1 ESTUDO SOBRE A RELEVÂNCIA DA ÉTICA NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO CONTÁBIL Carla Juliana Xavier Moreira1 RESUMO O presente artigo tem como finalidade apresentar a relevância da ética na profissão contábil e expor análises sobre casos fictícios, mas que podem ser facilmente encontrados na realidade. Para tanto, realizou-se estudos na busca por conhecimento da área. Iniciou-se o trabalho com uma revisão bibliográfica, identificando os conceitos de ética e moral e diferenciando as duas. Aliando-se a isso, foram feitas pesquisas à luz do entendimento e compreensão de quão importante é a execução das tarefas do profissional contábil orientando-se pelas Normas Contábeis e pela ética de um modo em geral. Também foi feito estudo de casos em que alguns dos dilemas éticos estão presentes. Concluísse que a ação do profissional contábil quando orientada à luz da ética tende a gerar benefícios para a empresa e para o contador tanto em resultado financeiro quanto em sua reputação. Palavras-chave: Ética e moral. Ética na profissão contábil. Código de Ética do Contador. 1 INTRODUÇÃO Ser bom profissional, ter conhecimento acerca da área em que atua, possuir habilidades, técnicas, tudo isso cabe à pessoa que está em busca de uma carreira de sucesso, porém, a conduta que o profissional desenvolve perante seu trabalho e a sociedade é algo determinante para alcançar a excelência no trabalho e, quanto ao profissional de contabilidade, é uma questão ainda mais avaliada e julgada devido a grande responsabilidade que esse profissional tem em relação a empresa, governo e toda a sociedade. Ressalta, no entanto, que nem todos os profissionais da área agem segundo a ética e assim, colocam em risco sua reputação e também de toda a classe profissional, visto que ela é detentora de grande confiança por parte de empresários, governantes, entre outros. Quando o profissional da contabilidade não age como se espera, seguindo os parâmetros éticos aceitáveis, isso pode acarretar diversas complicações para a empresa, visto que, quando ele deixa de controlar as contas e obrigações tributárias da empresa, pode-se gerar sanções legais para ela. Por isso o interesse em desenvolver este trabalho, para melhor entender e saber sobre as situações resultantes do não agir ético, o que leva os profissionais da contabilidade a terem esse comportamento. Os argumentos teóricos que ampararam este estudo foram, a consulta em literatura própria ao tema ética, análise do Código de Ética do Contabilista, bem como normas do Conselho Federal de Contabilidade e do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais. Foi um estudo principalmente teórico a fim de tornar-se mais 1 Graduanda em Ciências Contábeis pela Faculdade de Pará de Minas - FAPAM 2 uma fonte de leitura para análise e estudo sobre a aplicação da ética na profissão do contabilista. A metodologia aplicada utilizou-se de pesquisa bibliográfica em literatura própria, leis, Código de Ética Profissional, Código de Ética do Profissional Contábil, assim como na legislação vigente. 2 DIFERENCIAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL 2.1 Conceito e histórico da ética Segundo Vásquez (1997), “A ética é a teoria do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano.” Conforme Barros (2010), desde que os nômades assim o deixaram de ser e começaram com a ideia do cultivo da terra e de se firmarem em um determinado local, eles passaram a conviver com demais indivíduos, enxergando-os como companheiros e não como inimigos, surgindo assim, a primeira ideia de sociedade. Para manter a harmonia nessa sociedade que se formou, apesar da ausência de normas escritas, passaram a ser respeitadas outras fontes e, seguidos como corretos e obrigatórios certos comportamentos como o respeito a demarcação de áreas. Na ética de Aristóteles (2001), à qual estão relacionados o bem e a felicidade, toda atitude humana é conduzida a realização de algum bem, sendo este a causa final. Para o filósofo, o homem não alcança a felicidade quando não vive, por ignorância, o que é próprio dele ou quando o homem não usa de maneira inteligente suas virtudes, como exemplo, quando deixa de agir com coragem e, assim, age com covardia ou então quando usa a coragem de forma inconsequente e acaba por agir de forma violenta e furiosa. De acordo com Vásquez (1990): A ética é a investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma do comportamento dos homens, o da moral, considerando, porém, na sua totalidade e diversidade [...] o valor da ética como teoria está naquilo que explica e não no fato de prescrever o recomendar com vistas a situação concreta [...]. A ética parte do fato da existência da moral, isto é, toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo com seus respectivos valores, princípios e normas. (VÁSQUEZ, 1990, p.15) A ética tenta explicar o comportamento humano perante as regras morais de uma forma coerente, sistemática e teórica. Ela descobre as normas e esclarece-as. Baseia-se no sentido da sociedade como um todo, no comportamento do que é ético e comum a todos como resultado da moral individual que cada ser humano possui. É atemporal, muda no decorrer dos tempos, já que todas as mudanças que vão acontecendo no mundo, como a evolução tecnológica e várias outras, também impactam no comportamento dos indivíduos. A ética, na visão de Lisboa (2014) tem por finalidade determinar comportamentos que possibilitem o convívio em coletividade, tendo como base para estabelecimento desses, o estudo dos desacordos que há entre os indivíduos. 2.2 Conceito de moral 3 Para Vásquez (1997), “a moral é um conjunto de normas, aceitas livres e conscientemente, que regulam o comportamento individual e social dos homens”. Para o autor, a moral, ainda, é um conjunto de regras e normas designadas a orientar e regular as relações dos homens em uma sociedade dada, logo, o propósito e valia da moral variam ao longo dos tempos nas diferentes comunidades que vão surgindo. A ética, conhecida como o estudo da moral não pode, contudo, concebê-la como dada agora e para todo o sempre, mas sim, como um aspecto atual humano variável ao longo do tempo. Só vai existir a moral no âmbito de uma sociedade, quando o indivíduo já é integrante de uma coletividade. Haverá, assim, normas do comportamento dos indivíduos entre si e dos mesmos com a sociedade. A moral exige que o indivíduo esteja em convívio com os demais membros e também consciência desse convívio, ou seja, se ele está em concordância com as normas e regras que os regem. 2.3 A interface entre ética e moral De acordo com Lins (2007) a palavra ética tem origem grega e deriva-se da palavra ethos, que significa “costume”, “modo de ser” ou “caráter” relacionado ao modo de agir e ser do indivíduo. Logo, o comportamento do indivíduo não condiz com um ato nato e sim adquirido por costume e hábito. Já a palavra moral é originada do latim mos, moris, que assim como a palavra ética, também significa “costume”. Com o estudo do comportamento humano, a ética acaba inspirando a moral, seja influenciando a formação de novos princípios ou, ainda, a modificação de alguns já existentes, fazendo com que os indivíduos os assumam como seus valores maiores. 2.4 Ética e moral Na Grécia antiga, filósofos começaram a desenvolver uma definição de moral apoiada no que seria o correto, o bem. Mas, foi Aristóteles (2009) que aprofundou acerca do assunto e elaborou a teoria que: [...] a moral é uma arte, e como toda arte deve preencher certos requisitos. A primeira é determinar que a moral trate das ações humanas. A segunda é que ela trate de determinadas ações voluntárias, mais especificamente as que partem da escolha. (ARISTÓTELES, 2009, p. 25) Segundo Vásquez (1998), a moral é definida como: Ciência que cuida dos problemas que se apresentam nas relações afetivas, reais, entre os indivíduos ou quando se julgam certas decisões e ações dos mesmos. Mas trata-se de problemas cuja solução não concerne somente à pessoa que os propõe, mas também a outras pessoas que sofrerão as consequências da sua decisão e da sua ação. (VÁSQUEZ, 1998, p. 13) Ética, além de teoria, é também um raciocínio crítico a respeito da moralidade. Ela é o conjunto de normas dirigido para a ação, no intuito de avaliar atos dos indivíduos e é tida como norteadora para eles, afim de que a sociedade seja capaz, de cada vez mais, fazer-se mais humana. A moral procura um entendimento e esclarecimento crítico universal, enquanto a ética realiza uma constante vigilância analítica a par da moral, para reforçá-la ou modificá-la. 4 3 ÉTICA PROFISSIONAL E CONTABILIDADE 3.1 Aspectos gerais sobre ética profissional Para Nash (2001): São muitas as razões para a promoção da ética no pensamento empresarial dos últimos anos. Os administradores percebem os altos custos impostos pelos escândalos nas empresas: multas pesadas, quebra da rotina normal, baixa moral dos empregados, aumento da rotatividade, dificuldade de recrutamento, fraude interna e perda de confiança pública na reputação da empresa. (NASH, 2001, p. 04). A partir do fragmento de Nash (2001), é importante salientar o cuidado com o bom rendimento da empresa. Posturas de bons comportamentos só produzirão resultados satisfatórios e uma ótima relação com o mercado. Lisboa (2014) diz que, ao contrário do que Nash (2001) defende, é habitual encontrarmos afirmações de gestores em oposição à excessiva carga tributária e, em alguns casos, até alguns que garantem que se agirem de acordo com o Código de Ética e não sonegarem impostos, estarão assim, colocando em risco a perpetuidade da sociedade. Quando os profissionais contábeis omitem ou fornecem informações que diferem da verdade de modo a sonegar impostos, se descoberto, de acordo com Miranda (2008) ele será autuado pelo Fisco por sonegação fiscal. 3.2 Relevância da ética na contabilidade Devido à profissão escolhida, o profissional da contabilidade lida constantemente com um dos maiores bens que as entidades podem possuir: a informação. Logo, o contador coloca à prova, diariamente, seus valores éticos. Segundo Lisboa (2014), “o papel do contabilista é suprir, com informações desejadas cada um de seus usuários, na medida de suas necessidades, sem buscar o benefício ou o privilégio de qualquer um em particular”. Pode-se afirmar que toda entidade tem por fundamento, para tomada de decisão, seja ela complexa, casual ou um tanto simples e corriqueira, alguma informação. Logo, o contabilista tem papel de grande importância nesse contexto. Em meio aos vários usuários das informações geradas pelos profissionais da contabilidade destacam-se alguns de grande importância para a entidade como: os proprietários de empresas, seus gestores, o governo, fornecedores, colaboradores internos e externos, os sócios, etc. Logo, com essa grande diversidade de usuários, tem-se uma demanda de diferentes informações para atender cada um em sua necessidade. De acordo com Lisboa (2014), para suprir as necessidades dos diferentes usuários, o profissional da contabilidade deve estabelecer em sua conduta certas premissas e características. Para estabelecimento dessas, o profissional deve sempre buscar orientação no Código de Ética Profissional e na ética de modo geral. 3.3 Transparência profissional na Contabilidade Segundo Bushman, Piotroski e Smith (2001): 5 [...] a transparência pode ser definida como a abrangente disponibilidade de informação relevante e confiável sobre o desempenho periódico, situação financeira, oportunidades de investimento, governança, valor e risco das empresas de capital aberto.(BUSHMAN, PIOTROSKI e SMITH, 2001, p.27) Conforme Rico (2004), hoje, a transparência no meio empresarial passou de puro discurso a uma exigência por parte dos gestores, investidores, governo e todos os usuários das informações contábeis. Na atualidade, passados por vários escândalos financeiros e contábeis no âmbito empresarial, as entidades perceberam a dimensão dos danos causados pela ausência de transparência na administração de empresas, com isso, passaram a implantar modelos de gerência coorporativa que dão ênfase a princípios e valores éticos, além de todos os outros princípios, já então considerados, como os econômico-financeiros. Bushman, Piotroski e Smith (2001) destacam que o setor de grande destaque nesses novos modelos foi o contábil, que além de gerar dados e informações necessárias, agora, é utilizado como ferramenta facilitadora nas tomadas de decisões em todos os demais setores da entidade. Nessa mesma linha de raciocínio, segundo Alves (2005), embora a não obediência ao Código de Ética Profissional do Contabilista resulte em punições ao profissional que não cumpri-lo, o respeito e disciplina ao Código deve-se primeiramente ao juízo que será feito do profissional da contabilidade. As demonstrações contábeis trarão maior legitimidade à transparência e honestidade se essas forem feitas pelo profissional que segue esse conjunto de normas. 4 CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL 4.1 Código de Ética Empresarial e Código de Ética Profissional do Contador À luz da ética de Lisboa (2014), “um Código de Ética pode ser entendido como uma relação das práticas de comportamento que se espera que sejam observados no exercício da profissão”. O Código de Ética servirá como norteador das práticas profissionais no intuito de garantir a integridade das ações dos indivíduos que compõem ou não a entidade. Seu objetivo principal é a construção da consciência profissional orientados por normas de conduta. Por sua vez, o Código de Ética profissional do contador, ainda segundo Lisboa (2014), tem como objetivo instruir o contabilista a assumir atitudes pessoais orientados sobre os princípios éticos adotados e conhecidos pela sociedade. Lisboa (2014) exemplifica, em resumo, princípios éticos contidos no Código de Ética do Contador que são aplicados à profissão, que dizem respeito à: a. responsabilidade, perante a sociedade, de atuar com esmero e qualidade, adotando critério livre e imparcial; b. lealdade, perante o contratante de seus serviços, guardando sigilo profissional e recusando tarefas que contrariem a moral; c. responsabilidade para com os deveres da profissão mesma (aprimoramento técnico, inscrição nos órgãos de classe etc.; d. preservação da imagem profissional, mantendo-se atualizado em relação às novas técnicas de trabalho, adotando, igualmente, as mais altas normas profissionais de conduta. O contador deve contribuir para o desenvolvimento e difusão dos conhecimentos próprios da profissão. O respeito aos colegas deve ser sempre observado. (LISBOA, 2014, p.61) 6 Não basta ao profissional da contabilidade ser bem preparado tecnicamente. Ele deve ter um comportamento perante a sociedade em consonância com as exigências que essa lhe faz. O contabilista deve descobrir uma finalidade social superior na execução de sua profissão. 5 VALORIZAÇÃO DA CONTABILIDADE PELA ÉTICA 5.1 A ação do profissional de contabilidade O profissional da contabilidade tem uma relação direta e indireta com a continuidade e preservação das sociedades, visto que, do seu trabalho observa-se de que uma sociedade necessita, o que ela tem de recursos e quais as garantias que possui no caso de eventualidades. Camargo (1999) considera que a “ética profissional é intrínseca à natureza humana e se explicita pelo fato de a pessoa fazer parte de um grupo de pessoas que desenvolvem determinada ação na produção de bens ou serviços”, ou seja, a ética profissional é própria dos indivíduos e irá se evidenciar quando esses estiverem em uma dada entidade à qual prestarão seus serviços. A principal missão do contabilista é executar suas tarefas com honestidade, imparcialidade e decência, fundamentando-se sempre nas Normas Brasileiras de Contabilidade, nos Princípios Fundamentais de Contabilidade e no Código de Ética da Profissão, tal que, de acordo com Lisboa (2014), “além de servir como guia à ação moral, possibilita que a profissão de contador declare seu propósito de: a) cumprir as regras da sociedade; b) servir com lealdade e diligência; c) respeitar a si mesma”. 5.2 Contabilidade e a formação ética profissional Alguns requisitos são de extrema importância à construção e posição ética e profissional do contabilista, como dominar as peculiaridades da estrutura de toda a entidade em que está inserido. Segundo Hoog (2001) “A Contabilidade, como Ciência Social, com profunda fundamentação epistemológica, impõe ao contador [...] a responsabilidade social, como cidadão gerador e distribuidor de empregos, riquezas, educação”. O profissional contábil precisa ter conhecimento amplo da infraestrutura (base material) e da superestrutura (intangível, o próprio conhecimento) da sociedade ao qual está inserido para então ter a possibilidade de relacioná-las, a fim de tornar possível uma avaliação crítica desprendida de tendências que possam influenciar ou beneficiar algum em desvantagem de outro. Segundo Hoog (2006): A Contabilidade como ciência é tão ampla que advogamos ser possível alcançar o bem estar comunitário global, na atual era “científica filosófica”, pela aplicação das teorias e enunciados de vanguarda na obtenção da melhor eficiência e eficácia da riqueza das células sociais e seus patrimônios. O conhecimento científico, portanto, ciência pura, livre das impurezas da política contábil atual, deve identificar, de forma holística, o rumo da prosperidade material, e consequentemente, o bem-estar social comunitário. (HOOG, 2006, p.39) 7 Pode-se considerar, então, que o papel do Profissional Contábil necessita estar em harmonia com a realidade, buscando possibilitar aos administradores chances favoráveis hoje e futuramente. 5.3 O papel do contabilista na ação ética De acordo com Lisboa (2014): O contador desempenha função relevante na análise e aperfeiçoamento da ética na profissão contábil, pois sempre está às voltas com dilemas éticos, nos quais deve exercer, na plenitude de sua soberania, seu papel de profissional independente. (LISBOA, 2014, p.64) Dentre os vários dilemas éticos que o Contabilista possa se deparar analisase a situação de um auditor que supostamente fora convocado a auditar as contas de um cliente-parente. Nesse caso, segundo a NBC P1 (Normas Brasileiras de Contabilidade – Normas Profissionais de Auditor Independente), o correto seria o auditor comunicar a seus superiores o parentesco e sua objeção em executar o trabalho. Segundo Lisboa (2014), a razão para tal procedimento deve-se ao fato de que a sociedade espera, necessariamente, que em situações com parentesco entre profissionais e clientes, haverá sempre um conluio entre ambos, o que pode não acontecer, mas quanto a crença não há o que se questionar. Ele diz que o papel do Contabilista na ação ética é solucionar os vários dilemas éticos ao longo da profissão e, para isso é necessário que ele possua princípios éticos da integridade, competência, objetividade e sigilo. 6 ANÁLISE DE CASOS As análises trabalhadas, abaixo, foram fundamentas na obra organizada por Lisboa no livro Ética Geral e Profissional em Contabilidade. 6.1 Conflito de Interesses Case 1 Personagens: I – Tales Carvalho, controller da Eletrônica Exemp. II – Clodoaldo Moura, empresário, amigo de Tales. III – José Reinaldo Vieira, diretor-financeiro da Exemp. IV – Nelson Silveira, gerente-geral da Exemp. O Exemplo é uma indústria de médio porte de equipamentos eletrônicos. Tales tem 57 anos e planeja em breve aposentar-se. Sua filha, Myrna, acaba de passar no vestibular da Faculdade de Medicina Hypocrates, escola particular, a melhor da região. Tales está preocupado com as mensalidades da escola da filha. Ele teme não poder pagá-las, pois seu salário atual está por demais defasado. O diretor financeiro da empresa, José Reinaldo, a quem Tales se reporta, está de licença-saúde, recuperando-se de uma cirurgia e Tales é quem está tomando as decisões de cunho financeiro na empresa. 8 Tales acaba de receber um telefonema de Clodoaldo, um velho amigo dos tempos de faculdade. Clodoaldo deseja comprar equipamentos da Exemp, a prazo, no valor de R$ 1.000.000 para iniciar um novo negócio. A princípio, Tales é simpático à ideia, mas sabe que seu diretor não vende equipamentos a prazo, para empresas novas. José Reinaldo costuma calcular, na ponta do lápis, o risco de cada transação, pois a empresa já amargou, num passado recente, prejuízos pesados com operações de venda a prazo para empresas recémconstituídas. Tales informou a Nelson sobre o desejo de compra de equipamentos por Clodoaldo. Nelson logo se interessou pela transação, pois necessitava de realizar vendas de, no mínimo, R$ 500.000 para atingir o total orçado no ano anterior e, assim, assegurar comissões para a direção da empresa, inclusive Tales. Tales resolve vender o equipamento para a empresa de seu amigo. Análise sobre o Case 1 Diante de tais fatos, nota-se que Tales, agiu contra o Código de Ética Profissional do Contador Art.3º, Inciso X, que diz que “No desempenho de suas funções, é vedado ao Profissional da Contabilidade:...” “X – prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado a sua responsabilidade profissional;”. Tales, sabendo das normas da empresa e que seu diretor-financeiro não autoriza tais transações, não deveria assim tê-la feito. Ele se deixou levar pelo sentimento de proximidade que possui com o cliente, visando também benefício financeiro e não agiu de acordo com a ética da empresa, colocando em risco os negócios dela. Por sua vez, Nelson, impulsionado pelos bons resultados que a venda o proporcionaria e pela meta que seria alcançada pela empresa e funcionários, autorizou a transação, deixando de lado o risco que a empresa está correndo enquanto que, por sua vez, como gerente geral da Exemp, o correto seria informar a Tales, que a transação não poderia ser concluída, já que, de acordo com o diretor-financeiro que se encontra afastado no momento, e também com os Princípios e Normas Contábeis e também de Gerenciamento, não é prudente que tais transações sejam efetuadas com base em prejuízos já sofridos pela própria empresa. 6.2 Honestidade – Um caso na universidade Case 2 A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade Mundial funciona na cidade de Tamandaré. Para o próximo ano, a Faculdade fará funcionar, no curso de pós-graduação em Contabilidade, a disciplina Contabilidade Internacional e, para isso, está selecionando um professor qualificado. Uma Comissão de Seleção foi formada, composta por cinco professores da Escola. O diretor da faculdade nomeou o presidente da comissão e orientou os demais membros para que observassem, como critérios mais importantes, a competência no ensino e a qualidade dos artigos publicados em periódicos conhecidos. Dez candidatos foram entrevistados e testados, mas a maioria dos componentes da Comissão achou que nenhum deles preenchia o perfil idealizado por eles. O presidente da Comissão, no entanto, ignorou o parecer da Comissão e convidou um dos dez candidatos a comparecer ao campus para qualificar-se perante o Depar- 9 tamento de Pessoal. No curriculum vitae desse candidato (Dr. Mattos) constava uma publicação de artigo em um periódico canadense. O artigo versava sobre a contabilização de encargos financeiros dos instrumentos financeiros conhecidos como derivativos. Um dos membros da Comissão, que já tinha publicado um livro na mesma editora do periódico canadense, soube que o editor do periódico em questão não conhecia nenhum Dr. Mattos e que dessa pessoa nada havia jamais publicado. Após uma reunião entre o reitor da universidade e o diretor da faculdade, aquele candidato foi expulso da escola. Análise sobre o Case 2 Analisando o caso em questão, é possível identificar dois indivíduos que agiram de forma não ética diante dos fatos. O presidente da comissão, que ainda que o seja, deveria ter avaliado o professor como não competente ao cargo, já que, a maioria dos outros componentes da comissão consideraram os candidatos como não aptos. Além disso, ele não observou a relevância da informação de um dos membros da comissão, de que, o artigo que o referido Dr Mattos colocou em seu curriculum como de sua autoria nunca fora publicado na Editora citada por ele. Assim, não o teria contratado e evitado transtornos, como a reunião que foi feita pelo reitor e diretor da faculdade e a própria expulsão do professor. Outro ponto a se destacar, é a questão de que o diretor da faculdade pediu que fosse levada em conta a qualidade dos artigos publicados em periódicos conhecidos. Se o artigo não foi publicado em tal editora, como foi feita a análise da qualidade de tal artigo? Pode-se entender que o presidente da comissão não averiguou pontos determinantes para a seleção de candidatos segundo a faculdade, ferindo novamente o Código de Ética da própria faculdade, já que essa, assim o recomenda. Por sua vez, Dr. Mattos agiu com improbidade, ou seja, desonestidade, quando resolveu acrescentar em seu curriculum a publicação de um artigo em uma editora que nunca o havia sido publicado. Logo, o profissional que age de certos recursos para se promover e conseguir uma vaga de emprego poderá, também, usar-se de outros recursos, também não aceitos pela ética para conseguir qualquer outro benefício. Agindo assim, ele colocou em risco sua reputação e dignidade como docente e mesmo como pessoa. Vale lembrar que, assim como no primeiro caso analisado, de acordo com o Inciso X, do artigo terceiro da Resolução CFC Nº 803/96, se o presidente da comissão for profissional da contabilidade, a ele é vedado no desempenho de suas funções, “prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado a sua responsabilidade profissional”. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A ética, na condição de estudo da moral, acaba por influenciá-la, na criação de novas normas, princípios ou, ainda, na mudança daqueles já existentes. Através do estudo apresentado, nota-se que, em um contexto geral, a ética sugere normas e princípios aos indivíduos em sociedade e que, enquanto ela propõe obrigações e deveres universais e não mutáveis, aplicáveis a todos os indivíduos, ela também apresenta aspecto versátil ao longo dos tempos, já que o juízo ético das 10 pessoas a par de qualquer situação será determinado de acordo com os costumes e tradições do meio em que vivem. Contudo, foram criados Códigos de Ética geral, isto é, plural a todas as atividades, para orientar as ações dos indivíduos, especialmente dentro das entidades, devido à relevância da ética para toda a sociedade. Especificamente na profissão contábil, têm-se que, o contabilista sempre orientar-se no Código de Ética Profissional e Contábil e na ética de modo geral, já que as informações por ele produzidas irão ser utilizadas pelos demais usuários da entidade e, usualmente, são fontes utilizadas para tomadas de importantes decisões de seus gestores. Além de sempre ater-se à ética no exercício da profissão, suas demonstrações também devem ser emitidas à luz dessas premissas e normas. Atualmente, entidades já atualizadas do novo cenário empresarial passam a exigir a transparência nas demonstrações, de modo a coagir qualquer tentativa de fraude ou distorção das operações. Há a necessidade de que o contabilista execute suas tarefas com honestidade, imparcialidade e decência para contribuir positivamente para a continuidade da empresa. Considera-se então, que o profissional da Contabilidade deve buscar sempre a atualização de normas e leis a par da profissão para melhor executar seu papel, tendo conhecimento amplo de toda a entidade e do próprio conhecimento da entidade ao qual está inserido. ABSTRACT This article intends to show the importance of ethics in the accounting profession and expose the analyzes on fictitious cases, that can be easily found in reality. Therefore, studies were made in the search for knowledge in the area. Work began with a literature review, identifying the concepts of ethics and morals and differentiating the two of them. Allying themselves to this, research was done the light of understanding and comprehension of how important the implementation of the accounting professional tasks being guided by the Accounting Standards and ethics of a general. It was also done case studies in which some of the ethical dilemmas that are faced accountants are present. Keywords: Ethical and moral. Ethics in the accounting profession. Counter Code of Ethics. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. Trad. Mario da Gama Kuy. Brasília:UNB, 2001. Disponível em: <http://www.espacoetica.com.br/midia/suporte/aristoteles_moral.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2014. ALVES, Francisco José dos Santos. Adesão do Contabilista ao Código de Ética da sua Profissão: um estudo empírico sobre percepções. São Paulo: USP, 2005. BARROS, Maria Rosiane de Figueiredo. A Ética no exercício da Profissão Contábil. 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