1 ALINE MIGUEL DINÂMICA DA COMUNIDADE ARBUSTIVO-ARBÓREA DE UMA MATA DE GALERIA EM NOVA XAVANTINA, MATO GROSSO Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso, para obtenção do titulo de mestre, em Ciências Ambientais. Orientadora: Profª Dra. Beatriz Schwantes Marimon CÁCERES Mato Grosso 2008 2 ALINE MIGUEL DINÂMICA DA COMUNIDADE ARBUSTIVO-ARBÓREA DE UMA MATA DE GALERIA EM NOVA XAVANTINA, MATO GROSSO Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso, para obtenção do titulo de mestre, em Ciências Ambientais. Orientadora: Profª Dra. Beatriz Schwantes Marimon CÁCERES Mato Grosso 2008 3 M6362d Miguel, Aline Dinâmica da comunidade arbustivo-arbórea de uma mata de galeria em Nova Xavantina-Mato Grosso/Aline Miguel – Cáceres: UNEMAT, 2008. 100 f. ; 30 cm I1 Color Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) – Universidade do Estado de Mato Grosso, 2008 Orientador: Beatriz Schwantes Marimon 1. Florística. 2. Fitossociologia. 3.Dinâmica florestal I. Autor. II. Título. CDU - 581 4 5 A minha família e à memória de minha mãe. 6 AGRADECIMENTOS A Deus, por mais essa benção em minha vida dentre tantas que me proporcionou até hoje, por me levantar quando achava que não iria conseguir mais, por me guardar e me fazer tão feliz. A CAPES pela concessão da bolsa de estudos. A minha orientadora, Dra. Beatriz Schwantes Marimon pela confiança, atenção prestada, por compartilhar seus conhecimentos e sua amizade. A minha família pela ajuda e incentivo não somente no meu mestrado, mas em toda minha vida estudantil. Ao meu namorado Rogério pela atenção, compreensão e ajuda em meu trabalho sempre que precisei. Aos meus amigos Leandro, Edmar, Lauro e Luana pela grande e essencial ajuda nas minhas coletas de campo, MUITO OBRIGADA. Sem a ajuda de vocês esse trabalho não seria possível. Aos meus mais novos amigos e companheiros de mestrado, turma 2006/1, adorei a companhia de todos vocês e vou guardar cada um em meu coração. Aos meus amigos ‘’Batata’’, Paulo, Lucas e Igor, pela estadia e confiança quando estive pela primeira vez na cidade de Cáceres e ainda não me conheciam e posteriormente pela amizade, respeito, risos choros e claro pelas festas no ‘’Rancho’’. Ao acolhimento dos meus amigos, Prof. Regisnei e Claudia assim que me mudei para Cáceres, a atenção e carinho de vocês foram essenciais a minha adaptação. Às minhas companheiras de moradia, Enazia e, em especial, Ademária (Déia) por me fazerem companhia e compartilhar problemas e alegrias. Aos conselhos dados, às “bobeiras” faladas, às festas e pela grande amizade conquistada. À Danielle a e sua família pelo carinho e atenção durante minha qualificação e defesa. Muito obrigada. A todos meus amigos, em especial Eddie, Luana, Carol Lopes, Ana, Flavio, Polli, Daniella Senhem, Carol, Miriam, Lidiane, Déia, Simone, Flaviane, Gleyci, Aurea e Diane (em memória) pela companhia, conversas e saidinhas para o barzinho para um momento de descontração e ‘’retomada de fôlego’’, vocês são especiais e eternos. Enfim, a todos que direta e indiretamente, presentes ou mesmo de longe contribuíram de alguma forma para a realização e conclusão deste trabalho, essa conquista não é somente minha e sim de todos nós. 7 SUMÁRIO Páginas RESUMO.............................................................................................................. 6 ABSTRACT.......................................................................................................... 8 LISTAS DE FIGURAS.......................................................................................... 10 LISTAS DE TABELAS......................................................................................... 11 1. INTRODUÇÃO GERAL.................................................................................... 13 2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAL................................................... 18 3. CAPÍTULO I: Mudanças na composição florística e diversidade de espécies em três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba (19992006), Nova Xavantina-MT................................................................................. Introdução....................................................................................................... Material e métodos......................................................................................... Resultados e discussão................................................................................ Referências bibliográficas............................................................................ 4. CAPÍTULO II: Mudanças na estrutura da vegetação lenhosa em três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba (1999-2006), Nova Xavantina-MT....................................................................................................... Introdução....................................................................................................... Material e métodos......................................................................................... Resultados e discussão................................................................................ Referências bibliográficas............................................................................ 5. CAPÍTULO III: Crescimento, recrutamento e mortalidade da mata de galeria do Córrego Bacaba em um período de sete anos (1999-2006), Nova Xavantina-MT............................................................................................. Introdução....................................................................................................... Material e métodos......................................................................................... Resultados e discussão................................................................................ Referências bibliográficas............................................................................ 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 22 22 24 26 42 48 48 49 50 69 73 73 74 75 93 98 8 RESUMO A dinâmica das matas ciliares e de galeria de Mato Grosso ainda é pouco conhecida. Este trabalho foi realizado ao longo de um gradiente topográfico na mata de galeria do Córrego Bacaba, Parque Municipal do Bacaba (14º43’S e 52º21W) em Nova Xavantina-MT. O objetivo foi comparar as mudanças na composição florística, estrutura e dinâmica da vegetação em três porções da mata (alto, meio e baixo) em sete anos. Foram demarcadas 141 parcelas de 10x10 m em 1999, onde todos os indivíduos com CAP≥ 15 cm foram identificados e medidos. Em 2006, os mesmo indivíduos foram remedidos, assim como os recrutas. Foram determinadas a diversidade e a similaridade florística entre as porções de mata e os anos e as espécies foram classificadas quanto aos grupos ecológicos. Em 2006, na porção do alto foi registrada a nova ocorrência de uma família, cinco gêneros e cinco espécies. Na meio foram três famílias, oito gêneros e nove espécies e no baixo, uma família, sete gêneros e nove espécies. Comparada com 1999, a porção do baixo registrou mais perdas. De forma geral, as famílias e gêneros com maior riqueza de espécies foram os mesmos em 1999 e 2006. A diversidade de espécies foi elevada para as três porções de mata nos dois períodos de amostragem. Quanto à diversidade e composição de espécies as porções da mata do Bacaba diferem entre si, confirmando que as matas de galeria e ciliares do Cerrado apresentam grande heterogeneidade florística, mesmo em áreas geograficamente próximas. O predomínio de espécies clímax exigentes de luz indica que a mata se encontra em estágio intermediário de sucessão. As três porções de mata apresentaram mudanças na estrutura da vegetação no período analisado. No baixo, a espécie com maior IVI (Mauritia flexuosa) foi a mesma nos dois levantamentos. No alto, foi registrada uma expressiva mudança na posição de Astrocaryum vulgare, que passou a ser a mais importante em 2006. Esta espécie, típica de ambientes antropizados, pode ser um indicativo de que esta porção tenha sido mais afetada pela queimada que ocorreu em 2001. No baixo, a posição hierárquica de algumas espécies pioneiras declinou em 2006, indicando que a vegetação encontra-se em fase de fechamento pós-distúrbio. Estes aspectos reforçam que esta mata é dinâmica, sendo resiliente em algumas porções e em relação a algumas populações e resistente em outras. As três porções de mata apresentaram maior mortalidade do que recrutamento no período amostrado. Os parâmetros registrados para esta mata indicam um padrão mais dinâmico quando comparada a outras matas. O maior incremento periódico anual foi registrado para Sclerolobium paniculatum. Os incrementos de todas as espécies foram bastante variáveis. As diferenças registradas na dinâmica desta mata nos levam a destacar a variabilidade em que os processos operam em uma comunidade e o grau de heterogeneidade espacial que 9 estes processos produzem ao longo do tempo. Com base nos parâmetros florísticos, estruturais e de dinâmica foi possível indicar algumas espécies para serem usadas em iniciativas de recuperação de matas degradadas. Palavras-chave: florística, fitossociologia, dinâmica florestal, mata de galeria. 10 ABSTRACT Gallery forest dynamics is still little known in Mato Grosso State. This work was conducted along a topographic gradient in the gallery forest of the Bacaba Stream, at the Bacaba Municipal Park (14º43’S e 52º21W) in Nova Xavantina-MT. The objective of the study was to compare the changes in the floristic composition, structure and dynamics of the vegetation in three forest sections (upper, middle and lower) over a seven-year period. In 1999, 141 nested 10 x10m plots were established in each section and all individuals with CBH ≥ 15 cm were identified and measured. In 2006, the same individuals were measured again, as well as the recruits. Diversity and floristic similarity for the forest sections within and between years were calculated, and the species were classified into ecological groups. In 2006 it was recorded a new occurrence of one family, five genera and five species for the upper section. In the middle section three families, eight genera and nine species were recorded, and in the lower, one family, seven genera and nine species. Compared to 1999 the lower section presented more tree loss. Overall, the families and genera with higher species richness were the same in 1999 and 2006. Species diversity was high for the three forest sections in both sampling periods. Bacaba’s forest sections were different among them in relation to species diversity and composition, confirming that Cerrado gallery forests present great floristic heterogeneity, even in geographically closer areas. The predominance of light-demanding climax species indicates that the forest is at the intermediate succession stage. The three forest sections presented changes in the vegetation structure in the studied period. At the lower section the species with higher IVI (Mauritia flexuosa) was the same in both surveys. At the upper section it was recorded an expressive change in the position of Astrocaryum vulgare, which became the most important in 2006. This species is typical of anthropized environments and it can be an indicative that this section has been very affected by the fire that occurred in 2001. At the lower section the hierarchical position of some pioneer species declined in 2006, indicating that the vegetation is in the post-disturbance phase. These aspects enhance the finding that this forest is dynamic, being resilient in some portions and in relation to some populations, and resistant in relation to others. The three forest sections presented mortality higher than recruitment in the sampled period. The parameters recorded for this forest indicates a more dynamic pattern when compared to other forests. The highest annual increment was recorded for Sclerolobium paniculatum. The increment of all species showed great variation. The differences observed regarding the forest dynamics enhances the variability in which the process operate in a community and the level of spatial heterogeneity that these process produce along the time. Based 11 on floristic, structural and dynamics parameters it was possible to indicate some species suitable to be used in restoration initiatives of degraded forests. Key words: Floristics, phytosociology, forest dynamics, gallery forest. 12 LISTAS DE FIGURAS Figura 1. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do alto, Parque do Bacaba, Nova Xavantina-MT........................................................................................ Figura 2. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do meio, Parque do Bacaba, Nova Xavantina-MT................................................................................... Figura 3. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do baixo, Parque do Bacaba, Nova Xavantina-MT................................................................................... Figura 1.1. Mapa hipsométrico da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Porções Alto (1), Meio (2) e Baixo (3)................................................ Figura 1.2. Diagrama de Venn indicando o número de espécies em comum e exclusivas de três porções do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Valores dentro do círculo correspondem ao inventário realizado em 1999 (Marimon et al. 2002) e valores dentro dos retângulos correspondem ao presente estudo (2006). N = número de espécies...................................................................................................................... Figura 2.1. Dominância Relativa (DoR), Freqüência Relativa (FR) e Densidade Relativa (DR), das 10 principais famílias (maior Índice de Valor de Importância) das porções do alto, meio e baixo da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT................................................................................................................ 16 16 17 24 37 52 13 LISTAS DE TABELAS Tabela 1.1. Listagem de espécies amostradas no levantamento florístico realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo: P= Pioneiras, CL= Clímax exigentes de luz, CS= Clímax tolerantes à sombra, A=Alto, M=Meio, B=Baixo e GE= Grupos ecológicos............... Tabela 1.2. Valores apresentados para toda comunidade e para as porções da mata de galeria do córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT, nos anos de 1999 e 2006. Sendo: S= número de espécies, fam= número de famílias, G= número de gêneros, H’= índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener, J’= equabilidade de Pielou..... Tabela 1.3. Similaridade florística pelos índices de Sørensen e Morisita para as três porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) no período de 2006 no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT........................................................................................ Tabela 1.4. Similaridade florística pelos índices de Sørensen e Morisita para as três porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) entre os períodos de 1999 e 2006 no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT.......................................................................... Tabela 1.5. Valores de similaridade florística calculados pelo índice de Sørensen entre a mata de galeria do Córrego Bacaba e outras áreas de mata de galeria ou ciliar do bioma Cerrado. Sendo: IS = índice de Sørensen e H´= índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener........................................................................................ Tabela 1.6. Número de espécies, indivíduos e valores de área basal (m2 ha-1) por grupo ecológico das espécies nas três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba nos períodos de 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT...................................................... Tabela 2.1. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm amostradas na porção do alto no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo: DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%). Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1)..................................................................................................................... Tabela 2.2. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm amostradas na porção do meio no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo: DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%). Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1)........................................................................................................ Tabela 2.3. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm amostradas na porção do baixo no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo: DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%). Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1)........................................................................................................ Tabela 3.1. Parâmetros de dinâmica da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm) em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: AB= área basal (m2 ha-1) e IPA= incremento periódico anual (cm ano-1)........................................................................................... Tabela 3.2. Número de espécies e indivíduos da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm) que apresentaram mortalidade (Mort.) e recrutamento (Recr.) em três porções (alto, 28 33 36 38 39 40 54 58 62 77 81 14 meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: Clímax luz= espécies clímax exigentes de luz e Clímax sombra= espécies clímax tolerantes à sombra. Valores percentuais entre parênteses... Tabela 3.3. Parâmetros de dinâmica das árvores com maior IVI e acima de 10 indivíduos (DAP ≥ 5 cm) em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: m= taxa de mortalidade (% ano-1), r= taxa de recrutamento (% ano-1), in= taxa anual de incremento (% ano-1), p= taxa anual de perda (% ano-1), t1/2= tempo de meia vida (anos), t2= tempo de duplicação (anos), TRo= taxa de rotatividade (indiv., % ano-1), TRoAB= taxa de rotatividade (área basal, % ano-1), Sub= tempo de substituição (anos), Est= estabilidade (anos), ABin= área basal de incremento (m2 ha-1), Abd= área basal de decremento (m2 ha-1) e Abr= área basal de recrutas (m2 ha-1).................. Tabela 3.4. Incremento periódico anual de diâmetro (IPA, cm ano-1) e coeficiente de variação (CV, %) por espécie em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba, entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. O CV foi calculado apenas para as espécies representadas por no mínimo 10 indivíduos............................ 88 90 15 1. INTRODUÇÃO GERAL O Cerrado abriga uma grande riqueza florística e alta diversidade de espécies devido a vários fatores que influenciam na distribuição da flora, como clima, características químicas e físicas do solo, topografia, luz, profundidade do lençol freático, freqüência de queimadas, entre outros (FELFILI, 1994; OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 1995; REZENDE, 1998; PINTO & OLIVEIRA-FILHO, 1999; MARIMON et al., 2001, 2002, 2003; RATTER et al., 2003). Embora se reconheça a grande riqueza florística e a alta diversidade de espécies do Cerrado, pouco se sabe sobre a dinâmica de suas principais fitofisionomias (ARCE et al., 2000). As matas de galeria do bioma Cerrado desempenham importante papel na proteção de nascentes, no controle de erosão, na filtragem de resíduos e ainda funcionam como zona tampão (FELFILI, 1994; REZENDE, 1998; PINTO & OLIVEIRA-FILHO, 1999; VAN DEN BERG & OLIVEIRA-FILHO, 2000; RIBEIRO & WALTER, 2001; MARIMON et al., 2002, 2003; ARANTES et al., 2003; SOUZA et al., 2003; GUARINO & WALTER, 2005; DIETZSCH et al., 2006). Estudos de dinâmica em matas de galeria são importantes, pois visam entender os processos de crescimento, regeneração, recrutamento e mortalidade de espécies arbóreas (FELFILI, 1993, 1994; WERNECK et al., 2000; PINTO & HAY, 2005; OLIVEIRA & FELFILI, 2005), e através destes podemos estar indicando espécies para a recuperação de áreas degradadas. Ratter et al. (1997) mencionaram estudos demonstrando que as matas de galeria apresentam maior diversidade de espécies de árvores e arbustos do que as fitofisionomias vizinhas. Além disso, as matas de galeria apresentariam significativas diferenças na composição florística ao longo do bioma Cerrado, representando uma 16 forte ligação com a Floresta Amazônica e a Floresta Atlântica, além de espécies endêmicas (FELFILI, 1994; OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 1995; SILVA-JÚNIOR et al., 1998; OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 2000). Em matas de galeria na região central do Brasil foram identificadas comunidades preferenciais por áreas úmidas e secas, além de comunidades colonizadoras de clareiras e de áreas sob constantes perturbações, bem como relacionadas ao tipo de solo e a fertilidade (FELFILI, 1993, 1995; MARIMON et al., 2003). Estes estudos são essenciais para subsidiar estratégias de manejo e iniciativas de recuperação dessas áreas (FELFILI, 1995; PINTO, 2002; MARIMON et al., 2002, 2003;), principalmente no que tange à seleção de espécies certas para os ambientes certos. As diferentes condições de luminosidade e umidade que ocorrem nestas matas propiciam uma grande variedade de microsítios e uma elevada diversidade de espécies com distintos requerimentos ecológicos que ainda precisam ser estudados a fim de se estabelecer modelos ou estratégias de recuperação (FELFILI, 1995; SALGADO et al., 2001). Neste caso, a classificação das espécies em grupos ecológicos é uma ferramenta essencial para a compreensão da sucessão ecológica (PAULA et al., 2004). Outro fator que afeta o desenvolvimento das plantas é o fogo. As queimadas aumentam as taxas de mortalidade das árvores, especialmente dos indivíduos de menor diâmetro, diminuindo a densidade da vegetação e provocando alterações significativas na sua estrutura (SATO & MIRANDA, 1996; HOFFMANN, 2001; KLINK et al., 2002). Na cidade de Nova Xavantina, apesar das residências serem abastecidas por água tratada, ainda há um bairro que recebe água não-tratada, provinda de um pequeno córrego cujo ponto de captação situa-se no Parque Municipal do Bacaba, 17 atualmente sob os cuidados do Campus Universitário de Nova Xavantina. A água do Córrego Bacaba, que abastece as residências do Bairro Olaria, é protegida por uma mata de galeria que se distribui em quase toda a sua extensão. Em 2001, alguns pontos da mata foram degradados em função de uma queimada ocorrida no mês de julho. Esta queimada teve início em uma fazenda adjacente ao Parque, onde o proprietário (pecuarista) costuma utilizar o fogo para renovar o pasto. Assim, a manutenção da mata e a recuperação dos pontos degradados são de fundamental importância não só para garantir a preservação de um importante manancial do município, mas também para a conservação da fauna que depende das plantas desta mata. Neste contexto, visando conhecer as alterações da composição florística e da estrutura da vegetação e avaliar os parâmetros de dinâmica da comunidade e de algumas populações de espécies arbóreas da mata de galeria do Córrego Bacaba (Figuras 1, 2 e 3), em um período de sete anos (1999-2006), é que propusemos o presente estudo. No município de Nova Xavantina, há agricultores que descaracterizaram as matas de galeria em suas propriedades e que precisam, por força da lei ou por iniciativa própria, recuperar estas Áreas de Proteção Permanente (APP´s). O grande desafio é selecionar espécies de árvores ou arbustos que apresentem uma resposta adequada para cada situação e indicá-las para uso na recuperação de matas de galeria na região. Assim, o presente estudo foi realizado no sentido de ampliar o conhecimento sobre as espécies e poder propor aquelas que apresentem as melhores características para serem usadas em iniciativas de recuperação de matas de galeria degradadas 18 Figura 1. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do alto, Parque Municipal do Bacaba, Nova Xavantina-MT. Figura 2. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do meio, Parque Municipal do Bacaba, Nova Xavantina-MT. 19 Figura 3. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do baixo, Parque Municipal do Bacaba, Nova Xavantina-MT. 20 2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAL ARANTES, A.A. & SCHIAVINI, I. Fitossociologia e similaridade florística do componente herbáceo-arbustivo em um gradiente florestal da estação ecológica do Panga, Uberlândia, MG. Pp. 392-394. In: Anais de Trabalhos Completos do IV Congresso de Ecologia do Brasil. Fortaleza, Ceará. Universidade Federal do Ceará. Ed. v.3, 2003. ARCE, J.E.; FELFILI, J.M.; GAIAD, D.; REZENDE, A.V. & SANQUETA, C.R. Avaliação do crescimento da vegetação arbórea em uma área de cerrado sensu stricto, em Brasília, DF. Colégio de Ingenieras Del Peru. Capítulo de Ingenieria Florestal. Congresso Florestal Latinoamericano, 2000. 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Revista Brasileira de Botânica, v. 23, n. 3, p. 231-253, 2000. 24 Capítulo I MUDANÇA NA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES EM TRÊS PORÇÕES DA MATA DE GALERIA DO CÓRREGO BACABA (1999-2006), NOVA XAVANTINA-MT 1.1 Introdução Entre as diferentes formações do Cerrado temos as matas de galeria, caracterizadas por associarem-se a cursos d’água de pequeno porte do Brasil Central (Ribeiro & Walter 1998). Esta fitofisionomia tropical apresenta diferentes características particulares, tanto no aspecto biótico como aquelas relacionadas ao seu ambiente físico, abrigando uma grande riqueza e diversidade genética, além de desempenhar um importante papel na proteção dos recursos hídricos, edáficos e na fauna silvestre (Felfili 1994; Rezende 1998; Pinto & Oliveira-Filho 1999; van den Berg & Oliveira-Filho 2000; Ribeiro & Walter 2001, Arantes et al. 2003; Souza et al. 2003; Guarino & Walter 2005; Dietzsch et al. 2006). As matas de galeria encontradas no Brasil Central são consideradas elos entre outras grandes formações florestais no Brasil, apresentando uma flora arbórea diversificada, além de espécies exclusivas (Felfili 1994; 1995; Oliveira-Filho & Ratter 2000). Algumas espécies encontradas nessas matas sugerem a conexão com a Floresta Amazônica, Atlântica e a floresta da Bacia do Rio Paraná (Felfili 1994; Silva-Júnior et al.1998; Oliveira-Filho & Ratter 2000). Neste caso, a interface das matas de galeria com outras formações vegetais adjacentes também contribui para a composição florística e sua elevada diversidade, visto que algumas espécies típicas de cerrado sentido restrito e cerradão também podem ser encontradas colonizando as matas de galeria (Oliveira-Filho & Ratter 1995; Silva-Júnior et al. 1998; Pinto & Oliveira-Filho 1999; Marimon et al. 2002; Oliveira & Schiavini 2003). Mesmo com tamanha diversidade, abrigando cerca de 33% do número total de espécies conhecidas para o bioma Cerrado, e uma ampla distribuição geográfica, as matas de galeria recobrem uma superfície pequena na paisagem, apenas 5% em relação às demais fitofisionomias (Felfili et al. 2001b; Lima & Zakia 2000). Apesar de sua grande importância ecológica, estas matas vêm sofrendo uma diminuição em diversas partes do Brasil, causada pela contaminação por produtos químicos utilizados em plantações, erosão através dos 25 desmatamentos para a expansão de pecuária e agricultura, além de danos resultantes de atividades de mineração (Felfili 1994; 1995). Neste contexto, é necessário conhecer melhor as matas de galeria para propor ações adequadas para a manutenção, recuperação e manejo sem agredir sua biodiversidade (Lopes & Schiavini 2003). Por meio de levantamentos florísticos, podemos adquirir conhecimentos inicias sobre a flora de uma determinada área, sendo que a lista de espécies pode contribuir também para outros estudos de comunidades. Além disso, a classificação quanto aos grupos ecológicos das espécies é apontada como uma ferramenta essencial para a compreensão da sucessão ecológica de uma fitofisionomia. Estudos de fenologia, fitossociologia e dinâmica das populações e comunidades (Felfili 1995; Mendes et al. 2003; Paula et al. 2004) são fundamentais para que se possam conhecer melhor as características que envolvem a estrutura e o funcionamento das matas de galeria. A classificação das espécies quanto aos grupos ecológicos pode estar diretamente relacionada com a luminosidade associada ao respectivo estrato. Entretanto, algumas espécies apresentam bastante plasticidade, podendo ser incluídas em mais de um grupo, assim como também o número de grupos não apresenta apenas uma definição, podendo ser dividido em três ou quatro, dependendo do critério utilizado (Swaine & Whitmore 1988, Werneck et al. 2000; Paula et al. 2004). Diversos trabalhos têm sido realizados envolvendo uma, duas ou mais observações de campo em diferentes intervalos de tempo, no intuito de proporcionar conhecimento das espécies que ocorrem nessas áreas e sua dinâmica em diferentes regiões (Oliveira-Filho et al. 1990; Salis et al. 1994; Felfili 1994; 1995; Oliveira-Filho & Ratter 1995; van den Berg & Oliveira-Filho 2000; Rodrigues & Nave 2000; Marimon et al. 2002; Paula et al. 2004; Battilani et al. 2005; Guarino & Walter 2005; Pinto & Hay 2005; Oliveira & Felfili 2005; Dietzsch et al. 2006; Oliveira-Filho et al. 2007). Estes estudos são importantes, pois somente eles podem apontar alterações quanto à diversidade de espécies e estrutura das comunidades entre diferentes períodos (Felfili 1995; Werneck et al. 2000; Pinto & Hay 2005; Oliveira & Felfili 2005). O objetivo deste estudo foi analisar e descrever as alterações que ocorreram na composição florística e na diversidade de espécies da mata de galeria do Córrego Bacaba, localizada no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina-MT, em um período de sete anos (1999 a 2006). 26 1.2 Material e métodos Área de estudo - O trabalho foi realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba (14º 41’ 25’’S e 52º 20’ 55’’W), no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina, Mato Grosso (Fig. 1.1). A mata ocupa cerca de 40 ha dos 492 ha do Parque e desempenha um papel importante, pois protege a água do Córrego Bacaba, que abastece um bairro carente do município, sem tratamento prévio. A altitude média da área de estudo é de 346 m, o clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, com precipitação anual de 1.300 a 1.500 mm, e temperatura média mensal de 25ºC (Marimon et al. 2003). Figura 1.1. Localização e mapa hipsométrico da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Porções Alto (1), Meio (2) e Baixo (3). 27 A porção do alto apresenta uma declividade média de 42%, com presença de afloramentos rochosos de quartzito e ocorrência de enchentes sazonais com drenagem rápida. O meio apresenta declividade de aproximadamente 32%, com afloramentos rochosos e em locais com menor declividade o lençol freático aflora no período chuvoso e o baixo, com reduzida declividade (cerca de 5%), não apresenta afloramentos rochosos e a drenagem do solo é deficiente (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). Em julho de 2001 foi registrada uma queimada no Parque, que também atingiu parte da mata de galeria do Córrego Bacaba. O fogo que adentrou no Parque originou-se de uma fazenda adjacente, visto que os pecuaristas locais utilizam as queimadas no período da seca para renovar o pasto. Amostragem da vegetação - No ano de 1999 foram estabelecidas pelo método de parcelas fixas (Philip 1994) 141 parcelas permanentes de 10x10m visando uma caracterização fitossociológica e estrutural da vegetação (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). As parcelas foram posicionadas contínua e sistematicamente, atravessando perpendicularmente o córrego e cobrindo toda a área ocupada pela mata até seu encontro com o cerrado stricto sensu. Foram demarcadas 47 parcelas perpendiculares ao córrego em cada porção (alto, meio e baixo). Em 1999, todas as árvores, arvoretas, palmeiras, lianas ou indivíduos mortos em pé com CAP (circunferência à altura do peito) ³ 15cm foram identificados e medidos (Marimon et al. 2002). No presente estudo (2006), todos os indivíduos amostrados no primeiro inventário e aqueles que atingiram a circunferência mínima (³ 15cm) de inclusão (recrutas) foram registrados e identificados. Coleta e identificação das espécies - Para cada espécie amostrada foi coletado, no mínimo, um número de herbário (Voucher) para comprovar sua identificação. Por um período mínimo de um ano (Dez/2006 a Dez/2007) foram realizadas visitas quinzenais às parcelas onde foram coletadas todas as espécies encontradas com material reprodutivo. Foram coletadas no mínimo quatro duplicatas para compor a coleção do Herbário NX e permitir o envio a especialistas. Considerando que no primeiro inventário foi utilizado o sistema de classificação de Cronquist (1988), optou-se por adotar o mesmo sistema no presente estudo, permitindo posterior comparação de dados. Os nomes das espécies foram conferidos em MOBOT (2007). Diversidade Florística e Grupos Ecológicos - Para avaliar a diversidade florística da mata e das diferentes porções amostradas (alto, meio e baixo), foram utilizados os índices de diversidade de espécies de Shannon-Wiener (H’) e de Simpson (1/Ds) (Magurran 1988). O índice de Shannon-Wiener é não-paramétrico e baseia-se na abundância proporcional das espécies. Os valores de H' geralmente estão entre 1,3 e 3,5 podendo alcançar em torno de 4,5 28 em ambientes tropicais e o índice de Simpson é uma medida que dá mais importância às espécies comuns (Felfili & Rezende 2003). Para avaliar a equabilidade foi utilizado o índice de Pielou (J) de acordo com Ludwig & Reynolds (1988). O valor de J varia entre 0 e 1, sendo que o valor máximo significa que todas as espécies possuem a mesma abundância (Magurran 1988). Os resultados do índice de Shannon-Wiener, determinados para cada porção da mata, foram comparados entre si e com os resultados do primeiro inventário (Marimon et al. 2001; 2002; 2003), utilizando-se o teste t de Hutcheson (Zar 1999). Para realizar os cálculos de H' e J foi utilizado o programa FITOPAC 1 (Shepherd 1994). Para avaliar a similaridade florística entre as porções da mata e entre os dois períodos de amostragem, foram utilizados os índices de Sørensen e Morisita (Brower & Zar 1977). O Índice de Sørensen, que é qualitativo, baseia-se na presença ou ausência de espécies e dá mais importância às espécies comuns do que às exclusivas. O índice de Morisita é quantitativo e baseia-se na abundância das espécies (Müeller-Dombois & Ellenberg 1974; Brower & Zar 1977). Os valores dos índices variam entre 0 e 1, sendo que valores maiores do que 0,5 indicam alta similaridade entre as áreas comparadas (Kent & Coker 1992; Felfili & Rezende 2003; Fonseca & Silva-Júnior 2004). As espécies também foram classificadas quanto ao grupo ecológico (clímax tolerante à sombra, clímax exigente de luz e pioneira) e a classificação foi baseada nas características apresentadas pelos indivíduos jovens e adultos e por meio de consultas às bibliografias especializadas (Swaine & Whitmore 1988; Oliveira-Filho et al. 1994; Pinto & Hay 2005). 1.3 Resultados e discussão Composição florística e riqueza de espécies - No levantamento geral de 2006, foram encontradas 135 espécies, 113 gêneros e 49 famílias (Tab.1.1). Apenas 11 foram identificadas somente até gênero, representando 8,1% do total de espécies. As famílias e gêneros com maior riqueza de espécies foram: Fabaceae (10 espécies), Rubiaceae (8), Apocynaceae (8), Caesalpiniaceae (8), Mimosaceae (7) e Bignoniaceae (6). Os gêneros foram: Aspidosperma, Bauhinia, Diospyros, Licania e Myrcia, com três espécies cada. Marimon et al. (2002) registraram as mesmas famílias e gêneros como os mais importantes no levantamento realizado na mesma mata em 1999. Além dessas, as famílias Chrysobalanaceae (5 espécies), Annonaceae (5), Myrtaceae (5) e Bignoniaceae (6) também 29 apresentaram um número significativo de espécies no levantamento de 2006, podendo ser citadas entre as mais importantes. Em um estudo realizado por Silva-Júnior et al. (1998), no qual foi comparada a composição florística de 15 matas de galeria no Distrito Federal, as famílias Annonaceae, Fabaceae, Mimosaceae, Caesalpiniaceae, Myrtaceae e Rubiaceae foram apontadas entre as de maior riqueza. Rodrigues & Nave (2000), quando compilaram os dados de 43 levantamentos florísticos e fitossociológicos de florestas ciliares do Brasil extra-amazônico, apontam estas famílias como as que apresentaram maior riqueza de espécies. Estudos realizados por Felfili (1994; 1995), Battilani et al. (2005) e Dietzsch et al. (2006) também registraram as mesmas famílias como sendo as de maior riqueza. Na mata de galeria do Córrego Bacaba, a família Fabaceae apresentou 7,4% de todas as espécies amostradas, Rubiaceae, Apocynaceae e Caesalpiniaceae apresentaram 5,9% cada, Mimosaceae 5,2% e Bignoniaceae 4,4%. Felfili et al. (2001b), quando analisaram a flora fanerogâmica das matas de galeria e ciliares do Brasil Central, registraram para Caesalpiniaceae, Mimosaceae e Fabaceae, 9,2% das espécies encontradas, Rubiaceae com 5,3%, Apocynaceae 2,3% e Bignoniaceae 2,1%, valores próximos aos encontrados no presente estudo. Silva-Júnior et al. (2001), com base em trabalhos realizados em 21 matas de galeria no Distrito Federal, observaram que as famílias Rubiaceae, Myrtaceae e Annonaceae estiveram presentes em todos os levantamentos, Caesalpiniaceae e Mimosaceae estiveram presentes em 95,2% das áreas estudadas, Apocynaceae em 90,5%, Fabaceae em 81% e Bignoniaceae em 76,2% das áreas. Este fato reforça que as famílias mais representativas da mata de galeria do Córrego Bacaba também apresentam grande distribuição e riqueza nas matas de galeria e ciliares do Brasil Central. Segundo Goodland (1979), Leguminosae (incluindo Fabaceae, Mimosaceae e Caesalpiniaceae) é considerada uma das famílias mais importantes nas formações florestais do bioma Cerrado, justificando seu predomínio à sua capacidade de fixação de nitrogênio apresentada por várias de suas espécies, o que pode representar uma vantagem competitiva, principalmente nos solos pobres do Brasil Central. Polhill et al. (1981) também observaram que o predomínio desta família pode estar relacionado ao fato da região central do Brasil ser considerada o principal centro de diversificação de Leguminosae. Para Felfili et al. (2001b), Myrtaceae e Rubiaceae também se apresentam entre as famílias com maior riqueza de espécies tanto em ambientes savânicos quanto florestais. Além disso, Myrtaceae possui cerca 30 de 3% das espécies de plantas do mundo (Mabberley 1997) e é uma das famílias de destaque no Cerrado (Mendonça et al. 1998). Os gêneros Aspidosperma e Myrcia também apresentaram o maior número de espécies em uma mata de galeria do Distrito Federal (Felfili 1994). No trabalho realizado por Silva-Júnior et al. (2001) Myrcia esteve presente em 81% das áreas estudadas pelo referido autor, apresentando 16 diferentes espécies, Aspidosperma esteve presente em 76% das áreas com sete espécies, Licania, Diospyros e Bauhinia em 67% das áreas, com duas ou três espécies cada. No trabalho de Felfili et al. (2001b), tal como foi registrado no presente estudo, a média do número de espécies por gênero também foi de aproximadamente três, denotando assim a alta diversidade genética das matas associadas aos cursos de água do Cerrado. Comparando-se o presente estudo (2006) com o levantamento de 1999 (Marimon et al. 2002), foram registradas para a mata de galeria do Córrego Bacaba 12 novas ocorrências de espécies (Arrabidaea sp. Banisteriopsis sp., Callichlamys sp., Dimorphandra mollis, Guapira graciliflora, Marcgravia sp., Secondatia densiflora, Strychnos sp., Trichilia pallida, Tocoyena formosa e Trema micrantha), sendo dez novas ocorrências de gêneros (Banisteriopsis, Callichlamys, Dimorphandra, Guapira, Marcgravia, Secondatia, Strychnos, Tocoyena e Trichilia) e cinco novas ocorrências de famílias (Ulmaceae, Nyctaginaceae, Loganiaceae, Meliaceae e Marcgraviaceae). Em contrapartida, desapareceram seis espécies (Doliocarpus dentatus, Tococa formicaria, Paragonia pyramidata, Abuta grandifolia, Agonandra brasiliensis e Ficus sp2), cinco gêneros (Doliocarpus, Tococa, Paragonia, Abuta e Agonandra) e três famílias (Menispermaceae, Opiliaceae e Melastomataceae). Tabela 1.1. Listagem de espécies amostradas no levantamento florístico realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo: P= Pioneiras, CL= Clímax exigentes de luz, CS= Clímax tolerantes à sombra, A=Alto, M=Meio, B=Baixo e GE= Grupos ecológicos. ESPÉCIES Acosmium sp. Aiouea saligna Meisn. Alibertia elliptica (Cham.) K. Schum. Amaioua guianensis Aubl. Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Andira vermifuga Mart. ex Benth Apeiba tibourbou Aubl. Apuleia leiocarpa (Vog.) Macbr. Arrabidaea brachypoda (DC.) Bur Arrabidaea sp. Aspidosperma macrocarpon Mart. Aspidosperma subincanum Mart. FAMÍLIA GE Fabaceae Lauraceae Rubiaceae Rubiaceae Mimosaceae Fabaceae Tiliaceae Caesalpiniaceae Bignoniaceae Bignoniaceae Apocynaceae Apocynaceae CL CL CS CL P CL CL CL P P CL CS A M X X X X X B X X X X X X X X X X X X X 31 (Continuação Tabela 1.1) ESPÉCIES Aspidosperma tomentosum Mart. Astrocaryum vulgare Mart. Astronium fraxinifolium Schott. Banisteriopsis sp. Bauhinia longifolia D.Dietr. Bauhinia outimouta Aubl. Bauhinia sp. Bowdichia virgilioides Kunth Byrsonima laxiflora Griseb. Callichlamys sp. Callisthene fasciculata Mart. Calophyllum brasiliense Cambess Cariniana rubra Gardner ex Miers Casearia arborea (Rich.) Urb. Casearia sylvestris Sw. Cecropia pachystachya Trécul Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm. Combretum vernicosum Rusby Campomanesia eugenioides (Cambess.)D. Legrand Copaifera langsdorffii Desf. Cordia glabrata (Mart.) A. DC. Cordia sellowiana Cham. Coussarea platyphylla Müll. Arg. Curatella americana L. Cuspidaria sp. Davilla elliptica A.St-Hil. Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch Dilodendron bipinnatum Radlk. Dimorphandra mollis Benth. Dioclea glabra Benth. Dioclea virgata (Rich.) Amshoff Diospyros hispida A.DC. Diospyros obovata Jacq. Diospyros sericea A.DC. Dipteryx alata Vogel Duguetia marcgraviana Mart. Emmotum nitens (Benth.) Miers Endlicheria lhotzkyi (Nees) Mez. Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Ephedranthus parviflorus S. Moore Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns Erythroxylum daphnites Mart. Eugenia aurata O. Berg. Ficus cf. enormis (Mart. ex Miq) Mart. Ficus sp. Genipa americana L. Guapira graciliflora (Schmidt) Lundell Guazuma ulmifolia Lam. Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl. Hancornia speciosa Gomes Hieronyma alchorneoides Allemão FAMÍLIA GE Apocynaceae Arecaceae Anacardiaceae Malpighiaceae Caesalpiniaceae Caesalpiniaceae Caesalpiniaceae Fabaceae Malpighiaceae Bignoniaceae Vochysiaceae Clusiaceae Lecythidaceae Flacourtiaceae Flacourtiaceae Cecropiaceae Hippocrateaceae Combretaceae Myrtaceae Caesalpiniaceae Boraginaceae Boraginaceae Rubiaceae Dilleniaceae Bignoniaceae Dilleniaceae Araliaceae Sapindaceae Mimosaceae Fabaceae Fabaceae Ebenaceae Ebenaceae Ebenaceae Fabaceae Annonaceae Icacinaceae Lauraceae Mimosaceae Annonaceae Bombacaceae Erythroxylaceae Myrtaceae Moraceae Moraceae Rubiaceae Nyctaginaceae Sterculiaceae Rubiaceae Apocynaceae Euphorbiaceae CL P CL P CL CL CL P CL P CS CS CS CS CL P CS CL CL CS P P CL CL P P CL P CL P P CL CS CL CL CS CL CS CL CL CL CS CL CL CS CS CL CL CL CL CL A M X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X B X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 32 (Continuação Tabela 1.1 ESPÉCIES Himatanthus bracteatus (A.DC.) Woodson Himatanthus obovatus (Müell. Arg.) Woodson Hirtella glandulosa Spreng. Hirtella gracilipes (Hook.f.) Prance Hymenaea courbaril L. Ilex affinis Gardner Inga heterophylla Willd. Inga thibaudiana DC. Jacaranda cuspidifolia Mart. Kielmeyera rubriflora Cambess. Licania apetala (E. Mey) Fritsch Licania blackii Prance Licania gardneri (Hook.f.) Fritsch Luehea candicans Mart. Mabea pohliana (Benth.) Müll. Arg. Machaerium acutifolium Vogel Machaerium sp. Magonia pubescens A. St.-Hil. Marcgravia sp. Matayba guianensis Aubl. Mauritia flexuosa L.f. Mauritiella armata (Mart.) Burret Maytenus cf. floribunda Reissek Micropholis venulosa (Mart.& Eichler) Pierre Mimosa laticifera Rizzini & A. Mattos Moutabea excoriata Mart. ex. Miq Myrcia tomentosa (Aubl.) DC. Myrcia amazonica DC. Myrcia sellowiana O. Berg. Odontadenia spoliata Malme Oenocarpus distichus Mart. Ormosia coarctata Jacks. Ouratea castaneifolia (DC.) Engl. Peltogyne confertiflora (Mart. ex Hayne) Benth. Physocalymma scaberrimum Pohl. Plathymenia reticulata Benth. Platypodium elegans Vogel. Posoqueria aff. macropus Mart. Pouteria gardneri (Mart. & Miq.) Baehni Pouteria torta (Mart.) Radlk. Protium heptaphyllum (Aubl.)Marchand Protium spruceanum (Benth.) Engl. Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A. Robyns Pseudolmedia laevigata Trécul Psychotria carthagenensis Jacq. Qualea multiflora Mart. Salacia elliptica (Mart. ex Schult.) G. Don Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin Sclerolobium paniculatum Vogel. Secondatia densiflora A.DC. Serjania glutinosa Radlk. FAMÍLIA Apocynaceae Apocynaceae Chrysobalanaceae Chrysobalanaceae Caesalpiniaceae Aquifoliaceae Mimosaceae Mimosaceae Bignoniaceae Clusiaceae Chrysobalanaceae Chrysobalanaceae Chrysobalanaceae Tiliaceae Euphorbiaceae Fabaceae Fabaceae Sapindaceae Marcgraviaceae Sapindaceae Arecaceae Arecaceae Celastraceae Sapotaceae Mimosaceae Polygalaceae Myrtaceae Myrtaceae Myrtaceae Apocynaceae Arecaceae Fabaceae Ochnaceae Caesalpiniaceae Lythraceae Mimosaceae Fabaceae Rubiaceae Sapotaceae Sapotaceae Burseraceae Burseraceae Bombacaceae Moraceae Rubiaceae Vochysiaceae Hippocrateaceae Araliaceae Caesalpiniaceae Apocynaceae Sapindaceae GE CL P CL CL CS CL CL CL CL CS CL CS CS CS P CL CL P CL CL CL CL CS CL P CS CL CS CL P CL CS CS CS CL P P CS CS CL CL CS CL CL CS CL CL CL CL CL P A X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X M X X X B X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 33 (Continuação Tabela 1.1 ESPÉCIES Sorocea guilleminiana Gaudich. Sterculia speciosa K. Schum. Sterculia striata A. St.-Hil & Naudin Strychnos sp. Tabebuia impetiginosa (Mart. ex.DC.) Standl. Tapirira guianensis Aubl. Tapura amazonica Poepp. Tetragastris altissima (Aubl.) Swart. Tetrapterys glabra (Spreng.) Griseb. Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K. Schum. Trema micrantha (L.) Blume Trichilia pallida Sw. Unonopsis lindmanii R.E. Fr. Virola urbaniana Warb. Vismia sp. Vitex polygama Cham. Vochysia haenkeana Mart. Xylopia aromatica (Lam.) Mart. Xylopia emarginata Mart. Zanthoxylum cf. riedelianum Engl. FAMÍLIA Moraceae Sterculiaceae Sterculiaceae Loganiaceae Bignoniaceae Anacardiaceae Dichapetalaceae Burseraceae Malpighiaceae Rubiaceae Ulmaceae Meliaceae Annonaceae Myristicaceae Clusiaceae Verbenaceae Vochysiaceae Annonaceae Annonaceae Rutaceae GE CS CL CL P CL P CS CS P CL P CS CS CL CL P CL P CL CL A X X X X X X M B X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Na porção do alto, em 2006, foram amostradas 77 espécies, distribuídas em 67 gêneros e 38 famílias, sendo duas novas ocorrências de famílias (Flacourtiaceae e Marcgraviaceae), cinco espécies e cinco gêneros (Banisteriopsis sp., Casearia arborea, Dimorphandra mollis, Marcgravia sp. e Sorocea guilleminiana) (Tab. 1.2) em relação a 1999 (Marimon et al. 2002). As famílias com maior riqueza de espécies na porção do alto em 2006 foram Apocynaceae (5 espécies), Caesalpiniaceae (5), Chrysobalanaceae (5) e Rubiaceae (5). Doliocarpus dentatus e Tococa formicaria e a família Melastomataceae, presentes no levantamento de 1999 não foram encontradas no alto em 2006. Na porção do meio, em 2006, foram amostradas 88 espécies, distribuídas em 76 gêneros e 40 famílias. Comparado ao levantamento de 1999, foi registrada a ocorrência de quatro novas famílias (Nyctaginaceae, Loganiaceae, Malpighiaceae e Meliaceae), nove espécies e oito gêneros (Byrsonima, Guapira, Odontadenia, Ormosia, Salacia, Secondatia, Strychnos e Trichilia). Sete espécies, cinco gêneros e duas famílias presentes em 1999 não foram encontrados em 2006 (Tab. 1.2). Na porção do baixo foram encontradas em 2006, 71 espécies, distribuídas em 62 gêneros e 38 famílias. Houve a ocorrência de apenas uma nova família (Ulmaceae), sete gêneros e nove espécies (Tab. 1.2). Comparada ao levantamento de 1999 (Marimon et al. 2002), a porção do baixo perdeu 15 espécies: Abuta grandifolia, Agonandra brasiliensis, 34 Aiouea saligna, Alibertia elliptica, Astronium fraxinifolium, Diospyros sericea, Ficus cf. enormis, Ficus sp.2, Hieronyma alchorneoides, Posoqueria aff. macropus, Protium spruceanum, Pseudolmedia laevigata, Sorocea klotzschiana, Tabebuia impetiginosa e Tococa formicaria. Quanto aos gêneros, 12 não foram registrados em 2006 e quatro famílias desapareceram: Menispermaceae, Opiliaceae, Moraceae e Melastomataceae. A porção do baixo foi a que apresentou maior variação, pois o surgimento de gêneros e espécies não superou a perda. Nesta porção, o relevo é mais plano e o lençol freático tende a permanecer aflorado ou próximo à superfície mesmo no período seco (Marimon et al. 2003). Neste caso, é possível que poucas espécies estejam adaptadas a tais condições ambientais. Segundo Rezende (1998), as matas de galeria encontram-se em transição quanto ao tipo de solo e gradiente de umidade dos mesmos, sendo que geralmente a umidade determina o tipo de vegetação, indicando e selecionando espécies adaptadas ao meio. No caso da porção do baixo, apenas as espécies tolerantes a solos encharcados ou sujeitos às inundações temporárias seriam selecionadas. Analisando-se os resultados quanto ao surgimento e desaparecimento de espécies entre os estudos realizados em 1999 e 2006, verificou-se que, no geral, 5,2% das espécies registradas no primeiro inventário não foram encontradas no segundo, sendo que a porção do alto teve uma perda de 2,8% de espécies, o meio perdeu 7,9% e o baixo 22,5%. Quanto a nova ocorrência de espécies em relação aos dois levantamentos (1999 e 2006) no geral, em 2006, houve um aumento de 8,9% de espécies, sendo que na porção do alto foram registradas 6,5%, no meio 10,2% e no baixo, 12,7%. De maneira geral, a nova ocorrência de espécies em inventários recorrentes numa mesma área, com curtos intervalos de tempo entre cada medição, varia de 3 a 13% e o desaparecimento entre 0 e 8% (Pinto & Hay 2005). Os elevados percentuais de desaparecimento registrados na mata do Córrego Bacaba excederam os valores sugeridos por Pinto & Hay (2005) em pelo menos duas das três porções avaliadas no presente estudo. Este fato pode estar relacionado ao histórico de fogo registrado na mata em 2001. Neste caso, o fogo que atingiu parte da mata pode ter alterado a dinâmica da comunidade, pois entre as novas ocorrências de espécies registradas nas três porções, a maioria são de espécies secundárias (Ex: Salacia elliptica, Trichilia pallida e Trema micrantha), típicas de áreas em processo de renovação após algum distúrbio (Lorenzi 1992; 1998; Rezende 1998). Entre as espécies com nova ocorrência, também foram registradas três lianas (Marcgravia sp., Banisteriopsis sp. e Odontadenia spoliata) e algumas típicas de cerrado e cerradão (Dimorphandra mollis, Byrsonima laxiflora e Guapira graciliflora) (Lorenzi, 1992; 1998; Rezende 1998). 35 Sendo assim, supõe-se que estas porções de mata estão sob impacto do efeito de borda pela presença de lianas nas clareiras abertas pelo fogo e permitindo a entrada de espécies de cerrado e cerradão. Felfili (1997a, b) observou que queimadas ocasionais que atingem as bordas das matas de galeria tornam a comunidade vulnerável à propagação de invasoras, dificultando a colonização de espécies florestais. Oliveira & Felfili (2005) classificam as espécies de borda como sendo as mais resistentes a estresses ocasionais como as queimadas, sendo elas as mais indicadas para a revegetação de fragmentos florestais degradados sujeitos a distúrbios como o fogo. Entretanto, apesar das matas de galeria serem consideradas comunidades estáveis e auto-regenerativas, diferenças florísticas nas bordas são esperadas, uma vez que essas áreas estão mais expostas a fatores como o vento, luz e fogo (Felfili et al. 2001a; Oliveira & Felfili 2005). Tabela 1.2. Valores apresentados para toda comunidade e para as porções da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT, nos anos de 1999 e 2006. Sendo: S= número de espécies, fam= número de famílias, G= número de gêneros, H’= índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener, J= equabilidade de Pielou. Alto Ano do inventário: Espécies Famílias Gêneros Perda de S (fam) Ganho de S (fam) Perda de G Ganho de G H' (nats ind.-1) J 1/DS (Simpson) 1999 74 37 64 3,84 0,89 34,57 Meio 2006 77 38 67 2 (1) 5 (2) 2 5 3,66 0,84 21,28 1999 86 38 73 4,08 0,91 49,09 2006 88 40 76 7 (2) 9 (4) 5 8 4,02 0,90 43,95 Baixo 1999 2006 77 71 41 38 67 62 15 (4) 9 (1) 12 7 3,57 3,46 0,82 0,81 24,03 19,95 Total 1999 129 47 108 4,21 0,87 48,32 2006 135 49 113 6 (3) 12 (5) 5 10 4,10 0,83 35,55 Diversidade e similaridade - Foram encontrados valores de H’ elevados para as três porções de mata nos dois períodos de amostragem, sendo que em 1999 os valores variaram de 3,57 a 4,08 nats ind.-1 (Marimon et al. 2002) e em 2006 de 3,66 a 4,02, com uma pequena variação entre os dois estudos (Tab. 1.2). Os valores da equabilidade também permaneceram elevados nas três porções, sendo que em 1999 estiveram entre 0,82 e 0,91 (Marimon et al. 2002) e em 2006 entre 0,82 e 0,90 (Tab. 1.2). Os valores de H’ determinados para as três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba em 2006 e comparados pelo teste t de Hutcheson mostraram que as áreas diferem entre si quanto a diversidade de espécies (P< 0,05). Entretanto, quando comparados os valores de H’ entre os levantamentos de 1999 e 2006, verificou-se que somente a diversidade de espécies da porção do alto diferiu entre os 36 dois períodos amostrados (t0,05(2),146= 2,54, P< 0,05). Esta diferença de diversidade de espécies registrada para a porção do alto, que foi menor em 2006 (Tab. 1.2), também pode ser um reflexo dos efeitos negativos da queimada ocorrida em 2001. O índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) da porção do baixo apresentou o menor valor, tanto em 1999 quanto em 2006 (Tab. 1.2). Segundo Haridasan (1998), solos alagados e com drenagem deficiente tendem a apresentar uma diversidade menor que solos bem drenados, sendo que em casos extremos estão os buritizais. No presente estudo, somente na porção do baixo houve a ocorrência de Mauritia flexuosa (buriti), espécie típica de áreas alagadas e mal drenadas (Oliveira-Filho & Ratter 1995). De forma geral, os solos encharcados de algumas matas de galeria apresentam baixos níveis de oxigênio, restringindo a respiração das raízes das plantas, que são obrigadas a adotar estratégias para garantir sua sobrevivência durante os períodos de inundações. Como exemplo, Tapirira guianensis, com raízes escoras e Mauritia flexuosa com pequenas raízes aéreas (Oliveira-Filho et al. 1990), que também ocorreram na porção do baixo da mata do Bacaba. Joly (1991) observou que, dependendo da duração de um alagamento em uma floresta, o impacto é evidente na diversidade de espécies e Almeida et al. (2004) registraram que em áreas inundáveis o grau de resiliência pode ser baixo, o que causaria a perda da cobertura vegetal. Nas matas de galeria do Brasil Central os índices de diversidade (H’) variam de 2,27 até 4,45 nats ind-1, geralmente com valores entre 3,6 e 4,2, sendo os índices mais baixos observados em matas de galeria inundáveis (Guarino & Walter 2005). Silva-Júnior et al. (1998) registraram os maiores valores de diversidade de espécies em matas localizadas em solos bem drenados. Em estudos realizados em matas de galeria sobre solos bem drenados na Chapada dos Guimarães-MT, em Brasília-DF e Jardim-MS, também foram encontrados valores elevados para o índice de diversidade de espécies, variando de 3,3 a 4,3 nats ind-1 (Oliveira-Filho 1989; Felfili 1994; 1995; Pinto & Hay 2005; Battilani et al. 2005; Dietzsch et al. 2006). Os valores registrados nas três porções e em toda a mata de galeria do Bacaba (Tab. 1.2) estão entre os valores e padrões sugeridos para as matas de galeria do Brasil Central. O estudo realizado na mata de galeria do Córrego Bacaba apresentou espécies em comum com levantamentos realizados na Floresta Atlântica e Amazônica (Rolim et al. 1999; Oliveira-Filho et al. 2004; Ivanauskas et al. 2004) destacando-se: Amaioua guianensis, Apuleia leiocarpa, Copaifera langsdorffii, Cordia sellowiana, Inga thibaudiana, Micropholis venulosa, Protium heptaphyllum, Schefflera morototoni, Siparuna guianensis e Unonopsis lindmanii. As mesmas espécies também foram encontradas em outras matas de galeria do 37 Brasil Central (Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto & Hay 2005; Guarino & Walter 2005). Comparações como estas reforçam a afirmação de que as matas de galeria e ciliares do Brasil Central apresentam conexão com a Floresta Amazônica e Atlântica, além de contribuir para sua diversidade (Felfili 1994; Silva-Júnior et al. 1998; Pinto & Oliveira-Filho 1999). OliveiraFilho & Ratter (1995) realizaram uma avaliação da composição florística das matas ciliares do Brasil Central, compararam com outros grandes grupos de florestas e observaram que 77% de espécies são compartilhadas com as Florestas Ombrófilas Amazônicas e com a Floresta Atlântica sensu lato. Assim como há espécies comuns entre a Floresta Amazônica, Atlântica e matas ciliares do Brasil Central, há também espécies que ocorrem somente nas matas ciliares do Brasil Central e na Floresta Amazônica, como é o caso de Mauritia flexuosa, Xylopia emarginata e Vochysia haenkeana. As duas primeiras espécies são características de matas ciliares brejosas e veredas do Cerrado, dependentes de solos saturados e consideradas por alguns autores (Oliveira-Filho 1989; Oliveira-Filho & Ratter 1995, Oliveira-Filho & Ratter 2000) como as espécies mais típicas das matas ciliares do Brasil Central. Em contrapartida, também existem espécies que ocorrem nas matas ciliares e que são compartilhadas somente com a Floresta Atlântica, um exemplo encontrado em nosso estudo é Diospyros hispida, espécie exigente de solos melhor drenados, com pouca fertilidade, sendo comum também em áreas de cerrado stricto sensu e cerradão (Oliveira-Filho 1989; Oliveira-Filho & Ratter 1995, Oliveira-Filho & Ratter 2000). Neste caso, a conectividade que as matas ripárias do Brasil Central apresentam com as duas maiores formações florestais brasileiras por intermédio dos corredores dendríticos contribui para uma maior diversidade das mesmas (Oliveira-Filho & Ratter 1995; Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto & Hay 2005). Estudos realizados em matas de galeria no Distrito Federal (Felfili 1994; 1995; Dietzch et al. 2006), em Mato Grosso (Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto & Hay 2005; Marimon et al. 2002) e em Mato Grosso do Sul (Battilani et al. 2005) mostraram que os valores da equabilidade foram similares, apresentando uma distribuição uniforme das espécies e baixa dominância ecológica em todas essas matas. A menor equabilidade registrada na porção do baixo, na mata do Bacaba, provavelmente se deve pela presença expressiva dos buritis (Mauritia flexuosa). Neste caso, a menor equabilidade da porção do baixo também contribuiu para o menor valor de H’ (Tab. 1.2). Além disso, o encharcamento do solo (Marimon et al. 2003) deve ser um fator limitante para muitas espécies nesta porção. O regime hídrico influenciado pela topografia e condições microclimáticas (sombreamento total ou não da superfície do solo) são 38 fatores que determinam as características químicas mais importantes dos solos das matas de galeria (Haridasan 1998), determinando assim o tipo de vegetação. A similaridade florística determinada pelo índice de Sørensen revelou valores altos para as três porções (≥ 0,50), sendo que a porção do baixo foi a que apresentou menor similaridade quando comparada com as demais porções (Tab. 1.3). Por outro lado, o índice de Morisita apresentou elevado valor de similaridade somente entre as porções do alto e baixo (Tab. 1.3). No levantamento realizado em 1999, Marimon et al. (2002), registraram que a porção do alto apresentou elevada similaridade entre as porções do meio e baixo (Sørensen= 0,65). Provavelmente a redução da diversidade de espécies registrada no alto em 2006 (possivelmente em resposta ao fogo de 2001) e a variação sazonal do lençol freático que ocorre no baixo e que também pode conduzir à redução da diversidade de espécies, tenham contribuído para a elevada similaridade entre estas porções geograficamente mais distantes. Em 2006 a porção do baixo apresentou menor número de espécies em comum com o alto e o meio (Fig. 1.2), quando comparado com 1999. De acordo com Silva-Júnior et al. (1998), a variação topográfica produz ambientes peculiares em cada local com o conseqüente estabelecimento de comunidades floristicamente menos similares. Este aspecto também pode explicar porque o baixo (em relevo plano) apresentou menor similaridade florística com o meio (relevo acidentado) em 2006 e poucas espécies em comum em 1999. Tabela 1.3. Similaridade florística determinada pelos índices de Sørensen e Morisita para as três porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) no período de 2006 no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Morisita Sørensen Alto Meio Baixo Alto 0,37 0,71 Meio 0,66 0,30 Baixo 0,55 0,49 - A similaridade florística das três porções de mata foi elevada para as comparações efetuadas entre 1999 e 2006 (Tab. 1.4), indicando que apesar de decorridos sete anos a composição florística da mata de galeria do Córrego Bacaba não apresentou grandes variações. Os resultados apresentados na comparação da composição florística da mata de galeria do Córrego Bacaba com outras matas de galeria do Cerrado (Tab. 1.5) demonstram que essas são bastante diversas, heterogêneas e apresentam características peculiares, pois nenhuma das 39 oito áreas comparadas com o presente estudo alcançou valores de similaridade superiores a 0,5 (Sørensen). Analisando as fitofisionomias florestais do Brasil Central, podemos concluir que essas matas abrigam uma grande riqueza, diversidade e, consequentemente, uma grande heterogeneidade, apresentando reduzida similaridade entre si, até mesmo entre áreas próximas, evidenciando características ambientais diferentes para cada localidade (SilvaJúnior et al. 1998; Silva-Júnior et al. 2001; Felfili 2000). Rodrigues (2000) observou que os ambientes ribeirinhos, de forma geral, refletem as características geológicas, geomorfológicas, climáticas, hidrológicas e hidrográficas, com freqüências e intensidades variáveis no espaço e tempo. Assim, esses fatores atuariam como definidores da paisagem e das condições locais de cada área, determinando a heterogeneidade do ambiente e constituindo um mosaico de condições ecológicas distintas, cada qual com sua particularidade fisionômica, florística e/ou estrutural. Alto (N2006 = 77) (N1999 = 74) 21 15 Meio (N2006 = 88) (N1999 = 86) 28 13 27 12 34 7 5 39 7 10 00 21 25 Baixo (N2006 = 71) (N1999 = 77) Figura 1.2. Diagrama de Venn indicando o número de espécies em comum e exclusivas de três porções do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Valores dentro dos círculos/elipses correspondem ao inventário realizado em 1999 (Marimon et al. 2002) e valores dentro dos retângulos/quadrados correspondem ao presente estudo (2006). N = número de espécies. 40 Segundo Felfili et al. (2001b), as matas de galeria apresentam cerca de 89% das famílias, 62% dos gêneros e 33% das espécies de fanerógamas compiladas para todas as fitofisionomias do Cerrado. Rodrigues & Nave (2000) reuniram 43 listas de levantamentos florísticos e fitossociológicos de espécies arbustivo-arbóreas de matas ciliares do Brasil extraamazônico e verificaram que 37% do total de 947 espécies amostradas foram encontradas em apenas uma das áreas, 56% em uma ou duas e apenas 1% das espécies foram amostradas no mínimo em 21 áreas. Os referidos autores observaram ainda que, graças à grande heterogeneidade que essas matas comportam, atividades ligadas à conservação, manejo e restauração não são passíveis de generalização. Sendo assim, as matas de galeria preservadas podem ser consideradas um rico experimento natural onde as relações espécie/ambiente podem ser avaliadas e transformadas em conhecimento e, posteriormente, utilizadas em estratégias para a recuperação de áreas degradadas (Silva-Júnior et al. 2001). Atualmente, os trabalhos de recuperação de matas de galeria têm sido realizados com um número restrito de espécies florestais nativas, podendo resultar em uma homogeneização artificial da vegetação ciliar, causando conseqüências imprevisíveis na dinâmica e diversidade ecológica dessas áreas e no sucesso dessas propostas, principalmente nas regiões onde ocorre uma maior fragmentação desses remanescentes ciliares (Rodrigues & Nave 2000). Este fato confirma a importância de se conhecer plenamente a composição florística e a variação temporal da composição florística da mata de galeria do Córrego Bacaba para que se possam subsidiar estratégias de manejo e conservação desta importante fitofisionomia. Tabela 1.4. Similaridade florística determinada pelos índices de Sørensen e Morisita para as três porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) entre os períodos de 1999 e 2006 no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Índices Sørensen Morisita Alto 1999x2006 0,95 0,87 Meio 1999x2006 0,90 0,82 Baixo 1999x2006 0,82 0,90 Grupos ecológicos – A amostragem de espécies realizada em 2006 revelou que a mata do Córrego Bacaba é composta por 29 espécies pioneiras (21,6%), 70 clímax exigentes de luz (52,3%) e 35 clímax tolerantes à sombra (26,1%) (Tab. 1.1). Em 1999, as espécies pioneiras representavam 19,4%, as clímax exigentes de luz 52% e as clímax tolerantes à sombra compunham 28,6% da comunidade. Em ambos os períodos de amostragem as espécies 41 pioneiras estiveram em menor número, assim como as clímax tolerantes à sombra, destacando-se as espécies clímax exigentes de luz, indicando que a mata se encontra em um estágio intermediário de sucessão. Entre 1999 e 2006 as pioneiras tiveram um pequeno aumento no número de espécies, número de indivíduos e área basal (Tab. 1.6), parecendo estarem restritas, de forma geral, ao surgimento de pequenas clareiras formadas pela queda de galhos ou árvores isoladas. Convém salientar que, mesmo a mata tendo sido atingida pelo fogo em 2001 o grupo de espécies pioneiras não apresentou um grande aumento em relação ao período anterior ao fogo. Paula et al. (2004) observaram que a queda de árvores e a abertura de clareiras é um processo natural na dinâmica das matas de galeria e Felfili (1994; 1997b) observou que queimadas ocasionais e de baixa intensidade alteram pouco a estrutura e a composição florística de uma mata de galeria. Tabela 1.5. Valores de similaridade florística calculados pelo índice de Sørensen entre a mata de galeria do Córrego Bacaba e outras áreas de mata de galeria ou ciliar do bioma Cerrado. Sendo: IS = índice de Sørensen, H´= índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener (nats ind.-1), CAP/DAP/PAP= circunferência/diâmetro/perímetro ao nível do peito, CAS/DAS= circunferência/diâmetro ao nível do solo. Localização Área Métod amostra o l coleta Nº de espécie s Córrego Bacaba - MT 1,41 ha Parc. 135 Riacho Fundo - DF 0,8 ha Parc. 53 Córrego Acampamento - DF 0,8 ha Parc. 60 Brasília - DF 3,03 ha Parc. 95 Cuiabá - MT Chapada dos Guimarães MT 0,201 ha Parc. 89 1,08 ha Parc. 147 Gaúcha do Norte - MT Itutinga - MG 2,0 ha 0,84 ha Parc. Parc. 76 163 Jardim - MS 0,9 ha Parc. 66 H’ IS Limite inclusa o CAP ≥ 15 cm DAP ≥ 3 cm DAP ≥ 3 cm CAP ≥ 31cm CAS ≥ 9 cm DAP ≥ 5 cm PAP ≥ 15 cm DAS ≥ 5cm Referências 4,1 0 2,8 4 2,9 9 3,8 4 4,3 0 4,3 4 3,0 7 3,8 9 0,1 4 0,1 2 0,3 0 0,3 1 0,3 5 0,1 7 0,1 5 3,4 1 0,1 DAP ≥ 4 3,18 cm Battilani et al. (2005) -- Presente estudo Guarino & Walter (2005) Guarino & Walter (2005) Felfili (1994) Oliveira-Filho (1989) Pinto & Hay (2005) Ivanauskas et al. (2004) van den Berg & OliveiraFilho (2000) 42 Tabela 1.6. Número de espécies, indivíduos e valores de área basal (m2 ha-1) por grupo ecológico das espécies nas três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba nos períodos de 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Grupos Ecológicos Alto 1999 Pioneiras 14 Nº de espécies 85 Nº de indivíduos 1,41 Área Basal Clímax exigentes de Luz 37 Nº de espécies 197 Nº de indivíduos 3,97 Área Basal Clímax tolerantes à Sombra 23 Nº de espécies 175 Nº de indivíduos 3,82 Área Basal Meio Baixo Total 2006 1999 2006 1999 2006 1999 2006 14 142 1,79 20 77 1,57 21 74 1,66 12 235 2,78 15 184 2,77 46 397 5,76 50 400 6,22 39 195 4,45 44 200 4,5 44 190 4,8 43 271 7,02 41 262 8,36 124 668 15,49 124 647 17,61 24 166 4,17 22 166 4,1 23 142 3,93 21 85 0,8 15 61 0,84 66 426 8,72 62 369 8,94 A maior ocorrência de espécies clímax exigentes de luz nas porções do alto e meio pode ser explicada devido à maior declividade do terreno (até 42%), pois a mata em alguns trechos não apresenta um dossel contínuo, propiciando a incidência de luz e favorecendo a regeneração de espécies nos estratos inferiores (Paula et al. 2004). Na porção do baixo, o relevo plano associado a períodos de inundação com afloramento do lençol freático pode ser limitante a determinadas espécies (Marimon et al. 2003). Nas matas de galeria podemos encontrar grupos de espécies tolerantes e intolerantes à inundação prolongada, formando grupos funcionais de espécies relacionados à resposta a inundação (Schiavini et al. 2001). Por outro lado, mesmo os grupos ecológicos tendo apresentado redução no número de espécies e de indivíduos entre 1999 e 2006, observou-se um aumento na área basal em todos os estágios sucessionais nas três porções da mata, demonstrando que seus indivíduos estão conseguindo se estabelecer na comunidade. Schiavini et al. (2001) observaram que as comunidades de florestas tropicais não se constituem de um estágio de equilíbrio único, mas sim de um mosaico de estágios, com arranjos de espécies e indivíduos em diferentes fases de regeneração e sujeitas a perturbações mais ou menos recorrentes. A riqueza florística da mata de galeria do Córrego Bacaba pode ser considerada alta nos dois levantamentos, com um aumento de espécies em 2006, isso porque cada porção apresenta uma estrutura diferente contribuindo para sua diversidade de acordo com cada ambiente. O surgimento de novos taxa se limitou às espécies com poucos indivíduos e superou a perda. Este fato confirma que a mata apresenta uma tendência a um equilíbrio 43 dinâmico em relação a sua recomposição. A porção do baixo, que apresenta relevo plano e variação sazonal do lençol freático foi a única que perdeu mais espécies do que ganhou, sugerindo que ali ocorrem preferencialmente espécies adaptadas a tais condições ambientais. No entanto, o desaparecimento de espécies também foi elevado na porção do meio, provavelmente refletindo distúrbios causados pela queimada que ocorreu na área em 2001. Tanto na porção do meio quanto na do baixo o surgimento de espécies secundárias, típicas de áreas em recuperação após distúrbio confirma o caráter dinâmico desta mata. Quanto à diversidade e composição de espécies, as porções da mata de galeria do Córrego Bacaba diferem entre si confirmando que as matas de galeria do bioma Cerrado apresentam grande heterogeneidade florística e ambiental, mesmo em áreas geograficamente próximas. As mudanças na diversidade e composição de espécies foram em geral pequenas entre os dois períodos de amostragem (1999-2006), indicando que, mesmo decorridos sete anos, a composição florística da mata de galeria do Córrego Bacaba não apresenta grandes variações. O predomínio de espécies clímax exigentes de luz indica que a mata se encontra em estágio intermediário de sucessão. 44 1.4 Referências bibliográficas Almeida, S.S.; Amaral, D.D. & Silva, A.S. 2004. Análise florística e estrutura de florestas de várzea no estuário amazônico. 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Esta fitofisionomia tropical está entre as que despertam maior interesse em estudos ecológicos, pois apresenta inúmeras características particulares, tanto em aspectos bióticos como em relação ao ambiente físico (Pinto & Oliveira-Filho 1999). Fatores físicos locais como variações edáficas e topografia influenciam na sua vegetação, além dos processos de perturbações naturais e antrópicas freqüentes nessas comunidades (Battilani et al. 2005) que causam alterações em sua composição florística e na estrutura da vegetação, como o fogo e as enchentes sazonais (Felfili 1995; Moreira 2000; Rodrigues 2000). Comunidades e populações de espécies lenhosas de florestas tropicais podem apresentar mudanças temporais de densidade e área basal, sugerindo que a estrutura é dinâmica (Felfili 1994; 1995). Em uma floresta de vale na Chapada dos Guimarães-MT, Pinto & Hay (2005) registraram taxas de mudança positivas para árvores e arvoretas em diferentes habitats. Em um estudo de 25 florestas neo e paleotropicais, Phillips & Gentry (1994) registraram que a riqueza pode ser explicada pela dinâmica da comunidade, apesar de Pinto (2002) sugerir que em muitos casos esta hipótese não seria apropriada para explicar a riqueza dentro de uma determinada área (diversidade alfa). Os levantamentos florísticos permitem realizar comparações simples e eficientes entre um grande número de áreas. Entretanto, somente os levantamentos fitossociológicos podem fornecer informações sobre semelhanças e diferenças na estrutura da vegetação entre áreas aparentemente similares floristicamente, podendo ser melhor abordadas através de dados quantitativos, pois as diferenças estruturais podem ser mais marcantes que as diferenças florísticas (van den Berg & Oliveira-Filho 2000). Existem diversos trabalhos fitossociológicos realizados em diferentes intervalos de tempo, no entanto a maioria desses levantamentos 51 discute resultados baseados em apenas uma única observação (Oliveira-Filho 1989; OliveiraFilho et al. 1990; Felfili 1994; Salis et al. 1994; Marimon et al. 2002; Battilani et al. 2005), não analisando as mudanças florísticas e estruturais das comunidades ao longo do tempo (Werneck et al. 2000; Pinto & Hay 2005; Oliveira & Felfili 2005). O objetivo deste estudo foi analisar e descrever as mudanças que ocorreram na estrutura da vegetação lenhosa da mata de galeria do Córrego Bacaba, localizada no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina-MT, em um período de sete anos (1999 a 2006). 2.2 Material e métodos Área de estudo - O trabalho foi realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba (14º 41’ 25’’S e 52º 20’ 55’’W), no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina, Mato Grosso. A água do Córrego Bacaba abastece um bairro residencial do município (Olaria), sem tratamento prévio. A altitude média da área de estudo é de 346 m, o clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, com precipitação anual de 1.300 a 1.500 mm e temperatura média mensal de 25ºC (Marimon et al. 2003). A porção do alto apresenta uma declividade média de 42%, com presença de afloramentos rochosos de quartzito e ocorrência de enchentes sazonais com drenagem rápida. O meio apresenta declividade de aproximadamente 32%, com afloramentos rochosos e em locais com menor declividade o lençol freático aflora no período chuvoso e o baixo, com reduzida declividade (cerca de 5%), não apresenta afloramentos rochosos e a drenagem do solo deficiente (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). Em julho de 2001 foi registrada uma queimada no Parque que também atingiu parte da mata de galeria estudada. O fogo originouse de uma fazenda adjacente, cujo proprietário utiliza a prática de queimadas para renovar o pasto, no período da seca (maio-setembro). Amostragem da vegetação - No ano de 1999 foram estabelecidas 141 parcelas fixas (Philip 1994) permanentes de 10x10m visando uma caracterização fitossociológica e estrutural da vegetação (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). As parcelas foram posicionadas contínua e sistematicamente atravessando perpendicularmente o córrego e cobrindo toda a área ocupada pela mata até seu encontro com o cerrado stricto sensu. Foram demarcadas 47 parcelas perpendiculares ao córrego em cada porção (alto, meio e baixo). Em 1999 todas as árvores, arvoretas, palmeiras, lianas ou indivíduos mortos em pé com CAP (circunferência à altura do peito) ³ 15cm foram identificados e medidos (Marimon 52 et al. 2002). No ano de 2006 (presente estudo), todos os indivíduos amostrados no primeiro inventário foram remedidos juntamente com aqueles que atingiram a circunferência mínima de inclusão (recrutas). Cada novo indivíduo amostrado foi marcado com uma plaqueta de alumínio numerada, permitindo sua posterior localização dentro das parcelas. Coleta e identificação das espécies - Para cada espécie amostrada foi coletado, no mínimo, um número de herbário (Voucher) para comprovar sua identificação. Por um período mínimo de um ano (Dez/2006 a Dez/2007) foram realizadas visitas quinzenais às parcelas onde foram coletadas todas as espécies encontradas com material reprodutivo. Foram coletadas no mínimo quatro duplicatas para compor a coleção do Herbário NX e permitir o envio a especialistas. Considerando que no primeiro inventário foi utilizado o sistema de classificação de Cronquist (1988), optou-se por adotar o mesmo sistema no presente estudo, permitindo posterior comparação de dados. Os nomes das espécies foram conferidos em MOBOT (2007). Parâmetros fitossociológicos – Para a descrição da estrutura da vegetação (espécies e famílias) de cada porção da mata de galeria do Córrego Bacaba, foram utilizados os parâmetros: densidade, freqüência e dominância absolutas e relativas e o índice de valor de importância (IVI), conforme Curtis & McIntosh (1950; 1951) e Müeller-Dombois & Ellenberg (1974). Os resultados do inventário realizado em 2006 foram comparados com os parâmetros determinados no inventário de 1999. Para as análises foi utilizado o programa FITOPAC 1.0 (Shepherd 1994). 2.3 Resultados e discussão No levantamento fitossociológico, considerando-se as três porções de mata (alto, meio e baixo), foram amostrados 3.012 indivíduos/ha entre árvores, arbustos e lianas, pertencentes a 135 espécies, 113 gêneros e 49 famílias botânicas. Nas Tabelas 2.1, 2.2 e 2.3 estão listadas as espécies das três porções estudadas na mata de galeria do Córrego Bacaba e seus respectivos parâmetros fitossociológicos. Em relação ao levantamento de 1999, houve um pequeno aumento, sendo que naquela ocasião foram registradas 129 espécies, 105 gêneros e 47 famílias (Marimon et al. 2002). Em 2006, a família Arecaceae apesar de apresentar apenas duas espécies no alto e quatro no baixo apresentou o maior IVI (índice de valor de importância) em ambas as porções (Fig. 2.1). No meio, Caesalpiniaceae apresentou o maior IVI, principalmente em função da 53 elevada dominância. Burseraceae, que apresentou três espécies, também se destacou no alto (3º IVI) e no meio (2º) (Fig. 2.1). No estudo realizado em 1999, nas três porções de mata, as mesmas famílias se apresentaram entre as mais importantes, com pequenas mudanças na ordem hierárquica. Entretanto, Cecropiaceae na porção do baixo, que em 1999 ocupava a segunda posição de IVI (60 indivíduos), em 2006 caiu para a 11ª (17 ind.). As famílias Annonaceae, Apocynaceae, Burseraceae, Caesalpiniaceae e Fabaceae, que foram classificadas entre as 10 de maior IVI nas três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba, foram consideradas por Silva-Júnior et al. (2001) como as mais freqüentes e abundantes em matas de galeria do Brasil Central. Em 2006, Burseraceae, encontrada entre as mais importantes nas três porções da mata do Bacaba, indica vínculo florístico com a Floresta Amazônica, além de Annonaceae, Caesalpiniaceae, Mimosaceae e Fabaceae, que também são importantes na Floresta Atlântica (Pinto & Oliveira-Filho 1999), reforçando a teoria de que as matas de galeria do Brasil Central apresentam ligações florísticas com as matas dos referidos biomas (Felfili 1994; Oliveira-Filho & Ratter 1995; Silva-Júnior et al. 1998; Oliveira-Filho & Ratter 2000). Na porção do baixo, a mudança expressiva da família Cecropiaceae, que passou da 2ª para a 11ª posição em 2006 [representada por Cecropia pachystachya, uma espécie pioneira (Felfili 1995)], pode indicar que esta porção de mata se encontra em um processo de auto-desbaste, tal como registrado por Oliveira-Filho et al. (1997), em uma floresta tropical semi-decidual. Hallé et al. (1978) observaram que quando isto ocorre a comunidade (ou população) estaria na fase de “construção” do ciclo silvigenético. No alto, 22 espécies apresentaram apenas um indivíduo, sendo consideradas raras, correspondendo a 28,6% do número total das espécies e 5,1% do IVI. No meio, foram 26 espécies com apenas um indivíduo, 29,5% do total das espécies e 6,8% do IVI e no baixo, foram registradas 20 espécies raras, somando 28,1% do total das espécies e 3,8% do IVI. Valores semelhantes (25,7 a 27,9% do total de espécies e de 4,4 a 6,3% do IVI) também foram encontrados em outros estudos em matas de galeria (Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto & Hay 2005; Battilani et al. 2005). Pinto & Hay (2005) registraram que este é um resultado esperado em florestas tropicais, sendo que cerca de 1/4 a um 1/3 das espécies são amostradas com baixa densidade. C ce ae ea e ce ni ac ae ae ac e se ra al pi Bu r ae s Fa b rb ia C se ra ub i Fa b ac e e ae ac ea ae ae ae ce ac e Ve rb en R ni a ae ce ae ce na ac e im os a Bi gn o M Ap oc y An no n ea e ae ea e ce ni ac Sa po ta c Bu r ae sa lp i Ìndice de Valor de Importância 40 ae 70 ac e e Índice de Valor de Importância C al pi al a no n Fa b An ac ea e ae ce ae ae ac e rb ia ae ce ae ia ce na lu s Eu ph o C ae ce ae na ce Ap oc y ob Eb en a ae ea e ce ni ac ca ce Bu rs er a ae s hr ys C Ar e Índice de Valor de Importância 35 Eu ph o An no n ae ae ea ac e ac e ia c tic rd is An ac a M yr th r ae ce ae ca ce oc yn a Ly Ap Ar e 54 40 ALTO DoR 30 FR 25 DR 20 15 10 5 0 Famílias 50 45 35 MEIO 30 25 20 15 10 5 0 Famílias 90 80 60 BAIXO 50 40 30 20 10 0 Famílias Figura 2.1. Dominância Relativa (DoR), Freqüência Relativa (FR) e Densidade Relativa (DR), das 10 principais famílias (maior Índice de Valor de Importância) das porções do alto, meio e baixo da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. 55 . Em 1999, na porção do alto, as espécies raras foram representadas por 20,3% do número total de espécies e 4,3% do IVI total, na porção do meio foram 21% do total de espécies e 4,2% do IVI, e na porção do baixo 26% e 3,3%, respectivamente. Em 2006, houve um aumento proporcional de espécies raras nas três porções da mata. Entretanto, em ambos os levantamentos (1999 e 2006) o percentual de espécies raras esteve dentro dos valores indicados por Battilani et al. (2005) e Silva-Júnior et al. (2001). O elevado número de espécies com baixa densidade também contribui para uma alta riqueza, diante disso, Battilani et al. (2005) consideram comum em estudos fitossociológicos a ocorrência de um número elevado de espécies representadas por apenas um ou poucos indivíduos. Em um trabalho realizado por Silva-Júnior et al. (2001), no qual os autores analisaram 21 levantamentos realizados em matas de galeria no Distrito Federal, cerca de 71% das espécies listadas foram consideradas raras, ocorrendo entre uma e seis localidades das matas estudadas. Felfili et al. (2001a) afirmam que em ambientes ripários do Brasil Central, cerca de 1/5 das espécies apresentam metade do número total de indivíduos de uma área amostrada. Em 2006, nas três porções do Córrego Bacaba, 20% das espécies concentraram mais de 50% do total de indivíduos, sendo 59% para o alto, 51,5% para o meio e 64,7% para o baixo, valores próximos aos registrados por Pinto & Hay (2005) em uma floresta de vale na Chapada dos Guimarães-MT (56 a 58%). Em 1999, na mata do Bacaba, 52% dos indivíduos no alto, 49,5% no meio e 72% no baixo, estavam concentrados em apenas 20% das espécies (Marimon et al. 2002). Isto confirma que o padrão de concentrar a maior parte dos indivíduos em poucas espécies (Felfili et al. 2001a) tende a se manter com o passar dos anos em matas de galeria da região central do Brasil (Pinto & Hay 2005). Parâmetros fitossociológicos do alto - A densidade absoluta registrada na porção do alto, em 2006, foi de 1.070 indivíduos ha-1 com uma área basal de 22,18 m2 ha-1. Entre as espécies mais importantes em IVI estão Astrocaryum vulgare, Diospyros obovata, Calophyllum brasiliense, Mabea pohliana, Protium heptaphyllum, Licania blackii, Oenocarpus distichus, Apuleia leiocarpa, Tetragastris altissima e Hymenaea courbaril, que juntas representam 43,2% do IVI total, 68,4% do número de indivíduos amostrados e 45,7% da área basal total (Tab. 2.1). O componente mais importante para Astrocaryum vulgare, a espécie de maior IVI, foi a densidade absoluta que junto com Diospyros obovata também apresentou os maiores valores de freqüência absoluta (Tab. 2.1). Calophyllum brasiliense, com apenas 13 56 indivíduos, se destacou com a maior dominância absoluta e Mabea pohliana, apesar de apresentar menor dominância que C. brasiliense apresentou maiores densidade e freqüência (Tab. 2.1). A posição hierárquica das espécies em 2006 apresentou mudanças em relação a 1999, onde as espécies de maior importância foram Diospyros obovata (IVI= 22,93), Calophyllum brasiliense (12,44) Tetragastris altissima (12,42), Protium heptaphyllum (11,71), Astrocaryum vulgare (10,90), Apuleia leiocarpa (10,75), Mabea pohliana (10,04), Physocalymma scaberrimum (9,34), Licania blackii (9,06) e Hymenaea courbaril (8,74). Comparando com o inventário de 1999 (Marimon et al. 2002), as espécies mais importantes que não mudaram de posição hierárquica ou alteraram apenas uma posição em 2006 foram H. courbaril (1999= 10ª posição e 2006= 10ª), D. obovata (1ª e 2ª), C. brasiliense (2ª e 3ª) e P. heptaphyllum (4ª e 5ª) e as espécies que mudaram duas ou três posições hierárquicas entre os dois períodos estudados foram A. leiocarpa (6ª e 8ª), M. pohliana (7ª e 4ª) e L. blackii (9ª e 6ª). Tabela 2.1. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm amostradas na porção do alto no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo: DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%). Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1). Densidade Dominância Frequência Espécies IVI DA DR DoA DoR FA FR Astrocaryum vulgare 174,5 16,30 0,972 4,38 34,40 4,80 25,49 Diospyros obovata 95,7 8,95 1,631 7,36 40,43 5,71 22,01 Calophyllum brasiliense 24,7 2,58 1,795 8,09 17,02 2,40 13,08 Mabea pohliana 46,8 4,37 0,559 2,52 31,91 4,50 11,4 Protium heptaphyllum 38,3 3,58 0,707 3,19 29,79 4,20 10,97 Licania blackii 34,0 3,18 0,768 3,46 23,40 3,30 9,95 Oenocarpus distichus 31,9 2,98 0,663 2,99 25,53 3,60 9,58 Apuleia leiocarpa 19,1 1,79 1,232 5,56 14,89 2,10 9,45 Tetragastris altissima 31,9 2,98 0,450 2,03 29,79 4,20 9,22 Hymenaea courbaril 10,6 0,99 0,355 6,11 10,64 1,50 8,61 Tapirira guianensis 14,9 1,39 1,070 4,83 12,77 1,80 8,02 Licania apetala 29,8 2,78 0,472 2,13 21,28 3,00 7,92 Physocalymma scaberrimum 19,1 1,79 0,756 3,41 19,15 2,70 7,90 Himatanthus bracteatus 29,8 2,78 0,423 1,91 19,15 2,70 7,40 Aspidosperma subincanum 27,7 2,58 0,437 1,97 19,15 2,70 7,26 Protium spruceanum 12,8 1,19 0,841 3,79 10,64 1,50 6,49 Ephedranthus parviflorus 27,7 2,58 0,315 1,42 14,89 2,10 6,11 Inga thibaudiana 21,3 1,99 0,386 1,74 12,77 1,80 5,53 57 Luehea candicans Ormosia coarctata Vitex polygama Pseudolmedia laevigata Sclerolobium paniculatum Andira vermifuga Myrcia sellowiana Licania gardneri Astronium fraxinifolium Odontadenia spoliata Pouteria gardneri Xylopia emarginata Inga heterophylla Siparuna guianensis Bauhinia outimouta Salacia elliptica Aiouea saligna Micropholis venulosa Hirtella gracilipes Schefflera morototoni Hirtella glandulosa Dioclea glabra Myrcia tomentosa Duguetia marcgraviana Diospyros sericea Callisthene fasciculata Xylopia aromatica Cecropia pachystachya Copaifera langsdorffii Himatanthus obovata Ilex affinis Moutabea excoriata Tetrapterys glabra Byrsonima laxiflora Tabebuia impetiginosa Ouratea castaneifolia Magonia pubescens Dendropanax cuneatus Emmotum nitens Mimosa laticifera Hieronyma alchorneoides Curatella americana Sterculia speciosa Cordia sellowiana 17,0 21,3 10,6 19,1 12,8 6,4 14,9 12,8 12,8 14,9 12,8 12,8 6,4 10,6 8,5 10,6 8,5 6,4 10,6 6,4 6,4 6,4 6,4 8,5 6,4 2,1 6,4 6,4 4,3 4,3 6,4 4,3 6,4 2,1 2,1 4,3 4,3 4,3 2,1 4,3 2,1 2,1 2,1 2,1 1,59 1,99 0,99 1,79 1,19 0,60 1,39 1,19 1,19 1,39 1,19 1,19 0,60 0,99 0,80 0,99 0,80 0,60 0,99 0,60 0,60 0,60 0,60 0,80 0,60 0,20 0,60 0,60 0,40 0,40 0,60 0,40 0,60 0,20 0,20 0,40 0,40 0,36 0,20 0,40 0,20 0,20 0,20 0,20 0,267 0,310 0,584 0,260 0,457 0,767 0,270 0,286 0,210 0,131 0,120 0,082 0,337 0,038 0,137 0,078 0,183 0,197 0,092 0,126 0,088 0,088 0,086 0,053 0,091 0,237 0,076 0,072 0,093 0,079 0,030 0,071 0,021 0,175 0,175 0,063 0,045 0,041 0,150 0,032 0,134 0,113 0,102 0,077 1,21 1,40 2,64 1,17 2,06 3,46 1,22 1,29 0,95 0,59 0,54 0,37 1,52 0,17 0,62 0,35 0,82 0,89 0,42 0,57 0,40 0,40 0,39 0,24 0,41 1,07 0,34 0,33 0,42 0,36 0,14 0,32 0,60 0,20 0,20 0,40 0,40 0,40 0,20 0,40 0,20 0,20 0,20 0,20 17,02 12,77 10,64 14,89 12,77 6,38 12,77 12,77 10,64 10,64 10,64 8,51 4,26 10,64 8,51 8,51 6,38 6,38 6,38 6,38 6,38 6,38 6,38 4,26 4,26 2,13 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 2,13 2,13 4,26 4,26 4,26 2,13 4,26 2,13 2,13 2,13 2,13 2,40 1,80 1,50 2,10 1,80 0,90 1,80 1,80 1,50 1,50 1,50 1,20 0,60 1,50 1,20 1,20 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,60 0,60 0,30 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,30 0,30 0,60 0,60 0,60 0,30 0,60 0,34 0,34 0,31 0,30 5,20 5,19 5,13 5,07 5,06 4,96 4,41 4,29 3,64 3,49 3,24 2,77 2,72 2,67 2,62 2,55 2,52 2,39 2,31 2,07 1,90 1,90 1,89 1,63 1,61 1,57 1,54 1,52 1,42 1,36 1,34 1,32 1,29 1,29 1,29 1,28 1,20 1,18 1,18 1,15 1,10 1,01 0,96 0,85 58 Coussarea platyphylla Virola urbaniana Myrcia amazonica Psychotria carthagenensis Casearia arborea Amaioua guianensis Alibertia elliptica Matayba guianensis Dimorphandra mollis Marcgravia sp. Sorocea guilleminiana Cheiloclinium cognatum Banisteriopsis sp. Ficus cf. enormis Posoqueria aff. macropus Total 4,3 0,40 0,031 0,20 2,13 0,30 0,84 2,1 0,20 0,067 0,20 2,13 0,30 0,80 2,1 0,20 0,012 0,20 2,13 0,30 0,56 2,1 0,20 0,010 0,20 2,13 0,30 0,55 2,1 0,20 0,009 0,20 2,13 0,30 0,54 2,1 0,20 0,008 0,20 2,13 0,30 0,54 2,1 0,20 0,008 0,20 2,13 0,30 0,54 2,1 0,20 0,008 0,20 2,13 0,30 0,54 2,1 0,20 0,007 0,20 2,13 0,30 0,53 2,1 0,20 0,006 0,20 2,13 0,30 0,53 2,1 0,20 0,005 0,10 2,13 0,30 0,53 2,1 0,20 0,005 0,10 2,13 0,30 0,52 2,1 0,20 0,004 0,10 2,13 0,30 0,51 2,1 0,20 0,003 0,10 2,13 0,30 0,50 2,1 0,20 0,003 0,03 2,13 0,30 0,50 1.067, 1 100,00 21,142 100,00 708,99 100,00 300,00 Intervalo de Confiança (P= 0,95): Densidade= [1061-1072]; Dominância= [21,06-21,22] Merece destaque a posição ocupada por Astrocaryum vulgare que foi a 5ª espécie de maior IVI em 1999 e a 1ª em 2006, Tetragastris altissima que passou da 3ª para a 9ª posição e Physocalymma scaberrimum que em 1999 ocupava a 8ª posição e em 2006 não figurou entre as 10 espécies mais importantes. Alguns autores afirmam que as espécies mais abundantes recrutam um maior número de indivíduos que as espécies raras, pois as primeiras seriam mais eficientes para explorar os recursos disponíveis e mesmo que apresentem elevada mortalidade, também costumam apresentar maior taxa de recrutamento mantendo assim sua posição entre as mais importantes (Felfili 1994; 1995; Pinto & Hay 2005). Além disso, Felfili et al. (2000) observaram que, em geral, as espécies que ocorrem com reduzida densidade tendem a desaparecer mais facilmente do que as de maior densidade. Oenocarpus distichus, espécie clímax exigente de luz (vide Cap. 1), que no inventário de 1999 ocupava a 11ª posição em IVI (28 indivíduos ha-1 e 0,56 m2 ha-1) (Marimon et al. 2002), em 2006 passou a ocupar a 7ª posição (32 ind. ha-1 e 0,66 m2 ha-1), possivelmente influenciada pelos distúrbios que ocorreram na área em 2001 (fogo) e que promoveram a abertura de clareiras que podem ter beneficiado o crescimento e estabelecimento desta espécie. Tetragastris altissima, por ser uma espécie clímax tolerante à sombra (Cap. 1) pode ter sofrido um efeito contrário com a abertura da área (clareiras) e maior incidência de luz nas parcelas, visto que em 2006 sofreu uma redução de 13 indivíduos em relação a 1999. O 59 mesmo pode ter acontecido com Physocalymma scaberrimum, que reduziu a dominância absoluta de 0,81 m2 ha-1 em 1999 para 0,75 em 2006. Os distúrbios ocasionados pelo fogo que atingiu a mata do Bacaba em 2001 podem ter causado mudanças na estrutura da vegetação favorecendo o desenvolvimento de espécies clímax exigentes de luz, capazes de suportar maior luminosidade (Paula et al. 2004). De acordo com Ribeiro & Schiavini (1998) e Felfili et al. (2001b), queimadas de baixa intensidade costumam causar pouco impacto nas bordas das matas de galeria. Entretanto, a intensidade do fogo pode variar de acordo com a umidade, quantidade de serapilheira e estado de conservação da mata. Em períodos de secas prolongadas ou em matas de galeria degradadas os incêndios podem causar danos maiores e se propagar no interior da mata, tal como foi observado em alguns pontos da mata estudada. Queimadas ocasionais nas bordas das matas de galeria acentuam sua heterogeneidade, gerando mosaicos de vegetação em diferentes estágios sucessionais, permitindo a coexistência de muitas espécies arbóreas (Felfili et al. 2001a). Entretanto, as queimadas promovem a abertura de clareiras, que são invadidas por gramíneas, samambaias, lianas, bambus e outras espécies colonizadoras, alterando e transformando a estrutura da mata (Klink et al. 2002). Considerando-se todas as 77 espécies amostradas no alto em 2006, 14 mantiveram as mesmas posições hierárquicas de IVI nos dois períodos de estudo (1999 e 2006), 10 mudaram apenas uma posição, 20 mudaram duas ou três posições e 33 mudaram cinco ou mais posições hierárquicas entre os dois períodos estudados. Algumas espécies apresentaram mudanças superiores a 10 posições hierárquicas, dentre as quais destacam-se Sclerolobium paniculatum (36ª em 1999 e 23ª em 2006), Bauhinia outimouta (18ª e 33ª) Hirtella glandulosa (52ª e 39ª) e Ilex affinis (68ª e 49ª), reforçando o caráter dinâmico de algumas populações. Entre as espécies de maior IVI em 2006 e que apresentaram as maiores mudanças hierárquicas em relação ao levantamento de 1999, destacam-se Astrocaryum vulgare (5ª para 1ª posição) e Tetragastris altissima (3ª para 9ª). A. vulgare é uma espécie geralmente relacionada à perturbação humana (Marimon et al. 2002), perenifólia, heliófita, seletiva xerófila e característica da mata pluvial amazônica de terra firme. Ocorre em agrupamentos mais ou menos homogêneos, tanto em formações primárias como secundárias, regenera-se em grande intensidade após as derrubadas e produz anualmente grande quantidade de sementes (Lorenzi 2002). O registro desta espécie como a de maior importância no levantamento de 2006 confirma os efeitos negativos que podem ter sido causados pela queimada em 2001 nesta porção de mata. 60 As espécies Calophyllum brasiliense (2ª para 3ª posição) e Diospyros obovata (1ª para 2ª), apresentaram pequenas alterações hierárquicas entre 1999 e 2006. C. brasiliense é uma espécie que apresenta capacidade de germinação mesmo após vários meses de submersão de suas sementes (Marques & Joly 2000) e apresenta um ciclo constante na produção de frutos (Schiavini et al. 2001). Apesar desta espécie ser classificada como clímax tolerante à sombra (Cap. 1), Marques & Joly (2000) concluíram que a falta ou excesso de radiação não são fatores condicionantes a sua mortalidade, recrutamento ou densidade. Na mata estudada estas espécies costumam estar localizadas na borda do córrego, em parcelas com solo mais úmido (Marimon et al. 2003), provavelmente tendo sido menos afetadas pela queimada de 2001. Em 2006 as espécies mortas em pé representaram 5,4% da densidade total e 4,7% da área basal. No inventário efetuado em 1999 as espécies mortas apresentaram 4,8% da densidade total e 4,1% da área basal (Marimon et al. 2002), confirmando que houve um aumento das espécies mortas entre os dois períodos, provavelmente causado pela queimada que atingiu a mata em 2001. Parâmetros fitossociológicos do meio - A densidade absoluta registrada na porção do meio em 2006 foi de 864 indivíduos ha-1 com uma área basal de 22,12 m2 ha-1. Aspidosperma subincanum, Tetragastris altissima, Hymenaea courbaril, Apuleia leiocarpa, Pouteria torta, Ephedranthus parviflorus, Vitex polygama, Protium heptaphyllum, Luehea candicans e Pouteria gardneri foram as espécies mais importantes, que juntas somaram 39% do IVI total, 36% do número de indivíduos amostrados e 49% da área basal total. A. subincanum apresentou a maior densidade e freqüência absolutas e H. courbaril apresentou a maior dominância absoluta dentre todas as espécies amostradas nesta porção da mata. Tabela 2.2. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm amostradas na porção do meio no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo que DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%).Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1). Densidade Dominância Frequência Espécies IVI DA DR DoA DoR FA FR Aspidosperma subincanum 57,4 6,65 0,737 3,33 31,91 4,66 14,64 Tetragastris altissima 44,7 5,17 0,962 4,35 31,91 4,66 14,18 Hymenaea courbaril 17,0 1,97 2,151 9,72 12,77 1,86 13,56 Apuleia leiocarpa 21,3 2,46 1,736 7,85 21,28 3,11 13,42 Pouteria torta 12,8 1,48 2,119 9,58 12,77 1,86 12,92 Ephedranthus parviflorus 46,8 5,42 0,410 1,86 27,66 4,04 11,31 61 Vitex polygama Protium heptaphyllum Luehea candicans Pouteria gardneri Sclerolobium paniculatum Platypodium elegans Bauhinia outimouta Protium spruceanum Mabea pohliana Unonopsis lindmanii Anadenanthera colubrina Calophyllum brasiliense Copaifera langsdorffii Coussarea platyphylla Alibertia elliptica Astronium fraxinifolium Tabebuia impetiginosa Cuspidaria sp. Sterculia striata Licania blackii Inga thibaudiana Physocalymma scaberrimum Aiouea saligna Bauhinia longifolia Combretum vernicosum Xylopia aromatica Oenocarpus distichus Pseudolmedia laevigata Virola urbaniana Diospyros obovata Ficus cf. enormis Mimosa laticifera Dilodendron bipinnatum Sterculia speciosa Ficus sp.l Astrocaryum vulgare Eugenia aurata Micropholis venulosa Dioclea virgata Casearia sylvestris Myrcia sellowiana Hirtella glandulosa Cecropia pachystachya Licania apetala 8,50 42,6 31,9 27,7 19,1 21,3 21,3 14,9 21,3 23,4 12,8 4,3 4,3 23,4 19,1 14,9 6,4 17,0 6,4 12,8 12,8 12,8 14,9 12,8 12,8 12,8 10,6 12,8 8,5 8,5 8,5 8,5 6,4 6,4 2,1 8,5 6,4 2,1 6,4 6,4 4,3 4,3 4,3 6,4 0,99 4,93 3,69 3,2 2,22 2,46 2,46 1,72 2,46 2,71 1,48 0,49 0,49 2,71 2,22 1,72 0,74 1,97 0,74 1,48 1,48 1,48 1,72 1,48 1,48 1,48 1,23 1,48 0,99 0,99 0,99 0,99 0,74 0,74 0,25 0,99 0,74 0,25 0,74 0,74 0,49 0,49 0,49 0,74 1,779 0,335 0,222 0,462 0,561 0,263 0,183 0,544 0,167 0,238 0,508 0,964 0,962 0,192 0,149 0,295 0,787 0,139 0,655 0,340 0,404 0,224 0,097 0,123 0,122 0,106 0,289 0,114 0,165 0,110 0,415 0,047 0,054 0,058 0,299 0,058 0,025 0,270 0,016 0,074 0,128 0,110 0,106 0,052 8,04 1,51 1,00 2,09 2,54 1,19 0,83 2,46 0,76 1,08 2,30 4,36 4,35 0,87 0,67 1,34 3,56 0,63 2,96 1,54 1,83 1,02 0,44 0,56 0,56 0,48 1,31 0,52 0,75 0,50 0,19 0,22 0,30 0,26 1,35 0,26 0,11 1,22 0,08 0,34 0,58 0,50 0,48 0,24 8,51 25,53 23,40 19,15 14,89 17,02 17,02 10,64 17,02 12,77 12,77 4,26 4,26 12,77 17,02 14,89 6,38 14,89 6,38 10,64 8,51 12,77 12,77 12,77 12,77 12,77 8,51 8,51 6,38 6,38 8,51 6,38 6,38 6,38 2,13 4,26 6,38 2,13 6,38 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 1,24 3,73 3,42 2,80 2,17 2,48 2,48 1,55 2,48 1,86 1,86 0,62 0,62 1,86 2,48 2,17 0,96 2,17 0,93 1,55 1,24 1,86 1,86 1,86 1,86 1,86 1,24 1,24 0,93 0,93 1,24 0,93 0,93 0,93 0,31 0,62 0,93 0,31 0,93 0,62 0,62 0,62 0,62 0,62 10,27 10,17 8,11 8,09 6,93 6,14 5,78 5,74 5,70 5,65 5,64 5,47 5,46 5,44 5,37 5,23 5,23 4,78 4,63 4,57 4,55 4,36 4,03 3,90 3,90 3,82 3,78 3,24 2,67 2,42 2,41 2,13 1,97 1,93 1,91 1,87 1,79 1,78 1,75 1,70 1,70 1,61 1,60 1,60 62 Odontadenia spoliata Emmotum nitens Himatanthus bracteatus Magonia pubescens Cheiloclinium cognatum Ouratea castaneifolia Dipteryx alata Arrabidaea brachypoda Guazuma ulmifolia Duguetia marcgraviana Peltogyne confertiflora Siparuna Guianensis Jacaranda cuspidifolia Tapirira guianensis Maytenus cf. floribunda Inga heterophylla Kielmeyera rubriflora Myrcia tomentosa Aspidosperma macrocarpon Cordia glabrata Byrsonima laxiflora Bowdichia virgilioides Himatanthus obovata Campomanesia eugenioides Xylopia emarginata Vochysia haenkeana Guettarda viburnoides Plathymenia reticulata Serjania glutinosa Strychnos sp. Guapira graciliflora Schefflera morototoni Eriotheca gracilipes Ormosia coarctata Secondatia densiflora Myrcia amazonica Salacia elliptica Trichilia pallida Total 6,4 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 2,1 2,1 4,3 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 864,2 0,74 0,49 0,49 0,49 0,49 0,49 0,49 0,49 0,49 0,49 0,49 0,49 0,25 0,25 0,49 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,21 0,20 100,00 0,013 0,056 0,047 0,041 0,040 0,034 0,101 0,031 0,026 0,020 0,011 0,010 0,127 0,091 0,029 0,076 0,056 0,055 0,050 0,025 0,022 0,022 0,014 0,013 0,012 0,011 0,011 0,011 0,010 0,009 0,007 0,007 0,007 0,005 0,005 0,004 0,004 0,004 22,443 0,06 4,26 0,62 1,42 0,26 4,26 0,62 1,37 0,21 4,26 0,62 1,33 0,19 4,26 0,62 1,30 0,18 4,26 0,62 1,30 0,16 4,26 0,62 1,27 0,46 2,13 0,31 1,26 0,14 4,26 0,62 1,26 0,12 4,26 0,62 1,23 0,09 4,26 0,62 1,21 0,05 4,26 0,62 1,16 0,05 4,26 0,62 1,16 0,58 2,13 0,34 1,13 0,41 2,13 0,34 0,97 0,13 2,13 0,33 0,94 0,35 2,13 0,31 0,90 0,25 2,13 0,31 0,81 0,25 2,13 0,31 0,81 0,23 2,13 0,31 0,78 0,12 2,13 0,31 0,67 0,10 2,13 0,31 0,66 0,10 2,13 0,31 0,66 0,06 2,13 0,31 0,62 0,06 2,13 0,31 0,62 0,06 2,13 0,31 0,61 0,05 2,13 0,31 0,61 0,05 2,13 0,31 0,61 0,05 2,13 0,31 0,61 0,05 2,13 0,31 0,61 0,04 2,13 0,31 0,60 0,04 2,13 0,31 0,59 0,03 2,13 0,31 0,59 0,03 2,13 0,31 0,59 0,03 2,13 0,31 0,58 0,03 2,13 0,31 0,58 0,02 2,13 0,31 0,58 0,02 2,13 0,31 0,58 0,02 2,13 0,31 0,57 100,00 685,25 100,00 300,00 Intervalo de Confiança (P= 0,95): Densidade= [862-866]; Dominância= [22,353-22,533] A posição hierárquica das espécies em 2006 também apresentou mudanças em relação a 1999, onde de acordo com Marimon et al. (2002) as espécies de maior importância foram 63 Hymenaea courbaril (15,31), Tetragastris altissima (12,92), Apuleia leiocarpa (12,34), Pouteria torta (11,83), Ephedranthus parviflorus (11,52), Aspidosperma subincanum (11,51), Vitex polygama (9,48), Luehea candicans (8,85), Protium heptaphyllum (8,85) e Pouteria gardneri (7,95). Comparando com o inventário de 1999 as espécies mais importantes que não mudaram de posição hierárquica ou alteraram apenas uma posição em 2006 foram T. altissima (2ª posição em 1999 e 2006, respectivamente), V. polygama (7ª e 7ª), P. gardneri (10ª e 10ª), A. leiocarpa (3ª e 4ª), P. torta (4ª e 5ª), E. parviflorus (5ª e 6ª), L. candicans (8ª e 9ª) e P. heptaphyllum (9ª e 8ª). Apenas H. courbaril passou da 1ª para a 3ª posição em 2006 e A. subincanum da 6ª para a 1ª. Considerando-se todas as 88 espécies amostradas no meio em 2006, sete mantiveram as mesmas posições hierárquicas de IVI nos dois períodos (1999 e 2006), 10 mudaram apenas uma posição, nove mudaram duas ou três posições e 62 mudaram cinco ou mais posições hierárquicas entre os dois períodos estudados. Tal como observado em algumas espécies na porção do alto, esta porção também apresentou espécies com mudanças hierárquicas marcantes. Cecropia pachystachya passou da 20ª posição em 1999 para a 49ª em 2006 e Bauhinia outimouta passou da 45ª posição em 1999 para a 10ª em 2006, Schefflera morototoni (51ª para 82ª), Siparuna guianensis (25ª para 62ª) e Emmotum nitens (62ª para 52ª) também apresentaram posições bem diferentes nos dois períodos. C. pachystachya é uma espécie pioneira, típica de áreas abertas, prefere matas secundárias, mas também pode ser encontrada em capoeiras novas situadas junto a vertentes ou cursos d’água e em terrenos com lençol freático superficial. Tal como já discutido anteriormente para a família Cecropiaceae, a redução no número de indivíduos desta espécie entre os dois inventários (1999 e 2006) sugere que esteja ocorrendo o fechamento da vegetação nesta porção de mata (Oliveira-Filho & Ratter 1995; Lorenzi 2002; Guarino & Walter 2005). Sugere-se que Aspidosperma subincanum, que passou de 6ª posição de IVI em 1999 para 1ª em 2006, pode estar refletindo uma condição de proteção e ter sido beneficiada pela implantação do Parque Municipal do Bacaba (Lei Municipal nº 652 de 27/12/1995). Antes da criação desta unidade de conservação esta espécie era cortada para a confecção de cabos de ferramentas e atualmente não se encontra mais sob pressão de corte. Entre as espécies mais importantes na porção do meio também destacam-se Hymenaea courbaril (1ª posição em 1999 e 3ª em 2006), planta semidecídua, heliófila ou esciófita, seletiva xerófila, pouco exigente em fertilidade e umidade do solo, geralmente ocorrendo em terrenos bem drenados e Apuleia leiocarpa (3ª e 4ª), heliófita ou de luz difusa e indiferente às condições físicas do solo (Lorenzi 2002), sendo ambas espécies pouco exigentes em termos 64 edáficos e climáticos, consideradas de fácil adaptação e mais resistentes às mudanças do ambiente (Schiavini et al. 2001). Hymenaea courbaril desceu da 1ª para a 3ª posição em 2006 em função da morte de dois indivíduos de grande porte. Não é possível afirmar com certeza que a morte tenha sido causada pela queimada em 2001. Entretanto, esta espécie, diferente do que é observado na congenérica típica de cerrado sentido restrito (Hymenaea stigonocarpa) (Silva-Júnior 2005), não apresenta ritidoma espesso que pode proteger o tronco do fogo. Neste caso, supõe-se que a queimada que atingiu a mata em 2001 pode ter contribuído com a morte dos referidos indivíduos. Em 2006, os indivíduos mortos em pé registrados na porção do meio representaram 19,3% da densidade total e 1,9% da área basal. De acordo com Marimon et al. (2002), no levantamento de 1999, as mortas representaram apenas 2,4% da densidade e 2,8% da área basal total, registrando-se um aumento no número e a redução na área basal de indivíduos mortos em 2006. Da mesma forma que foi descrito para a porção do alto, sugere-se que os impactos causados pelo fogo que atingiu a mata em 2001 e o fechamento de dossel sejam responsáveis pelo aumento da mortalidade de indivíduos jovens, visto que em 1999 a maior área basal e a menor densidade registradas para os mortos podem estar relacionadas ao registro de árvores adultas e velhas (mortas em pé) efetuado na ocasião. Parâmetros fitossociológicos do baixo - A densidade absoluta nesta porção, em 2006, foi de 1.079 indivíduos.ha-1 com uma área basal de 25,50m2 ha-1. As espécies mais importantes foram: Mauritia flexuosa, Astrocaryum vulgare, Virola urbaniana, Physocalymma scaberrimum, Himatanthus bracteatus, Tapirira guianensis, Mabea pohliana, Xylopia aromatica, Aspidosperma subincanum e Acosmium sp., que juntas representam 62% do IVI total, 61,5% do número de indivíduos amostrados e 73,6% da área basal total (Tab. 2.3). Mauritia flexuosa apresentou dominância absoluta cerca de 10 vezes superior à segunda espécie com maior IVI (Astrocaryum vulgare), que por sua vez, apresentou a maior densidade e freqüência absolutas (Tab. 2.3) Tabela 2.3. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm amostradas na porção do baixo no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo que DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%).Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1). Densidade Dominância Frequência Espécies IVI DA DR DoA DoR FA FR Mauritia flexuosa 97,9 9,07 10,647 41,74 46,81 6,94 57,75 65 Astrocaryum vulgare Virola urbaniana Physocalymma scaberrimum Himatanthus bracteatus Tapirira guianensis Mabea pohliana Xylopia aromatica Aspidosperma subincanum Acosmium sp. Cecropia pachystachya Cordia sellowiana Tetragastris altissima Vitex polygama Coussarea platyphylla Schefflera morototoni Myrcia sellowiana Bauhinia longifolia Inga thibaudiana Casearia sylvestris Protium heptaphyllum Curatella americana Sclerolobium paniculatum Luehea candicans Cariniana rubra Trema micrantha Sterculia speciosa Apeiba tibourbou Siparuna guianensis Bauhinia outimouta Licania gardneri Hirtella glandulosa Apuleia leiocarpa Qualea multiflora Endlicheria lhotzkyi Tapura amazonica Licania blackii Byrsonima laxiflora Emmotum nitens Matayba guianensis Inga heterophylla Oenocarpus distichus Aspidosperma tomentosum Diospyros hispida Vismia sp. 146,8 85,1 59,6 61,7 36,2 55,3 48,9 40,4 31,9 36,2 23,4 21,3 14,9 14,9 12,1 17,0 14,9 10,6 21,3 17,0 10,6 4,3 12,8 8,5 8,5 4,3 4,3 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 6,4 4,3 6,4 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 4,3 13,61 7,89 5,52 5,72 3,35 5,13 4,54 3,75 2,96 3,35 2,17 1,97 1,38 1,38 1,18 1,58 1,38 0,99 1,97 1,58 0,99 0,39 1,18 0,79 0,79 0,39 0,39 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,39 0,59 0,39 0,39 0,39 0,39 0,39 0,39 0,39 0,39 1,613 0,765 0,097 0,835 1,373 0,444 0,744 0,633 0,761 0,460 0,742 0,409 0,353 0,333 0,443 0,154 0,123 0,289 0,103 0,086 0,263 0,539 0,136 0,086 0,064 0,308 0,219 0,082 0,078 0,135 0,041 0,033 0,026 0,016 0,091 0,038 0,084 0,073 0,072 0,071 0,059 0,053 0,045 0,039 6,32 3,00 3,78 3,27 5,38 1,74 2,92 2,48 2,98 1,80 2,91 1,60 1,38 1,31 1,74 0,60 0,48 1,13 0,41 0,34 1,03 2,12 0,54 0,34 0,25 1,21 0,86 0,32 0,31 0,53 0,16 0,13 0,10 0,07 0,36 0,15 0,33 0,29 0,28 0,28 0,23 0,21 0,18 0,16 48,94 31,91 42,55 36,17 29,79 36,17 29,79 21,28 19,15 19,15 19,15 14,89 10,64 10,64 8,51 10,64 12,77 10,64 8,51 10,64 8,51 4,26 8,51 8,51 8,51 4,26 4,26 6,38 6,38 4,26 6,38 6,38 6,38 6,38 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 4,26 7,26 4,73 6,31 5,36 4,42 5,36 4,42 3,15 2,84 2,84 2,84 2,21 1,58 1,58 1,26 1,58 1,89 1,58 1,26 1,58 1,26 0,63 1,26 1,26 1,26 0,63 0,63 0,95 0,95 0,63 0,95 0,95 0,95 0,95 0,63 0,63 0,63 0,63 0,63 0,63 0,63 0,63 0,63 0,63 27,19 15,62 15,62 14,36 13,15 12,23 11,87 9,38 8,78 8,00 7,92 5,78 4,34 4,27 4,19 3,76 3,76 3,70 3,64 3,49 3,28 3,14 2,98 2,39 2,30 2,23 1,89 1,86 1,85 1,75 1,70 1,67 1,64 1,60 1,39 1,37 1,36 1,31 1,31 1,30 1,26 1,23 1,20 1,18 66 Licania apetala 4,3 0,39 Magonia pubescens 4,3 0,39 Casearia arborea 4,3 0,39 Mimosa laticifera 4,3 0,39 Pouteria gardneri 4,3 0,39 Zanthoxylum cf. riedelianum 2,1 0,24 Callichlamys sp. 4,3 0,39 Genipa americana 2,1 0,20 Platypodium elegans 2,1 0,20 Pseudobombax longiflorum 2,1 0,20 Dendropanax cuneatus 2,1 0,20 Duguetia marcgraviana 2,1 0,20 Sterculia striata 2,1 0,20 Calophyllum brasiliense 2,1 0,20 Machaerium acutifolium 2,1 0,20 Hancornia speciosa 2,1 0,20 Enterolobium contortisiliquum 2,1 0,20 Mauritiella armata 2,1 0,20 Machaerium sp. 2,1 0,20 Davilla elliptica 2,1 0,20 Tocoyena formosa 2,1 0,20 Dioclea glabra 2,1 0,20 Erythroxylum daphnites 2,1 0,20 Bauhinia sp. 2,1 0,20 Secondatia densiflora 2,1 0,20 Arrabidaea sp. 2,1 0,20 Total 1078,4 100,00 0,037 0,026 0,025 0,014 0,061 0,108 0,010 0,052 0,039 0,033 0,030 0,016 0,016 0,011 0,011 0,011 0,008 0,007 0,006 0,006 0,005 0,004 0,004 0,004 0,004 0,003 24,608 0,15 0,10 0,10 0,06 0,24 0,43 0,04 0,20 0,15 0,13 0,12 0,07 0,07 0,05 0,05 0,07 0,03 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 100,00 4,26 0,63 1,17 4,26 0,63 1,13 4,26 0,63 1,12 4,26 0,63 1,08 2,13 0,32 0,95 2,13 0,32 0,94 2,13 0,32 0,75 2,13 0,32 0,72 2,13 0,32 0,67 2,13 0,32 0,64 2,13 0,32 0,63 2,13 0,32 0,58 2,13 0,32 0,58 2,13 0,32 0,56 2,13 0,32 0,56 2,13 0,32 0,56 2,13 0,32 0,54 2,13 0,32 0,54 2,13 0,32 0,54 2,13 0,32 0,54 2,13 0,32 0,54 2,13 0,32 0,54 2,13 0,32 0,54 2,13 0,32 0,53 2,13 0,32 0,53 2,13 0,21 0,53 674,6 100,00 300,00 Intervalo de Confiança (P= 0,95): Densidade= [1072-1084]; Dominância= [24,311-24,905] Em 2006, a posição hierárquica das espécies apresentou mudanças expressivas em relação a 1999; de acordo com Marimon et al. (2002) as espécies de maior importância foram Mauritia flexuosa (IVI= 50,50), Cecropia pachystachya (24,07), Astrocaryum vulgare (18,20), Tapirira guianensis (16,53), Xylopia aromatica (13,75), Physocalymma scaberrimum (12,33), Virola urbaniana (12,10), Mabea pohliana (8,28), Cordia sellowiana (7,58) e Himatanthus bracteatus (7,53). Comparando com o inventário de 1999 as espécies mais importantes que não mudaram de posição hierárquica ou alteraram apenas uma posição em 2006 foram M. flexuosa (1ª posição em 1999 e 2006, respectivamente), A. vulgare (3ª e 2ª) e M. pohliana (8ª e 7ª). As mudanças mais expressivas foram registradas para C. pachystachya, que passou da 2ª posição em 1999 para a 11ª em 2006, H. bracteatus (10ª para 5ª), Acosmium sp. (15ª para 10ª), V. urbaniana (7ª para 3ª) e A. subincanum (13ª para 9ª). 67 Esta porção de mata, apesar de ser a única onde a espécie de maior IVI em 1999 também se manteve na primeira posição no inventário de 2006 (Mauritia flexuosa), apresentou grandes mudanças nas posições hierárquicas das demais espécies, com algumas desaparecendo da mata, algumas novas sendo registradas (Cap. 1) e outras alterando até 35 posições (ex: Mauritiella armata) em relação ao levantamento de 1999. As espécies Himatanthus bracteatus, Virola urbaniana e Physocalymma scaberrimum ganharam até cinco posições hierárquicas de IVI em 2006 em conseqüência do aumento da dominância absoluta. Estas também são exemplos de espécies clímax exigentes de luz (Cap. 1) que, provavelmente, foram beneficiadas com um aumento no crescimento (o número de indivíduos sofreu pouca alteração) em função da maior entrada de luz na mata, resultante da queimada que ocorreu em 2001. Dentre as espécies que perderam posições destacam-se C. pachystachya, X. aromatica e C. sellowiana, todas classificadas como pioneiras (OliveiraFilho & Ratter 1995; Lorenzi 2002; Guarino & Walter 2005). Neste caso, sugere-se que esta porção de mata encontra-se em processo de recuperação pós-distúrbio. Considerando-se todas as 71 espécies amostradas no baixo em 2006, apenas uma (Mauritia flexuosa) manteve a mesma posição hierárquica de IVI nos dois períodos de estudo (1999 e 2006), duas mudaram apenas uma posição, 16 mudaram duas ou três posições hierárquicas e 52 mudaram cinco ou mais posições entre os dois períodos estudados. Mauritia flexuosa é uma espécie perenifólia, heliófita e higrófita, encontrada em várias formações vegetais, porém invariavelmente em áreas brejosas ou permanentemente inundadas. É particularmente freqüente nas baixadas úmidas do Brasil Central (Oliveira-Filho & Ratter 2000) e ocorre em agrupamentos quase homogêneos (buritizais) (Lorenzi 2002). Astrocaryum vulgare (3ª posição em 1999 para 2ª em 2006), ao contrário do que foi registrado na porção do alto, esteve entre as espécies com pequenas alterações hierárquicas nesta porção. Cecropia pachystachya, espécie pioneira que também ocorre com freqüência em solos úmidos (Oliveira-Filho & Ratter 1995; Felfili 1995; Lorenzi 2002), alterou nove posições (2ª para 11ª), sugerindo o fechamento da vegetação nesta porção. Tapirira guianensis, apresentou pouca mudança hierárquica (4ª para 6ª), confirmando o que já foi observado por OliveiraFilho & Ratter (1995) que a consideram uma espécie cosmopolita que apresenta alta plasticidade em termos ambientais, ocorrendo desde a América Central até o Sul do Brasil, inclusive em solos com altos teores de alumínio, como os do Cerrado (Britez et al. 2002). Aspidosperma subincanum (passou de 12ª para 9ª posição em 2006), tal como discutido anteriormente, também pode ter sido beneficiada nesta porção de mata a partir da proibição do corte, após a implantação do Parque do Bacaba. 68 Convém salientar que na porção do baixo, a expressiva mudança de posições hierárquicas registrada para a maioria das espécies, em comparação com as porções do alto e do meio, também pode estar sendo ocasionada por distúrbios ligados às inundações e ao afloramento do lençol freático no período chuvoso. Rodrigues (2000) apresenta a elevação do curso d’água e/ou do lençol freático como um processo de perturbação natural nas formações ribeirinhas, tornando mais complexa a dinâmica sucessional dessas áreas, pois esses fatores causam alterações vegetacionais decorrentes da deposição de sedimentos, soterramento ou retirada da serapilheira e do banco de sementes. O autor observa ainda que as espécies apresentam uma performance diferencial ao encharcamento sazonal, tal como observado em Mauritia flexuosa, espécie de maior importância nesta porção e típica de áreas alagadas (Oliveira-Filho & Ratter 1995). As espécies mortas em pé, em 2006, representaram na porção do baixo 4% da densidade e 2,6% da área basal total. No inventário de 1999 as espécies mortas representaram 6,9% da densidade e 3,5% da área basal total (Marimon et al. 2002). Nesta porção foi registrada uma redução na densidade e na área basal das espécies mortas em 2006, sugerindo que esta pode ter sido menos afetada pela queimada que ocorreu em 2001 e se encontra atualmente em estágio de recuperação pós-distúrbio, tal como já discutido anteriormente. As três porções estudadas na mata de galeria do Córrego Bacaba apresentaram mudanças na estrutura da vegetação lenhosa no período analisado (1999 e 2006). Em um intervalo de sete anos, observa-se que a ordem das espécies sofreu alterações hierárquicas em maior ou menor intensidade. Em alguns casos, como na porção do baixo para Mauritia flexuosa, não ocorreu mudança da espécie de maior IVI e, em outros casos, como na porção do alto, foi registrada uma expressiva mudança na posição da espécie mais importante, como Astrocaryum vulgare, que passou da 5ª posição em 1999 para a 1ª em 2006. Este aspecto reforça que esta mata é dinâmica, sendo resiliente em algumas porções e em relação a algumas populações e resistente em outras. Felfili (1995) e Pinto & Hay (2005) observaram que a dinâmica das comunidades vegetais é regulada por flutuações cíclicas, alternando períodos de alta mortalidade com outros de alto recrutamento, mantendo a estrutura e a composição florística da comunidade aparentemente estável. Em relação às espécies de maior IVI registradas nas três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba, Calophyllum brasiliense e Protium heptaphyllum também foram consideradas importantes por Guarino & Walter (2005) em duas matas de galeria no Distrito Federal. Oliveira-Filho & Ratter (1995) analisaram 106 listas de espécies que ocorrem em matas ciliares no Brasil e dentre as espécies citadas, Protium heptaphyllum, Tapirira 69 guianensis e Xylopia aromatica, que também apareceram entre as mais importantes no presente estudo, foram apontadas pelos referidos autores entre as 13 mais importantes, tendo sido classificadas como generalistas quanto ao tipo de hábitat. Curiosamente, entre as dez espécies de maior IVI no presente estudo, nenhuma foi comum às três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba. É considerável que porções de mata tão próximas entre si (distância menor do que 300 m entre as porções) apresentem características estruturais da vegetação (densidade, freqüência e dominância relativa das principais espécies) tão distintas. Astrocaryum vulgare foi a única espécie que ocupou posições hierárquicas próximas na porção do alto (1º IVI) e do baixo (2º). Oliveira-Filho (1989), apesar de considerar somente as cinco espécies de maior IVI, também não encontrou espécies em comum nas três áreas por ele estudadas (nascente, cachoeira e vereda). No presente estudo, isto se deve porque as porções de mata estudadas apresentam características ambientais heterogêneas, fato este que pode contribuir para as diferenças estruturais observadas na vegetação. Na porção do alto, a declividade é acentuada e apresenta afloramentos rochosos, no meio também há afloramentos rochosos, mas a declividade do terreno é menos acentuada e no baixo, a topografia plana favorece o acúmulo de água e o afloramento do lençol freático no período chuvoso. Neste caso, onde as vertentes são mais inclinadas, a drenagem é favorecida e onde o terreno é plano o afloramento sazonal do lençol freático possibilita o surgimento do buritizal. Entre os dois períodos de estudo (1999 e 2006), a mata de galeria do Córrego Bacaba apresentou diferenças na estrutura fitossociológica. As maiores diferenças foram observadas na porção do baixo, com grandes alterações quanto às espécies de maior IVI, com apenas uma espécie permanecendo na mesma posição entre os dois levantamentos. De modo geral, o número de espécies raras permaneceu elevado nos dois períodos (1999 e 2006), confirmando um padrão esperado em matas de galeria do Cerrado e contribuindo para uma maior diversidade. Entretanto, as maiores alterações no IVI foram registradas nas espécies raras ou com pequeno número de indivíduos, favorecendo a predominância das espécies mais abundantes. As mudanças no IVI registradas nas espécies das três porções de mata estudadas reforçam a idéia de que esta mata apresenta uma dinâmica constante, sendo resiliente em algumas porções e resistente em outras. Baseando-se na composição florística e nas características estruturais de cada porção da mata de galeria do Córrego Bacaba, sugere-se que estas porções tenham sido afetadas de forma diferenciada pela queimada que atingiu a área em 2001. A porção do alto, por se encontrar em terreno com maior declive e solo de menor umidade (Marimon et al. 2003), 70 pode ter sido a mais afetada pelo fogo, visto que uma espécie típica de ambientes antropizados, Astrocaryum vulgare, passou a ocupar a primeira posição de importância na comunidade, em comparação com o levantamento realizado antes da passagem do fogo (1999). A porção do meio, que apresenta características ambientais similares à porção do alto também sofreu mudança na posição hierárquica da espécie de maior IVI. Entretanto, neste caso, o impacto do fogo pode não ter sido muito grande, visto que espécies pioneiras, como Cecropia pachystachya, encontram-se com as populações em declínio. Por outro lado, sugerese que apesar de ter sofrido grandes mudanças estruturais nas populações, a porção do baixo, provavelmente por apresentar condições de maior umidade no solo, esteja conseguido recuperar a estrutura da vegetação mais rapidamente após a passagem do fogo, visto que a posição hierárquica de algumas espécies pioneiras (C. pachystachya e Xylopia aromatica) declinou entre o período estudado, indicando que a vegetação encontra-se em fase de fechamento pós-distúrbio, aumentando o sombreamento das espécies no sub-bosque. Além disso, esta porção foi a única onde a espécie de maior IVI (Mauritia flexuosa) se manteve a mesma nos dois períodos de amostragem. 71 2.4 Referências bibliográficas Battilani, J.L.; Scremin-Dias, E. & Souza, A.L.T. 2005. Fitossociologia de um trecho da mata ciliar do rio da Prata, Jardim, MS, Brasil. Acta Botanica Brasilica 19(3): 597-608. Britez, R.M.; Reissmann, C.B.; Watanabe, T. & Osaki, M. 2002. Efeito do alumínio no desenvolvimento e nutrição de Tapirira guianensis Aublet. em solução hidropônica. Floresta 32(2): 171-187. Cronquist, A. 1988. The Evolution and Classification of Flowering Plants. Allen Press, Kansas. Curtis, J.T. & McIntosh, R.P. 1950. The interrelations of certain analytic and synthetic phytosociological characters. Ecology 31(3): 434-455. Curtis, J.T. & McIntosh, R.P. 1951. An upland forest continuum in the prairie-forest border region of Wisconsin. Ecology 32(3): 476-496. Felfili, J.M. 1994. 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Revista Brasileira de Botânica 23(3): 231-253. 75 Capítulo III CRESCIMENTO, RECRUTAMENTO E MORTALIDADE DA MATA DE GALERIA DO CÓRREGO BACABA EM UM PERÍODO DE SETE ANOS (1999-2006), NOVA XAVANTINA-MT 3.1 Introdução As comunidades florestais são dinâmicas e as mudanças ocorrem continuamente em níveis individuais e populacionais ao longo do tempo, mesmo que a comunidade como um todo seja considerada estável devido a um balanço entre crescimento, recrutamento e mortalidade (Felfili 1995a). Nas matas de galeria e ciliares as espécies vegetais se distribuem em resposta aos processos formadores de distúrbios naturais e antrópicos que se modificam ao longo do tempo. De forma geral, as modificações em uma comunidade ficam expressas na sua estrutura populacional, sendo importante estudar e detectar os principais fatores que limitam e promovem o sucesso de uma população em determinada área envolvendo tanto avaliações estruturais como temporais (Schiavini et al. 2001). Embora o Cerrado seja o segundo maior bioma da América do Sul e esteja sofrendo um forte antropismo com mudanças associadas ao desmatamento, alta incidência de fogo e invasão de plantas exóticas, há poucos estudos usando parcelas permanentes para avaliar a mortalidade, crescimento e recrutamento de sua vegetação (Henriques & Hay 2002). Alguns estudos de dinâmica já realizados em matas de galeria e ciliares no Brasil Central indicam que estas, mesmo sendo uma faixa estreita de vegetação circundada pelo cerrado, apresentam flutuações nas taxas de mortalidade e recrutamento de algumas populações, mas tendem ao equilíbrio dinâmico demonstrando serem comunidades auto-regenerativas (Felfili 1995a, b; Pinto & Hay 2005; Oliveira & Felfili 2005). Estudos da dinâmica são importantes, pois buscam compreender o processo evolutivo de uma comunidade ou população, num determinado intervalo de tempo, contribuindo para predições sobre o crescimento e a produtividade florestal (Felfili 1995a; Felfili et al. 2000; Lopes & Schiavini 2003; 2007), facilitando a implantação de programas de manejo, a utilização racional e a recuperação das florestas tropicais. Além disso, tais estudos podem facilitar a distinção entre o impacto causado por atividades humanas daqueles causados por distúrbios naturais (Muniz & Schiavini 2003). 76 O objetivo deste estudo foi avaliar as mudanças na estrutura da mata de galeria do Córrego Bacaba localizada no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina-MT, com base na mortalidade, recrutamento e crescimento da vegetação lenhosa em um período de sete anos (1999 e 2006). 3.2 Material e métodos Área de estudo - O trabalho foi realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba (14º41’S e 52º20’W), no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina, Mato Grosso. A mata ocupa cerca de 8% dos quase 500 ha do Parque e desempenha um papel importante, pois protege a água do Córrego Bacaba, que abastece um bairro residencial do município sem tratamento prévio. A altitude média da área de estudo é de 346 m e o clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, com precipitação anual entre 1.300 a 1.500 mm e temperatura média mensal de 25ºC (Marimon et al. 2003). A porção do alto apresenta uma declividade média de 42%, com presença de afloramentos rochosos de quartzito e ocorrência de enchentes sazonais com drenagem rápida. O meio apresenta declividade de aproximadamente 32%, com afloramentos rochosos e em locais com menor declividade o lençol freático aflora no período chuvoso e o baixo, com reduzida declividade (cerca de 5%), não apresenta afloramentos rochosos e a drenagem do solo é deficiente (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). Em julho de 2001 foi registrada uma queimada no Parque que também atingiu parte da mata de galeria do Córrego Bacaba. O fogo que adentrou no Parque originou-se em uma fazenda adjacente, visto que os pecuaristas locais utilizam as queimadas no período da seca para renovar o pasto. Amostragem da vegetação - No ano de 1999 foram estabelecidas 141 parcelas fixas (Philip 1994) permanentes de 10x10 m visando a caracterização fitossociológica e estrutural da vegetação (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). As parcelas foram posicionadas contínua e sistematicamente, atravessando perpendicularmente o córrego e cobrindo toda área coberta pela mata até a borda, no encontro com o cerrado stricto sensu. Foram demarcadas 47 parcelas perpendiculares ao córrego em cada porção (alto, meio e baixo). Em 1999, todas as árvores, arvoretas, palmeiras, lianas ou indivíduos mortos em pé com DAP (diâmetro à altura do peito) ³ 5 cm foram identificados e medidos (Marimon et al. 2002). No ano de 2006 (presente estudo), todos os indivíduos amostrados no primeiro inventário foram remedidos, juntamente com aqueles que atingiram o diâmetro mínimo de 77 inclusão (recrutas). Cada novo indivíduo amostrado foi marcado com uma plaqueta de alumínio numerada, permitindo sua posterior localização nas parcelas. Parâmetros de dinâmica – Baseando-se no número de indivíduos, foram calculadas as taxas de mortalidade, recrutamento (Sheil et al. 1995, 2000) e rotatividade (média dos valores absolutos entre as taxas de mortalidade e recrutamento). A partir da taxa de mortalidade e recrutamento foram calculados os tempos de meia-vida (t1/2) e duplicação (t2). O t1/2 corresponde ao tempo estimado para que a comunidade reduza seu tamanho à metade em função da taxa de mortalidade ou de decréscimo; quanto maior a taxa de mortalidade/decréscimo menor o t1/2. O t2 corresponde ao tempo necessário para a comunidade duplicar seu tamanho em função da taxa anual de recrutamento ou de acréscimo; quanto maior o recrutamento/acréscimo, menor o t2. A estabilidade foi calculada a partir da diferença entre o tempo de duplicação e a meia-vida; quanto mais próximo de zero mais estável seria a comunidade. O tempo de substituição (turnover time) foi calculado pela média entre t1/2 e t2 e quanto menor, mais dinâmica é a comunidade. Para os cálculos foram utilizadas as fórmulas propostas por Korning & Balslev (1994a). A partir da área basal foram calculadas as taxas de incremento (acréscimo – crescimento dos sobreviventes + recrutas, dividido pelo tempo transcorrido em anos), perda (decréscimo – diminuição dos sobreviventes + mortas) e rotatividade (média dos valores absolutos entre taxa de decréscimo e de acréscimo) (Pinto 2002). O incremento periódico anual em diâmetro (IPA), expresso em cm ano-1 foi calculado a partir da diferença do DAP na segunda e na primeira medição dividido pelo período estudado, em anos (Scolforo 1994; Imaña-Encinas et al. 2005). Os parâmetros anteriormente descritos foram calculados para as comunidades de cada porção de mata estudada (alto, meio e baixo) e para as principais espécies em IVI (índice de valor de importância, vide Capítulo 2) que apresentaram mais de 10 indivíduos em 2006. 3.3 Resultados e discussão Nas três porções de mata estudadas observamos que a mortalidade foi superior ao recrutamento (Tab. 3.1). A porção do baixo foi a que apresentou a maior taxa de mortalidade (6,84%), mas em contrapartida também apresentou o maior recrutamento (4,73%). Já a porção do alto apresentou os menores valores, tanto de mortalidade quanto de recrutamento, sendo 78 até três vezes menores que na porção do baixo. Em estudos de dinâmica realizados com a comunidade lenhosa em matas de galeria no Distrito Federal e em Mina Gerais, Felfili (1995a) e Lopes & Schiavini (2007) também encontraram valores de mortalidade superiores aos de recrutamento. Na porção do alto a diferença foi de apenas 0,46% em favor da mortalidade, indicando um baixo desbalanceamento no período estudado, dentro de valores normalmente encontrados em florestas de galeria (Felfili 1995a). Lieberman & Lieberman (1985), em uma floresta na Reserva de La Selva na Costa Rica e Pires & Prance (1977) na Amazônia brasileira, também encontraram um pequeno desbalanceamento em favor da mortalidade. Felfili (1995a, b) observou que isto acontece naturalmente, pois a mortalidade abre espaço para o recrutamento e em pouco tempo o balanceamento é restabelecido. Nas porções do meio e do baixo o desbalanceamento em favor da mortalidade foi muito superior ao observado no alto (0,46, 1,06 e 2,11%, no alto, meio e baixo, respectivamente). No caso da porção do baixo, a maioria das espécies que apresentaram perdas foram as pioneiras (42,4% dos indivíduos) e na porção do meio a entrada do fogo em 2001 pode ter sido determinante para este desbalanceamento. Em ambos os casos, a estrutura da comunidade poderá sofrer mudanças qualitativas com o passar dos anos, principalmente no baixo, onde espécies tolerantes à sombra poderão se tornar mais representativas. Em uma floresta de galeria no Brasil Central, Felfili (1995a) também observou que a maioria das espécies que sofreu perdas pertencia ao grupo das “exigentes de luz” e aquelas que mais recrutaram pertenciam às “tolerantes à sombra”. Os valores registrados no presente estudo, para a taxa anual de mortalidade nas três porções da mata de galeria do Bacaba (Tab. 3.1), em geral, foram superiores aos valores observados por Felfili (1995), van den Berg (2001), Pinto (2002) e Lopes & Schiavini (2007) e menores que os encontrados por Appolinário et al. (2005), Aquino (2007) e Oliveira-Filho et al. (2007). De acordo com Felfili (1995a), valores de taxa de mortalidade próximos a 3,5% ano-1 seriam típicos de áreas que sofreram distúrbios. Este aspecto reforça o padrão dinâmico da mata de galeria do Bacaba, visto que as porções avaliadas no presente estudo apresentaram valores superiores ou muito próximos aos registrados por Felfili (1995a). Segundo Lopes & Schiavini (2007), taxas menores são características de áreas mais estáveis, sem grandes distúrbios e auto-mantenedoras, com populações numericamente constantes em um equilíbrio dinâmico, mas isto não implica que estas seriam estáticas ou incapazes de mudar ao longo do tempo. 79 A elevada mortalidade registrada na mata do Bacaba, quando comparada com outras matas de galeria (Felfili 1995; van den Berg 2001 e Pinto 2002 e Lopes & Schiavini 2007), pode ser explicada pela passagem do fogo em 2001 e pelo afloramento do lençol freático (porção do baixo), favorecendo somente a permanência de espécies adaptadas a determinados fatores ambientais. Alguns autores afirmam que o fogo é responsável pela exclusão de algumas espécies sensíveis e pela redução no número de indivíduos, sendo que, sua exclusão favorece a incrementos progressivos na vegetação lenhosa, permite a regeneração das espécies e reduz a rotatividade de plantas (Felfili et al. 2000; Henriques & Hay 2002; Libano & Felfili 2006; Aquino et al. (2007)). Tabela 3.1. Parâmetros de dinâmica da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm) em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: AB= área basal (m2 ha-1) e IPA= incremento periódico anual (cm ano-1). ALTO MEIO BAIXO PARÂMETROS -1 2,38 3,72 6,84 Taxa de mortalidade (% ano ) -1 1,92 2,66 4,73 Taxa de recrutamento (% ano ) -1 21,27 22,44 14,24 Taxa anual de incremento (% ano ) 0,059 0,072 0,059 Taxa anual de perda (% ano-1) 29,12 18,63 10,13 Tempo de meia vida (anos) 36,10 26,06 14,65 Tempo de duplicação (anos) -1 2,15 3,19 5,78 Taxa de rotatividade (indivíduos, % ano ) 10,66 11,25 7,14 Taxa de rotatividade (AB, % ano-1) 32,61 22,34 12,39 Tempo de substituição (anos) 6,98 7,43 4,52 Estabilidade (anos) 2 -1 1,7100 1,5314 2,2818 Área Basal de incremento (m ha ) 0,3565 0,1475 0,3545 Área Basal de decremento (m2 ha-1) 2 -1 0,2541 0,2246 1,8087 Área Basal de recrutas (m ha ) 0,20 0,25 0,35 Incremento periódico anual (IPA) 1,44 1,02 1,10 Coeficiente de variação (do IPA) Como conseqüência de elevados valores de mortalidade e recrutamento, a porção do baixo da mata do Bacaba apresentou também os menores valores de tempo de meia vida e de duplicação, assim como os menores valores referentes ao tempo de substituição e estabilidade e maior taxa de rotatividade (nº de indivíduos), caracterizando-se como a porção mais dinâmica da mata estudada (Tab. 3.1). Situação oposta foi observada na porção do alto, que apresentou os menores valores de mortalidade e recrutamento, sendo a porção com o menor desbalanceamento entre estes dois parâmetros. Apesar de muito próximas geograficamente, as porções estudadas apresentaram diferenças em relação à estrutura e aos padrões de dinâmica 80 da comunidade lenhosa. Neste caso, a heterogeneidade ambiental (alto= elevada declividade e afloramentos rochosos e baixo= relevo plano e sem rochas) e as perturbações antrópicas (fogo) podem ter contribuído para evidenciar as diferenças registradas. Lopes & Schiavini (2007), estudando uma mata de galeria em Minas Gerais, registraram diferentes parâmetros de dinâmica para comunidades localizadas em áreas próximas. Felfili (1995b) e Pinto & Hay (2005) afirmam que a dinâmica das comunidades vegetais é regulada por flutuações cíclicas, apresentando períodos de alta mortalidade com outros de alto recrutamento de forma alternada, mantendo a estrutura e composição da comunidade aparentemente estável. Entretanto, Cabral (1999) afirma que o desequilíbrio entre mortalidade e recrutamento pode ser comum em áreas com medições realizadas em curtos intervalos de tempo. Segundo Henriques & Hay (2002), os processos dinâmicos de uma fitofisionomia parecem depender de quatro fatores locais: água, nutrientes, herbivoria e fogo. Estes autores afirmam que o fogo reduz o recrutamento, conduzindo a uma interrupção ou estabilização do desenvolvimento da vegetação, processo pelo qual a mata de galeria do Bacaba pode estar sendo influenciada, justificando seu baixo recrutamento em relação à mortalidade. As taxas anuais de incremento, perda e rotatividade (AB) apresentaram os maiores valores na porção do meio (Tab. 3.1). Quando nos referimos à área basal, a porção do baixo apresentou os maiores valores do incremento e dos recrutas. Embora os valores da taxa de mortalidade terem sidos elevados nas três porções estudadas, o incremento em área basal sugere que esta mata encontra-se em um período intermediário de sucessão, onde estaria reduzindo a densidade e aumentando a área basal total, tal como foi observado por Felfili (1995a) e Werneck et al. (2000), em um padrão de auto-desbaste. Em um estudo sobre dinâmica realizado por Oliveira & Felfili (2005), em uma mata de galeria do Brasil Central, a comunidade apresentou elevada redução da densidade total e aumento da área basal devido a um maior sombreamento da área, inibindo o crescimento de pioneiras e heliófilas, conduzindo a comunidade a um estágio de sucessão mais climácico, situação similar a do presente estudo. Oliveira-Filho et al. (2007) e Chagas et al. (2001), estudando duas florestas em Minas Gerais, registraram maior mortalidade do que recrutamento, assim como taxa de ganho em área basal superior a perda. De acordo com os referidos autores, isto representa um quadro de instabilidade, com acúmulo de biomassa em pé e declínio da densidade de árvores, associado a uma fase de construção intermediária a tardia do ciclo-silvigenético pós-distúrbio. Lopes & Schiavini (2007) afirmam que fatores exógenos como clima, geologia, incidência luminosa e distúrbios naturais favorecem a mudanças evolutivas na comunidade vegetal, uma vez que as 81 alterações que provocam a saída de espécies também fornecem condições para a entrada de espécies mais adaptadas às condições ambientais da comunidade. Na porção do alto, 55% das espécies registradas entre 1999 e 2006 apresentaram mortalidade, recrutamento ou ambos, sendo que no meio foram 69% e no baixo, 70%. Neste caso, a porção do alto pode ser considerada mais estável do que as demais porções. Felfili (1995b) observou que em uma mata de galeria do Brasil Central, 86% de todas as espécies sofreram mortalidade, recrutamento ou ambos em um período de seis anos, conferindo um caráter de elevada dinâmica àquela floresta. Por outro lado, em uma mata estudada na Fazenda Água Limpa (DF), somente seis das espécies de maior abundância apresentaram mudanças na densidade, sendo esta considerada uma comunidade estável (Felfili et al. 2000). A mata de galeria do Córrego Bacaba, em geral, apresentou elevados valores de mudanças, indicando ser bastante dinâmica, provavelmente devido ao estágio de sucessão intermediário no qual se encontra. Segundo Appolinário et al. (2005), espera-se maior estabilidade em florestas que sofrem menos perturbações. O tempo de meia vida e de duplicação e a taxa de rotatividade e estabilidade, registrados para as três porções da mata de galeria do Bacaba (Tab. 3.1), conferiram a esta floresta um padrão mais dinâmico quando comparada com uma mata de vale estudada por Pinto (2002), na Chapada dos Guimarães-MT. A mata do Bacaba também apresentou-se mais dinâmica do que uma floresta tropical semidecidual em Brasília e outra em Uberlândia (Appolinário et al. 2005; Paiva et al. 2007) e quando comparada com fragmentos de cerrado sensu stricto no Maranhão (Aquino et al. 2007). Entretanto, Oliveira-Filho et al. (2007) em um fragmento de floresta semidecidual em Minas Gerais, encontraram valores de rotatividade maiores, provavelmente em função da maior luminosidade e exposição aos ventos, aumentando a proporção de espécies de crescimento rápido e ciclo de vida curto. No presente estudo, comparando-se três grupos ecológicos nas três porções da mata do Bacaba (Tab. 3.2) as espécies clímax exigentes de luz apresentaram a maior porcentagem de espécies e indivíduos para os quais foi registrada mortalidade. Com relação ao recrutamento, este grupo ecológico também apresentou os maiores valores quando comparado com os outros dois (Tab. 3.2). Felfili (1995b) observou em seu estudo que as espécies exigentes de luz apresentaram maiores taxas de mortalidade do que as espécies tolerantes à sombra e estas apresentaram maior recrutamento, indicando que o dossel da floresta por ela estudada poderá sofrer mudanças qualitativas à medida que as tolerantes à sombra se tornarem mais comuns. Comparando-se cada grupo ecológico entre as porções de mata do Córrego Bacaba, observou-se que apenas as espécies clímax tolerantes a sombra sempre apresentaram 82 percentual de mortalidade superior ao recrutamento (Tab. 3.2). Este fato difere do que foi registrado por Felfili (1995b) e Chagas et al. (2001), onde estas espécies apresentaram maior recrutamento em relação à mortalidade. No caso da mata do Bacaba é possível que os distúrbios sofridos pela queimada e a abertura da mata, permitindo maior entrada de luz, tenham promovido um aumento na mortalidade, quando comparado com o recrutamento, deste grupo de espécies. De acordo com Korning & Balslev (1994b), a dinâmica de uma comunidade pode ser expressa pelo tempo de substituição e pela taxa de rotatividade, que sintetizam as mudanças que estão ocorrendo na comunidade (recrutamento ou acréscimo e mortalidade ou decréscimo). No presente estudo, a maior dinâmica foi registrada para a porção do baixo em função das altas taxas de entrada e saída (recrutamento e mortalidade). No caso do baixo, a elevada mortalidade pode estar associada a fatores abióticos, como afloramento do lençol freático e maior período de encharcamento do solo (Marimon et al. 2003). Por outro lado, o elevado recrutamento, pode ter sido favorecido pela entrada de luz difusa no local, confirmado pela elevada ocorrência de recrutas de espécies heliófilas nesta porção. Padrão similar, em florestas de galeria, também foi registrado por van den Berg (2001) e Pinto (2002). Em relação à área basal do incremento e dos recrutas (m2 ha-1), a mata do Bacaba apresentou valores bem maiores aos encontrados por Pinto (2002). Na mata do Bacaba, a área basal de incremento variou entre 1,53 a 2,28 m2 ha-1, enquanto que na mata de vale da Chapada dos Guimarães-MT esteve entre 0,09 e 0,4 m2 ha-1. Da mesma forma, a área basal dos recrutas foi superior na mata do Bacaba (0,22 a 1,81 m2 ha-1) do que na mata estudada por Pinto (2002) (0,028 a 0,14) e a taxa de rotatividade (área basal, % ano-1) na mata do Bacaba (Tab. 3.1) foi até três vezes superior ao valor registrado por Pinto (2002). A mata estudada por Pinto (2002) localiza-se em uma depressão de aproximadamente 70 m em relação às áreas adjacentes. Neste caso, comparando-se com a mata do Bacaba, as espécies que ocorrem na mata da Chapada dos Guimarães estão sujeitas a uma condição ambiental mais extrema (acentuado gradiente topográfico), fato este que pode reduzir o incremento e limitar o recrutamento de muitas espécies. 83 Tabela 3.2. Número de espécies e indivíduos da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm) que apresentaram mortalidade (Mort.) e recrutamento (Recr.) em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: Clímax luz= espécies clímax exigentes de luz e Clímax sombra= espécies clímax tolerantes à sombra. Valores percentuais entre parênteses. ALTO MEIO BAIXO Grupo Ecológico Mort. Recr. Mort. Recr. Mort. Recr. Espécies 8 (27,4) 4 (14,3) 8 (17,4) 6 (18,2) 8 (16,7) 11 (28,2) Pioneiras 11 (37,8) 15 (53,6) 23 (50,0) 17 (51,5) 29 (60,4) 21 (53,8) Clímax luz 10 (34,8) 9 (32,1) 14 (32,6) 10 (30,3) 11 (22,9) 7 (18,0) Clímax sombra Indivíduos Pioneiras Clímax luz Clímax sombra 16 (24,6) 23 (35,4) 26 (40,0) 14 (25,4) 24 (43,6) 17 (31,0) 15 (15,3) 44 (44,9) 39 (39,8) 13 (19,4) 32 (47,8) 22 (32,8) 89 (42,3) 85 (40,4) 36 (17,3) 58 (40,0) 73 (50,3) 14 (9,7) A taxa de rotatividade é influenciada por altas taxas de distúrbios naturais, como formação de clareiras e queda parcial ou total de árvores de grande porte (Pinto & Hay 2005). Na mata do Bacaba, além do fogo em 2001, o afloramento do lençol freático na porção do baixo podem ser fatores importantes na determinação da taxa de rotatividade e da área basal do incremento e dos recrutas. Quando analisamos os parâmetros da dinâmica das espécies de maior IVI (índice de valor de importância) e com maior número de indivíduos (> 10) para cada porção de mata estudada, Astrocaryum vulgare (alto) e Tapirira guianensis (baixo) se destacam entre as de maior taxa de mortalidade (Tab. 3.3). Ambas são consideradas espécies pioneiras (Pinto 2002; Lorenzi et al. 1996) e, neste caso, a redução na densidade destas populações pode indicar que a comunidade está em fase de recuperação pós-distúrbio, tal como observado por Felfili (1995a), Oliveira-Filho et al. (1997), Chagas et al. (2001) e Pinto (2002), em outras florestas do Brasil Central. Aspidosperma subincanum (meio) e Virola urbaniana (baixo) foram espécies que apresentaram elevada taxa de recrutamento entre as dez com maior IVI (Tab. 3.3). A. subincanum é classificada como espécie clímax tolerante à sombra e V. urbaniana, clímax exigente de luz, indicando que algumas espécies estão progredindo no estágio sucessional. Dentre as principais espécies das três porções da mata do Bacaba, Virola urbaniana (baixo) e Tapirira guianensis (baixo) estão entre as de maior taxa de mortalidade e recrutamento (Tab. 3.3). T. guianensis apresenta uma ampla ocorrência em todo Brasil, principalmente em formações florestais ombrófilas de planície, sendo também encontrada em formações secundárias, várzeas e margens de rios (Guimarães 2003; Cesarino et al. 2007). 84 Em uma mata de galeria em Minas Gerais (Lopes & Schiavini 2007), esta espécie esteve entre as de maior mortalidade e recrutamento. Na mata de galeria analisada no presente estudo, algumas espécies apresentaram parâmetros de dinâmica similares, independentemente da porção de mata onde foram registradas, destacando-se Aspidosperma subincanum (meio e baixo) e Mabea pohliana (alto e baixo). Outras espécies, como Astrocaryum vulgare e Tetragastris altissima, apresentaram maior mortalidade em uma porção e maior recrutamento em outra porção de mata (Tab. 3.3). Neste caso, confirma-se o que também foi observado por Pinto (2002), na floresta de vale da Chapada dos Guimarães-MT, de que os parâmetros de dinâmica das populações podem ser extremamente heterogêneos, sugerindo que o processo de dinâmica é multidirecional. Neste contexto, Felfili (1997) e van den Berg (2001) observaram que a dinâmica das populações apresenta variações em áreas submetidas a diferentes regimes de distúrbio ou diferentes condições ambientais. De acordo com Lieberman (1996), as variações na dinâmica das populações parece ser uma característica intrínseca das espécies tropicais e pode ser um dos mecanismos responsáveis pela coexistência de várias espécies. Considerando-se todas as espécies e indivíduos no período de sete anos (1999 a 2006), o incremento periódico anual (IPA) da comunidade lenhosa em cada porção da mata de galeria do Córrego Bacaba foi de 0,20 cm.ano-1, para o alto, 0,25 para o meio e 0,35 para o baixo. Os valores do IPA registrados nas três porções de mata estudadas (Tab. 3.1) são próximos e até superiores aos valores registrados por Felfili (1995b), para uma mata de galeria no Brasil Central (0,25 cm.ano-1), em um período de seis anos e por Pinto (2002), em uma mata de vale na Chapada dos Guimarães-MT (0,21 cm.ano-1), em um período de cinco anos. Silva et al. (2002) avaliaram 272 árvores em uma floresta de terra firme na Amazônia central e encontraram incremento médio de 0,16 cm ano-1 e Barreto & Uhl (1993) estudaram uma floresta no Pará e registraram valores entre 0,2 e 0,6 cm ano-1. A variação entre os valores de incrementos registrados nas comunidades das três porções da mata estudada foi elevada, onde todos os coeficientes de variação foram superiores a 100% (Tab. 3.1). Diversos autores têm registrado grandes variações em termos de crescimento para comunidades e populações florestais (Pires & Prance 1977; Swaine et al. 1987; Lieberman & Lieberman 1987; Felfili 1995a, b; Felfili 1997; Kellman et al. 1998; van den Berg 2001; Pinto 2002; Pinto & Hay 2005). De acordo com Felfili (1995b) a elevada variação entre os incrementos é uma conseqüência da heterogeneidade genética e ambiental das florestas tropicais, sendo que cada árvore apresenta seu próprio potencial genético adaptado a uma condição única de micro habitat. 85 Na Tabela 3.4 estão discriminados os valores do incremento periódico anual (IPA) das espécies amostradas em 1999 e 2006 nas três porções da mata do Bacaba. As variações entre os valores do incremento de cada espécie foram elevadas. Dentre as espécies avaliadas na porção do alto, 53% apresentaram o IPA acima do valor médio da comunidade (0,20 cm ano1 ). Na porção do meio, 40% das espécies apresentaram IPA acima da média (0,25 cm ano-1) e no baixo, foram 50% (0,35 cm ano-1). De acordo com Felfili (1995a, b; 1997), as diferenças registradas nas taxas de crescimento de uma espécie florestal podem estar associadas a variações ambientais e/ou genéticas. Analisando-se o IPA de algumas espécies comuns às três porções de mata do Bacaba (Tab. 3.4), como Hirtella glandulosa, Schefflera morototoni, Protium heptaphyllum, Mimosa laticifera e Cecropia pachystachya, verificou-se que apresentaram diferenças de até 300% no incremento de uma porção de mata para outra, podendo indicar que estas espécies apresentam restrições para crescer em determinados ambientes, visto que o crescimento em determinadas condições foi reduzido. Por outro lado, algumas espécies como Licania blackii, Mabea pohliana, Tetragastris altissima, Luehea candicans e Inga heterophylla apresentaram valores de IPA muito similares nas três porções de mata estudadas, confirmando que apresentam plasticidade para se adaptar às diferentes condições ambientais. Dentre as 33 espécies comuns às três porções de mata e que tiveram o incremento periódico anual (IPA) avaliado (Tab. 3.4), apenas nove apresentaram valores superiores à média de incremento de cada porção (ex: Sclerolobium paniculatum, Sterculia speciosa, Inga thibaudiana, Tapirira guianensis, entre outras), 11 espécies apresentaram valores acima da média em duas porções de mata avaliadas (ex: Hirtella glandulosa, Schefflera morototoni, Licania blackii, Calophyllum brasiliense, etc.) e oito estiveram acima da média em apenas uma porção (alto: Licania apetala, Siparuna guianensis, Mimosa laticifera, Tetragastris altissima e Apuleia leiocarpa; meio: Emmotum nitens e baixo: Byrsonima laxiflora e Duguetia marcgraviana). Luehea candicans, Physocalymma scaberrimum, Inga heterophylla, Magonia pubescens e Astrocaryum vulgare apresentaram valores de IPA inferiores à média da comunidade para as três porções de mata. Todas as espécies comuns às três porções de mata que apresentaram incrementos acima da média das comunidades caracterizam-se como espécies de dossel. Felfili (1995a) observou que as espécies que exigem luz e ocupam o dossel superior apresentam taxa de incremento maior. Observou-se que o maior incremento periódico anual (IPA) registrado nas três porções de mata foi para Sclerolobium paniculatum (1 a 2,05 cm ano-1), espécie que pertence ao grupo das clímax exigentes de luz e apresenta elevado crescimento sob condições de maior 86 luminosidade. Assim, quando os indivíduos desta espécie atingem determinada altura e diâmetro passam a contar com grande disponibilidade de luz para suprir suas necessidades fotossintéticas. Felfili & Silva-Júnior (1998) observaram que freqüentemente são encontrados indivíduos de S. paniculatum de grande porte mortos. Neste caso, esses indivíduos podem promover a abertura de novas clareiras, mantendo assim a possibilidade de regeneração e crescimento desta espécie. Segundo Alvino et al. (2007), Sclerolobium paniculatum possui um grande potencial para recuperação de áreas degradadas e programas de reflorestamento, pois tem rápido crescimento e elevada produção de desrama de folhas, o que possibilita uma rápida formação de serapilheira. Esta espécie geralmente é colonizadora de terrenos marginais e margens de estrada, iniciando uma sucessão secundária em áreas abertas pela germinação intensa de sementes no solo (Pires & Marcati 2005; Felfili et al. 2000). Em um estudo realizado por Felfili et al. (2000), em uma área de cerrado sensu stricto no Distrito Federal, S. paniculatum foi a espécie que apresentou o maior incremento em um período de nove anos. As taxas de incremento registradas para as espécies da mata estudada também foram bastante variáveis, apresentando diferenças entre os indivíduos e entre as espécies (Tab. 3.4). Felfili (1995a) observou que a variação dos incrementos foi elevada em uma floresta de galeria em Brasília-DF, tanto para a comunidade quanto para as populações. Marimon (2005) observou que a grande variação dos incrementos entre os indivíduos de uma espécie pode indicar um potencial para reagir às mudanças que ocorrem no ambiente. De acordo com a referida autora, espécies com elevada plasticidade ambiental tendem a apresentar elevados coeficientes de variação para o incremento. Felfili (1993) observou que a competição entre os indivíduos e a exigência por luz estariam entre as principais causas da variabilidade, sugerindo que indivíduos que precisam de luz para crescer podem permanecer com o incremento igual a zero até que ocorra a abertura de uma clareira. A autora observou ainda que são as diferenças entre as espécies que permitem sua coexistência e garantem a exploração dos recursos com sucesso, e a variação entre os incrementos seria uma conseqüência da heterogeneidade genética e ambiental das florestas. A taxa de crescimento registrada para algumas espécies pioneiras, como Xylopia aromatica pode indicar que em algumas porções da mata do Bacaba as condições ambientais, principalmente luz, estejam sendo favoráveis para o desenvolvimento desta espécie. De acordo com Oliveira-Filho & Ratter (1995), esta espécie é tipicamente heliófila, de crescimento rápido e possui ampla distribuição no Brasil Central e no estudo realizado por Pinto (2002), X. aromatica esteve entre aquelas que apresentaram os maiores valores de incremento. 87 Comparando-se as espécies coincidentes entre a mata do Bacaba e uma floresta de vale na Chapada dos Guimarães-MT (Pinto 2002), observou-se que Unonopsis lindmanii, Pseudolmedia laevigata, Siparuna guianensis e Xylopia aromatica registraram valores de crescimento superiores nas porções de mata do presente estudo. Neste caso, é provável que as condições ambientais (relevo acidentado, escarpa) da floresta na Chapada dos Guimarães sejam mais desfavoráveis para estas espécies quando comparadas com as condições da mata do Bacaba. Os valores de incremento das espécies avaliadas no presente estudo representam apenas uma pequena fase de desenvolvimento das mesmas e provavelmente devem variar muito ao longo de seu ciclo vital. Alvarez-Buylla et al. (1996) observaram que os processos que afetam a dinâmica de uma comunidade operam em um padrão estocástico e devem produzir o mesmo padrão na taxa de crescimento das populações. De qualquer forma, apenas estudos com longo período de acompanhamento poderão avaliar as variações no crescimento que ocorrerem ano após ano. Tal como salientado por Pinto (2002) e Lopes & Schiavini (2007), as diferenças registradas na dinâmica da mata de galeria do Bacaba nos levam a destacar a variabilidade em que os processos de dinâmica operam dentro de uma mesma comunidade e o grau de heterogeneidade espacial que estes processos produzem ao longo do tempo. Assim, para compreender plenamente a dinâmica da vegetação em comunidades que apresentam elevadas variações internas, além de seguidas remedições também é necessário considerar as particularidades dos micro-sítios analisados. A avaliação de fatores temporais, levando em consideração dados demográficos e de composição de espécies, como a estabilidade, recrutamento, crescimento, mortalidade, biologia das espécies e produção de biomassa fornecem informações da comunidade a longo prazo e as respostas à distúrbios ocasionais, possibilitando a avaliação da capacidade de manutenção da comunidade ao longo do tempo e a indicação de espécies para cultivo ex situ em programas de recuperação e manejo de áreas (Libano & Felfili 2006). 88 Tabela 3.3. Parâmetros de dinâmica das árvores com maior IVI e acima de 10 indivíduos (DAP ≥ 5 cm) em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: m= taxa de mortalidade (% ano-1), r= taxa de recrutamento (% ano-1), in= taxa anual de incremento (% ano-1), p= taxa anual de perda (% ano-1), t1/2= tempo de meia vida (anos), t2= tempo de duplicação (anos), TRo= taxa de rotatividade (indiv., % ano-1), TRoAB= taxa de rotatividade (área basal, % ano-1), Sub= tempo de substituição (anos), Est= estabilidade (anos), ABin= área basal de incremento (m2 ha-1), Abd= área basal de decremento (m2 ha-1) e Abr= área basal de recrutas (m2 ha-1). Espécies do ALTO Astrocaryum vulgare Diospyros obovata Calophyllum brasiliense Mabea pohliana Protium heptaphyllum Licania blackii Oenocarpus distichus Tetragastris altissima Espécies do MEIO Aspidosperma subincanum Tetragastris altissima Apuleia leiocarpa Pouteria gardneri Ephedranthus parviflorus Protium heptaphyllum Luehea candicans Espécies do BAIXO Mauritia flexuosa Astrocaryum vulgare Virola urbaniana Physocalymma scaberrimum Himatanthus bracteatus Tapirira guianensis Mabea pohliana Xylopia aromatica m 21,48 2,27 0 1,49 2,42 0,98 0 4,69 r 2,63 1,66 0 2,82 1,66 1,88 2,02 0 in 14,551 21,779 23,839 17,688 19,321 17,633 23,846 19,248 p 10,732 0,134 0,015 0 0,172 0 0,010 7,277 t 1/2 27,94 30,53 .. 46,51 28,64 70,72 0 14,77 t2 26,35 41,75 .. 24,57 41,75 36,86 34,31 .. TRo 2,55 1,96 0 2,15 2,04 1,42 1,01 2,34 TRoAB 12,64 10,95 11,92 8,84 9,66 8,81 11,92 13,25 Sub. 27,14 36,14 .. 35,54 35,19 48,38 34,31 7,38 Est. 1,59 11,22 .. 21,94 13,11 44,67 34,31 14,77 ABin 0,0779 0,1256 0,1254 0,0540 0,0665 0,8582 0,2782 0,0474 Abd 0,2153 0,0151 0,0008 0 0,0349 0 0,0002 0,0002 Abr 0,0750 0,0118 0 0,0133 0,0075 0,0071 0,0185 0 1,49 2,07 0 1,05 3,13 1,49 3,75 4,89 2,97 0 1,13 2,07 1,49 2,02 17,187 25,031 30,678 21,943 16,309 19,513 10,273 0 0 0,033 0 0,329 0 1,537 46,51 33,48 .. 66,01 22,14 46,51 18,48 14,17 23,33 .. 61,34 33,48 46,51 34,31 3,19 2,52 0 1,09 2,6 1,49 2,88 8,59 12,51 15,35 10,97 8,31 9,75 5,9 30,34 28,4 0 63,67 27,81 46,51 26,39 32,34 10,15 0 4,67 11,34 0 15,83 0,0691 0,0475 0,0584 0,0366 0,0442 0,0303 0,0218 0 0 0,0018 0 0,0055 0 0,0187 0,0235 0,0086 0 0,0018 0,0113 0,0046 0,0036 1,84 1,13 10,08 0 0,73 13,82 2,97 5,07 3,44 5,05 10,08 1,05 5,86 6,02 5,88 1,29 18,405 14,558 5,976 20,926 7,458 10,598 9,558 7,625 0,081 2,482 0 0,119 0,016 0,040 0,115 0,052 37,67 61,34 6,87 .. 94,95 5,01 23,33 13,67 20,14 13,72 6,87 66,01 11,82 11,51 11,78 53,73 2,64 3,09 10,08 0,52 3,29 9,92 4,42 3,18 9,24 8,52 2,98 10,55 3,73 5,31 4,83 3,83 28,90 37,53 6,87 33,00 53,38 8,26 17,55 33,7 17,53 47,62 0 66,01 83,13 6,5 11,55 40,06 0,0604 0,1021 0,1524 0,0832 0,1831 0,2579 0,0673 0,1942 0,0660 0,1058 0 0,0031 0,0002 0,0183 0,0010 0,0012 1,1446 0,1499 0,0814 0,0045 0,0451 0,0367 0,0362 0,0065 89 Aspidosperma subincanum Acosmium sp. 0 0 0,76 0,98 10,989 16,563 0 0,144 .. .. 91,20 70,72 0,38 0,49 5,49 8,35 45,6 35,36 91,20 70,72 0,1296 0,0956 0 0,0025 0,0021 0,0051 90 Tabela 3.4. Incremento periódico anual de diâmetro (IPA, cm ano-1) e coeficiente de variação (CV, %) por espécie em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba, entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. O CV foi calculado apenas para as espécies representadas por no mínimo 10 indivíduos. Alto Meio Baixo Espécies IPA CV IPA CV IPA CV Mabea pohliana (Benth.) Müll. Arg. Aspidosperma subincanum Mart. Astrocaryum vulgare Mart. Protium heptaphyllum (Aubl.)Marchand Tetragastris altissima (Aubl.) Swart. Ephedranthus parviflorus S. Moore Himatanthus bracteatus (A.DC.) Woodson Licania apetala (E. Mey) Fritsch Licania blackii Prance Calophyllum brasiliense Cambess Diospyros obovata Jacq. Luehea candicans Mart. Apuleia leiocarpa (Vog.) Macbr. var. Unonopsis lindmanii R.E.Fr. Pouteria gardneri (Mart. & Miq.) Baehni Cordia sellowiana Cham. Virola urbaniana Warb. Acosmium sp. Schott Andira vermifuga Mart. ex Benth Callisthene fasciculata Mart. Dioclea glabra Benth. Hieronyma alchorneoides Allemão Salacia elliptica (Mart. ex Schult.) G. Don Moutabea excoriata Mart. ex. Miq Myrcia amazonica DC. Odontadenia spoliata Malme Ormosia coarctata Jacks. Tetrapterys glabra (Spreng.) Griseb. Amaioua guianensis Aubl. Diospyros sericea A.DC. Ilex affinis Gardner Hirtella gracilipes (Hook. f.) Prance Posoqueria aff macropus Mart. Sterculia striata A.St.-Hil & Naudin Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau Aspidosperma macrocarpon Mart. Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Campomanesia eugenioides (Cambess.) D.Legrand Bowdichia virgilioides Kunth Combretum vernicosum Rusby Cordia glabrata (Mart.) A.DC. Cuspidaria sp. Dilodendron bipinnatum Radlk. Dipteryx alata Vogel. Dioclea virgata (Rich.) Amshoff Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns Eugenia aurata O.Berg. Fícus sp1 (pilosa) Guazuma ulmifolia Lam. Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl. Jacaranda cuspidifolia Mart. 0,23 0,15 0,00 0,23 0,21 0,21 0,24 0,41 0,34 0,30 0,18 0,16 0,20 0,22 0,21 0,02 1,00 1,66 2,50 0,92 0,93 0,42 0,77 0,65 0,77 0,84 0,86 0,35 0,26 0,00 0,16 0,20 0,21 0,30 0,23 0,30 0,43 0,20 0,19 0,20 0,25 0,20 0,72 1,50 0,00 0,35 0,20 0,21 0,22 0,06 0,20 0,42 0,14 0,14 0,36 0,07 0,17 0,00 0,08 0,17 0,29 0,40 0,45 0,03 0,21 0,07 0,24 0,02 0,14 0,20 0,00 0,12 0,56 0,18 0,04 0,53 0,78 0,63 0,87 0,82 0,66 1,00 0,94 0,66 0,64 0,36 0,52 0,15 0,36 0,24 0,74 0,38 2,63 0,63 0,22 0,21 0,15 0,54 0,15 0,25 0,50 0,62 0,62 0,38 0,58 0,72 0,75 91 Kilmeyera rubriflora Cambess. Maytenus cf. floribunda Reissek Plathymenia reticulata Benth. Peltogyne confertiflora (Mart. ex Hayne) Benth. Pouteria torta (Mart.) Radlk. Serjania glutinosa Radlk. Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Machaerium acutifolium Vogel Apeiba tibourbou Aubl. Aspidosperma tomentosum Mart. Cariana rubra Gardner ex Miers Casearia arborea (Rich.) Urb. Davilla elliptica A.St-Hil. Diospyros hispida A.DC. Genipa americana L. Hancornia speciosa Gomes Mauritia flexuosa L.f. Mauritiella armata (Mart.) Burret. Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A.Robyns Qualea multiflora Mart. Tapura amazonica Poepp. Vismia sp. Zanthoxylum cf. riedelianum Engl. Erythroxylum daphnites Mart. Mimosa laticifera Rizzini & A. Mattos Myrcia sellowiana O. Berg. Duguetia marcgraviana Mart. Emmotum nitens (Benth.) Miers Coussarea platyphylla Müll. Arg. Bauhinia outimouta Aubl. Byrsonima laxiflora Griseb. Cecropia pachystachya Trécul Inga heterophylla Willd. Hirtella glandulosa Spreng. Inga thibaudiana DC. Magonia pubescens A. St.-Hil. Physocalymma scaberrimum Pohl. Sclerolobium paniculatum Vogel. Siparuna guianensis Aubl. Sterculia speciosa K. Schum. Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin Vitex polygama Cham. Xylopia aromatica (Lam.) Mart. Tapirira guianensis Aubl. Xylopia emarginata Mart. Tabebuia impetiginosa (Mart. ex.DC.) Standl. Myrcia tomentosa (Aubl.) DC. Oenocarpus distichus Mart. Ouratea castaneifolia (DC.) Engl. Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm. Copaifera langsdorffii Desf. Aiouea saligna Meisn Alibertia elliptica (Cham.) K. Schum. Astronium fraxinifolium Schott. Fícus cf. enormis (Mart. ex Miq) Mart. Himatanthus obovatus (Müell. Arg.) Woodson Hymenaea courbaril L. Micropholis venulosa (Mart.& Eichler) Pierre 0,14 0,13 0,02 0,11 0,30 0,00 0,24 0,06 0,80 1,10 0,90 0,35 0,09 0,41 1,53 0,10 0,03 0,00 0,52 0,25 0,26 0,08 0,00 0,22 0,30 0,17 0,31 0,14 0,78 0,60 0,06 0,14 2,05 0,35 0,71 0,42 0,21 0,33 0,22 0,35 0,25 0,50 0,17 0,10 0,18 0,50 0,57 0,12 0,18 1,00 0,01 0,36 0,13 0,15 0,11 0,42 0,31 0,10 0,10 0,12 0,27 0,11 0,22 0,22 0,32 0,20 0,00 0,27 0,25 0,37 0,30 0,30 0,40 0,40 0,14 0,10 0,10 0,15 0,15 0,35 0,32 0,14 0,30 0,25 0,22 0,26 0,46 0,08 0,17 0,05 0,50 0,00 0,05 0,38 0,52 0,11 0,52 0,83 0,56 0,41 0,18 0,18 1,15 0,34 0,21 1,63 0,26 0,50 0,88 0,73 0,50 0,84 92 Protium spruceanum (Benth.) Engl. Pseudolmedia laevigata Trécul Curatella Americana L. Licania gardneri (Hook.f.) Fritsch Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch Matayba guianensis Aubl. Platypodium elegans Vogel. Bauhinia longifolia D.Dietrr. Casearia sylvestris Sw. 0,33 0,10 0,00 0,17 0,30 0,03 0,43 0,41 0,46 0,40 0,10 0,31 0,10 0,00 0,57 0,82 0,14 0,27 93 3.4 Referências bibliográficas Alvarez-Buylla, E.R.; Garcia-Barrios, R.; Lara-Moreno, C. & Martínez-Ramos, M. 1996. Demographic and genetic models in conservation biology: applications and perspectives for tropical rain forest tree species. Annual Review of Ecology and Systematic 27: 387-421. Alvino, F.O.; Silva Neto, P.A.; Muniz, A.L.V. & Ribeiro M.S. 2007. Armazenamento e germinção de semantes de Sclerolobium paniculatum Vogel (Leguiminosae- Caesalpinioideae). Revista Brasileira de Biociências 5(2): 726-728. Appolinário, V.; Oliveira-Filho, A.T.; & Guilherme, F.A.G. 2005. Tree population and community in a Brasilian tropical semideciduous forest. Revista Brasileira de Botânica 28(2): 347-360. 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No inventário realizado em 2006 foi registrado um aumento na riqueza florística, especialmente para as espécies que apresentavam poucos indivíduos em 1999. Esta característica provavelmente está conduzindo a mata a um estágio de equilíbrio dinâmico em relação a sua composição, reforçado pelo aparecimento de espécies secundárias, típicas de áreas em recuperação pós-distúrbio. A porção do baixo, foi a única onde registrou-se mais perda do que ganho de espécies em 2006, sugerindo que neste local ocorrem preferencialmente espécies adaptadas à variação sazonal do lençol freático. O presente estudo confirmou um padrão já verificado em outras matas de galeria do bioma Cerrado, onde áreas geograficamente muito próximas apresentam diferenças na diversidade e composição de espécies, provavelmente refletindo a heterogeneidade ambiental desses ambientes. Apesar da pequena variação na composição florística, registrada nas porções de mata do Córrego Bacaba entre os dois períodos estudados (1999 e 2006), as diferenças na estrutura fitossociológica foram representativas. Nenhuma espécie registrada entre as dez de maior índice de valor de importância (IVI) foi comum às três porções de mata. As maiores mudanças foram registradas na porção do baixo, principalmente para as espécies pioneiras, que diminuíram sua importância na comunidade em 2006, fato este que pode sugerir um fechamento da mata. As maiores mudanças de posições hierárquicas foram registradas para as espécies raras. Entretanto, o número de espécies raras foi elevado em ambos os períodos inventariados, confirmando um padrão também observado por outros autores em matas de galeria do bioma Cerrado. Analisando-se as mudanças florísticas e estruturais ocorridas na mata do Bacaba, sugerese que as três porções apresentam padrões diferenciados, provavelmente condicionados pelas características ambientais de cada porção ou pela queimada ocorrida em 2001. Neste caso, sugere-se que a porção do alto tenha sido mais afetada pelo fogo, visto que uma espécie típica de ambientes antropizados, Astrocaryum vulgare, passou a ocupar a primeira posição de importância na comunidade. Nas porções do meio e do baixo as espécies pioneiras encontram-se em declínio, sendo que este pode ser um indicativo de que o fogo tenha sido menos intenso nestas porções. As diferenças registradas na estrutura da vegetação também são um indicativo importante de que quando são efetuados estudos sobre a ecologia vegetal em matas de galeria, em períodos diferentes, estes não podem se basear exclusivamente em levantamentos e comparações da 99 diversidade e composição florística. Neste caso, a avaliação da estrutura da comunidade é essencial para fornecer informações mais detalhadas sobre as mudanças que aconteceram no período avaliado. Da mesma forma, sem realizar estudos de dinâmica não é possível avaliar de maneira segura o padrão que determinada comunidade apresenta. Neste caso, estudos florísticos, fitossociológicos e de dinâmica são complementares, permitindo que se conheça não apenas a condição presente de uma comunidade vegetal, mas também sua tendência futura. Comparando-se os dados de 1999 e 2006, observou-se que a mortalidade foi superior ao recrutamento nas três porções de mata estudadas. Os valores da taxa de mortalidade na mata do Bacaba foram superiores àqueles registrados em outras matas de galeria do Brasil Central, representando uma condição de distúrbios passados e reforçando o padrão dinâmico da mata estudada. Apesar da taxa de mortalidade ter sido elevada nas três porções estudadas, o incremento em área basal sugere que a mata encontra-se em um período intermediário de sucessão. O desbalanceamento em favor da mortalidade foi menor no alto e maior no baixo, onde a maioria das espécies que apresentaram perdas foram as pioneiras. Entretanto, de forma geral, os parâmetros de dinâmica foram diferentes entre as porções de mata. Neste caso, sugere-se que a heterogeneidade ambiental (declividade x relevo plano e afloramentos rochosos x sem rochas) e as perturbações antrópicas (fogo) podem ter contribuído para evidenciar as diferenças registradas. Na mata do Bacaba, algumas espécies apresentaram parâmetros de dinâmica similares, independentemente da porção de mata onde foram registradas e algumas apresentaram maior mortalidade em uma porção e maior recrutamento em outra porção de mata. Neste caso, observase que os parâmetros de dinâmica das populações podem ser bastante heterogêneos, sugerindo que o processo de dinâmica é multidirecional e estas variações parecem ser uma característica intrínseca das espécies tropicais podendo ser um dos mecanismos responsáveis pela coexistência de várias espécies. A variação entre os valores de incrementos registrados nas comunidades e populações das três porções da mata estudada confirma o que já foi observado em outras matas de galeria do Brasil Central, de que isto seria uma conseqüência da heterogeneidade genética e ambiental das florestas tropicais. Algumas espécies, comuns às três porções de mata, parecem apresentar restrições para crescer sob determinadas condições ambientais ao passo que outras apresentaram plasticidade para se adaptar a diferentes ambientes. Tendo por base os parâmetros de dinâmica registrados para as espécies da mata do Bacaba (maior incremento, maior recrutamento e menor mortalidade), considerando-se o grupo ecológico de cada uma e também o seu potencial de uso (alimentação, artesanato, medicinal, 100 madeireira, paisagismo, reflorestamento, etc.) foi possível selecionar algumas espécies que apresentam características recomendadas para uso em recuperação de matas degradadas. Assim, dentre as pioneiras, podemos recomendar espécies com elevado incremento periódico anual e ampla distribuição, além de apresentarem uso múltiplo: Astrocaryum vulgare, Tapirira guianensis e Xylopia aromatica. Do grupo das clímax exigentes de luz merecem destaque as espécies que apresentaram elevado recrutamento e/ou incremento, sendo que algumas também apresentam interesse econômico: Sclerolobium paniculatum, Sterculia speciosa, Schefflera morototoni, Inga thibaudiana, Virola urbaniana e Hirtella glandulosa e com relação às clímax tolerantes à sombra, recomenda-se as seguintes espécies para serem utilizadas em programas de recuperação de áreas degradadas: Calophyllum brasiliense, Licania blackii e Aspidosperma subincanum, sendo que as três apresentam elevado incremento periódico anual e recrutamento e duas são importantes no uso madeireiro e ornamental. Em se tratando de espécies com maior plasticidade, que apresentaram elevados valores de incremento periódico anual nas três porções de mata estudadas, destacam-se Mabea pohliana e Aspidosperma subincanum. É importante salientar que, quando se fazem recomendações para a escolha de espécies a serem utilizadas em programas de recuperação de áreas degradadas, deve-se considerar todos os fatores envolvidos no processo de escolha. Neste caso, em uma situação em que são exigidos resultados rápidos é recomendável que sejam usadas espécies que apresentam elevado recrutamento e incremento, mas se a situação assim o permitir, além destas espécies também devem ser selecionadas aquelas que apresentam condições menos favoráveis, como incremento lento e elevada mortalidade, visto que em uma situação de distúrbio estas podem ser as mais ameaçadas e suscetíveis à extinção local.