TRICOTILOMANIA, TRICOTILOFAGIA E CO-MORBIDADES Dr. Joel Priori Maia O hábito de puxar os próprios cabelos para a frente do rosto e manipular, bem como partir e ingerir os fios é muito arraigado entre crianças e é encontrado em muitos adultos. No primeiro caso, chamado de tricotilomania, parece que o paciente procura se esconder atrás de uma mascara de fios e no segundo, trictilofagia, a impressão que se tem é de que se trata de uma auto-agressão. E o seu tratamento depende de medidas psiquiátricas e psicológicas pois pode abranger uma série de co-morbidades. A hipnose pode ser usada com técnicas indiretas e diretas obtendo-se muitas vezes excelente aceitação. Esses hábitos tratam -se na verdade de rituais auto-agressivoa que através da hipnoterapia pode ser transformado em auto-cuidado. As técnicas diretas podem ser utilizadas para que o paciente pare de repetir a compulsão ou a impulsão associando, por exemplo, o ato de arrancar os cabelos à dor de uma queimadura de sol e a náuseas. Pode-se acentuar a atenção dele para o iminente comportamento de arrancar os cabelos que pode ser associado às sugestões para o fortalecimento do ego e de auto-controle. O arrancamento dos fios de cabelo é precedido de crescente tensão e seguido de uma sensação de alívio ou gratificação. Geralmente, fruto de um fator traumatizante ou estressante, há relatos de casos em que o puxar os cabelos e trazer para a frente do rosto corresponde a uma atitude de defesa que o paciente adota quando frente a fatores ou acontecimentos que os tragam à lembrança. Vários autores consideram a tricotilomania como uma variante do transtorno obsessivo-compulsivo. Pode ser conceituado como um transtorno caracterizado pela recorrente incapacidade de resistir ao impulso de arrancar os próprios cabelos do escalpo, cílios, axilas, sobrancelhas, tórax, pubianos ou dos membros. O diagnostico é excluído quando resulta de doença de pele ou psicose. Em relação à tricotilofagia, deve-se utilizar a hipnose diretiva de esclarecimentos, focando para o fato real de que o estomago não tem capacidade para digerir quitina nem queratina e os fios se acumularão, formando um “bolo” que precisará ser removido através de endoscopia ou cirurgia (e isso é dolorido). Além disso pode-se focalizar o fato de que a ausência dos fios deixará marcas indeléveis na cabeça, semelhantes à alopécia areata, que interfere na beleza do paciente e chama a atenção dos outros. Em se tratando de criança, deve-se orientar os pais para que permitam que ela tome decisões sobre o seu cabelo sem a sua interferência. Sugere-se a seguinte técnica ( Azrin e Nunn) para o tratamento de hábitos nervosos e tics: 1 – Desenvolver a consciência para o hábito, tanto para quem tem o impulso como quem o faz, durante alguma atividade; 2 – Ensinar o relaxamento progressivo para ajudar o paciente a reduzir a atenção para o hábito e desenvolver o auto-controle; 3 – Ensinar a respiração diafragmática que contribui para o relaxamento e auto-controle; 4 – Resposta competitiva: criar uma resposta que deixe o paciente impedido de arrancar os cabelos como fechar firmemente a mão e dobrá-la sobre o pulso, ou estender os dedos que se tornam rígidos, impedindo de fechar a mão toda vez que sentir vontade de arrancar os cabelos ou levar a mão à cabeça. Outra sugestão seria produzir a catalepsia das mãos. Estas sugestões impositivas funcionam especialmente na urgência e devem ser feitas por um tempo determinado, por exemplo, três a cinco minutos de duração. Outras sugestões de tratamento podem ser adicionadas às acima: 1 – O paciente ficar alerta na intenção de arrancar os cabelos (impedimento da ação por conscientização); 2 – Treinamento de uma resposta competitiva; 3 - Relaxamento para reduzir a tensão que precede o arrancamento dos cabelos. 4 - Tratar da ansiedade, tensão, estresse ou depressão que determina o hábito ou o mantém. Muitas vezes o paciente primeiro alisa os cabelos depois os torce e em seguida os arranca. Em casos de difícil solução, recomenda-se os seguintes estágios: Sugestões para fortalecimento do ego; Sugestões para aumentar o auto-controle; Sugestões para ficar alerta do ato ( prevenção); Sugestões para uma resposta competitiva; Sugestões para alivio da tensão e da ansiedade; Ressignificar uma atividade associada; Orientar os pais e familiares para não interferir. Quando a tricotilomania ocorre na criança, ela mesma deseja acabar com esse comportamento e não a família. O uso de técnicas de relaxamento e de imagens mentais associadas ao ensino da auto-hipnose podem produzir bons resultados, sendo necessário educar o paciente sobre o funcionamento de seu corpo e individualizar as sugestões. Na eventualidade da tricotilomania proporcionar ganhos secundários ao paciente, fatores psicológicos que desencadearam o comportamento podem ou não ainda estar presentes, mas a conduta de arrancar os cabelos pode produzir uma maneira do paciente controlar as situações externas. Neste caso, os ganhos secundários precisam ser equacionados. O uso de antidepressivos tricíclicos ou inibidores seletivos da recaptação da serotonina pode ser útil. Às vezes é necessário associar ansiolítico. ***FIM***