coleção circuito djs Frederico Coelho Joca Vidal Copyright © 2010, Frederico Coelho e Joca Vidal Todos os direitos reservados organização Frederico Coelho e Joca Vidal Coordenação editorial Projeto gráfico Rafael Bucker e Lucas Sargentelli Transcrição e revisão Foto de capa Fernanda de Mello Gentil e Renato Rezende Ingrid Vieira Joca Vidal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Coelho, Frederico djs / Frederico Coelho, Joca Vidal. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2010. (Coleção circuito) isbn 978-85-64022-02-7 1. Cultura pop - Brasil 2. Disc-jóqueis - Brasil 3. Jornalismo 4. Reportagem em forma literária i. Vidal, Joca. ii. Título. iii. Série. 10-11425 cdd-781.630981 Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil: Disc-jóqueis: Cultura pop: Música 781.630981 editora circuito ltda. Ladeira da Glória, 71 Glória – Rio de Janeiro – rj cep 22241-160 Tel. 21. 22257241 www.editoracircuito.com.br sumário Uma cena em cinco retratos • 4 Frederico Coelho Nado Leal • 10 David Tabalipa • 58 Maurício Lopes • 68 Nepal • 82 Marcelinho Da Lua • 92 Sobre os autores • 118 frederico coelho uma cena em cinco retratos apresentação Livros sobre djs e sobre a cultura que se desenvolveu ao redor dos djs não são novidades no mercado editorial brasileiro. Desde o boom que a profissão sofreu com a ascensão da música eletrônica no cenário nacional e internacional, temos cada vez mais publicações sobre o tema: de diários de campo de antropólogos em raves até mergulhos profundos na produção tecnológica que tal cultura injetou na história da música mundial. Vivemos notoriamente uma era em que o papel dos djs não cessa nas cabines de som e nas pick-ups e cdjs das festas. Ele vai muito além, gerando publicidade, alimentando um forte mercado mundial em expansão e sendo apropriado por celebridades instantâneas. O livro que você leitor tem nas mãos, porém, traz uma pequena particularidade. Por ser de entrevistas, ele desloca o narrador do estudioso e coloca esses personagens de uma forma mais, digamos, em casa. As abordagens dos dois entrevistadores e participantes da cena noturna carioca – 6 Frederico Coelho (dj e um dos fundadores da festa Phunk) e Joca Vidal (também dj e produtor das festas Black Friday, Little Black is Fuck e muitas outras) fizeram com que nossos cinco entrevistados ficassem à vontade para traçarem um balanço de suas carreiras e para fazerem comentários sobre a vida do dj nos dias de hoje. Em particular, todos são amigos (dos entrevistadores ou entre eles), e deram suas entrevistas sabendo que falavam do mesmo universo. Vale também frisar que nosso livro trata, sobretudo, do que teóricos e jornalistas em geral batizaram de uma cena: um corte específico no tempo e no espaço que define um momento ou grupo cultural de uma cidade. No nosso caso, a cena em evidência é a cena noturna carioca das duas últimas décadas. Os cinco entrevistados escolhidos para este livro trazem desde o início dos anos 1990, cada um na sua praia mas com alguma coisa em comum, profundas relações com esta cena noturna carioca. Estavam lá no seu início, quando as festas ainda eram eventos restritos a boates e clubes, sempre dentro de um padrão neutro no que diz respeito ao papel do dj – na época, o discotecário. E continuam até hoje, em uma época em que o dj assume papel central na programação cultural, em eventos de empresas, em desfiles de moda, produzindo trilhas sonoras etc. Em dois depoimentos e três entrevistas certeiras, Nado Leal, David Tabalipa, Maurício Lopes, Nepal e Marcelinho Da Lua nos apresentam suas credenciais para serem considerados alguns dos principais djs do Rio de Janeiro – e do Brasil – em suas propostas e, principalmente, em suas histórias. Eles são atores centrais na formação de uma cultura noturna urbana em que o dj não é mais apenas o toca-discos sem autoria. Ele paulatinamente se transforma no aglutinador do público e no definidor do perfil de cada apresentação festa, de cada pista e de cada evento. Mesmo com os altos e baixos de toda profissão artística cujas condições materiais nem sempre são as mais favoráveis para a execução de seu trabalho, os cinco freqüentam, tocam, produzem e agitam esta cena noturna desde o seu início. Por isso, eles foram atores – e espectadores – privilegiados dessa movimentação musical no Rio de Janeiro e no Brasil. Todos com longa estrada de serviços prestados, suas histórias profissionais nos levam muitas vezes para o início dos anos 1980, quando programa de rádios, matinês, festas hi-fis e lojas de discos eram espaços que aglutinavam jovens cujas trajetórias de vida confluíram diretamente para a música e suas várias formas de fruição. Somando os cinco depoimentos, temos um passeio pelas saudosas rádios F.M. como a Cidade, a Mundial, a Antena 1 ou a Fluminense, pelas antigas boates como o Crepúsculo de Cubatão, Babilônia, Dr. Smith, por festas como a Zoeira, a Groove, a Soul Rio, os Afronautas e pela companhia de djs já clássicos como Markinhos Mesquita, Felipe Venâncio, Corello ou Maurício Valladares – alguns deles, ainda bem, até hoje na ativa. A escolha dos cinco entrevistados obedeceu inicialmente a um critério, como já dito acima, de corte. Em um universo tão vasto – e certamente nenhuma lista de cinco ou dez contemplaria todos aqueles que mereciam dar seu depoimento –, nosso norte foi apresentar, através de cada um, os principais gêneros que marcaram esse período recente no meio noturno carioca. Nado, David, Maurício, Nepal e Da Lua transitam ou transitaram ao longo das carreiras entre o soul, o break, o funk, o techno, o electro, o drum and bass, a música popular brasileira, o rap e as demais batidas contemporâneas. Além desse ponto, temos cinco djs cujas histórias se entrelaçam de alguma forma com a adaptação 8 de uma geração que começou cultuando a mixagem com o Vinil e que hoje se ajusta – uns mais rápidos que os outros – ao universo da discotecagem digital. Nesse novo tempo de excesso pleno de informação, a música talvez seja uma das artes mais divulgadas, compartilhadas, comprimidas, portabilizadas e valorizadas. O dj, como fonte e leito de todo esse circuito, precisa se posicionar em meio ao turbilhão e assumir uma nova era em que filtro e conteúdo – duas de suas principais qualidades profissionais – são valiosas palavras. Cada depoimento traz um dado novo, uma chance de entendermos melhor o que forma e faz um dj, sem cairmos nos lugares comuns ou ignorarmos que mesmo com a banalização da profissão, um longo caminho foi percorrido pelos seus, de certa forma, militantes. Nado Leal, por exemplo, inicia o livro com um longo depoimento mostrando como sua carreira está relacionada ao fenômeno do rádio como formadora de uma geração que ainda tinha nessa mídia o principal meio de acesso à informação musical. Sua fala ressoa nas respostas de David Tabalipa e de Maurício Lopes, outros dois ouvintes fiéis dos programas musicais de dance music. Já Marcelinho da Lua, em um depoimento fotográfico de seu momento profissional após dois discos bem sucedidos, se não cita o rádio como inspiração profissional, é porque traz em sua bagagem uma série de trabalhos com bandas, colocando o dj mais próximo dos músicos e da música popular brasileira. Nepal, por sua vez, cruza gerações de públicos sendo fiéis aos seus estilos e coloca a profissão do dj visceralmente ligada ao ofício noturno das festas. Todos eles, provando que djs também tornam-se pais de famílias ou trabalhadores com os mesmos direitos e deveres que os demais da sociedade, comentam planos futuros, planos de aposentadoria ou formas de alongar a carreira através de caminhos alternativos à dura rotina de tocar na noite. apresentação Este volume da coleção circuito dedicado aos djs não tem a presunção, portanto, de ser obra definitiva ou de tentar explicar esse longo e complexo processo de ascensão do dj como personagem de destaque da nossa contemporaneidade. O que buscamos com as cinco entrevistas a seguir foi oferecer ao leitor e ouvinte de música um convite para entender não só o mundo particular desses cinco djs, mas também apresentar algumas bases da história cultural carioca recente. Afinal, não é sempre que podemos fechar as páginas de um livro que estamos lendo para encontrar, na festa mais próxima, o próprio entrevistado em pleno trabalho. nado leal 02.12.2009 joca vidal Vila Maurina humaitá, rio de janeiro dj nado leal 12 dj nado leal é produtor musical e dj desde 1990. Trabalhou em gravadoras (Sony, bmg, emi e wea), e em rádios (Cidade fm, Transamérica fm e Jovem Pan). Participou do Prêmio Multishow, Rock in Rio 3, Tim Festival, Skol Beats, Vivo Open Air, Chemical Music, Fashion Rio, Oi Noites Cariocas, Free Jazz, Monobloco, Novos Urbanos, Reveillon Copacabana 2007 / 2008, Camarote Expresso 2222 / Gilberto Gil 2008 e Bossa Nova 50 anos, Claro Cine 2008, Vale Open Air 2009, Black2Black 2009 e 2010, Oi Futuro Ipanema, Viradão Cultural, hsbc Arena/Joss Stone, Grande Prêmio Brasil 2010, entre muitos outros. Realizou Trilhas sonoras para desfiles e lojas como Leeloo, Cantão, Melissa, Totem e Sandpiper. Tocou nas melhores festas e clubs da cidade, como Circo Voador, Fundição Progresso, Bunker 94, Pátio Lounge, Fosfobox, Sky lounge, Clube Nova, ZeroZero, Melt, Nuth, Pista 3, Baronetti, Estrela da Lapa, Cinemateque, Casa da Matriz, Bar D’Hotel, Atalntico, Clandestino, Bar da Rampa, Espaço Acustica, Parque Laje, mam e Teatro Rival, entre outras. dj nado leal Frederico coelho Nado leal Então, estou aqui com Nado Leal… Prazer enorme. [risos] Frederico Primeira entrevista para o livro de conversas com djs. Fiz um roteirinho aqui que vai ser o meu roteiro fixo para as entrevistas, obviamente vai variar um pouco de formação para formação de dj. Vou começar com uma pergunta genérica e depois a gente vai afunilar na sua trajetória. Primeira pergunta é, para você, o que é um dj? Acho que ele mudou ao longo dos anos. A profissão foi se adaptando. O nome dj veio do rádio, era o locutor, ele tocava os discos, ele era o tocador, não tinha uma programação, acho que é isso, dali veio a palavra disc-jóquei. Depois, nos anos 1970, lá em Nova York, começaram as sound system, um cara tocando, um mc junto, ao mesmo tempo, Nado 14 na Jamaica, também começava a mesma questão do sound system, o cara fazendo, vamos dizer assim, uma reclamação do bairro dele. O cara estava reclamando e virou a bloc party, né? Virou a festa do bairro, ali, com mc e com o dj. Começou essa figura do dj tocando, ali. Então a partir daí acho que mudou a ideia do disc-jóquei, não era mais um cara que tocava musiquinha como nos anos 1950, quando rolavam as big bands, acho que por falta de condições financeiras colocaram um cara atrás do palco tocando os discos. Ele ficava escondido lá, tocando os discos, e animava as festas de qualquer maneira. Da mesma forma que uma banda, talvez. Claro que ele não tem o mesmo visual dos músicos, mas a música fazia as pessoas dançarem ali, consumirem e tal. Então veio a década de 1970, estourou… em 1980 a projeção do dj que começou realmente nos Estados Unidos, Europa, talvez um pouco. No Brasil era uma profissão que ainda não tinha aparecido. Começou a aparecer, para mim, em 1977, no dia 1º de maio, se eu não me engano, quando a rádio Cidade entrou no ar. Frederico Você tem essa lembrança? Nado Eu tinha 10 anos, estava indo para o colégio e meu irmão mais velho chegou e disse: “Cara, vai entrar uma rádio nova no ar, uma fm.” Foi a primeira fm que teve no Brasil, acho, no Rio de Janeiro só se ouvia a am, a Mundial, uma rádio que tinha uma programação um pouco mais… Frederico Mundial Am… Nado Big Boy e tal, com uma programação um pouco diferenciada das outras ams. Então a minha percepção é a de que algo para o dj foi marcado ali, em 1977, quando eu tinha 10 dj nado leal anos. Já gostava de música. Então, assim, hoje em dia o dj é um artista, como um cantor consolidado, dependendo da vertente ele é importante, leva tantas pessoas quanto um cantor ou uma banda de rock, hoje ele tem essa força que eu acho que pegou mesmo, no final dos anos 1990 para cá, com a música eletrônica. A música eletrônica levou o dj a esse patamar de superstar, de super estrela, de ser tratado como uma grande estrela. Porque antigamente ele era tratado como um tapa-buraco, “Vamos cobrir o buraco aí”. Frederico Ele era a extensão da atração principal. Nado Ele era a espera, ficava antes ou depois da atração principal. Hoje em dia também funciona dessa forma, mas ele se encaixou no meio das atrações, né? Ele se encaixou bem no meio das atrações de festivais, de raves, é considerado um artista. Ás vezes os produtores até preferem chamar um dj de nome para tocar para milhões de pessoas do que uma banda porque, como sempre, se fala muito em custo: “Ah, uma banda tem cinco pessoas, é avião, é não-sei-o-quê mais…” O dj é uma pessoa, no máximo duas, e fica mais em conta. Por outro lado, o dj sempre foi uma pessoa mal vista dentro do mercado, era o doidão porque trabalhava na noite, era ligado às drogas, à bebida, e os músicos não gostavam de dj, porque ele ganhava quase a mesma coisa e tirava o trabalho do músico. Mas hoje o dj está incorporado em quase todas as bandas que têm alguma afinidade com dj, ele se incorporou bem, então fico feliz de ter escolhido e investido nessa profissão, no começo não sabia que seria a minha profissão. É verdade que virou uma profissão da moda, hoje em dia todo mundo é dj por conta de tecnologias, você tem uma facilidade de tocar, claro que falta um pouco de embasamento musical para algumas pessoas, de tempo também, de tempo de ouvir, tempo de pesquisar… 16 Mas você falou uma parada aí – desculpe interromper… Frederico Nado Não, pode ser que eu tenha me perdido… Frederico Não, a gente vai levando o papo, sem problemas. Isso é que é o legal das entrevistas. Você falou agora: “Acabei escolhendo essa profissão e eu nem sabia lá no começo que seria a minha profissão.” Tem três perguntas aí, a primeira é: você, jovem, já tinha ligação com a música? Nado Tinha. Frederico Queria ter formação musical? Nado Na minha casa sempre teve música, a gente tinha uma casa fora do Rio onde os meus pais levavam os amigos, e sempre tinha alguém tocando violão, alguma percussão, minha mãe cantava, algumas amigas e amigos também cantavam, então era uma casa musical. Meu pai sempre gostou de equipamento. E eu, obviamente, comecei a me interessar. Assim, época de carnaval, todo mundo tocava bateria de carnaval, tinham muitos instrumentos musicais lá em casa. Comecei a gostar de percussão, de bateria, ao mesmo tempo gostava do equipamento que o meu pai tinha, ficava ouvindo rádio, tinha uma vitrola, e eu ficava maluco com aquilo. Aos 10 anos, por aí, comecei a ter aulas de bateria. Meu irmão tinha aulas de teclado, no colégio eu tentava procurar algum instrumento – porque naquela época você ainda tinha a opção de aprender música, o que eu acho fundamental num colégio –, mas não estudei música. Foi ali, aprendendo a tocar bateria que houve a mudança, foi quando eu ouvi pela primeira vez um dj fazendo uma mixagem. Transformou a minha cabeça, pensei: “Como é que ele fez isso?” dj nado leal Frederico E quem foi o primeiro dj que você viu? Nado O dj Ivan Romero, um cara da rádio Cidade que tinha um programa chamado Cidade Disco Club, em 1977. Obviamente eu comecei a procurar mais, havia discos já totalmente mixados da New York New York, se eu não me engano. Já existiam djs. Frederico Na Barra? Nado Não, New York New York não era aquela coisa horrível que tem hoje lá, era uma boate em Ipanema chamada New York New York. Frederico Ah, antes… Nado Ali no finalzinho de Ipanema. Uma das primeiras boates. E tinha um disco totalmente mixado. Eu olhava aquilo e falava: “Que coisa fantástica, como é que esse caras conseguem misturar”, né? Então, eu não tenho formação musical clássica, eu não leio partitura. Tenho ritmo, que é muito importante para um dj. Frederico Claro. Nado É importante ter a contagem, isso eu aprendi normalmente, tocando bateria, ouvindo as pessoas, prestando atenção, percebendo a cadência, como é que o cara está tocando. Como qualquer criança, tentei aprender violão, mas não aconteceu. A história dessa minha musicalidade até virar dj foi importante, essa introdução à música. Eu ficava ouvindo muita música, adorava, rádio o tempo todo, e em casa, como falei, teve sempre música. Acho que foi muito importante 18 para minha formação musical, ter ouvido muita coisa. Meu pai sempre estava lá botando uma música pra gente, mas formação clássica? Nenhuma. Frederico Você também falou que começou a ouvir rádio ligado nisso, na mixagem. E quando é que você decidiu entrar numa de “bom, vou comprar os aparelhos necessários para fazer isso”? Não sei se você começou com a clássica fita k-7… Quando a rádio Cidade entrou no ar foi um choque cultural, choque de tudo, porque eram pessoas falando de uma forma diferente, falando da forma que você estava acostumado a falar, vamos dizer assim. Era tudo novo. As vinhetas da rádio Cidade eram diferentes, os locutores eram jovens, as músicas também, completamente diferentes. E à noite, a partir das 22h, o que acabou virando um padrão, existia um programa da rádio Cidade chamado Cidade disco club, o dj era o Ivan Romero. Ali eu comecei a ter vontade de pesquisar e fazer aquilo, me perguntei “como esse cara consegue?” Tenho um irmão um ano mais velho que decidiu: “Vamos comprar um equipamento.” Meu pai trabalhava no Avenida Central, embaixo tinham várias lojas de equipamento. Fomos lá e compramos um toca-discos, um tape deck – meu pai já tinha um receiver e as caixas – e um mixer. Nado Frederico E você lembra o ano disso? Entre 1977, 1978, 1979, foi nesse período, a partir de 1977, acho que pode ter sido 1978, 1979… depois de um ano… Nado Frederico Nado Já tinha um aparelho que fazia…? Já existia. dj nado leal Frederico Sim, existiam as equipes de som dos bailes… Nado Para mim foi uma descoberta, mas já existia isso em 1970. Eram mais precários, foram melhorando, claro. Naquela época a tecnologia era um mixer Tonus, eu lembro, tinha o ap-1 que era um Spectrum, lembro perfeitamente disso. As marcas brasileiras eram Gradiente e Polyvox, de caixas de som, e eu comprei essa primeira picape Technics, nacional ainda, e comecei a tentar fazer essa história. Quando você lançava um compacto, um lado era a versão normal e, o outro lado, era a versão instrumental. O que eu fazia? Gravava a versão instrumental num k-7 e ficava passando de uma para a outra, fazendo uma versão extended. Comecei então a entender como é que eu fazia o andamento, né? Juntava as músicas, que eram do mesmo bpm [batidas por minuto]. Parece fácil, mas não é. O toca-discos tem uma velocidade, o tape-deck tem outra. Aí eu comecei a pegar outras músicas, procurar o bpm, na época eu nem sabia o que era isso, mas por ouvido você sabia o andamento, se era mais rápido, mais devagar, e o toca-discos tinha um pitch. Que loucura, como era interessante. E fui procurar saber o que era dj, como era, quem eram as pessoas que faziam isso. Percebi que existia uma história mais antiga do que eu imaginava, achava que era uma coisa do momento, mas não era. Frederico Você já entrou adolescente, nos anos 1980, dentro da cultura do dj? Nado Já entrei. A partir do momento que eu vi que dava para fazer esse tipo de coisa, comecei a fazer festa. Qualquer festa, de qualquer pessoa, eu falava: “Faço.” Eu era o primeiro, “não, deixa comigo.” Porque você, criança, ia para uma festa e ficava de bobeira, sem saber o que fazer, ficava com medo de azarar 20 as meninas, então era uma ocupação, para mim, perfeita. Então comecei a fazer festinha de playground, como todo mundo fez, a maioria dos djs fez festa de playground, festa de amigos, a tua festa, qualquer tipo de festa, não ganhava nada, era só pelo prazer de estar tocando e ver seus amigos ali, a música dando certo. Era completamente diferente dos dias de hoje, não tem nada a ver. É uma memória bem saudosa, a inocência daquilo. Eu lembro que fiz uma festa com um três-em-um, era uma loucura. Hoje em dia a capacidade… só que era tão bonito aquilo lá. A partir dali, comecei a comprar discos relacionados a isso, versões maiores, quis tentar entender um pouco mais o que era esse universo. Frederico Você lembra onde é que você comprava esses discos? Nado Existia a Gramophone, era uma grande loja, ali talvez eu tenha comprado o meu primeiro disco importado, o Kurtis Blow, The breaks… Frederico Foi o primeiro disco que comprou? Nado O primeiro internacional, importado. Até hoje é tocado em festas e, para mim, isso é muito louco, uma música que eu ouvia 20 anos atrás. Lembro também de ter comprado o Off the wall, do Michael Jackson, na Mesbla do Rio Sul, perfeitamente, esse disco que foi um marco. Tinha também a Gabriela Discos aqui no Rio, eu gostava muito de black e comprava Brothers Johnson, Michael Jackson, Kurtis Blow, uma vertente mais black, mas na época não era, era disco. Explicando, em várias boates, novelas, tudo era disco, talvez uma vertente do black, mas com um andamento mais rápido. Existia uma loja no Rio dj nado leal Sul, uma loja enorme, linda, cheia de equipamento, aquilo era um paraíso. Cara, como é que era o nome dessa loja? Frederico Eu lembro dessa loja, Hi-fi! Isso, Hi-fi. E lá tinha um equipamento chamado Quasar, na época era o top, assim, de botão preto, eu entrava lá e era como a Disneylândia. E hoje não tem mais nenhuma loja assim, de equipamento bom, mas na época dava para comprar, não era tão caro. Comprava muito, na Mesbla, compacto por causa dessa questão de um lado instrumental e o outro não. Nado Frederico Lembro que vendiam discos de qualidade em hipermercado como Carrefour, Sendas… Nado Porque tinha um departamento voltado para isso, e vendia bastante. A Mesbla era um grande supermercado, só que voltado para roupas, cosméticos e tal. Então ouvia a rádio, anotava a música que os caras anunciavam, no dia seguinte, ou uma semana depois, perturbando a minha mãe, meu pai, pegava dinheiro para comprar o disco, e assim foi. Frederico Vem cá, e quando você começou a ser pago? Vou refazer a pergunta, o que veio primeiro, a profissionalização de tocar no circuito oficial da noite ou você passar a ser pago para tocar nas festas que fazia? Nado Não lembro se eu era pago nesse tipo de festinha de playground. Talvez, tinha que existir algum tipo de remuneração, não lembro se tinha realmente dinheiro. E era muita festa de 15 anos, festa de quem tinha alguma condição de pagar. 22 Mas o dinheiro não foi marcante, então não lembro. Sei que entrei na faculdade, tentei instalar uma rádio na faculdade em 1986, não deu certo… Frederico Que faculdade você fez? Nado Gama Filho. Não desenvolvi muito durante essa fase, talvez por causa da crise adolescente, buscando outras opções, situações. Frederico E o universo de festas que temos hoje, no Rio de Janeiro – é importante ficar registrado – é muito diferente da noite carioca de 20 anos atrás. As pessoas não faziam festas, era outro tipo de programa. Nado Iam para os clubs… Frederico Era outro tipo de universo musical. Nado Esse tipo de festa, em todo lugar, todo bairro, toda casinha, não tinha a menor possibilidade. Tanto que as pessoas não tinham conhecimento, o equipamento não era tão simples de arrumar, de alugar, ficava restrito às boates. Mas, voltando à primeira memória, profissionalmente falando, foi em 1990, quando eu ganhei dinheiro e fui registrado como discotecário. Frederico Discotecário… Nado Discotecário. Não era nem dj. Trabalhei muitos anos em gravadora, a partir de 1988. E, obviamente, não foi uma coincidência, fui trabalhar na rádio Cidade. Para mim foi a glória. Fui trabalhar não na parte musical, de programação, dj nado leal mas só de eu entrar naquele universo era uma realização de criança, entrar num estúdio, conhecer os locutores… conheço alguns até hoje que marcaram aquele momento. Então, a partir de 1988, entrei em rádio, trabalhei muito tempo em rádio, e depois em gravadora. Nesse período, fiquei um pouco sem tempo de trabalhar na noite, era confuso, teve esse hiato. Frederico Nado Só para entender, fez faculdade de jornalismo? Fiz comunicação, publicidade. Frederico Você entrou na rádio através desse universo? Nado Estava na faculdade e uma menina da minha sala, que trabalhava como secretária na rádio, anunciou: “Estou contratando pessoal para trabalhar em promoção. Tá a fim?” Ela sabia que eu gostava de música, na hora falei: “Vambora.” Fiz o teste e passei. Daí não parei mais. Fui trabalhando com divulgação de artista, promoção de rua para ouvinte, fui conhecendo todo mundo de gravadora, de rádio, conheço todo mundo até hoje, trabalhei muito em rádio e gravadora. Fiz esse mercado musical que acompanhou o do dj. Ele me deu também uma outra base, um outro universo, o da música por trás da música. Frederico Passou a entender melhor o mercado em que trabalhava, como o disco chegava até a sua mão, depois como o disco chegava até a plateia, para o público. Nado Nunca larguei a música, de forma alguma, então tudo o que eu consegui está na música. Até hoje, meu conhecimento, minhas realizações estão ligadas com a música, nada além. Não trabalhei em outra coisa a não ser com a música. Sempre foi a música. 24 Como acabou de falar, na virada dos anos 1980 para os 1990, você estava mergulhado neste universo de divulgação musical, trabalhando em gravadora, em rádio e tal. Obviamente você não deve ter parado de tocar, ficou fazendo suas festas privadas, ou tocava em algum lugar. Quando é que começou a perceber, e qual foi a primeira festa que você trabalhou, que estava começando essa cultura que a gente tem hoje das festas do Rio de Janeiro, quando percebeu que estava pintando uma cena profissional nova? Frederico Nado Em 1990 acho que já existia essa cena, eu trabalhava na rádio e dava curso de dj. Comecei dando uns cursos em 1990 para ganhar dinheiro. Existia muita boate, a coisa já estava realizada, bombando na noite, nas boates etc. E tinha alguns djs na rádio que faziam programas à noite, também, então um deles veio falar comigo: “Ah, o outro dj quebrou o braço [risos]. Você não quer ir lá me ajudar? Dividir a noite comigo?” De novo falei: “Vambora!” E era na Babilônia. Frederico Babilônia… Nado Uma boate ali, no Leblon, enorme, gigantesca. Pensei, “será que eu vou segurar essa onda?”, mas fui ajudar. Uma boate enorme, um equipamento gigantesco, luz e tudo, foi em 1990, acho, que eu entrei ali e vi aquela multidão de pessoas, dançando um som já eletrônico, foi assim que percebi. Eu vinha fazendo aquilo há muito tempo, mas talvez tenha sido o primeiro lugar em um grande espaço, as pessoas estavam ali para aquilo, e depois desse dia eu fui ficando mais tempo, fiz matinê lá, deve ter muita gente hoje em dia que frequentou a matinê [risos]. E fiquei alguns anos, até hoje eu tenho uma carteirinha deles, “função: discotecário”. dj nado leal Frederico Da Babilônia? Nado Do Scala. Eu guardo até hoje com carinho isso. Acho que foi o primeiro momento que eu posso considerar profissional, apesar de já ter uma bagagem musical de dj desde os 15 anos, mas ali foi para um grande público que pagava para entrar, não era festinha. Porque ao longo do tempo fazia festinha daqui, festinha de amigo dali, mas ali que eu ganhei o salário, existia esse reconhecimento do dj. Então foi um pulo para o resto, não fui parando, ao contrário. Basicamente fazia as boates da zona sul, e um ou outro baile na zona norte, aos domingos. Fazia um baile ali, no sargento do Rocha, era uma outra historia, outro público. Frederico Em cima da vertente de black? Nado Basicamente em cima de black. Obviamente não dava para sair, eu tentava, mas eu não era muito da outra vertente, claro que tinha que acompanhar o que se tocava no rádio, você tinha que misturar um pouco para o público não reclamar. O cara queria ver as pessoas dançando e gastando. A minha sorte foi poder trabalhar com a zona Sul e a zona Norte, ao mesmo tempo. Ali você tem, obviamente, uma diferença enorme de diferentes estilos, do que as pessoas gostam. Frederico E aí como é que foi a escalada das festas, digamos assim? Você fez o Afronautas, não fez, Nado? Nado Na verdade o AfroRio. O Afronautas foi primeiro, era Paulo Futura, Wellington e Legalê, faziam no Vasco. Frederico Você frequentava? 26 Frequentava. Eu ia lá, porque gostava do estilo, do lugar, achava interessante aquele tipo de festa que era feita, depois acabou, não sei porque, mas essa é uma coisa bem recente, né? O AfroRio deve ter surgido em 1999, 2000, se eu não me engano. Obviamente era uma continuação do Afronautas, só que com outro tipo de música. Tudo bem que o Paulo Futura tocava também black, existia esse caminho de afro, da música negra, mas isso é recente. Trabalhava na rádio e à noite, então começou uma pauleira dia e noite. Dali eu fui rodando para quase todas as boates da Zona Sul, a Mostarda, boate de gente bem nova, depois teve uma Mostarda da Lagoa, era um restaurante, foi a primeira onda de restaurante com uma pistinha, em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas, ali a coisa realmente aconteceu. Depois fui tocar, como era o nome, ali na Lagoa? Uma boate louca, do Carlinhos Bacelar… Nado Frederico Nado Ah, no Sweet Home. Sweet Home. Frederico Pô, você fez o circuito do buxixo naquela época. Nado Foi o circuito que hoje em dia é considerado mainstream. E ao mesmo tempo eu fazia zona Norte aos domingos, porque eu morava na zona norte, sempre morei na Tijuca, e obviamente eu fazia a minha parte ali. E nessa época, 1996, na Sweet Home, me dediquei basicamente ao hip hop, ao black, ali era uma noite exclusivamente para isso. Teve as festas Groovy, não sei se você se lembra, uma festa que começou no mam, ali no anexo que hoje em dia é o Vivo Rio, começou uma coisa diferente, era o Marquinhos Mesquita, eu, era um som completamente diferente. Ali também começaram as festas bem eletrônicas, Valdemente foi a primeira grande festa que dj nado leal teve do underground, assim. Eu frequentava todas, porque queria, também, entender tudo o que estava acontecendo, eu tinha que estar ouvindo, e nisso você vai conhecendo todos os djs, fazendo amizade com todo mundo, você começa a entrar no meio e a coisa começa a acontecer para você, várias festas, vários eventos. Aí a coisa já toma um caminho natural. Você já segue sozinho, o barco vai andando, quando vê está lá na frente, fazendo grandes eventos. O que me interessa muito, como é um livro em cima de djs do Rio de Janeiro, quero tentar montar esse cenário. Na minha opinião – você também concordou agora –, a partir do começo dos anos 1990, realmente teve essa mudança do tipo de relação do carioca com o mundo das festas e da cultura do dj. Chega ao ponto de todo mundo ser um pouco dj. Frederico Nado Exatamente. Acho o seguinte, eu sou de 1967, mas foi a geração 1970, 70 e alguma coisa, que nos anos 1990 começou a ficar com dezoito anos, vinte, e começou a sair. Porque antes era uma geração mais careta. Frederico Mais Clube da Esquina, né? Exatamente. Era uma coisa mais música brasileira, rodinhas, era uma coisa mais tranquila. Eu lembro por causa do meu irmão. Nado Frederico No máximo um hi-fi. Nado É, existia, exatamente, era aquele hi-fi, musiquinha, gente tomando Fanta Laranja com alguma coisa… Então eu acho que essa geração que curtia nos anos 1990 estava ávida por esse tipo de coisa. 28 E tem também um diálogo interessante, porque na Europa foi justamente a época, nos grandes centros, que começa bem forte a música eletrônica. Frederico Nado Lá começou talvez bem mais forte, basicamente na Alemanha. Foi 1989, 1990. Ali começaram realmente as músicas eletrônicas. Houve uma quebra, ali, musicalmente falando, a gente foi para um outro caminho que arrebentou, as grandes raves. E o dj começou a fazer a diferença, o dj começou a produzir o que ele queria tocar na noite, ele sabia o que estava dando certo. A gente, no Brasil, começou a receber essa influência um pouco depois. Porque nessa época demorava a chegar. Frederico É, tinha um gap grande. Nado Para ter um disco você precisava ou viajar ou contratar o teu amigo comissário. Dava uma lista de discos e o cara trazia para você. Ou pagava uma fortuna aqui. Frederico Você falou da Valdemente, e eu lembro que a Valdemente foi uma festa que começou ali por volta de 1992… Nado Talvez um pouco depois, eu não sei. Frederico Nado é, um pouco mais à frente… Frederico Nado 1993… Tivoli Park… É, no Tivoli foi a b.i.t.c.h. Frederico Foi a b.i.t.c.h., que é outra festa. dj nado leal Nado Isso é bem na frente. Eu lembro que a Val e o Fabio fizeram a primeira na rua da Passagem. Era uma coisa muito pequena. Frederico Ah, a gente não falou aqui da Dr. Smith, chegou a tocar lá? Nado Não. Dr. Smith eu freqüentei, também o Crepúsculo de Cubatão. Eu frequentava todas as boates undergrounds que tinham, porque obviamente eu gostava de música, estava inserido no mercado, e meus amigos iam também, época de loucuras e tal. É importante falar da Noites Cariocas, não é a de hoje em dia, que foi onde passaram todos os grandes nomes da música, do brock, não esquecendo o Rock in Rio, em 1985, ali foi um marco para muita gente, foi o primeiro grande festival para quase todo mundo que mora aqui no Rio de Janeiro, quem sabe no Brasil. Frederico Foi mesmo. Nado Foi uma coisa, não imaginava ver tantos artistas num lugar daquele, com aquela infraestrutura que nunca tinha sido vista no Brasil. Frederico Com aquele equipamento… Nado Era incrível! Tudo bem que não teve nenhum dj. Em 1985 o dj ainda não era ninguém, nem para fazer espera. Nem para tocar assim. Então foi divido em dois palcos, tinha um palco menorzinho, não, desculpa, tinha um lugar onde tinha projeção. Naquela época já existia essa parada de projeção, lembro que eu vi lá. Então teve essa época de Rock in Rio, Noites Cariocas no morro da Urca, outro pensamento, ali tinha um dj que era o Dom Pepe, lembro que já existia 30 essa onda do dj tocar antes e depois do show. O Circo Voador formou também muita gente, era outro tipo de música, não tinha música eletrônica, era exatamente o oposto. Mas todo mundo frequentava, independentemente, eu pelo menos frequentava tanto underground, quanto essa outra parte brasileira, porque quem gosta de música não é de segmentar. Não, eu gosto de música, vou frequentar onde eu me sinta bem. E a cultura ali, 1992, 1993, 1995, acho que a mtv entrou, e também alavancou bastante a música. Frederico A mtv entrou em 1990. Nado 1990? Ah, então foi isso, então está certo, achei que era 1995. Assim, a chegada da mtv ajudou, porque vieram os videoclipes, as músicas eletrônicas, começou a formar mesmo visualmente tudo, com a entrada da mtv. Frederico Entrou em 1990 e em 1991 foi o segundo Rock in Rio, no Maracanã. Nado É verdade. Esse eu já fui trabalhando. Frederico Você já trabalhou? Nado Mas não como dj, fui trabalhando porque eu trabalhava na Transamérica e eu fui trabalhando pela rádio. Esse ano, por exemplo, 1993, 1992 – depois a gente bate essas datas –, 1994, eu já lembro de frequentar a Soul Rio na Fundição, que era com o Calbuque, não era? Frederico Nado Eu, Calbuque, Fernandinho, Marquinhos Mesquita. dj nado leal Então fala um pouco aí da Soul Rio, foi um acontecimento. Frederico Nado Foi um acontecimento porque eram cinco mil pessoas dançando black na Fundição Progresso. E dançando junto, era o mesmo passo, vamos dizer assim. Então aquilo foi uma loucura. Mas, naquela época, eu lembro que começou uma junção de pessoas que trabalhavam na noite, que faziam eventos, para fazer uma grande festa ali. Naquela época a música black estava bombada, não sei porque, não me recordo muito, porque nunca tocou em rádio, mas era uma música que todo mundo gostava. Talvez ali tenha sido 1996, não lembro muito bem da época. Foi uma das melhores noites, quando eu saía dali com dinheiro no bolso, feliz da vida, eu chegava em casa e jogava aquele dinheiro em cima da mesa, falava: “Estou ganhando dinheiro!” Frederico E me divertindo. Nado Estava me divertindo muito, ganhando dinheiro, com meus amigos, cheio de gente maneira, todo mundo dançando, tocando o que eu gostava, foi uma época de ouro para mim, também para vários djs que tocavam naquela época, porque todo mundo estava ali por mera diversão. Não havia nenhum outro pensamento a não ser esse. Não tinha essa loucura que está hoje em dia, as pessoas estão procurando alguma coisa e não sabem nem o quê. Então nessa época as músicas eram outras, tinham vários estilos, mas ali a música eletrônica tinha o espaço dela dentro de todo universo. Frederico O Calbuque estava trazendo também uma discotecagem que estava incorporando um reggae, um dancehall. “Este volume da coleção circuito dedicado aos djs não tem a presunção, portanto, de ser obra definitiva ou de tentar explicar esse longo e complexo processo de ascensão do dj como personagem de destaque da nossa contemporaneidade. O que buscamos com as cinco entrevistas a seguir foi oferecer ao leitor e ouvinte de música um convite para entender não só o mundo particular desses cinco djs, mas também apresentar algumas bases da história cultural carioca recente. Afinal, não é sempre que podemos fechar as páginas de um livro que estamos lendo para encontrar, na festa mais próxima, o próprio entrevistado em pleno trabalho.” Frederico Coelho