parecer lingua portuguesa - CCV

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
COORDENADORIA DE CONCURSOS – CCV
Evento: Concurso Público para Provimento de Cargo Técnico-Administrativo em Educação
Edital N° 196/2016
PARECER
A Comissão Examinadora da Prova de Língua Portuguesa para o Cargo de Assistente em Administração
efetuou a análise do recurso administrativo e emitiu seu parecer nos termos a seguir.
Questão 01
A questão 01 aborda a “exploração de leitura”; seu caput restringe a referência à professora Izaíra
Silvino e à interpretação de um lamento. As referências à Izaíra Silvino ocorrem nos três primeiros
parágrafos; assim, as alternativas B), D) e E) não dizem respeito à professora. No primeiro parágrafo,
constata-se que não há lamento em decorrência do “estado embrionário do Curso de Música da UFC”, mas
“otimismo”, o que torna incorreta a alternativa A). A alternativa correta é a C), uma vez que a opinião de
Izaíra Silvino citada no terceiro parágrafo expressa um lamento em relação ao fato de a indústria cultural
minimizar a ideia criativa de nosso povo.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 02
A questão 02) aborda o “Reconhecimento da especificidade dos gêneros textuais” (Leitura, 6). A
alternativa correta é a A), uma vez que o texto corresponde predominantemente a uma reportagem, gênero
do domínio jornalístico caracterizado em essência pela apresentação de informações e opiniões a respeito
de determinado assunto ou acontecimento; como ocorre no texto, na reportagem há normalmente uma
mescla dos discursos direto e indireto, de várias vozes (polifonia). Embora as demais alternativas também
apresentem gêneros do domínio jornalístico, estão incorretas. O texto obviamente não constitui um debate
(B)). Apesar de a autora provavelmente ter feito entrevistas na fase inicial da elaboração de sua reportagem,
o texto final não se caracteriza como uma entrevista (C)), gênero marcado especialmente pela alternância
de perguntas e respostas – ademais não traz marcas significativas de um gênero oral primário. O texto não
é predominantemente uma notícia (D)) porque esse gênero se caracteriza em essência pela apresentação
de informações em geral breve e feita por uma só voz, com discurso normalmente indireto e neutro; e a
notícia não costuma ser assinada. O texto não é predominantemente um artigo jornalístico argumentativo
(E)) no qual o autor analisa os fatos apresentados, mas predominantemente expositivo, sem uma
concentração notória na análise dos fatos e das opiniões apresentados.
Quanto ao termo “polifonia”, transita em vários domínios (literatura, linguística, música…) e é usado
com assiduidade em textos que teorizam os gêneros textuais – aliás, em suas origens, as noções de
polifonia e de gênero textual encontram-se nas pesquisas de Bakhtin (COSTA. Dicionário de Gêneros
Textuais, 2008). Assim, quem estuda gêneros textuais depara-se normalmente com o termo “polifonia” – o
qual, inclusive, é empregado em um artigo que diferencia os gêneros reportagem e notícia veiculado pelo
site
“Mundo
Educação”
(http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/diferencas-entre-os-generosreportagem-noticia.htm), destinado a diversos níveis de ensino, do infantil à preparação para o ENEM.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 03
A questão 03) aborda a “identificação das relações coesivas” (Leitura, 2). A alternativa correta é a
B), pois no trecho I há recurso de coesão lexical: o termo “regente” substitui “Izaíra Silvino”. As demais
alternativas estão incorretas: no trecho I, não há recurso de coesão por elipse, como consta na alternativa
A); no trecho II, não há recurso de coesão lexical nem de coesão por repetição, indicados nas alternativas
C) e D) respectivamente; no trecho II, há recurso de coesão por elipse, já que o sujeito da oração “quando
foi institucionalizado” (“Curso de Música”) é omitido por ser facilmente recuperável a partir do período
anterior, o que torna incorreta a alternativa E).
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 04
A questão 04) aborda o “reconhecimento do valor conectivo do pronome, da preposição e da
conjunção” (Gramática, 3.6), o “reconhecimento dos termos da oração” (Gramática, 4.1), a “identificação da
oração no período” (Gramática, 4.2) e a “classificação dos verbos quanto a sua predicação” (Gramática,
4.5). A alternativa correta é a E), pois a predicação do verbo chamar, na acepção empregada, admite a
construção “aos quais chamo de portais”, sendo “aos quais” objeto indireto e “de portais” predicativo do
objeto indireto. Nessa acepção, o verbo chamar admite tanto objeto direto quanto indireto acompanhado de
predicativo, estando o predicativo introduzido ou não pela preposição “de” (LUFT, 2010, p.115): assim, no
trecho original (“que chamo de portais”), “que” funciona como objeto direto e “de portais” como predicativo do
objeto direto; outra construção possível seria “que chamo portais”. Diante disso, a alternativa B) está incorreta.
O “que” é pronome relativo, o que torna incorreta a alternativa A). A alternativa D) está incorreta porque a
função sintática de um pronome relativo não depende da função sintática de seu antecedente: o “que” não é
objeto direto de chamar porque seu antecedente é objeto direto, mas porque é complemento direto do verbo
da oração em que está inserido. E a alternativa C) está incorreta porque há três orações no período: o sujeito
oracional do verbo “é” (“a gente ter esses cursos”), a oração ancorada no verbo é (“É muito interessante a
gente ter esses cursos”) e a oração introduzida pelo pronome relativo (“que chamo de portais”).
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 05
A questão 05) aborda o “reconhecimento dos termos da oração” (Gramática, 4.1) e a “classificação
dos verbos quanto a sua predicação” (Gramática, 4.5). A alternativa correta é a D), pois, como discutido na
questão anterior, a predicação do verbo chamar nessa construção apresenta objeto direto (“que”) seguido de
predicativo do objeto direto (“de portais”). Diante disso, as demais alternativas estão incorretas.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 06
A questão 06) aborda o “reconhecimento dos termos da oração” (Gramática, 4.1) e a “identificação
da oração no período” (Gramática, 4.2). A alternativa correta é a B), pois a expressão realçada no trecho do
caput da questão (linhas 04-05) e a oração destacada na alternativa B) (linhas 10-11) desempenham a
função de sujeito respectivamente dos verbos comemorar (com partícula apassivadora) e ser. Nas
alternativas A), C) e D), temos locuções verbais: em A), o sujeito da locução vamos ouvir é “nós”; em C), o
sujeito da locução começar a ganhar é “O Curso de Música”; em D), o sujeito da locução começar a
entender é indeterminado (sendo o “se” índice de indeterminação do sujeito). Assim, nas alternativas A), C)
e D), as partes destacadas não desempenham a função de sujeito nem constituem orações. Em E), a parte
destacada constitui oração, mas não exerce a função de sujeito, é adjunto adnominal de “disciplinas”.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 08
A questão 08) aborda a “Identificação do sentido entre palavras” (Leitura, 4) e a “Fonologia”
(Gramática, 1). A alternativa correta é a A), pois os sons referidos no enunciado têm valor distintivo, são
responsáveis pela distinção de significado das duas palavras. Como tais sons são distintivos, não temos
realizações concretas de um mesmo fonema (alofonia), o que torna incorreta a alternativa E); e, como os
significantes fonéticos são diferentes (não há homofonia), não temos um caso de polissemia nem um caso
de homonímia, o que torna incorretas as alternativas C) e D). E os vocábulos não são sinônimos, o que
torna incorreta a alternativa B).
Levantou-se a hipótese de as palavras referidas no enunciado serem supostamente homônimas
homógrafas e de ser correta a alternativa D). Essas palavras são homógrafas, mas não homônimas. Para
dirimir dúvidas, vejamos a concepção de homonímia. Mattoso Câmara assim a define (Dicionário de
linguística e gramática, 1986, p. 139-140):
HOMONÍMIA1 – Propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela significação ou função, terem
a mesma estrutura fonológica: os mesmos fonemas, dispostos na mesma ordem e subordinados ao
mesmo tipo de acentuação; ex.: a) um homem são; b) São Jorge; c) são várias as circunstâncias. A
homonímia é assim nas línguas uma deficiência do princípio geral da distinção fonológica como base da
distinção formal. […]
Como a significação linguística envolve sempre a polissemia, a descrição linguística tem de saber distinguir
entre a polissemia de uma forma e a homonímia de duas ou mais formas. Há para isso dois critérios: 1)
diacrônico, que considera homônimos apenas as formas convergentes da gramática histórica; ex.: são > lat.
sunt, sanu-, port. santo em próclise; 2) sincrônico, que considera homônimas as formas fonologicamente
iguais, cujas significações não se consegue associar num CAMPO SEMÂNTICO definido; o que nem sempre é
consequência de se tratar de formas convergentes (ex.: cabo «acidente geográfico» – cabo «posto militar»<
lat. caput). São, por outro lado, nacessariamente homônimas as formas fonologicamente iguais que
representam diferentes classes de vocábulos; ex.: alimento, subst. – alimento, forma verbal.
[…]
Na língua escrita têm-se homônimos que se distinguem por ter cada qual um grafema diferente dentro do
sistema ortográfico da língua; são os chamados HOMÓFONOS; ex.: coser «costurar», cozer «cozinhar»;
expiar «sofrer», espiar «olhar sorrateiramente»; sessão «ato de assistir», cessão «ato de ceder»,
cela «pequeno quarto para enclausuramento», sela «peça de arreio».
Note-se que é artificial o conceito de HOMÓGRAFOS, formas que se escrevem com as mesmas letras mas
correspondendo elas a fonemas distintos, pois já não se trata evidentemente de homônimos da língua ,
cuja essência são as formas orais.
Percebemos que a concepção de homonímia está condicionada à estrutura fonológica; homônimos
são, por coseguinte, palavras que possuem “os mesmos fonemas, dispostos na mesma ordem e
subordinados ao mesmo tipo de acentuação”. Mattoso Câmara também aborda vocábulos homônimos que
apresentam grafia diferente. Por fim, esclarece que homógrafos que não possuem a mesma estrutura
fonológica não são homônimos. Portanto, as condições para que duas palavras sejam homônimas é
possuírem significados distintos e a mesma estrutura fonológica. Constata-se que a representação gráfica
não é uma condição para a existência de homonímia.
Essa explicação demonstra ser incorreta a alternativa D).
Para ampliar a discussão, examinemos como alguns gramáticos consideram a homonímia.
Evanildo Bechara (Gramática escolar da língua portuguesa, 2010, p. 551) corrobora o tratamento dado à
questão por Mattoso Câmara e assim se manifesta:
Já por homonímia entende a tradição: “propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas
pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos na mesma
ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação”; como exemplo: um homem são; São Jorge; são várias
as circunstâncias.
Ela é possível sem prejuízo da comunicação em virtude do papel do contexto na significação de uma
forma, como sucede com são nos exemplos dados. [MC]
Dentro da homonímia, alude-se, em relação à língua escrita, aos homófonos distinguidos por ter cada
qual um grafema diferente, de acordo com o sistema ortográfico: coser ‘costurar’; cozer ‘cozinhar’; expiar
‘sofrer’; espiar ‘olhar sorrateiramente’; sessão ‘ato de assistir’; cessão ‘ato de ceder’; seção ‘departamento’;
cela ‘quarto para enclausuramento’; sela ‘peca de arreio’. [MC]
1
Os grifos em negrito são nossos.
Bechara também reconhece a possibilidade de existirem homônimos de grafia distinta, desde que
tenham a mesma sequência fonética. E não considera a possibilidade de existirem homógrafos de
significantes fonéticos diferentes.
Rocha Lima (Gramatica normativa da lingua portuguesa, 2011, p. 584) também ratifica tal
concepção de homonímia e ainda salienta seu aspecto histórico, o que restringiria ainda mais essa
concepção:
Outro fator de perturbação da boa escolha das palavras é a existência de homônimos.
A rigor, só deveriam ser consideradas como tais aquelas palavras que, tendo origem diversa,
apresentassem a mesma forma, em virtude de uma coincidência na sua evolução fonética.
Rocha Lima também não considera a possibilidade de homógrafos de significantes fonéticos
distintos serem homônimos. Posição análoga adotam Pasquale e Infante (Gramática da Língua
Portuguesa, 1998), que estudam a homonínia no capítulo dedicado à fonologia.
Apesar de a concepção de homonímia ser bastante clara, algumas gramáticas e manuais
abandonam a condição fonológica e julgam que a representação gráfica seja critério sufiente para a
exitência de homonímia; com esse pensamento, estimam que todos os homógrafos sejam homônimos,
como o par formado pelo substantivo consolo (com o tônico fechado) e o verbo consolo (com o aberto
tônico). Ora, se esse exemplo de homógrafos constituir homonínia, está incorreta a tradição gramatical, a
concepção adotada por Mattoso Câmara, Evanildo Bechara, Rocha Lima, Pasquale e Infante (para citar
apenas os gramáticos aqui comentados). Uma vez que a estrutura fonológica do substantivo consolo e a do
verbo consolo são distintas, essa suposta possibilidade de homonímia choca-se com aquela da tradição
gramatical; se uma estiver correta, a outra está incorreta. Não se trata, pois, de uma possibilidade de
homonímia, mas de uma incoerente confusão conceitual.
Além disso, a formulação da questão 08) evita essa confusão ao orientar-se para o domínio da
fonologia: a questão coloca explicitamente em pauta os “sons”, os fonemas. Com isso, torna o critério
fonológico indispensável para a determinação da alternativa correta. Dada a necessidade de se usar o
critério fonológico, a alternativa A) é a única correta; e a D), que dispensa o critério fonológico, mostra-se
incorreta; uma exclui a outra nesse caso.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 09
A questão 09) aborda o “reconhecimento dos elementos mórficos das palavras” (Gramática, 3.8). É
correta a alternativa E), uma vez que é a única que apresenta uma adequada e completa segmentação dos
morfemas do vocábulo: radical (típ-), sufixo (-ic-) e desinência de gênero (-a). Nas alternativas A) e B), a
segmentação dos elementos mórficos não é completa; na D), não é correta. E a C) apresenta a separação
silábica, não a segmentação dos morfemas.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial.
Questão 10
A questão 10 aborda a “aplicação das normas estabelecidas no sistema ortográfico adotado no
Brasil, considerando-se o que prescreve o Decreto Nº. 6.583, de 29 de setembro de 2008” (Gramática, 2.1),
especificamente as normas de acentuação gráfica das palavras oxítonas. As alternativas A), B) e E) estão
incorretas porque não apresentam palavras oxítonas. As alternativas C) e D) apresentam oxítonas cujo
acento decorre de regras distintas dispostas na base VIII do Novo Acordo Ortográfico. A alternativa D)
apresenta a palavra “além”, cujo acento se explica porque, conforme o Acordo Ortográfico, devem ser
acentuadas “as palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal grafado -em (...)
ou -ens: acém, detém, deténs, entretém, entreténs, harém, haréns, porém, provém, provéns, também”. A
alternativa C) apresenta a palavra “após”, cujo acento obedece à regra de que devem receber acento agudo
“as palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -a, -e ou -o, seguidas ou não
de -s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s), dominó(s), paletó(s), só(s)”. Com efeito,
nenhuma das alternativas da questão apresenta uma palavra cuja acentuação decorre exatamente da regra
usada para acentuar a palavra “você”, pois, apesar de “você” e “após” obedecerem a regras similares,
distinguem-se por serem terminadas em vogal fechada e aberta respectivamente, o que leva a primeira a
receber acento circunflexo e a segunda a receber acento agudo.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão defere o recurso e anula a questão.
Fortaleza, 06 de janeiro de 2017.
Profa. Maria de Jesus de Sá Correia
Presidente da Coordenadoria de Concursos – CCV
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