206 Internacional Journal of Cardiovascular Sciences. 2015;28(3):206-214 ARTIGO ORIGINAL Síndrome Metabólica em Pacientes com Insuficiência Cardíaca Metabolic Syndrome in Patients with Chronic Heart Failure Juliana Frigeri da Silva1, Denise Tavares Giannini1, Ricardo Mourilhe-Rocha2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Hospital Universitário Pedro Ernesto – Divisão de Nutrição – Rio de Janeiro, RJ – Brasil Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Hospital Universitário Pedro Ernesto – Serviço de Cardiologia – Rio de Janeiro, RJ – Brasil 1 2 Resumo Fundamentos: A insuficiência cardíaca é a via final comum da maioria das doenças que acometem o coração, considerada um dos mais importantes desafios clínicos atuais na área da saúde. Evidências epidemiológicas demonstram cada vez mais a associação entre síndrome metabólica e presença de alterações cardiovasculares, já que, de forma independente, os fatores de risco que estão relacionados à insuficiência cardíaca são os mesmos que compõe a síndrome metabólica, contribuindo, substancialmente, para o aumento da morbimortalidade cardiovascular. Objetivo: Avaliar a presença de síndrome metabólica em pacientes com insuficiência cardíaca crônica, atendidos em clínica de insuficiência cardíaca. Métodos: Trata-se de estudo transversal que avaliou pacientes portadores de insuficiência cardíaca crônica, atendidos na Clínica de insuficiência cardíaca de Hospital Universitário. A coleta de dados compreendeu a avaliação antropométrica, clínica e bioquímica. O diagnóstico de síndrome metabólica foi estabelecido pelos critérios da International Diabetes Federation. Resultados: Foram avaliados 90 pacientes, sendo 51% (n=46) do sexo masculino, com média de idade de 62,7±12,3 anos. O estudo identificou elevada frequência de síndrome metabólica (71%; n=64) correlacionando-se significativamente com o aumento do índice de massa corporal (p<0,001). Ao comparar os grupos, observou-se que o diabetes mellitus foi significativamente mais frequente no grupo com síndrome metabólica (p<0,001). Conclusão: Os indivíduos portadores de insuficiência cardíaca apresentaram elevada frequência de síndrome metabólica, sendo o diabetes mellitus a alteração mais frequente no grupo com síndrome metabólica. Palavras-chave: Insuficiência cardíaca; Síndrome X metabólica; Doenças cardiovasculares Abstract (Full texts in English - www.onlineijcs.org) Background: Heart failure is the final common pathway of most diseases involving the heart. It is considered one of the most important current clinical challenges in health care. Epidemiological evidence increasingly demonstrates the association between metabolic syndrome and the presence of cardiovascular disorders, since, in an independent manner, risk factors related to heart failure are the same that comprise metabolic syndrome, substantially contributing to the increase of cardiovascular morbidity and mortality. Objective: To evaluate the presence of metabolic syndrome in patients with chronic heart failure assisted in the heart failure service. Methods: This cross-sectional study evaluated patients with chronic heart failure treated at the heart failure Clinic of a University Hospital. Data collection included anthropometric, clinical and biochemistry evaluation. Diagnosis of metabolic syndrome was established by the criteria of the International Diabetes Federation. Results: The study evaluated 90 patients, including 51% (n=46) males with a mean age of 62.7±12.3 years. The study found a high frequency of metabolic syndrome (71%; n=64) correlating significantly with increased body mass index (p<0.001). By comparing the two groups, it was observed that diabetes mellitus was significantly more frequent in patients with metabolic syndrome (p<0.001). Conclusion: Individuals with heart failure showed high frequency of metabolic syndrome, and diabetes mellitus was the most frequent alteration in the group with metabolic syndrome. Keywords: Heart failure; Metabolic syndrome X; Cardiovascular diseases Correspondência: Juliana Frigeri da Silva Av. 28 de setembro, 77 – Divisão de Nutrição – Vila Isabel – 20551-030 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil E-mail: [email protected] DOI: 10.5935/2359-4802.20150030 Artigo recebido em 21/12/2014, aceito em 19/05/2015, revisado em 28/05/2015. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(3):206-214 Artigo Original Introdução A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa e progressiva, que pode ser definida por alteração estrutural ou funcional do coração, gerando um bombeamento sanguíneo insuficiente para a demanda metabólica tissular ou fazê-lo somente por elevadas pressões de enchimento1. Estudos de prevalência estimam que 23 milhões de pessoas no mundo tenham IC e que dois milhões de casos novos sejam diagnosticados anualmente. Trata-se de um problema epidêmico em progressão2-4. A industrialização e a urbanização implicaram o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis4, sendo a IC a via final comum da maioria dessas doenças que acometem o coração5,6. Evidências epidemiológicas demonstram cada vez mais a associação entre síndrome metabólica (SM) e presença de alterações cardiovasculares, já que, de forma independente, os fatores de risco que estão relacionados à IC são os mesmos que compõe a SM6. A SM é um complexo conjunto de fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV). Dentre os fatores inclui-se o aumento da pressão arterial, dislipidemia [níveis aumentados de triglicerídeos e reduzidos de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL)], hiperglicemia e a obesidade, principalmente a adiposidade abdominal7,8. A coexistência desses fatores de risco eleva as taxas de eventos cardiovasculares, entre eles a IC, e leva ao mau prognóstico do paciente, aumentando a mortalidade geral em cerca de 1,5 vez e a cardiovascular em cerca de 2,5 vezes9-11. Em 2001, o National Cholesterol Education Program - Adult Treatment Panel III 12 definiu os critérios clínicos e laboratoriais para o diagnóstico de SM, que foram redefinidos em 2006 pela International Diabetes Federation (IDF)13, com ênfase na obesidade abdominal de acordo com o grupo étnico, tornando o valor da circunferência abdominal imprescindível para o diagnóstico6. O diagnóstico da SM pode identificar o risco para DCV, destacando a importância de sua detecção precoce. O conhecimento da prevalência da SM na população tornase necessário para o adequado dimensionamento e direcionamento de ações de saúde14,15. Silva et al. Síndrome Metabólica e Insuficiência Cardíaca 207 Assim, o presente estudo teve por objetivo avaliar a SM nos pacientes com insuficiência cardíaca crônica (ICC) atendidos na Clínica de IC do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE). Métodos Trata-se de estudo transversal, descritivo, realizado de abril a outubro de 2011, com amostra de conveniência, constituída por pacientes com IC atendidos na Clínica de IC do HUPE, na cidade do Rio de Janeiro. ABREVIATURAS E ACRÔNIMOS •CC – circunferência da cintura •DCV – doenças cardiovasculares Os critérios de inclusão adotados foram: pacientes com diagnóstico de IC, idade >18 anos, de ambos os sexos. Foram excluídos do estudo os pacientes que não possuíssem dados ecocardiográficos necessários para o diagnóstico de IC. •FEVE – fração de ejeção do ventrículo esquerdo As variáveis avaliadas foram: idade, sexo, cor da pele, tabagismo, pressão arterial, circunferência da cintura (CC), índice de massa corpórea [IMC (kg/m²)], glicemia, HDL, triglicerídeos e a etiologia da IC, classe funcional de acordo com a New York Heart Association (NYHA)16 e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). •IC – insuficiência cardíaca •HAS – hipertensão arterial sistêmica •HDL – lipoproteína de alta densidade • HUPE – Hospital Universitário Pedro Ernesto •ICC – insuficiência cardíaca crônica •ICFEN – insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal •ICFER – insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida • IDF – International Diabetes Federation •NYHA – New York Heart Para a aferição da pressão arterial Association utilizou-se o equipamento eletrônico •PAD – pressão arterial Colin Press-Mate® BP 8800 (Texas, diastólica USA). As medidas antropométricas •PAS – pressão arterial sistólica foram aferidas em balança mecânica tipo plataforma da marca Balmack® •SM – síndrome metabólica (São Paulo, Brasil), com capacidade máxima de 150 kg e precisão de 100 g; na presença de edema e/ou ascite, foi utilizado o peso seco estimado17. A altura foi aferida por estadiômetro de haste metálica fixado à própria balança, com escala de precisão de 0,5 cm; e a CC medida no ponto médio entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior18 por fita inextensível. Para a classificação do IMC considerou-se para os indivíduos adultos (≥18 anos e <60 anos) os pontos de corte preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)19: baixo peso (<18,5 kg/m²), eutrofia (≥18,5 kg/m² e <25 kg/m²), pré-obesidade (≥25 kg/m² e <30 kg/m²) e 208 Silva et al. Síndrome Metabólica e Insuficiência Cardíaca Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(3):206-214 Artigo Original obesidade (≥30 kg/m²). Para os indivíduos idosos (≥60 anos) 20 foram utilizados os pontos de corte preconizados pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)21: baixo peso (<23 kg/m²), eutrofia (≥23 kg/m² e <28 kg/m²), pré-obesidade (≥28 kg/m² e <30 kg/m²) e obesidade (≥30 kg/m²). Para diagnóstico da SM foram utilizados os critérios propostos pelo IDF13, sendo necessária a presença de obesidade abdominal associada a outras duas alterações (Quadro 1). A obesidade abdominal foi definida com base no ponto de corte recomendado para os indivíduos da América do Sul, conforme sugerido pelo IDF13. Quadro 1 Critérios diagnósticos de síndrome metabólica propostos pelo IDF Componentes IDF Circunferência abdominal Homens ≥90 cm Mulheres ≥80 cm HDL Homens <40 mg/dL Mulheres <50 mg/dL Pressão arterial ≥130/85 mmHg ou colesterol de lipoproteína de baixa densidade ≥160 mg/ dL ou HDL <40 mg/dL ou <50 mg/dL, para homens e mulheres, respectivamente, ou ainda assim, na vigência de fármacos hipolipemiantes24. Para determinar a FEVE como reduzida ou normal, utilizou-se o ponto de corte de 50%25. Os dados laboratoriais e informações ecocardiográficas foram colhidos do prontuário clínico. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUPE sob o nº 3049/2011 e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram armazenados no software Epi Info®, EUA, e analisados no Statistical Software for Professionals® (STATA) versão 10. As variáveis contínuas foram expressas em médias±desvio-padrão e as categóricas em proporções. Para análise das variáveis categóricas utilizou-se o teste do qui-quadrado (c2) ou o teste exato de Fischer. As variáveis contínuas foram testadas através do teste Kolgomorov- Smirnov para verificar a normalidade da distribuição. Sendo normal, foram comparadas através do teste t de Student. Todas as análises estatísticas usaram um erro alfa de 5% como ponto de corte para o nível de significância. Triglicerídeos ≥150 mg/dL Resultados Glicemia de jejum ≥100 mg/dL No estudo foram avaliados 90 pacientes com média de idade de 62,7±12,3 anos, variando de 34-85 anos, dos quais 51,0% eram do sexo masculino. As características clínicas e demográficas encontram-se na Tabela 1. IDF - International Diabetes Federation O paciente em uso de medicação para o controle do colesterol ou triglicerídeo e/ou em uso de antihipertensivo e/ou com diagnóstico prévio de diabetes mellitus (DM) tipo 2 foi incluído como positivo para a presença daquele componente da SM, conforme definido previamente pelo IDF13. Para a caracterização da população foi considerado: 1) Hipertensos: pressão arterial sistólica (PAS) ≥140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥90 mmHg ou em tratamento medicamentoso para HAS22; 2) Diabéticos: glicemia de jejum ≥126 mg/dL, em pelo menos duas ocasiões, ou em uso de fármacos hipoglicemiantes23; 3) Dislipidêmicos: níveis de triglicerídeos ≥150 mg/dL A IC com fração de ejeção reduzida (ICFER) foi predominante (73,3%; n=66), em ambos os sexos [78,3% (n=36) nos homens e 68,2% (n=30) nas mulheres] e este resultado associou-se com a faixa etária, sendo mais frequente nos idosos (p=0,06). Quanto à classe funcional, houve predomínio das classes II (n=42; 46,7%) e I (n=38; 42,2%). A etiologia isquêmica superou as demais (31,1%), seguida da hipertensiva (25,6%) e idiopática (23,3%). Na classificação dos pacientes por faixa de IMC, observou-se maior percentual de pré-obesidade e Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(3):206-214 Artigo Original Silva et al. Síndrome Metabólica e Insuficiência Cardíaca Tabela 1 Características clínicas e demográficas da população estudada População estudada n=90 n (%) Com SM n=64 n (%) Sem SM n=26 n (%) Feminino 44 (49,0) 31 (48,5) 13 (50,0) Masculino 46 (51,0) 33 (51,5) 13 (50,0) 5 (5,6) 3 (4,7) 2 (7,7) 40 - 49 10 (11,1) 8 (12,5) 2 (7,7) 50 - 59 17 (18,9) 16 (25,0) 1 (3,8) ≥ 60 58 (64,4) 37 (57,8) 21 (80,8) Brancos 29 (32,2) 23 (35,9) 6 (23,0) Negros 33 (36,7) 21 (32,8) 12 (46,2) Pardos 28 (31,1) 20 (31,3) 8 (30,8) 7 (7,8) 1 (1,6) 6 (23,0) Eutrofia 28 (31,1) 16 (25,0) 12 (46,2) Sobrepeso 27 (30,0) 23 (35,9) 4 (15,4) Obesidade 28 (31,1) 24 (37,5) 4 (15,4) ICFER 66 (73,3) 49 (76,5) 17 (65,4) ICFEN 24 (26,7) 15 (23,4) 9 (34,6) I 38 (42,2) 26 (40,6) 12 (46,2) II 42 (46,7) 30 (46,9) 12 (46,2) III 10 (11,1) 8 (12,5) 2 (7,7) 6 (6,7) 5 (7,8) 1 (3,8) Hipertensiva 23 (25,6) 18 (28,1) 5 (19,2) Idiopática 21 (23,3) 14 (21,8) 7 (26,9) Isquêmica 28 (31,1) 19 (29,7) 9 (34,6) 12 (13,3) 8 (12,5) 4 (15,4) Hipertensão arterial 87 (96,7) 62 (96,9) 25 (96,1) 1,000 Diabetes mellitus 31 (34,8) 29 (45,3) 2 (7,7) <0,001 Dislipidemia 55 (61,8) 39 (60,9) 16 (61,5) 1,000 Características dos pacientes p Sexo 0,893 Faixa etária (anos) <40 0,059 Cor da pele 0,397 Diagnóstico nutricional Baixo peso <0,001 Fisiopatologia da IC 0,277 Classe funcional 0,800 Etiologia Chagásica Outras causas 0,920 Comorbidades SM – síndrome metabólica; IC – insuficiência cardíaca; ICFER – insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida; ICFEN – insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal 209 210 Silva et al. Síndrome Metabólica e Insuficiência Cardíaca Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(3):206-214 Artigo Original obesidade (excesso de peso) (n=55; 61,1%), principalmente entre aqueles com SM (n=47; 73,4%). A hipertensão arterial sistêmica (HAS) e a dislipidemia foram as comorbidades mais encontradas na população estudada [96,7% (n=87) e 61,8% (n=55), respectivamente]. No entanto, ao comparar os grupos, observou-se que o DM foi significativamente mais frequente no grupo com SM (p<0,001). De acordo com os resultados mostrados na Figura 1, pode-se afirmar que existe relação significativa entre o diagnóstico nutricional e a presença de SM, de forma que conforme aumenta o IMC, maior é o percentual de pacientes, principalmente do sexo masculino (p<0,001). Ao comparar os valores médios dos componentes da SM entre os grupos com e sem síndrome, observou-se diferença de aproximadamente 12 cm na CC, 6 mmHg na PAS e PAD, 100 mg/dL nos triglicerídeos e 40 mg/dL na glicemia. Os valores de HDL foram menores também no grupo com SM (Tabela 2). Observou-se comportamento crescente dos valores médios da CC, pressão arterial sistólica e diastólica, triglicerídeos e glicemia de jejum, enquanto que os valores médios de HDL apresentaram-se decrescentes conforme agregação do número de componentes da SM (Tabela 3). Todos os indivíduos avaliados apresentaram pelo menos um componente de risco. Figura 1 Estado nutricional da população estudada, de acordo com o diagnóstico de SM, por sexo SM – síndrome metabólica Tabela 2 Variáveis antropométricas e bioquímicas da população estudada, de acordo com a presença ou não de síndrome metabólica Variáveis Com SM (n=64; 71,1%) Média±DP Sem SM (n=26; 28,9%) Média±DP p-valor CC (cm) 103,3±11,9 91,7±10,1 <0,001 PAS (mmHg) 126,4±17,4 119±17,9 <0,04 PAD (mmHg) 70,2±10,9 64,4±11,5 <0,01 TG (mg/dL) 209,9±41,9 101,9±39,8 <0,05 HDL (mg/dL) 41,7±12,6 56,5±18,9 <0,001 GLI (mg/dL) 136,5±65,9 95±16,7 <0,001 SM – síndrome metabólica; CC – circunferência de cintura; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica; TG – triglicerídeos; HDL – lipoproteína de alta densidade; GLI – glicemia; DP – desvio-padrão. As variáveis contínuas foram comparadas pelo teste t de Student para amostras independentes. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(3):206-214 Artigo Original Silva et al. Síndrome Metabólica e Insuficiência Cardíaca Tabela 3 Componentes da SM de acordo com o número de fatores de risco encontrados na população estudada Fatores de risco (n; %) 1 (4; 4,0%) 2 (22; 24,0%) 3 (22; 24,0%) 4 (28; 31,0%) 5 (14; 17,0%) Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP 85,8±3,8 92,8±10,5 96,7±10,5 104,8±11,1 109,7±11,3 PAS (mmHg) 100,3±21,5 121,8±16,7 124,5±16,0 124±19,9 133±12,5 PAD (mmHg) 55,3±10,7 66,3±10,9 68±11,1 70,3±10,7 71,8±12,2 TG (mg/dL) 81,3±18,6 105,4±42,1 96,5±30,2 182,6±83,2 420±615,6 HDL (mg/dL) 84,5±38,9 54,3±13,1 49,3±13,7 41,3±10,8 32,7±7,1 GLI (mg/dL) 94,7±4,2 94,4±18 104±21,9 135,4±70,1 184±73,8 Componentes CC (cm) SM – síndrome metabólica; CC – circunferência de cintura; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica; TG – triglicerídeos; HDL – lipoproteína de alta densidade; GLI – glicose; DP – desvio-padrão Discussão A média de idade encontrada neste estudo (62,7±2,3 anos) está de acordo com achados de outros estudos nacionais6,26,27 que avaliaram pacientes com IC, cuja média foi 61,0 anos. Coelho et al.6 e Balieiro et al.5 ao estudarem a prevalência de SM nesses pacientes encontraram média de idade de 61,0±13,0 e 57,0±15,0 anos, respectivamente. Neste estudo observou-se que 51,0% dos pacientes eram do sexo masculino, assim como no estudo realizado por Margoto et al.28, cuja prevalência do sexo masculino foi 51,0% e 54,1%, respectivamente. O Framingham Heart Study29 relata que a incidência de IC aumenta com a idade e é mais frequente em homens. Barker et al.30 demonstraram que o aumento da epidemia de IC ocorria em uma população masculina idosa, e o aumento de sua prevalência estava diretamente associado ao aumento de sua incidência, estando, portanto, diretamente relacionado a maior sobrevida. A maioria dos pacientes apresentou ICFER, sendo esta mais frequente nos idosos. Este resultado se contrapõe ao encontrado na literatura, no qual se descreve que a ICFEN representa 50% dos casos, sendo mais prevalente em idosos, pois o envelhecimento teria maior impacto no enchimento ventricular do que na FEVE 1 . Os indivíduos avaliados apresentaram com maior frequência as classes funcionais I e II, assim como em outro estudo5. A HAS foi, dentre os fatores de risco, o mais predominante (96,7%) no grupo, fato este encontrado em outros estudos2,23, apesar de a etiologia prevalente ter sido a isquêmica e não a hipertensiva. A HAS é o mais importante fator de risco cardiovascular modificável, estando associada à IC, com consequente diminuição na sobrevida e piora da qualidade de vida31. A presença de SM mostrou elevada frequência nos pacientes com IC, sem diferença entre os sexos. Entretanto, estudos nacionais5,6 encontraram relação da SM principalmente entre as mulheres. A grande associação relacionada à presença de SM com o sexo feminino pode, indiretamente, estar correlacionada à hipertrigliceridemia, obesidade, HAS e elevação do IMC, que se associam a características próprias do sexo feminino após a menopausa, devido a alterações hormonais32. Meirelles33 cita diversos trabalhos que mostram maior prevalência de SM em mulheres na pós-menopausa em relação àquelas na pré-menopausa. Esse fato pode ser consequência direta da falência ovariana ou resultar de alterações metabólicas promovidas pelo aumento de gordura visceral secundária a diminuição dos estrogênios, não estando claro se a menopausa aumenta o risco cardiovascular em todas as mulheres ou apenas nas portadoras de SM34. A SM é mais prevalente após a menopausa do que na pré-menopausa, podendo ter importante papel na 211 212 Silva et al. Síndrome Metabólica e Insuficiência Cardíaca Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(3):206-214 Artigo Original ocorrência de DCV. Considerando que esse estudo avaliou grande número de idosas, ressalta-se esta limitação, uma vez que este dado não foi analisado. aqueles com SM tiveram menores concentrações de HDL. As diferenças entre os grupos foram igualmente observadas em outro estudo nacional37. O excesso de peso foi o mais frequente entre os indivíduos com IC. Kenchaiah et al.35, em uma coorte de 5 881 participantes, observaram que para cada incremento de um ponto no IMC houve aumento do risco de IC de 5,0% para homens e de 7,0% para mulheres. Outro achado relevante foi a associação positiva entre o aumento do IMC e o número de pacientes que apresentaram alterações dos componentes da SM. Esse fato está justificado na literatura, pois é fato que a crescente incidência de SM se deve ao maior número de casos de obesidade36. Em relação à agregação dos componentes da SM, neste estudo houve um incremento dos valores médios conforme agregação do número de componentes. Um estudo39, ao avaliar o risco relativo de desenvolver DCV e DM relacionado ao número de componentes para SM, concluiu que o risco de desenvolver DCV é seis vezes maior quando quatro ou mais componentes estiverem presentes. Em populações que já apresentam doenças cardiovasculares a prevenção secundária torna-se ainda mais importante. A quantidade de indivíduos com alterações nos componentes da SM aumentou de duas a três vezes com o envelhecimento, sendo mais predominante acima dos 60 anos. Já é bem documentado que a idade contribui para o aparecimento de SM e com o acúmulo de desordens metabólicas11. Essa correlação entre SM e faixa etária é descrita por estudos nacionais: Leão et al.37 identificaram elevada prevalência de HAS e hiperglicemia com comportamento crescente com o aumento da idade; e Oliveira et al.15 encontraram maior frequência de SM entre indivíduos de idade mais avançada. O predomínio de pressão arterial elevada entre indivíduos com e sem SM foi semelhante à encontrada em outros estudos15,37. Salaroli et al.11 também encontraram maior frequência de obesidade abdominal entre as mulheres, ressaltando a íntima relação da obesidade central com a SM. A hiperglicemia ao se expressar seis vezes mais frequente no grupo com SM, assim como no estudo de Leão et al.37 e 4,5 vezes no de Oliveira et al.15, revelaria a estreita relação entre o metabolismo alterado da glicose e a SM. A glicemia de jejum é preditor independente de hospitalização por IC em pacientes de risco, na presença ou na ausência de diagnóstico prévio de DM1. Pacientes com SM e DM têm morbidade e mortalidade cardiovascular aumentada. A IDF acredita que a SM esteja potencializando o DM tipo 2 e a DCV38. Indivíduos com SM apresentaram médias mais elevadas de CC, PAS, PAD, triglicerídeos e glicemia. Também Sendo assim, a investigação da SM consiste em ferramenta fundamental para essa prevenção, uma vez que há elevada associação com a mortalidade cardiovascular. Conclusão Os indivíduos portadores de IC apresentaram elevada frequência de SM, estando esta relacionada, significativamente, com o excesso de peso independente da faixa etária. Observou-se uma estreita relação entre o DM e a SM, uma vez que foi encontrada diferença significativa entre os grupos com e sem SM. É de fundamental importância a investigação da SM para a implementação de ações terapêuticas que visem à reversão da SM em pacientes cardiopatas, haja vista a associação com a elevada mortalidade nessa população. Potencial Conflito de Interesses Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes. Fontes de Financiamento O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação Acadêmica O presente estudo é parte integrante do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Residência em Nutrição Clínica de Juliana Frigeri da Silva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(3):206-214 Artigo Original Silva et al. Síndrome Metabólica e Insuficiência Cardíaca Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues D, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da Diretriz brasileira de insuficiência cardíaca crônica - 2012. Arq Bras Cardiol. 2012:98(1 supl. 1):1-33. Nogueira PR, Rassi S, Corrêa KS. Perfil epidemiológico, clínico e terapêutico da insuficiência cardíaca em hospital terciário. Arq Bras Cardiol. 2010;95(3):392-8. Mady C. Situação atual do tratamento da insuficiência cardíaca no Brasil. Arq Bras Cardiol. 2007;89(4):e84-6. Rossi Neto JM. A dimensão do problema da insuficiência cardíaca do Brasil e do mundo. 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