima de uma condenação baseada em costumes. No caso dos gays, porque não seguiam a orientação sexual mais aceita. No caso dos heterossexuais, porque “provavelmente” não seguiam um comportamento sexual tradicional. “Eram promíscuos”, dizia-se. Essa culpabilização não levou a nada. Ou pior: levou a uma maior disseminação do HIV, pois quanto maior o preconceito, maior o medo de fazer o teste e de se descobrir com a doença e maiores as chances de aumento do número de infecções. Isso, ainda bem, já começou a mudar, embora estejamos longe de uma situação ideal. Pelo menos, hoje já não se fala tanto em “grupos de risco”, uma definição que focava em populações que estariam fatalmente ameaçadas de se infectar. Não é mais assim. Desde os anos 1990 já existe a compreensão de que em risco estamos todos, o que pode nos proteger é o acesso à informação e aos meios de prevenir a infecção, além da autonomia e da capacidade de decidir usar esses meios. 1993 O Brasil começa a produzir o AZT e inicia a notificação da aids no Sistema Nacional de Notificação de Doenças. Morre da doença o bailarino russo Rudolf Nureyev e a atriz brasileira Sandra Brea anuncia que tem o vírus. AIDS: Prevenção e Cuidado. 15 Você sabia que ... Atualmente, na América Latina, aproximadamente um terço das novas infecções ocorrem entre jovens de 15 a 24 anos? Longe de serem denominadas como “grupos de risco”, estas populações precisam ser vistas como parceiras fundamentais no trabalho de prevenção. O vírus no Brasil e no Mundo Abrindo caminhos Para uma prevenção efetiva é preciso se aproximar das pessoas. Algumas dicas: • Esqueça os preconceitos. • Ouça o que as pessoas têm a dizer. • Valorize o que as torna felizes, o que as mobiliza em seus projetos, gostos, prazeres. • Descubra com elas como proteger ou alcançar o direito de viver a sua felicidade. • Compartilhe honestamente o que você sabe e o que não sabe sobre o HIV e a aids. • Ajude-as a descobrir como evitar ou contornar as relações que as tornam mais vulneráveis à infecção pelo HIV. • Ajude-as a descobrir como lidar com a infecção pelo HIV ou com o adoecimento por aids, de modo que os obstáculos que dificultam sua felicidade possam ser minimizados. Fonte: Thiago Fagundes/Correio Brasiliense/D.A. Press 1994 Novo grupo de drogas é estudado: os inibidores de protease, que mostram potente efeito antiviral isoladamente ou em associação com drogas do grupo do AZT. Apesar de não eliminar o vírus, o coquetel reduz de forma significativa a mortalidade. Estudos mostram que o uso do AZT ajuda a prevenir a transmissão de mãe para filho. 16 AIDS: Prevenção e Cuidado. Fonte: José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres. 1995 Os inibidores de protease são aprovados nos Estados Unidos e novos inibidores da transcriptase reversa são lançados. Foto: Istockphoto O que é Foto: Ed Viggiani vulnerabilidade? Entrevista com José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo e professor visitante da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, autor dos livros Epidemiologia e Emancipação, Sobre o Risco: para Compreender a Epidemiologia, Cuidado: Trabalho e Interação nas Práticas de Saúde e co-organizador do livro Vulnerabilidade e Direitos Humanos: Prevenção e Promoção da Saúde -- Livro I: da Doença à Cidadania. 1996 Programa Nacional de DST e Aids lança o primeiro consenso em terapia antirretroviral. Combinação de dois inibidores da transcriptase reversa e um de protease começa a ser utilizado. Lei estabelece a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores de HIV no Brasil. O país registra feminização, interiorização e pauperização da epidemia. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo lança o Projeto Prevenção Também se Ensina, coordenado e executado pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação nas escolas da rede pública estadual de ensino com o apoio do Programa Estadual de DST/Aids da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. 1997 É implantada a Rede Nacional de Laboratórios para o monitoramento de pacientes com HIV em terapia com antirretroviral, com exames de carga viral e contagem de CD4, as células de defesa atacadas pelo vírus. Morre o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, irmão de Henfil e também hemofílico. AIDS: Prevenção e Cuidado. 17 Q uando e em que contexto surgiu o conceito de vulnerabilidades relacionado ao HIV? Ele veio se contrapor ao conceito de grupo de risco? O conceito de vulnerabilidade surgiu no início dos anos 1990, quando a epidemia de HIV/aids já era uma realidade bastante conhecida. Havia milhões de casos, em diversos países, e matando muita gente. Na época, ter o diagnóstico de aids significava que a pessoa ia morrer em pouco tempo. E não havia ainda nenhuma forma de prevenção mais efetiva. As pessoas eram informadas, já se sabia como era a transmissão, desde 1984, já se sabia como se podia prevenir, mas as coisas não mudavam. E não mudavam por que, na verdade, não se tratava só de uma questão de informação. Viuse que a disseminação da aids estava profundamente relacionada a condições sociais, culturais, econômicas. O conceito de vulnerabilidade veio justamente para ajudar a conhecer e transformar essas condições. Mas não veio se contrapor ao conceito de risco. Os estudos sobre o risco de ocorrência da aids, aqueles que medem a probabilidade de ocorrência da doença em certos grupos populacionais, ou a partir de certas práticas que expõem ao vírus HIV, foram, e são ainda, importantes para que possa identificar as tendências de distribuição da doença. O que ocorre muitas vezes é que só saber que há o risco para essa ou aquela população, que as pessoas estão se infectando mais de tal ou qual forma é insuficiente para agir. O conceito de vulnerabilidade ajuda a compreender porque essas populações são mais atingidas, quais os caminhos possíveis para mudar as práticas, com base na realidade vivida pelas pessoas que queremos alcançar. 1998 Criado o Conselho Empresarial Nacional, composto por 24 empresas brasileiras, para manter programas de prevenção à infecção pelo HIV e aids nos ambientes de trabalho. Lei obriga a cobertura de despesas hospitalares com aids pelos seguros de saúde privados, mas não assegura tratamento antirretroviral. Começa o primeiro teste com um produto candidato a vacina contra o HIV. 18 AIDS: Prevenção e Cuidado. O que torna uma pessoa ou grupo vulnerável ao HIV? As condições de vulnerabilização à infecção variam no tempo e no espaço. Uma população que hoje está em situação de vulnerabilidade pode não estar amanhã, ou podem mudar as razões que tornam as pessoas vulneráveis. De modo geral, podemos nos perguntar o que torna uma pessoa ou um grupo populacional vulnerável ao HIV pensando em três eixos, que, claro, compõem uma só realidade, só são separados para fins de raciocínio. Devemos nos perguntar, em primeiro lugar, de que modo uma pessoa, ou grupo de pessoas, pode ser atingida pela infecção, isto é, quais relações com outras pessoas, e em que condições poderiam facilitar ou que ela se expusesse, ou que não pudesse se proteger adequadamente da infecção. Este é o eixo individual, mas repare que mesmo no eixo individual nós estamos falando de relações com outras pessoas. Depois devemos pensar nas condições mais gerais que permitem entender essas relações interpessoais, considerando os aspectos culturais, econômicos, políticos que moldam essas relações. Bom exemplo são as questões de gênero, isto é, os papéis esperados de homens e mulheres nas suas relações, as questões etnicorraciais, a diversidade sexual, as questões de cidadania, dos direitos. Tudo isso configura o que chamamos de eixo social das análises de vulnerabilidade. E por fim, o terceiro é o eixo programático. Em relação a este devemos 1999 Uso do coquetel reduz em 50% as mortes e em 80% as infecções oportunistas no Brasil. Estudos indicam que quando o tratamento é abandonado a infecção volta a ser detectável. Pacientes desenvolvem efeitos colaterais dos medicamentos. nos perguntar como os serviços, programas e políticas de saúde estão lidando e respondendo a essas questões relacionais e sociais que permitem compreender as diferentes distribuições de casos que as análises de risco identificam – e por isso as análises de vulnerabilidades nos colocam em posição mais adequada para agir, para transformar com as pessoas as realidades que as tornam mais expostas à aids. Como as vulnerabilidades podem ser identificadas num indivíduo, num grupo, pelas pessoas que trabalham com prevenção? Primeiro, é importante perceber que nenhuma pessoa ou grupo é, de antemão, vulnerável. As pessoas se tornam vulneráveis a algumas doenças, ou problemas. Podem ser vulneráveis a uma doença e não a outra, e podem estar vulneráveis agora e amanhã não mais. Ou seja, a vulnerabilidade não é uma condição inerente a certo tipo de pessoa, mas é uma forma de analisar uma situação de desvantagem em relação à saúde. E essa situação nunca é puramente individual, ela sempre envolve relações – entre um homem e uma mulher, entre dois homens, entre mãe e filho, entre irmãos, entre amigos, ou seja, nós somos os diferentes encontros que vamos fazendo ao longo da vida, e esses encontros são singulares, na vida de cada um de nós, mas são também compartilhados entre grupos de homens, mulheres, jovens, idosos, brancos, negros, umbandistas, evangélicos, católicos, brasileiros, senegaleses. Ter clareza de onde estamos nessas relações com o mundo é fundamental para saber 2000 A partir de acordo promovido pela Organização das Nações Unidas, cinco grandes companhias farmacêuticas concordam em reduzir o preço de medicamentos antirretrovirais para países em desenvolvimento. Mortes pelo HIV na África chegam a 17 milhões. No Brasil, a proporção de casos notificados já é de uma mulher para cada dois homens. de onde vem o vírus, de que modo lidamos com ele, o que temos condições de fazer diante dele. Em segundo lugar é preciso saber que nossas ciências e técnicas são muito importantes para estudar, conhecer e intervir sobre a aids, mas elas não substituem o saber que as próprias pessoas envolvidas, atingidas pela epidemia têm sobre suas vidas, suas relações, suas vulnerabilidades. Então, em síntese, quem quer trabalhar com prevenção tem que pensar de forma interdisciplinar, combinando conhecimentos das ciências biomédicas e humanas, e sempre envolvendo o saber prático das pessoas envolvidas, assim podemos chegar a resultados muito interessantes. Uma vez identificadas, como é possível intervir nas vulnerabilidades, nesses três âmbitos? As melhores ações de prevenção são aquelas que conseguem ser mais adequadas à realidade das pessoas e o mais amplas e radicais que for possível. Por exemplo, ter conseguido uma lei federal garantindo o direito constitucional de acesso ao tratamento permitiu reduzir a vulnerabilidade ao adoecimento e morte de milhares de pessoas infectadas e a infecção de outros milhares, pois sem esse acesso pelo SUS a maioria dos brasileiros não conseguiria tratar-se. É preciso discutir a igualdade de gênero, a liberdade religiosa, as orientações sexuais, as identidades de gênero, as questões etnicorraciais. É preciso, também, ter serviços de saúde sensíveis às estratégias de redução de vulnerabilidade. Mas mesmo quando ainda não temos condições de 2001 É implantada a Rede Nacional de Genotipagem do HIV no Brasil. País ameaça quebrar patentes e consegue reduzir o preço dos medicamentos. AIDS: Prevenção e Cuidado. 19 mexer com aspectos mais estruturais, mais amplos, se na abordagem de cada indivíduo, por exemplo, em uma atividade de educação em saúde, nós nos lembrarmos de ouvir mais que ditar regras, fortalecer mais que prescrever e colocar os nossos conhecimentos a serviço das pessoas e dos seus direitos, nós estaremos reduzindo vulnerabilidades. Seria possível dizer quais são as populações mais vulneráveis ao HIV hoje no Brasil? Isso vai depender da época, do local, da situação. Mas hoje, no Brasil, é preocupante a situação de evidente vulnerabilidade produzida por relações homofóbicas, na vida social e nos serviços. A situação epidemiológica mostra uma concentração da epidemia entre homossexuais, especialmente os mais jovens, e precisamos de estratégias adequadas para esse grupo, garantindo, inclusive, os seus direitos. No que diz respeito às mulheres, em comparação com os homens, são elas que atualmente detém as maiores taxas de infecção e os piores resultados no tratamento. E permanece o grande desafio de superar vulnerabilidades decorrentes das relações socioeconômicas, mantendo-se altos os níveis de infecção nas populações mais pobres, especialmente se pensarmos em termos mundiais. Apesar das dificuldades que ainda encontramos no eixo programático, o Brasil conta com um Sistema Único e Público de Saúde, considerado um dos mais interessantes do mundo. 2002 É criado o Fundo Global para o Combate a Aids, Tuberculose e Malária, para captação e distribuição de recursos. 20 AIDS: Prevenção e Cuidado. Quais os melhores lugares para se trabalhar a prevenção? A escola é fundamental para estratégias de redução de vulnerabilidade, porque ela ainda é um dos mais relevantes espaços de sociabilidade, ela apresenta a criança e o jovem ao mundo para além de seu núcleo familiar de origem. E quanto mais rica e respeitosa for essa apresentação, melhores seremos como indivíduos e sociedade. E aí, em primeiro lugar, é abrir espaço para os maiores interessados, os alunos, poderem falar, se expressar, construir junto uma avaliação de suas vulnerabilidades e estratégias para sua redução. Depois envolver o mais possível aqueles que estão em relação privilegiada e cotidiana com eles, os educadores. É preciso que a escola venha junto, que os educadores professores facilitem a construção de respostas que façam sentido para eles e elas. Mas é preciso deixar de lado qualquer postura prescritiva, moralista e terrorista. Não é pelo medo, mas pela alegria de viver que se constroem respostas dirigidas à vida. É importante, então, ajudálos a identificar os direitos que, como ser humanos e cidadãos, podem orientar nossa vida em comum de modo a nos tornar a todos mais felizes e menos vulneráveis. Para isso algumas estratégias, como trabalho com alunos multiplicadores, atividades integradas ao cotidiano escolar e metodologias lúdicas e construcionistas, atividades propiciadoras de experiências de solidariedade social, tudo isso é fundamental. Por onde começar? Pergunte a eles! 2003 Programa Nacional de DST/Aids recebe 1 milhão de dólares da Fundação Bill & Melinda Gates como reconhecimento às ações de prevenção e assistência no país. Recursos são doados a ONGs. Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, uma das ações do Programa Saúde na Escola, passa a ser implantado em todo o país, visando incluir ações de prevenção, promoção e atenção à saúde na rede pública de educação. O conceito de vulnerabilidades já está bem assimilado por quem trabalha com prevenção? A vulnerabilidade hoje é bem mais conhecida do que há dez anos, com certeza, mas ainda há muito que caminhar, me parece. É que às vezes as pessoas só trocam o nome, de grupo de risco, ou comportamento de risco, para vulnerabilidades, mas no fundo continuam pensando e agindo do mesmo jeito. Precisamos aprender mais a como pensar em relações, não em atributos individuais, para identificar vulnerabilidades; precisamos pensar mais em direitos do que em normas para acharmos caminhos para a prevenção; precisamos incluir mais mentes e vozes nas análises de situação e na construção de estratégias de prevenção e cuidado. que tornaram os alunos não apenas mais aptos a se defender da Aids mas também, pessoas mais participativas, conscientes dos direitos mútuos, envolvidos em práticas de solidariedade social. Na prática, como tal mudança de visão tem ajudado a prevenir a disseminação do HIV? Nossa, progredimos muito! Parte do sucesso da resposta brasileira à epidemia de Aids se deve a ter sido menos orientada pela noção de grupo/comportamento de risco e ter incluído os estudos epidemiológicos de risco em análises de vulnerabilidade, incluindo precocemente a participação da sociedade organizada no traçado de políticas e no desenvolvimento de ações de prevenção. Durante muitos anos foram realizados encontros nacionais de educadores, o EDUCAIDS, e foi maravilhoso ver como, no Brasil afora, de norte a sul, nas grandes cidades e no interior, foram desenvolvidos trabalhos criativos, ousados Documentos recentes da Organização Mundial de Saúde passaram a usar o termo “populações chave”, que parece remeter aos “grupos de risco”. Estaria havendo um retrocesso na abordagem da prevenção à transmissão do HIV? É um perigo, mas também uma oportunidade. Porque as pessoas não são igualmente vulneráveis, então, achar aqueles nos quais as relações que provocam vulnerabilidade estão causando danos mais evidentes pode ser uma boa estratégia, não apenas para atingir mais rapidamente os mais prejudicados, mas porque talvez eles possam nos revelar, pelo seu profundo envolvimento com a situação, as relações que precisam ser transformadas e os melhores modos de fazê-lo. 2005 Tema do Dia Mundial de Luta Contra a Aids no Brasil aborda o racismo como fator de vulnerabilidade para a população negra. Makgatho Mandela, filho do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, morre em consequência da aids. Além da prevenção, a vulnerabilidade também ajuda na atenção à população que já vive com o vírus? Claro, a vulnerabilidade à infecção está em linha direta com a vulnerabilidade ao adoecimento. Barreiras à informação, ao tratamento, a recursos de apoio social, às condições necessárias para cuidar-se, tudo isso faz com que as pessoas vivendo com HIV e aids possam ter trajetórias mais ou menos favoráveis de sua vida na convivência com a infecção. 2006 Dia Mundial de Luta contra a Aids tem campanha com pessoas vivendo com aids, na tentativa de reduzir o estigma da doença. Brasil reduz em mais de 50% o número de casos de transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho, na gestação, no parto ou na amamentação. AIDS: Prevenção e Cuidado. 21 Enquanto a vacina não chega Muita gente fica inconformada com o fato de a ciência ainda não ter descoberto uma vacina contra a aids. É que, embora já tenhamos vacinas para muitas doenças, o sistema imunológico humano ainda não foi totalmente desvendado pelos cientistas e o HIV, para piorar as coisas, é um vírus peculiar, que ataca justamente as células de defesa do organismo, as chamadas CD4. Esforços, porém, estão sendo feitos mundo afora e novidades surgem a todo momento. Em outubro de 2014, por exemplo, um grupo norte-americano conseguiu imagens inéditas e muito precisas sobre a superfície do vírus e elas poderão ajudar a entender melhor como se dá a invasão das células, o que vai ajudar muito na busca pela vacina. Já se sabe também que algumas pessoas – bem poucas – desenvolvem anticorpos capazes de neutralizar o vírus. Tudo isso está sendo estudado, mas é impossível prever quando se poderá desenvolver um produto eficiente. A dificuldade para se chegar à vacina, de 2007 É criado banco de dados de violações dos direitos das pessoas vivendo com o HIV. 22 AIDS: Prevenção e Cuidado. qualquer modo, não é motivo para desânimo. Avanços tecnológicos inegáveis já foram conseguidos no manejo da infecção pelo HIV e na prevenção a novas infecções. O uso da terapia antirretroviral de alta potência, que consiste em combinações entre duas dezenas de medicamentos, tem conseguido manter o vírus sob controle na maioria das pessoas em tratamento, que hoje têm expectativa de vida praticamente igual à da população em geral. No estado de São Paulo, por exemplo, a taxa de mortalidade por aids caiu de 22,9% em 1995 para 6,6% em 2012. Além disso, as drogas tiveram impacto impressionante no controle da transmissão vertical do vírus (de mãe para filho) e agora começam a ser usadas também na prevenção à infecção, nas chamadas profilaxias pré e pós-exposição ao HIV. Mesmo com a terapia antirretroviral ainda há problemas a serem superados, como é o caso dos efeitos colaterais de alguns dos remédios. O mais temido desses efeitos é a lipodistrofia, que provoca uma má distribuição da gordura no organismo. Ela se acumula em algumas áreas, como o abdome, a nuca, o púbis e a região das mamas, e some de outras, como os braços, as pernas, os glúteos e a face, que ficam atrofiados. O impacto maior é na autoestima. Além disso, há um aumento da concentração de gordura no sangue (triglicérides e colesterol), que pode levar a problemas cardiovasculares. Adotar uma alimentação 2008 Inaugurada a primeira fábrica estatal de preservativos do Brasil e primeira do mundo a usar látex de seringal nativo, em Xapuri (AC). Fundação Oswaldo Cruz passa a fabricar teste rápido. Os franceses Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier ganham o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta do HIV. Foto: Marcos Santos/ USP Imagens equilibrada, pobre em gordura e açúcar, e uma atividade física frequente, pode ajudar a contornar esses efeitos. Os progressos da terapia são bem-vindos não só porque melhoram a qualidade de vida de quem vive com o HIV, mas também porque, já se sabe, uma vez em tratamento, com carga viral indetectável, a chance de a pessoa transmitir o vírus é infinitamente menor. Tratar, portanto, também significa prevenir, incrementa as possibilidades de prevenção. Isso é importante e animador, porque o aumento da oferta de métodos preventivos aumenta os índices de proteção na sociedade e melhora a qualidade de vida de quem quer se 2009 Ministério da Saúde bate recorde de distribuição de preservativos no país: 465,2 milhões de unidades. proteger. Com mais possibilidades de escolha, as pessoas, sejam de que sexo ou orientação sexual forem, estejam solteiras ou em uniões estáveis, vivam ou não com o vírus, têm menos chances de ficar sem proteção, pois podem adotar aquela que for a mais favorável para o momento e a relação que estão vivendo, além de poder combinar várias opções para melhor se proteger. Para quem trabalha com prevenção, o desafio é ajudar cada um a encontrar o melhor método para si e assim não deixar nunca de se prevenir. Isso é o que importa. 2010 Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na população brasileira de 15 a 54 anos revela comportamento sexual mais seguro entre os jovens, embora 36,9% deles comecem a vida sexual antes dos 15 anos. Travestis preparam material educativo sobre identidade e respeito e lançam campanha de enfrentamento ao preconceito no serviço de saúde e na sociedade. AIDS: Prevenção e Cuidado. 23 Filhos, por que não? Muita gente ainda não sabe, mas casais que convivem com o HIV hoje já têm condições de ter filhos sem correr tanto risco de passar o vírus para a criança ou para o parceiro, se este não o tem, desde que tomem os devidos cuidados. Se a gravidez for planejada desde a concepção a chance de a criança nascer com o vírus é de menos de 1%. Se não houver nenhum cuidado, sobe para 30%. Quando só a mulher tem o vírus, a concepção pode ser feita por autoinseminação (o casal transa com camisinha e depois, com uma seringa sem agulha, recolhe o sêmen e o aplica na vagina). Se só o homem ou se os dois são soropositivos, a melhor opção é a lavagem do esperma, feita em laboratório, que separa os espermatozoides saudáveis para aplicá-los no óvulo, no caso de fertilização in vitro, ou diretamente no útero da mulher. O único medicamento do tratamento antirretroviral contraindicado durante a gravidez é o efavirenz, que deve ser substituído. Durante o parto a mulher deve receber AZT ininterruptamente. O bebê também precisa ser tratado com AZT por 28 dias e não pode ser amamentado, pois a chance de receber o vírus dessa forma é de 22%. 2011 Brasil anuncia produção nacional de dois novos medicamentos para aids - atazanavir e raltegravir - por meio de Parcerias Público-Privadas, e versão genérica do tenofovir, indicado para aids e hepatites. É introduzida a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) sexual no SUS. É relançada a Frente Parlamentar em HIV/Aids e outras DST no Congresso Nacional, com participação de 192 deputados e senadores. 24 AIDS: Prevenção e Cuidado. Foto: Heloisa Ballarini/ Agência Brasil (30/10/2014) 2012 É iniciado o uso precoce de antirretrovirais para pacientes com contagem de CD4 igual ou menor do que 350 células por mm3 de sangue e aberta a possibilidade de antecipação do início do tratamento entre parceiros fixos sorodiscordantes. Aprovado o uso da nevirapina como mais uma proteção aos recém-nascidos expostos ao HIV. 2013 Um teste rápido por fluído oral é anunciado para venda em farmácia. O uso de antirretrovirais é indicado para qualquer fase da doença. No Colóquio 30 anos de Ciência do HIV, Imagine o Futuro, pesquisadores se mostram otimistas ante a perspectiva de que nesta quarta década da epidemia se encontre uma vacina e os efeitos colaterais do tratamento sejam reduzidos. Estudam-se casos raros de pessoas em tratamento há mais de sete anos que, mesmo após suspender o tratamento, conseguem controlar sua infecção. Medicamentos diferentes dos antirretrovirais, mais próximos dos anticancerígenos, também são pesquisados. AIDS: Prevenção e Cuidado. 25 Quadro prevenção Todas as chances para a prevenção O que pode ser feito para reduzir os riscos de transmissão do HIV nas relações sexuais, sempre lembrando que alguns recursos podem ser combinados de acordo com as preferências e necessidades de cada pessoa. Recursos O que é Vantagens Desvantagens Testagem para o HIV Realização do teste que detecta a presença de anticorpos que combatem o vírus. Com o diagnóstico de positivo para o HIV a pessoa pode iniciar precocemente o tratamento e assumir mais cuidados em suas relações sexuais Não há Acordos com a parceria sexual. A partir da realização do teste por ambos, e do conhecimento do status sorológico de cada um, é possível estabelecer combinados que envolvam o não relacionamento sexual com outras pessoas ou, se houver, o uso de preservativo nesses casos e/ou o compartilhamento dessa informação com a parceria. Ambos saberão se e quando haverá risco de infecção na relação com a parceria, podendo adotar as medidas necessárias para minimizar esse risco. O acordo pode ser descumprido por vários motivos, até por não ter sido bem compreendido por um ou por outro, e isso pode resultar em aumento do risco de infecção. 2014 Um teste rápido por fluído oral é anunciado para venda em farmácia durante a Conferência Internacional, ocorrida em Melbourne, na Austrália, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) informou que em 2013, em comparação com 2001, houve redução de 52% na quantidade de novos casos de infecções pelo HIV entre crianças e de 33% entre crianças e adultos no mundo. 26 AIDS: Prevenção e Cuidado. Preservativos masculino e feminino O masculino é um invólucro de látex, usado para envolver o pênis nas relações sexuais. O feminino é uma espécie de bolsa plástica com uma das extremidades fechada e que deve ser introduzido na vagina. São os métodos de barreira mais eficazes para evitar a infecção. Microbicidas Substâncias, em geral em gel, que matam os microorganismos, para uso local no momento da relação. É um método que não depende só do homem, no caso de relações heterossexuais. Ainda estão em estudo e o máximo a que se chegou foi uma proteção, em mulheres, em torno de 40%. Circuncisão Remoção cirúrgica do prepúcio, a pele que recobre a glande do pênis. Ao deixar a região da glande mais aberta, reduz a proliferação de micro-organismos e de células de defesa no local, reduzindo as chances de infecção não só do HIV, mas também de outras doenças sexualmente transmissíveis. É uma proteção apenas para os homens. Nas relações com mulheres e sua eficácia fica em torno de 50%. Não há resultados relevantes para homens que fazem sexo com homens. Profilaxia préexposição sexual (PrEP) Consiste no uso continuado de medicamentos da terapia antirretroviral (Tenofovir e Emtricitabina), por pessoas que não têm o vírus. No caso da falta ou do rompimento do preservativo, a pessoa teria alguma proteção extra. Os remédios precisam ser tomados diariamente e não podem ser esquecidas. Entre os efeitos colaterais relatados estão algum nível de desmineralização dos ossos e problemas renais. São de fácil acesso Se for colocado corretamente, se estiver dentro do prazo de validade, e for lubrificado, a possibilidade do preservativo se romper é mínimo. AIDS: Prevenção e Cuidado. 27 Profilaxia pósexposição sexual (PEP) Uso de medicamentos da terapia antirretroviral por 28 dias após o possível contato com o vírus. Deve ser iniciada até 72 horas após esse contato. Trata-se de um recurso emergencial, já usado para acidentes na área de saúde. Podem ocorrer efeitos adversos e eventualmente algum dos medicamentos precisa ser trocado. Tratamento como prevenção Há fortes indícios de que iniciar o tratamento precocemente e manter a carga viral indetectável reduz muito as chances de transmitir o HIV. Parceiros sorodiscordantes podem ficar mais tranquilos, embora devam continuar usando a camisinha. A carga viral pode se alterar, se houver uma infecção, oportunista ou não, e isso pode aumentar o risco de infecção pelo HIV. Adoção de práticas que acarretam menos risco, por reduzir o contato com o esperma e menstruação. Por exemplo: sexo com penetração e ejaculação interna é sempre mais arriscado; sexo oral é menos perigoso que sexo vaginal, que é menos perigoso que sexo anal. O ideal é usar a camisinha, mas se não for possível, sempre é bom conhecer opções que podem reduzir em algum nível o risco. Às vezes, a prática mais segura não condiz com a preferência da pessoa. Tipo de prática sexual ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ 28 AIDS: Prevenção e Cuidado. Temos de ser Foto: Ed Viggiani menos caretas Foto: Argeu Godoy/ Dmag Entrevista com Gabriela Junqueira Calazans, psicóloga, professora do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). AIDS: Prevenção e Cuidado. 29 J á lá se vão mais de 30 anos que o HIV foi isola- tas pessoas e aplicá-los em quem for exposto ao ví- do e até hoje não temos uma vacina. Por quê? rus. É meio parecido com o soro antiofídico: o cavalo Há uma série de dificuldades. Um aspecto é a grande produz anticorpos contra o veneno da cobra e ele é variabilidade do vírus. Além de haver muitos subti- aplicado em humanos quando entram em contato pos, dentro do organismo ele continua mudando. com esse veneno. O problema é que o soro você dá Por isso, é um desafio enorme para o sistema imune na hora em que a pessoa se infecta. Faria sentido isso humano, o qual, por sua vez, ainda não conhecemos em relação ao HIV? Muitas dessas pesquisas não oca- muito bem. Nosso sistema imune possui dois gran- sionarão o desenvolvimento de um produto vacinal, des mecanismos de resposta de defesa diante da mas podem dar dicas aos cientistas sobre como se agressão de micro-organismos: um é a produção de chegar ele, no futuro. anticorpos e o outro é o que se chama resposta celular. Começou-se a buscar a vacina pesquisando os Alguma dessas tentativas surtiu efeito? anticorpos. O problema é que o HIV estimula o de- Estudos feitos na última década geraram muita expec- senvolvimento de anticorpos, mas eles não são capa- tativa, mas acabaram frustrando pesquisadores e ati- zes de neutralizar o vírus. Então, se passou a pesqui- vistas. Em 2009 houve um primeiro resultado positivo, sar uma resposta celular, ou seja, certas células que na Tailândia. Pela primeira vez, uma vacina mostrou identificariam as células infectadas e as destruiriam. É alguma proteção à infecção pelo HIV -- de 32%. É uma um sistema de defesa que funciona no caso da tuber- proteção pequena, ainda, mas esse resultado foi im- culose. Hoje a gente sabe que os buracos existentes portante, pois mostrou ser possível desenvolver uma nos pulmões de pessoas com tuberculose são causa- vacina. Há previsão de novos estudos semelhantes, dos como uma forma de defesa do corpo, por meio mas depende do desenvolvimento e aperfeiçoamento da resposta imune celular ao bacilo de Koch. É como de novos produtos, um processo que é muito lento e se nesse mecanismo o corpo avaliasse ser melhor desanima a todos. O melhor caminho para se chegar a matar algumas células do pulmão infectadas com o uma vacina eficaz ainda não está claro. bacilo do que deixar que ele destrua o órgão todo. Durante um tempo se acreditou que essa seria tam- E a vacina brasileira? bém uma boa estratégia para a vacina contra o HIV, Também gera expectativas, mas está numa fase bem mas também foi difícil e hoje se volta a acreditar nos preliminar, com pesquisa em primatas. Toda pesquisa anticorpos. É que começa a ficar claro que algumas desse tipo tem várias etapas. Primeiro se desenvol- pessoas desenvolvem anticorpos capazes de neutra- vem produtos. Depois, na fase pré-clinica, são feitos lizar a ação do vírus. Essa peculiaridade de pouquís- testes em animais. Se houver resultados promissores simos organismos poderia ser aproveitada no desen- em primatas é que se começa a testar em humanos. volvimento de uma vacina. Outra opção é a chamada A etapa clínica, que envolve seres humanos, é com- imunização passiva, que implicaria em identificar posta de três fases. A chamada fase I tem por obje- esses anticorpos neutralizantes produzidos por cer- tivo checar a segurança do produto. O teste é feito 30 AIDS: Prevenção e Cuidado. em pessoas que não tenham nenhuma, ou tenham nem todos reconhecem, e também precisa saber que pouquíssima, chance de se infectar, apenas para ava- não estamos oferecendo uma proteção garantida, liar as reações à vacina em estudo. Na fase II se testa ela não pode ser enganada. a resposta imune, mas ainda em laboratório, por meio de exames de sangue, para verificar se houve Alguém arrisca uma previsão sobre quando po- maior produção de anticorpos, se foi ativada alguma deremos ter uma vacina? reação do sistema imune. Só após tudo isso confir- Acho que não. Foi supermobilizador quando Bill mado é que se parte para a fase III, de eficácia, com Clinton, em 1997, disse que em 10 anos teríamos envolvimento de grande número de participantes uma vacina, mas isso não se concretizou. A cada um voluntários. desses estudos a gente aprende um pouco mais. Estamos mirando uma utopia. Estamos cada vez Como esses testes são feitos? mais perto, mas não podemos afirmar quando che- Eles envolvem um grupo grande de pessoas que tem garemos lá. possibilidade de entrar em contato com o vírus e que tem dificuldade de adotar métodos de prevenção. E a pesquisa com microbicidas? Como anda? Essas pessoas são convidadas a participar e recebem Os microbicidas são cremes, gel ou supositórios que a vacina, ou um placebo, e também informações so- podem matar ou neutralizar vírus e bactérias. Quan- bre a prevenção e acesso a métodos de prevenção já do aplicados na vagina antes da relação sexual, eles comprovados, como a camisinha e a PEP. Além, claro, podem ajudar a proteger contra algumas doenças do alerta de que não se sabe se a vacina funcionará sexualmente transmissíveis. Existem várias pesquisas ou não, de forma que se incentiva o uso dos métodos para identificar potenciais microbicidas contra HIV. comprovados de prevenção. Esses estudos acompa- Em 2010 tivemos um resultado promissor de um nham os participantes por um período relativamente microbicida testado na África, que oferece uma pro- longo, de 3 a 5 anos e comparam os números de teção de aproximadamente 40%. Embora acanhado, infecção pelo HIV entre os grupos que receberam esse resultado nos diz que um microbicida eficaz vacina e placebo. Um produto vacinal eficaz deve ser para evitar a infecção pelo HIV é algo viável. capaz de evitar infecções pelo HIV, de forma que se esperaria um número menor, ou inexistente, de infec- A circuncisão é uma possibilidade? ções no grupo que o recebeu, comparativamente ao Sim. Ela apareceu como uma possibilidade de preve- grupo que recebeu o placebo. nir a infecção pelo HIV em homens heterossexuais. Sabe-se que o prepúcio, ao cobrir a glande, deixa a É difícil recrutar esses voluntários? sua pele fina e úmida, criando um ambiente propício Sim, e nas diversas fases. Acabam colaborando para a proliferação de micro-organismos. Para se de- aquelas pessoas que têm perfil mais altruísta, que fender, o corpo envia à região uma quantidade maior fazem trabalhos voluntários, aqueles que têm proxi- de células de defesa, que são justamente os alvos do midade com pessoas que vivem com o HIV e com a HIV. Quando você retira o prepúcio, o tecido da glan- aids e sentem vontade de fazer parte da luta contra de fica mais queratinizado, o que aumenta a prote- a doença e também estudantes da área de saúde. ção do próprio tecido e não tem mais esse acúmulo A maior dificuldade é com o pessoal que realmente de células de defesa. Já em 2006, a Organização pode entrar em contato com o vírus. A pessoa preci- Mundial de Saúde defendeu o uso do método para sa reconhecer que tem chance de se infectar, o que epidemias generalizadas, onde há mais de 5% de AIDS: Prevenção e Cuidado. 31 pessoas soropositivas na população de um país. Não tras estratégias de prevenção. Além do que, depen- é o caso do Brasil. Aqui temos uma epidemia concen- dendo do momento de sua vida, dos parceiros que trada, com prevalência do HIV de 0,6% na população tem, pode ser que a camisinha não funcione. Existem em geral. Mas o fato é que há grupos populacionais estratégias diferentes e as pessoas poderão escolher onde a prevalência é maior, como o de profissionais se souberem quais as vantagens e desvantagens de do sexo, o de homens que fazem sexo com homens, um método e de outros. Se não tiverem informação a população carcerária e os usuários de droga injetá- elas não saberão avaliar o que funciona melhor e em vel. Pouco se fala sobre isso no Brasil, ainda. que contexto. A gente sabe que as pessoas que usam PEP tendem a não querer usar de novo. A prevenção E a profilaxia pré e pós-exposição? combinada, com a possibilidade de utilização de vá- Em 2012, na conferência de Washington, apareceram rios métodos, abre a possibilidade para as pessoas de os primeiros resultados dos estudos sobre profilaxia elas lidarem com o risco de exposição ao HIV. O que é pré-exposição (PrEP), que é o uso de uma combina- bem melhor do que botar o problema debaixo do ta- ção de antirretrovirais antes da exposição ao vírus. pete, que é o que fazemos quando convivemos com A lógica é muito parecida com a da pílula anticon- algo muito traumatizante, como pode ser o receio de cepcional. Trata-se de um único medicamento, o se infectar. Truvada – que combina duas drogas, o tenofovir e a emtricitabina – que deve ser tomado todos os dias e O que mais se pode fazer em termos de ainda não está disponível no Brasil, só para estudos. prevenção? É criticado pelos efeitos colaterais – embora não cau- Hoje se reconhece que pessoas soropositivas que se a lipodistrofia, pode provocar a desmineralização estejam utilizando antirretrovirais e tenham carga dos ossos e problemas renais – e por teoricamente viral indetectável têm poucas chances de infectar favorecer a indústria farmacêutica, mas isso obvia- alguém. Mas o equilíbrio é instável. Hoje estou com mente só aconteceria se houvesse uma massificação carga indetectável, mas amanhã, se eu pego uma da estratégia. A profilaxia pós-exposição (PEP), que infecção, oportunista ou não, ela pode afetar meu é o uso de antirretrovirais por 28 dias, iniciando até sistema imune e consequentemente a presença ou 72 horas após a exposição ao vírus, já é usada há não do vírus. A partir daí, o que surge como novi- muitos anos nos casos de acidentes com materiais dade, como política pública, são duas abordagens: perfurocortantes por profissionais da área de saúde testar e tratar e tratamento como prevenção. São e nos protocolos de violência sexual. Tornou-se uma bem semelhantes, mas não a mesma coisa. Testar e política de prevenção no Brasil em 2008, mas dadas tratar diz respeito a incentivar a ideia de que você as características da epidemia no país, não é uma precisa detectar o mais precocemente a presença do política aberta para todas as pessoas, está associa- vírus. Isso já estava colocado, mas aumenta essa ur- da aos grupos mais afetados. O discurso contrário gência do diagnóstico precoce e também com uma a uma adoção mais generalizada é de que isso iria ideia de tratamento precoce, ou seja, à medida que fazer com que as pessoas relaxassem no uso da pre- você detecta que a pessoa é soropositiva, já começa venção. No meu entendimento, não. Eu acredito que a tratar, não espera nada. O tratamento como pre- se você está fazendo algo para se proteger, é melhor venção é assumir que tratar a pessoa soropositiva é do que se não estiver fazendo nada e se o mais ade- uma estratégia de prevenção. Isso se junta à ideia do quado para você não é a camisinha, não faz sentido tratar precocemente, assumindo que essa postura que a gente não trabalhe com outros recursos, ou- pode ter benefícios para a coletividade e não só para 32 AIDS: Prevenção e Cuidado. a pessoa. Ainda há polêmica sobre isso. Há quem ações como essas também para buscar mudanças no defenda os benefícios da adoção do tratamento contexto político e normativo. precoce, inclusive porque se sabe que a simples presença do vírus no organismo, independentemente Que conselhos você daria para quem trabalha de afetar ou não o sistema imune, geraria um quadro com prevenção junto à comunidade? inflamatório e esse quadro estaria relacionado com É preciso entender as características da nossa epi- mortalidade por causas cardiovasculares em pessoas demia e é preciso atualizar-se, saber qual é o quadro soropositivas. Mas também há os efeitos colaterais hoje, que pode estar diferente de ontem. Outra coisa relacionados aos medicamentos e algumas pessoas é pensar a hierarquia de risco de exposição ao HIV. relutam em aceitar a ideia de tratar desde logo, afi- As pessoas têm de saber que sexo oral representa nal é um impacto considerável na vida a tomada de menos risco do que sexo vaginal, que por sua vez, diversos antirretrovirais ao longo do dia. Isso está tem menos risco do que sexo anal. As pessoas relu- em discussão. Hoje, infelizmente, o consenso tera- tam em discutir essa questão. Tem muito profissional pêutico brasileiro diz simplesmente que os médicos de saúde que adora assustar as pessoas com o sexo devem incentivar o uso de antirretrovirais pelos pa- oral, porque há risco de transmissão de outras DST, cientes, quando o ideal seria que propusesse discutir como o HPV em boca e garganta. Mas dizer que o com eles os benefícios e riscos da terapia para que a sexo oral tem menores chances de transmitir o HIV decisão fosse conjunta. não significa dizer que não tenha chance de transmitir outras doenças. As pessoas têm que ter a infor- Como se podem mudar essas posturas? mação completa para entender ao que estão se sub- Mobilizando-se politicamente. Em 2012, em reação metendo e tomar a sua própria decisão. Quem está a um contexto de políticas de aids bastante desfavo- em contato com a comunidade precisa falar também rável e ao mesmo tempo acomodado com a ideia de sobre os métodos disponíveis e possíveis, explicar o que nossa postura era boa, inovadora, reconhecida que facilita a adoção de determinado método o que internacionalmente, o que não era mais, um grupo ele tem de mais interessante para determinados mo- de pesquisadores e militantes criou a iniciativa Aids mentos, relações e situações de vida e assim ajudar no Brasil Hoje: O que nos Tira o Sono,da qual fazem as pessoas, transmitindo esse quadro mais dinâmico, parte um blog, uma página no Facebook e uma série em lugar de assumir que é da turma da camisinha, e de iniciativas de articulação política. Era uma estra- não querer ver mais nada. Essa flexibilidade aumenta tégia para pautar questões visando aprimorar a polí- a proteção. Sem falar que torna mais leve a adoção tica de aids no Brasil. Foi importante porque possibi- dos métodos de prevenção. litou incorporar as novas tecnologias de prevenção e reconhecer publicamente a questão da epidemia concentrada. Agora, neste momento, precisamos de AIDS: Prevenção e Cuidado. 33 A prevenção tem que começar o mais cedo possível Os jovens são particularmente vulneráveis ao HIV e nos últimos anos essa vulnerabilidade vem crescendo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2012, havia aproximadamente 2,1 milhões de adolescentes (10 a 19 anos) vivendo com o vírus e o número de novas infecções nesse grupo aumentou cerca de 50% entre 2005 e 2012. O Brasil acompanha a tendência, e nas regiões Norte e Nordeste, a situação é ainda mais grave: a taxa de detecção entre jovens (15 a 24 anos) subiu 11% e 72%, respectivamente, nessas partes do Brasil, entre 2003 e 2012. Foto: Tómaz Silva/ Agência Brasil 34 AIDS: Prevenção e Cuidado. Ilustração: Dreamstime/Dmag Foto: Marcos Santos/ USP Imagens Só esse dado já seria suficiente para legitimar a necessidade de trabalhos junto a jovens e crianças para a prevenção contra a transmissão do HIV, mas outros motivos também devem ser levados em conta. Afinal, é nessa fase da vida que se formam modos de pensar, que se enraízam conceitos e preconceitos, que se descobre a sexualidade, enfim, é uma fase de suma importância para a formação de qualquer pessoa. É também quando começam a se evidenciar algumas vulnerabilidades ao HIV. E quanto mais cedo se começar a lidar com essas vulnerabilidades e as questões que elas envolvem, melhor. Não se trata apenas de passar informações sobre o vírus e os modos de transmissão, embora isso seja fundamental. A informação científica, apenas, não é o suficiente. É preciso que ela seja passada considerando-se aspectos culturais, ansiedades individuais, interesses coletivos. É preciso sensibilizar, mais do que informar. Para começar, não dá para pensar em prevenção sem educação para a sexualidade e para os direitos humanos. Se a sexualidade permanece como um tabu, fica muito difícil lidar com as vulnerabilidades. O mesmo vale para o respeito aos direitos humanos. Claro que a educação para tais questões pode acontecer em diversos ambientes, como a família, a igreja e até mesmo a mídia, mas a escola não pode ficar de fora, de modo algum. Como salientou o documento Orientações Técnicas de Educação em Sexualidade para o Cenário Brasileiro, lançado em 2013 pela Unesco, ela “constitui espaço privilegiado para a construção de uma ética que inclua o respeito à diversidade humana e a promoção da solidariedade”. Poderíamos acrescentar que também é um local privilegiado para promover tolerância, e, por todas essas razões, para promover a prevenção à transmissão do HIV. AIDS: Prevenção e Cuidado. 35 Dicas de prevenção Para o trabalho junto à escola e comunidade, antes de tudo, é preciso usar uma linguagem adequada levando em conta que a linguagem deve ser adaptada ao grupo etário com o qual se trabalha e estar atento a algumas questões: • Passar informações atualizadas, mas, mais do que isso, procurar sensibilizar para a existência do HIV e da aids, para as formas de transmissão, de prevenção, de tratamento e para a evolução da doença. Sem alarmismo. Afinal a aids é apenas uma entre várias doenças sexualmente transmissíveis. Importante que quem assumir essa tarefa não se cobre ser um especialista no assunto. Muitas vezes as perguntas feitas são tão importantes quanto as possíveis respostas a elas. • Desconstruir mitos e boatos sobre o HIV e sua transmissão. • Estimular trabalhos em grupo. Assim, os alunos, seus familiares e a comunidade poderão trocar informações, sensações e experiências entre si. • Ouvir o que as pessoas têm a dizer, mais do que impor os temas das atividades. • Promover a reflexão sobre as questões que favorecem a reflexão sobre as situações que deixam as pessoas mais ou menos vulneráveis a infecção pelo HIV e outras DST. • Ao discutir a sexualidade, não falar apenas do corpo, mas de afetividade, sentimentos, desejos e prazer. • Conscientizar para a diferença entre sexo e gênero, usando referências históricas e culturais. • Incentivar a todos para que assumam a responsabilidade por seu comportamento e respeitem o do outro. • Apoiar e incentivar manifestações contra o preconceito e a intolerância. • Criar atividades que trabalhem a autoestima. • Reforçar o contato da escola com os serviços de saúde. • Envolver toda a comunidade nas ações de prevenção, por meio de atividades criativas e prazerosas. 36 AIDS: Prevenção e Cuidado. Perigo real As circunstâncias em que há risco de o HIV ser transmitido. • Transfusão de sangue (se não houver controle). • Relações sexuais heterossexuais ou homossexuais, com penetração e sem proteção, com pessoas que têm o vírus. • Picadas acidentais com agulhas contaminadas. • Compartilhamento de agulhas e seringas contaminadas. • Ingestão de leite materno de mulher soropositiva para HIV. • Contato de líquidos corpóreos contaminados com a pele ferida ou com a mucosa dos olhos. Não há o que temer Situações em que o risco não existe ou é insignificante, segundo os médicos. • Sexo sem penetração. • Contato da pele íntegra com esperma, secreções vaginais, sangue, suor, lágrima ou urina. • Beijo na boca. • Abraço. • Compartilhamento de talheres, pratos ou copos. • Compartilhamento de toalhas de banho e panos de prato. • Doação de sangue. • Picadas de insetos. • Uso de sanitário público. • Assento de ônibus. • Compartilhamento de brinquedos sexuais. • Mordidas. AIDS: Prevenção e Cuidado. 37 Sessão pipoca Sugestões Ao longo das três últimas décadas, a indústria cinematográfica abordou a aids em diversas obras que se tornaram grandes sucessos de bilheteria em todo o mundo e trouxeram várias informações sobre a epidemia. Na escola – de fim de semana ou regular – assistir a um filme sobre a aids é uma boa forma de promover a reflexão e trazer a discussão para as mudanças que ocorreram desde seu início, em 1981, até os dias de hoje. Vale reforçar que a aids ainda não tem cura. Tem tratamento. E que também existem várias formas de se prevenir do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. 30 Anos da aids: a 4ª década será a última? Documentário produzido pelo Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids – Nepaids em 2011. Traz uma breve história da aids pela voz de pesquisadores, profissionais da saúde e pessoas que vivem com a doença. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=DR7940CeQ2Q&hd=1 Clube de compras Dallas – Direção: Jean-Marc Vallée (2013) Sinopse: em 1986, o eletricista texano Ron Woodroof é diagnosticado com aids e logo começa uma batalha contra a indústria farmacêutica. Ao lado de um amigo travesti, cria um clube de fornecimento de remédios não autorizados para pessoas que vivem com o HIV, contrabandeados do México. A história problematiza os preconceitos e a rede de solidariedade que se articulou em torno da aids. 38 AIDS: Prevenção e Cuidado. Philomena – Direção: Stephen Frears (2013) Sinopse: narra a história de uma mulher que, no século 19, engravida num convento na Irlanda, tem o filho tirado de seus braços pelas freiras e dado para adoção. Cinquenta anos depois, ao empreender uma busca para encontrá-lo, descobre que ele morreu em consequência de doenças oportunistas causadas pelo HIV. O filme aborda também diversos temas, entre eles: a rejeição de gays nas equipes dos republicanos nos Estados Unidos; as mortes causadas pela aids; a venda de crianças de mães adolescentes que não haviam sido orientadas a evitarem uma gravidez e instituições que fecharam os olhos para o comércio ilegal dessas crianças. The Normal Heart - Direção: Ryan Murphy (2014) Sinopse: Ned Weeks é um escritor e seu namorado de Felix contrai o vírus da AIDS, fazendo com que ele se torne um grande ativista. Sua principal bandeira é mostrar para o mundo que a doença não deve ser vista como um “câncer gay”, ideia comprada pela médica cadeirante Emma Brokner, que passa a agitar a causa dentro da comunidade científica. Foto: Tomas Silva/ Agência Brasil Na prática Neste ano, a proposta do eixo saúde do Programa Escola da Família para se trabalhar com a prevenção do HIV, da aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis é investir no cuidado: consigo próprio e com quem se vive e convive e até mesmo com a sustentabilidade do planeta. Afinal, ao se pensar em promoção da saúde e prevenção cabe tudo: a pessoa, a escola, o serviço de saúde, a comunidade, o município, o estado, o país e o universo. AIDS: Prevenção e Cuidado. 39 O que podemos fazer? Concursos – a escola, a Intervenção na comunidade – a escola em unidade de saúde e outros parceiros podem propor um concurso de redação ou de histórias em quadrinhos no tema Saúde e Prevenção. É preciso, no entanto, um bom planejamento e escolher quais serão os critérios de premiação. Além dos prêmios, é importante que os melhores produtos sejam divulgados na escola, na UBS e na comunidade. Na premiação, vale a pena convidar os/as dirigentes, representantes das secretarias de educação e saúde – municipal e estadual – e fixar painéis com as melhores redações ou HQ para todo mundo ler. conjunto com o serviço de saúde e outros parceiros poderão propor uma série de ações no território em que a escola está situada. Uma pesquisa, um mutirão de trabalho para limpar uma praça, uma feira de saúde são algumas ideias. O importante é divulgar o evento e convidar a população para participar. É uma boa forma, também, de se repassar informações sobre as DST, HIV e hepatites virais. Pode-se fazer uma banquinha com materiais e para se tirar dúvidas. Nesse caso, é importante que tenha alguém da saúde junto e, se possível, distribuir folhetos, cartazes, preservativos etc. Flashmob – primeiro escolham uma música com todos os materiais que foram elaborados durante o ano na escola – regular e no final de semana - sobre promoção da saúde e prevenção. Vale tudo: sustentabilidade, bicicletada, cãominhada, combate à dengue. Ou seja, podemos apresentar tudo aquilo que fizemos e que tem a ver com nossa saúde. simples, daquela que todo mundo já conhece. Só não se esqueça de que a letra da música tem que trazer mensagens de promoção da saúde, prevenção e/ou igualdade entre as pessoas. Em seguida, é preciso criar uma coreografia e ensaiar bastante. Não se esqueçam de divulgar o evento para os amigos ao vivo e nas redes sociais. Também, vale identificar um local em que tenha uma ampla movimentação para surpreender todo mundo com a música e a coreografia. Gincana - mesmo associada à competição, pode ser organizada de forma a estimular a cooperação e a solidariedade a partir de propostas que tenham um caráter pedagógico. É importante, também, instituir uma comissão julgadora que conheça o assunto e, ao final, oferecer um prêmio que seja relacionado com o tema. Quiz, caça palavras, jogos são algumas das possibilidades. Mostra de saúde – organizar uma exposição Oficinas de lacinhos vermelhos e amarelos – todo mundo sabe que os lacinhos vermelhos têm a ver com a prevenção da aids. O que muita gente não sabe é que os lacinhos amarelos dizem respeito às hepatites virais. Então, a ideia é usar os dois lacinhos juntos e explicar para a comunidade sobre a importância, também, de se tomar a vacina para a hepatite B e os cuidados para não se infectar pela hepatite C. NÃO SE ESQUEÇAM! A PARCERIA COM OS SERVIÇOS MUNICIPAIS DE SAÚDE NAS AÇÕES DE PREVENÇÃO AO HIV E AIDS SÃO FUNDAMENTAIS! 40 AIDS: Prevenção e Cuidado. Bibliografia consultada ARAÚJO, Teo W.; CALAZANS, Gabriela. Prevenção das DST/Aids em adolescentes e jovens: brochuras de referência para os profissionais de saúde. ARRUDA. Silvani. O tempo não para. Experiências de prevenção às DST, HIV e Aids com e para adolescentes e jovens. São Paulo: Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP, 2013. INSTITUTO PASTEUR. Colóquio 30 anos de ciência do HIV, imagine o futuro - de Paris. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ afp/2013/05/21/trinta-anos-apos-a-descoberta-da-aids-cientistas-falam-deerradicacao.htm. Acesso em 21 de outubro de 2013. BRASIL. Boletim Epidemiológico HIV/Aids, Ministério da Saúde, 2013. OMS. Diretrizes Consolidadas sobre Prevenção, Diagnóstico, Tratamento e Cuidados em HIV para as Populações-Chave. Genebra: Organização Mundial de Saúde, 2014. BRASIL. Saúde e Prevenção nas Escolas: Guia para a formação de profissionais de saúde e de educação, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, UNESCO, UNICEF, UNFPA, 2007. UNESCO. Orientações Técnicas de Educação em Sexualidade para o cenário Brasileiro, Unesco Brasil, 2014. UNAIDS. The Gap Report, Unaids: 2014. ABIA. Prevenção Combinada: Barreiras ao HIV. Rio de Janeiro: Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, 2011. Global Advocacy for HIV Prevention. Combination Prevention. Disponível em: (http://www.avac.org/prevention-option/combination-prevention. Acesso em 09/10/2014. OMS. HIV and adolescents: guidance for HIV testing and counselling and care for adolescents living with HIV: recommendations for a public health approach and considerations for policymakers and managers, Organização Mundial de Saúde, 2013. Disponível em: http://www.who.int/iris/ bitstream/10665/94334/1/9789241506168_eng.pdf ). Acesso em 16/10/2014. VARELLA, Dráuzio. Guia Prático de Saúde e Bem Estar. Coleção Doutor Dráuzio Varella, Gold Editora, 2009. CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION - CDC. Hiv transmission risk, Disponível em: http://www.cdc.gov/hiv/policies/law/risk.html. Acesso em 17/10/2014. AIDS: Prevenção e Cuidado. 41 Fundação Faculdade de Medicina Coordenação Marcos Galvez Marluce Camarinho Pesquisa, reportagem e redação Silvani Arruda Wanda Nestlehner Colaboração Alexandre Grangeiro, Damião Silva Edison de Almeida Gabriela Calazans, José Ricardo Ayres Fotos Ed Viggiani Dreamstime Istockphoto Argeu Godoy Fotos Públicas Projeto Gráfico e Diagramação Dmag Comunicação (www.dmagdesign.com) Acesse nosso site: www.projetoape.com.br 42 AIDS: Prevenção e Cuidado. AIDS: Prevenção e Cuidado. 43 44 AIDS: Prevenção e Cuidado.