A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ALGUMAS REFLEXÕES Debora Luppi Souto1 - UEM Gabriela Fiori Gil2 - UEM Heloisa Toshie Irie Saito3 - UEM Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho é resultado de um projeto de iniciação científica que analisou a importância de organizar o espaço físico da Educação Infantil e sua relação com a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. O estudo justificou-se porque observamos através de estágios curriculares supervisionados realizados no curso de Pedagogia que no dia-a-dia dos Centros Municipais de Educação Infantil a organização do espaço físico era inadequada para possibilitar o desenvolvimento das crianças e discutir este tema é uma maneira de possibilitar aos profissionais uma ressignificação da prática pedagógica. Desse modo, tendo como base a perspectiva histórico-cultural, realizamos uma pesquisa bibliográfica objetivando esclarecer a relação existente entre a organização do espaço físico na Educação Infantil e o processo de aprendizagem e desenvolvimento, evidenciando como o espaço na educação infantil deve ser planejado bem como o papel do docente nessa organização. Concluímos que a organização do espaço na educação infantil deve ser parte integrante do planejamento e auxilia o professor no desenvolvimento de sua prática desde que haja um planejamento coeso, reflexão da prática pedagógica e mediação por parte do professor, de modo a construir ambientes que estimulem diversas experiências de aprendizagem e de convívio social. Além disso, verificamos que o espaço deve ser pensado para as crianças considerando suas necessidades e construído juntamente com as mesmas, visando sempre o desenvolvimento delas. Defendemos também que o trabalho pedagógico do professor poderá abranger os diferentes espaços da instituição das mais variadas formas, explorando ações ricas em possibilidades, favorecendo assim o desenvolvimento das funções psicológicas superiores das crianças. Palavras-chave: Organização do espaço. Educação Infantil. Aprendizagem e desenvolvimento. 1 Graduanda em Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Educação – USP. Docente da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 25438 Introdução Este trabalho é resultado de um projeto de iniciação científica que analisou a importância da organização do espaço na Educação Infantil e sua relação com a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. O estudo justificou-se porque observamos através de estágios curriculares supervisionados realizados no curso de Pedagogia que no dia-a-dia dos Centros Municipais de Educação Infantil a organização do espaço físico era inadequada para possibilitar o desenvolvimento das crianças e, portanto, discutir este tema era uma maneira de possibilitar aos profissionais uma ressignificação da prática pedagógica, de forma a adequar o espaço para intervir positivamente ao desenvolvimento da criança. Respaldamo-nos na perspectiva histórico-cultural para compreender como ocorre a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e assim analisar a relação entre ambos e a organização do espaço na Educação Infantil, uma vez que Vygotsky menciona “[...] a aprendizagem escolar orienta e estimula os processos internos do desenvolvimento” (VYGOTSKY, LURIA e LEONTIEV, 2010, p.116). Considerando esse pressuposto, foi possível a análise de como o espaço na educação infantil deve ser organizado para possibilitar a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Para essa comunicação, optamos por trazer apenas uma parte dos resultados da pesquisa realizada que se refere à discussão de como devemos organizar o espaço na Educação Infantil para que ocorra aprendizagem e desenvolvimento na criança. Após isso, para finalizar, apresentamos a necessidade de entender que a organização do espaço na educação infantil deve ser parte integrante do planejamento e auxilia o professor no desenvolvimento de sua prática desde que haja um planejamento coeso, reflexão da prática pedagógica e mediação por parte do professor, de modo a construir ambientes que estimulem diversas experiências de aprendizagem e de convívio social. A organização do espaço na Educação Infantil Segundo a teoria histórico-cultural a aprendizagem vem sempre à frente do desenvolvimento e ambos mantêm uma relação dialética. Dessa forma para que os sujeitos se desenvolvam é preciso que o aprender venha em primeiro lugar, e assim sucessivamente em uma relação de comunicação. Dessa maneira compreendemos que a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento e por esse motivo, o ensino é de fundamental relevância para o desenvolvimento dos sujeitos. 25439 Nessa perspectiva, a educação deve ser pensada considerando todo o seu contexto para promover tal desenvolvimento, isto é, para alcançar esse objetivo devemos pensar em um ambiente educacional para a Educação Infantil considerando as ações pedagógicas, a rotina e o espaço educativo. As ações pedagógicas necessitam de uma sistematização intencional e planejada, mas para que esse ensino seja efetivado é necessário que haja uma rotina organizada de maneira a emancipar os indivíduos, rotina essa que precisa estar em constante reflexão e acessível a novas experiências, englobando o tempo e o espaço. Cabe aqui ressaltar que o espaço educativo precisa considerar as crianças como sujeitos capazes de produzirem novos conhecimentos e ser propício a explorações. Em outras palavras, tanto o espaço quanto a rotina são instrumentos importantíssimos para as ações pedagógicas as quais devem ser refletidas pelo professor durante o processo de planejamento, já que o planejar é o aspecto principal do ensino; ao considerá-lo como ato educativo o mesmo deve ter intencionalidade que dará sentido à organização da rotina e do espaço. Nesse planejar o professor precisa considerar também o grupo ao qual será direcionado o seu trabalho, analisando as características de cada sujeito. Como salientam Barbosa e Horn: Organizar o cotidiano das crianças na Escola Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente de suas necessidades (BARBOSA & HORN, 2001, p. 67). Desse modo, vale aqui ressaltar a importância de conhecer e compreender o grupo de crianças com o qual estamos trabalhando, para que possamos organizar o espaço educativo considerando a subjetividade de cada sujeito e suas limitações, pois se não houver o conhecimento do grupo não há como pensar em atividades que estimulem o desenvolvimento. Isso significa que não devemos pensar em atividades que extrapolem o estágio de desenvolvimento das crianças e também não devemos pensar em atividades que já foram realizadas pelas mesmas não favorecendo na aquisição de novos conhecimentos. Como menciona Pasqualini: Um conceito fundamental para o estudo do desenvolvimento infantil na perspectiva vigotskiana é a noção de estrutura da idade: em cada idade, a multiplicidade dos processos parciais que integram o processo de desenvolvimento constitui um todo único e possui uma determinada estrutura. A estrutura de cada idade é específica, única e irrepetível, e determina o papel e o peso específico de cada linha parcial do desenvolvimento (PASQUALINI, 2009, p. 34, grifo da autora). Defendemos que na educação infantil é fundamental a construção de ambientes que impulsionam as experiências de aprendizagens e o convívio social, por meio de uma ação 25440 pedagógica reflexiva na qual o espaço também é pensado, fazendo com que as crianças estabeleçam vínculos com o mundo e com os outros sujeitos. Para esse trabalho o professor possui como parâmetro que a organização do espaço com os pequenos precisa ter a consciência de que o espaço é constituído historicamente por meio de relações sociais e também que precisa pensar no espaço considerando o desenvolvimento e a faixa etária de cada grupo. Para que haja aprendizagem e desenvolvimento é importante que o professor, no processo de elaboração do planejamento e no decorrer das diferentes ações educativas considere a importância de organizar espaços educativos e explore-o adequadamente. No entanto, para promover a aquisição de novos conhecimentos o espaço deve considerar o cuidar e o educar, pois na educação infantil ambos estão intrinsecamente relacionados. Não há como trabalhar nesse nível de ensino sem pensar na intrínseca relação entre o cuidar e o educar. Assim Barbosa e Horn salientam: Tudo dependerá da forma como se pensam e se procedem as ações. Ao promovê-las proporcionamos cuidados básicos, ao mesmo tempo em que atentamos para construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento físico e social (BARBOSA & HORN, 2001, p. 70). Com isso compreendemos a importância de promover atividades que envolvam além do cuidar o educar, como, por exemplo, no momento da alimentação o professor poderá permitir as crianças se alimentarem de forma autônoma, aprenderem a usar utensílios elaborados historicamente pela humanidade, pensarem acerca da organização espacial, refletirem acerca do modo de se portar em momentos de alimentações e aprenderem a se servir mantendo limpo o ambiente. Assim o espaço da educação infantil deve considerar o cuidar e o educar, pensado de forma a garantir primeiramente a integridade física das crianças, “ele deve ser acolhedor, desafiador, criativo, instigante e, ao mesmo tempo, seguro” (LIRA E SAITO, 2012, p. 110), ou seja, um espaço de interação que além garantir estabilidade permitirá aos indivíduos a obtenção de experiência social e cultural por meio do convívio com os outros sujeitos, pois de acordo com Vieira (2009): O espaço tem que possibilitar emergir todas as dimensões humanas (a lúdica, a fantasia, a artística, a imaginação, etc.), ou seja, propiciar à criança ampliar suas experiências e o mundo de referências afetivas, contribuir para a construção de sua identidade e compreensão do mundo, além de reforçar as habilidades de aprendizagem e comunicação e seu envolvimento em atividades e relações significativas (VIEIRA, 2009, p. 27). 25441 Desse modo o espaço tem em sua amplitude a reflexão da cultura daqueles que o habitam. É por meio do mesmo que as crianças constituem o conhecimento do mundo ao qual estão inseridas, isso ocorre devido as atividades realizadas em grupo, pois assim as crianças aprendem a conviver em sociedade compartilhando suas aprendizagens e cooperando com o próximo, mantendo relações significativas por meio do espaço. Assim é por meio da organização do espaço que as instituições de educação infantil favorecerão as crianças a estabelecerem relações sociais e culturais, fazendo com que conquistem a autonomia e construam o conhecimento, lembrando a necessidade de se criar “um espaço físico adequado, instalações, ventilações e mobília adequada às crianças” (MELO, 2007, p. 4). Com isso será possível a humanização dos sujeitos, tendo como base o contexto histórico no qual as crianças estão inseridas, considerando sua cultura, costumes e hábitos. Devemos pensar no espaço como algo feito para e pelas crianças e não feito para os adultos como ocorre na maioria dos ambientes de educação infantil, pois muito se vê na prática objetos em lugares mais altos longe do alcance das crianças não permitindo assim a exploração plena do espaço pelos pequenos. Como salientam Lira e Saito “o mobiliário deve ser adequado ao tamanho das crianças, com estantes acessíveis, mesas e cadeiras leves, assim como quadros, painéis, vasos sanitários e pias na altura das crianças” (LIRA e SAITO, 2012, p. 109). Isso significa que é fundamental os educadores pensarem o ambiente se colocando no lugar das crianças com base em suas dimensões, incluindo-as a nesse ambiente cultural, porém não se limitando a ele; é necessário que seja explorado suas capacidades motoras e sensitivas fazendo com que as crianças se apropriem do conhecimento. Será difícil as crianças se desenvolverem apenas olhando para os objetos, sem tocá-los ou compreendê-los. Acerca disso Gesell salienta que “é óbvio que será difícil ao bebê ou a criança olhar para coisas, se poucas coisas tiver para ver, agarrar, se não houver nada que agarrar, ou reagir socialmente, se não lhe derem oportunidades sociais (GESELL, 1985, p. 12). Nesse sentido o espaço, quando planejado, desempenha na educação infantil papel de educador, ou seja, sua importância é tamanha que é visto como um componente fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças, já que o mesmo exerce função dialética entre aluno e professor. Cabe ao professor organizar de forma pensada o espaço propiciando a autonomia nas crianças e sobre isso Barbosa destaca que “quanto mais o espaço estiver 25442 organizado, estruturado em arranjos, mais ele será desafiador e auxiliará na autonomia das crianças” (BARBOSA, 2006, p. 124). Porém não basta apenas esse espaço estar organizado de maneira a desafiar as crianças, se as mesmas não vivenciá-lo intensamente. Por isso, cabe ao professor pensar em atividades que permitam às crianças uma experiência significativa e reflexões! O ambiente deve ser repleto de objetos que representam a cultura e o meio ao qual estão inseridos fazendo com que as crianças consigam compreender o mundo de formas diferentes. Como salientam as autoras: Para que os pequenos e os pequenininhos participem desse espaço social, é necessário que se criem novos sentidos nas relações adulto-criança, famíliaseducadores, pais-filhos e também que haja, por parte dos adultos, uma vontade de experimentar, criar uma outra forma de ver, entender, conviver com as crianças (BARBOSA e HORN, 2001, p.78). Com base no excerto acima compreendemos que a relação entre professor e aluno é importantíssima para que o espaço seja pensado de forma a emancipar os sujeitos envolvidos, mas para que isso seja possível é necessário que os educadores tenham intencionalidade em suas ações pedagógicas, dando sentido à rotina e ao espaço. Segundo Barbosa (2006) é por meio do espaço que podemos contribuir ou não para a formação dos aspectos subjetivos e cognitivos dos pequenos, além disso, o espaço também é um incentivo para a criação de ambientes que sejam desafiadores e repleto de estímulos. Como já dito anteriormente, esse ambiente deve ser construído com a ajuda das crianças e modificado durante o ano, de forma a permitir que as crianças vivenciem e experimentem inúmeras possibilidades. Com isso os pequenos poderão aprimorar sua forma de demonstrar o que pensam e sentem, visto que, o ambiente deve ser diversificado, apresentando dentro de si grande variação, expandindo o mundo de conceitos e culturas no qual as crianças vivem. Assim, em um espaço estimulador, as rotinas se modificam. Dessa forma, em cada ambiente transformado torna possível o conhecimento de um novo contexto, por meio de novas ações, visto que, uma determinada atividade realizada em um ambiente interno muda totalmente seu aspecto ao ser transferido para um ambiente externo. Por exemplo, uma atividade com bolas realizada na sala de aula ocorre de uma maneira, já em uma quadra de esportes seu desenvolvimento é outro, isto é, altera os espaços sem alterar a essência da atividade, como acrescenta Barbosa “os espaços criam novas formas de ação, de movimento, de experiência” (BARBOSA, 2006, p. 135). 25443 Para propiciar às crianças o desenvolvimento da autonomia, necessitamos de ambientes que favoreçam diversas possibilidades. As autoras Barbosa e Horn (2001) trazem em um de seus trabalhos como organizar os espaços e as atividades, mostrando que essa organização de atividades deve ser pensada considerando os seguintes aspectos: odor, ritmo, mobília e suas cores, sons e palavras, gosto, toque e regras. Na organização do espaço devemos considerar a área interna e externa da instituição, pois são espaços educativos e ambas as áreas devem ser consideradas e usadas nas diferentes ações propostas que possuem como foco o conteúdo a ser desenvolvido. Lira e Saito mencionam que “nos ambientes internos, a iluminação deve ser natural sempre que possível e a ventilação adequada, com janelas grandes e na altura das crianças de maneira a possibilitar a visualização dos espaços externos” (LIRA & SAITO, 2012, p. 109). Assim será possível que as crianças tenham contato com os dois ambientes, tanto interno quanto externo, mesmo estando no interior das salas. Segundo Barbosa e Horn (2001) no espaço externo existem uma infinidade de ações que podem ser realizadas, porém cada uma delas precisa de um local específico, como os espaços para a realização de jogos mais tranquilos, os espaços para brinquedos de manipulação e construção, espaço estruturado para jogos de movimento, espaço para jogos imitativos, espaço não estruturado para jogos de aventura e imaginação. Dessa forma explicaremos, de acordo com as autoras, quais as atividades podem ser desenvolvidas em cada espaço externo. Nos espaços para a realização de jogos ou brincadeiras mais tranquilas, podemos explorar o ambiente externo, de maneira que seja uma ferramenta enriquecedora para o trabalho do professor. Nesse ambiente encontramos gramados, mesas, bancos, árvores, terra, areia, o chão, enfim uma infinidade de aspectos que favorecem a ação pedagógica. Nos gramados podem ser realizadas atividades com bolas, piqueniques e tomar banho de sol, nas mesas podem ser trabalhados desenhos, pinturas, recortes, jogos lógicos entre outros, nos bancos conseguimos realizar atividades que envolvam o em cima e o embaixo e escondeesconde, nas árvores pode-se trabalhar com redes de descanso e aproveitar sua sombra para atividades realizadas no gramado, na terra e na areia podem ser feitas atividades de cavar buracos, fazer estradinhas para brincar com carrinhos, plantar flores e plantas fazendo um jardim e no chão do pátio conseguimos trabalhar com atividades de corda, de músicas, de desenhos com giz, brincar de lenço atrás, passa anel, ciranda, amarelinha, entre outras 25444 atividades folclóricas. Desse modo, estaremos propondo atividades que normalmente são realizadas apenas dentro de sala de aula num ambiente externo. Nos espaços para trabalhar com brinquedos de manipulação e construção podem ser criados ambientes afastados, em cada um deles conter tipo de atividade utilizando os materiais existentes na instituição, ou seja, um local onde pode ser trabalhado com bacias de água para que brinquem com objetos flutuantes, como coadores, funis e medidores. Um local para brincar com marcenaria, isto é, brincadeiras com madeiras de encaixar e até um ambiente para brincar de cozinha, utilizando pedras, terras, água e areia. Os espaços estruturados para jogos e brincadeiras que envolvem o movimento são caracterizados geralmente por ambientes externos repletos de brinquedos, lugares esses que são denominados de parquinhos, onde as crianças escorregam, balançam, passam entre os túneis, passam pela ponte pênsil e brincam no gira-gira. Também podemos levar para esse ambiente os carrinhos de empurrar e andar. Nos pátios podem ser realizados jogos imitativos, sendo desenvolvidas atividades como teatros de fantoches utilizando uma estrutura móvel, cesto contendo roupas e objetos para dramatização, casinhas de bonecas com utensílios fictícios e reais, salão de beleza contendo brinquedos como secador, maquiagens, espelhos, pentes, esmaltes e etc., nesses espaços também podem ser realizados brincadeiras de banco, escritório, consultório médico e construção de cabanas. E, por fim, nos espaços não estruturados para jogos de aventura e imaginação podem ser desenvolvidas atividades envolvendo bosques de árvores, contendo túneis, morros, pedras, animais e plantas. Para Barbosa e Horn (2001) na organização dos espaços internos devemos promover a identidade pessoal das crianças, o desenvolvimento da competência, a construção de diferentes aprendizagens, oportunidades para o contato pessoal e a privacidade. Para que isso ocorra podemos organizar os espaços, por meio de cantos temáticos que podem ser fixos e/ou alternativos. Os cantos fixos podem conter cantos de casas de boneca, com utensílios de brinquedo, de cozinha, sala, banheiro e quarto; canto da fantasia com retalhos, sapatos, chapéus, roupas, maquiagens e espelhos; canto da garagem contendo carros, sinalizações de trânsito e trilhas; canto da biblioteca com estante de livros, jornais e revistas organizado de forma que as crianças possam ter autonomia para manusear. Nesse canto também pode ser realizado narração de história por meio de fantoches, dedoches e marionetes, propiciando um ambiente 25445 aconchegante contendo almofadas, colchas e tatames; canto dos jogos e brinquedos contendo jogos de lego, quebra-cabeça, sucatas e blocos lógicos. Os cantos alternativos podem ser elaborados conforme o conteúdo que está sendo trabalhado e o espaço disponível, a partir daquilo que as crianças se interessam. Nesses cantos podem realizadas diversas atividades como canto da música, do supermercado, contendo várias embalagens de diferentes produtos com dinheiro de brinquedo e prateleiras; do cabeleireiro com grampos, bacias, cadeiras, shampoos e cremes; canto do museu contendo objetos trazidos pelas crianças de passeios ou viagens; canto da luz e da sombra contendo lanternas, lençóis, retroprojetor e filmes. Cabe salientar também que existem os espaços intermediários que são locais cobertos que podem ser utilizados para crianças com diferentes idades ao mesmo tempo, isto é, são espaços muito utilizados em dias de chuva, frio ou sol intenso. Portanto concluímos que os espaços na educação infantil são importantíssimos, porém cabe ao professor pensar em como utilizá-los, compreendendo-os como aliados ao trabalho pedagógico e como uma maneira de melhor trabalhar os conteúdos que devem ser refletidos e compreendidos pelas crianças, promovendo assim o desenvolvimento integral dos pequenos. Considerações Finais Nessa pesquisa de iniciação científica refletimos acerca da organização do espaço na educação infantil e consideramos que é de extrema importância para desenvolvimento das crianças, visto que por meio dessa organização o professor desenvolverá suas ações pedagógicas. Esse trabalho foi de extrema importância para a nossa compreensão do tema, pois nos permitiu entender a relevância do espaço para os pequenos e como o mesmo pode oportunizar o desenvolvimento desde que haja a reflexão e a mediação por parte do professor. Por meio dessa pesquisa conseguimos compreender, de um modo mais claro, a relevância desse tema ser estudado pelos professores atuantes nos Centros de Educação Infantil para que possam planejar e efetivar uma prática pedagógica que emancipe as crianças, assim como entender que devem analisar e modificar esse espaço para que ele seja propício para a aprendizagem. É preciso fazer do espaço um parceiro na construção das relações humanas, e na mediação entre as crianças e o conhecimento. Para isso as creches e pré-escolas devem ter um olhar especialmente voltado à concepção e ao planejamento dos espaços, buscando e recriando a sintonia com as diretrizes do projeto educacional (SEKKEL; GOZZI, 2003, p. 14). 25446 Defendemos que o ambiente escolar precisa de mudanças, pois é por meio das mudanças que as crianças aprendem e não com monotonia. Sobre isso salientam Cedro e Moura “A partir dos princípios teóricos da abordagem histórico-cultural e da teoria da atividade redefinimos o espaço de aprendizagem, como sendo o lugar da realização da aprendizagem dos sujeitos orientado pela ação intencional do outro” (CEDRO; MOURA, 2004, p. 1). Acreditamos que os ambientes devem ser modificados pedagogicamente para que os alunos desenvolvam sua autonomia, pois com um ambiente democrático, inovador e ao alcance das crianças elas podem pensar nas possibilidades, explorando o mundo ao seu redor, ou seja, para que a autonomia se construa é necessário que ela seja possibilitada por meio da proposição de atividades que para serem realizadas necessitam da percepção do ambiente por parte dos alunos. Isso significa que o espaço precisa ser pensado como um elemento fundamental para o desenvolvimento da prática pedagógica, considerando sempre a segurança da criança, pois cabe também ao professor garantir a integridade física do aluno, já que aquilo que é disposto deve ser seguro. Por fim, defendemos que cabe ao professor planejar como será organizado o espaço físico, pensando tanto nos espaços internos como nos externos, contemplando-os em suas ações pedagógicas para alcançar seus objetivos, já que muitas vezes algumas atividades realizadas na sala de aula podem se tornar mais interessantes em ambientes externos, mas sem perder de vista sua essência. Compreendemos que a organização reflexiva do espaço faz com que se desenvolvam nas crianças diferentes capacidades potencializando as mesmas tanto em seus aspectos sociais, culturais e políticos. Portanto, cabe ao professor, por meio da mediação, proporcionar um ambiente diversificado que oportunize nas crianças o desenvolvimento de suas potencialidades, levando em conta todo um contexto ao qual ela pertence. REFERÊNCIAS BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. BARBOSA, Maria Carmen Silveira & HORN, Maria da Graça Souza. 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