Direitos humanos, educação e segurança pública nas práticas da Unesco no Brasil Human rights, education, and public safety in Unesco’s practices in Brazil Resumo O presente artigo tem o objetivo de problematizar as práticas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por meio do conceito de governamentalidade em Michel Foucault, em especial as que veiculam prevenção à violência com a educação, em uma cultura de paz, com a proposta de uma política de segurança pública pautada na educação em direitos humanos. A racionalidade neoliberal e a instrumentalidade da cultura pela gestão dos valores são vias muito valorizadas por esse organismo multilateral para favorecer as democracias e as políticas públicas. O governo das condutas é realizado pela Unesco pela gerência das crenças, dos sentimentos, dos modos de vida, das práticas cotidianas e comunitárias. Noções de desenvolvimento sustentável, de solidariedade comunitária e de família como base da sociedade são capitalizadas e articuladas à de redução da pobreza, ao controle de recursos naturais e ao uso dos esportes, para evitar a guerra, o crime e a violência. Palavras-Chave UNESCO; Governamentalidade; Segurança pública; Direitos humanos; Educação. Abstract This paper aims to discuss the practices of UNESCO through the concept of governmentality in Foucault, in particular those that convey violence prevention and education in a culture of peace, with a proposed policy of public security based on human rights education. The neoliberal rationality and instrumentality of culture through the management of values is much valued by this multilateral organization to promote democracies and public policies. The government of conduct is carried out by UNESCO by managing beliefs, feelings, ways of life, the everyday community practices Notions of sustainable development, community solidarity and family as the foundation of society are capitalized and articulated to poverty reduction, control of natural resources and the use of sports to avoid war, crime and violence. Keywords Unesco; Governmentality; Public safety; Human rights; Education. Flavia Cristina Silveira Lemos Universidade Federal do Pará (UFPA) [email protected] Franco Farias da Cruz Universidade Federal do Pará (UFPA) [email protected] Adriana Elisa de Alencar Macedo Universidade federal do pará (UFPA) [email protected] Gustavo Ferreira Queiroz universidade federal do pará (UFPA) [email protected] Direitos humanos, educação e segurança pública nas práticas de da Unesco no Brasil E ste artigo tem o objetivo de explicitar a vinculação constituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) entre segurança pública, direitos humanos e educação como estratégias de governamentalidade no campo do governo das condutas. Busca-se descrever e analisar a racionalidade de uma educação na perspectiva de uma cultura de paz para prevenir a violência, evitar guerras mundiais e civis, atos de terrorismos, crimes contra a vida e contra o patrimônio. Para a Unesco, a guerra e a violência são, primeiramente, frutos das crenças, sentimentos, valores humanos, racismos, da pobreza e do não desenvolvimento, e, dessa maneira, a guerra deverá ser combatida pelas intervenções que atuem com a cultura, a ciência e a educação. A Unesco foi criada após a Segunda Guerra Mundial, em 16 de novembro de 1945. Sua missão é construir um projeto de educação para a paz, com vistas a promover a segurança mundial; por isso, desenvolve práticas educativas, culturais e no âmbito da ciência e tecnologia que operem no fomento do que se vem nomeando como cultura de paz. Desde 1948, a UNESCO vem acompanhando a evolução das agendas internacionais com uma missão específica: oferecer insumos concretos para a pacificação das relações internacionais. […] Não é de hoje que os países do mundo lançam mão do princípio do multilateralismo como forma de administrar as relações internacionais. (UNESCO, 2002, p. 221-231). Nosso propósito é mostrar a todos como a cultura forja todo nosso pensamento, nossa imaginação e nosso comportamento. Ela é, ao mesmo tempo, o veículo da transmissão do comportamento social. (UNESCO, 1997, p. 16). 68 Após os efeitos drásticos da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, especialistas representantes de diferentes países e vinculados às diversas organizações articularam-se para criar a Unesco e, por meio dela, evitar novas guerras e situações de violência. Contudo, esse objetivo foi ampliado, na medida em que os assessores desse órgão eram demandados a respeito das consequências das guerras civis em muitas nações, que produziam tantas mortes e prejuízos quanto as guerras mundiais. Também foram mobilizados pelos efeitos da Guerra Fria e pelas rivalidades entre os blocos capitalista e comunista. Ainda receberam o encargo de pensar os impasses e dificuldades em lidar com os ataques terroristas e a reorganização do Oriente e do Ocidente, com a crise do petróleo, ao final da década de 1970, no século XX, e com disputas religiosas, econômicas e políticas ante os interesses de países como os Estados Unidos no Oriente. O ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos e o recrudescimento das punições em todos os países nomeados como democráticos trouxeram novos paradoxos, e a entrada em cena do neoliberalismo e da mundialização da economia, do direito e da cultura também intensificaram a concorrência entre as nações e revigoraram comunitarismos sectaristas locais e racismos regionais (BAUMAN, 1999). Situações de violência ligadas ao aumento de índices de crimes contra a vida e contra o patrimônio passaram a incomodar gestores e a sociedade, que começaram a organizar políticas conservadoras em nome da segurança e da defesa social, com a ampliação de prisões, aparelhamento das polícias, criação do policiamento comunitário e implantação da formação continuada de integrantes das polícias militares, federais e civis, no caso brasileiro. Foi igualmente acirrada a violência em função de situações de gênero, de raça/etnia, de faixa etária, de religião, de escolaridade, de classe social, de orientação sexual, tanto no meio urbano quanto na zona rural, e entre casais, pais e filhos e, em acréscimo, em diferentes questões de conflito interpessoal, que desembocavam em violências variadas. A Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 xenofobia e o retorno de racismos em função das crises econômicas e da intensa troca de valores culturais com a globalização produziram efeitos em termos de cifras de genocídios contra jovens pobres, intensificação de políticas de controle da imigração, demasiada desigualdade social e processos de desfiliação social (BAUMAN, 1999). No bojo de tais acontecimentos, e forjando uma política multilateral vinculada ao contexto das intervenções da Organização das Nações Unidas (ONU), a Unesco, como agência integrante do sistema ONU, principiou a compartilhar racionalidades que podemos afirmar que são da ordem uma segurança, articulada à biopolítica e ao neoliberalismo. Neste cenário, emergem as figuras dos sujeitos de direitos e os dispositivos da polícia, em uma minúcia do controle, tanto social quanto disciplinar, que se coadunam com o surgimento também do militarismo profissionalizado e com a diplomacia do Estado Democrático de Direito para mediarem uma prática de segurança entre as nações, em contextos neoliberais, da atualidade. Foucault (2008a) assinala que, desde o Tratado de Westfalia, em 1648, há uma preocupação em balizar a concorrência entre as nações com a intenção de assegurar a soberania dos estados modernos e o equilíbrio econômico entre eles, de modo a favorecer o comércio entre esses países e promover o desenvolvimento de todos eles simultaneamente, pois muitos economistas e filósofos políticos irão postular que, para vender, é preciso ter consumidores que possam comprar, e que, para evitar as guerras, é necessário cuidar para que a coesão social ocorra e que os dispositivos de mediação de conflitos e revoltas populares possam ter concretude. Muitas revoltas eram advindas dos efeitos das situações de desigualdade social e econômica resultantes de decisões liberais, e, posteriormente, diante de tentativas de medicalizar e higienizar as cidades, tornando-as limpas e semelhantes aos acampamentos militares. Além desses aspectos citados, disputas religiosas marcaram a construção dos estados modernos e mutações nas organizações das famílias e comunidades também, interferindo nas artes de governar as condutas na perspectiva da segurança e da defesa social, justificadas em nome do cuidado da vida (FOUCAULT, 1979). A cultura pode propiciar uma contribuição efetiva à instituição mais fundamental de integração social, que é a família. Pesquisas realizadas nos últimos anos dão conta de que, juntamente com o seu papel afetivo e espiritual decisivo, a família tem conseqüências muito relevantes em inúmeras outras áreas. Assim, influi fortemente no rendimento educacional das crianças, na formação da criatividade e do crítico, no desenvolvimento da inteligência emocional, na aquisição de uma cultura de saúde preventiva. Ao mesmo tempo, é uma das principais redes de proteção social e o quadro primário fundamental da integração social. (UNESCO, 2008, p. 86-7). Uma ética universal revela a unidade subjacente à diversidade de culturas, pois define os padrões mínimos que toda comunidade deveria observar. Um exemplo do imperativo ético universal é o impulso que leva, sempre que possível, à busca do alívio do sofrimento humano, suprimindo suas causas. […] A democracia e a proteção de minorias são princípios importantes da ética universal, e são também condição necessária para a eficiência das instituições, a estabilidade social e a paz. (UNESCO, 1997, p. 23). Foucault (2008b) destaca que a educação e o direito tornam-se um elo com a cultura e com a economia política por meio da gestão da população e da família em um Estado governamentalizado neoliberal que re- Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 69 aliza investimentos empresariais e que vê na segurança pela ordem e lei um dispositivo de controle social e de regulação jurídica ante os litígios. Alargar a faixa de liberdade com a manutenção da segurança seria um imenso desafio para os países nessa racionalidade. O sujeito de direito torna-se também um sujeito econômico, em que a soberania do Estado, em termos do direito público, entrecruza-se com os interesses econômicos do homem “empresário de si mesmo”. A subjetividade “homem empresário de si mesmo” está sendo gestada em substituição ao homem consumidor. Pequenos negócios são criados e incentivados, associações comunitárias e corporativas são fomentadas em cidades pequenas e de médio porte. A produção artesanal é requerida e financiada; o retorno ao campo e a profissionalização do trabalho rural é visada e prescrita por políticas focais. Nesse campo, a Unesco entra como organismo que recomenda estas práticas e vincula-as à promoção de segurança e paz mundiais. Desse modo, regula-se a economia pelo chamado empreendedorismo com políticas geradoras de renda. O desempregado é visto como alguém em trânsito temporário entre atividades de mais ou menos rentabilidade. No campo da educação, cada vez mais se busca a técnica intensificada e a docilidade acirrada, em que o ensino deve se tornar formação ao longo da vida, com o objetivo de ser inovador, forjando um homem flexível e polivalente. Foucault (2008b) define governo como práticas concretas que estão sustentadas em determinadas racionalidades dinâmicas, heterogêneas e entrecruzadas, singulares, e que são acontecimentos em uma rede de relações móveis e múltiplas em deslocamento e em composição perpétua. O governo de condutas funciona tal como artes de governar e não, apenas, como atos do Estado versus uma suposta unidade chamada sociedade civil organizada, como se ambos fossem entes universais. O governo das condutas ocorre por meio de táticas específicas, em que se pergunta a melhor forma de agir: pensando o tempo, a intensidade, as práticas e os corpos aos quais se 70 visa atingir e de que modo deve ser realizado para alcançar alguns resultados esperados, em contextos de complexidade, de medidas de riscos e perigos a calcular. O plano neoliberal e mundial integrado que é o da atualidade é uma questão política, econômica, histórica, filosófica e cultural que deve ser analisado em seus efeitos e em suas descontinuidades e continuidades, ao longo dos séculos. Assim, para Foucault (2008b), o Estado Democrático de Direito torna-se uma realidade compósita, que deve diminuir o financiamento das políticas de seguridade realizado no período do Estado de bem-estar social, delegando ao setor privado e às associações e entidades do terceiro setor a responsabilidade de oferecer certas formas de assistência social. Apenas as populações consideradas vulneráveis receberão políticas compensatórias atreladas aos indicadores de equidade social e de justiça pautados em cotas e níveis de pobreza diferenciados. Os governantes e os governados negociam, avaliam e definem juntos, por diversos acordos, discussões, concessões recíprocas, transações e agendas construídas, as maneiras de serem governados, por quem serão e como serão, de que modo o serão e, ainda, até quando e em que medida. O Estado apenas é um regulador, como uma realidade compósita e plural, e não uma entidade abstrata, organizada somente pelo contrato social de soberania; apesar desse arcabouço, possibilita definições do Direito Público para mediar relações entre Estado e sociedade. Nesse sentido, o governo é uma prática a delimitar regras de um jogo, negociadas de forma permanente por todos os que integram a sociedade de alguma maneira, e implica movimentos, posições e estratégias relacionais, móveis e históricas sempre tensas e de resistência, com tentativas de submissão frustradas, já que operam por meio de forças com forças, forças contra forças, forças em composição com outras e em deslocamentos ininterruptos (FOUCAULT, 2008b). Foucault (2008a; 2008b) também aponta que as organizações internacionais passam Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 a interferir na soberania dos Estados sem desmontá-la, ocupando-se com as estratégias diplomáticas governamentalizadas, unindo setores públicos e privados locais, regionais, nacionais, redes de associações, universidades, organizações não governamentais (ONGs), fundações e a chamada sociedade civil descentralizada, em negociação de interesses permanentemente, em uma conjugação do direito com as perspectivas ambientalistas e sistêmicas de governo das condutas. Para Foucault (1979), governamentalidade é […] o conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem exercer essa forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, como forma principal de saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança. (FOUCAULT, 1979, p. 291-292). Em O nascimento da biopolítica (2008b) e em Segurança, território e população (2008a), Foucault demarca que a questão a ser gerida é a vida com segurança, em um meio e diante dos fluxos de circulação em um território, pois neste circulam, não apenas pessoas e populações, mas produtos e informações, tecnologias e valores. Disciplinar esses circuitos e organizá-los demanda normas compartilhadas e negociadas em fóruns multilaterais, bilaterais, em segmentos com conselhos e representantes/delegados que vão efetuar, a todo instante, tomadas de decisão políticas em nome da suposta defesa social. Uma das mais surpreendentes mudanças no multilateralismo contemporâneo é o surgimento da sociedade civil como partícipe da diplomacia. Este processo teve início também no Rio de Janeiro, na Conferência sobre Meio Ambiente, em 1992. A série de conferências mundiais patrocinadas pela ONU vem fortalecendo esta tendência. (UNESCO, 2002, p. 232). Nesse sentido, podemos analisar como a Unesco vai concretizar práticas de articulação política entre as nações com a assinatura de tratados e sua ratificação entre os países membros dessa organização; também se infiltrará em ministérios e universidades, realizando composições para fomento a pesquisas e programas de políticas públicas de educação, ciência e cultura. A Unesco publicará livros, guias e relatórios, organizar conferências mundiais e nacionais para a execução de acordos e construção de agendas políticas. Fará convênios com bancos internacionais e nacionais, com emissoras de televisão e com as várias mídias, de modo a fomentar a difusão de seus ideários e propostas correlatas. Ainda irá ampliar suas intervenções, em níveis local e regional, igualmente, por meio de financiamentos de projetos, assessorias às ONGs e fundações, às comunidades e às entidades públicas não estatais. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento destaca a participação como uma estratégia central de mudança nos seus difundidos Relatórios sobre o Desenvolvimento Humano Mundial. […] A participação comunitária pode ser uma ferramenta fundamental diante dos graves problemas sociais que a América Latina enfrenta. (UNESCO, 2003, p. 177-178). O capital social está sendo redescoberto hoje como uma chave estratégica dos avanços registrados em países bem sucedidos. […] Por capital social se entende um conjunto de aspectos tais como, dentre outros: a capacidade de uma sociedade para produzir amplos acordos sociais no seu interior, para gerar redes articuladoras dos esforços de seus di- Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 71 versos setores; as forças existentes numa sociedade para dar impulso ao trabalho voluntário em iniciativas de utilidade geral; sua cultura, e a presença de valores éticos voltados para a solidariedade, a construção positiva, a cooperação e a eqüidade. […] Os países que protegem, fortalecem e mobilizam seu capital social estão potencializando uma das alavancas decisivas de desenvolvimento. (UNESCO, 2003, p. 161). A participação da comunidade está sendo hoje revista como poderoso instrumento para o desenvolvimento. […] O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento destaca a participação como uma estratégia central de mudança nos seus Relatórios sobre o Desenvolvimento Humano Mundial. (UNESCO, 2003, p. 177). Logo que é criada, a Unesco demarca sua missão, que é impedir que a guerra nasça na mente dos homens, conforme consta na descrição que faz de si. Para os assessores desse organismo, atuar no âmbito dos valores, por intermédio da cultura, da ciência e da educação, é atuar política e economicamente. Essa visão é correlata ao recorte de que a difusão de uma cultura de paz e de promoção de direitos humanos irá impedir a violência e as guerras, a criminalidade e o terrorismo, com a educação e a ciência. Foucault (1999) já havia assinalado que a guerra é a política continuada por outros meios, e que, quando estamos supostamente em paz, não estamos de fato, porque há jogos de poder-saber e de governamentalidade permanentes, que não cessam nunca. É de louvar a idéia de ensinar a não violência na escola, mesmo que apenas constitua um instrumento, entre outros, para lutar contra os preconceitos geradores de conflitos. (UNESCO, 2006, p. 97). 72 Fundamentalmente, a UNESCO estará servindo à paz e à compreensão entre os homens, ao valorizar a educação como espírito de concórdia, de emergência de um querer viver juntos como militantes da nossa aldeia global que há que pensar e organizar, para bem das gerações futuras. Deste modo, estará contribuindo para uma cultura da paz. (UNESCO, 2006, p. 31). Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. (UNESCO, 2006, p. 102). A educação iria prevenir e, assim, seria uma política de segurança pública de formação do cidadão, que vive mediando conflitos pela palavra, pelas leis, pelo trabalho e pela disciplina constante. A cultura seria também difundida por uma educação para a paz, de acordo com a Unesco, que, ao enfatizar direitos humanos, possibilita a convivência entre os segmentos diversos da população e medeia a negociação de interesses em conflito. Ao tratar da governamentalidade, Foucault (1979) relata que a cultura é um dos modos de gerir e governar corpos populacionais, e a educação é uma ferramenta que permite tal prática política e econômica ao mesmo tempo. A identidade pressupõe o estabelecimento de limites – e limites sempre geram tensões. Mas é assim mesmo. Embora partilhemos da mesma natureza humana, nunca seremos membros de uma única tribo universal. É precisamente a esplêndida e às vezes estonteante diversidade da raça humana que está na raiz da humanidade que nos Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 une a todos. Hoje, com o fim dos regimes imperialistas e totalitários, podemos reconhecer nossa natureza comum e começar a difícil negociação que ela nos exige. (UNESCO, 1997, p. 95). A busca do desenvolvimento puramente econômico ignora o desenvolvimento da identidade pessoal, que se encontra no cerne de todo projeto educacional viável. (UNESCO, 1997, p. 216). A UNESCO pode contribuir muito, através da educação, para a abertura dos espíritos, aos deveres da solidariedade internacional. Agora que as organizações internacionais e as nações se preparam para os grandes desafios do século XXI a cidadania mundial continua a ser um conceito muito afastado das realidades e percepções concretas. A aldeia global é, contudo, o nosso horizonte à medida que as interdependências se multiplicam e que os problemas se mundializam. (UNESCO, 2006, p. 207). A Unesco vincula à redução da pobreza e ao aumento de escolaridade a prevenção da violência e das revoltas que poderiam desembocar em guerras civis e em atos terroristas, acreditando ainda que estas terão impacto econômico em termos de desenvolvimento de um país, que é um fator de diminuição das possibilidades de guerras mundiais para essa agência multilateral. A ONU e todos os seus órgãos e agências adotaram a política do desenvolvimento sustentável. No caso da Unesco, a biodiversidade também é um patrimônio a ser preservado, catalogado, guardado em museus, uma vez que pode ser fator gerador de guerras mundiais e civis por recursos minerais, pela terra, por recursos hídricos e pela fauna e flora, as quais estão igualmente ligadas a uma série de interesses econômicos e políticos. Registrar e anotar implica, não somente classificar, mas estabelecer um cálculo econômico e político detalhado e perpétuo que gera riquezas e pressupõe estratégias de governo das condutas, pois, ao medir as forças das nações e dos que governam, joga-se com a governamentalidade no campo das disputas diplomáticas e militares dos estados modernos e dos saberes e táticas de leis e normas que estes regulamentam e negociam com os segmentos das populações (FOUCAULT, 2008a). É imprescindível que uma América Latina atormentada por níveis elevados de pobreza e desigualdade (de cada dois latino-americanos um é pobre, e a pobreza cresceu em relação a 1980; a desigualdade social é a maior do planeta) recupere a relação íntima que deveria existir entre os valores éticos e os comportamentos econômicos. Isso significa colocar no centro da agenda pública temas como coerência das políticas econômicas com os valores éticos, responsabilidade social da empresa privada, ética na função pública, fortalecimento das organizações voluntárias e desenvolvimento da solidariedade de modo geral. (UNESCO, 2008, p. 32). Na América Latina tem acontecido algo parecido: os valores morais foram degradados, marginalizados, excluídos. Chegou o momento de recuperá-los para a tomada de decisões cotidianas, pois são os únicos valores que podem garantir a criação da América Latina com que sonhamos. O sistema educacional, de modo geral, e a universidade, em particular, podem desempenhar papel essencial neste processo, por meio de todos os seus integrantes. A urgência é a maior possível. Nesta região, e neste país, há excesso Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 73 de angústia e de exclusão, e a sede de ética aumenta diariamente. (UNESCO, 2008, p. 35). A segurança pública, para a Unesco, é vinculada ao controle da natalidade e à gestão de epidemias e endemias, ao acesso à saúde, à educação escolarizada, ao emprego, à manutenção dos laços familiares, à prevenção da gravidez chamada de precoce, à violação de direitos identitários, civis, políticos e sociais. Quando a Unesco visa controlar os corpos de mulheres, em termos de proposições e gestão de políticas específicas de taxas de reprodução e idade, nível de escolaridade das mulheres e se teriam filhos já adultas e no interior de um casamento, como fator de estabilidade de um país e de redução da pobreza e da violência, podemos verificar que a biopolítica é utilizada para governar os corpos das mulheres no campo de seus atos sexuais e de sua vida conjugal e familiar. As demandas por direitos são realizadas juntamente no plano da economia política e das racionalidades governamentais que essas práticas de gestão da conduta mobilizam, em termos de impacto econômico e político mundial, nos Estados governamentalizados e em contextos neoliberais, em que os direitos humanos figuram em um plano do Estado de Direito soberano, em arranjos sobrepostos e articulados com a economia política neoliberal (FOUCAULT, 2008b). Assim, os chamados indicadores de crime, de cultura, de saúde, de educação, de habitação, de emprego, de saneamento básico, de acesso à cidade e ao transporte, são maneiras de governar condutas em nome da baliza entre liberdade e segurança de uma sociedade neoliberal e democrática que operam por meio da governamentalidade. O crime, sobretudo de jovens, é associado causalmente pela Unesco à organização da família – uma família que não é marcada pela presença da mulher na casa, com a atuação de um casal que trabalha e tem um lastro econômico, que estudou e teve filhos planejados, em um contrato de estabilidade, com a aquisição de seguros diversos. A família que 74 fugir desse padrão e não conseguir financiar o cuidado, a alimentação, a oferta de saúde e moradia, estudos para seus filhos poderá ser geradora de situações de violência, de acordo com a Unesco. As múltiplas carências e dificuldades que a pobreza gera afetam excessivamente as possibilidades de sobrevivência e provocam a desarticulação de famílias inteiras. Existem muitas evidências dessa tendência. O número de lares onde o único chefe de família é a mãe tem crescido assustadoramente. O número de crianças que são levadas pelas suas famílias ao trabalho, ou que são realmente forçadas a tomar essa iniciativa para sua subsistência, tem aumentado. […] O número de filhos extraconjugais também tem crescido. Da mesma forma, segundo estudos recentes, a pobreza exerce influência significativa sobre o aumento do número de mães adolescentes. O estresse socioeconômico é um dos elementos que está tendo efeitos sobre um problema que só vem intensificando-se: o da violência doméstica. Ela causa sérios danos às crianças. […] Por sua vez, aqueles que sofrem violência doméstica nos seus lares tendem a repeti-las depois nas suas próprias famílias. Uma manifestação extrema do quadro de enfraquecimento, de erosão e de crise que caracteriza a situação de muitas famílias pobres é o aumento da população de crianças que moram nas ruas. Uma das principais causas desse problema reside na impossibilidade de a família prover um ambiente adequado mínimo aos seus filhos. (UNESCO, 2003, p. 38-39). A família transforma-se no espaço onde as crianças desenvolvem sua inteligência emocional e capacidade crítico-criativa, e forma hábitos de saúde preventiva. Da mesma forma, ela surge nitidamente como a principal estrutura de prevenção da delinqüência. O papel que ela pode desempenhar no campo moral é fundamental. Diversas pesquisas comparativas revelam as estreitas Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 relações existentes entre a delinqüência juvenil e famílias desarticuladas. […] Como romper com esse círculo e resgatar o imenso potencial da família? Diferentemente do que acontece na América Latina, em alguns países mais avançados do mundo existem, na atualidade, vigorosas políticas de proteção direta à família. Enxerga-se a família como um direito essencial, como um dos sustentáculos de um tecido social sadio, e uma base estratégica para o desenvolvimento econômico. (UNESCO, 2003, p. 40-41). À ação pública, mediante políticas agressivas em favor da infância desvalida, deve-se somar uma grande mobilização da sociedade civil, com a colaboração de empresas privadas socialmente responsáveis, de voluntários, de organizações de todo tipo, que podem contribuir para uma execução eficiente das políticas públicas e acrescentar recursos e iniciativas criativas. São notáveis os êxitos alcançados pelo UNICEF e por instituições como Caritas, Fé e Alegria, Casa Aliança entre outras. (UNESCO, 2008, p. 103). O fomento à solidariedade, à ética, à redução da corrupção, à descentralização das decisões, à resolução de conflitos pela própria comunidade também são prescrições da Unesco aos países, em especial aos que classifica como pobres e em desenvolvimento. Os integrantes das comunidades passam a ser designados como protagonistas e participantes das transformações ocorridas na gestão das tensões e na resolução das problemáticas sociais por meio da cultura e voltada para a segurança. A cultura e o desenvolvimento estão inter-relacionados de muitas formas e causa espanto a pouca atenção que se tem dado a essa associação, que parece potencializada quando se revalorizam todos esses elementos silenciosos e invisíveis, mas claramente funcionais, abrangidos pela noção de capital social. Entre outros aspectos, os valores de uma sociedade vão incidir fortemente sobre os esforços de desenvolvimento. (UNESCO, 2008, p. 50). Torna-se urgente superar os mitos, passar para a ação, unir esforços, e enfrentar a pobreza e a iniqüidade com um investimento social sustentado, administrado com critérios avançados de gerenciamento social, e projetado para potencializar as pessoas, o principal recurso e o fim último de toda sociedade democrática. (UNESCO, 2003, p. 152). Segundo análise do Banco Mundial, há quatro formas básicas de capital: o natural, formado pela dotação de recursos naturais com que conta o país; o construído, gerado pelos seres humanos, sob diversas formas: infra-estrutura, bens de capital, capital financeiro, comercial etc.; o capital humano, determinado pelo nível de alimentação, saúde e educação da população; e o capital social, descoberta recente das ciências do desenvolvimento. (UNESCO, 2008, p. 50-51). A população é solicitada pela Unesco a efetuar a mobilização social, chamada capital social por esse organismo, que deverá ser articulado ao capital humano e ao capital de recursos naturais, a fim de promover segurança por meio de políticas variadas, sempre em convênios entre Estado e o que denomina sociedade civil. Apropriar-se desses capitais e fazer deles forças docilizadas e instrumentalizadas para a lógica do mercado é um objetivo constante nos documentos da Unesco. O uti- Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 75 litarismo liberal materializa-se concretamente com estas práticas de governo das condutas por meio da capitalização das relações sociais, culturais e do meio ambiente. O capital social pode ajudar. Ele se manifesta de formas muito concretas, que é preciso fortalecer e que podem desempenhar papel muito importante. Uma delas é o serviço voluntário. Na Argentina, sem a ação de organizações exemplares, como Caritas, Amia, Rede Solidária e muitas outras, a pobreza seria ainda pior. […] Outra materialização do capital social é a responsabilidade social dos empresários. Nos Estados Unidos, cresce a pressão pública nesse sentido, e surgiu a tentativa de criar, junto aos habituais índices de qualidade, um indicador de qualidade social que permita aos investidores escolher empresas que o adotem. (UNESCO, 2008, p. 29). A combinação de políticas públicas transparentes, livres de toda corrupção, com gerenciamento da melhor qualidade, que garanta a toda a população seus direitos à alimentação, saúde, educação e trabalho, como é devido em uma sociedade democrática, e um capital social mobilizado plenamente, que as complemente, pode desencadear círculos virtuosos no país e na região. (UNESCO, 2008, p. 30). A influência positiva de um componente fundamental do capital social – a família −, em numerosos aspectos, tem sido verificada por várias pesquisas recentes. Quanto maior a solidez desse capital social básico, melhores os resultados e vice-versa. (UNESCO, 2008, p. 57). 76 Provavelmente o parâmetro mais importante para avaliar se uma economia é bem-sucedida não tem a ver com as medidas econômicas convencionais, mas é o que é feito pelas crianças – na medida em que a sociedade lhes garante os direitos indiscutíveis indicados pela ética mais fundamental e pelas constituições democráticas. Muitos países da América Latina estão longe de serem aprovados neste quesito. (UNESCO, 2008, p. 102). As crianças são alvo privilegiado da Unesco, já que, quanto mais cedo prevenirem-se com educação para os direitos humanos, paralelamente à difusão da cultura de paz pela escola, pela família, pela comunidade, por creches, pela igreja, pelos projetos sociais de ONGs, nos bairros empobrecidos, mais haverá impacto positivo no produto interno bruto (PIB) de um país, mais desenvolvimento e menos violência, com redução de indicadores de crime e prevenção de guerras diversas. Os valores de solidariedade, do trabalho, da cooperação, da redução de conflitos, de ética e de respeito à diferença e de apoio às famílias como base da sociedade devem ser difundidos cedo, na vida de crianças pequenas, com destaque para a faixa de 0 a 6 anos de idade, devendo ser sequenciada com intervenções progressivas e mais intensivas. De fato, o desenvolvimento social fortalece o capital humano, potencializa o capital social e gera estabilidade política – bases essenciais para um crescimento sadio e sustentado. […] O capital social e a cultura são componentes-chave dessas interações. As pessoas, as famílias, os grupos são essencialmente capital social e cultural: são portadores de atitudes de cooperação, valores, tradições, visões da realidade que constituem a sua própria identidade. Se isso for igno- Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 rado, afastado, deteriorado, capacidades importantes aplicáveis ao desenvolvimento serão inutilizadas, e surgirão resistências poderosas. Pelo contrário, se reconhecermos e explorarmos, valorizarmos e potencializarmos a sua contribuição, ela poderá ser muito relevante e propiciar círculos virtuosos com as outras dimensões do desenvolvimento. (UNESCO, 2008, p. 48-50). Quero, primeiramente, dizer que um evento científico internacional, organizado sobre um tema de grande atualidade como Esporte e Inclusão Social, situa-se entre as prioridades que a UNESCO elegeu como sendo indispensáveis a sua política mundial em prol do desenvolvimento humano sustentável, com qualidade. […] A UNESCO, em sua experiência mundial de lutas para o desenvolvimento de uma cultura de paz, sempre viu e percebeu a enorme potencialidade dos esportes como estratégia ímpar, não somente para a auto-realização das pessoas, como também para a aproximação das pessoas e das culturas, condição indispensável para o desenvolvimento e fortalecimento da compreensão internacional. […] Os princípios da cultura de paz, por intermédio do esporte, podem promover o diálogo comunitário e contribuir para a prevenção dos conflitos e da violência. (UNESCO, 2002, p. 33-35). Podemos observar, também, que o esporte é visto pela Unesco como fator de prevenção à violência e, dessa maneira, esse organismo propõe a utilização instrumental das práticas de exercícios esportivos como dispositivo de fomento à paz e, portanto, de segurança pública. Inúmeros projetos com adultos, com adolescentes e com jovens pobres que atuam por meio de esportes, sobre- tudo em bairros de populações desfavorecidas, são financiados pela Unesco e recebem sua assessoria. Essa agência ainda prescreve que o esporte seja articulado ao uso instrumental simultâneo dos laços comunitários para reduzir tensões e prevenir a violência. Se a biopolítica é a gestão da população como totalidade, dividida em segmentos e organizada em territórios e por indicadores estatísticos, podemos afirmar que a Unesco realiza esse cálculo político e econômico para atuar sobre a segurança pública com uma educação em direitos humanos e a difusão da cultura da paz. Os objetivos de gerência da vida, de fazer viver e deixar morrer se colocam para este organismo com ênfase na esfera da relação entre os sujeitos de direitos e os sujeitos econômicos interligados. Quando, em algum momento, a ONU e todos os seus organismos autorizam guerras e proclamam táticas neoliberais e capitalistas com a proposta de coesão social pelo dispositivo da educação e da cultura, em nenhum momento esta prática é pensada fora do quadro do liberalismo como maneira de viver e implementar uma política da vida. Ao mesmo tempo em que esse órgão questiona o racismo e defende a pluralidade cultural e identitária, opta por um sistema político e econômico que produz desigualdades acirradas, e explica-as em função do sucesso e do fracasso individual, quando se têm, supostamente, as mesmas oportunidades. Ora, parece-nos que as receitas da Unesco e os remédios que ela oferece são compensações que pouco modificam, de fato, a realidade perversa produzida por uma sociedade neoliberal em que o acúmulo de capital é cada vez maior e os indicadores de desigualdades só parecem crescer. Além do mais, as receitas desenvolvimentistas da Unesco enfatizam um viés etnocêntrico de práticas divisórias, que classificam performances variadas dos países, medidas em escalas de hierarquização dos modos de vida das populações dos países denominados pobres, não desenvolvidos ou em desenvolvimento, para essa agência multilateral. Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78 77 Concluindo, podemos asseverar que a Unesco atua por meio de uma governamentalidade e tem na racionalidade de uma economia política um dispositivo que articula sujeito de direitos e sujeito econômico, no quadro jurídico do direito público com o neoliberalismo, em contextos de mundialização da cultura, da economia e do direito, com vistas a fomentar a segurança e a paz. Referências BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988. FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999. FOUCAULT, M. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 2008a. FOUCAULT, M. O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008b. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Nossa diversidade criadora: relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Campinas/Brasília: Papirus/Unesco, 1997. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Construção e identidade: as idéias da Unesco no Brasil. Brasília: Jorge Werthein/Unesco, 2002. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Por uma economia com face mais humana. Brasília: Unesco, 2003. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Relatório Jacques Delors. Educação para o século XXI: um tesouro a descobrir. Brasília: Cortez/MEC/Unesco, 2006. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Mais ética, mais desenvolvimento. Brasília: Unesco, 2008. Dados dos Autores FLÁVIA CRISTINA SILVEIRA LEMOS Psicóloga, Mestre em Psicologia Social e Doutora em História (UNESP). Profa. Adjunta IV Psicologia Social (UFPA) FRANCO FARIAS DA CRUZ Psicólogo (UNAMA). Mestre em Psicologia (UFPA). ADRIANA ELISA DE ALENCAR MACEDO Psicóloga (UNAMA). Mestre em Psicologia (UFPA) GUSTAVO FERREIRA QUEIROZ Graduando de Direito (UFPA). 78 Impulso, Piracicaba • 24(61), 67-78, set.-dez. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n61p67-78