123 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Indexada nas bases de dados: SciELO WEB OF SCIENCE Scientific Electronic Library OnLine Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Raul Nunes Galvarro Vianna - Niterói - RJ Co-editores Acácio Muralha Neto - Niterói - RJ Ana Luisa Hofling de Lima - Sao Paulo - SP Helena Parente Solari - Niterói - RJ Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS Marcelo Luis Occhiutto - São Paulo - SP Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Paulo Fadel - Curitiba - PR Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Sergio Kwitko - Porto Alegre - RS Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia -EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia -EUA Deepinder Kauer Dhaliwal - Pittsburg - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Howard Fine - Eugene - EUA Jean Jacques De Laey - Ghent -Bélgica Lawrence P. Chong - Califórnia -EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal-Canadá Peter Laibson - Phyladelphia -EUA Steve Arshinoff - Toronto -Canadá Daniel Grigera - Olivos - Argentina Curt Hartleben Martkin - Colina Roma -México Felix Gil Carrasco - México - México Corpo Editorial Nacional Abelardo de Souza Couto Jr.- Rio de Janeiro- RJ Adalmir Mortera Dantas- Niteroi- RJ Antonio Augusto Velasco E Cruz- Ribeirao Preto- SP Ari de Souza Pena- Niteroi- RJ Arlindo Jose Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Carlos Alexandre de Amorim Garcia- Natal- RN Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Ramos de Souza Dias- Sao Paulo- SP Celso Marra Pereira- Rio de Janeiro- RJ Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Denise de Freitas- Sao Paulo- SP Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belem- PA Eduardo Cunha de Souza- Sao Paulo- SP Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Fernando Cançado Trindade- Belo Horizonte- MG Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa- Recife- PE Francisco Grupenmacher- Curitiba- PR LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 68, n. 3, p. 123-90, Mai./Jun. 2009 Francisco Valter da Justa Freitas- Fortaleza- CE Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira- Florianopolis- SC João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Joaquim Marinho de Queiroz- Belem- PA Jose Ricardo Carvalho L. Rehder- Sao Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitoria- ES Leiria de Andrade Neto- Fortaleza- CE Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Claudio Santos de Souza Lima - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Palis Ventura- Niteroi- RJ Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirao Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Maurício Bastos Pereira - RJ Mario Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Miguel Angelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- Sao Paulo- SP Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Newton Kara Jose - Sao Paulo - SP Newton Kara José Jr. - São Paulo - SP Octávio Moura Brasil do Amaral Fo.- Rio de Janeiro- RJ Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Paulo Augusto De Arruda Mello- Sao Paulo- SP Paulo Schor- Sao Paulo- SP Remo Susanna Jr.- Sao Paulo- SP Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niteroi- RJ Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rubens Camargo Siqueira- S.J do Rio Preto- SP Sebastiao Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sergio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- Sao Paulo- SP Tadeu Cvintal- Sao Paulo- SP Valenio Peres Franca- Nova Lima- MG Virgilio Augusto M. Centurion- Sao Paulo- SP Walton Nose- Sao Paulo- SP Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição: Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$240,00 ou US$210,00 124 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2009-2010 Presidente Mário Motta Vice-presidente RJ Aderbal de Albuquerque Alves Jr. Vice-presidentes regionais Fernando Trindade João Borges Fortes Filho Miguel Hage Amaro Roberto Marback Secretário Geral Armando Crema 1º Secretário Almir Ghiaroni 2º Secretário Lília Muralha Tesoureiro Sansão Kac Diretor de Cursos Arlindo Portes Diretor de Publicações Raul Vianna Diretor de Biblioteca Ricardo Lima de Almeida Neves Conselho Consultivo Aderbal de Albuquerque Alves Celso Marra Pereira Morizot Leite Filho Luiz Carlos Portes Miguel Ângelo Padilha Oswaldo Moura Brasil Conselho Fiscal Efetivos Paiva Gonçalves Neto Gilberto dos Passos Giovanni Colombini Suplentes Mário Nagao Octávio Moura Brasil Roberli Bichara Pinto SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Dr. Ari de Souza Pena Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ademar Valsechi Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Fabiano Saulo Rocha Jr. Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moisés de Souza Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dr. Elcio Hideo Sato Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ezequiel Portella Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Beogival Wagner Lucas Santos Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Elias Donato Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Renato Ambrósio Jr. Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Marco Rey Faria Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Ana Estela Besteti P. P. Sant’Anna Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. José Ricardo Lima Rehder Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Celso Klejnberg Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro César Viana de Oliveira Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dra. Cláudia Galvão Brochado Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. David da Rocha Lucena Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Luiz Nogueira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. Paulo Josse Suassuna de Medeiros Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Ivandemberg Velloso Meira Lima Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Manuel Neuzimar Pinheiro Junior Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ofir Dias Vieira Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. César Fracalossi Barbieri Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Joel Carvalhal Borges 125 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 68, n. 3, p. 123-90, Mai./Jun. 2009 Sumário - Contents Editorial 127 O Ensino da Oftalmologia Maria Rosa Bet de Moraes Silva Artigos originais 129 Avaliação clínica comparativa de lentes progressivas na correção da presbiopia Comparative clinical evaluation of progressive addition lenses in presbyopia Adamo Lui Netto, Milton Ruiz Alves, Aline Cristina Fioravanti Lui, Giovana Arlene Fioravanti Lui, Renato Giovedi Filho, Tatiana Adarli Fioravanti Lui, Elizabete Brandão Murer, Chow Wang Ming Shato 134 Facectomia na infância: quem são nossos pacientes? Phakectomy in childhood: who are our patients? Marcony Rodrigues de Santhiago, Beatriz de Abreu Fiúza Gomes, Newton Kara-José Junior, Noêmia Peixoto da Silva, Carlos Patrício Navarrete, Armando Stefano Crema, Yoshifume Yamane, Sergio Henrique Sampaio Meirelles 138 Tratamento aditivo do ceratocone por ‘crosslinking’ do colágeno após implante de anel de Ferrara Addictive treatment of keratoconus with collagen crosslinking after Ferrara ring implant Edna Almodin, Steve Arschinoff, Juliana Almodin, Paulo Ferrara 126 146 Endoscopic cyclophotocoagulation in refractory glaucomas: a long term study Ciclofotocoagulação endoscópica em glaucomas refratários com longo tempo de seguimento Francisco Eduardo Lima, José Beniz Neto, Daniela Toscano, Durval Moraes de Carvalho, Marcos Pereira de Ávila 152 Papel da imunoistoquímica no diagnóstico das alterações oculares na leishmaniose tegumentar americana. Relato clínico-patológico de cinco casos Role of imunohistochemistry in the diagnosis of ocular lesions in mucocutaneous leishmaniasis. Report of five cases Lívia Maria Nossa Moitinho, Luiz Antônio Rodrigues de Freitas, Eduardo Ferrari Marback, Roberto Lorens Marback Relato de Caso 156 Ceratectomia fotorrefrativa (PRK) com mitomicina C a 0,02% para correção de grau acentuado de astigmatismo hipermetrópico composto secundário a cirurgia de ceratotomia radial (RK) Photorefractive keratectomy (PRK) with mitomicyn C 0,02% for the management of high degree of hyperopic astigmatism following radial keratectomy Adamo Lui Netto,Giovana Arlene Fioravanti Lui, Aline Cristina Fioravanti Lui, Tatiana Adarli Fioravanti Lui, Marizilda Rita de Andrade 161 Maculopatia tóxica por cloroquina Chloroquine toxic maculopathy Nikias Alves da Silva, Felício Aristóteles da Silva 168 Hipertensão intracraniana idiopática de apresentação atípica com papiledema unilateral Unilateral papiledema as an atypical presentating sign of idiopathic intracranial hyperthension André Luís Freire Portes, Carolina do Val Ferreira Ramos, Juliana dos Santos Nunes, Renata Valdetaro, Mário Luiz Ribeiro Monteiro Artigo de Revisão 175 Lentes asféricas: avaliação da indicação clínica e das opções de lentes Aspherical IOLs: clinical evaluation and options Newton Kara-Jose Junior, Marcony Rodrigues de Santhiago 180 Troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR) Refractive lens exchange Flavio Rezende, Renata Rezende Bisol, Tiago Bisol Instruções aos autores 188 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 127 O Ensino da Oftalmologia O ensino da Oftalmologia para o médico compreende três níveis: Graduação, Residência Médica (Especialização) e Pós-Graduação. Embora o objetivo geral de todos seja o mesmo, ou seja, por meio do conhecimento e aquisição de habilidades específicas, evitar a cegueira, melhorar a visão e/ou a qualidade de vida dos pacientes, cada um destes níveis de ensino tem objetivos mais específicos. Na Graduação visa capacitar o médico não especialista a diagnosticar e tratar algumas doenças oculares, fazer o pronto atendimento e o encaminhamento adequado de outras (atendimento ocular primário). Na Residência, é complexo, engloba várias subáreas e visa capacitar o novo especialista em oftalmologia à diagnosticar, tratar e acompanhar as doenças oculares em todas as sub-áreas. Na Pós-Graduação o objetivo mais específico é o de formar pesquisadores e professores da especialidade. Porém, gostaria de enfocar principalmente a Residência (Especialização) que é dos 3 níveis aquela em que os docentes (professores universitários ou especialistas de serviços credenciados) possivelmente mais dedicam seu tempo e suas preocupações. Nos últimos tempos a complexidade da Oftalmologia aumentou muito em função de evolução e inovações em suas diversas subáreas, decorrentes tanto de grandes estudos epidemiológicos, ensaios clínicos multicêntricos, de pesquisas básicas como de inovações tecnológicas de instrumentos e de equipamentos, o que tornou o ensino do especialista ainda mais difícil e complexo, agravado pelo mundo moderno que gerou corrida, competição, individualismo e a falta de formação humanística no colegial. Desta forma, o ensino precisa se adaptar às novas necessidades e desafios e engloba, além de transmitir conhecimento e habilidades, medir a habilidade e aplicação do conhecimento no contexto clínico e inferir competências. Precisamos preparar profissionais que além da ciência da medicina, tenham capacitações baseadas na prática, no sistema básico de saúde, conhecimento na atualização de revisões, principio de negócios, controle de custos e principalmente com boa relação médico-paciente, ética e humanização. O modelo de ensino da residência tradicional (ver um, faça um, ensine um) precisa se adaptar às novas necessidades e aos novos desafios. Para vencer todos estes obstáculos, a definição de competências de métodos de ensino e ferramentas de avaliação deste ensino se fazem necessários. Assim os docentes e preceptores que têm sob sua responsabilidade a formação do especialista, precisam além de estar atualizados com a especialidade, gerar conhecimento através da pesquisa, estar aptos a ensinar e avaliar o ensino conforme as novas necessidades. As mudanças que ocorreram exigem definição de novas capacitações e ferramentas adequadas para medi-las. O oftalmologista de modo geral costuma estar aberto às inovações técnicas da especialidade, recebe bem “consensos”, “guide-lines” e manuais, procura se atualizar em congressos, leituras, etc. e seguir prontamente as condutas ou orientações deles emanadas. Da mesma forma que o especialista recebe novas informações sobre a oftalmologia, as analisa e procura pô-las em prática, o professor da especialidade também deveria fazê-lo continuadamente com relação ao ensino. Mas isto não parece ser o que ocorre. Diria mesmo que há uma certa resistência quanto a mudanças nesta área. Novas capacitações do especialista foram definidas pelo Conselho de Acreditação para Educação Médica Graduada nos Estados Unidos (organização responsável pela aprovação de 7.800 de programas de residência que incluem o de oftalmologia), após extensivo processo de revisão de curricula publicados, levantamentos e pesquisas educacionais, entrevistas com entidades governamentais, fundações públicas e privadas, reitores, comitês de residência, diretores de programas de residência, residentes, especialistas que atuam em consultórios e pessoal de saúde. A partir daí foram definidas seis competências: cuidado do paciente, conhecimento médico, conhecimento baseado na prática, habilidade de comunicação e interpessoal, profissionalismo e prática baseada no sistema e depois foi acrescentada competência cirúrgica(1). Também foram propostas ferramentas para avaliação destas competências evitando a subjetividade. O International Council of Ophthalmology (ICO) vem ministrando em todo mundo cursos sobre o ensino da oftalmologia, procurando assim atender às novas necessidades e desafios. Também no Brasil a ICO juntamente com o CBO ofereceram o curso em 2008, propiciando reflexão e facilitando modificações no ensino para torná-lo mais profissional. Claro fica que não se pode fazer mudanças de uma vez mas por fases. Numa primeira fase deveriam ser definidas as competências, adequá-las a nossa realidade e progressivamente avaliá-las. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 127-8 128 O Ensino da Oftalmologia Dos 3 níveis enfoquei principalmente o da especialidade não querendo dizer que Graduação e Pós-Graduação não necessitem também de reflexão e de mudanças. Levantamento feito em 6 escolas médicas do estado de São Paulo mostrou insuficiência do conhecimento de oftalmologia pelos médicos não oftalmologistas pois nenhuma das 16 questões aplicadas obteve o acerto < 80% considerado bom(2), o que sugere haver necessidade de reavaliações também no ensino da Graduação. O ensino da Pós-Graduação (senso strictu) em Oftalmologia vem ganhando espaço dentro da Universidade nos últimos anos em detrimento do ensino da especialidade propriamente dita, pois gera pesquisa e esta tem sido muito valorizada não só dentro da Universidade mas também pelas agências de fomento, não se deve esquecer porém, que a Pós-Graduação além de pesquisadores deve também formar docentes. Concluindo diria que é preciso ensinar (e avaliar) mais do que diagnóstico e habilidades cirúrgicas, mas também ética, eficiência, profissionalismo e não se deveria deixar estas falhas só para a educação continuada ou estágios complementares. Muitos não poderão fazê-los. Isto exige capacitação permanente dos responsáveis pela formação dos novos profissionais. Por outro lado, acarreta mais tarefas para os professores já tão atribulados e muito pouco reconhecidos por este trabalho. A solução do problema necessita assim, não só do reconhecimento por parte dos docentes da necessidade de mudanças e da decisão de mudar, mas em grande parte pela própria valorização do ensino. Maria Rosa Bet de Moraes Silva Livre-docente, Professora Adjunto do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP REFERÊNCIAS 1. 2. Lee AG. The new competencies and their impact on resident training in ophthalmology. Surv Ophthalmol. 2003;48(6): 651-62. Ginguerra MA, Ungaro ABS, Villela FF, Kara José AC, kara-José N. Aspectos do ensino de graduação em oftalmologia. Arq Bras Oftalmol. 1998;61(5):546-8. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 127-8 ARTIGO ORIGINAL 129 Avaliação clínica comparativa de lentes progressivas na correção da presbiopia Comparative clinical evaluation of progressive addition lenses in presbyopia Adamo Lui Netto1, Milton Ruiz Alves2, Aline Cristina Fioravanti Lui3, Giovana Arlene Fioravanti Lui4, Renato Giovedi Filho5, Tatiana Adarli Fioravanti Lui6, Elizabete Brandão Murer7, Chow Wang Ming Shato7 RESUMO Objetivo: Avaliar o desempenho clínico de lentes progressivas (LP) em présbitas amétropes, comparando LP Gradal Top® às LP que usavam. Métodos: Realizou-se um estudo clínico com 40 présbitas satisfeitos com seus óculos com adição <2,00D, atualizados e aviados com LP de várias marcas. Todos foram submetidos a exame oftalmológico completo e receberam os novos óculos com lentes progressivas Gradal Top® fornecidos sem custo por Carl Zeiss Vision do Brasil. As avaliações foram feitas em entrevista durante a qual se anotavam os resultados. Para a avaliação do desempenho clínico das LP foram utilizados três questionários. O primeiro foi respondido quando do fornecimento dos novos óculos e dizia respeito à avaliação das LP em uso. Os outros dois foram respondidos após 2 a 3 semanas de uso dos LP Gradal Top®. O desempenho visual foi avaliado com notas de 1 a 10, sendo consideradas a qualidade da visão de perto, intermediária e dinâmica (passagem da visão de perto para a intermediária), adaptação e satisfação geral com as LP e preferência entre as LP anteriores e as LP Gradal Top®. Resultados: Em todos os itens constantes dos questionários o desempenho visual de Gradal Top® foi superior àquele das LP anteriores. Em comparação aos óculos que usavam, 33 présbitas (82,5%) preferiram Gradal Top® e 5 (12,5%) preferiram as LP anteriores. Para dois présbitas (5%) não houve diferença. Conclusão: Na maioria dos présbitas amétropes estudados as LP Gradal Top® demonstraram desempenho clínico superior às LP anteriormente usadas. Descritores: Presbiopia; Lentes progressivas; Satisfação do paciente 1 Doutor , Professor Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – FCMSCMSP; Chefe das seções de lentes de contato e Cirurgia Refrativa do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil; 2 Livre-docente, Professor e Chefe do Setor de Doenças Externas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; 3 "Fellow” do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São Paulo e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; 4 Residente do Instituto de Olhos da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC – Santo André (SP), Brasil; 5 Doutor, Chefe da Seção de Refração do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia São Paulo – São Paulo (SP), Brasil; 6 Acadêmica da Faculdade de Medicina da Fundação Educacional Serra dos Órgãos de Teresópolis – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 7 Assistente Voluntário das Seções de Refração e Lentes de Contato do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 18/12/2008 - Aceito para publicação em 29/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 129-33 130 Netto AL, Alves MR, Lui ACF, Lui GAF, Giovedi Filho R, Lui TAF, Murer EB, Shato CWM INTRODUÇÃO A redução fisiológica da capacidade acomodativa, caracterizada pela diminuição da acuidade visual para perto e cansaço visual, faz-se sentir a partir da quinta década de vida. A redução da capacidade de acomodação decorre principalmente da perda de elasticidade do cristalino e sua manifestação está relacionada com o tipo de erro de refração, sendo percebida de modo mais precoce nos hipermétropes e mais tardiamente nos míopes(1-3). Os óculos monofocais para perto são indicados para emétropes na fase inicial da presbiopia. Em amétropes présbitas preferem-se geralmente lentes bifocais, trifocais ou progressivas (LP)(1-5). As lentes bifocais e trifocais causam mudança abrupta de poder dióptrico quando a linha de visão passa de um segmento da lente para outro. São antiestéticas e podem gerar diplopia e salto da imagem. Atualmente as LP praticamente substituíram as lentes bifocais e trifocais por oferecerem maior praticidade e conforto e proporcionarem correção visual para todas as distâncias em uma única lente. Mas nem sempre foi assim. A tecnologia das LP que na década de 60 deixava a desejar evoluiu de tal forma que a partir dos anos 80 as LP ganharam a preferência da maioria dos amétropes présbitas. Com novos materiais, desenhos e tecnologia mais avançada, as LP hoje podem oferecer transição mais suave entre todos os campos de visão e consequentemente maior conforto pelo fato de a transição se dar de forma mais natural(4). A partir da seleção de indivíduos amétropes présbitas bem adaptados as suas LP atualizadas, realizou-se este estudo clínico, que teve por objetivo avaliar comparativamente a preferência e o desempenho clínico das LP em uso e aquele das LP Gradal Top® (Carl Zeiss Vision). MÉTODOS Realizou-se um estudo clínico aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (Projeto no 286/08; aprovação 28/08/2008) com 40 présbitas satisfeitos com seus óculos atualizados, aviados com LP de várias marcas, com adição de 2,00 D ou mais, que concordaram em tomar parte no estudo e para isto assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Todos foram submetidos a exame oftálmico completo e receberam os novos óculos aviados com LP Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 129-33 Gráfico 1 Representação gráfica da avaliação do desempenho clínico das lentes progressivas em uso (linha vermelha) e das lentes Gradal Top® (linha verde) Gradal Top® fornecidos sem custo por Carl Zeiss Vision. Anotaram-se: idade, sexo, acuidade visual corrigida para longe e perto, equivalente esférico do erro refrativo, valor da adição e fabricante da lente progressiva em uso. Para a avaliação do desempenho clínico das LP foram utilizados três questionários. O primeiro foi respondido pelos participantes quando do fornecimento dos óculos do estudo e dizia respeito à avaliação das LP que vinham utilizando Questionário 1 (Anexo). Os outros dois questionários (Questionários 2 e 3) foram respondidos pelos participantes após 2 a 3 semanas de uso dos óculos recebidos no estudo (Anexo). As avaliações foram feitas por entrevista durante a qual se preencheu um questionário construído para conferir notas de 1 a 10 itens como a qualidade da visão de perto, intermediária e dinâmica (passagem da visão de perto para a intermediária); adaptação e satisfação geral com os óculos; preferência entre as LP do estudo e as que usavam. Na análise de resultados adotou-se nível de significância de 5% (α=0,05), correspondente a probabilidade de erro (p) < 0,05, valor considerado estatisticamente significativo.. Empregou-se o teste estatístico não paramétrico Wilcoxon Signed Ranks Test para a avaliação de desempenho clínico comparando as LP em uso e as do estudo. Para a análise dos resultados criou-se um banco de dados no programa Microsoft Access 2000 e empregaramse os programas Microsoft Excel 2000 e SPSS for Windows release 10.0.1, 1999. 131 Avaliação clínica comparativa de lentes progressivas na correção da presbiopia Tabela 1 Resultados da avaliação de desempenho clínico das lentes progressivas testadas Comparação das notas atribuídas pelos usuários LP em uso* LP Gradal Top® Z Valor de p 9,0 8,3 7,3 8,3 8,3 8,6 8,3 9,6 8,9 8,7 8,8 9,2 9,3 9,3 -3,535 -4,349 -4,210 -3,144 -4,779 -4,520 -4,679 0,000 0,000 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 Acuidade visual para longe Acuidade visual intermediária Acuidade visual para perto Acuidade visual dinâmica Avaliação geral do conforto visual Avaliação geral da adaptação aos óculos Avaliação geral da satisfação com os óculos Wilcoxon Signed Ranks Test based on negative ranks *Fabricantes das LP em uso: Essilor-Varilux (32), Sola-Zeiss (5) e Hoya (3) Tabela 2 Resultados da avaliação de preferência pelas lentes progressivas testadas Preferência Para longe nº % Qualidade da acuidade visual intermediária Para perto nº % nº % dinâmica nº % nº % LP em uso LP Gradal Top® Sem preferência 3 22 15 7,5 55,0 37,5 4 23 13 10,0 57,5 32,5 7 24 9 17,5 60,0 22,5 5 21 14 12,5 52,5 35,0 5 33 2 12,5 82,5 5,0 Total 40 100 40 100 40 100 40 100 40 100 RESULTADOS A média de idade dos pacientes foi de 56,50 ± 5,29 anos, com distribuição igualitária entre os sexos. Os valores de média dos equivalentes esféricos (EE) dos olhos direito e esquerdo foram, respectivamente, -0,27 ± 2,74 D e -0,37± 2,74 D. A média de adição de perto foi de 2,50 ± 0,30 D. Os resultados de avaliação do desempenho clínico das lentes progressivas estão nas Tabelas 1 e 2 e no Gráfico 1. Os resultados da avaliação de preferência pelas lentes progressivas testadas estão na Tabela 2. Dos 40 participantes, 33 (82,5%) declararam preferência pelas LP Gradal Top®, 5 (12,5%) preferiram as que estavam usando e 2 (5%) não notaram diferença. Na avaliação de preferência pelas LP, considerando-se a porcentagem de participantes que declararam suas preferências em cada um dos quesitos testados, entre 52,%e 60,0% preferiram a qualidade visual das LP Gradal Top®, entre 7,5% e 17,5% preferiram a qualidade visual das LP em uso e 22,5% a 37,5% não mani- Preferência geral festaram preferência . Em relação à preferência geral, 33 (82,5%) indicaram preferência pelas LP Gradal Top®, 5 (12,5%) pelas LP em uso e 2 (5%) não acusaram preferência (Tabela 2). DISCUSSÃO Tanto pela idade quanto pela adição em suas correções, as pessoas incluídas no estudo se encontravam altamente motivadas para prosseguir no uso de LP. Referindo-se aos fatores de êxito no uso de LP, Tunnacliffe(6) destaca primeiramente a satisfação com as LP anteriores, critério adotado para a inclusão dos sujeitos neste estudo. O desempenho visual com as LP Gradal Top® em comparação às LP em uso obteve notas superiores em todos os quesitos pesquisados (Tabela 1 e Gráfico 1). Tais achados podem refletir os cuidados na montagem e a tecnologia envolvida. As LP estudadas tiveram suas zonas ópticas para longe aumentadas em até 15% em função da redução do erro astigmático efetivo ocorrido na sua periferia. O desenho da lente para cada material, Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 129-33 132 Netto AL, Alves MR, Lui ACF, Lui GAF, Giovedi Filho R, Lui TAF, Murer EB, Shato CWM ANEXO Questionário 1. Avaliação dos óculos com lentes progressivas em uso (quando do recebimento dos óculos do estudo). Avaliar com notas de 0 a 10: 1. Acuidade visual para longe 2. Acuidade visual intermediária 3. Acuidade visual para perto 4. Acuidade visual dinâmica 5. Avaliação geral do conforto visual 6. Avaliação geral da adaptação aos óculos com as lentes progressivas 7. Avaliação geral da satisfação com os óculos Questionário 2. Avaliação dos óculos com lentes progressivas fornecidas pelo estudo (após 2 semanas de uso). Avaliar com notas de 0 a 10: 1. Acuidade visual para longe 2. Acuidade visual intermediária 3. Acuidade visual para perto 4. Acuidade visual l dinâmica 5. Avaliação geral do conforto visual 6. Avaliação geral da adaptação aos óculos com as lentes progressivas 7. Avaliação geral da satisfação com os óculos Questionário 3. Avaliação da preferência final. Assinalar com “X”: 1. Qualidade da acuidade visual para longe óculos anteriores ( ) óculos atuais ( ) 2. Qualidade da acuidade visual intermediária óculos anteriores ( ) óculos atuais ( ) 3. Qualidade da acuidade visual para perto óculos anteriores ( ) óculos atuais ( ) 4. Qualidade da acuidade visual dinâmica óculos anteriores ( ) óculos atuais ( ) 5. Preferência geral óculos anteriores ( ) óculos atuais ( ) sem preferência ( ) sem preferência ( ) sem preferência ( ) sem preferência ( ) sem preferência ( ) base e adição, tornaram-nas personalizadas para cada prescrição e sua superfície externa asférica fizeram-nas cosmeticamente mais atraentes e aprimoraram suas propriedades ópticas(7-8). nho clínico das LP Gradal Top® foi superior às LP em uso nas avaliações de visão de longe, de perto, intermediária, visão dinâmica, adaptação, conforto e satisfação geral com o produto. CONCLUSÃO ABSTRACT No grupo de 40 estudados constatou-se preferência de 33 (82,5%) présbitas pelas LP Gradal Top® em em comparação com as LP em uso (12,5%). O desempe- Purpose: To study the clinical performance of progressive addition lens (PAL) Gradal Top®, Carl Zeiss Vision compared with other PAL lenses previously worn by Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 129-33 133 Avaliação clínica comparativa de lentes progressivas na correção da presbiopia presbyopic ametropes. Methods: Forty presbyopes satisfied with their PAL spectacles (addition <2.00D) were included in the study. Following a complete ophthalmologic examination all presbyopes received new prescription glasses fitted with Gradal Top® PAL supplied by Carl Zeiss Vision Brasil at no cost. Evaluation occurred during an interview and the results were recorded in three different forms. The first form concerned the PAL formerly worn and was completed at delivery of the new glasses. The two remaining forms were completed two or three weeks after wearing Gradal Top®. The visual performance was graded from 1 to 10, and concerned near, intermediate and dynamic (shift from near to intermediate) visual acuity, patient adjustment to PAL and patient satisfaction. Results: According to all variables on the record form, visual performance with Gradal Top® was better than with the previously worn PAL. Thirty-three patients (82.5%) preferred Gradal Top®, five patients (12.5%) preferred their former PAL and two patients (5%) showed no preference. Conclusion: For most of the studied patients Gradal Top® showed better clinical performance than the formerly worn PAL. Keywords: Presbyopia; Progressive addition lenses; Patient satisfaction REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Alves AA. Presbiopia. In: Alves AA. Refração. 3a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2000. p.107-24. Uras R, Alves MR, Alves AA. Vícios de refração. In: KaraJosé, N; Almeida GV: Senilidade ocular. 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Phakectomy in childhood: who are our patients? Marcony Rodrigues de Santhiago1,Beatriz de Abreu Fiúza Gomes2,Newton Kara-José Junior3, Noêmia Peixoto da Silva4,Carlos Patrício Navarrete5, Armando Stefano Crema5, Yoshifume Yamane6, Sergio Henrique Sampaio Meirelles7 RESUMO Objetivo: Analisar o perfil dos pacientes até 10 anos de idade, submetidos à facectomia no setor de catarata do Hospital da Piedade, determinando as principais indicações, perfil sócioeconômico e características pré-natais nos casos relevantes. Métodos: Foram analisados retrospectivamente, os dados de 60 pacientes com até 10 anos de idade, submetidos à lensectomia, dentro do período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007. Todas as cirurgias foram realizadas no setor de catarata do Hospital da Piedade, pelo mesmo cirurgião. Os responsáveis pelas crianças foram submetidos a questionário. Resultados: Dos 60 pacientes, 25 eram do sexo feminino (42 %) e 35 do sexo masculino (58 %). 42 pacientes (70%) apresentavam o diagnóstico de catarata congênita, 8 (13%) tinham subluxação de cristalino e 10 (17%) foram submetidos à lensectomia devido à baixa da acuidade visual associada à catarata traumática. Entre as mães dos pacientes com catarata congênita, 40 (95%) realizaram pré natal com mais de 5 consultas, destas 9 mães (22,5%) foram infectadas pelo vírus da rubéola durante a gestação. Nos casos referentes à subluxação todos os 8 apresentavam síndrome de Marfan. Os 10 casos de trauma foram em meninos. Conclusões: Foi possível verificar que a grande maioria de nossos pacientes submetidos à facectomia apresentava catarata congênita e um número relevante dos casos encontrava-se ainda relacionado à rubéola. É fundamental diminuir o tempo entre a suspeita diagnóstica e o atendimento especializado, favorecendo o prognóstico visual dessas crianças. Descritores: Catarata/congênito; Catarata/diagnóstico; Catarata/epidemiologia; Ambliopia; Estudos retrospectivos 1 Estagiário do Setor de Catarata e Cirurgia Refrativa do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; 2 Pós-graduanda (Mestrado) do Serviço de Oftalmologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Livre-docente, Professor Colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; Chefe do Setor de Catarata do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; 4 Medica Assistente do Setor de Catarata do Hospital da Piedade – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 5 Chefe do Setor de Catarata do Hospital da Piedade – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 6 Chefe do Setor de Estrabismo do Hospital da Piedade – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 7 Chefe do Serviço de Oftalmologia do Hospital da Piedade – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Pesquisa realizada no setor de catarata do Hospital da Piedade – Rio de Janeiro – (RJ ), Brasil. Recebido para publicação em: 23/9/2008 - Aceito para publicação em 28/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 134-7 135 Facectomia na infância: quem são nossos pacientes? INTRODUÇÃO D e acordo com a Organização Mundial de Saúde a prevalência de cegueira na infância varia de acordo com as condições de desenvolvimento sócioeconômico e com as taxas de mortalidade infantil dos países. Atualmente estima-se que a catarata pediátrica tratável seja responsável por 10 a 20 % dos casos de cegueira na faixa etária até os 10 anos(1). Representa ainda uma importante parcela das crianças com visão subnormal no Brasil(2). A cirurgia de catarata na infância continua sendo um desafio para a oftalmologia do terceiro milênio, fazendo-se necessário o seu diagnóstico e tratamento precoce, visando à obtenção de bons resultados funcionais. A recuperação da transparência do eixo visual não é suficiente para a um bom resultado, sendo fundamental o combate à ambliopia por vários anos com equipe multidisciplinar(3). No Brasil, acomete um grande número de crianças, conforme estudos já realizados, podendo a catarata resultar de malformações oculares congênitas, infecções intrauterinas, síndromes genéticas, alterações sistêmicas com erros inatos do metabolismo, hereditariedade, uso de medicamentos, trauma, radiação ou ser idiopática.(4-6) O objetivo do presente estudo foi analisar o perfil dos pacientes até 10 anos de idade, submetidos à facectomia no setor de catarata do Hospital da Piedade, determinando as principais indicações, perfil sócioeconômico e características pré-natais nos casos relevantes. Gráfico 1 Distribuição da amostra em relação ao sexo – Facectomia na infância no Hospital da Piedade Gráfico 2 Distribuição da amostra quanto ao diagnóstico pré-operatório – Facectomia na infância no Hospital da Piedade MÉTODOS O estudo foi realizado após aprovação em comitê de ética e pesquisa do Hospital Municipal da Piedade. Foram analisados retrospectivamente os prontuários de 60 pacientes atendidos no setor de catarata congênita do Hospital da Piedade, entre o período de janeiro de 2006 a outubro de 2007,e aplicado questionário estruturado aos 60 genitores. Utilizou-se como critério de inclusão crianças submetidas à facectomia, até 10 anos de idade. Foram excluídos os prontuários que não apresentavam exame diagnóstico preciso ou facectomia em crianças maiores de 10 anos. Investigou-se a indicação da facectomia, sexo, idade ao procurar o serviço oftalmológico, perfil dos pais através de questionário, intercorrências perinatais, infecções maternas durante a gestação, uso de drogas ou fumo durante a gestação, realização de pré-natal, prematuridade, afecções sistêmicas da criança e malformações associadas. RESULTADOS Dos 60 pacientes estudados, 25 eram do sexo feminino e 35 do sexo masculino . (Gráfico 1). A idade das crianças submetidas à lensectomia no momento da pesquisa variou de 0 a 10 anos, com média de 5,7 ± 3,3 anos. Quarenta e dois pacientes (70 %) apresentavam catarata congênita, 8 (13 %) subluxação associada à síndrome e 10 (17%) catarata relacionada à trauma. (Gráfico 2). As oito crianças que apresentavam luxação subtotal do cristalino tiveram diagnóstico de Síndrome de Marfan. Observamos ainda que os 10 casos de catarata relacionada a trauma ocorreram em meninos. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 134-7 136 Santhiago MR, Gomes BAF, Kara-José Junior N, Peixoto da Silva NP, Navarrete CP, Crema AS, Yamane Y, Meirelles SHS Nos casos de catarata congênita, a suspeita de alteração ocular, por leigo ou pediatra, ocorreu em 95 % dos casos até os 3 meses de idade. No entanto, a consulta e confirmação diagnóstica ocorreu até os 3 meses em somente 25 % dos pacientes. A maioria dos pacientes foi consultado 3 meses após a suspeita. Das mães dos pacientes do grupo com catarata congênita (42 crianças), 95 % (40 mães) realizaram prénatal com mais de cinco consultas. Destas, 9 apresentaram diagnóstico sorológico de infecção por rubéola durante a gestação, 2 casos de toxoplasmose e houve um caso de sífilis. Duas genitoras não realizaram nenhum exame pré-natal. Quanto ao perfil socioeconômico dos pais de todas as crianças envolvidas no estudo, não apenas as com catarata congênita, verificou-se que a renda familiar na maioria dos casos (78%) foi de 1 a 3 salários mínimos (Tabela 1). Em relação às genitoras, a maior parte (83%) apresentava 1° grau incompleto, enquanto que a maioria dos genitores (55%) apresentava 2° grau incompleto (Tabela 2). Quarenta e seis pacientes (76%) tinham pais casados, 7 (12%) viviam com mãe solteira e 7 (12%) apresentavam pais vivendo em regime de concubinato (Tabela 1). Vinte e cinco mães (42%) declararam-se fumantes e 10 (17%) disseram ter usado drogas durante a gestação. DISCUSSÃO Do número estimado de 1,4 milhões de crianças cegas no mundo, a catarata é responsável por 190.000 casos e a incidência varia de 1 a 3 para cada 10.000 nascidos vivos(1,7). Associado ao número de cirurgias do cristalino devido a luxação subtotal e trauma, esta conduta ganha participação fundamental no cenário sócioeconômico, principalmente no que se refere aos países em desenvolvimento. A maioria das lensectomias em crianças realizadas no Hospital da Piedade no período de estudo, foi por conta de catarata congênita. Destes casos, 95 % das mães realizaram pré-natal com mais de 5 consultas e em 9 pacientes (22,5%) fez–se diagnóstico sorológico de rubéola e em 2 de toxoplasmose. Os dados do presente estudo foram compatíveis com estudos prévios realizados no Brasil que identificaram a rubéola como causa em 20,9%(4), 14,5%(5) e 32,5%(8). Até o desenvolvimento recente da vacina da Rubéola esta representava o fator etiológico em 15% de todas as cataratas congênitas nos EUA. No Brasil, a rubéola e a toxoplasmose são a primeira e a segunda causa infecciosa de catarata congêni- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 134-7 Tabela 1 Estado civil e renda familiar dos genitores das crianças submetidas à facectomia no Hospital Municipal da Piedade Estado civil n % Casado Solteiro Concubinato 46 7 7 76 12 12 Renda familiar* <1 1–3 >3 6 47 7 10 78 12 * Em salário mínimo Tabela 2 Grau de instrução dos genitores das crianças submetidos à facectomia no Hospital Municipal da Piedade. Grau de instrução Analfabeto 1° grau incompleto 1° grau completo 2° grau incompleto 2° grau completo Superior incompleto Superior completo Total Mães Pais n % n % 0 50 1 5 2 1 1 60 0 83,3 1,7 8,3 3,3 1,7 1,7 100 0 19 2 33 2 1 3 60 0 31,7 3,3 55,0 3,3 1,7 5,0 100 ta, sugerindo falhas na saúde pública do país(3,6). A maior parte dos genitores do estudo se encontra na faixa que recebe entre 1 e 3 salários mínimos, grande parte com 1º grau incompleto. Considerando o fato de o Hospital Municipal da Piedade atender prioritariamente a população de baixa renda, parece ser fundamental o estabelecimento de protocolos de “screening” evitando o longo tempo de espera entre a suspeita diagnóstica e o atendimento especializado. O diagnóstico de catarata congênita é muitas vezes difícil e pode passar despercebido pelos pais ou pelo pediatra, principalmente se não apresentar leucocoria(5). Foi possível identificar que em apenas 25% de nossos casos o atendimento ocorreu dentro de 3 meses, nos casos de catarata congênita. O diagnóstico precoce associado à referência ao atendimento especializado seguido de conduta adequada é a maneira mais eficaz de combate ao prognóstico visual desfavorável(9-10). 137 Facectomia na infância: quem são nossos pacientes? O melhor acesso da população aos serviços especializados, além de programas de prevenção realizados em comunidades carentes pode contribuir de maneira significativa na redução da incidência de cegueira irreversível na infância(2,4). Em muitos casos, as crianças já se apresentam, no momento do diagnóstico, com nistagmo, indicando irreversibilidade, de modo que é fundamental estabelecer medidas eficazes para reduzir o tempo entre a suspeita diagnóstica e a primeira consulta ao especialista(10). Atualmente é possível se realizar a facectomia de forma segura na infância com excelente prognóstico visual(1,9). ABSTRACT Objective: To analyze the profile of the patients who were submitted to phakectomy at the cataract service of the Hospital da Piedade, under the age of 10 years old, evaluating the main indications, the socioeconomic and gestational profiles in the relevant cases. Methods: Data of 60 patients under the age of 10 years old submitted to lensectomy, were retrospectively analyzed, during the period between January of 2006 and December of 2007. All the surgeries were performed at the cataract service of the Hospital da Piedade, by the same surgeon. Results: Of the 60 patients, 25 were female (42%) and 35 were male (58 %). 42 patients (70%) had the diagnostic of congenital cataract, 8 (13%) had subluxated lens and 10 (17%) had lensectomy for traumatic cataract. Considering congenital cataract patient’s mothers, 40 (95%) underwent prenatal exams with more than 5 appointments, 9 (22.5%) of them were infected by rubella virus during the pregnancy. In subluxation cases, 8 had Marfan’s syndrome. 10 cases of trauma occurred in boys. Conclusion: It was possible to verify that the majority of our patients submitted to phakectomy had congenital cataract and there is an important number of cases that still associated to rubella. Decreasing time since the suspect until the specialized consultation, will improve the visual prognosis of the children. Keywords: Cataract/congenital; Cataract/ diagnosis; Cataract/ epidemiology; Amblyopia; Retrospectives studies REFERÊNCIAS 1. Gilbert C, Foster A.Childhood blindness in the context of VISION 2020—the right to sight.Bull World Health Organ. 2001;79(3):227-32. 2. Tartarella MB, Nakano K, Castro CT, Martins AP. Visão subnormal em crianças. Arq Bras Oftalmol. 1991;54(5):221-4. 3. Ventura M. Catarata congênita. In: Rezende F. Cirurgia de catarata. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2002. 4. Oliveira ML, Di Giovanni ME, Porfirio Neto Jr F, Tartarella MB. Catarata congênita: aspectos diagnósticos, clínicos e cirúrgicos em pacientes submetidos a lensectomia. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(6):921-6. 5. Adam Netto A, Peres SO. Catarata na infância: estudo de 106 casos. Rev Bras Oftalmol. 1998;57(12):903-8. 6. Kitadai SP, Bonomo PP. Catarata congênita: freqüência etiológica. 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Santhiago Rua Ataulpho Coutinho, nº 200, apt 1202 Condomínio Mandala - Barra da Tijuca CEP 22793-520 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 134-7 ARTIGO ORIGINAL 138 Tratamento aditivo do ceratocone por ‘crosslinking’ do colágeno após implante de anel de Ferrara Addictive treatment of keratoconus with collagen crosslinking after Ferrara ring implant Edna Almodin1, Steve Arschinoff2, Juliana Almodin3, Paulo Ferrara4 RESUMO Objetivo: Este trabalho tem como objetivo relatar experiência com utilização do crosslinking após implante de anel intracorneano de Ferrara (Ferrara Ophtalmic) visando a melhora refrativa e estabilização corneana. Métodos: Seis pacientes com idade entre 26 e 38 anos foram submetidos ao tratamento com crosslinking após implante de anel de Ferrara. Cinco pacientes receberam 2 segmentos de anel e um paciente recebeu um segmento. Depois de 4 a 55 meses os pacientes foram submetidos a aplicação do “crosslinking” com ultra-violeta de acordo com o protocolo estabelecido por Seiler & cols. Resultados: Quatro olhos apresentaram alteração progressiva da refração e 2 apresentaram refração sem alteração progressiva. A topografia mostrou queda acentuada da curvatura e o estudo da lâmpada de fenda mostrou anel em boa profundidade durante um ano de pós-operatório em 100% dos olhos. A microscopia especular não mostrou alteração significativa e a acuidade visual se mostrou semelhante ao pré-operatório. Conclusão: O crosslinking poderá ajudar a manter ceratocones estáveis, não-somente nos casos de progressão, mas também nos cones evolutivos com implante de anel. Descritores: Ceratocone/cirurgia; Anel intraestromal; Córnea/cirurgia; Córnea/ patologia; Acuidade visual; Agentes fotossensibilizantes/uso terapêutico; Riboflavina/ uso terapêutico; Raios ultravioleta; Topografia da córnea 1 Mestre, Diretora do Hospital de Olhos Provisão - Maringá (PR), Brasil; Professor da Universidade de Toronto-Canadá York Finch General Hospital, Toronto; 3 Médica oftalmologista do Hospital de Olhos Provisão - Maringá (PR), Brasil; Assistente do Departamento de Glaucoma do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; 4 Professor da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Belo Horizonte (MG), Brasil; 2 Recebido para publicação em: 7/3/2009 - Aceito para publicação em 29/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 Tratamento aditivo do ceratocone por ‘crosslinking’ do colágeno após implante de anel de Ferrara INTRODUÇÃO D esde a década de 40, vários pesquisadores têm se esforçado na tentativa de estabilizar asectasias de córneas evitando o transplante. Recentemente bons resultados têm sido obtidos com implante de anel intraestromal(1). O implante de anel intra-estromal tem demonstrado estabilização corneana por longo período e tem ajudado a diminuir de maneira significativa as filas de pacientes em espera para transplante(2). Algumas formas de anel intraestromal têm sido relatadas(3), porém sempre com o intuído de evitar o transplante, principalmente nos pacientes com intolerância à lentes de contato (4) . Apesar dos resultados animadores nas últimas décadas, alguns autores em longo follow-up têm relatado em 5% dos casos piora na acuidade visual (AV) se comparado ao préoperatório(5). Tem sido demonstrado a possibilidade de enrijecimento da córnea através do aumento do número de ligações cruzadas entre as fibras de colágeno, com a utilização de irradiação ultravioleta (UV) associada ao uso da substância fotossensibilizadora, riboflavina (crosslinking) (6). Relatos mais recentes têm demonstrado que esta associação provoca apoptose dos queratócitos atingindo até 300 micras de profundidade na córnea. Esta população de queratócitos é recomposta em até 6 meses, e desde que se respeite o limite de 400 micras na espessura corneana não foi evidenciado danos ao endotélio, cristalino ou retina (7) . Pesquisadores têm demonstrado a utilização do crosslinking em keratectasias após Lasik(8). O recente alargamento das indicações na utilização desta nova metodologia tem sido utilizado no tratamento de úlceras corneanas, melting e ceratopatia bolhosa(9). Este trabalho tem o propósito de relatar nossa experiência com utilização do crosslinking após implante de anel intracorneano de Ferrara (Ferrara Ophtalmic) visando melhora refrativa e estabilização corneana neste grupo de pacientes. MÉTODOS Após aprovação pelo comitê de ética do Hospital Almodin Ltda. e consentimento esclarecido informado, seis pacientes com idade entre 26 e 38 de idade, sendo 5 masculinos e 1 feminino foram 139 submetidos ao tratamento com crosslinking após implante de anel de Ferrara. Dentre estes, quatro (67%) tiveram piora da AV e aumento progressivo na refração após três meses do implante de anel, e dois (33%) pacientes tiveram extrusão do segmento inferior após 2.2 e 2.8 anos após o implante e apesar de ainda não apresentarem piora progressiva foram incluídos no grupo de estudo. O implante de anel de Ferrara foi realizado com anestesia local (colírio anestésico). A incisão foi realizada no eixo de maior curvatura corneana na profundidade de 80% da paquimetria local. Foi realizado tunelização na zona óptica de 5mm. Cinco destes pacientes receberam 2 segmentos de anel e um paciente recebeu apenas 1 segmento inferior. No pós-operatório foi utilizado anti-inflamatório não hormonal (cetrolaco de trometamina) de 15/ 15 minutos por 3 hs, associação de corticóide com antibiótico (prednisona e gatifloxacino) por 7 dias e anti-inflamatório não hormonal cetrolaco de trometamina de 15/15 minutos por 3 h. Entre 4 a 55 meses após o implante de Anel, os pacientes foram submetidos à aplicação do crosslinking com UVA e Riboflavina, de acordo com protocolo estabelecido por Seiler & cols. (6) . Suscintamente, após a desepitelização corneana da zona óptica central de 9 mm, a riboflavina foi aplicada de 5/5 minutos durante 30 minutos e intercalada com lavagem de solução balanceada de BSS a cada 2.5 minutos após cada aplicação de riboflavina. Após 30 minutos, os pacientes eram examinados na lâmpada de fenda para reconhecimento de flare amarelado na câmara anterior e depois expostos ao UVA (370nm, 3nW / cm²) por mais 30 minutos acrescidos da mesma dose de riboflavina, uma gota de 5/5 minutos (6 aplicações) intercaladas por lavagem com solução balanceada de BSS após 2.5 minutos de cada aplicação da riboflavina. Após o término do procedimento utilizamos lentes de contacto gelatinosas terapêutica por 5 a 7 dias no pósoperatório até reepitelização total da córnea. Os pacientes fizeram uso de colírios de antibiótico por uma semana e lágrimas artificiais por um mês, associado analgésico oral por 24 h. Utilizamos corticóide local (prednisona) somente após a reepitelização total da córnea por mais uma semana. O seguimento pós-operatório dos pacientes foi realizado no primeiro, terceiro, sexto e décimo Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 140 Média DP Almodin E, Arschinoff S, Almodin J, Ferrara P Tabela 1 Tabela 2 Acuidade visual média e desvio padrão Topografia (Pentacam) pré e pós-anel de Ferrara Pré op. 1 mês 0,073 0,036 0,532 0,223 3 meses 6 meses 0,53 0,116 0,46 0,202 12 meses 0,52 0,117 Pré-op. Média 52,52 Desvio Padrão 6,67 1 mês 3 meses 6 meses 1 ano 46,30 4,88 46,50 4,32 46,40 3,04 46,02 3,10 Tabela 3 Tabela 4 Progressão da curvatura máxima pelo Pentacan Acuidade visual pré- e pós-operatório em ‘Crosslinking’ Pentacan 49,4 39,8 41,3 42,2 42,9 Pré-operatório 1 mês 3 meses 6 meses 1 ano Média Desvio padrão Préoperatório 1 mês pós op. 12 meses pós op. 30,83 14,97 30,83 12,01 23,33 8,16 Tabela 5 Tabela 6 Refração média e desvio padrão Media topográfica pré e pós-operatória Média Desvio padrão Pré-operatório 1 mês 12 meses -4,41 4,98 -4,17 5,01 -3,38 4,47 Média Desvio padrão Pré-operatório 1 mês 12 meses 47,45 4,44 47,43 3,95 47,1 3,56 Tabela 7 Microscopia especular Média Desvio padrão Pré-operatório 1 mês 12 meses 2857 298 2886 224 2877 270 segundo mês após anel de Ferrara e primeiro, terceiro, e doze meses após “crosslinking”, incluindo medida de AV, refração, topografia de córnea com Pentacam (Oculus Pentacam), lâmpada de fenda (Topcon) e microscopia especular da córnea (Microscopia especular de contato Conam) Todos os procedimentos foram realizados pelo mesmo cirurgião (E.A). RESULTADOS Resultados pós-cirurgia de Anel de Ferrara e pré-crosslinking: Os pacientes obtiveram melhora de AV com Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 correção, em 100% dos casos, mas após 3 meses estes casos apresentaram baixa de AV progressiva, como mostra o gráfico 1 e tabela 1. O estudo da refração destes pacientes mostrou que 4 olhos (67%) implantados com anel apresentaram alteração progressiva de refração e 2 olhos (33%) apresentavam refração sem alteração progressiva, mas haviam sofrido extrusão de anel e reimplante (Gráfico 2). A topografia (Pentacam) mostra que houve queda acentuada na curvatura máxima destes cones no primeiro mês e não houve progressão significativa nesta curvatura durante um ano em 5 olhos (83%), sendo que em um olho (17%) apresentou alteração Tratamento aditivo do ceratocone por ‘crosslinking’ do colágeno após implante de anel de Ferrara Gráfico 1 Gráfico 2 Acuidade visual pré e pós-anel de Ferrara Refração em equivalente esférico pré e pós-anel de Ferrara Gráfico 3 Gráfico 4 Média (Pentacam) pré e pós-anel de Ferrara Topografia (Pentacam) do olho com alteração progressiva de curvatura Gráfico 5 Grafico 6 Avaliação do astigmatismo topográfico pós-implante de anel de Ferrara Microscopia especular de contato pré e após 1 ano de anel de Ferrara 141 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 142 Almodin E, Arschinoff S, Almodin J, Ferrara P Gráfico 7 Gráfico 8 Acuidade visual pré x pós-operatório de ‘Crosslinking’ Resultado refracional pós-operatório Gráfico 9 Gráfico 10 Media topográfica pós-operatória pelo Pentacan Comportamento individual de cada paciente na topografia (Pentacam) Gráfico 11 Gráfico 12 Avaliação topográfica pós-’Crosslinking’ após anel de Ferrara Avaliação do astigmatismo pré e pós-’Crosslinking’ após anel de Ferrara Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 Tratamento aditivo do ceratocone por ‘crosslinking’ do colágeno após implante de anel de Ferrara Gráfico 12 Avaliação do astigmatismo pré e pós-’Crosslinking’ após anel de Ferrara progressiva da curvatura máxima após 3 meses de cirurgia (Gráfico 3 e Tabela 2). Apenas um olho (17%) mostra progressão da curvatura máxima (Tabela 3, Gráfico 4). O astigmatismo topográfico corneano, 12 meses após o implante do anel, mostrou que 5 olhos apresentavam a mesma curvatura máxima pósoperatória de um mês e apenas um olho apresentou aumento da curvatura máxima no pós-operatório tardio. Em 4 pacientes a curvatura máxima se manteve, porém houve aumento na diferença entre o K1 e K2. O estudo de lâmpada de fenda mostrou anel em boa profundidade durante um ano de pósoperatório em 100% destes olhos, porém 2 destes olhos tiveram extrusão de um segmento inferior de anel 2,2 e 2,8 anos de pós-operatório de implante de anel intraestromal. A microscopia especular não mostrava alteração significativa (Gráfico 6). Resultados pós-crosslinking: A acuidade visual destes olhos se mostrou semelhante ao pré-operatório tendo apenas ganho máximo de AV de uma linha em 2 casos e ganho de 0,5 linha de visão em um caso. Em 100% dos casos não houve perda no equivalente esférico quando comparada a refração pré-operatória com a refração pós-operatória de um ano. Em um caso permaneceu o mesmo equivalente esférico, em 3 casos houve ganho de 0,50 D, um caso ganho de 2 D e um caso ganho de 3 D (Gráfico 8 e Tabela 5). A média topográfica pelo Pentacam mostrou 143 que não houve alteração significativa na curvatura máxima corneana nos pacientes submetidos ao crosslinking. Houve variação de 0,35D na média destes exames. O gráfico individual destes pacientes mostrou que a topografia pós-operatória de um ano, permaneceu a mesma do pré-operatório em 4 olhos (66%), diminuiu 1D em um olho (17%) e diminuiu 3 D em um olho (17%) (Gráfico 9, 10 e Tabela 6). No caso em que a topografia mostrava evolução progressiva após anel, houve estabilização na curvatura corneana após o crosslinking. O astigmatismo corneano topográfico revelou que 3 olhos apresentaram a mesma curvatura máxima pré-operatória, um olho diminuiu 2 D na curvatura máxima, um olho diminuiu 1 D na curvatura máxima e apenas um olho apresentou aumento da curvatura máxima de 1 D no pósoperatório tardio, mas os 6 olhos apresentaram menor diferença entre o K1 e K2. O gráfico mostra diminuição do astigmatismo topográfico em 100% dos casos. Lâmpada de fenda: O estudo de lâmpada de fenda mostrou anel em boa profundidade durante um ano de pósoperatório em 100% destes olhos, e nenhum destes olhos teve extrusão ou deslocamento de nenhum segmento de anel, com nenhuma modificação de cor ou edema corneano no pós-operatório tardio. Microscopia Especular: A microscopia especular também não mostra alteração significativa comparando o pré com o pósoperatório tardio de crosslinking. DISCUSSÃO Nossa experiência com anel de Ferrara por 11 anos corrobora dados de outros autores, confirmando que o efeito do anel produz queda acentuada da curvatura corneana, trazendo também efeito refrativo, se implantados de acordo com o nomograma de Ferrara(10). O estudo deste grupo comprova o efeito do anel, porém 5% dos anéis intraestromais implantados, como já se afirma na literatura, mostra algum tipo de intercorrência, como aumento progressivo da curvatura corneana, da refração esférica ou do astigmatismo, extrusão ou deslocamento do anel(5,7). Na nossa casuística em 4 pacientes a curvatura máxima se manteve, porém Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 144 Almodin E, Arschinoff S, Almodin J, Ferrara P houve aumento na diferença entre o K1 e K2 ocorrendo aumento de astigmatismo corneano, o que justificava a baixa progressiva na acuidade visual e refração em equivalente esférico destes olhos (Gráfico 5). Dos dois pacientes que tiveram extrusão de um segmento do anel, um mostrava aumento progressivo da curvatura corneana e da refração, mesmo após o reimplante (Gráfico 4, Tabela 3). Nestes casos citados, o crosslinking pôde nos auxiliar, mostrando estabilidade da refração em um ano. Não houve nenhuma extrusão, e o tratamento com o crosslinking não propiciou redução significativa da curvatura máxima como ocorre no implante do anel. Nos casos em estudo, verificamos que a maior curvatura corneana após o implante do anel se manteve a mesma curvatura ou houve queda de 1 a 2 D nas ceratometrias máximas após o crosslinking (Gráfico 10, Tabela 6). Porém houve redução significativa no astigmatismo corneano, o que melhorou a refração e a qualidade de visão, mesmo que não tenha trazido melhora acentuada em ganhos de linha de visão (Gráfico 12). A diferença entre K1 e K2 mostrou menor astigmatismo corneano, o que justifica, mesmo sem ganhos de linhas de visão, a melhora que os pacientes referiam na qualidade de visão, comparando o pré com o pós-operatório. Como o anel mostra melhora refrativa significativa, com melhora da AV e redução acentuada na curvatura corneana e na refração (Gráfico 1-3, Tabela 1-2), e o crosslinking não apresenta a mesma performance refrativa, com alterações mínimas na AV, curvatura corneana e refração (Gráfico 7-10, Tabela 4-6). Não houve nenhuma alteração significativa na microscopia especular destes pacientes, nos mostrando que respeitando as 400µ de espessura corneana, como relatado na literatura, não há lesão a nível de endotélio(7,11). Nenhuma alteração de cristalino ou retina foram observados nestes casos e nenhuma intercorrência per ou pós-operatória, portanto nenhum efeito adverso, o que nos mostra a segurança da técnica já descrita por vários autores(7,8,11). CONCLUSÃO Muito ainda temos que estudar em ceratocone, biomecânica e flexibilidade corneana. Estudos devem ser feitos para colocar os parâmetros Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 de indicação e limites entre as duas técnicas, pois senão estaremos congelando córneas com refrações que podem ser melhoradas com o implante de anel. Faz-se necessário pesquisas para avaliar os limites do crosslinking e do implante do anel. Cremos que isto venha ajudar a normatizar a utilização das duas técnicas. Desta maneira poderemos melhorar a AV naqueles que tenham má qualidade refrativa e depois fazermos o crosslinking para estabilização destas córneas. O crosslinking como primeira escolha deveria ser utilizado apenas nas córneas que tenham boa qualidade refrativa. Mas, devemos sempre abrir um leque para novas tecnologias que vem se despontando. O crosslinking, técnica de fácil acesso, poderá nos ajudar a manter ceratocones estáveis e cada vez menor as filas de espera para transplantes. Não somente nos cones em progressão, mas também nos cones evolutivos com implante de anel podemos utilizar o crosslinking. Apesar de os resultados serem animadores, consideramos serem iniciais, e devem ser corroborados por outros centros. ABSTRACT Purpose: To describe our experience with crosslinking after Ferrara ring implant for better vision and corneal stabilization. Methods: six patients with age of 26 - 38 years old had treatment with crosslinking after Ferrara ring implant. Five patients had 2 ring segments implanted and one patient had one segment implanted. After 4 to 55 months the patients were submitted to crosslinking with UVA light according to Seiler et al protocol. Results: Four eyes had progressive alteration of refraction and 2 patients had no alteration of refraction. The topography showed flattener curvature and at the slip lamp 100% of the eyes had good depth after one year post operatively. The specular microscopy didn’t show any significant alteration and the visual acuity was similar before the procedure. Conclusion: The crosslinking may help to maintain stable keratoconus, not only in progression cases, but also in evolutive keratoconus with ring implant. Keywords: keratoconus/surgery; Intra corneal ring; Cornea/surgery; Cornea/pathology; Visual acuity; Photosensitizing agents/therapeutic use; Riboflavin/therapeutic use; Ultraviolet rays; Corneal topography Tratamento aditivo do ceratocone por ‘crosslinking’ do colágeno após implante de anel de Ferrara REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Kwitko S, Severo NS. Ferrara intracorneal ring segments for keratoconus. J Cataract Refract Surg. 2004;30(4):812-20. Lovisolo CF, Fleming JF. Intracorneal ring segments for iatrogenic keratectasia after laser in situ keratomileusis or photorefractive keratectomy. J Refract Surg. 2002;18(5):535-41. Kanellopoulos AJ, Pe LH, Perry HD, Donnenfeld ED. Modified intracorneal ring segment implantations (INTACS) for the management of moderate to advanced keratoconus: efficacy and complications. Cornea. 2006;25(1):29-33. Alio JL, Shabayek MH, Artola A. Intracorneal ring segments for keratoconus correction: long-term follow-up. J Cataract Refract Surg. 2006;32(6):978-85. Kymionis GD, Siganos CS, Tsiklis NS, Anastasakis A, Yoo SH, Pallikaris AI, et al. Long-term follow-up of Intacs in keratoconus. Am J Ophthalmol. 2007;143(2):236-44. Wollensak G, Spoerl E, Seiler T. Riboflavin/ultraviolet-a-induced collagen crosslinking for the treatment of keratoconus. Am J Ophthalmol. 2003;135(5):620-7. Spoerl E, Mrochen M, Sliney D, Trokel S, Seiler T. Safety of UVA-riboflavin cross-linking of the cornea. Cornea. 2007;26(4):385-9. 145 8. Hafezi F, Kanellopoulos J, Wiltfang R, Seiler T. Corneal collagen crosslinking with riboflavin and ultraviolet A to treat induced keratectasia after laser in situ keratomileusis. J Cataract Refract Surg. 2007;33(12):2035-40. Comment in: J Cataract Refract Surg. 2008;34(6):879; author reply 879. 9. Spoerl E, Wollensak G, Seiler T. Increased resistance of crosslinked cornea against enzymatic digestion. Curr Eye Res. 2004;29(1):35-40. 1 0 . Miranda D, Sartori M, Francesconi C, Allemann N, Ferrara P, Campos M. Ferrara intrastromal corneal ring segments for severe keratoconus. J Refract Surg. 2003;19(6):645-53. 11. Seiler T, Hafezi F. Corneal cross-linking-induced stromal demarcation line. Cornea. 2006;25(9):1057-9. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Edna Almodin Rua Silva Jardim, nº 359 - Centro CEP 87013-000 - Maringá -PR - Brasil TEL: 44 3262-2061 FAX:44 3225-1162 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 138-45 ARTIGO ORIGINAL 146 Endoscopic cyclophotocoagulation in refractory glaucomas: a long term study Ciclofotocoagulação endoscópica em glaucomas refratários com longo tempo de seguimento Francisco Eduardo Lima1,2,3, José Beniz Neto1,2, Daniela Toscano3, Durval Moraes de Carvalho2,3, Marcos Pereira de Ávila1,2,3 ABSTRACT Purpose: To evaluate the safety and efficacy of endoscopic cyclophotocoagulation (ECP) in the treatment of refractory glaucomas. Methods: The preoperative and postoperative courses of 539 eyes of 539 patients with refractory glaucoma who underwent ECP and had a minimum 5 years follow-up were retrospectively reviewed. All procedures were performed by a single surgeon (FEL). Eyes that were included had undergone at least one incisional glaucoma surgery and had intraocular pressure (IOP) equal to or above 35 mmHg on maximum tolerated medical therapy, and a visual acuity better than light perception. Success was defined as IOP greater than 6 mmHg and lower than 22 mmHg after 5 years postoperatively, with or without topical anti-hypertensive therapy. ECP included 210° of the ciliary body, corresponding to 2 to 9 hours in the right eye and from 3 to 10 hours in the left eye, including the anterior third of the pars plana. Results: The mean follow-up was 88.9 + 10.3 months (range 60 to 108 months). Mean preoperative IOP was 38.1 ± 6.5 mmHg, and postoperative IOP was 12.1 ± 3.4 mmHg, with or without topical antiglaucomatous medication (p<0.05). The mean number of glaucoma medications used by each patient was reduced from 3.9 + 1.2 preoperatively to 1.9 + 1.4 postoperatively (p< 0.05). Best corrected visual acuity was stable or improved postoperatively in 407 eyes (95.3%) while 20 eyes (4.7%) lost 2 or more lines of Snellen acuity. The success rate at 12 and 60 months were, 92.5% and 79% respectively. KaplanMeier survival analysis showed an overall probability of success at 60 months of 71.5%. Complications included fibrin exudation in 116 eyes (21.5%), hyphema in 58 eyes (10.7%), choroidal detachment in 31 eyes (5.7%), phthisis in 13 eyes (2.4%), retinal detachment in 8 eyes (1.4%) and hypotony in 7 eyes (1.2%).Conclusion: These results suggest that ECP is a safe and effective therapeutic modality for refractory glaucomas after a long-term follow-up. Keywords: Glaucoma/surgery; Laser coagulation/methods; Fotocoagulation/methods; Visual acuity; Intraocular pressure 1 MD, Universidade Federal de Goiás - UFG - Goiânia (GO), Brazil; MD, Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos - Goiânia (GO), Brazil; 3 MD, Centro Brasileiro da Visão - Brasília (DF), Brazil. 2 Recebido para publicação em: 20/5/2009 - Aceito para publicação em 28/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 146-51 Endoscopic cyclophotocoagulation in refractory glaucomas: a long term study INTRODUCTION G laucoma is the second leading cause ofblindness worldwide(1). Cyclodestructive procedures have been used to treat glaucoma in patients for whom conventional filtration surgery has failed or has a poor predicted outcome(2,3). Ablation of the ciliary body lowers intraocular pressure by decreasing the secretion of aqueous humor(4-6). Most cyclodestructive procedures are performed by means of the transscleral route, either by freezing the ciliary body or by coagulating it with laser energy. However, this approach is limited by significant complications, treatment failure, and hypotony. These difficulties arise from the inability to visualize the ciliary process during the treatment, resulting in over – or under treatments as well as incorporation of non-aqueous producing tissue in the treatment zone.(4,5) Endoscopic cyclophotocoagulation (ECP) has the unique ability of simultaneous visualization and treatment of the ciliary body through a pars plana or anterior chamber approach; it offers the possibility of selectively treating the ciliary body epithelium. On the other hand the disadvantage is the learning curve, the risk of lens damage in a phakic eye, zonular damage, and the risk inherent in any intraocular procedure.(8) Uram described the technique of diode laser cyclophotocoagulation through an endoscopic system in 1992, reporting a series of 10 patients with neovascular glaucoma(7). Trevisani et al.(10) had carried out histological comparison between eyes treated with ECP and transscleral cyclophotocoagulation, and had concluded that the endoscopic route caused focal ablation of the ciliary epithelium, without destruction of the ciliary muscle while the transscleral route provoked coagulative alterations in stroma and in the ciliary muscle. Due to the lack of studies evaluating long term follow up, the purpose of our study is to evaluate the safety and efficacy of ECP in the treatment of refractory glaucoma. METHODS This was a retrospective, non-comparative study. The office charts off all patients who underwent ECP at Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos and Federal University of Goiás, Brazil, between 1995 and 2001, and had minimum 5 years follow-up were restrospectively reviewed. A signed informed consent and Ethics 147 Committee approval from the institutions were obtained before any patient enrollment. Patients were informed of the invasive nature of ECP and a written consent was obtained. Eyes included had at least one intraocular glaucoma surgery and an intraocular pressure (IOP) greater than or equal to 35 mmHg on maximum tolerated therapy or eyes with advanced glaucomatous damage and IOP greater than target pressure, and visual acuity better than light perception. Exclusion criteria included eyes that had a previous cyclodestructive procedure, eyes that did not perceive light, eyes that had a retinal or choroidal detachment or eyes with failed corneal graft. All surgeries were performed by a single experienced surgeon (FEL). Success was defined as an IOP greater than 6 mmHg and bellow to 22 mmHg at last follow-up visit with or without maximum tolerated topical antiglaucomatous therapy. Failure treatment was defined as an IOP greater or equal to 22 mmHg during 3 consecutive postoperative visits, eyes that went to phthisis bulbi, and eyes that had to undergo another surgical intervention to control IOP. Patients who reached the failure endpoint were censored from further analysis. However, their IOP was included in the average IOP calculation at this time. All patients underwent a thorough ophthalmic evaluation including a LogMar visual acuity , slitlamp biomicroscopy and dilated retinal exam. An ultrasound exam was performed when the media was not clear. Demographic data such as age and sex were collected. Three different physicians measured the IOP with the Goldmann tonometer in the morning, always around 10 o’clock. The IOP was considered as a single measured by one of the observers. The ECP was done with a commercially available device (MicroPobre, ENDOOPTIKS, Little SILVER, NJ, USA) with an endoscope with a 110-degree field of view and a focal distance of 0.75mm to infinity, camera and an 810nm wavelength diode laser source with maximum power of 1.2 W. The procedure was performed by a superior temporal pars plana incision, 3.5 mm from the limbus in pseudophakic eyes. In phakic eyes the ECP was done after phacoemulsification and before IOP implantation, via limbus, through the capsular bag using viscoelastic (Sodium Hyaluronate 1%, Healon®, AMO inc, Uppsala, Sweden) to open space to the endoscopic probe. In aphakic eyes the ECP was also done via the limbus. Anterior vitrectomy was accomplished in pseudophakic eyes and aphakic ones when necessary. Laser power of 0.5W in the continuous wave mode produced both whitening and shrinkage of the ciliary processes. Laser power and/ Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 146-51 148 Lima FE, Beniz Neto J, Toscano D, Carvalho DC, Ávila MP Table 1 Glaucoma diagnosis of 539 eyes treated with ECP Glaucoma classifications Frequency % 15 20 93 65 112 172 26 36 539 2.8 3.7 17.3 12.1 20.8 31.9 4.8 6.7 100.0 Aphakic Congenital Neovascular Associated with penetrating keratoplasty POAG or PCAG and cataract Pseudophakic Associated to uveitis Associated to vitreo-retinal disorders Total POAG = primary open-angle glaucoma; PCAG = primary closed angle glaucoma Table 2 Postoperative complications of ECP in 539 eyes Complications Fibrin exudates Hyphema Choroidal detachment Failure of corneal graft Phthisis Retinal detachment Hypotony Eyes(n) % Total of eye 116 58 31 13 13 8 7 21.5 10.7 5.7 20 2.4 1.4 1.2 539 539 539 65 539 539 539 or duration were decreased if tissue explosion was observed. ECP was applied to 210° of the ciliary body, typically from 2:00 to 9:00 in the right eye and from 3:00 to 10:00 in the left eye, including the anterior third of the pars plana. Additionally, external scleral depression over the ciliary body was performed to reach the entire ciliary process and the valleys between the crests. Subconjunctival injection of tobramycin and dexamethasone was performed after procedure. Additionally, 0.1ml of dexamethasone was injected in the anterior chamber. Topical antibiotics, corticosteroids and atropine were prescribed postoperatively and tapered as the intraocular inflammation decreased. The antiglaucomatous medications were kept when necessary. Statistical software SPSS was used to analyze the results. Preoperative and postoperative values were compared using Student t test. A Kaplan-Meier survival curve was created for success of IOP over time. Microsoft Excel was used to generate graphs and tables. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 146-51 RESULTS Five hundred thirty nine patients were treated with endoscopic cyclophotocoagulation (ECP). Two hundred eighty eight (53.4%) female and 251 (46.6%) male patients ranging from 4 to 80 years of age (mean age 62 ± 14 years). Their underlying diagnoses were summarized in Table 1. All patients had undergone at least one previous glaucoma surgery (mean 2 ± 1 surgeries). One hundred twelve (20.8%) eyes did not have 5 years follow-up because of treatment failure and were counted as failed; of which 2 eyes had aphakic glaucoma, 15 eyes had congenital glaucoma, 14 had neovascular glaucoma, 18 eyes had glaucoma associated with penetrating keratoplasty, 19 eyes had undergone combined surgery of cataract and glaucoma, 36 eyes had pseudophakic glaucoma, 2 eyes had glaucoma associated to uveitis and 6 eyes had glaucoma associated to vitreoretinal disorders. For the 427 of the 539 eyes considered success and included in this analysis, follow-up ranged 149 Endoscopic cyclophotocoagulation in refractory glaucomas: a long term study Figure 1- Mean + SD intraocular pressure (IOP) of 427 eyes with a mean follow-up of 88.9 + 10.3 months (ranged from 60 to 108 months) plotted as a function of time after ECP Figure 2 - Kaplan-Meier estimate of time to failure after ECP in all eyes Figure 3 - Kaplan-Meier estimate of time to failure after ECP eyes with congenital glaucoma (CGC) Figure 4 - Kaplan-Meier estimate of time to failure after ECP in eyes with neovascular glaucoma (NVG) from 60 to 108 months, with a mean of 88.9 + 10.3 months. Of the 427 eyes the mean preoperatively IOP was 38.1 ± 6.5 mmHg, at 1 month mean postoperative IOP was 12.4 ± 3.4 mmHg and at the last visit the mean postoperative IOP was 12.1 ± 3.4 mmHg with or without topical anti-glaucomatous medication (Figure 1). The difference between preoperative and postoperative IOP was statistically significant in all visits (p<0.05). Only 8.7% of the 539 eyes had IOP higher than 22 mmHg at the first postoperative day. The mean number of glaucoma medications used by each patient, including oral acetazolamide, was reduced from 3.9 + 1.2 preoperatively to 1.9 + 1.4 at the last postoperatively visit (p< 0.05). The number of medications was decreased in 423 eyes (99%), unchanged in 4 eyes (1%) and did not increased in any eye. 94 eyes (22%) were controlled without medication. Best corrected visual acuity was stable or improved postoperatively in 407 eyes (95.3%) and 20 eyes (4.7%) lost 2 or more lines of Snellen acuity. The success rate at 12 and 60 months were respectively, 92.5% and 79%. Kaplan-Meier survival analysis showed probability of success at 60 months of 71.5% (Figure 2). For patients with congenital glaucoma the cumulative proportion surviving at the end of 5 year was 22%, and for neovascular glaucoma was 94% (Figures 3 and 4). Postoperative complications that occurred during the study are listed on Table 2. The two most commom complications, fibrin exudates (116 eyes, 21.5%) and hyphema (58 eyes, 10.7%) occurred in eyes with neovascular glaucoma. Among 13 eyes that went to phthisis bulbi 10 of them had neovascular glaucoma. DISCUSSION Refractory glaucoma is a subset of the disease where conventional surgical treatment has failed.(2,9) It has been demonstrated that ECP is a safe alternative to achieve a satisfactory IOP control by decreasing the Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 146-51 150 Lima FE, Beniz Neto J, Toscano D, Carvalho DC, Ávila MP aqueous humor production without causing widespread damage to the ciliary body and adjacent structures as occurs with transscleral procedures.(10-12) Previous reports suggest that ECP is a safe and effective procedure in refractory glaucoma patients after failure of conventional filtration surgery.(2,11,12,14) Lima et al.(2) compared the use of Ahmed Valve and ECP in 68 patients with refractory glaucoma and found, in the ECP group, a success rate of 82.35% and 73.52% at 12 and 24 months, respectively. Ahmed Valve group had similar success rate. In our study, the overall success rate was 92.57% and 78.84% at 1 and 5 years of follow-up, respectively. Gayton et al.(13) compared cataract surgery combined with trabeculectomy or ECP. The ECP cases did not achieve an immediate reduction in IOP, as the trabeculectomy cases did. However, by 1 month, both groups stabilized at about 16 mmHg and less complications were observed in ECP group. Chen et al.(12) analyzed retrospectively 68 patients with diverse forms of glaucoma who had undergone ECP. The follow-up period was 12.9 months and the mean IOP decreased 10.7 mmHg. The mean number of medication preoperatively was 3 and postoperatively was 2, and the visual acuity remained stable in 94% of the cases. The present study demonstrated a mean IOP reduction by 25.6 mmHg, the postoperative number of glaucoma medication and the visual acuity stability were similar to the above-mentioned study. Uram(7) described the use of ECP in 10 intractable neovascular glaucoma with the mean follow-up of 12 months. The IOP dropped 67.6% which was similar to the present study. It is important to notice that Uram(7) just analyzed neovascular glaucoma which seems to be associated with the biggest index of success, as the survival curve shows. However, the great majority of phthisis bulbi were among eyes with neovascular glaucoma. The most common complication in our study was fibrin exudates (21.5%), followed by hyphema (10.7%) and immediate postoperative IOP spikes (9.8%). Chen et al.(12) reported a 24% incidence of fibrin exudates, 12% of hyphema and no phthisis bulbi. Probably the anterior chamber injection of dexamethasone performed as a routine in the present study has decreased the inflammation observed in the early postoperative period. In the present study, the sample that showed the lowest cumulative proportion surviving was congenital glaucoma. Neely et al.(11) reported the use of the ECP in 36 eyes with pediatric glaucoma with a mean follow-up of Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 146-51 19.2 months. The survival curve for the first procedure in each eye demonstrated a high rate of early treatment failure in the first postoperative year, the survival curve flattened significantly after 14 months, similarly to the present study. CONCLUSION Although this is a retrospective study, the sample size and the long follow-up time provide reliable results. ECP not only resulted in satisfactory IOP, but also preserved visual acuity in the majority of the cases. These facts associated with low incidence of complications make ECP a safe and effective procedure in the treatment of refractory glaucomas. RESUMO Objetivo: Avaliar a segurança e a eficácia da técnica de ciclofotocoagulação endoscópica (CFE) no tratamento de glaucomas refratários. Métodos: As condições pré e pós-operatórias de 539 olhos de 539 pacientes portadores de glaucomas refratários que foram submetidos a CFE e com, no mínimo, 5 anos de seguimento foram retrospectivamente estudadas. Todas as cirurgias foram realizadas por um único cirurgião (FEL). Os olhos incluídos haviam sido submetidos a uma ou mais cirurgias anti-glaucomatosas incisionais e apresentavam pressão intraocular (PIO) igual ou superior a 35 mmHg com medicação máxima tolerada e acuidade visual melhor que percepção luminosa. Sucesso foi definido como PIO maior que 6 mmHg e inferior a 22 mmHg na última visita, com ou sem medicação anti-glaucomatosa tópica. CFE incluiu 210° dos processos ciliares; das 2 às 9 horas em olho direito e das 3 às 10 horas em olho esquerdo, incluindo o terço anterior da pars plana. Resultados: O tempo de seguimento médio foi 88,9 + 10,3 meses (variando entre 60 e 108 meses). PIO média pré e pós-operatória foi 38,1 ± 6,5 mmHg e 12,1 ± 3,4 mmHg, respectivamente, com ou sem medicação antiglaucomatosa tópica (p<0,05). O número médio medicações anti-glaucomatosas foi reduzido de 3,9 + 1,2 no pré-operatório para 1,9 + 1,4 na última visita (p<0,05). A acuidade visual ficou estável ou melhorou em após a CFE em 407 olhos (95,3%) e 20 olhos (4,7%) perderam 2 ou mais linhas na tabela de Snellen. Os índices de sucesso aos 12 e 60 meses de pós-operatório foram 92,5% e 79%, respectivamente. A curva de sobrevivência de Kaplan-Meier mostrou probabilidade de sucesso de 71,5% aos 60 meses. Como complicações fo- 151 Endoscopic cyclophotocoagulation in refractory glaucomas: a long term study ram observados intensa reação inflamatória em 116 olhos (21,5%), hifema em 58 eyes (10,7%), descolamento de coróide em 31 olhos (5,7%), phthisis bulbi em 13 olhos (2,4%), descolamento de retina em 8 olhos (1,4%) e hipotonia em 7 eyes (1,2%).Conclusão: Estes resultados sugerem que CFE é uma técnica segura e eficaz para o tratamento de glaucomas refratários após longo tempo de seguimento. Descritores: Glaucoma/cirurgia; Coagulação por laser/métodos; Fotocoagulação/métodos; Acuidade visual; Pressão intra-ocular REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 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Report of five cases Lívia Maria Nossa Moitinho1, Luiz Antônio Rodrigues de Freitas2, Eduardo Ferrari Marback3, Roberto Lorens Marback4 RESUMO Objetivo: Descrever os achados clínicos, histopatológicos e imunoistoquímicos de cinco pacientes portadores de leishmaniose tegumentar americana com manifestações oftalmológicas. Métodos: Estudo retrospectivo, no período de quatro anos, compreendendo análise dos prontuários de pacientes do Hospital Universitário Professor Edgard Santos e das lâminas de histopatologia e do estudo imunoistoquímico.Resultado: O sintoma mais frequente foi a hiperemia conjuntival (2/5), seguida por lesão crostosa palpebral (1/5), leucoplasia conjuntival (1/5) e prurido ocular (1/5).Todos os pacientes foram submetidos à biópsia. O estudo histológico evidenciou inflamação crônica (3/5) e hiperplasia pseudoepiteliomatosa (2/5). Todos os pacientes com aspecto histopatológico de hiperplasia pseudoepiteliomatosa apresentaram resultado positivo para leishmaniose pela imunoistoquímica (anticorpo policlonal antileishmania). Conclusão: Devido ao polimorfismo das manifestações oculares da leishmaniose tegumentar americana, à inespecificidade do quadro histopatológico e à grande dificuldade de visualização de amastigotas na coloração hematoxilina-eosina, a biópsia com estudo imunoistoquímico contribuiu para a confirmação diagnóstica. Descritores: Leishmaniose/patologia; Infecções oculares parasitárias/diagnóstico; Doenças oculares/micorbiologia; Imunoistoquímica; Relatos de casos 1 Mestre, Professora assistente da Fundação Bahiana para Desenvolvimento das Ciências - FBDC - Salvador (BA), Brasil; Doutor, Professor Adjunto da Universidade Federal da Bahia e Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz. Salvador (BA), Brasil; 3 Doutor, Médico Oftalmologista do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia - UFBA Salvador (BA), Brasil; 4 Doutor, Professor Titular Oftalmologia. Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia - UFBA Salvador (BA), Brasil. 2 Recebido para publicação em: 30/6/2009 - Aceito para publicação em 29/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 152-5 Papel da imunoistoquímica no diagnóstico das alterações oculares na leishmaniose tegumentar... 153 INTRODUÇÃO L eishmaniose envolve um espectro de doenças que ocorrem mais comumente em áreas tropicais e subtropicais, apresenta incidência de 500.000 e prevalência de 2.4 milhões de casos (1). No Brasil, é endêmica, com aproximadamente 30.000 casos notificados por ano(2). Segundo Marback (3), a ocorrência de lesões oculares na leishmaniose tegumentar americana foi descrita pela primeira vez por Pina em 1912. As mais comuns manifestações clínicas da doença são: blefarite, conjuntivite, ceratoconjuntivite e lesão erosiva palpebral(3-8). Outros tipos de manifestação oftalmológica são a simulação de dacriocistite, chalázio, tumores como ceratoacantoma e carcinoma basocelular, estenose do ducto lacrimo-nasal e uveíte(9-11). Aspectos epidemiológicos e o teste cutâneo positivo para leishmania são importantes para o diagnóstico. A confirmação diagnóstica, atualmente, pode ser obtida através da demonstração de antígenos de Leishmania no tecido por técnica imunoistoquímica.12 Esta técnica utiliza anticorpo policlonal antileishmania e marca positivamente antígenos de Leishmania, sobretudo em macrófagos e células endoteliais(13). O objetivo deste trabalho foi descrever a análise clínica e histopatológica de cinco casos de leishmaniose tegumentar americana com manifestações oftalmológicas, submetidos à biópsia, enfatizando o papel da imunoistoquímica no diagnóstico. Apresentações dos casos Foram estudados retrospectivamente, cinco casos de pacientes portadores de leishmaniose tegumentar americana, encaminhados para o Ambulatório de Oftalmologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, no período de quatro anos. Os aspectos clínicos como: idade, gênero, sinais e sintomas, tempo de doença e suspeita diagnóstica são apresentados na Tabela 1. Os achados histopatológicos e imunoistoquímicos, conduta e terapêutica podem ser apreciadao na Tabela 2. RESULTADOS A idade dos pacientes variou de 8 a 72 anos (média 32,4). Três pacientes foram do gênero feminino e 2, do masculino. O tempo de doença variou de 3 a 240 dias (média 81,6). O sintoma mais frequente foi a hiperemia conjuntival Figura 1: Lesão ulcerada, com formação de crosta envolvendo grande extensão da pálpebra superior esquerda Figura 2: Microfotografia - A imunoistoquímica evidencia amastigotas marcadas pelo antígeno para leishmania (40%), seguida por lesão crostosa palpebral (20%) (Figura 1), leucoplasia conjuntival (20%) e prurido ocular (20%). Nenhum caso teve a suspeita de leishmaniose nas manifestações oftalmológicas. Em um caso o aspecto clínico foi muito sugestivo de carcinoma epidermóide de conjuntiva. Todos os pacientes foram submetidos à biópsia, inclusive os casos com suspeita de conjuntivite devido ao fato de os pacientes já apresentarem diagnóstico clínico de leishmaniose tegumentar americana, inclusive com positividade à reação de Montenegro. O aspecto histopatológico em três pacientes (60%) foi inflamação crônica inespecífica e em dois (40%) hiperplasia pseudoepiteliomatosa (Tabela 2). Os pacientes, que apresentaram hiperplasia pseudoepiteliomatosa, mostraram igualmente resultado positivo pela imunoistoquímica (Figura 2). Apenas 1 paciente não respondeu ao antimonial pentavalente como terapêutica. Neste caso foi utilizada a Anfotericina B com melhora sintomatológica. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 152-5 154 Moitinho LMN, Freitas LAR, Marback EF, MarbackRL Tabela 1 Idade, gênero, tempo de doença, sinais e sintomas e suspeita clínica dos pacientes estudados Paciente Idade Gênero Tempo de doença 1 2 3 4 5 32 12 38 72 8 Feminino Feminino Masculino Masculino Feminino 3 dias 30 dias 8 meses 15 dias 4 meses Sinais/ Sintomas Suspeita diagnóstica Hiperemia conj. OE Lesão crostosa palp. OD Leucoplasia conj. OD Hiperemia conj. AO Prurido OD Conjuntivite Blastomicose Sulamericana Carcinoma Epidermóide Conjuntivite Conjuntivite OD= olho direito; OE= olho esquerdo Tabela 2 Conduta, achados histopatológicos e imunoistoquímicos e terapêutica dos pacientes estudados Paciente Conduta Histopatologia Imunoistoquímica Terapêutica 1 Biópsia incisional Biópsia incisional Biópsia excisional Biópsia incisional Biópsia incisional Inflamação crônica Negativa Hiperplasia pseudoepiteliomatosa Positiva 3 +++ Hiperplasia pseudoepiteliomatosa Positiva 1 + Inflamação crônica. Positiva 1 + Antimonial pentavalente Antimonial pentavalente Antimonial pentavalente Anfotericina B* Inflamação crônica Negativa 2 3 4 5 Antimonial pentavalente * A Anfotericina B foi utilizada como segundo tratamento, após falência do antimonial pentavalente DISCUSSÃO As manifestações oculares da leishmaniose tegumentar americana mais comumente descritas na literatura são: lesões palpebrais(3,8,10), conjuntivite(3,5), blefarite(4,6,7) e uveíte(3). A maior série de casos de alterações oculares na leishmaniose tegumentar americana encontrada na literatura brasileira foi publicada em 19533. Foram estudados 19 pacientes, destes 11 (57,9%) eram do gênero feminino e 8 (42,1%) do masculino. Nesse estudo, ele observou: 8 (42,1%) casos de conjuntivite, 5 (26,3%) casos de ceratite, 4 (21%) feridas em pálpebra, 2 (10,5%) dacriocistites e 1 (5,3%) blefarite. Todos os pacientes obtiveram melhora clínica com o uso de terapia antimonial. Na nossa série, observamos 3 (60%) pacientes do gênero feminino e 2 (40%) do masculino. O sintoma mais freqüente também foi a hiperemia conjuntival (40%) e todos, com exceção de apenas um caso, responderam bem à terapia com antimonial. Recentemente, o estudo imunoistoquímico13 tem sido utilizado na confirmação diagnóstica da leishmaniose tegumentar americana, pois os achados à Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 152-5 microscopia óptica frequentemente são inespecíficos, representados por inflamação crônica ou reação granulomatosa, sendo os parasitas raramente identificáveis(12). Positividade das biópsias em mucosa nasal, através da análise imunoistoquímica é encontrada em 62% a 75% dos casos(14). Dado esse, compatível com o encontrado em nossa pequena série. Não foram encontrados, em nossa pesquisa, estudos sobre a utilização da imunoistoquímica para diagnóstico de leishmaniose em lesões oftalmológicas. Devido ao fato de se tratar de uma doença endêmica no Brasil, com grande polimorfismo de manifestações oculares, o conhecimento dessas apresentações clínicas, bem como, o diagnóstico preciso e precoce são fundamentais para minimizar o risco de perda visual e cicatrizes viciosas nesses pacientes. ABSTRACT Purpose: To describe the clinical, histopathological and immunoistochemical findings of ocular leishmaniasis in five patients presenting positive Montenegro reaction. Methods: Retrospective study in four years of the clinical Papel da imunoistoquímica no diagnóstico das alterações oculares na leishmaniose tegumentar... charts, histopathologic and immunoistochemic study of the material obtained by biopsy of ocular lesions in five patients with positive Montenegro reaction. Results: The most frequent clinical findings was conjunctival hyperemia (2/ 5), followed by crusting lid lesion (1/5), conjunctival leukoplakia (1/5) and ocular itching (1/5). The histopathological study disclosed chronic inflammation (3/ 5) and pseudoepitheliomatous hyperplasia (2/5). The all patients that presented pseudoepitheliomatous hyperplasia in the biopsy material also presented immunohistochemical positivity for polyclonal antibody anti-leishmania. Conclusion: The immunoistochemical study was contribuitory for the diagnosis of ocular leishmaniasis in the five patients of this study. Keywords: Leishmaniasis/pathology; Eye infections, parasitic/diagnosis; Eye diseases/microbiology; Immunohistochemistry; Case reports 7. 8. 9. 10. 11. 12. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. Desjeux P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comp Immunol Microbiol Infect Dis. 2004;27(5):305-18. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Estudos e pesquisas em epidemiologia. Inf Epidemiol SUS. 1995;4(Supl 1):56. Marback H. Lesões oculares da leishmaniose tegumentar americana [tese]. Salvador: Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia; 1953. Longstaffe JA, Jefferies AR, Kelly DF, Bedford PG, Herrtage ME, Darke PG. Leishmaniasis in imported dogs in the United Kingdom; a potential health hazard. J Small Anim Pract. 1983;24(1):23-30. Slappendel RJ. Canine leishmaniasis. A review based on 95 cases in The Netherlands. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Roberto Lorens Marback Rua Eduardo José dos Santos, nº 147, sala 808 Garibaldi CEP 41940-455 - Salvador - BA - Brasil Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 152-5 RELATO 156 DE CASO Ceratectomia fotorrefrativa (PRK) com mitomicina C a 0,02% para correção de grau acentuado de astigmatismo hipermetrópico composto secundário a cirurgia de ceratotomia radial (RK) Photorefractive keratectomy (PRK) with mitomicyn C 0,02% for the management of high degree of hyperopic astigmatism following radial keratectomy Adamo Lui Netto1,Giovana Arlene Fioravanti Lui2, Aline Cristina Fioravanti Lui3, Tatiana Adarli Fioravanti Lui4, Marizilda Rita de Andrade5 RESUMO Descrever o efeito da cirurgia fotorrefrativa (PRK) associada ao uso de mitomicina C a 0,02% para correção de grau acentuado de astigmatismo hipermetrópico composto apresentado após cirurgia de ceratotomia radial (RK) realizada há 12 anos. Descritores: Mitomicina/uso terapêutico; Ceratotomia radial; Ceratectomia fotorrefrativa; Hiperopia; Astigmatismo/cirurgia 1 Chefe das Seções de Lentes de Contato e de Cirurgia Refrativa do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - FCMSCSP - São Paulo (SP), Brasil; 2 Residente do 3° ano do serviço de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo André (SP), Brasil; 3 Estagiária do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São Paulo e da Seção de Catarata da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil; 4 Acadêmica do 5° ano do curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Teresópolis - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 5 Doutora, Assistente das Seções de Refração e Cirurgia Refrativa do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - FCMSCSP - São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado no Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - FCMSCSP São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 18/12/2008 - Aceito para publicação em 30/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 156-60 Ceratectomia fotorrefrativa (PRK) com mitomicina C a 0,02% para correção de grau acentuado de astigmatismo... INTRODUÇÃO A ceratotomia incisional para correção dos erros refrativos é uma das técnicas mais antigas.Nessa técnica são realizadas incisões radiais da periferia da córnea em direção à região paracentral ou da região paracentral em direção à periferia da córnea, mantendo-se a área central, isto é, a zona óptica livre de incisões. Estas incisões produzem um abaulamento da córnea periférica com um aplanamento da córnea central, modificando o poder refrativo do olho, reduzindo a miopia (1). Os princípios da cirurgia incisional foram descritos pela primeira vez em 1898 pelo oftalmologista holandês Leendert Jan Lans, seguindo os princípios de que a córnea aplana no meridiano da incisão, e quanto mais profunda a incisão maior é o efeito do aplanamento, sendo que a cicatrização da córnea pode resultar em alguma perda no efeito desejado. Nesta descrição ele relata o efeito coupling, no qual apresenta um aplanamento da córnea no meridiano da incisão e um abaulamento compensatório no meridiano perpendicular, princípio este usado para correção do astigmatismo. O oftalmologista japonês, Tsutomu Sato, observou que alguns pacientes com ceratocone apresentavam aplanamento da córnea com redução da miopia após a ruptura da membrana de Descemet. Entre 1938 e 1943, Sato operou pacientes, na cirurgia foram realizadas incisões no endotélio e na membrana de Descemet para tratar ceratocone e posteriormente para correção da miopia, realizando incisões na face anterior e posterior da córnea. A maioria dos pacientes evoluiu com descompensação corneal e ceratopatia bolhosa como conseqüência inevitável da perda endotelial pelas incisões realizadas na face posterior da córnea(1). Na década de 1960, na Rússia, Svyatoslav Fyodorov e Valerie Durnev iniciaram estudos laboratorias e clínicos baseados na experiência de Sato, sendo eliminadas as incisões posteriores e realizadas 16 incisões na face anterior da córnea (1). Essas incisões produziam um abaulamento da córnea periférica com aplanamento da córnea central, e com isso corrigiam a miopia. No início da década de 1980, o National Eye Institute nos Estados Unidos, criou o estudo PERK (Prospective Evaluation of Radial Keratotomy) para avaliar os procedimentos refrativos realizados até então. O estudo PERK representa um marco na pesquisa clínica e cirúrgica dos procedimentos refrativos. Verificou-se que a hipercorreção é uma das possíveis compli- 157 cações da ceratotomia radial. De acordo com o estudo PERK a hipermetropia progressiva foi relatada em 43% dos olhos entre 6 meses e 10 anos após a realização da ceratotomia radial e as razões para este fenômeno ainda não foram definidas(2). Observou-se que a cicatrização corneal é uma importante variável, que pode modificar os resultados da Ceratotomia Radial (RK)(1-3). Outras causas podem estar relacionadas a um planejamento cirúrgico inadequado, fragilidade causada à estrutura da córnea através das incisões com aplanamento progressivo da área central, uso prolongado de lentes de contato após a ceratotomia radial e o hábito de esfregar os olhos, além de fatores relacionados à técnica cirúrgica(1-3). Além do PERK, outros estudos mostraram um padrão semelhante com uma incidência de aproximadamente 30% de hipermetropia progressiva entre um e quatro anos após a cirurgia(2). A ceratotomia radial começou a ser realizada no Brasil a partir da década de 1980, para a correção de baixos e médios graus de miopia e astigmatismo(1). Hoje constatamos que a correção era imprecisa, tendo como complicações ópticas mais comuns hipocorreção, hipercorreção progressiva levando à hipermetropia acentuada acompanhada de astigmatismo regular e/ou irregular(1,4). Para a correção desses altos graus utilizam-se óculos, lentes de contato e/ ou cirurgia refrativa (Lasik - laser assisted in situ keratomilelusis)(4-5), que apesar de promoverem boa correção, ainda podem persistir graus residuais de ametropias esféricas e cilíndricas, com astigmatismos regulares e irregulares que prejudicam a acuidade visual (AV), além das complicações graves do Lasik tais como: problemas relacionados à confecção da lamela corneal, corte incompleto, crescimento epitelial na interface, bem como estrias devido a sua incorreta coaptação. A técnica PRK associada ao uso da mitomicina C tem sido promissor no tratamento de altas ametropias(6). A mitomicina C (MMC) é um antimetabólito alquilante derivado do Streptomyces caespitosus(6). Age no bloqueio da replicação de DNA e RNA, inibindo a síntese proteica, evitando assim a multiplicação celular. Afeta principalmente as células com rápida atividade proliferativa(6-7). Seu mecanismo de ação mimetiza a radiação ionizante com uma ação que se prolonga após a interrupção do tratamento(7). É utilizada em muitas áreas da oftalmologia como em cirurgias de glaucoma, pterígio, neoplasias de conjuntiva e córnea, penfigóide ocular cicatricial, atenuação dos períodos de exacerbação da ceratoconjuntivite primaveril e recentemente em cirurgias refrativas(6-10). Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 156-60 158 Netto AL, Lui GAF, Lui ACF, Lui TAF, Andrade MRA Figura 1a: Orbscan OD em 12/06/06 Figura 1b: Orbscan OE em12/06/06 Figura 1a, 1b - Orbscan mostra na parte superior da figura o aplanamento das córneas na região central nos mapas de elevação anterior e posterior e na parte inferior o aplanamento nas topografias e as paquimetrias nas diferentes regiões da córnea, em olhos direito e esquerdo Figura 2a: Orbscan OD 15/01/2008 Figura 2b: Orbscan OE 15/01/2008 Figura 2a, 2b- Orbscan mostra na parte superior da figura o encurvamento pós operatório das córneas na região central nos mapas de elevação anterior e posterior e na parte inferior da figura os encurvamentos das topografias e os mapas paquimétricos, em olhos direito e esquerdo Como efeitos colaterais foram citados na literatura: fotossensibilidade, dor ocular, edema de córnea, glaucoma secundário, hiperemia conjuntival e palpebral, oclusão do ponto lacrimal inferior (7). A mitomicina C a 0,02% é utilizada atualmente em cirurgia refrativa no tratamento e/ou na profilaxia das opacidades de córnea (haze) e fibrose subepitelial corneal associada ou não a cirurgia refrativa prévia(6). Sabe-se que a formação do “haze” corneal está relacionada à quantidade e profundidade de tecido estromal corneal removido durante a Cirurgia Fotorrefrativa (PRK) (8). Em cirurgia refrativa, a mitomicina C per-operatória vem sendo utilizada como terapia adjunta no tratamento de “haze” e fibrose subepitelial corneal associada ou Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 156-60 não à ceratectomia fototerapêutica (PTK), em ceratectomia fotorrefrativa (PRK), após complicações com a lamela do Lasik, em PRK pós-ceratotomia radial e pós-transplante de córnea e mais recentemente como profilaxia à formação de “haze” em PRK e olhos suscetíveis sem cirurgia refrativa prévia(6,8). O uso de mitomicina C a 0,02% tópica tem sido boa alternativa para o tratamento e prevenção de opacidade corneal(8). Sua aplicação no tecido corneal é realizada após a remoção do epitélio e aplicação do Laser, direto no leito estromal em uma concentração de 0,02% durante um período de tempo variável entre 12 segundos a 2 minutos(8). Esse trabalho tem como objetivo descrever o caso de uma paciente que foi submetida a cirurgia fotorrefrativa Ceratectomia fotorrefrativa (PRK) com mitomicina C a 0,02% para correção de grau acentuado de astigmatismo... (PRK) com mitomicina C a 0,02% para correção de alto grau de astigmatismo hipermetrópico composto apresentado após ceratotomia radial, realizado há mais de 12 anos. Relato de caso LCGC, sexo feminino, 39 anos, branca, casada, natural e procedente de São Paulo apresentava queixa de baixa acuidade visual para longe e para perto, em ambos os olhos há um ano, manifestando desejo de submeter-se a outra cirurgia para correção de seu erro refracional. Sente desconforto com o uso dos óculos e lentes de contato. A paciente havia sido submetida à ceratotomia radial em 1994, permanecendo sem correção óptica até o ano de 2000. Após essa data, relata uso de correção óptica para perto e para longe, com aumentos progressivos desde então. Ao exame do dia 11 de junho de 2006, temos: Acuidade visual (com correção) - OD: 0,7 | OE: 0,7; Exame externo - AO: normais; Motilidade ocular extrínseca - AO: preservada; Biomicroscopia - AO: conjuntivas normais, córneas com presença de 8 incisões radiais preservando 3 mm de zona óptica; Pressão intraocular - AO: 12mmHg; Fundo de olho - AO: escavação fisiológica, mácula preservada, retina aplicada 360°. Foi realizado Orbscan II como exame pré-operatório para verificar a topografia corneal, que é um aparelho que combina a tecnologia derivada da reflexão da córnea, gerada a partir dos discos de Plácido com análise de fenda de luz. Esse aparelho foi o utilizado por ser o aparelho disponível em nosso serviço, o qual também apresenta os anéis de Plácido que adicionam reprodutibilidade e precisão ao sistema, comportandose como um videoceratoscópio corneal computadorizado e como um topógrafo pancorneal (1). Correção em uso: OD: +3,00DE +1,50DC 160°; OE: +2,50DE +2,50DC 75° Topografia: OD: 36,00 x 35,25 100°/10° (irregular) (Figura 1a); (Orbscan ) OE: 35,25 x 36,50 165°/75° (irregular) (Figura 1b) Refração dinâmica: OD: +4,00DE +1,50DC 160° (AV=0,7) ; OE: +3,25DE +2,50DC 75° (AV=0,7). Refração estática: OD: +8,00DE +1,50DC 160° (AV=0,6); OE: +6,50DE +2,50DC 75° (AV=0,6). 159 DISCUSSÃO A resposta cicatricial desencadeada por procedimentos refrativos corneais é de extrema importância, pois representa um fator determinante para sua segurança e eficácia(6). Em 2003, foi descrito um trabalho por Vigo et al onde foi aplicado MMC em 35 olhos com “haze” importante e regressão após PRK para correção de miopia.Vinte destes olhos haviam sido tratados inicialmente com Lasik para correção miópica, permanecendo com grau residual, e então haviam sido submetidos à PRK, desenvolvendo “haze” e regressão. A técnica cirúrgica para tratamento do “haze” consistiu em debridamento epitelial com álcool 20%, seguido de raspagem superficial para remoção de tecido fibrótico e aplicação de MMC 0,02% durante dois minutos. Não houve nova ablação com laser. No seguimento de 12 meses, todos os olhos apresentaram melhora importante do “haze”, da regressão miópica e da acuidade visual corrigida, sem descrição de efeitos adversos. Os autores comentam que esta concentração e tempo de exposição não parecem induzir nenhuma complicação séria, porém ponderam que a MMC pode acarretar efeitos adversos muitos anos após aplicação(9). No presente caso, estivemos diante de uma situação em que a anatomia da córnea já havia sido alterada com a realização da ceratotomia radial.A presença de astigmatismo irregular à topografia estava relacionada à irregularidade das incisões radiais e a hipermetropia progressiva à desestabilização da arquitetura corneal. Portanto a resposta cicatricial de uma nova intervenção cirúrgica seria uma incógnita. Notamos que houve uma hipercorreção em ambos os olhos, talvez devido à irregularidade das incisões radiais, que desestabilizaram a arquitetura corneal. Devido aos diversos estudos sobre a ação da mitomicina C na modulação da resposta cicatricial da córnea, fomos estimulados a usá-la associada à cirurgia fotorrefrativa para correção de alto grau de astigmatismo hipermetrópico composto. Muitas córneas operadas de RK nunca ficam estáveis, apresentando hipermetropia progressiva devido ao aplanamento contínuo na região central da córnea. A técnica do Lasik para correção pós-RK não é indicada para córneas muito planas, pois podem provocar complicações relacionadas à lamela corneal, como corte incompleto, irregularidade na região central, abertura das incisões, ceratite lamelar difusa, invasão epitelial na interface, entre outros (10). No PRK as alterações da estrutura corneal são menores, entretanto pode apresentar opacidades (haze) Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 156-60 160 Netto AL, Lui GAF, Lui ACF, Lui TAF, Andrade MRA intensas ou não, que se localizadas na região central podem interferir na AV final. Ghanem VC, Joyal H mostram que em olhos operados de PRK pós-RK, a incidência de “haze” não é clinicamente significativo, embora os pacientes fossem acompanhados por pequeno período de tempo e com grau de hipermetropia menor (8,10,11). O resultado refrativo final, bem como diversas complicações pós-operatórias, como hipocorreção, hipercorreção, exacerbação de processos inflamatórios e formação de opacidades corneais, estão diretamente relacionadas ao processo cicatricial corneal(8). O uso profilático da mitomicina C tem sido indicado nos casos onde exista algum fator de risco para o desenvolvimento de opacidade corneal, incluindo-se: desenvolvimento de opacidade significativa no olho contralateral, retratamentos de olhos que desenvolveram opacidade anteriormente ou casos em que serão feitos PRK após prévio LASIK ou ceratotomia radial (6,8). CONCLUSÃO O presente caso relata a correção de alto grau de astigmatismo hipermetrópico composto em ambos os olhos de uma paciente que havia sido submetida a ceratotomia radial há 12 anos. Foi submetida a cirurgia de PRK associada ao uso de mitomicina C a 0,02% apresentando resultado seguro, estável e com boa acuidade visual após um ano e meio da cirurgia, embora apresentasse discreta hipercorreção em ambos os olhos.A hipercorreção parece estar diretamente relacionada ao processo cicatricial corneal. REFERÊNCIAS 1. Alves MR, Chamon W, Nosé W. Cirurgia refrativa - Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. p.28-9, 105-7. 2. Salera CM, Servian EED, Moreira FB, Guimarães MR, Castro RD, Guimarães RQ. Lente fácica de câmara posterior para correção de hipermetropia consecutiva à ceratotomia radial. Arq Bras Oftalmol. 2003; 66(5): 563-6. 3. Sanders DR, Hofmann RF, Salz JJ. Refractive Corneal Surgery. New Jersey: Slack Incorporeted; 1986. p.9-10. 4. Coral-Ghanem C, Kara-José N. Lentes de contato na clínica oftalmológica. 3a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2005. p.88. 5. Adimara R, Lipener C. 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Photorefractive keratotomy to correct hyperopic shift after radial keratotomy. J Cataract Refract Surg. 2003;29(8):1502-6. ABSTRACT To describe PRK with mitomicyn C effects for the management of high-degree hyperopic astigmatism following Radial Keratectomy performed 12 years ago. Keywords: Mitomicyn/therapeutic use; Keratectomy, radial; Photorefractive keratectomy; Hyperopia; Astigmatism/surgery Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 156-60 ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Giovana A. Fioravanti Lui Av. Min. Gabriel Res. Passos, nº 300 CEP 04521-021 - São Paulo - SP Fax: (55-11) 5052-1685 Email: [email protected]; cc: [email protected] RELATO DE CASO161 Maculopatia tóxica por cloroquina Chloroquine toxic maculopathy Nikias Alves da Silva¹, Felício Aristóteles da Silva² RESUMO O fosfato de cloroquina é uma droga largamente utilizada no tratamento de doenças crônicas de autoagressão, mais comumente no controle da artrite reumatóide, do lupus eritematoso discóide ou disseminado, da porfiria cutânea, da urticária solar e outras afecções dermatológicas. Embora a incidência de toxicidade retiniana por esta droga seja baixa, mesmo com o emprego da dose máxima recomendada, sua ocorrência tem grande relevância por acometer a região macular com importante e irreversível comprometimento visual. Trata-se no presente caso de uma paciente de 44 anos, portadora de artrite reumatóide há 19 anos, que fez uso de fosfato de cloroquina na dose de 250 mg/dia durante dois períodos de 4 e 3 anos, intercalados por um período de 8 anos em que usou methotrexate. Ao final do segundo período de uso da cloroquina, foi observada a maculopatia, a partir de quando a droga foi definitivamente substituída por methotrexate e prednisona. Por seu caráter típico e conspícuo, a maculopatia em questão se presta muito bem para ilustrar os achados dos principais métodos propedêuticos que devem ser empregados para caracterizá-la, inclusive a tomografia de coerência óptica. Descritores: Artrite reumatóide/efeito de drogas; Cloroquina/efeitos adversos; Cloroquina/toxicidade; Mácula lútea; Relatos de casos ¹Assistente voluntário da Clínica de Olhos da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte; Médico Oftalmologista do Centro de Oftalmologia Avançada, Belo Horizonte (MG) ) - Brasil; ²Professor voluntário da Clínica de Olhos da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte; Associado do Centro de Oftalmologia Avançada, Belo Horizonte (MG) ) - Brasil; Trabalho realizado no Centro de Oftalmologia Avançada- Belo Horizonte (MG) - Brasil. Recebido para publicação em: 26/12/2008 - Aceito para publicação em 30/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 161-7 162 Silva NA, Silva FA INTRODUÇÃO A toxicidade retiniana pela cloroquina e seu análogo hydroxicloroquina tem sido reco nhecida ao longo dos anos. A frequência da retinopatia varia de 0,001 a 40%(1,2), dependendo dos métodos e critérios diagnósticos. Nos últimos anos, entretanto, a incidência desta patologia se encontra menor devido à redução na dosagem da droga utilizada associada a períodos mais curtos de tratamento, além da substituição da cloroquina pela hydroxicloroquina, sendo esta última considerada menos tóxica. O principal sintoma é baixa de acuidade visual, que na maioria das vezes aparece quando o paciente apresenta alterações fundoscópicas e perimétricas importantes e irreversíveis. A maculopatia tóxica por antimaláricos é definida pela presença de defeitos reprodutíveis e bilaterais de campo visual, detectados pela tela de Amsler ou perimetria automatizada. O surgimento ou não de alterações retinianas e maculares parece depender mais da dose diária utilizada pelo paciente e menos da duração do tratamento, sendo que doses elevadas e tratamentos prolongados aumentam o risco de aparecimento das mesmas. O presente artigo ilustra um quadro típico de maculopatia tóxica bilateral secundária ao uso crônico de difosfato de cloroquina. Apresentação do caso Paciente do sexo feminino, 45 anos de idade, portadora de artrite reumatóide diagnosticada desde 1984, foi atendida no nosso serviço no dia 24/02/03, para avaliação de alterações retinianas, possivelmente secundá- Figura 1: Retinografia a cores - Mácula em olho de boi Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 161-7 rias ao uso de difosfato de cloroquina. Paciente ex-usuária de difosfato de cloroquina 250mg/dia, que usou por dois períodos, de 1986 a 1989, e de 1997 a 1999, quando, então, devido às alterações retinianas, a medicação foi substituída por methotrexate 10 mg/dia e prednisona 5mg/ dia. Entre 1989 e 1997 fez uso apenas de methotrexate. A paciente possuía um relatório de 1999 que já aludia a alterações do brilho e reflexo maculares em ambos os olhos (AO), mais evidentes no olho direito (OD), e epitélio pigmentar retiniano dentro dos padrões de normalidade. A acuidade visual no OD era de 20/25 com a refração de -2,00 esf = -0,25 cil (135°) e 20/25 no olho esquerdo (OE) com a refração de -1,25 esf. A biomicroscopia estava dentro da normalidade nos dois olhos e as pressões intraoculares mediam 17 mmHg no OD e 18 mmHg OE. A fundoscopia (Figura 1) mostrava nos dois olhos uma maculopatia com a fovéola hiperpigmentada circundada por uma zona anular de hipopigmentação, mesclada com uma fina mobilização pigmentar, configurando o clássico aspecto em olho de boi . Os discos ópticos mostravam-se corados. À angiofluoresceinografia (Figura 2) via-se a típica hipofluorescência foveal intensa (efeito máscara pela hiperpigmentação) envolvida por um anel de hiperfluorescência marchetado (efeito janela pela atrofia e mobilização pigmentar), que se estendia até o disco óptico, envolvendo-o. O campo visual computadorizado (Figura 3), que apresentava um extenso e denso escotoma anular central em agosto/2001, mantinha-se inalterado até agosto/2005. Uma perimetria cinética manual realizada em fevereiro/2003 mostrava preservação do campo periférico. 163 Maculopatia tóxica por cloroquina Figura 2: Angiofluoresceinografia Figura 3: Campo visual computadorizado macular - escotoma pericentral anular mais denso superiormente Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 161-7 164 Silva NA, Silva FA Figura 4: Teste de visão cromática Panel D-15; Inespecífico OD, normal OE Figura 5: ERG. Diminuição difusa de amplitude ce de Arden abaixo do normal em AO (OD=1,51 e OE=1,75) e o potencial visual evocado (PEV) (Figura 7) uma diminuição de amplitudes em AO sem formação de P100. A tomografia computadorizada da região macular (Figura 8) mostrou uma difusa e relevante diminuição da espessura em todos os setores no “scan” de 6mm. Figura 6: EOG. Índice de Arden diminuído O teste de visão de cores Farnsworth l D-15 Pane (Figura 4) mostrou discreta alteração inespecífica no OD e exame normal no OE. O eletrorretinograma (ERG) (Figura 5) revelou uma diminuição da amplitude nas ondas escotópicas e fotópicas, mais acentuada no OE. O eletro-oculograma (EOG) (Figura 6) mostrou um índi- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 161-7 DISCUSSÃO Os dois efeitos colaterais de maior relevância da cloroquina no olho são os depósitos corneanos e a retinotoxicidade, esta bem menos frequente (2,9%18,0%)(1-2), porém muito mais importante pelo comprometimento grave e irreversível que pode causar à Maculopatia tóxica por cloroquina 165 Figura 7: PEV - Diminuição de amplitudes sem formação de P100 Figura 8: OCT3 da região macular visão. Foi relatada, pela primeira vez, por Cambiaggi(3), que atribuiu a maculopatia ao lupus eritematoso sistêmico de que a paciente era portadora e não à cloroquina que ela usava. Os depósitos corneanos, bem mais comuns (33,3%-86,0%)(1-2), porém inócuos e reversíveis, foram descritos primeiramente por Hobbs e Calnan(4). Sintomas visuais mal definidos, contudo, já haviam sido observados anteriormente por vários autores desde os primeiros ensaios com a cloroquina em 1948(5). Hobbs, Sorsby e Freedman, foram os primeiros a afirmarem, com base em três casos estudados, que a retinopatia resultava do tratamento com compostos da cloroquina(5). Os sintomas iniciais são queixas visuais incaracterísticas e vagas, que evoluem para franca baixa visual em decorrência de escotomas, que são, inicialmmente, pericentrais nos 10º da fixação, mais comumente superior do que inferiormente, como neste caso. Com o tempo, eles aumentam e se multiplicam, estendendo-se à periferia e à fixação(6). A perimetria estática de limiar parece ser o método mais sensível para detecção dos estágios iniciais do dano funcional resultante da toxicidade cloroquínica(7). Neste período de dano estritamente funcional, a tela de Amsler parece ser ainda mais sensível(8) . A visão de cores também pode ser afetada pela cloroquina e deve ser testada rotineiramente com um teste de visão de cores capaz de detectar defeitos no eixo amarelo-azul e no vermelho-verde, para maximizar a sensibilidade para a toxicidade (9). As pranchas pseudoisocromáticas padrão-parte 2 (SPP-2) e o American Optical Hardy Rand Rittler (AO HRR) preenchem estes critérios(9). O teste de Ishihara (vermelhoverde) e o D-15 (amarelo-azul) têm baixa sensibilida- de. O caso aqui apresentado confirma isto mais uma vez, pois apesar da franca maculopatia, o D-15 se mostrou inespecífico no OD e normal no OE. Olhos com escotomas relativos e melhor acuidade visual têm uma maior proporção de defeitos no eixo amarelo-azul e olhos com escotomas mais profundos e acuidade visual mais baixa têm uma proporção aumentada de defeitos no eixo vermelho-verde(9). A elevada sensibilidade das pranchas pseudoisocromáticas para detectar esta retinopatia é, indubitavelmente, devida à presença dos escotomas pericentrais e centrais que ocorrem como sinal precoce desta enfermidade e não a um verdadeiro defeito da visão de cores. Isto ocorre mais tardiamente e passa por um estágio de tritanopia, que é mais característico de uma patologia retiniana, em contraste aos defeitos vermelho-verde (protanopia) resultantes de lesões nas vias de condução(6). Testes objetivos da função retiniana global, tais como ERG(1,6,10) ou o EOG(11), carecem de sensibilidade suficiente para detectar alterações funcionais precoces conseqüentes ao acometimento de uma área tão restrita do fundo de olho, como é a mácula(10). Tais testes de resposta em bloco têm pouca importância no rastreamento precoce da maculopatia cloroquínica, mas são úteis na avaliação do paciente com intoxicação manifesta para se julgar quão severo ou abrangente é o dano. Tipicamente, o ERG mostra diminuição da amplitude das ondas a e b, mais na fase fotópica do que na escotópica(1,6), até sua extinção nos casos muito avançados(6). O ERG multifocal parece ser mais promissor para avaliação da maculopatia cloroquínica porque é capaz de gerar respostas eletrorretinográficas locais topograficamente através do polo posterior do olho, mapeando a distribui- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 161-7 166 Silva NA, Silva FA ção da depressão do traçado de sorte a reproduzir o padrão em olho de boi da maculopatia.10 Contudo, seu verdadeiro papel neste contexto ainda precisa ser melhor esclarecido.(12,13) Alguns relatos têm sugerido que o EOG é um indicador relativamente específico e precoce de intoxicação retiniana,11,14 mas outros autores observaram EOG normal em pacientes com franca intoxicação. As evidências atuais não validam o EOG como um teste de rastreamento confiável.10 O achado positivo é um índice de Arden diminuído (abaixo de 2,0), como no presente caso. O PEV também mostrou uma diminuição de amplitudes sem formação de P100. A adaptometria ao escuro(1,6), não realizada neste caso, pode estar afetada tardiamente, mas também não se presta como um teste de rastreamento válido.10 A oftalmoscopia pode permanecer normal mesmo após aparecimento dos escotomas. As alterações mais iniciais são mobilização pigmentar macular e apagamento do reflexo foveolar (hiperpigmentação). Com o tempo, surge ao seu redor outra zona concêntrica de hipopigmentação, usualmente ovalada horizontalmente e mais extensa inferiormente, circundada por outra zona de hiperpigmentação. Isto resulta na clássica “maculopatia em olho de boi”, como no presente caso. Com o agravamento do processo, as alterações pigmentares se acentuam, sendo o quadro final indistinto da retinite pigmentosa, com pigmentação periférica irregular, afilamento vascular e atrofia do disco óptico.(1,5,6) A angliofluoresceinografia apenas ressalta as alterações pigmentares maculares nos casos em que a maculopaia já está bem definida, mas raramente melhora a precisão do diagnóstico. Ocasionalmente, ela pode auxiliar no diagnóstico diferencial com outras maculopatias. No primeiro estudo histopatológico sobre esta entidade, os autores observaram destruição de cones e bastonetes com um acúmulo de células carregadas de pigmento nas camadas nuclear e plexiforme externa. Os vasos retinianos, as células ganglionares e a camada nuclear interna estavam normais. Este processo destrutivo poupava apenas a fovéola, a retina circumpapilar e zonas da retina temporal.15 Um estudo com microscopia eletrônico do olho desta mesma paciente mostrou inclusões citoplasmáticas curvilíneas e multimembranosas nas células ganglionares, na musculatura lisa do corpo ciliar e nos músculos retos. Isto indicaria que uma das alterações mais precoces pode se dar ao nível das células ganglionares da retina e que as alterações no epitélio pigmentar da retina e nos fotorreceptores sejam ocorrências mais tardias no pro- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 161-7 cesso tóxico pela cloroquina.16 Por causa de sua grande afinidade pela melanina, a cloroquina pode perturbar o metabolismo do epitélio pigmentar da retina, com destruição secundária dos cones e bastonetes. Isto também pode se dar por uma ação direta da cloroquina sobre os fotorreceptores ou por oclusão dos vasos retinianos. Não foi possível induzir experimentalmente lesões retinianas pela cloroquina em coelhos5 ou em ratos albinos ou pigmentados.6 A tomografia de coerência óptica mostrou, neste caso, uma redução média na espessura da retina nos 6 mm centrais de 70µ no OD e 71µ no OE, consubstanciando uma significativa destruição de parte de seus elementos. Parece que o fator mais importante na toxicidade ocular pela cloroquina é a dose diária(17,18). Se a dose diária for mantida em um limiar seguro, não parece haver limite para a duração do tratamento e nem para a dose total cumulativa, não obstante a grande afinidade da cloroquina pelos tecidos pigmentados do olho e sua excreção renal lenta. Alguns autores consideram que a ocorrência de toxicidade é pouco provável se a dose diária não exceder 250 mg(17). Contudo, mais correto é estabelecer esta dose com base no peso corporal, o que para a cloroquina é 4 mg/kg/d(19). Para um paciente de mais baixo peso, 250 mg/d pode ser uma dose excessiva e tóxica, como, provavelmente, ocorreu neste caso. Também é necessário que se disponha de apresentações que permitam o fracionamento adequado da dose. É necessário, também, ajustar a dose para portadores de insuficiência renal. É indispensável, portanto, no manejo destes pacientes, uma estreita interação do oftalmologista com o clínico. Não há tratamento para a retinopatia tóxica pela cloroquina. Fundamental, pois, é seu diagnóstico precoce seguido da imediata suspensão da droga. A retinopatia precoce é caracterizada por um escotoma pericentral adquirido na perimetria estática de limiar sem alterações oftalmoscópicas, em contraposição à avançada, onde há atrofia do epitélio pigmentar retiniano parafoveal(18). Se a droga for suspensa na fase precoce, os escotomas podem ou não regredir; quando as alterações fundoscópicas são evidentes, os escotomas podem progredir a despeito da suspensão da droga(6,8,18,20). Em uma série de pacientes observados por mais de 10 anos após a suspensão da droga, a maioria permaneceu razoavelmente estável e a gravidade da retinopatia não parece ter influenciado nesta tendência(14). Excepcional é o relato de um caso de retinopatia avançada que começou 7 anos após interrupção do uso da cloroquina(21). A paciente aqui apresentada tem se mantido estável nestes 2,5 anos após suspensão da droga. Maculopatia tóxica por cloroquina Para rastreamento da retinopatia cloroquínica, a Academia Americana de Oftalmologia recomenda um exame oftalmológico completo inicialmente, com campimetria computadorizada central ou tela de Amsler, opcionalmente com teste de visão de cores, retinografia, fluoresceinografia e ERG multifocal. Pacientes de baixo risco (dose menor que 3 mg/kg e idade menor que 60 anos) somente devem ser examinados regularmente após 5 anos do início do tratamento; os de alto risco, anualmente, com os exames acima(10). ABSTRACT Chloroquine phosphate is widely used for the treatment of chronic autoimune diseases, most commonly rheumatoid arthritis, discoid or disseminated lupus erythematous, light sensitivity eruptions as well as other dermatologic affections. Although the incidence of retinal toxicity by this drug is low even with the maximally recomended dose, its occurrence is relevant because it damages the macula with an important and irreversible visual impairment. A 44-year-old white female patient who had suffered from rheumatoid arthritis for about 19 years had been under treatment with chloroquine phosphate in the daily dose of 250 mg during two periods of 4 and 3 years, intercalated by an 8-year period of methotrexate usage. At the end of the 3-year period, a maculopathy was observed. Since then, the patient has been taking only methotrexate and prednisone. For its typical and conspicuous presentation, this case ilustrates very well the findings with the most relevant examination methods that should be used to characterize it, including the optical coherence tomography. Keywords: Arthritis, rheumatoid/drug effects; Chloroquine/adverse effects; Chloroquine/toxicity; Macula lutea; Case reports REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Hobbs HE, Eadie SP, Somerville F. Ocular lesions after treatment with chloroquine. Br J Ophthalmol. 1961;45(4):284-97. Henkind P, Rothfield NF. Ocular abnormalities in patients treated with synthetic antimalarial drugs. N Engl J Med. 1963;269:433-9. Cambiaggi A. Unusual ocular lesions in a case of systemic lupus erythematosus. AMA Arch Ophthalmol. 1957;57(3):451-3. Hobbs HE, Calnan CD. The ocular complications of chloroquine therapy. Lancet. 1958;1(7032):1207-9. Hobbs HE, Sorsby A, Freedman A. Retinopathy following chloroquine therapy. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Nikias Alves da Silva Rua Júlio Vidal nº 11 - apto 1201- Anchieta CEP30310-440 - Belo Horizonte (MG) E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 161-7 RELATO 168 DE CASO Hipertensão intracraniana idiopática de apresentação atípica com papiledema unilateral Unilateral papiledema as an atypical presentating sign of idiopathic intracranial hyperthension André Luís Freire Portes1, Carolina Do Val Ferreira Ramos2, Juliana dos Santos Nunes3, Renata Valdetaro4, Mário Luiz Ribeiro Monteiro5 RESUMO Este trabalho descreve o caso de uma paciente de 56 anos que se apresentou com cefaléia, edema unilateral de papila e constrição do campo visual nasal. Os exames laboratoriais e de neuroimagem, o acompanhamento clínico e resposta ao tratamento permitiram o diagnóstico de hipertensão intracraniana idiopática. Chamamos a atenção que o papiledema unilateral pode ser uma forma de apresentação incomum da síndrome e discutimos o seu diagnóstico diferencial e tratamento. Descritores: Pseudotumor cerebral/diagnóstico; Pseudotumor cerebral/complicações; Pseudotumor cerebral/fisiopatologia; Hipertensão intracraniana/complicações; Papiledema/etiologia; Relatos de casos 1 Professor Assistente da disciplina de Oftalmologia, Faculdade de Medicina da Universidade de Estácio de Sá - UNESA - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Pós-graduando (doutorado) da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil; 2 Doutora, Preceptora da Faculdade de Medicina da Universidade de Estácio de Sá - UNESA - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Acadêmica Interna do 11º período do Curso de Graduação em Medicina da Universidade de Estácio de Sá - UNESA - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 4 Acadêmica, Aluna do Programa de Iniciação Científica no 11º período do Curso de Graduação em Medicina da Universidade de Estácio de Sá - UNESA - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 5 Livre-docente, Professor Adjunto Divisão de Clínica Oftalmológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 30/1/2009 - Aceito para publicação em 27/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 168-74 Hipertensão intracraniana idiopática de apresentação atípica com papiledema unilateral INTRODUÇÃO A síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (HII) é uma afecção caracterizada por sinais e sintomas de aumento da pressão intracraniana, ausência de lesões expansivas e de ventriculomegalia aos exames de neuroimagem, e constituição do líquor normal em um paciente sem alterações no nível de consciência(1).A etiologia permanece desconhecida, entretanto sabe-se que a obstrução da drenagem venosa cerebral pode estar envolvida na sua fisiopatogenia. Ocorre mais freqüentemente em mulheres obesas e o quadro clínico inclui: cefaléia, náuseas, vômitos, diplopia, papiledema, obscurecimento visual transitório, perda de acuidade e campo visual além de outras funções visuais(2). Embora a síndrome da HII seja relativamente benigna do ponto de vista neurológico, pode levar a inúmeras alterações oftalmológicas acarretando perda visual em uma porcentagem muito alta de indivíduos, seja por perda progressiva das fibras nervosas da retina ou por complicações vasculares retinianas(3,4). O conhecimento do seu quadro clínico e das suas principais manifestações oftalmológicas é, portanto, de fundamental importância para que o oftalmologista possa fazer um diagnóstico precoce e auxiliar no seguimento e tratamento desta afecção. A presença de edema bilateral de papila é um dado semiológico importante no diagnóstico desta afecção. Assim, quando o papiledema está ausente ou ocorre em apenas um dos olhos, a possibilidade de confusão diagnóstica é muito grande (2,5,6). O objetivo deste 169 trabalho é descrever um caso atípico de HII com apresentação de edema de disco óptico unilateral e correlacionar tal achado com os exames complementares realizados incluindo a angiofluoresceinografia, a ultrassonografia, a tomografia de coerência óptica e os exames de neuroimagem. Chamamos a atenção para esta ocorrência incomum, enfatizando as características que permitem o seu diagnóstico adequado e revisando outros casos semelhantes da literatura. Relato do caso Paciente do sexo feminino, 56 anos, natural da Espanha e residente na cidade do Rio de Janeiro, procurou o Serviço de Oftalmologia da Policlínica Ronaldo Gazolla da Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá, por apresentar cefaléias e fotopsias. Negava antecedentes oculares relevantes a não ser o uso de lentes corretoras. Ao exame a acuidade visual corrigida era de 20/20 no olho direito (OD) e 20/25 no olho esquerdo (OE). O exame ocular externo e da motilidade ocular extrínseca nada revelaram. As pupilas eram isocóricas e fotorreagentes, mas havia um defeito aferente relativo discreto no OE. A biomicroscopia do segmento anterior não mostrou alterações e a pressão intraocular foi de 12mmhg em ambos os olhos (AO). O fundo de olho mostrou disco óptico de limites nítidos no OD e borramento dos limites do disco óptico no OE (Figura 1). A paciente já havia sido atendida previamente no serviço, há três meses para exame refracional, apresentando na ocasião todo exame oftalmológico dentro Figura 1: Retinografia revelando disco óptico de limites nítidos no olho direito (à esquerda) e borramento dos bordos do disco óptico no olho esquerdo (à direita) Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 168-74 170 Portes ALF, Ramos CVF, Nunes JS, Valdetaro R, Monteiro MLR Figura 2: Angiofluoresceinografia normal no olho direito (A) e evidenciando extravasamento de contraste do disco óptico no olho esquerdo (B) Figura 3: Ultrassonografia modo B, do olho esquerdo (à esquerda) demonstrando elevação na parede acústica posterior secundária ao edema de disco óptico e do olho direito (à direita) demonstrando exame normal da normalidade. Foram solicitados exames laboratoriais incluindo hemograma completo, glicemia de jejum, cálcio, uréia, creatinina, proteina C reativa, velocidade de hemossedimentação, sorologia para toxoplasmose e sífilis que foram normais ou negativos. A análise do líquido cefalorraquidiano não foi feita, pois a paciente se negou a realizar por medo de possíveis complicações inerentes ao procedimento. Tanto a avaliação clínica quanto a neurológica, assim como os exames de imagem (tomografia computadorizada e imagem por ressonância magnética) foram normais. Foi realizada a angiografia fluoresceínica que foi normal no OD e demonstrou extravazamento do con- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 168-74 traste no disco óptico do OE (Figura 2). A ultrassonografia ocular e orbitária foi normal no OD e revelou, no OE, elevação em domo, difusa da parede acústica ao nível do disco óptico (Figura 3). Com o intuito de afastar a presença de drusas de papila, foi feita pesquisa de calcificações no disco óptico, com a diminuição do ganho do aparelho, que não se mostraram presentes. O campo visual computadorizado foi normal no OD e demonstrou perda de sensibilidade com depressão periférica no OE (Figura 4). Realizou-se também uma tomografia de coerência óptica, com análise da mácula e particularmente do disco óptico. Encontrou-se no OE grande elevação da papila (área da rima vertical de 171 Hipertensão intracraniana idiopática de apresentação atípica com papiledema unilateral 2,14 mm2, rima horizontal 2,67 mm e angulação de 0,66 mm), assim como aumento também da camada de fibras nervosas contiguamente (Figura 5). A paciente foi acompanhada, tendo o quadro clínico permanecido inalterado por um período de 8 meses, quando apresentou uma piora da acuidade visual no OE que passou a ser 20/40. Nenhum dado adicional foi encontrado nos novos exames em relação aos anteriores e novamente a paciente se negou a realizar punção do líquor. Por critérios de exclusão foi estabelecido o diagnóstico de Hipertensão Intracraniana Idiopática e iniciou-se tratamento com associação de acetazolamida na dose de 500mg/dia via oral (VO), e topiramato 25mg/ dia VO. A paciente apresentou melhora progressiva do quadro clínico, tanto na retinografia quanto na angiografia fluoresceínica, com diminuição no edema do disco óptico e no vazamento de corante, 3 meses após o início do tratamento. A tomografia de coerência óptica mostrou redução dos valores (área da rima vertical de 0,80 mm2, rima horizontal 1,66 mm e angulação de 0,53 mm), quantificando a melhora (Figura 6). DISCUSSÃO No paciente em estudo, o diagnóstico de HII foi baseado não só na apresentação clínica e evolução do quadro, mas principalmente pelos exames laboratoriais e de imagens realizados. É indispensável uma investigação mais apurada nesses casos, para afastar outras etiologias no diagnóstico diferencial, já que o diagnóstico da HII é essencialmente um diagnóstico de exclusão. Nossa paciente apresentou cefaléia e baixa da acuidade visual em um dos olhos acompanhada por defeito pupilar aferente discreto e papiledema naquele olho. Embora Figura 4: Campo visual computadorizado do olho esquerdo demonstrando constrição difusa, mais acentuada no setor nasal não tenha se submetido à medida da pressão intracraniana que permitiria um diagnóstico de certeza, os achados clínicos e a evolução do quadro possibilitaram se chegar ao diagnóstico com relativa segurança. A recusa da paciente em realizar a medida da pressão intracraniana nos obrigou a considerar com muito cuidado o diagnóstico diferencial com a neuropatia óptica isquêmica, a neurite óptica e o pseudoedema de papila. A neuropatia óptica isquêmica anterior (NOIA), tanto na forma não-arterítica como na arterítica ocorre mais comumente em pacientes mais idosos e que apresentam curso clínico rápido com perda Figura 5: Tomografia de coerência óptica do disco óptico do olho esquerdo demonstrando elevação dos limites da papila Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 168-74 172 Portes ALF, Ramos CVF, Nunes JS, Valdetaro R, Monteiro MLR Figura 6. Acima, retinografia colorida (à esquerda), em luz aneritra (ao meio) e angiografia fluoresceínica (à direita) do olho esquerdo demonstrando resolução do edema de papila. Abaixo, tomogafia de coerência óptica do mesmo olho, demonstrando a melhora 3 meses após o início do tratamento clínico aguda da visão e defeito de campo predominantemente altitudinal(7). As neurites ópticas de origem inflamatória ou infecciosa podem apresentar alteração nos exames laboratoriais, como a velocidade de hemossedimentação e a proteina C reativa e muito frequentemente se associam com evidências de doença desmielinizante à imagem por ressonância magnética. Além disso, a perda de acuidade visual é de evolução rápida e, assim como na NOIA, o edema de papila não persiste por mais do que algumas semanas. Finalmente o defeito de campo característico é uma alteração na região central e não periférica do campo visual(8). Quanto às drusas do disco óptico que se caracterizam por depósito de material hialino no disco óptico e que podem simular um papiledema unilateral se caracterizam à ultrassonografia ocular pela presença de lesão de alta refletividade mesmo com baixo ganho, e à tomografia computadorizada por calcificações na região do disco óptico(9). Além disso, não ocorre extravasamento de contraste à angiofluoresceinografia. Nossa paciente foi cuidadosamente avaliada sendo excluída a possibilidade de um pseudoedema de papila já que havia extravasamento de contraste nas fases tardias da angiofluoresceinografia e a ultrassonografia afastou a possibilidade de drusas calcificadas. As hipóteses consideradas de neurite óptica ou neuropatia óptica isquêmica também foram afastadas por dados clínicos, particularmente a ausência de perda súbita da visão, de defeito de campo visual compatível e pela persistência do edema de papila no período de observação de 8 meses. Além disso, o tipo de defeito campimétrico com constrição nasal do campo visual e a resposta ao tratamento clínico com acetazolamida Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 168-74 permitiram o diagnóstico da HII. Finalmente outras afecções que podem cursar com hipertensão intracraniana como os processos expansivos, as obstruções do sistema de drenagem liquórica e a oclusão de seios venosos durais foram afastadas pelos exames de neuroimagem e pela evolução clínica. A resistência da paciente para realização da punção lombar e o fato de o edema de papila ser unilateral impossibilitaram o diagnóstico HII de início, adiando a introdução do tratamento. No entanto, a melhora do quadro após a instituição do tratamento serviu como uma evidência a mais para confirmar o diagnóstico de HII. A acuidade visual comumente é preservada de início, mas pode ser comprometida quando o curso é prolongado e quando isso ocorre pode haver perda importante do campo visual periférico(10). Defeitos de campo visual são extremamente comuns nos pacientes com HII podem acometer entre 49-87% dos pacientes durante alguma fase da doença(3,11). Aumento da mancha cega é o achado mais comum ao exame de campo visual mas o primeiro sinal de dano axonal na HII é o defeito campimétrico no setor nasal e de forma mais freqüente no setor inferior. Constrição generalizada do campo visual também é um defeito característico da síndrome e ocorre geralmente no estágio tardio da doença e está associada ao papiledema atrófico. Wall e George(12) mostraram que 87% dos olhos apresentaram defeitos campimétricos, 51% persistiam com defeitos, mostrando que parte das alterações visuais são reversíveis na HII. Nossa paciente apresentou defeito característico no campo visual nasal e preservação relativa do campo visual central o que é característico do papiledema. A tomografia de coerência óptica (OCT) é um 173 Hipertensão intracraniana idiopática de apresentação atípica com papiledema unilateral exame oftalmológico que realiza imagens seccionais dos tecidos oculares, fornecendo através de dados quantificáveis parâmetros de espessura e área do local analisado. Vem ganhado destaque no diagnóstico e acompanhamento de diferentes afecções do nervo óptico, particularmente na quantificação da perda axonal retiniana que ocorre nas afecções da via visual anterior onde se mostra superior a outras tecnologias de medida da camada de fibras nervosas da retina(13,14). Sua utilização em pacientes que apresentam HII ainda é pequena, mas pode ser útil no acompanhamento evolutivo do edema de disco e das camadas de fibras nervosas(15), o que ficou demonstrado em nossa paciente. A fisiopatogenia da HII ainda não é compreendida na sua totalidade. Existem algumas teorias correntes para explicar o aumento da pressão intracraniana incluindo: o aumento da resistência ao fluxo de saída do líquido cefalorraquidiano (LCR), o aumento da produção do LCR e o aumento da pressão venosa cerebral. A associação entre HII e obesidade é bem conhecida, especialmente em mulheres jovens com ganho de peso recente. O objetivo do tratamento na HII é a redução da pressão intracraniana tendo em vista que o desconhecimento do mecanismo etiopatogênico impossibilita um tratamento específico. As principais indicações do tratamento são cefaléia permanente, papiledema moderado a severo e perda visual associada a defeito perimétrico(10). Pacientes assintomáticos e sem comprometimento visual podem ser seguidos com monitoração regular e sem tratamento. A função visual deve ser monitorada continuamente durante o tratamento tanto através da medida da acuidade visual, mas principalmente pelo campo visual e o edema de papila. Alguns estudos indicam que a perda de peso melhora o papiledema e a função visual nos pacientes obesos com HII, além de se associar à redução da PIC(10). Acetazolamida, um inibidor da anidrase carbônica, é considerada a primeira linha de tratamento na HII já que atua diminuindo a produção de líquor do plexo coróide. Recentemente, topiramato, um antiepilético com propriedade inibitória da anidrase carbônica, tem sido considerado como medicação para HII(1,16). Embora o tratamento clínico seja satisfatório na maioria dos casos, tratamento cirúrgico deve ser indicado quando há perda visual progressiva a despeito de terapia medicamentosa máxima, podendo ser realizada a fenestração da bainha do nervo óptico ou a derivação lombo peritoneal(17). Na paciente em questão, de início foi feito apenas o acompanhamento neurológico e oftalmológico regular, que se manteve por 8 meses, quando houve piora do quadro clínico, e optamos pelo tratamento combinando acetazolamina 500mg/dia com topiramato 25mg/dia. A associação foi mantida até a melhora clínica, quando foi suspenso a acetazolamida, entretanto o topiramato foi mantido ainda por 6 meses. As duas medicações têm mecanismos de ação diferentes: a acetazolamida vai reduzir a produção do líquor e diminuir a pressão intracraniana(2) e o topiramato, um antiepilético que possui um mecanismo de ação pouco esclarecido, reduz o apetite emagrecendo o paciente e ajudando no controle da cefaléia (usado também para enxaqueca). O seu uso nos casos de HII é recente(16). A ocorrência observada neste caso atual é rara, embora já tenha sido previamente documentada em alguns trabalhos na literatura(5,6,18-24). Observa-se, no entanto, que em muitos pacientes relatados o papiledema era na verdade muito assimétrico e a ocorrência de papiledema é absolutamente unilateral, não demonstrando nem mesmo o extravasamento de contraste à angiofluoresceinografia em um dos olhos como ocorreu no caso atual, é bastante incomum. Não se sabe por que alguns pacientes têm esta forma de apresentação, mas acredita-se que anomalias na bainha do nervo óptico ou na cabeça do nervo óptico possam interferir na transmissão da hipertensão intracraniana para o disco óptico dificultando assim o desenvolvimento do papiledema em um dos olhos(5). A apresentação da nossa paciente é importante para enfatizar que na HII o papiledema pode ser assimétrico ou unilateral e assim a HII não deve ser excluída do diagnóstico diferencial das neuropatias ópticas monoculares. Além disso, nosso caso serviu para evidenciar a eficácia do tratamento com a associação de acetazolamida e topiramato. No entanto, deve ser ressaltado que o uso do topiramato com essa finalidade é pouco descrito na literatura, e não há definição da sua dose nem do seu tempo ideal de uso sendo necessários novos estudos para melhor compreensão do seu real papel no tratamento da síndrome. ABSTRACT We describe a 56-year-old female patient that presented with headache, unilateral optic disc edema and nasal visual field constriction. Laboratory and imaging investigation, clinical findings and response to treatment lead to the diagnosis of idiopathic intracranial hyperthension. We emphasize that unilateral papiledema can be an unusual clinical presentation of the syndrome and discuss its differential diagnosis and treatment. Keywords: Pseudotumor cerebri/diagnosis; Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 168-74 174 Portes ALF, Ramos CVF, Nunes JS, Valdetaro R, Monteiro MLR Pseudotumor cerebri/complications; Pseudotumor cerebri/physiopathology; Intracranial hypertension/ complications; Papiledema/etiology; Case reports REFERÊNCIAS 1. Friedman DI, Jacobson DM. Diagnostic criteria for idiopathic intracranial hypertension. Neurology. 2002;59(10):1492-5. 2. Monteiro MLR. Síndrome do pseudotumor cerebral. In: Rodrigues-Alves CA, editor. Neuroftalmologia. São Paulo: Roca; 2000. p. 91-106. 3. Corbett JJ, Savino PJ, Thompson HS, Kansu T, Schatz NJ, Orr LS, HopsonD. Visual loss in pseudotumor cerebri. Follow-up of 57 patients from five to 41 years and a profile of 14 patients with permanent severe visual loss. Arch Neurol. 1982;39(8):461-74. 4. Coppeto JR, Monteiro ML. Juxtapapillary subretinal hemorrhages in pseudotumor cerebri. J Clin Neuroophthalmol. 1985;5(1):45-53. 5. Monteiro MLR, Hoyt WF, Imes RK, Narahara M. 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Portes Rua Leopoldo Miguez, nº 150 - Apto 1001 Copacabana CEP 22060-020 - Rio de Janeiro - Brasil [email protected] ARTIGO DE REVISÃO 175 Lentes asféricas: avaliação da indicação clínica e das opções de lentes Aspherical IOLs: clinical evaluation and options Newton Kara-Jose Junior1, Marcony Rodrigues de Santhiago2 RESUMO Com a utilização de lentes intraoculares (LIOs) asféricas na cirurgia de catarata, o oftalmologista é capaz de oferecer, além da melhora da acuidade visual pela remoção do cristalino opacificado, benefícios adicionais como, por exemplo, a redução de aberrações ópticas oculares, que diminuem a sensibilidade ao contraste.Foram revisadas publicações recentes sobre LIOs asféricas e adicionadas conclusões de nossos estudos na área, a fim de expor neste artigo nossa percepção a respeito da influência da utilização de LIOs que diminuem a aberração esférica do olho, na qualidade visual após a cirurgia da catarata Descritores: Lentes intraoculares; Catarata; Acuidade visual/fisiologia 1 Livre-docente, Professor Colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP); Chefe do Setor de Catarata do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil; 2 Estagiário do Setor de Catarata do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 175-9 176 Kara-Jose Junior N, Santhiago MR INTRODUÇÃO O olho humano é opticamente imperfei to, assim, a qualidade da imagem projetada na retina é inferior à imagem real do objeto visualizado. Isso ocorre porque ao atravessar estruturas intraoculares, especialmente córnea e cristalino, os raios luminosos sofrem desvios, como dispersão, refração, absorção, além de diversas aberrações. Contudo, a imagem final interpretada no córtex cerebral será de muito melhor qualidade, pois o Sistema Visual tem um mecanismo compensatório (neuroadaptação) para a maioria das deficiências do Sistema Óptico (1-12). Mesmo considerando a neuroadaptação, acredita-se que a correção de algumas aberrações ópticas pode melhorar ainda mais a qualidade visual. Uma modalidade de imperfeição óptica ocular que não pode ser resolvida com lentes corretoras (óculos), mas é passível de compensação, pela cirurgia de catarata com implante de LIOs especiais, é a aberração esférica (alta ordem), a qual trata-se de uma imprecisão na asfericidade periférica da córnea (a superfície corneal periférica é mais plana do que deveria ser), que prejudica a visão de longe em situações de pouca luminosidade, quando a midríase pupilar permite que os raios luminosos que incidem na periferia corneal sigam em direção à retina; esses raios serão focalizados anteriormente à mácula, diminuindo a qualidade visual (1-5). Foi demonstrado que, com a idade, a qualidade óptica vai se deteriorando, e uma possível causa desta degradação é a inversão de padrão de aberração esférica do cristalino, de negativo no adulto jovem (que compensaria parcialmente a aberração corneal positiva), para valores negativos menores, ou até positivos quando o cristalino está opacificado (6-12). As lentes esféricas convencionais são refrativamente similares ao cristalino adulto, apresentam aberração esférica positiva, ou seja, além de não compensarem a aberração esférica corneal (em média +0.27mm), mantém a mesma indução adicional de aberração positiva do cristalino maduro. Entretanto, os pacientes, em geral, não se queixam, pois era a aberração óptica que eles, por muito tempo, já apresentavam devido à catarata. Porém, com implante de LIOs esféricas, são privados da oportunidade, teórica, de se melhorar ainda mais a visão, após a facectomia. A solução proposta para compensar a aberração esférica é o implante da LIO asférica (aberração negativa), que corrigirá, ao menos parcialmente, a direção dos raios incidentes periféricos (aberração positiva) (13-37). Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 175-9 Para avaliação do comprometimento visual pela catarata, assim como do benefício clínico das LIOs asféricas em relação às LIOs convencionais, o teste de Snellen, embora seja o instrumento mais utilizado para a avaliação da acuidade visual, apresenta limitações, pois mede a visão utilizando-se do contraste máximo (letras pretas em fundo branco). No mundo real a maioria dos objetos a serem visualizados não se encontra com tanto contraste, assim, a acuidade visual medida no consultório por meio deste teste não corresponde, necessariamente, a dificuldade de visão percebida pelo paciente no seu dia a dia. Deste modo, uma pessoa com catarata de componente nuclear predominante pode, por exemplo, enxergar 20/ 25 na tabela de Snellen e ter dificuldade para dirigir. Se o oftalmologista só considerar a visão medida com máximo contraste talvez não compreenda a queixa do paciente, provavelmente, em situações de menor contraste, como ao entardecer. Por outro lado, caso o paciente ou seu acompanhante se lembre de qual era a medida da visão no teste de Snellen antes da cirurgia, pode não se maravilhar com o resultado visual pós-operatório, que será, neste caso, provavelmente, de melhora de uma linha, mesmo que a dificuldade visual tenha sido corrigida. Para se estimar mais precisamente a dificuldade visual pela catarata e para avaliar o desempenho visual com LIOs asféricas, o teste mais indicado é o de sensibilidade ao contraste, que mede a acuidade visual sob diferentes níveis de contraste. É por isso que a maioria dos estudos utiliza o teste de sensibilidade ao contraste (ETDRS) em condições mesópicas e fotópicas, além da avaliação objetiva da qualidade óptica por meio de exames de aberrometria (“frente de onda”) (38). A maioria dos estudos que compararam LIOs asféricas e esféricas não demonstraram diferenças em relação a melhor acuidade visual corrigida, medida pela tabela de Snellen ou pela do ETDRS, em condições fotópicas, exceto dois estudos (13,17) , que apresentaram resultados de melhor acuidade visual corrigida em pacientes com LIO Tecnis (AMO), se comparado aos pacientes com LIOs esféricas SA60AT (Alcon Labs) e SI40 (Alergan) (12-15,17,20-22,25,28,29,33,34,39). O resultado da maioria dos artigos nos leva a concluir que não há diferença entre LIOs asféricas e esféricas em relação a melhor acuidade visual, corrigida em condições de alta luminosidade, ou que, este tipo de teste não apresenta condições de detectar tal diferença. Em condições mesópicas, as vantagens visuais das LIOs asféricas em relação às esféricas, quando avaliadas pelo teste do ETDRS, passam a ser mais evidentes. Nos trabalhos com a LIO Tecnis (AMO), apenas dois não encontraram diferenças, estatisticamente significa- 177 Lentes asféricas: avaliação da indicação clínica e das opções de lentes tivas, quando comparadas a LIO Stabibag (Zeiss)(20) e AR40e (AMO)(20,22). A maioria das pesquisas apresentou resultados superiores com a LIO asférica em freqüências espaciais que variaram de 1.5 a 30 ciclos por grau. Todos os estudos que avaliaram a LIO Acrysof IQ (Alcon labs) em condições mesópicas, demonstraram o melhor desempenho desta, quando comparada a diferentes LIOs esféricas(21,28,31,32,34,36). Um estudo(28), avaliou a LIO asférica SofPort (Bausch & Lomb), e, demonstraram valores estatisticamente significativos, comparado às LIOs esféricas SN60AT (Alcon labs) e AR40e (AMO). As lentes asféricas variam em relação a asfericiade, de forma que, as LIOs mais utilizadas, Tecnis (AMO), Acrysof IQ (Alcon labs) Akreos AO (Bausch & Lomb), apresentam diferentes potenciais para compensação da aberração esférica da córnea. A aberração esférica corneal na média populacional é de 0.27mm positivos; teoricamente, em condições de diâmetro pupilar de 6 mm, a LIO Akreos AO (Bausch & Lomb) apresenta 0.0mm de aberração esférica residual, ou seja são livres de aberração; a LIO Tecnis (AMO) possui asfericidade de -0.27mm, tentando compensar totalmente a aberração corneal considerando a média populacional e a LIO Acrysof IQ (Alcon labs) -0.20mm, que deixa, se considerada a média populacional, um residual de aberração positiva de 0,07mm. Estudo publicado recentemente(40) que comparou duas LIOs asféricas, a Akreos AO (Baush & Lomb) e a Tecnis (AMO), não demonstrou diferenças estatisticamente significativas, na acuidade visual, tanto em condições fotópicas, quanto em mesópicas, porém, por meio do exame de aberrometria (frente de onda) confirmou valores residuais maiores de aberração esférica com a LIO Akreos AO (Baush & Lomb), sugerindo, assim, que o exame da acuidade visual avalia o desempenho do Sistema Visual total (globo ocular e córtex cerebral, incluindo a neuroadaptação), enquanto que o exame de frente de onda avalia apenas a porção óptica do olho (Sistema Óptico), ou seja, a qualidade da imagem que chega na retina. Em determinados casos, a aberração esférica positiva residual pode ser benéfica, pois embora possa diminuir a visão de longe no escuro, aumenta a profundidade de foco, facilitando a visão de perto. Artigo recente(27) demonstrou que a LIO esférica SN60AT (Alcon labs) apresenta maior profundidade de foco comparado a LIO asférica Acrysof IQ (Alcon labs), analisando visão intermediaria e de perto, em pacientes corrigidos para longe. Considera-se também que a tolerância ao “defocus”, pequenos erros refracionais esféricos, parece ser maior em pacientes com LIOs esféricas e/ou com residual de aberração esférica positiva. Esse seria um beneficio teórico da LIO asférica livre de aberração, como a Akreos AO (Baush & Lomb), que deixaria aberração residual. Estudo(40) que comparou a profundidade de foco em pacientes com LIOs asféricas livres de aberração, Akreos AO (Baush & Lomb) e LIOs asféricas com aberração negativa, Tecnis (AMO) que tendem a compensar totalmente a aberração esférica positiva da córnea, concluiu que, a profundidade de foco é maior no grupo com LIOs asféricas livres de aberração. Atualmente se tem estudado as LIOs asféricas, com objetivo de se personalizar a cirurgia de catarata, obtendo-se valores de aberração esférica residuais finais em torno de 0.10 mm, com possível melhora na qualidade óptica e acuidade visual(41-46). Artigo recente(47) sugere que para pacientes com aberração esférica corneana entre -0.15 e +0.15 poderia ser implantada uma LIO asférica livre de aberração, como a Akreos AO (Baush & Lomb), em pacientes com valores entre +0.16 e +0.33 Acrysof IQ (Alcon labs), e para pacientes com valores acima de +0.33, a LIO Tecnis (AMO). Na indicação de LIOs asféricas, alguns fatores individuais também devem ser considerados, como diâmetro pupilar e histórico de cirurgia refrativa à laser. Embora consideremos que o sistema visual dispõe de um mecanismo compensatório de aberrações ópticas, que é a neuroadaptação, capaz de, em muitos casos, resolver o problema da aberração esférica, bem como de outras deficiências ópticas, por si só, existe a tendência para personalizar a cirurgia de catarata, a fim de se obter resultados visuais ainda melhores(43,48). No futuro, assim como é feita a biometria para se determinar o valor dióptrico da LIO a ser implantada, a fim de se corrigir os erros refrativos esféricos (aberrações de baixa ordem) e, em certos casos, realizado a topografia para se estimar o astigmatismo corneal (aberração de baixa ordem), objetivando-se compensá-lo com incisões relaxantes limbares ou LIOs tóricas, talvez também possa ser realizado, rotineiramente, o exame de “frente de onda”, para se estimar a aberração esférica da córnea, a fim que esta possa ser compensada com determinada LIO asférica. ABSTRACT With aspherical intraocular lens (IOL), phakectomy could be more than removal of cataract, it also could means an improvement in optical quality of the eye. In this article, recently published studies on aspherical IOLs and exams to access optical quality were reviewed. Keywords: Lenses, intraocular; Cataract; Visual acuity/physiology Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 175-9 178 Kara-Jose Junior N, Santhiago MR REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Applegate RA, Thibos LN, Hilmantel G. Optics of aberroscopy and super vision. J Cataract Refract Surg. 2001;27(7):1093107. Applegate RA. Limits to vision: can we do better than nature? J Refract Surg. 2000;16(5):S547-51. Williams DR, Liang J, Miller DT. Adaptive optics for the human eye. Vision science and its applications 1996 OSA Technical Digest Series. (Optical Society of America. Washington, DC). 1996;13:145-7. Liang J, Williams DR, Miller DT. 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Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 175-9 ARTIGO 180 DE REVISÃO Troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR) Refractive lens exchange Flavio Rezende1, Renata Rezende Bisol2, Tiago Bisol3 RESUMO O objetivo deste artigo foi reunir estudos de resultados e segurança da técnica de troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR) disponíveis na literatura científica, considerando suas vantagens, desvantagens e riscos, analisando separadamente a sua indicação em cada tipo de ametropia. Descritores: Erros de refração; Cristalino; Procedimentos cirúrgicos refrativos; Facoemulsificação; Implante de lente intraocular 1 Professor titular de pós-graduação em Oftalmologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Chefe do departamento de oftalmologia do Hospital São Vicente de Paulo; Diretor médico do Instituto de Diagnóstico e Terapia Ocular do Rio de Janeiro - IDTO - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 2 Doutora, Professora assistente de pós-graduação em Oftalmologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Membro do corpo clínico do Hospital São Vicente de Paulo; Membro do corpo clínico do Instituto de Diagnóstico e Terapia Ocular do Rio de Janeiro - IDTO - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Professor assistente de pós-graduação em Oftalmologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Membro do corpo clínico do Hospital São Vicente de Paulo; Membro do corpo clínico do Instituto de Diagnóstico e Terapia Ocular do Rio de Janeiro - IDTO - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 180-7 181 Troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR) INTRODUÇÃO A troca do cristalino com finalidade refrativa(TCR) consiste na realização da cirurgia de facectomia, preferencialmente por técnica de facoemulsificação por uma pequena incisão, e implante de lente intraocular (LIO) com a finalidade de correção de ametropias, na presença de um cristalino sem opacidade visualmente significativa. A correção de grandes ametropias esféricas através da facectomia com implante de LIO não é uma novidade, pois há longa data se sabe que a simples remoção do cristalino de um paciente alto míope reduz significativamente sua ametropia. O que mudou nos últimos anos foi a técnica cirúrgica da facectomia, com redução do tempo cirúrgico e da frequência de complicações, aumento da previsibilidade refrativa do procedimento, desenvolvimento de novas tecnologias de biometria e fórmulas de cálculo e incremento da qualidade e versatilidade das lentes intraoculares. Esta evolução, presenciada pelos cirurgiões de catarata nas últimas décadas, levou à indicação cada vez mais precoce da cirurgia de catarata, bem como a uma convergência entre o tratamento da catarata e a correção do vício de refração do paciente. Em paralelo à evolução da facectomia houve nas últimas duas décadas grande desenvolvimento de tecnologias na área da cirurgia refrativa, com aprimoramento dos aparelhos e softwares de ablação pelo Excimer laser, otimizando os resultados quanto à acuidade e qualidade visual nas cirurgias ablativas corneanas. A cirurgia refrativa pelo Excimer laser tornou-se procedimento corrente no meio oftalmológico na correção de miopias leves a moderadas, astigmatismos e hipermetropias leves, com resultados confiáveis e reprodutivos. Porém, a correção de altas ametropias esféricas e da presbiopia permaneceu um desafio para o Excimer, pois nestas condições a cirurgia ablativa corneana não oferece bom perfil de resultados com estabilidade refracional e segurança (risco de ectasias, alteração da biomecânica da córnea, indução de aberrações). Tais limitações do Excimer vieram de encontro com a evolução das técnicas de facectomia e das lentes intraoculares e, portanto, pacientes com alta miopia, hipermetropia moderada a alta e presbiopia seriam melhores candidatos às técnicas intraoculares de correção refracional: implante de lentes fácicas ou troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR). Por outro lado, sendo técnicas que exigem a abertura do globo ocular apresentam riscos inerentes a tal procedimento, ou seja, complicações como endoftalmites, descolamento de re- tina, uveíte, glaucoma, edema cistóide de mácula, deslocamento da lente intraocular, dentre outras. O objetivo desta revisão foi reunir estudos de resultados e segurança da técnica de Troca do Cristalino com Finalidade Refrativa (TCR) disponíveis na literatura científica, considerando suas vantagens, desvantagens e riscos, analisando separadamente a sua indicação em cada tipo de ametropia. Este procedimento é referido na literatura de língua inglesa como “Refractive Lens Exchange (RLE)”. Considerações quanto à extração do cristalino e acomodação A remoção do cristalino transparente deve ser abordada em termos de perdas e benefícios prováveis e riscos potenciais de complicações. A interrupção do mecanismo fisiológico de acomodação com a remoção do cristalino, processo eficaz em indivíduos jovens e em decrescente função nos présbitas, a partir dos quarenta anos de idade, é uma das perdas a ser considerada na TCR. Atualmente, mesmo com a grande evolução tecnológica das lentes intraoculares este delicado e preciso mecanismo ainda não é satisfatoriamente restituído a ponto de ser comparado em eficácia ao sistema natural de acomodação do globo ocular. As lentes chamadas acomodativas têm resultado ainda duvidoso quanto ao seu poder de acomodação e as lentes pseudoacomodativas (multifocais e bifocais) não oferecem acomodação, e, sim, sistemas ópticos refrativos e difrativos de divisão de luz e foco procurando oferecer capacidade de visão de longe e perto, porém, ainda às custas de “efeitos colaterais” potencialmente significativos que serão discutidos mais adiante. A TCR no paciente não-présbita, portanto, traz, por si só, a perda de uma função fisiológica elaborada, a acomodação. Já em indivíduos présbitas, onde o mecanismo de acomodação já não se faz mais efetivo, esta perda não ocorre, e, pelo contrário, temos a oportunidade de, em algumas situações, oferecer um ganho em termos de restituição da capacidade de ver para longe e para perto sem óculos com implante de lentes com estas novas tecnologias, o que deve ser estudado paciente a paciente, respeitadas as características individuais tanto do candidato à cirurgia, quanto da lente intraocular escolhida. Alta miopia A possibilidade da correção cirúrgica da miopia goza hoje de grande credibilidade devido aos excelentes resultados alcançados com as técnicas de ablação corneana que se utilizam do Excimer laser. A limitação Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 180-7 182 Rezende F, Bisol RR, Bisol T da utilização destas técnicas nos graus mais elevados levou ao desenvolvimento de técnicas intraoculares, como implante de lentes fácicas e troca do cristalino. O implante de lentes fácicas tem a vantagem de preservar o mecanismo de acomodação, porém apresenta riscos, conforme a técnica e lente implantada, como desenvolvimento de catarata, dispersão de pigmento iriano, distorção da pupila, uveíte anterior, perda endotelial e glaucoma. Já na TCR a perda da acomodação é sem dúvida um ponto negativo, porém o risco de descolamento de retina constitui a principal preocupação nestes pacientes. Estudos epidemiológicos mostram que a incidência anual de descolamento de retina (DR) em olhos normais e não operados é de 0,0118%, segundo Polkinghorne e Craig(1). Russel et al. observaram que a incidência de DR em olhos não míopes submetidos à facectomia com implante de lente intraocular chega a 1,17%(2). Os olhos com alta miopia apresentam maior frequência de vítreorretinopatias(3,4) sendo uma condição de risco para DR regmatogênico idiopático(5). A incidência anual de DR espontâneo em olhos com alta miopia varia de 0,68%(6) a 11,4%(5,7). Sugere-se que esta incidência aumente quando se observa olhos com alta miopia submetidos à facectomia. A fisiopatogenia do DR em olhos com alta miopia se explica, pois olhos grandes têm estiramento retiniano, com maior risco de degeneração da retina, e possuem aderências anormais entre o vítreo e a retina favorecendo o aparecimento de roturas retinianas na ocorrência de descolamento posterior do vítreo (DPV). A cirurgia de facectomia gera o deslocamento anterior do vítreo(8) e uma alteração do conteúdo de ácido hialurônico favorecendo desta forma o surgimento de descolamento de retina, particularmente naqueles que não possuem descolamento posterior do vítreo completo antes da cirurgia. Os artigos disponíveis na literatura apresentam incidências variáveis de DR em alta miopia após a TCR, variando de 0 a 8,1%(9-18). Esta ampla variação se deve as diferenças entre os estudos em termos de tempo de seguimento, idade dos pacientes, definição de alta miopia, técnica cirúrgica e até no implante ou não de LIO. Colin(12) e Ripandelli(19) et al., foram os que relataram a maior incidência de DR de 8,1% e 8%, durante um seguimento de 7 e 3 anos respectivamente. Destaca-se este último estudo por Ripandelli et al. cujo desenho é prospectivo e comparativo com grupo controle (incidência de DR de 1,2% no grupo controle, comparado com 8% nos olhos míopes)(19).Divergindo destes dados, Neuhann et al. recentemente publicaram um artigo que Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 180-7 não mostrou diferença significativa no risco de DR pósoperatório comparado com o risco natural de DR idiopático em olhos com alta miopia(18). Vale ressaltar que o DR pode não ocorrer no pósoperatório imediato, o tempo médio de surgimento de DR após a facectomia é de 39 meses segundo Russell e colaboradores(2). Neuhann et al. também mostraram, ao analisarem 2356 casos de olhos com comprimento axial acima de 27 mm submetidos à facectomia, que o risco de desenvolver DR após a cirurgia é de 1% no primeiro ano e chega a 5% nos 10 anos que seguem o procedimento(18). Ressalta-se, portanto, a importância do acompanhamento regular e por longo prazo dos olhos míopes pseudofácicos até que ocorra o DVP total. Quanto aos fatores de risco para DR em olhos míopes pseudofácicos, Russell et al. destacam a idade como significativa(2). Em seu estudo retrospectivo envolvendo 1793 pacientes, Russell et al. mostraram uma incidência de DR em pacientes pseudofácicos de 1,17% e mostraram que o risco foi significativamente maior nos menores de 50 anos (5.17%) e menor nos maiores de 70 anos de idade (0.64%)(2). Este achado foi confirmado por outros autores(20-23). Isto ocorre pelo fato que a população mais velha desenvolve DPV naturalmente e de forma completa com a idade enquanto que os mais jovens têm DPV provocado pela cirurgia, o que predisporia ao DR(24). Além disso, Alió et al. ressaltaram que por terem maior expectativa de vida os jovens também teriam maior risco de DR(25). Além da idade e ausência de DPV completo prévio a cirurgia(2,25,26), outros fatores parecem contribuir com o aumento da incidência de DR após a extração do cristalino como: comprimento axial maior que 27 mm(2,2024,26-28) , rotura de cápsula posterior, perda vítrea(20,22,28), afacia(19) e sexo masculino(2,20-22,27,29). A realização de capsulotomia por YAG laser e o tratamento prévio com fotocoagulação de lesões retinianas degenerativas foram apontados por alguns autores(14,16,23,28) como fatores de risco e afastados por outros(2,17,18,22,27,30-32). A terapia profilática com a fotocoagulação prévia à cirurgia é limitada, pois, na maioria das vezes, o DR é secundário à rotura em áreas da retina de aspecto normal antes da ocorrência do descolamento do vítreo(33). Considerados os fatos acima, a troca de cristalino com finalidade refrativa para olhos míopes tem sua indicação, respeitando-se critérios de segurança, quando a miopia se encontra fora da faixa segura para correção com Excimer laser, preferencialmente em pacientes de faixa etária acima dos 40 anos, quando a acomodação é menor e há maior chance do vítreo posterior estar naturalmente descolado, reduzindo a chance de descolamento 183 Troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR) de retina. Para pacientes com idade abaixo de 40 anos, a opção entre TCR e de implante de LIOs fácicas merece algumas considerações que seguem abaixo em termos de riscos e benefícios. TCR versus LIO fácica em míopes abaixo de 40 anos A preservação da acomodação com implantes de LIOs fácicas é o grande benefício da técnica, sendo ainda discutido o aumento da incidência de DR por esta técnica em comparação à TCR. Arne realizou um estudo comparativo entre LIO fácica e TCR(34) e encontrou uma incidência de DR de 5,55% nos olhos submetidos à ultima técnica e em 0% nos submetidos à primeira, no entanto, os olhos que apresentaram DR no grupo submetido à TCR tiveram rotura de cápsula posterior durante a cirurgia. Rosen sugeriu que o DPV pode ocorrer não só com a TCR, mas também após o implante de LIOs fácicas(33). Martinez-Castillo et al. confirmam esta hipótese ao relatarem uma incidência de DR de 2,07% em olhos míopes, com implantes de LIO fácicas, sugerindo que a simples paracentese da câmara anterior em olhos com alta miopia pode induzir DPV com DR(35). Além disso, o risco de desenvolver catarata após o implante de LIO fácica constitui uma complicação de médio prazo relativamente frequente, por diversos fatores predisponentes, como trauma cirúrgico, inflamação pósoperatória, uso de esteróides e, inclusive, contato da LIO fácica com o cristalino. A catarata, por sua vez, leva à necessidade da facectomia e os riscos inerentes ao procedimento em olhos com alta miopia. Hipermetropia No último século, as opções cirúrgicas para a correção da hipermetropia foram diversas, com resultados muito variados. Dentre as técnicas já descritas, temos o remodelamento da córnea por incisões; cortes lamelares, com remoção de tecido corneano periférico; implante de segmentos intraestromais; queimaduras por radiofrequência; ablação com laser, implante de lentes fácicas, e a troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR)(36). Atualmente as três últimas são consideradas técnicas seguras, eficazes e estáveis(24). A correção visual com laser tem se mostrado eficaz quando a hipermetropia se encontra na faixa de até 4 dioptrias segundo Desai et al.(37), com redução gradativa do efeito após 5 anos de seguimento. Esquenazi(38) mostrou que o tratamento com laser foi eficaz, seguro e estável nas hipermetropias de até 3 dioptrias. A idade do paciente, associada ao grau de hipermetropia são fatores fundamentais a serem considerados na escolha do tratamento, sendo a troca de cristalino com finalidade refrativa a técnica mais eficaz e estável naqueles com perda do poder de acomodação (présbitas), bem como nas hipermetropias elevadas(24). Nas hipermetropias elevadas com acomodação preservada, as lentes fácicas podem oferecer bom resultado diante de mãos experientes, porém a profundidade entre o endotélio corneano e a cápsula anterior deve ser maior ou igual a 3 mm(39). No entanto, comumente olhos com alta hipermetropia apresentam comprimento axial pequeno, córneas planas e ângulo estreito encontrando na TCR uma correção permanente para o problema refracional e anatômico/funcional do ângulo da câmara anterior(24). Ma et al. mostraram que esta técnica foi superior à correção com o laser, reduzindo as aberrações totais de alta ordem que seguem a correção refracional hipermetrópica(40). Além disso, como já exposto acima, o implante de lentes fácicas aumenta o risco de desenvolvimento de catarata e da necessidade de facectomia. Vale ressaltar que o processo de correção cirúrgica refrativa em altas hipermetropias pode envolver mais de uma modalidade de tratamento, podendo se realizar com o laser o tratamento de grau residual após a troca do cristalino com finalidade refrativa(41-43). Outro ponto a se salientar é que as mudanças refrativas após os 40 anos de idade se dão por modificações da estrutura cristaliniana, o que colabora com a instabilidade da correção refrativa da ablação corneana a médio e longo prazo e aumenta a estabilidade refracional da cirurgia de TCR. Os olhos hipermétropes, de tamanho e diâmetro anteroposterior reduzido não compartilham das alterações vítreorretinianas dos míopes, o que aumenta o perfil de segurança da TCR. Já a perda da acomodação é um ponto negativo da técnica para pacientes nãoprésbitas. Astigmatismo No astigmatismo corneano sem ametropia esférica significativa ou opacidade de cristalino, a melhora crescente dos resultados da cirurgia ablativa corneana pelo Excimer laser, bem como a própria fisiopatologia do problema (alteração na curvatura da córnea), sugerem que esta não seja uma boa indicação para a TCR. A nova tecnologia das LIOs tóricas, já disponíveis para correções em astigmatismos leves a moderados, vem apresentando ótimos resultados na correção de astigmatismos corneanos em cirurgia de catarata, porém não compensando ainda os riscos da TCR em olhos que podem ser submetidos com segurança a correção Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 180-7 184 Rezende F, Bisol RR, Bisol T ablativa corneana por Excimer laser. Já no astigmatismo cristaliniano a causa da ametropia está nele próprio, por alterações de sua curvatura, posição ou fixação (subluxações, diálises de zônula). Nestes casos devemos considerar principalmente a idade do paciente, se présbita ou não, e outras condições associadas, como, por exemplo, Síndrome de Marfan, onde o risco de descolamento de retina é aumentado. Como regra geral, reservamos a TCR para correção do astigmatismo cristaliniano a pacientes présbitas, em nãoprésbitas portadores de astigmatismo cristaliniano irregular ou elevado. Presbiopia A perda do mecanismo de acomodação causada pelas alterações cristalinianas após os 40 anos de idade leva à queda do desempenho visual para perto com a visão corrigida para longe. Ainda não foi desenvolvida técnica capaz de restabelecer o mecanismo acomodativo com eficácia, estabilidade a longo prazo e segurança. O que temos disponíveis são estratégias de viabilizar visão útil para longe e perto sem uso de óculos, dentre elas as técnicas de TCR: 1. TCR com implante de lentes intraoculares bifocais ou multifocais; 2. TCR com implante de lentes monofocais em sistema de báscula; 3. TCR com implante de lentes acomodativas; 4. Ablação corneana multifocal por Excimer laser (PresbiLASIK); 5. Ablação corneana por Excimer laser em sistema da báscula. O procedimento que teoricamente mais próximo está da correção baseada na fisiopatologia da presbiopia é a TCR com implante de lentes acomodativas. Porém, a tecnologia das LIOs acomodativas disponíveis hoje no mercado ainda não oferece ao cirurgião e paciente amplitude acomodativa, previsibilidade e segurança suficientes para ser considerada superior às demais. Todas as outras soluções ópticas tentam reduzir a necessidade de óculos, valendo-se de estratégias ópticas de báscula (monovisão) ou multifocalidade (ou bifocalidade). A TCR com implante de LIOs monofocais em sistema de báscula, também chamada monovisão ou visão balanceada, consiste na TCR com planejamento de um dos olhos para longe (plano) e do outro para perto/ intermediário (refração -1,50 a -2,00D). Esta técnica é muito utilizada em pacientes com catarata com resultados muito satisfatórios e sem aumento de custo em relação à facectomia por facoemulsificação tradicional, ten- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 180-7 do como principal benefício a estabilidade refracional a longo prazo. A TCR com implante de LIOs multifocais ou bifocais traz em relação ao implante de lentes monofocais a vantagem da visão binocular em foco tanto para longe, quanto para perto, valendo-se de sistemas refrativos ou difrativos na superfície da LIO, conforme o modelo da LIO, com suas características próprias de cada um dos sistemas. Além disso, viabiliza a correção de ametropias esféricas com boa previsibilidade num mesmo procedimento. Tanto as lentes refrativas, quanto as difrativas possuem em comum a contraindicação em astigmatismos corneanos significativos (> 1,0 D) e alguns efeitos indesejáveis, como redução de qualidade visual em condições de baixa luminosidade e visão de halos em pontos de luz. As lentes difrativas são pupilas independentes e tendem a oferecer melhor visão de perto e pior intermediária, e as refrativas são pupilas dependentes e tendem a oferecer melhor visão intermediária e pior para perto. A ablação corneana por laser em báscula pode ser considerada opção em présbitas jovens, com ainda alguma acomodação residual, assim como o presbiLASIK têm a vantagem de serem técnicas extraoculares, com menor risco de complicações graves, porém tendo como desvantagem em relação à TCR a qualidade visual e a futura dificuldade de cálculo biométrico diante da necessidade de realização de cirurgia de catarata. Alió et al. estudaram 25 pacientes que tiveram ambos os olhos submetidos ao presbiLASIK e observaram que após 6 meses de seguimento 64% dos pacientes apresentaram acuidade visual sem correção (AVSC) para longe de 20/20 e 72% com visão de perto igual ou melhor que 20/40(44). As principais desvantagens do presbiLASIK são a piora visual de perto em condições de baixa luminosidade, a piora da sensibilidade ao contraste, a impossibilidade de tratar altas ametropias e o comprometimento das aberrações esféricas do cristalino alteradas com a idade. Fernández-Vega ressalta a importância da precisão da biometria para a acurácia na escolha do grau da LIO multifocal(45) considerando a ceratometria, a profundidade da CA e comprimento axial medido pela biometria ultrassônica de imersão ou, preferencialmente, pela interferometria óptica. Sugere a utilização das fórmulas SRK-T para olhos míopes e Holladay II para os olhos curtos(45). Wang sugere que a fórmula de Haigis é a que melhor estima o resultado refracional em olhos de comprimento axial maior que 25 mm(46). Deve-se ter como refração alvo uma hipermetropia discreta residual de +0,25 a +0,50 para o implante das LIOs multifocais 185 Troca do cristalino com finalidade refrativa (TCR) com adição de +4,00 (correspondente a +3,00 nos óculos) visando reduzir a visão de halos e preservando boa acuidade visual sem correção para longe e perto(45). A correção cirúrgica da presbiopia constitui assunto complexo gerando discussão quanto à qualidade visual questionável oferecida pelo presbiLASIK e o risco/benefício da troca do cristalino com finalidade refrativa, principalmente nos que ainda possuem acomodação e nos altos míopes que apresentam maior risco de DR pós-cirúrgico. Não há também um consenso apontando a melhor lente intraocular pseudoacomodativa, aquela que ofereça a melhor qualidade visual para todos os pacientes, em todas as distâncias, nas diversas condições de luminosidade, sem prejuízo da sensibilidade ao contraste e sem gerar aberrações ópticas. Estudos realizados por Packer et al. e Dick et al. indicaram segurança das lentes intraoculares multifocais de desenho antigo (AMO Array multifocal). Packer relatou que 90% (29 de 32) de seus pacientes obtiveram acuidade visual binocular de 20/30 e J4 ou melhor, coincidindo com os dados apresentados por Dick quando 100% (25) dos seus pacientes apresentaram semelhante resultado visual (47,48). Os resultados foram superiores nos estudos com as lentes intraoculares multifocais de nova geração. Fernández-Vega et al. estudaram 112 pacientes com implante bilateral da lente intraocular difrativa apodizada, com 100% deles apresentando AV sem correção de 20/ 25, 0,88 para perto ou melhor(45). Leyland realizou uma revisão sistemática da literatura e uma meta-análise dos ensaios clínicos randomizados comparando o resultado visual entre as LIOs monofocais e multifocais que demonstrou que a acuidade visual sem correção para longe foi semelhante entre os 2 tipos de LIOS, enquanto a AV de perto foi superior com as LIOS multifocais, tornando estes pacientes mais independentes dos óculos. No entanto, as últimas apresentaram alguns efeitos adversos como a redução da sensibilidade ao contraste e visão de halos(49). Num estudo de 120 olhos, realizado na Alemanha, com desenho prospectivo e randomizado, Hütz mostrou que a Tecnis ZM001(AMO) teve o melhor desempenho nas diferentes condições de luminosidade comparada com a Restor SA60D3 (Alcon) e a SA40N (AMO)(50). A indicação de TCR na presbiopia parece ter bom perfil de segurança, necessitando-se salientar que na decisão pela técnica e escolha da LIO multifocal devese levar em consideração as características e hábitos do paciente, lembrando das limitações em termos de qualidade visual em baixa luminosidade e tarefas como condução de veículos à noite, sendo transparente na informação dos possíveis benefícios e restrições. A expectativa do paciente em relação ao resultado deve ser o mais próxima do real possível. De uma forma geral, os pacientes que alcançam maior satisfação são os présbitas hipermÉtropes, em especial aqueles que já contam com pequeno ou nenhum poder residual de acomodação. Consentimento informado Não há dúvida hoje sobre a necessidade do consentimento informado para a realização de qualquer cirurgia, e desta em particular. Koch ressalta a importância na elaboração de um consentimento informado completo incluindo os riscos, benefícios e possíveis tratamentos alternativos(51). A explicação a respeito dos possíveis resultados visuais da troca de cristalino com finalidade refrativa deve incluir a discussão a respeito da monovisão, implantes de lentes multifocais ou acomodativas. A qualidade visual com LIOs multifocais deve ser cuidadosamente discutida. E pacientes altamente exigentes e com expectativas de “visão perfeita como tinha aos 20 anos de idade” não são bons candidatos para o procedimento.Acredita-se que a lente intraocular ideal ainda está para surgir, devendo esta ser biocompatível, sem aberrações, oferecendo boa AV para longe e perto e ter uma amplitude de acomodação adequada para evitar a fadiga acomodativa, filtrar os comprimentos de onda baixos e prevenir a opacidade de cápsula. Novas lentes multifocais, acomodativas, termodinâmicas, ajustáveis e até com carga elétrica têm sido desenvolvidas para melhor servir os pacientes submetidos à troca de cristalino, tanto por catarata, quanto com finalidade refrativa. Os riscos a serem discutidos e abordados no consentimento incluem: qualidade visual, redução da sensibilidade ao contraste, visão de halos, risco de DR e endoftalmite. Esclarecer as expectativas do paciente é fundamental, e oferecer informações sobre as alternativas quanto a técnicas cirúrgicas disponíveis e lentes intraoculares, incluindo as fácicas, é dever do cirurgião. CONCLUSÃO A cirurgia de troca de cristalino com finalidade refrativa é um procedimento que apresenta níveis de segurança adequados para estar no arsenal terapêutico do tratamento cirúrgico de pacientes acima de 45 ou 50 anos, portadores de miopia elevada com DPV completo, que fogem da zona segura de tratamento com laser, presbiopia associada ou não à ametropia esférica, olhos com hipermetropia moderada a elevada, sempre considerando-se e informando-se ao paciente as vantagens, desvantagens e os potenciais benefícios e riscos do procedimento. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 180-7 186 Rezende F, Bisol RR, Bisol T ABSTRACT The purpose of this article is to review the data on the scientific literature on refractive lens exchange considering the advantages, disadvantages and the risks involved on this procedure, taking under consideration each type of ametropia. Keywords: Refractive errors; Crystalline; Refractive surgical precedures; Phacoemulsification; Lens implantation, intraocular REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Polkinghorne PJ, Craig JP. Northern New Zealand Rhegmatogenous Retinal Detachment Study: epidemiology and risk factors. Clin Experiment Ophthalmol. 2004;32(2):159-63. Russell M, Gaskin B, Russell D, Polkinghorne PJ. Pseudophakic retinal detachment after phacoemulsification cataract surgery: Ten-year retrospective review. J Cataract Refract Surg. 2006;32(3):442-5. Sebag J. Age-related changes in human vitreous structure. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 1987;225(2):89-93. 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J Cataract Refract Surg. 2005;31(3):863. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 180-7 188 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Certificado de Aprovação do Trabalho pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 188-90 ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando al- 189 garismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem definilos. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 Jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word(r)e as demais em arquivos Microsoft Excel(r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD ou disquete 3,5", com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 188-90 190 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (3): 188-90