Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Centro de Ciências da Saúde - CCS Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – HUCFF Residência Integrada Multiprofissional em Saúde - RIMS Disciplina: Bioestatística Professor: Maurício Peixoto Dengue: Aspectos epidemiológicos de casos notificados em um Hospital Universitário do Rio de Janeiro no ano de 2008 Discentes: Ana Claudia Kauark Castelo Branco Cruz - Fonoaudiologia Ana Maria Santos Vicente Ribeiro - Fonoaudiologia Juliana Eduardo Dias Palhares - Farmácia Maria Isabel Braune Guedes - Enfermagem Natália Travassos Porto Alegre - Psicologia Nathália da Silva Braga Costa - Farmácia Rio de Janeiro 2013 INTRODUÇÃO A dengue é uma doença infecciosa febril aguda, cujo agente etiológico é um RNA-vírus pertencente à família Flaviviridae, do qual são conhecidos quatro sorotipos (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4). O vírus é transmitido por artrópodes hematófagos e seu principal vetor é o mosquito Aedes aegypti. Apresenta um espectro clínico muito amplo, que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma como se apresente. (ROCHA & TAUIL, 2009; BARONI & OLIVEIRA, 2009; MINISTERIO DA SAUDE, 2010) A infecção pode apresentar-se como dengue clássico (DC) que é uma doença benigna, caracterizada por quadro febril agudo com duração de até sete dias e está associada a sintomas como cefaléia, dor retroorbital, mialgia, artralgia, exantema, manifestações hemorrágicas leves e leucopenia. A doença pode evoluir para febre hemorrágica do dengue (FHD), onde se verifica o aumento da permeabilidade vascular, perda de plasma para o espaço intersticial, causando hemoconcentração, hipovolemia, além de manifestações hemorrágicas e trombocitopenia. A ocorrência de manifestações hemorrágicas, acrescidas de sinais e sintomas de choque cardiovascular, pode levar ao quadro de síndrome de choque do dengue (SCD). Quando nem todos os critérios para encerrar um caso como FHD são atendidos, o caso é classificado como dengue com complicações (DCC). (BARONI & OLIVEIRA, 2009; GOMES, 2011). Os países tropicais são os mais atingidos, em função das suas características ambientais, climáticas e sociais (GOMES, 2011). Essa enfermidade consiste em um importante problema de saúde pública no Brasil (GOMES et al., 2012). Estudos relatam que a região sudeste do Brasil tem alta incidência nos casos notificados de dengue (CARDOSO et al., 2011; GOMES, 2011). O Rio de Janeiro possui importantes fatores favoráveis à doença: histórico, visto que algumas das grandes epidemias disseminadas pelo país se iniciaram neste estado (GOMES, 2011; CÂMARA et al., 2007); climáticos e meteorológicos, por possuir clima tipicamente tropical e ter fatores relacionados a temperatura e precipitação que favorecem a proliferação do vetor (GOMES et al., 2012; CÂMARA et al., 2009; RIBEIRO et al., 2006); social, por ser um centro urbano que abriga grande número de imigrantes vindos de diversas regiões e trazem com eles a variação dos sorotipos do vírus de forma passiva; e político, devido ao déficit de abastecimento de água e remoção de lixo (saneamento básico) e a precariedade da educação, já que a forma de prevenção da doença se dá em função da remoção dos focos de água parada, que depende também da ação individual da população (GOMES, 2011; HINO et al., 2010). Faz-se necessária a realização de pesquisas a respeito da epidemiologia da dengue, para aprimorar diretrizes de políticas públicas preventivas de saúde, tendo em vista tamanho transtorno na saúde coletiva, especialmente em regiões mais recorrentes, como o Rio de Janeiro. A pesquisa foi realizada com dados do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), que possui assistência terciária, se configurando como um hospital de alta complexidade e de referência em atendimento à saúde no estado do Rio de Janeiro. Portanto, apesar de ter como maioria a população residente no município do Rio de Janeiro, onde este hospital está localizado, casos de residentes em diversos outros municípios também participam da amostra da pesquisa (ver tabela 1 e figura 1). Tabela 1: Distribuição dos casos notificados de dengue segundo os municípios residenciais Municípios residenciais Belford Roxo Cabo Frio Duque de Caxias Itaboraí Itaguai Japeri Magé Nova Iguaçu Queimados Rio de Janeiro São Gonçalo São João do Meriti Seropédica Total n % 5 5 1 1 13 13 1 1 2 2 1 1 2 2 6 6 3 3 61 61 1 1 3 3 1 1 100 100 Figura 1: Gráfico setorial baseado nos dados disponibilizados pela Seção de Epidemiologia e Estatística do HUCFF, referente ao ano de 2008. O objetivo principal do estudo é traçar um perfil epidemiológico dos casos de dengue notificados no HUCFF no ano de 2008. Neste perfil é desejável: 1) avaliar a incidência de casos com relação aos meses do ano; 2) avaliar a prevalência dos casos por gênero (sexo) e faixa etária; 3) avaliar a distribuição da prevalência do tipo de dengue em relação ao gênero (sexo); 4) avaliar a correlação entre a classificação da dengue e o tempo de internação hospitalar. METODOLOGIA Este estudo foi realizado a partir de uma amostra aleatória de 100 casos de dengue notificados no HUCFF no ano de 2008. Os dados foram obtidos a partir das fichas de notificação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e disponibilizados pela Seção de Epidemiologia e Estatística do HUCFF. As variáveis analisadas foram: mês da notificação, gênero (sexo), faixa etária, classificação do tipo de dengue e tempo de permanência hospitalar. Os dados foram organizados e distribuídos em gráficos e tabelas, para melhor visualização e interpretação do fenômeno em estudo, através do programa Microsoft Office Excel 2010. Também realizou-se cálculos de média e desvio padrão, ambos com a utilização do mesmo programa. A primeira tabela do estudo é denominada de série geográfica, a qual a variável é ordenada segundo regiões (municípios residenciais dos casos de dengue notificados). A Figura 1 do estudo é um gráfico setorial, no qual a variável em estudo está projetada num círculo, de raio arbitrário, dividido em setores com áreas proporcionais às freqüências das suas categorias, neste caso, municípios residenciais dos casos de dengue notificados. É possível perceber de imediato que o impacto visual que o gráfico setorial proporciona em relação à tabela é muito maior. O número de variáveis da Figura 1 é bem considerável, sendo representado por 10 municípios do estado do Rio de Janeiro que estão presentes na Tabela 1, mas ainda assim, nos permite a sua utilização com eficácia visual dos dados. Como há uma fatia significativamente maior, representando 61% da totalidade dos casos, temos um impacto que bem ilustra a predominância de um determinado município, ocasionando maior precisão. Já os gráficos de linha ou linear, como o da Figura 2, são bastante utilizados na identificação de tendências de aumento ou diminuição de valores numéricos de uma dada informação (LUTZ). Estes também são utilizados no caso de variáveis onde fazemos uma comparação contínua dos dados, a partir de eixos ortogonais. Sua construção é feita colocando-se no eixo vertical (y) a mensuração da variável em estudo e na abscissa (x) as unidades da variável numa ordem crescente. Geralmente, o eixo horizontal (x) representa a variável de tempo. De acordo com a figura 2, pode-se observar que o eixo vertical (y) indica o número de casos de dengue notificados e no eixo horizontal (x) meses do ano, sendo, respectivamente, uma variável dependente e a outra independente. Este tipo de gráfico permite representar séries longas, o que auxilia detectar suas flutuações tanto quanto analisar tendências (GUEDES et al.). A escolha do gráfico em barras na Figura 3 permite ilustrar a comparação do índice do número de casos por faixa etária agrupada e gênero (feminino e masculino). Portanto, no eixo horizontal (x) temos os grupos etários e gênero e na vertical (y), o número de casos notificados. Ao se descrever simultaneamente duas ou mais categorias para uma variável, é conveniente fazer uso dos gráficos de barras ou colunas justapostas (ou sobrepostas), chamados de gráficos comparativos (GUEDES et al.). A altura do retângulo (barra) mostra a freqüência ou magnitude da variável do estudo (PEIXOTO, 2006). Esta forma de demonstração facilita a visualização dos dados no gráfico devido à comparação, neste caso, de duas variáveis no mesmo eixo (faixa etária e gênero), possibilitando a percepção de onde há maior número de casos de dengue notificados. Na realidade, o gráfico de barras realizado neste estudo apresenta uma distribuição de freqüência com menor número de classes (para simplificar o gráfico), assim, produzindo uma menor precisão. A variação de distribuição de freqüência ocorre de 20 em 20 anos, não permitindo concluir a idade exata de maior incidência. A tabela 2 representa uma tabela de distribuição de freqüência, a qual foi demonstrada através das variáveis formas clínicas da dengue e gênero. A distribuição de freqüência é a organização tabular dos dados em classes de ocorrência, ou não, segundo suas respectivas frequências absolutas. Em alguns casos há também o interesse de se apresentar os dados em frequências relativas ou acumuladas (PETERNELI). É comum e útil na interpretação de tabelas a inclusão de uma coluna contendo as freqüências relativas e/ou relativas em percentual. A freqüência relativa é obtida dividindose a freqüência absoluta de cada categoria da variável pelo número total de observações (número de elementos da amostra ou da população). Multiplicando-se este resultado por 100, obtém-se a freqüência relativa em percentual. As freqüências relativas em percentual são úteis ao se comparar tabelas ou pesquisas diferentes. Por exemplo, quando amostras (ou populações) têm números de elementos diferentes, a comparação através das freqüências absolutas pode resultar em afirmações errôneas, enquanto que pelas freqüências relativas em percentual não, pois os percentuais totais são os mesmos (GUEDES et al). A utilização da letra “n” minúscula significa o número de elementos de uma determinada classe ou amostra. Poderia ser utilizada também a letra “f” minúscula, que significa freqüência absoluta (PEIXOTO, 2006). A tabela 3 foi produzida para gerar informações estatísticas referente ao tempo de permanência hospitalar relacionado à classificação da dengue. Os dados obtidos através das duas variáveis citadas foram de tempo mínimo e máximo de permanência hospitalar, média de permanência e desvio padrão. O desvio-padrão amostral tradicional é comumente usado para obter inferências de uma população, pois, juntamente com a média, caracterizam uma distribuição (FREITAS et al., 2008). A variância e o desvio padrão podem ser calculados para dados agrupados, ou seja, distribuições de freqüência com intervalos de classe. Entretanto, os resultados podem ser apenas aproximadamente precisos (NEDER). A média é a soma das observações dividida pelo número de observações. Seus números tendem a se localizar em um ponto central de um conjunto de dados. Em geral é a medida de posição comum. O desvio padrão é uma medida de dispersão e o seu valor reflete a variabilidade das observações em relação à média (LUNET et al., 2006 ). Portanto, a tabela é um quadro que resume um conjunto de observações, enquanto os gráficos são formas de apresentação dos dados, cujo objetivo é o de produzir uma impressão mais rápida e viva do fenômeno em estudo (GUEDES et al.) RESULTADOS A incidência mensal de casos de dengue notificados no HUCFF no ano de 2008 pode ser observada na Figura 2. Assim, verifica-se que no mês de janeiro ocorreu o início da elevação no número de notificações de dengue, obtendo seu ápice nos meses de março e abril e, subsequente, diminuição a partir do mês de maio. Figura 2: Gráfico linear baseado nos dados disponibilizados pela Seção de Epidemiologia e Estatística do HUCFF, referente ao ano de 2008. A maior prevalência dos casos de dengue notificados no HUCFF no ano de 2008 se deu em pessoas do sexo masculino com idade entre 41 - 60 anos (n=23), seguido por pessoas do sexo feminino com faixa etária de 21 - 40 anos (n=17). Em relação ao gênero (sexo), as notificações de dengue apresentaram mais indivíduos do sexo masculino (n=55) do que feminino (n=45). Já em relação à faixa etária, indivíduos com idade entre 21 - 60 anos representaram a maioria dos casos em ambos os sexos (n=68). Esses dados podem ser observados na Figura 3. 25 23 20 17 15 15 13 12 10 8 5 5 4 3 0 astifc C d ero m ú N 0 0 - 20 21 - 40 41 - 60 61 - 80 81 - 100 Idade (anos) Feminino Masculino Número de casos notificados de dengue segundo gênero e faixa etária Figura 3: Gráfico em barra baseado nos dados disponibilizados pela Seção de Epidemiologia e Estatística do HUCFF, referente ao ano de 2008. Tabela 2: Distribuição da prevalência do tipo de dengue em relação ao gênero Formas Clínicas n % Total Feminino Masculino Feminino Masculino n % Dengue Clássica (DC) 4 12 9 22 16 16 19 25 42 45 44 44 da Dengue (FHD) 22 18 49 33 40 40 Total 45 55 100 100 100 100 Dengue com Complicações (DCC) Febre Hemorrágica A diferença entre os gêneros feminino e masculino em relação ao tipo de dengue se mostrou relevante nas formas clínicas: DC e FHD. Na DC houve maior prevalência em homens (22%), enquanto na FHD observou-se maior prevalência em mulheres (49%). Porém, as formas clínicas DCC e FHD foram as mais presentes nos casos notificados, em ambos os gêneros (Tabela 2). Assim, a forma mais grave da doença (DCC e FHD) representou 84% dos casos de dengue notificados no HUCFF no ano de 2008, enquanto a forma mais branda da doença (DC) representou apenas 16%. Não houve caso registrado de síndrome do choque da dengue (SCD). Tabela 3: Tempo de permanência hospitalar relacionado à classificação da dengue Tempo (dias) Dengue Clássica 1-5 6-10 11-15 16-20 21-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 Total 16 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 16 Tempo mínimo Tempo máximo Média de permanência Desvio Padrão Febre Dengue com Hemorrágica Complicações da Dengue 21 19 21 17 1 2 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 44 40 Total 56 38 3 0 1 0 1 0 0 0 1 100 1 4 1 52 3 34 1 52 1,50 6,50 7,15 5,96 0,89 7,41 5,55 6,33 *considerou-se que todo paciente que deu entrada e recebeu alta hospitalar no mesmo dia permaneceu 1 dia Ao relacionar o tipo de dengue e o tempo de permanência hospitalar, na Tabela 3, observou-se que na forma clínica DCC aproximadamente metade dos casos apresentaram tempo de internação no intervalo de 1-5 dias e a outra metade no intervalo de 6-10 dias, sendo o tempo médio de permanência igual a 6,50±7,41 dias. O mesmo aconteceu com a forma clínica FHD, porém, o tempo médio de permanência foi de 7,15±5,55 dias. Alguns raros pacientes ultrapassaram esse período chegando a 52 e 34 dias de internação, respectivamente. Já nos casos de DC, o tempo máximo de internação foi de 4 dias, sendo o tempo médio de permanência 1,5±0,89 dias. DISCUSSÃO Nos dados analisados, observou-se que a maior incidência de dengue ocorreu no primeiro semestre do ano de 2008, tendo seu pico nos meses de março e abril (Figura 2). De acordo com a literatura, esse fato se justifica devido às condições climáticas favoráveis a disseminação do mosquito vetor nos meses mais quentes, aumentando assim a transmissibilidade da doença (BARONI & OLIVEIRA, 2009). Com a chegada dos meses quentes, há uma elevação da temperatura, dos índices pluviométricos e da umidade relativa do ar, fatores ambientais altamente propícios à proliferação do vetor da doença, mosquito Aedes aegypti (CASALI et al., 2004). A temperatura também afeta o comportamento do vírus no vetor, a replicação e maturação do vírus no inseto (período extrínseco) são aceleradas com o aumento da temperatura, aumentando a proporção de vetores no ambiente e sua eficiência na transmissão do vírus. Portanto, é necessário o desenvolvimento de ações voltadas para o controle na proliferação do mosquito Aedes aegypti, principalmente nestes meses. O combate aos criadouros deste vetor é a estratégia possível, já que não dispomos ainda de uma vacina para a infecção pelo vírus (GOMES, 2011). Ao analisar a distribuição por sexo dos casos de dengue notificados, observou-se que 45% dos indivíduos foram do sexo feminino e 55% do sexo masculino. Porém, os dados obtidos no presente estudo divergem da literatura. A literatura relata maior incidência de casos de dengue em mulheres, possivelmente, devido ao maior tempo de permanência nas residências e, consequentemente, a uma maior exposição ao vetor, já que o mosquito Aedes aegypti é um inseto doméstico (BARONI & OLIVEIRA, 2009). Quanto à faixa etária, os indivíduos economicamente ativos, faixa etária entre 21-60 anos, foram os mais acometidos pela doença. Este resultado foi semelhante ao encontrado em outros estudos (COSTA et al., 2011). Isto talvez possa ser justificado devido à maior circulação dessas pessoas em regiões diferentes da sua moradia, permitindo as mesmas entrar em contato com áreas endêmicas mais facilmente. Neste estudo, verificou-se diferença relevante entre os gêneros feminino e masculino em relação ao tipo de dengue nas formas clínicas DC e FHD, onde a prevalência na primeira foi maior em homens e na segunda em mulheres. Alguns estudos mostraram que o gênero feminino apresentou em sua maioria a doença com complicações e choque (COSTA et al., 2011), corroborando com o resultado observado. Porém, a forma mais grave da doença (DCC e FHD) esteve muito mais presente nos casos de dengue notificados no HUCFF no ano de 2008 do que a forma branda da doença (DC) em ambos os gêneros. Provavelmente, isso se deve ao fato do estado do Rio de Janeiro ser uma região endêmica, já tendo apresentado epidemia por vários sorotipos do vírus do dengue, o que aumenta o risco de surgimento de epidemias de febre hemorrágica do dengue (GOMES, 2011). Isto porque a população, que já foi previamente exposta à infecção, acaba sendo reinfectada por um novo sorotipo do dengue, ao qual ainda é susceptível. Neste caso, é comum ocorrer uma resposta imunológica exacerbada à re-infecção, resultando em uma forma mais grave da doença. Além disso, a gravidade desta epidemia também pode estar relacionada à introdução de uma cepa do dengue com virulência elevada em uma região com alta densidade vetorial. Alguns autores têm proposto uma hipótese integral de multicausalidade, onde a interação de fatores de risco individuais, virais e epidemiológicos promoveria condições para a ocorrência do dengue hemorrágico (CASALI et al., 2004). É importante ressaltar que o HUCFF é um hospital de referência para doenças infecciosas e, por isso, pode ter recebido pacientes com quadros clínicos mais graves da doença. Não houve caso registrado de síndrome do choque da dengue (SCD). As formas clínicas DCC e FHD apresentaram tempo de internação no intervalo de 1-10 dias na quase totalidade dos casos, sendo o tempo médio de permanência igual a 6,50±7,41 dias e 7,15±5,55 dias, respectivamente. Porém, alguns raros pacientes ultrapassaram esse período, chegando ao tempo máximo de internação igual a 52 dias no DCC e a 34 dias na FHD, o que justifica os altos valores de desvio padrão. O mesmo não ocorreu nos casos de DC, onde o tempo máximo de internação foi de 4 dias e o tempo médio de permanência 1,5±0,89 dias, sendo o desvio padrão bem pequeno. Estes resultados estão de acordo com o esperado, pois os casos que apresentaram a forma mais grave da doença, também apresentaram maior tempo de internação. Além disso, os casos de DCC e FHD com tempo de internação discrepante ao tempo médio observado se justificam pela própria forma clínica da doença, que apresenta sintomatologia mais grave, podendo causar diferentes comprometimentos clínicos nos pacientes, aumentando o tempo de internação. O mesmo dificilmente acontece nos casos de DC. Por fim, ressalta-se que em função do uso de uma base de dados secundária, possíveis vieses podem ter ocorrido, como viés de seleção. Isto não apenas pela provável subnotificação de casos, como também pela própria seleção da amostra, que apesar de aleatória, apresenta um número muito pequeno de casos. Além disso, a despeito de existir um instrumento padronizado de coleta de dados (ficha do SINAN) não se pode assegurar que o mesmo foi preenchido de maneira homogênea. Tal fato pode ocasionar erros na aferição das variáveis em estudo levando a uma distorção nas estimativas de efeito, caracterizando-se assim um possível viés de informação. CONCLUSÃO Tendo em vista que a dengue é um problema de saúde pública, é importante que os serviços de saúde estejam atentos à vigilância, orientações aos pacientes e ao diagnóstico precoce da dengue. Vê-se a necessidade de investimentos em pesquisas, principalmente as que estão relacionadas ao desenvolvimento de estratégias direcionadas para o controle do mosquito Aedes aegypti. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARONI, C.J.; OLIVEIRA, T.B. 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