MANEJO DE PRAGAS NA FLORICULTURA Marco Antonio Tamai1

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MANEJO DE PRAGAS NA FLORICULTURA
Marco Antonio Tamai1, Rogério Biaggioni Lopes2, Sérgio Batista Alves3
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura, Luis de Queiroz,
Departamento Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, CP 9, CEP
13418-900, Piracicaba, SP, Brasil. E-mails:
[email protected]
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Introdução
A floricultura é uma atividade de alta rentabilidade e com grande potencial
de consumo no Brasil. Nos últimos anos, o setor tem apresentado um aumento
no volume de movimentação financeira e na demanda de produtos para os
mercados interno e externo. O mercado brasileiro de flores e plantas
ornamentais movimentou em 1998 um valor estimado de US$ 1,3 bilhões no
varejo, e o Estado de São Paulo participou com 60% desse faturamento (KIYUNA,
1998). O setor abrange uma grande diversidade de produtos e grupos
comerciais, como as flores de corte (rosa, crisântemo, lírio, cravo, gladíolo),
flores de vaso (crisântemo, violeta, antúrio, azaléia e begônia) e algumas
folhagens.
Dentre as pragas que ocorrem infestando flores e plantas ornamentais
destacam-se os ácaros, tripes, moscas brancas e pulgões, além de larvas
minadoras. Os danos provocados por essas pragas comprometem
principalmente a qualidade e comercialização do produto final. Atualmente,
não existe uma solução única para o controle de pragas na floricultura; o
melhor enfoque baseia-se na integração de diferentes estratégias de manejo,
incluindo medidas de controle químico, cultural, físico e biológico. No presente
trabalho serão apresentados as principais pragas e seus danos, e discutidas
algumas táticas de controle dessas no cultivo de flores e plantas ornamentais.
Principais pragas e danos
Ø Ácaros: a principal espécie de ácaro praga em plantas ornamentais é
Tetranychus urticae, comumente denominada de ácaro rajado. Este ácaro
apresenta geralmente coloração verde, com uma mancha escura em cada
lado do corpo. Ataca muitas espécies vegetais, colonizando e ovipositando
na face inferior das folhas. Alimenta-se do conteúdo das células do
parênquima, causando manchas amareladas na face superior das folhas,
consequentemente, reduzindo a capacidade fotossintética da planta e
provocando deformações das folhas. Ataca preferencialmente folhas jovens,
mas em colônias bem estabelecidas, folhas velhas podem se tornar altamente
infestadas (JEPPSON et al., 1975). Em alta infestação, pode cobrir o topo das
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plantas com fios de seda. Causa danos severos em diversas variedades de
crisântemo, rosa e gipsofila, ocorrendo nestas culturas praticamente durante
todo o ano, especialmente nas estações mais quentes e secas. Outra espécie de
ácaro praga é Polyphagotarsonemus latus, conhecido como ácaro-branco. Este
ácaro é muito pequeno, sendo possível sua visualização apenas com lupa.
Desenvolvem grandes colônias em brotações novas das plantas, ocasionando
má formação de folhas e flores. Sua ocorrência é mais comum em condições
de alta umidade e calor. Ácaros do gênero Brevipalpus são pragas em culturas
de azaléia e orquídeas. Normalmente de coloração avermelhada, atacam as
folhas das plantas, causando lesões nos tecidos. Em orquídeas, podem
transmitir doença virótica.
Ø Tripes: são insetos de tamanho reduzido, variando entre 0,5 a 15 mm
de comprimento, e possuem coloração diversa. No Brasil, a grande maioria
das espécies de importância econômica pertence aos gêneros Thrips e
Frankliniella. Os tripes são altamente polífagos, com grande capacidade
reprodutiva e de fácil dispersão pelo vento, o que proporciona uma rápida
infestação de novas áreas de cultivo. Condições de alta temperatura,
principalmente no verão, e a maior oferta de pólen durante o florescimento
favorecem o crescimento da população da praga. A alimentação desses insetos
em folhas e pétalas tem como conseqüência à formação de manchas prateadas
e deprimidas nos locais atacados, além de pontos enegrecidos da deposição
de gotas fecais. Nestas condições, são afetadas a capacidade fotossintética
da planta e a qualidade das flores e folhagens na comercialização. Além do
dano direto, algumas espécies são transmissoras de doenças viróticas em
crisântemo no Brasil.
Ø Pulgões: são insetos pequenos, de no máximo 5 mm de comprimento,
corpo delicado, forma ovalada e coloração variável. Os afídeos são pragas
altamente polífagas, podem atacar diferentes espécies de flores e ornamentais,
sendo observados frequentemente infestando e provocando danos no cultivo
de rosas. Algumas espécies de ocorrência comum são Myzus persicae e Aphis
gossypii, entre outras. Os pulgões são geralmente encontrados na face inferior
das folhas, caules e brotações. A alimentação do inseto provoca distorção do
tecido atacado, principalmente nos brotos e botões florais, comprometendo o
crescimento normal da planta. A substância açucarada eliminada pelos
pulgões favorece o aparecimento da fumagina na superfície de folhas e flores,
prejudicando a fotossíntese e depreciando o produto. São também
importantes vetores de viroses, entre as quais destacam-se os mosaicos do
cravo e do crisântemo.
Ø
Mosca-branca: São insetos pequenos, medindo de 1 a 2 mm de
comprimento, de coloração branca, que vivem na face inferior das folhas,
onde se alimentam e reproduzem. A principal espécie de mosca-branca praga
de plantas ornamentais é Bemisia tabaci. Este inseto é polífago, causando danos
em diferentes espécies de plantas ornamentais. A minadora, representada
principalmente pela mosca Liriomyza spp., faz túneis no parênquima foliar e
em grandes infestações chegam a danificar toda planta. São de ocorrência
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comum na cultura do crisântemo. Os sciarídeos normalmente se alimentam
de fungos no solo e matéria orgânica, contudo, em altas populações atacam
órgãos tenros como bulbos e raízes. São de maior importância em cultivos de
orquídeas e outras plantas de bulbos.
Táticas de controle e manejo
Controle químico
É a principal forma de controle de pragas na floricultura, representado
pela utilização dos inseticidas e acaricidas. Em casos de altas infestações de
pragas, o controle químico, quando aplicado corretamente, constitui a melhor
maneira de evitar danos nas culturas. Sua ampla utilização deve-se também
a facilidade de aplicação e a disponibilidade de equipamentos e serviços. No
mercado brasileiro, existem diversos produtos disponíveis para o controle de
pragas, entretanto poucos são recomendados para utilização na floricultura
(Tabela 1).
Tabela 1 - Pragas e alguns produtos químicos recomendados para utilização na
floricultura.
Pragas
Produto comercial (i.a.)
Ácaros
Tetranychus urticae
Polyphagotarsonemus latus
Tripes
Frankliniella spp.
Vertimec 18CE (abamectina); Talstar
100CE (bifenthrin); Sanmite
(pyridaben); Meothrin 300
(fenpropathrin); Cefanol (acephate);
Omite 720CE (propargite)
Orthene 750BR (acephate); Mesurol
500SC (methiocarb); Actara
(thiamethoxam); Dimetoato CE
(dimetoato)
Sevin 480SC (carbaryl); Dicarzol
500CE (formetanate); Decis 25CE
(deltamethrine); Confidor 700GRDA
(imidacloprid)
Malathion 500CE (malathion);
Folidol 600 (parathion methyl);
Sumithion 500CE (fenitrothion);
Temik 150 (aldicarb)
Applaud 250PM (buprofezin);
Orthene 750BR (acephate); Calypso
(thiacloprid)
Thrips spp.
Pulgões
Myzus persicae
Aphis gossypii
Mosca branca
Bemisia tabaci
A falta de produtos químicos recomendados para o segmento é o primeiro
problema enfrentado pelo produtor. A utilização de inseticidas e acaricidas
não registrados para a cultura pode acarretar sérios problemas de
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fitotoxicidade. O cultivo de flores e ornamentais geralmente é feito em estufas,
o que proporciona uma menor ventilação do ambiente, expondo os
trabalhadores, especialmente mulheres e idosos, ao maior risco de intoxicações
por vapores produzidos após as aplicações de produtos fitossanitários. O
uso intensivo do controle químico na floricultura favorece o desenvolvimento
de resistência em populações de pragas, em especial tripes, ácaros, moscasbrancas e pulgões (IMMARAJU et al., 1992; SUNDERLAND , 1992). O elevado grau de
resistência de uma população torna ineficazes as aplicações subsequentes
do produto, exigindo assim o aumento das dosagens e, consequentemente,
agravando os problemas de fitotoxicidade e intoxicações.
Apesar da reconhecida importância dos produtos químicos, a integração
de diferentes estratégias de controle é a forma mais eficiente e econômica para
os problemas fitossanitários das culturas. Para tanto, é imprescindível o
correto reconhecimento das pragas, além dos danos causados e formas de
disseminação, entre outras. Estas informações possibilitam ao produtor adotar
medidas de controle adequadas para cada espécie de planta e sistema de
produção, da instalação da cultura à colheita.
Controle biológico
Consiste na redução populacional das pragas pela utilização de seus inimigos
naturais. O controle biológico na floricultura é mais empregado nos países europeus
e nos Estados Unidos, entretanto, o seu uso é incipiente nas condições brasileiras.
Ácaros predadores dos gêneros Phytoseiulus e Amblyseius são empregados para o
controle do ácaro rajado e de diferentes espécies de tripes, respectivamente. Insetos
predadores dos gêneros Chrysopa e Orius são utilizados para o controle de pulgões
e tripes, enquanto que insetos parasitóides dos gêneros Aphidius e Encarsia são
indicados para o controle de pulgões e moscas brancas, respectivamente. Entre os
patógenos mais empregados, destacam-se os fungo Verticillium lecanii e Beauveria
bassiana para o controle de tripes, pulgões, moscas brancas e ácaro rajado
(SUNDERLAND , 1992; ALVES et al., 1998). Os inimigos naturais são ferramentas
importantes no manejo da resistência de pragas aos produtos químicos, além de
não serem poluentes e não representarem riscos à saúde humana.
Outras táticas de controle
O controle de pragas inicia-se com a prevenção, através da utilização de
materiais de propagação (sementes, bulbos e mudas) sadios, esterilização do
solo e dos equipamentos de trabalho, utilização de telados e evitando-se a
migração de insetos entre unidades de produção (OLIVEIRA, 1995). A rotação
de culturas, através do cultivo alternado de plantas que não sejam hospedeiras
das mesmas pragas, consiste também em uma prática cultural empregada
para pragas específicas de determinadas culturas. A atenção com a higiene é
importante na redução da infestação das pragas, especialmente em estufas,
através da retirada de plantas severamente infestadas e doentes, e também
pela destruição de restos culturais após o plantio e colheita. Muitos outros
componentes de controle podem ser incorporados no manejo das pragas,
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como utilização de cultivares resistentes e o uso de armadilhas adesivas ou
barreiras físicas. Juntos, esses métodos formam a base do manejo integrado
de pragas na floricultura. Todas as práticas culturais descritas são aplicáveis
a qualquer sistema de cultivo ou espécie de planta cultivada e pragas, além
de serem compatíveis com as táticas de controle químico e biológico.
As práticas preventivas de controle são úteis para retardar e minimizar a
infestação das pragas, contudo, em casos de altas populações sugere-se o controle
químico. Nesse caso, o monitoramento é fundamental para se determinar o
momento e os locais para a aplicação, visto que as pragas possuem características
diferenciadas de infestação, consequentemente, reduzindo os custos de controle,
riscos de intoxicação e resíduos nos produtos comercializados.
Considerações finais
O controle eficiente e econômico das pragas na floricultura só é possível
através do planejamento e implantação de um sistema de manejo integrado.
Em função das diferenças existentes entre sistemas de cultivo, que levam em
consideração a cultura e local de implantação, o nível técnico do produtor,
além dos problemas fitossanitários mais importantes, não existe uma única
solução que atenda todos os produtores. O que agrava esse problema é o
menor interesse dos setores de pesquisa e serviços em relação ao setor de
flores e plantas ornamentais, devido a pequena representação do segmento
na agricultura brasileira e, principalmente, pela limitada integração entre
esses grupos e os produtores. Assim, em nossa opinião, existe a necessidade
de se estabelecer uma maior relação entre as partes, o que acreditamos favorecer
os produtores, centros de pesquisa e também os consumidores.
Referências Bibliográficas
ALVES, S.B.; TAMAI , M.A.; LOPES, R.B. Avaliação de Beauveria bassiana (Bals.). Vuill.
para o controle de Tetranychus urticae Kock. em crisântemo. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA 17., 1998, Rio de Janeiro. Resumos. Rio de
Janeiro, 1998. p.1068.
IMMARAJU, J.A.; PAINE, T.D.; BETHKE, J.A.; ROBB, K.L.; NEWMAN , J.P. Western flower
thrips (Thysanoptera: Thripidae) resistance to insecticides in Coastal California
greenhouses. J. Econ. Entomol., v.85, n.1, p.9-14, 1992.
Jeppson, L.R.; Keifer, H.H.; Baker, E.W. Mites injurious to economic plants. Berkeley: University of California Press, 1975. 614p.
KIYUNA, I. Flores. Prognóstico Agrícola, v.2, p.189-194, 1998.
OLIVEIRA, M.R.V. Controle biológico em casas de vegetação com especial referência
à Trialeurodes vaporariorum Westwood (Homoptera, Aleyrodidae) (mosca branca de casa de vegetação). São Carlos, 1995. 357p. [Tese (Doutorado) - CCBS,
Universidade de São Carlos].
SUNDERLAND, K.D.; CHAMBERS, R.J.; HELYER, N.L.; SOPP, P.I. Integrated pest management of greenhouse crops in Northern Europe. Hortic. Rev., v.13, p.1-66, 1992.
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