A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
ALGUMAS REFLEXÕES
Debora Luppi Souto1 - UEM
Gabriela Fiori Gil2 - UEM
Heloisa Toshie Irie Saito3 - UEM
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este trabalho é resultado de um projeto de iniciação científica que analisou a importância de
organizar o espaço físico da Educação Infantil e sua relação com a aprendizagem e o
desenvolvimento da criança. O estudo justificou-se porque observamos através de estágios
curriculares supervisionados realizados no curso de Pedagogia que no dia-a-dia dos Centros
Municipais de Educação Infantil a organização do espaço físico era inadequada para
possibilitar o desenvolvimento das crianças e discutir este tema é uma maneira de possibilitar
aos profissionais uma ressignificação da prática pedagógica. Desse modo, tendo como base a
perspectiva histórico-cultural, realizamos uma pesquisa bibliográfica objetivando esclarecer a
relação existente entre a organização do espaço físico na Educação Infantil e o processo de
aprendizagem e desenvolvimento, evidenciando como o espaço na educação infantil deve ser
planejado bem como o papel do docente nessa organização. Concluímos que a organização do
espaço na educação infantil deve ser parte integrante do planejamento e auxilia o professor no
desenvolvimento de sua prática desde que haja um planejamento coeso, reflexão da prática
pedagógica e mediação por parte do professor, de modo a construir ambientes que estimulem
diversas experiências de aprendizagem e de convívio social. Além disso, verificamos que o
espaço deve ser pensado para as crianças considerando suas necessidades e construído
juntamente com as mesmas, visando sempre o desenvolvimento delas. Defendemos também
que o trabalho pedagógico do professor poderá abranger os diferentes espaços da instituição
das mais variadas formas, explorando ações ricas em possibilidades, favorecendo assim o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores das crianças.
Palavras-chave: Organização do espaço. Educação Infantil. Aprendizagem e
desenvolvimento.
1
Graduanda em Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail:
[email protected]
2
Graduanda em Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail:
[email protected]
3
Doutora em Educação – USP. Docente da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail:
[email protected]
ISSN 2176-1396
25438
Introdução
Este trabalho é resultado de um projeto de iniciação científica que analisou a
importância da organização do espaço na Educação Infantil e sua relação com a aprendizagem
e o desenvolvimento da criança. O estudo justificou-se porque observamos através de estágios
curriculares supervisionados realizados no curso de Pedagogia que no dia-a-dia dos Centros
Municipais de Educação Infantil a organização do espaço físico era inadequada para
possibilitar o desenvolvimento das crianças e, portanto, discutir este tema era uma maneira de
possibilitar aos profissionais uma ressignificação da prática pedagógica, de forma a adequar o
espaço para intervir positivamente ao desenvolvimento da criança.
Respaldamo-nos na perspectiva histórico-cultural para compreender como ocorre a
aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e assim analisar a relação entre ambos e a
organização do espaço na Educação Infantil, uma vez que Vygotsky menciona “[...] a
aprendizagem escolar orienta e estimula os processos internos do desenvolvimento”
(VYGOTSKY, LURIA e LEONTIEV, 2010, p.116). Considerando esse pressuposto, foi
possível a análise de como o espaço na educação infantil deve ser organizado para possibilitar
a aprendizagem e o desenvolvimento infantil.
Para essa comunicação, optamos por trazer apenas uma parte dos resultados da
pesquisa realizada que se refere à discussão de como devemos organizar o espaço na
Educação Infantil para que ocorra aprendizagem e desenvolvimento na criança. Após isso,
para finalizar, apresentamos a necessidade de entender que a organização do espaço na
educação infantil deve ser parte integrante do planejamento e auxilia o professor no
desenvolvimento de sua prática desde que haja um planejamento coeso, reflexão da prática
pedagógica e mediação por parte do professor, de modo a construir ambientes que estimulem
diversas experiências de aprendizagem e de convívio social.
A organização do espaço na Educação Infantil
Segundo a teoria histórico-cultural a aprendizagem vem sempre à frente do
desenvolvimento e ambos mantêm uma relação dialética. Dessa forma para que os sujeitos se
desenvolvam é preciso que o aprender venha em primeiro lugar, e assim sucessivamente em
uma relação de comunicação. Dessa maneira compreendemos que a aprendizagem impulsiona
o desenvolvimento e por esse motivo, o ensino é de fundamental relevância para o
desenvolvimento dos sujeitos.
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Nessa perspectiva, a educação deve ser pensada considerando todo o seu contexto para
promover tal desenvolvimento, isto é, para alcançar esse objetivo devemos pensar em um
ambiente educacional para a Educação Infantil considerando as ações pedagógicas, a rotina e
o espaço educativo. As ações pedagógicas necessitam de uma sistematização intencional e
planejada, mas para que esse ensino seja efetivado é necessário que haja uma rotina
organizada de maneira a emancipar os indivíduos, rotina essa que precisa estar em constante
reflexão e acessível a novas experiências, englobando o tempo e o espaço. Cabe aqui ressaltar
que o espaço educativo precisa considerar as crianças como sujeitos capazes de produzirem
novos conhecimentos e ser propício a explorações. Em outras palavras, tanto o espaço quanto
a rotina são instrumentos importantíssimos para as ações pedagógicas as quais devem ser
refletidas pelo professor durante o processo de planejamento, já que o planejar é o aspecto
principal do ensino; ao considerá-lo como ato educativo o mesmo deve ter intencionalidade
que dará sentido à organização da rotina e do espaço. Nesse planejar o professor precisa
considerar também o grupo ao qual será direcionado o seu trabalho, analisando as
características de cada sujeito. Como salientam Barbosa e Horn:
Organizar o cotidiano das crianças na Escola Infantil pressupõe pensar que o
estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é, antes de mais nada,
o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir,
principalmente de suas necessidades (BARBOSA & HORN, 2001, p. 67).
Desse modo, vale aqui ressaltar a importância de conhecer e compreender o grupo de
crianças com o qual estamos trabalhando, para que possamos organizar o espaço educativo
considerando a subjetividade de cada sujeito e suas limitações, pois se não houver o
conhecimento do grupo não há como pensar em atividades que estimulem o desenvolvimento.
Isso significa que não devemos pensar em atividades que extrapolem o estágio de
desenvolvimento das crianças e também não devemos pensar em atividades que já foram
realizadas pelas mesmas não favorecendo na aquisição de novos conhecimentos. Como
menciona Pasqualini:
Um conceito fundamental para o estudo do desenvolvimento infantil na perspectiva
vigotskiana é a noção de estrutura da idade: em cada idade, a multiplicidade dos
processos parciais que integram o processo de desenvolvimento constitui um todo
único e possui uma determinada estrutura. A estrutura de cada idade é específica,
única e irrepetível, e determina o papel e o peso específico de cada linha parcial do
desenvolvimento (PASQUALINI, 2009, p. 34, grifo da autora).
Defendemos que na educação infantil é fundamental a construção de ambientes que
impulsionam as experiências de aprendizagens e o convívio social, por meio de uma ação
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pedagógica reflexiva na qual o espaço também é pensado, fazendo com que as crianças
estabeleçam vínculos com o mundo e com os outros sujeitos. Para esse trabalho o professor
possui como parâmetro que a organização do espaço com os pequenos precisa ter a
consciência de que o espaço é constituído historicamente por meio de relações sociais e
também que precisa pensar no espaço considerando o desenvolvimento e a faixa etária de
cada grupo.
Para que haja aprendizagem e desenvolvimento é importante que o professor, no
processo de elaboração do planejamento e no decorrer das diferentes ações educativas
considere a importância de organizar espaços educativos e explore-o adequadamente. No
entanto, para promover a aquisição de novos conhecimentos o espaço deve considerar o
cuidar e o educar, pois na educação infantil ambos estão intrinsecamente relacionados. Não há
como trabalhar nesse nível de ensino sem pensar na intrínseca relação entre o cuidar e o
educar. Assim Barbosa e Horn salientam:
Tudo dependerá da forma como se pensam e se procedem as ações. Ao promovê-las
proporcionamos cuidados básicos, ao mesmo tempo em que atentamos para
construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento físico e
social (BARBOSA & HORN, 2001, p. 70).
Com isso compreendemos a importância de promover atividades que envolvam além
do cuidar o educar, como, por exemplo, no momento da alimentação o professor poderá
permitir as crianças se alimentarem de forma autônoma, aprenderem a usar utensílios
elaborados historicamente pela humanidade, pensarem acerca da organização espacial,
refletirem acerca do modo de se portar em momentos de alimentações e aprenderem a se
servir mantendo limpo o ambiente.
Assim o espaço da educação infantil deve considerar o cuidar e o educar, pensado de
forma a garantir primeiramente a integridade física das crianças, “ele deve ser acolhedor,
desafiador, criativo, instigante e, ao mesmo tempo, seguro” (LIRA E SAITO, 2012, p. 110),
ou seja, um espaço de interação que além garantir estabilidade permitirá aos indivíduos a
obtenção de experiência social e cultural por meio do convívio com os outros sujeitos, pois de
acordo com Vieira (2009):
O espaço tem que possibilitar emergir todas as dimensões humanas (a lúdica, a
fantasia, a artística, a imaginação, etc.), ou seja, propiciar à criança ampliar suas
experiências e o mundo de referências afetivas, contribuir para a construção de sua
identidade e compreensão do mundo, além de reforçar as habilidades de
aprendizagem e comunicação e seu envolvimento em atividades e relações
significativas (VIEIRA, 2009, p. 27).
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Desse modo o espaço tem em sua amplitude a reflexão da cultura daqueles que o
habitam. É por meio do mesmo que as crianças constituem o conhecimento do mundo ao qual
estão inseridas, isso ocorre devido as atividades realizadas em grupo, pois assim as crianças
aprendem a conviver em sociedade compartilhando suas aprendizagens e cooperando com o
próximo, mantendo relações significativas por meio do espaço.
Assim é por meio da organização do espaço que as instituições de educação infantil
favorecerão as crianças a estabelecerem relações sociais e culturais, fazendo com que
conquistem a autonomia e construam o conhecimento, lembrando a necessidade de se criar
“um espaço físico adequado, instalações, ventilações e mobília adequada às crianças”
(MELO, 2007, p. 4). Com isso será possível a humanização dos sujeitos, tendo como base o
contexto histórico no qual as crianças estão inseridas, considerando sua cultura, costumes e
hábitos.
Devemos pensar no espaço como algo feito para e pelas crianças e não feito para os
adultos como ocorre na maioria dos ambientes de educação infantil, pois muito se vê na
prática objetos em lugares mais altos longe do alcance das crianças não permitindo assim a
exploração plena do espaço pelos pequenos. Como salientam Lira e Saito “o mobiliário deve
ser adequado ao tamanho das crianças, com estantes acessíveis, mesas e cadeiras leves, assim
como quadros, painéis, vasos sanitários e pias na altura das crianças” (LIRA e SAITO, 2012,
p. 109). Isso significa que é fundamental os educadores pensarem o ambiente se colocando no
lugar das crianças com base em suas dimensões, incluindo-as a nesse ambiente cultural,
porém não se limitando a ele; é necessário que seja explorado suas capacidades motoras e
sensitivas fazendo com que as crianças se apropriem do conhecimento.
Será difícil as crianças se desenvolverem apenas olhando para os objetos, sem tocá-los
ou compreendê-los. Acerca disso Gesell salienta que “é óbvio que será difícil ao bebê ou a
criança olhar para coisas, se poucas coisas tiver para ver, agarrar, se não houver nada que
agarrar, ou reagir socialmente, se não lhe derem oportunidades sociais (GESELL, 1985, p.
12).
Nesse sentido o espaço, quando planejado, desempenha na educação infantil papel de
educador, ou seja, sua importância é tamanha que é visto como um componente fundamental
para o desenvolvimento pleno das crianças, já que o mesmo exerce função dialética entre
aluno e professor. Cabe ao professor organizar de forma pensada o espaço propiciando a
autonomia nas crianças e sobre isso Barbosa destaca que “quanto mais o espaço estiver
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organizado, estruturado em arranjos, mais ele será desafiador e auxiliará na autonomia das
crianças” (BARBOSA, 2006, p. 124).
Porém não basta apenas esse espaço estar organizado de maneira a desafiar as
crianças, se as mesmas não vivenciá-lo intensamente. Por isso, cabe ao professor pensar em
atividades que permitam às crianças uma experiência significativa e reflexões! O ambiente
deve ser repleto de objetos que representam a cultura e o meio ao qual estão inseridos fazendo
com que as crianças consigam compreender o mundo de formas diferentes. Como salientam
as autoras:
Para que os pequenos e os pequenininhos participem desse espaço social, é
necessário que se criem novos sentidos nas relações adulto-criança, famíliaseducadores, pais-filhos e também que haja, por parte dos adultos, uma vontade de
experimentar, criar uma outra forma de ver, entender, conviver com as crianças
(BARBOSA e HORN, 2001, p.78).
Com base no excerto acima compreendemos que a relação entre professor e aluno é
importantíssima para que o espaço seja pensado de forma a emancipar os sujeitos envolvidos,
mas para que isso seja possível é necessário que os educadores tenham intencionalidade em
suas ações pedagógicas, dando sentido à rotina e ao espaço.
Segundo Barbosa (2006) é por meio do espaço que podemos contribuir ou não para a
formação dos aspectos subjetivos e cognitivos dos pequenos, além disso, o espaço também é
um incentivo para a criação de ambientes que sejam desafiadores e repleto de estímulos.
Como já dito anteriormente, esse ambiente deve ser construído com a ajuda das crianças e
modificado durante o ano, de forma a permitir que as crianças vivenciem e experimentem
inúmeras possibilidades. Com isso os pequenos poderão aprimorar sua forma de demonstrar o
que pensam e sentem, visto que, o ambiente deve ser diversificado, apresentando dentro de si
grande variação, expandindo o mundo de conceitos e culturas no qual as crianças vivem.
Assim, em um espaço estimulador, as rotinas se modificam.
Dessa forma, em cada ambiente transformado torna possível o conhecimento de um
novo contexto, por meio de novas ações, visto que, uma determinada atividade realizada em
um ambiente interno muda totalmente seu aspecto ao ser transferido para um ambiente
externo. Por exemplo, uma atividade com bolas realizada na sala de aula ocorre de uma
maneira, já em uma quadra de esportes seu desenvolvimento é outro, isto é, altera os espaços
sem alterar a essência da atividade, como acrescenta Barbosa “os espaços criam novas formas
de ação, de movimento, de experiência” (BARBOSA, 2006, p. 135).
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Para propiciar às crianças o desenvolvimento da autonomia, necessitamos de
ambientes que favoreçam diversas possibilidades. As autoras Barbosa e Horn (2001) trazem
em um de seus trabalhos como organizar os espaços e as atividades, mostrando que essa
organização de atividades deve ser pensada considerando os seguintes aspectos: odor, ritmo,
mobília e suas cores, sons e palavras, gosto, toque e regras.
Na organização do espaço devemos considerar a área interna e externa da instituição,
pois são espaços educativos e ambas as áreas devem ser consideradas e usadas nas diferentes
ações propostas que possuem como foco o conteúdo a ser desenvolvido. Lira e Saito
mencionam que “nos ambientes internos, a iluminação deve ser natural sempre que possível e
a ventilação adequada, com janelas grandes e na altura das crianças de maneira a possibilitar a
visualização dos espaços externos” (LIRA & SAITO, 2012, p. 109). Assim será possível que
as crianças tenham contato com os dois ambientes, tanto interno quanto externo, mesmo
estando no interior das salas.
Segundo Barbosa e Horn (2001) no espaço externo existem uma infinidade de ações
que podem ser realizadas, porém cada uma delas precisa de um local específico, como os
espaços para a realização de jogos mais tranquilos, os espaços para brinquedos de
manipulação e construção, espaço estruturado para jogos de movimento, espaço para jogos
imitativos, espaço não estruturado para jogos de aventura e imaginação. Dessa forma
explicaremos, de acordo com as autoras, quais as atividades podem ser desenvolvidas em
cada espaço externo.
Nos espaços para a realização de jogos ou brincadeiras mais tranquilas, podemos
explorar o ambiente externo, de maneira que seja uma ferramenta enriquecedora para o
trabalho do professor. Nesse ambiente encontramos gramados, mesas, bancos, árvores, terra,
areia, o chão, enfim uma infinidade de aspectos que favorecem a ação pedagógica. Nos
gramados podem ser realizadas atividades com bolas, piqueniques e tomar banho de sol, nas
mesas podem ser trabalhados desenhos, pinturas, recortes, jogos lógicos entre outros, nos
bancos conseguimos realizar atividades que envolvam o em cima e o embaixo e escondeesconde, nas árvores pode-se trabalhar com redes de descanso e aproveitar sua sombra para
atividades realizadas no gramado, na terra e na areia podem ser feitas atividades de cavar
buracos, fazer estradinhas para brincar com carrinhos, plantar flores e plantas fazendo um
jardim e no chão do pátio conseguimos trabalhar com atividades de corda, de músicas, de
desenhos com giz, brincar de lenço atrás, passa anel, ciranda, amarelinha, entre outras
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atividades folclóricas. Desse modo, estaremos propondo atividades que normalmente são
realizadas apenas dentro de sala de aula num ambiente externo.
Nos espaços para trabalhar com brinquedos de manipulação e construção podem ser
criados ambientes afastados, em cada um deles conter tipo de atividade utilizando os materiais
existentes na instituição, ou seja, um local onde pode ser trabalhado com bacias de água para
que brinquem com objetos flutuantes, como coadores, funis e medidores. Um local para
brincar com marcenaria, isto é, brincadeiras com madeiras de encaixar e até um ambiente para
brincar de cozinha, utilizando pedras, terras, água e areia.
Os espaços estruturados para jogos e brincadeiras que envolvem o movimento são
caracterizados geralmente por ambientes externos repletos de brinquedos, lugares esses que
são denominados de parquinhos, onde as crianças escorregam, balançam, passam entre os
túneis, passam pela ponte pênsil e brincam no gira-gira. Também podemos levar para esse
ambiente os carrinhos de empurrar e andar.
Nos pátios podem ser realizados jogos imitativos, sendo desenvolvidas atividades
como teatros de fantoches utilizando uma estrutura móvel, cesto contendo roupas e objetos
para dramatização, casinhas de bonecas com utensílios fictícios e reais, salão de beleza
contendo brinquedos como secador, maquiagens, espelhos, pentes, esmaltes e etc., nesses
espaços também podem ser realizados brincadeiras de banco, escritório, consultório médico e
construção de cabanas.
E, por fim, nos espaços não estruturados para jogos de aventura e imaginação podem
ser desenvolvidas atividades envolvendo bosques de árvores, contendo túneis, morros, pedras,
animais e plantas.
Para Barbosa e Horn (2001) na organização dos espaços internos devemos promover a
identidade pessoal das crianças, o desenvolvimento da competência, a construção de
diferentes aprendizagens, oportunidades para o contato pessoal e a privacidade. Para que isso
ocorra podemos organizar os espaços, por meio de cantos temáticos que podem ser fixos e/ou
alternativos.
Os cantos fixos podem conter cantos de casas de boneca, com utensílios de brinquedo,
de cozinha, sala, banheiro e quarto; canto da fantasia com retalhos, sapatos, chapéus, roupas,
maquiagens e espelhos; canto da garagem contendo carros, sinalizações de trânsito e trilhas;
canto da biblioteca com estante de livros, jornais e revistas organizado de forma que as
crianças possam ter autonomia para manusear. Nesse canto também pode ser realizado
narração de história por meio de fantoches, dedoches e marionetes, propiciando um ambiente
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aconchegante contendo almofadas, colchas e tatames; canto dos jogos e brinquedos contendo
jogos de lego, quebra-cabeça, sucatas e blocos lógicos.
Os cantos alternativos podem ser elaborados conforme o conteúdo que está sendo
trabalhado e o espaço disponível, a partir daquilo que as crianças se interessam. Nesses cantos
podem realizadas diversas atividades como canto da música, do supermercado, contendo
várias embalagens de diferentes produtos com dinheiro de brinquedo e prateleiras; do
cabeleireiro com grampos, bacias, cadeiras, shampoos e cremes; canto do museu contendo
objetos trazidos pelas crianças de passeios ou viagens; canto da luz e da sombra contendo
lanternas, lençóis, retroprojetor e filmes.
Cabe salientar também que existem os espaços intermediários que são locais cobertos
que podem ser utilizados para crianças com diferentes idades ao mesmo tempo, isto é, são
espaços muito utilizados em dias de chuva, frio ou sol intenso.
Portanto concluímos que os espaços na educação infantil são importantíssimos, porém
cabe ao professor pensar em como utilizá-los, compreendendo-os como aliados ao trabalho
pedagógico e como uma maneira de melhor trabalhar os conteúdos que devem ser refletidos e
compreendidos pelas crianças, promovendo assim o desenvolvimento integral dos pequenos.
Considerações Finais
Nessa pesquisa de iniciação científica refletimos acerca da organização do espaço na
educação infantil e consideramos que é de extrema importância para desenvolvimento das
crianças, visto que por meio dessa organização o professor desenvolverá suas ações
pedagógicas. Esse trabalho foi de extrema importância para a nossa compreensão do tema,
pois nos permitiu entender a relevância do espaço para os pequenos e como o mesmo pode
oportunizar o desenvolvimento desde que haja a reflexão e a mediação por parte do professor.
Por meio dessa pesquisa conseguimos compreender, de um modo mais claro, a
relevância desse tema ser estudado pelos professores atuantes nos Centros de Educação
Infantil para que possam planejar e efetivar uma prática pedagógica que emancipe as crianças,
assim como entender que devem analisar e modificar esse espaço para que ele seja propício
para a aprendizagem.
É preciso fazer do espaço um parceiro na construção das relações humanas, e na
mediação entre as crianças e o conhecimento. Para isso as creches e pré-escolas
devem ter um olhar especialmente voltado à concepção e ao planejamento dos
espaços, buscando e recriando a sintonia com as diretrizes do projeto educacional
(SEKKEL; GOZZI, 2003, p. 14).
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Defendemos que o ambiente escolar precisa de mudanças, pois é por meio das
mudanças que as crianças aprendem e não com monotonia. Sobre isso salientam Cedro e
Moura “A partir dos princípios teóricos da abordagem histórico-cultural e da teoria da
atividade redefinimos o espaço de aprendizagem, como sendo o lugar da realização da
aprendizagem dos sujeitos orientado pela ação intencional do outro” (CEDRO; MOURA,
2004, p. 1).
Acreditamos que os ambientes devem ser modificados pedagogicamente para que os
alunos desenvolvam sua autonomia, pois com um ambiente democrático, inovador e ao
alcance das crianças elas podem pensar nas possibilidades, explorando o mundo ao seu redor,
ou seja, para que a autonomia se construa é necessário que ela seja possibilitada por meio da
proposição de atividades que para serem realizadas necessitam da percepção do ambiente por
parte dos alunos. Isso significa que o espaço precisa ser pensado como um elemento
fundamental para o desenvolvimento da prática pedagógica, considerando sempre a segurança
da criança, pois cabe também ao professor garantir a integridade física do aluno, já que aquilo
que é disposto deve ser seguro.
Por fim, defendemos que cabe ao professor planejar como será organizado o espaço
físico, pensando tanto nos espaços internos como nos externos, contemplando-os em suas
ações pedagógicas para alcançar seus objetivos, já que muitas vezes algumas atividades
realizadas na sala de aula podem se tornar mais interessantes em ambientes externos, mas sem
perder de vista sua essência. Compreendemos que a organização reflexiva do espaço faz com
que se desenvolvam nas crianças diferentes capacidades potencializando as mesmas tanto em
seus aspectos sociais, culturais e políticos. Portanto, cabe ao professor, por meio da mediação,
proporcionar um ambiente diversificado que oportunize nas crianças o desenvolvimento de
suas potencialidades, levando em conta todo um contexto ao qual ela pertence.
REFERÊNCIAS
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Porto Alegre: Artmed, 2006.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira & HORN, Maria da Graça Souza. Organização do
Espaço e do Tempo na Escola Infantil. In: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E.
(Orgs.). Educação Infantil: Pra que te quero?. Porto Alegre: Artmed, 2001. P. 67-79.
CEDRO, Wellington Lima e MOURA, Manoel Oriosvaldo. O Espaço de Aprendizagem a
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25447
GESELL, Arnold. A criança dos 0 aos 5 anos. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
LIRA, Aliandra Mesomo e SAITO, Heloisa Toshie Irie. Elementos norteadores da prática
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CHAVES, Marta (Org.). Intervenções pedagógicas e educação infantil. Maringá: Eduem,
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MELO, Rodrigo Macedo de. A rotina e a organização espacial na instituição de educação
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científica eletrônica de pedagogia. São Paulo, ano v, n.10, julho de 2007.
PASQUALINI, Juliana Campregher. A perspectiva histórico-dialética da periodização do
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Programa de Pós-graduação em Educação Escolar, Universidade Estadual Paulista –UNESP,
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SEKKEL, Marie Clarie e GOZZI, Rose Mara. O espaço: um parceiro na construção das
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VIEIRA, Eliza Revesso. A reorganização do espaço da sala de educação infantil: uma
experiência concreta à luz da Teoria Histórico-Cultural. 2009. 123 f. Tese (Mestrado em
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VYGOTSKY, Lev Semenovich; LURIA, Alexander Romanovich e LEONTIEV, Alex N.
Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. Tradução de: Maria da Penha Villalobos.
11ª edição. São Paulo: Ícone, 2010.
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