LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES DOS CAMPOS RUPESTRES E PAMPAS ATRAVÉS DA INTEGRAÇÃO DE DADOS DE DIFERENTES ANÁLISES FLORÍSTICAS E FITOSSOCIOLÓGICAS Ricardo Dal’ Agnol da Silva²*, Íris Cristina Bertolini², Joseane Cristina Gallo², Ana Suelem Sgarbi², Mauricio Romero Gorenstein¹ 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos, Paraná. E-mail: [email protected]. Alunos do curso Engenharia Florestal. E-mail: [email protected] *Autor para correspondência 2 Resumo: Este trabalho teve como objetivo levantar e quantificar as espécies encontradas nos Biomas Campos Rupestres e Pampas, no intuito de determinar a similaridade entre os sítios, a representatividade e o número de famílias, gêneros e espécies presentes nos diferentes locais onde foram realizados os estudos. O trabalho consistiu na compilação de listas de espécies encontradas em dez artigos sobre levantamentos florísticos e fitossociológicos nos biomas dos Campos Rupestres e Pampas das regiões sul e centro-oeste do Brasil. As famílias Asteraceae, Fabaceae e Poaceae predominaram com alta incidência de espécies herbáceas, como vegetação típica para o bioma Campos. A similaridade de espécies entre os locais foi analisada pelo Índice de Jaccard. Os resultados obtidos permitiram concluir que os locais tiveram uma baixa similaridade de espécies, com uma alta correlação entre a similaridade e a distância entre os sítios. As fitofisionomias analisadas, Campos Rupestres e Pampas, mostraram-se com florísticas distintas. Palavras-Chave: Índice de Jaccard, Fitogeografia, Similaridade de espécies Introdução A flora dos campos tem despertado interesse nos pesquisadores há séculos, onde características de solo e clima são delimitadores das vegetações (BARRETO, 1949). O Bioma Campos no Brasil, apresenta as sub-divisões de: campos rupestres, pampas, etc. A análise da estrutura da vegetação, de um Bioma ou de uma floresta por meio de levantamentos fitossociológicos permite obter informações relacionadas às espécies florestais presentes, e ao meio em que ela se encontra. Sendo uma das alternativas para se conhecer as variações florísticas, fisionômicas e estruturais a que as comunidades estão sujeitas ao longo do tempo e espaço, devido entre outros fatores a atuação antropológica. Estas informações permitem ainda comparar diferentes áreas, de acordo com a diversidade encontrada (MARTINS, 1991). Harley (1995) cita que “o campo rupestre é um tipo de vegetação altamente especializado que ocorre, por exemplo, no alto das montanhas das Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste (Bahia), normalmente acima dos 1.200 m de altitude e sobre solos muito rasos ou afloramentos rochosos”. A vegetação rupestre é constituída basicamente por um estrato herbáceo mais ou menos contínuo, entremeado por pequenos arbustos perenifólios e esclerófilos. Apesar dessa caracterização que confere uma aparência semelhante às diversas áreas de campos rupestres, estes não constituem um tipo de vegetação homogêneo, mas um mosaico de comunidades relacionadas e controladas pela topografia, declividade, microclima e natureza do substrato. (GIULIETTI et al., 2000) O Bioma Pampa ou campos sulinos compreende uma área total de cerca de 500.000 km², abrangendo o Uruguai, Nordeste da Argentina, Sul do Brasil, e parte do Paraguai (PALLARÉS et al., 2005), e são compostos predominantemente por vegetação de gramíneas e outras herbáceas. A fisionomia predominante desses campos, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2000) é composta por “herbáceas, em relevo de planície com várias espécies de Poaceae, Asteraceae, Cyperaceae, Fabaceae, Rubiaceae, Apiaceae e Verbenaceae”. Esse tipo de vegetação é utilizado na atividade pecuária como adição no suplemento alimentar pelo seu valor forrageiro (FONSECA, 2004). Dados do Censo Agropecuário Brasileiro realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que “as pastagens naturais perfazem 44% da cobertura vegetal do Estado do Rio Grande do Sul, correspondendo a 70% do total de área destinada à pecuária na Região Sul do Brasil”. Tendo em vista a importância de levantamentos florísticos e fitossociológicos para reconhecimento da diversidade biológica e distribuição de espécies dentro do Bioma Campos, o presente estudo pretende analisar através de revisão bibliográfica as famílias, gêneros e espécies mais encontradas em levantamentos florísticos ou fitossociológicos realizados nesse bioma. Através do cálculo do índice de similaridade de Jaccard, espera-se responder a seguinte pergunta: quanto maior a distância entre duas vegetações de um mesmo Bioma, menor a similaridade de espécies? Material e métodos Através de levantamento bibliográfico, realizou-se uma pesquisa por artigos de periódicos indexados, sobre análises fitossociológicas ou florísticas de espécies nas fitofisionomias de campos rupestres e pampas no Brasil, a fim de se coletar os dados sobre famílias, gêneros e espécies encontradas. A partir dos dados compilados e confrontados, procurou-se determinar, através de cálculos matemáticos, o número total de famílias e espécies encontradas, a frequência relativa de cada espécie dentro do total e a representatividade de cada família, gêneros e espécies. Calculouse, o índice de similaridade de Jaccard, a fim de verificar a similaridade de espécies entre os trabalhos levantados, que juntamente com os dos dados de distância (km), foram correlacionados na construção de um gráfico de dispersão para auxiliar na solução da hipótese levantada. Resultados e Discussão A Tabela 1 apresenta os dados encontrados em dez artigos pesquisados, bem como o nome dos autores, a localização e as coordenadas geográficas dos locais de estudo, tamanho da área amostral e área total. Foram levantados 1.111 indivíduos dentro de 982 espécies e 133 famílias. As famílias de maior representatividade foram: Asteraceae com cerca de 14% das espécies amostradas, Poaceae com cerca de 11,4% e Cyperaceae com cerca de 7,3%. A espécie com maior frequência nos trabalhos foi Baccharis trimera, presente em cinco artigos dos dez pesquisados, sendo constatada a espécie de maior representatividade para o Bioma Campos. As outras espécies apareceram em apenas um, dois ou três artigos. Os gêneros com maior número de espécies foram Baccharis com 26 espécies, e Paspalum com 22 espécies. Assim, a partir dessa caracterização, nota-se que nesse bioma é típica a vegetação rasteira e herbácea e, em grande parte, gramíneas. Alguns trabalhos fitossociológicos realizados nos campos rupestres revelaram que algumas famílias são frequentemente encontradas nesse ambiente, tais como Velloziaceae, Xyridaceae, Eriocaulaceae, Graminae (Poaceae), e Legumiosae (Fabaceae) (PERON, 1989). Giulietti et al. (2000), analisou a florística da Serra do Cipó, bioma campos, e verificou famílias com maior representatividade, tais como Compositae (Asteraceae), Melastomataceae, Myrtaceae, Asclepiadaceae, Leguminosae (Fabaceae), Rubiaceae, Graminae (Poaceae), Eriocaulaceae, Velloziaceae, Malpighiaceae e Xyridaceae. Assim, denota-se que o resultado encontrado foi dentro do esperado. A figura 1 apresenta a correlação entre a distância entre as áreas e os valores do índice de similaridade de Jaccard. Podemos observar que houve uma baixa similaridade entre os dados e essa decai com o aumento da distância, como demonstra a linha de tendência. Esses resultados corroboram a hipótese testada. Conclusões Constatou-se que a composição de espécies é basicamente de espécies herbáceas, das famílias Poaceae, Asteraceae, Cyperaceae, Fabaceae, etc., como pode ser visto tanto na revisão bibliográfica como na lista de trabalhos compilados dos artigos. Notou-se que há uma grande variabilidade de espécies na fitofisionomia Campos. A diferença florística entre os trabalhos, que foi comprovada com os baixos valores do índice de Jaccard, pode ser atribuída às distâncias entre os locais estudados. Referências BARRETO, Henrique L. M. Regiões fitogeográficas de Minas Gerais. Boletim de Geografia. v.14, p.14-28. 1949. BOLDRINI, Ilsi Iob; TREVISAN, Rafael; SCHNEIDER, Angelo A.. Estudo florístico e fitossociológico de uma área às margens da lagoa do Armazém, Osório, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 6, n. 4, p. 355-367, out./dez. 2008. CARVALHO, Paulo César F. et al. Produção Animal no Bioma Campos Sulinos. 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Dados das áreas de estudo dos artigos levantados Autores (Ano) Localidade (UF) Latitude e Longitude Altitude (m) Ferreira e Setúbal (2009) Santo Antônio da Patrulha (RS) 29º 52’S e 50º 33’O 35 a 77 Área total (ha) 20 Área de amostragem (ha) 5 Boldrini etal (2008) Osório (RS) 29º 58’S e 50º 11’O - 10 0,0018 Leão (2009) Uruguaiana (RS) 29º 46’S e 56º 57’O - - 0,45 Mocochinski e Scheer (2008) Serra do Mar (PR) 25°37’S e 48°41’O 1800 - - Mourão e Stehmann (2007) Barão dos Cocais (MG) 19º53’S e 43º26’O 845 a 1063 35 - Kozera (2008) Balsa Nova (PR) 25º 33’S e 49º 48’O 820 8,9 0,0196 Jacobi et al (2008) Serra do Rola Moça (MG) 20° 03’S e 44° 02’O 1450 20 0,25 Conceição Pirani (2005) Palmeiras, Mucugê (BH) 12º 27’S e 41º 28’O 1100 a 1400 - 0,16 Oliveira Filho e Fluminhan Filho (1999) Queiroz Sena Costa (1996) Lavras (MG) 21° 19’S e 44° 59’O 950 a 1200 40 - Santa Terezinha (BA) 12° 51’S e 39° 28’O 750 a 800 - - 0,20 0,18 0,16 Similari dade. 0,14 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Distância (km) Figura 1. Relação entre a Similaridade de espécies encontradas em diferentes áreas dos Biomas Campos Rupestres e Pampas e a Distância entre essas áreas