DISPOSITIVO MECÂNICO SIMULADOR DA TOSSE COMO

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DISPOSITIVO MECÂNICO SIMULADOR DA TOSSE COMO TERAPIA
DE REMOÇÃO DE SECREÇÃO TRAQUEOBRÔNQUICA
RESUMO
OBJETIVO: Realizar uma revisão da literatura sobre a eficácia da utilização de um
dispositivo mecânico de insuflação-exsuflação (MI-E) na terapia de remoção de
secreção brônquica e o seu beneficio no suporte terapêutico nos ambientes de UTI,
ambulatório e domicílio. MÉTODO: A metodologia usada tem como caráter a revisão
de literatura, com acesso aos dados eletrônicos dos bancos de dados
PubMed,LILACS e Scielo, sendo utilizados apenas artigos publicados a partir do ano
2000, que abordassem os efeitos; tolerância; utilização; indicações e consequências
do uso de um dispositivo mecânico de insuflação-exsuflação.RESULTADOS: Foram
analisados 17 artigos sobre a utilização do dispositivo mecânico de insuflaçãoexsuflação.12 abordavam seu uso em pacientes portadores de doença
neuromuscular, sendo 1 deles um estudo de caso , 2 que abordavam também outras
patologias como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e 1 sobre a utilização
do dispositivo MI-E no processo de extubação deste grupo de pacientes.Foi
analisado 1 artigo utilizando um modelo de pulmão, 2 com uso do MI-E em pacientes
tetraplégicos e apenas 2 que abordavam a utilização do dispositivo MI-E em
pacientes normais no protocolo de extubação, demonstrando que poucos artigos
abordam a utilização do dispositivo em pacientes normais, com infecção respiratória
aguda internados em UTI.CONCLUSÃO: Poucos estudos clínicos foram realizados
para identificar o melhor tratamento para a definição de um método eficaz para
remoção de secreção traqueobrônquica, principalmente com indivíduos normais com
infecção respiratória e em ambiente hospitalar. Embora a prática clínica tenha
evoluído no tratamento das mesmas, com o aperfeiçoamento das técnicas de
fisioterapia respiratória, existe a necessidade da realização de estudos clínicos
randomizados limitados principalmente à patologia e idade.
Palavras-chave: mechanical insufflation-exsufflation; tosse assistida; fluxo de tosse,
fisioterapia respiratória.
INTRODUÇÃO
A tosse é um mecanismo de defesa fundamental que protege o sistema
respiratório contra pneumonias, atelectasias, falência respiratória aguda e outros
tipos de infecções. Sua eficácia pode determinar o sucesso na extubação, a
morbidade e a mortalidade em pacientes de unidade de terapia intensiva. Além de
todas as patologias que causam retenção de secreção ou fraqueza muscular,
também encontramos problemas com fechamento da glote em pacientes entubados,
que recebem ventilação mecânica invasiva através do tubo endotraqueal ou do tubo
de traqueostomia devido ao aumento substancial da resistência ao fluxo de ar
impedindo a insuflação e exsuflação. Assim, os métodos para melhorar a eficácia da
tosse são importantes porque facilitam o desmame da ventilação mecânica e
melhoram os resultados dos pacientes. 10
A terapia de remoção de secreção traqueobrônquica tem como objetivo
aumentar a mobilização de secreção de vias aéreas periféricas até as mais centrais
que estão retidas no trato respiratório e promover sua expectoração, melhorando a
troca gasosa, reduzindo o trabalho respiratório, os riscos de complicações
pulmonares e as taxas de hospitalização. Um número de técnicas invasivas e não
invasivas são atualmente utilizadas para facilitar esta remoção e aumentam o PFT
(pico de fluxo de tosse) aumentando assim a capacidade de limpeza das vias aéreas
e desmame de ventilação mecânica. A recomendação atual para a desobstrução
das vias aéreas durante infecções pulmonares é a fisioterapia respiratória intensiva
que tem como principais objetivos prevenir o acúmulo e retirar secreções nas vias
aéreas, melhorar a ventilação, melhorar a resistência à fadiga, reduzir gastos
energéticos durante a respiração, melhorar condições de expansão pulmonar,
favorecer o trabalho diafragmático e manter e/ou melhorar a mobilidade torácica.
Uma alternativa para eliminar as secreções das vias aéreas é o dispositivo mecânico
de insuflação/exsuflação (MI-E). 11
Hoje, a tosse mecanicamente assistida através do MI-E é uma terapia
adicional utilizada comumente em pacientes com tosse ineficiente associada à
fraqueza neuromuscular, mas pode também oferecer benefícios em outras situações
clínicas. É um dispositivo capaz de eliminar as secreções através da aplicação de
uma pressão positiva para promover a máxima insuflação pulmonar nas vias aéreas
(insuflação), e em seguida deslocando-se rapidamente para uma pressão negativa
(exsuflação). Esta mudança rápida de pressão provoca alterações no fluxo que
ocorrem como a tosse natural e mobiliza as secreções. 12 Se os valores de fluxo
expiratório alcançados com o dispositivo mecânico puderem exceder os que são
produzidos durante a tosse não assistida e, em particular, superior a 2,7 L /s, o risco
de complicações pulmonares pode ser diminuído. Embora praticamente
desconhecido em cuidados intensivos, MI-E tem sido fundamental para evitar
pneumonia, insuficiência respiratória e hospitalizações em pacientes com doenças
neuromusculares dependentes de ventilação não invasiva (VNI). 04,06
A tosse é composta pelas fases: inspiração profunda (cerca de 80% da
capacidade pulmonar total); fechamento glótico (com uma pausa gerando um
aumento no volume pulmonar); contração enérgica dos músculos expiratórios
(essencialmente os abdominais, aumentando a pressão intratorácica) e então a fase
expulsiva através da abertura súbita da glote que gera alto fluxo de ar carreando
secreção ou corpo estranho para a faringe ou boca. Em pacientes com distúrbios
neuromusculares tais como Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Amiotrofia
Espinhal, poliomielite e Distrofia Muscular de Duchenne, as infecções do sistema
respiratório são a causa mais comum de internação por ter uma redução na pressão
gerada pelos músculos expiratórios responsáveis por conduzir a manobra de tosse,
com conseqüente diminuição do PFT. Em distúrbios pulmonares tais como bronquite
crônica e enfisema pulmonar, o fluxo expiratório é reduzido devido à compressão
dinâmica das vias aéreas e ao aumento da viscosidade das secreções brônquicas e
é provavelmente a principal causa da ineficiência da tosse. Pacientes com lesão
medular espinhal cervical também são particularmente suscetíveis à síndrome
restritiva, com retenção de secreção, apresentando diminuição de todos os volumes
e fluxos respiratórios. 01,14
A fraqueza muscular inspiratória produz uma diminuição da capacidade vital e
das pressões de recuo do pulmão. Já a fraqueza muscular expiratória produz uma
redução na pressão intratorácica gerada durante a manobra de tosse. A disfunção
bulbar grave causa uma falha no fechamento da glote durante a tosse e reduz ou
elimina a capacidade máxima de insuflação, diminuindo o potencial de complacência
pulmonar. Existem poucos dados a respeito do valor que determine a efetividade da
tosse, no entanto, um PFT <2,7 L/s tem sido proposto como indicador de tosse
ineficaz e alguns autores sugerem que também possa ser responsável por falha na
extubação. 05
A fisioterapia utiliza técnicas de respiração acompanhadas por processos
físicos, como percussão, vibração, drenagem postural e tosse assistida
manualmente, porém se realizada vigorosamente pode causar episódios de
hipossaturação e ser cansativa para os pacientes. Em doentes com deformidade da
parede torácica, fisioterapia e técnicas de expectoração manualmente assistida
podem ser ineficazes. As alternativas para melhorar a tolerância, é realizar a
fisioterapia combinada com ajuda de ventilação não invasiva (VNI), ressuscitador
manual para alcançar a capacidade máxima inspiratória, e o dispositivo mecânico de
insuflação/exsuflação (MI-E) que pode ser utilizado tanto em modo manual como
automático, que faz o ciclo de uma insuflação e de uma exsuflação simulando assim
uma tosse normal. As pressões geradas por uma centrífuga alcançam até um
máximo de + 70 cmH2O na insuflação e – 70 cmH2O na exsuflação. 07
Este dispositivo tem ajudado a tosse de crianças e adultos com doenças
neuromusculares, gerando um PFT superior a tosse não assistida e ao método
clássico de tosse assistida. MI-E tem demonstrado melhorar outros parâmetros
respiratórios básicos, como saturação de oxigênio (SpO2), dispneia em doentes
adultos com esclerose lateral amiotrófica, DPOC e outras doenças neuromusculares.
11
A finalidade deste estudo foi analisar e comparar todos estes efeitos
benéficos que sugerem que o MI-E pode ser usado preventivamente como terapia
de remoção traqueobrônquica nas populações com risco de complicações
respiratórias e que precisam de assistência para desobstrução das vias aéreas, e
ser um complemento potencial na fisioterapia respiratória para uma ampla variedade
de grupos de doentes.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão bibliográfica da literatura
sobre a eficácia da utilização de um dispositivo mecânico de insuflação-exsuflação
(MI-E) na terapia de remoção brônquica e descrever o seu beneficio no suporte
terapêutico nos ambientes de UTI, ambulatório e domicílio.
MÉTODO
Trata-se de uma Pesquisa Bibliográfica desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído por artigos científicos. A busca bibliográfica foi realizada por
meio dos seguintes descritores mechanical insufflation-exsufflation; tosse assistida;
fluxo de tosse e fisioterapia respiratória nas bases de dados PubMed, Scielo e
LILACS. Estabeleceu-se como critérios de inclusão publicações a partir do ano
2000, em todos os idiomas, artigos gratuitamente disponíveis na integra e estudos
que avaliaram a utilização do dispositivo mecânico de insuflação-exsuflação.
Tabela 1: Processo de seleção dos artigos após leitura integral do estudo
Base de
Dados
PubMed
Scielo
LILACS
Descritor
Mechanical insufflation - exsufflation
Tosse Assistida
Fluxo de Tosse
Fisioterapia respiratória
Mechanical insufflation - exsufflation
Tosse Assistida
Fluxo de Tosse
Fisioterapia respiratória
Mechanical insufflation - exsufflation
Tosse Assistida
Fluxo de Tosse
Fisioterapia respiratória
TOTAL
Artigos
encontrados
10
3
4
5
2
1
0
1
0
0
0
1
27
Artigos
selecionados
8
2
2
3
1
1
0
0
0
0
0
0
17
RESULTADOS
Foram selecionados 17 artigos nas bases de Dados PubMed, Scielo e
LILACS, nove (09) artigos abordavam a utilização de um dispositivo mecânico de
insuflação-exsuflação: seis (06) sobre a sua utilização em pacientes com doença
neuromuscular tais como Atrofia Muscular Espinhal, Esclerose Lateral Amiotrófica e
Distrofia Muscular de Duchenne,um (01) estudo feito em pacientes com lesão
medular, um (01) em um modelo de pulmão, e apenas um (01) em indivíduos
normais.
A tosse assistida foi abordada em três (03) artigos: um (01) comparava o
método de tosse assistida associada a MI-E em indivíduos normais, portadores de
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e portadores de doença neuromuscular;
um (01) abordava a tosse assistida como parte de outros métodos de tosse em
pacientes portadores de doença neuromuscular e um (01) como parte de um
protocolo de desmame em indivíduos normais.
O pico de fluxo de tosse com a utilização de um dispositivo MI-E foi analisado
em dois (02) artigos: um (01) em um estudo com pacientes portadores de doença
neuromuscular após processo de extubação e um (01) em pacientes portadores de
doença neuromuscular e também em pacientes portadores de DPOC.
A utilização do dispositivo MI-E foi abordado em três (03) artigos como parte
do tratamento de fisioterapia respiratória: dois (02) estudos foram realizados em
pacientes portadores de doença neuromuscular e um (01) em pacientes com lesão
medular.
Portanto, 12 artigos foram estudos realizados em pacientes portadores de
doença neuromuscular, sendo um (01) deles um estudo de caso, dois (02)
abordavam também outras patologias como DPOC e um (01) sobre a utilização do
dispositivo MI-E no processo de extubação deste grupo de pacientes. Foi analisado
um (01) artigo utilizando um modelo de pulmão, dois (02) com uso do MI-E em
pacientes tetraplégicos e apenas (02) que abordavam a utilização do dispositivo MIE em pacientes normais no protocolo de extubação.
DISCUSSÃO
A eficácia da MI-E foi já foi demonstrada tanto em modelos com animais
quanto em humanos. A geração de fluxo adequada nas vias aéreas proximais e
distais elimina efetivamente as secreções. Apesar de ocorrer possíveis quedas de
saturação de oxigênio (SpO₂), a capacidade vital, taxa de fluxo pulmonar e
saturação anormal podem melhorar imediatamente com a limpeza de secreções
utilizando o dispositivo MI-E quando comparado a técnicas convencionais de
aumento de tosse. 02
PILLASTRINI et al mostrou a melhora na capacidade vital forçada (CVF),
VEF1(volume expiratório final), PFT, com a utilização de um dispositivo MI-E
comparado à fisioterapia respiratória convencional, realizada em cinco séries de
cinco ciclos, com 2 segundos de insuflação, 3 segundos de exsuflação, pausa de 0,5
segundos, com pressões mínimas de +15 cm H₂O/-15 cm H₂O e máxima de +45 cm
H₂O/-45 cm H₂O, e um intervalo máximo de 3 minutos, e que sua utilização em
indivíduos com lesão medular alta foi um complemento eficaz para cinesioterapia
respiratória sendo possível remover secreções espessas e profundas, além de
insuflar as áreas afetadas por atelectasia. 13 CHATWIN também verificou um PFT
76% maior utilizando um dispositivo MI-E do que as outras técnicas de aumento de
tosse aplicadas, como tosse manualmente assistida por um fisioterapeuta e tosse
após uma inspiração sustentada por um VNI, em 22 pacientes com idade média de
21 anos clinicamente estáveis, portadores de doença neuromuscular com fraqueza
muscular respiratória grave. O dispositivo MI-E foi utilizado com pressões
inspiratórias e expiratórias de + 20 cmH₂O e -20cmH₂O respectivamente e foi bem
tolerada. 04
Já SIVASOTHY só encontrou melhora no pico de fluxo de tosse de
84L/min. para 144L/min. e no volume expiratório final quando utilizou em
combinação a tosse manualmente assistida e insuflação mecânica por dispositivo
MI-E e apenas em pacientes com fraqueza muscular por doença neuromuscular sem
escoliose. Indivíduos normais e pacientes com fraqueza muscular por doença
neuromuscular com escoliose não se beneficiaram das técnicas de aumento de
tosse. Em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a tosse
manualmente assistida isoladamente e em combinação com insuflação mecânica,
diminuiu o pico de fluxo expiratório de 144 l/min. para 135 l/min., e todas as
manobras de tosse assistida foram prejudiciais pela dinâmica do escoamento de
secreção e não pode ser recomendado para assistência de tosse para este grupo de
pacientes. O dispositivo MI-E foi realizado de forma combinada em dois ciclos com
pressão de +20 a - 20 cmH₂O, mais um terceiro ciclo sem a fase expiratória onde o
voluntário era convidado a fazer uma tosse voluntária máxima.15 Porém o dispositivo
MI-E na maioria dos estudos, foi realizado com pressões crescentes, chegando a ser
utilizada com + 40 a - 40 cmH₂O ,se mostrando eficaz e confortável, como avaliou
WINCK et al sobre a tolerância e efeito no pico de fluxo de tosse e saturação com
vários ajustes de pressão de MI-E em 29 pacientes portadores de doença pulmonar
obstrutiva crônica e portadores de doença neuromuscular. Todos relataram
dificuldades de remover secreção e queda de saturação. Cada paciente recebeu
seis ciclos de insuflação-exsuflação com pressões de: +15 a - 15 cmH₂O, +30 a - 30
cmH₂O, e + 40 a -40 cmH₂O. A duração do ciclo foi de 3 segundos de insuflação, 4
segundos de exsuflação, e uma pausa de 4 segundos, mais um período de
descanso de dois minutos entre cada aplicação. Após o sexto ciclo com a pressão
de + 40 a -40 cmH₂O da última aplicação, foi solicitado aos participantes a tossir com
força por conta própria e concluiu que o dispositivo MI-E foi bem tolerado e melhorou
significativamente PFT e SpO₂ nestes pacientes, especialmente quando utilizado a
pressões de +40 a - 40 cmH₂O. 17
Um estudo realizado em 26 pacientes portadores de Esclerose Lateral
amiotrófica (ELA) estáveis, com e sem disfunção bulbar, mostrou que um dispositivo
MI-E foi capaz de gerar taxas de fluxo expiratórios eficazes, e que em pacientes
clinicamente estáveis com disfunção respiratória leve e PFT> 4 L/s não podem se
beneficiar de MI-E, exceto durante uma doença respiratória aguda. Um
pneumotacógrafo foi colocado entre a máscara e o circuito do MI-E para que o PFT
gerado fosse medido. O MI-E foi aplicado por 2 segundos com +40 cmH₂O de
pressão de insuflação e 3 segundos com -40cmH₂O de pressão de exsuflação, com
1 segundo de pausa entre cada ciclo, um impulso toracoabdominal na fase
expiratória foi feito. 14
FAUROUX et al utilizou o dispositivo MI-E com aumento gradual de pressões
e também encontrou um aumento significativo no conforto respiratório em 17
pacientes portadores de doença neuromuscular estáveis entre 5 e 18 anos que
receberam seis ciclos de pressão inspiratória e expiratória, por 2 e 3 segundos
respectivamente, de + 15/- 15 cm H2O, + 30/- 30 cm H2O, e + 40/- 40 cmH₂O, e um
período de pausa de 30 segundos entre cada aplicação. O volume expirado durante
a insuflação-exsuflação aumentou proporcionalmente à oscilação de pressão
alcançando um volume tão elevado quanto o dobro do volume corrente com pressão
inspiratória/expiratória + 40 a -40 cmH₂O em todos os pacientes. Já a atelectasia
crônica foi resolvida em quatro pacientes e cinco pacientes apresentaram uma
redução na frequência de pneumonia. 07
Apenas CHATWIN e SIMONDS relataram desconforto com a utilização de um
dispositivo MI-E com aumento de pressão gradual. O estudo foi realizado em oito
pacientes, adultos e crianças, portadores de doença neuromuscular usuários de VNI
no período noturno, que estavam com infecção respiratória aguda, e mostrou que o
tempo de tratamento foi significativamente menor utilizando um MI-E duas vezes ao
dia por dois dias durante 30 minutos de sessão de fisioterapia, porém mais cansativo
para os pacientes. O estudo abordou a prática convencional de fisioterapia
respiratória, com e sem a utilização de um MI-E configurado em modo manual, com
pressões de +20 cmH₂O/-20 cmH₂O, +35 cmH₂O/-35 cmH₂O e +40 cmH₂O/-40
cmH₂O, com tempo de insuflação de 2- 4 segundos e exsuflação de 4-5 segundos,
realizada utilizando tanto a percussão quanto a vibração. Apesar de o resultado
mostrar certa insatisfação dos pacientes, houve uma queda significativa na
quantidade de secreções, e a saturação de oxigênio e frequência cardíaca não
foram prejudicadas, e o tratamento não causou instabilidade ventilatória. 05
Pacientes no ambiente de cuidados intensivos, muitas vezes têm prejudicado
os meios de desobstrução das vias aéreas. A entubação endotraqueal impede o
paciente de fechar a glote, o qual é necessário para a tosse eficaz.
Cuidados com o paciente entubado inclui sucção direta aplicada através de
do tubo endotraqueal, o que elimina uma pequena porção de secreção das vias
aéreas, porém pode ser ineficaz para limpar as secreções das vias aéreas
periféricas, e deixa o paciente dependente de transporte mucociliar. Um estudo
avaliou o impacto de várias vias aéreas artificiais no pico de fluxo expiratório (PFE),
com a utilização de um dispositivo MI-E em um modelo de pulmão com três
configurações de pressão: +30/-30, +40/- 40, e +50/-50 cmH₂O, aplicados por 3
segundos na inspiração, 1 segundo na expiração e 1 segundo de pausa entre cada
ciclo, e concluiu que tanto os tubos orotraqueais como os tubos de traqueostomia
reduziram significativamente PFE durante a insuflação-exsuflação com o dispositivo
mecânico, ou seja, quanto menor o diâmetro interno das vias aéreas artificiais, mais
baixo o PFE e uma maior pressão é necessária para gerar um determinado fluxo de
ar. 09 O processo de desmame da ventilação mecânica deve equilibrar o risco de
complicações por atrasos na extubação com o risco de complicações por
necessidade de reintubação. Pacientes que necessitam de reintubação tem uma
taxa de mortalidade significativamente mais elevada do que aqueles que são
extubados com sucesso na primeira tentativa. 08
O dispositivo MI-E foi estudado como parte de um protocolo de extubação por
GONÇALVES et al. Sua inclusão reduziu as taxas de reintubação, o tempo de
estadia na UTI pós-extubação e melhorou a eficácia da VNI em pacientes que
utilizaram ventilação mecânica (VM) por mais de 48 horas em 110 pacientes, com
idade entre 15 a 61 anos, que toleraram um teste de respiração espontânea (TRE)
que receberam o protocolo de extubação convencional com tratamento médico
padrão, incluindo VNI em caso de indicações específicas. Porém um grupo recebeu
também mais três sessões diárias de MI-E pós-extubação, e mostrou uma taxa de
reintubação de 17%, taxa de reintubação de 6% relacionadas ao fracasso da VNI e o
tempo de internação média após extubação foi de 2,5 a 3,1 dias, comparado ao
grupo que não utilizou o dispositivo MI-E que mostrou uma taxa de reintubação de
48%, taxa de reintubação de 13% relacionadas ao fracasso da VNI e o tempo de
internação média após extubação foi de 6,7 a 9,8 dias. 08
BACH et al também obteve sucesso de 95% na aplicação de um protocolo de
extubação em 149 pacientes, todos portadores de doença neuromuscular, com
idade média de 21 a 37 anos, que foram entubados por insuficiência respiratória
e/ou pós-cirurgia, que recusaram a traqueostomia e mantinham a saturação de
oxigênio em 95% em ar ambiente. Fazia parte do protocolo um suporte ventilatório
não invasivo (VNI) pós-extubação e utilização de forma agressiva de um dispositivo
MI-E com pressão de +40 a -40 cmH2O,até cada 20 minutos de intervalo, como
forma de manter ou desenvolver uma saturação sempre acima de 95% sem a
utilização de oxigênio . O sucesso da extubação foi definido como não necessitando
de reintubação durante a internação. 02
MARCHANT e FOX relataram um caso de um menino de 11 anos de idade
com atrofia muscular espinhal tipo II, em que o tratamento pós-operatório de
correção de escoliose foi auxiliado usando um dispositivo MI-E para prevenção de
retenção de secreção e de traqueostomia. O dispositivo MI-E foi eleito como
alternativa, para ser usado a cada 4 horas após cinco dias da cirurgia e quatro após
a extubação, devido à piora clínica e radiológica e queda de saturação sendo capaz
de tratar com sucesso a retenção de escarro e evitar a traqueostomia. 11
Os estudos mostram que o dispositivo MI-E pode ser usado tanto em âmbito
hospitalar em um quadro de infecção respiratória aguda ou como parte do processo
de desmame de ventilação mecânica e também como tratamento preventivo de
pneumonias. BENTO et al descreveram as indicações domiciliares para utilização de
um dispositivo MI-E e determinou a sua segurança e aderência em 21 pacientes
portadores de doença neuromuscular com idade média de 58 anos,
traqueostomizados e dependentes de VNI noturna. O dispositivo MI-E foi aplicado
nos primeiros sinais de dispneia, acúmulo de secreção ou quando SpO₂ <95%, até
que um valor> 95% fosse obtido, com pressões de insuflação/exsuflação de +40 a 40 cmH₂O, de 6 a 8 ciclos com duração de 3 segundos para insuflação, 2 segundos
para exsuflação e 4 segundos para a pausa. Uma compressão abdominal foi
aplicada na fase expiratória. O achado mais importante deste estudo é que foi
possível tratar pacientes com doença neuromuscular com base em cuidados e
treinamentos de cuidadores não profissionais, e os ajustes utilizados tiveram efeitos
de bem-estar e comprovou sua eficácia em obter maiores valores de PFT sem
complicações. 03
Trinta internações foram evitadas pelo alivio da angustia respiratória e retorno
de saturação a linha de base de 95% com a utilização da MI-E domiciliar em
episódios de acúmulo de secreção não revertido por aspiração associado à queda
de saturação com pressões que variaram de +30 cmH₂O/-30 cmH₂O a +60 cmH₂O/60 cmH₂O, em estudo feito com 39 pacientes portadores de ELA que faziam parte
de um programa de home care. 75% dos pacientes ficaram extremamente
satisfeitos. 16 CREW et al relataram uma redução de 34% de taxa de internação por
doença respiratória, depois do início do uso de um dispositivo MI-E em um grupo de
40 pessoas com lesão medular com alto risco de desenvolvimento de pneumonias.
Este estudo mostrou que o uso ambulatorial de MIE entre pessoas com tetraplegia
pode ser uma técnica de remoção de secreção. 06
CONCLUSÃO
A utilização de dispositivos MI-E é generalizada na América do Norte,
principalmente por indivíduos com doença neuromuscular na prevenção da
morbidade respiratória. Esta revisão mostrou que o dispositivo MI-E melhorou a
dinâmica do fluxo da tosse e foi um método eficaz no processo de remoção de
secreção traqueobrônquica, tanto em âmbito hospitalar quanto domiciliar, porém um
número relativamente pequeno de pacientes foi incluído nos estudos. Por este
motivo, análises de acordo com a doença subjacente ou a gravidade da fraqueza
muscular respiratória, com maior número de pacientes, principalmente com
indivíduos normais com infecção respiratória e em ambiente hospitalar é claramente
necessária para validar a observação clínica de que o dispositivo MI-E pode ser
associado à terapia com maior benefício.
Dentro da metodologia proposta, nenhum artigo na língua portuguesa foi
encontrado, todos estavam na língua inglesa. E apesar de poucos estudos clínicos,
terem sido realizados para identificar o melhor tratamento para a definição de um
método eficaz para remoção de secreção traqueobrônquica, a maioria dos artigos
mostrou a excelente tolerância e as melhoras fisiológicas em curto prazo e por isso,
pode-se afirmar que o uso de um dispositivo MI-E, durante cuidados intensivos é
eficiente por reduzir complicações respiratórias e melhorar as condições gerais dos
doentes. Além disso, a utilização do dispositivo MI-E no âmbito domiciliar ou
ambulatorial também reduziu a quantidade de internação hospitalar, levando a uma
indiscutível melhoria na qualidade de vida do paciente e de redução de custo para o
hospital.
É importante avaliar se o uso regular do dispositivo durante a fisioterapia
pode reduzir o impacto em longo prazo de infecções pulmonares e investigar se a
associação da utilização por todos os profissionais responsáveis no cuidado ao
paciente torna o resultado clínico mais eficaz do que somente as técnicas existentes
para a melhora da tosse e desta forma torná-los parte do tratamento e agentes
multiplicadores dos benefícios do MI-E.
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