O pregador teólogo

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SEM SE ESTRESSAR POR SUCESSO
O pregador teólogo
Para mim, com uma vida religiosa ativa e familiaridade com a Bíblia, é
muito clara a distinção entre a Filosofia e a Teologia. Esta diz respeito às
coisas espirituais; aquela ao pensar humano, racional e dedutivo. Simples
assim.
No entanto, os dois ramos de conhecimento não são assim tão de fácil
separáveis. A “Filosofia” começou como “Teologia” (tentando entender o
mundo a partir do que se acreditava no transcendente) e só na dita Idade
Moderna é que a Filosofia foi se tornando independente da Teologia, e
hoje o comum é entender a Teologia como ramo da Filosofia. (Este não é
um entendimento de consenso e existe uma área da Teologia que se
denomina “Teologia Filosófica”.) Se entendermos Filosofia no sentido
original da palavra e no seu contexto mais amplo, todo exercício de
reflexão mental e ordenamento de pensamentos é filosofar.
Uma ajuda balizada cai bem aqui, e ela vem da explicação lúcida de
Bertrand Russell (1):
“Filosofia, como eu a entendo é algo intermediário entre teologia
e ciência. Igual à teologia, a filosofia consiste de especulações
em assuntos nos quais um conhecimento definitivo tem sido,
pelo menos até hoje, de impossível determinação; mas, como a
ciência, a filosofia apela à razão humana mais do que à
imposição autoritária, seja ela da tradição ou da revelação. Todo
conhecimento definitivo – inquestionável – pertence à ciência;
todos os dogmas, que se sobrepujam ao conhecimento definitivo
pertencem à teologia. Mas entre a teologia e a ciência há uma
terra sem dono, exposta ao ataque de ambos os lados. Esta
terra sem dono é a filosofia”.
Ouvindo Russell fica claro que o Pregador conseguiu ser cientista e
filósofo e teólogo.
Sem duvida, o Pregador não precisava se agoniar com estas sutilezas da
nossa complexidade. Ele estava pensando sobre a vida, e a vida se
compõem de Deus, trabalho, chuva, sucesso, morte, rei, futilidade e tudo
mais. Era uma coisa só, inimaginável de ser compartimentada em áreas
isoladas, que muitas vezes sequer interagem entre si.
Nos voltamos agora para as reflexões de cunho teológico em
Eclesiastes.
O pregador pensa em Deus
O pregador responde à nossa curiosidade: Como é Deus nesse mundo
niilista do autor de Eclesiastes?
Eis as leis sobre Deus apresentadas:
Lei da soberania divina: Há a ação soberana, inescrutável e perfeita de
Deus.
Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a
eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir
as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim. (3.11)
Sabedoria Salomônica em Eclesiastes
1
SEM SE ESTRESSAR POR SUCESSO
Sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe
pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para que os
homens temam diante dele. O que é já foi, e o que há de ser
também já foi; Deus fará renovar-se o que se passou. (3.14-15)
Atenta para as obras de Deus, pois quem poderá endireitar o
que ele torceu? (6.13)
então, contemplei toda a obra de Deus e vi que o homem não
pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais
que trabalhe o homem para a descobrir, não a entenderá; (8.17)
Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como
se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também
não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas. (11.5)
Lei da fonte: O conhecimento, a sabedoria e o prazer humanos provém de
Deus e O agradam
Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que
a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também
que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode
comer ou quem pode alegrar-se? Porque Deus dá sabedoria,
conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao
pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar
àquele que agrada a Deus. (2.24-26)
Sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e
levar vida regalada; e também que é dom de Deus que possa o
homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.
(3.12-13)
Lei da maldade humana: Intrinsecamente, o ser humano é incapaz de
praticar o bem.
Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não
peque. (6.20)
Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas
ele se meteu em muitas astúcias. (6.29)
Lei do juízo: Todas as ações humanas serão submetidas ao julgamento
divino
pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrarse? Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao
homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que
ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus.
Também isto é vaidade e correr atrás do vento. (1.26)
Então, disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há
tempo para todo propósito e para toda obra. Disse ainda
comigo: é por causa dos filhos dos homens, para que Deus os
prove, e eles vejam que são em si mesmos como os animais.
(3.17-18)
Sabedoria Salomônica em Eclesiastes
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SEM SE ESTRESSAR POR SUCESSO
Bom é que retenhas isto e também daquilo não retires a mão;
pois quem teme a Deus de tudo isto sai ileso. (6.18)
Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração
nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem
ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de
todas estas coisas Deus te pedirá contas. (11.9)
Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que
estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más. (12.14)
Conselho do dever humano: a obrigação do ser humana de reconhecer
Deus, temê-lo e procurar agradá-lo
pois, separado deste (Deus), quem pode comer ou quem pode
alegrar-se? (1.25)
Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para
ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não
sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o
teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de
Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam
poucas as tuas palavras. (5.1-2)
Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo;
porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. (5.4)
Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante
do mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se
iraria Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as
obras das tuas mãos? 7 Porque, como na multidão dos sonhos
há vaidade, assim também, nas muitas palavras; tu, porém,
teme a Deus. (5.6-7)
Bom é que retenhas isto e também daquilo não retires a mão;
pois quem teme a Deus de tudo isto sai ileso. (6.18)
Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que
venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não
tenho neles prazer; (12.1)
De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda
os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.
(12.13)
O corolário de toda a jornada – Teme a Deus
De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda
os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.
Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que
estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más. (12.13-14)
(1)
Traduzido de “The history of Western Philosophy”, Touchstone Books, EUA,
1972 p.xiii
Sabedoria Salomônica em Eclesiastes
3
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