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CPV O Cursinho que Mais Aprova na GV
FGV – Direito – 10/nov/2013
REDAÇÃO
No Mundo das mercadorias, as coisas se relacionam como pessoas e as pessoas, como coisas.
K. Marx. (Adaptado)
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado o nome
que não é o meu de batismo ou de cartório,
um nome.., estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclamo colorido
de alguma forma não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
[continua]
CPV
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FGV-Direito
CPV
o
C ursinho
que
Mais Aprova
na
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
(,..)
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto,
que se oferece como signo dos outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
GV
(Carlos Drummond de Andrade – Adaptado)
Com base nos estímulos acima e em outras informações que julgar relevantes, redija uma dissertação em prosa sobre o tema
A personificação das coisas e a coisificação das pessoas: uma questão para o tempo atual?, argumentando de modo a
expor com clareza seu ponto de vista sobre o assunto.
COMENTÁRIO DE REDAÇÃO
A prova de Redação da FGV / Direito 2014
solicitou uma dissertação em prosa que
discutisse se a personificação das coisas e a
coisificação das pessoas é uma questão para o
tempo atual. Como base para a reflexão, a Banca
Examinadora ofereceu aos candidatos uma
coletânea, bastante acessível, composta por:
uma tirinha do Laerte, uma tirinha do Angeli,
uma citação de Karl Marx e o poema “Eu,
etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade.
Os conceitos exigidos pela prova de Redação da FGV DIREITO —
“personificação das coisas e coisificação das pessoas” — foram
EXAUSTIVAMENTE trabalhados nas aulas de Redação
do Extensivo e da Revisão Direito FGV do CPV.
O candidato deveria ressaltar que, no mundo capitalista em que se vive, há uma significativa influência da Indústria Cultural. Nesse contexto, se constroem
ideologias segundo as quais valores e referências atribuem características animadas e subjetivas aos produtos, ao que Marx chama de “fetichismo” da mercadoria,
e, da perspectiva oposta, coisificam o homem, “esvaziando-o” de sua humanidade, ao que Marx chama de “reificação”.
Karl Marx, na obra intitulada “O Capital”, afirma que a mercadoria, quando comercializada, não mantém seu valor real de troca que, segundo ele, deveria ser
determinado pela quantidade de trabalho materializado na produção, mas, ao contrário, ela assume uma valoração de venda irreal e infundada, como se não fosse
fruto do trabalho humano. Com isso, ele evidencia que a mercadoria parece perder sua relação com o trabalho e ganhar vida própria.
Por outro lado, ainda segundo Karl Marx, a alienação do homem pela exploração do trabalho faz com que a atividade laboral deixe de ser uma manifestação
essencial do homem (inerente a sua condição humana) e de sua liberdade para ser um trabalho exercido sem autonomia e determinado por necessidades externas.
Com essa alienação da atividade produtiva, o trabalhador aliena-se também da condição humana ao, em nome da sobrevivência, ser obrigado a vender-se como
força de trabalho, tal qual se faz com um produto, aos donos dos meios de produção.
É evidente que a reflexão feita por Marx no século XIX ainda é atual. Vive-se em um contexto no qual a Indústria Cultural faz uso do discurso do Marketing
para, cada vez mais, exaltar as mercadorias — vale ressaltar os valores exorbitantes que assumem determinados produtos, caracterizados como “mercadorias de
luxo” — e, em paralelo, disseminar a ideologia de que o homem se faz, ou se constrói, não mais pelo trabalho, mas pela posse desses mesmos produtos. Nesse
sentido, o homem não só é coisificado pela condição degradante e degenerativa a que é obrigado a se submeter nas relações de trabalho, como também torna-se
coisificado pela condição que assume como estandarte das marcas consagradas como de prestígio social, tornando-se “objeto pulsante mas objeto, que se oferece
como signo dos outros objetos estáticos, tarifados”, como bem ilustra o poema de Drummond.
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