dinâmica da comunidade arbustivo-arbórea de uma mata

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1
ALINE MIGUEL
DINÂMICA DA COMUNIDADE ARBUSTIVO-ARBÓREA DE UMA
MATA DE GALERIA EM NOVA XAVANTINA, MATO GROSSO
Dissertação
apresentada
à
Universidade do Estado de Mato
Grosso, para obtenção do titulo de
mestre, em Ciências Ambientais.
Orientadora: Profª Dra. Beatriz Schwantes Marimon
CÁCERES
Mato Grosso
2008
2
ALINE MIGUEL
DINÂMICA DA COMUNIDADE ARBUSTIVO-ARBÓREA DE UMA
MATA DE GALERIA EM NOVA XAVANTINA, MATO GROSSO
Dissertação
apresentada
à
Universidade do Estado de Mato
Grosso, para obtenção do titulo de
mestre, em Ciências Ambientais.
Orientadora: Profª Dra. Beatriz Schwantes Marimon
CÁCERES
Mato Grosso
2008
3
M6362d
Miguel, Aline
Dinâmica da comunidade arbustivo-arbórea de uma mata de galeria em
Nova Xavantina-Mato Grosso/Aline Miguel – Cáceres: UNEMAT, 2008.
100 f. ; 30 cm I1 Color
Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) – Universidade do
Estado de Mato Grosso, 2008
Orientador: Beatriz Schwantes Marimon
1. Florística. 2. Fitossociologia. 3.Dinâmica florestal
I. Autor. II. Título.
CDU - 581
4
5
A minha família
e à memória de minha mãe.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, por mais essa benção em minha vida dentre tantas que me
proporcionou até hoje, por me levantar quando achava que não iria conseguir mais,
por me guardar e me fazer tão feliz.
A CAPES pela concessão da bolsa de estudos.
A minha orientadora, Dra. Beatriz Schwantes Marimon pela confiança,
atenção prestada, por compartilhar seus conhecimentos e sua amizade.
A minha família pela ajuda e incentivo não somente no meu mestrado, mas
em toda minha vida estudantil.
Ao meu namorado Rogério pela atenção, compreensão e ajuda em meu
trabalho sempre que precisei.
Aos meus amigos Leandro, Edmar, Lauro e Luana pela grande e essencial
ajuda nas minhas coletas de campo, MUITO OBRIGADA. Sem a ajuda de vocês
esse trabalho não seria possível.
Aos meus mais novos amigos e companheiros de mestrado, turma 2006/1,
adorei a companhia de todos vocês e vou guardar cada um em meu coração.
Aos meus amigos ‘’Batata’’, Paulo, Lucas e Igor, pela estadia e confiança
quando estive pela primeira vez na cidade de Cáceres e ainda não me conheciam e
posteriormente pela amizade, respeito, risos choros e claro pelas festas no
‘’Rancho’’.
Ao acolhimento dos meus amigos, Prof. Regisnei e Claudia assim que me
mudei para Cáceres, a atenção e carinho de vocês foram essenciais a minha
adaptação.
Às minhas companheiras de moradia, Enazia e, em especial, Ademária
(Déia) por me fazerem companhia e compartilhar problemas e alegrias. Aos
conselhos dados, às “bobeiras” faladas, às festas e pela grande amizade
conquistada.
À Danielle a e sua família pelo carinho e atenção durante minha qualificação
e defesa. Muito obrigada.
A todos meus amigos, em especial Eddie, Luana, Carol Lopes, Ana, Flavio,
Polli, Daniella Senhem, Carol, Miriam, Lidiane, Déia, Simone, Flaviane, Gleyci,
Aurea e Diane (em memória) pela companhia, conversas e saidinhas para o
barzinho para um momento de descontração e ‘’retomada de fôlego’’, vocês são
especiais e eternos.
Enfim, a todos que direta e indiretamente, presentes ou mesmo de longe
contribuíram de alguma forma para a realização e conclusão deste trabalho, essa
conquista não é somente minha e sim de todos nós.
7
SUMÁRIO
Páginas
RESUMO..............................................................................................................
6
ABSTRACT..........................................................................................................
8
LISTAS DE FIGURAS..........................................................................................
10
LISTAS DE TABELAS.........................................................................................
11
1. INTRODUÇÃO GERAL....................................................................................
13
2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAL...................................................
18
3. CAPÍTULO I: Mudanças na composição florística e diversidade de
espécies em três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba (19992006), Nova Xavantina-MT.................................................................................
Introdução.......................................................................................................
Material e métodos.........................................................................................
Resultados e discussão................................................................................
Referências bibliográficas............................................................................
4. CAPÍTULO II: Mudanças na estrutura da vegetação lenhosa em três
porções da mata de galeria do Córrego Bacaba (1999-2006), Nova
Xavantina-MT.......................................................................................................
Introdução.......................................................................................................
Material e métodos.........................................................................................
Resultados e discussão................................................................................
Referências bibliográficas............................................................................
5. CAPÍTULO III: Crescimento, recrutamento e mortalidade da mata de
galeria do Córrego Bacaba em um período de sete anos (1999-2006),
Nova Xavantina-MT.............................................................................................
Introdução.......................................................................................................
Material e métodos.........................................................................................
Resultados e discussão................................................................................
Referências bibliográficas............................................................................
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................
22
22
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69
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73
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75
93
98
8
RESUMO
A dinâmica das matas ciliares e de galeria de Mato Grosso ainda é pouco
conhecida. Este trabalho foi realizado ao longo de um gradiente topográfico na mata
de galeria do Córrego Bacaba, Parque Municipal do Bacaba (14º43’S e 52º21W) em
Nova Xavantina-MT. O objetivo foi comparar as mudanças na composição florística,
estrutura e dinâmica da vegetação em três porções da mata (alto, meio e baixo) em
sete anos. Foram demarcadas 141 parcelas de 10x10 m em 1999, onde todos os
indivíduos com CAP≥ 15 cm foram identificados e medidos. Em 2006, os mesmo
indivíduos foram remedidos, assim como os recrutas. Foram determinadas a
diversidade e a similaridade florística entre as porções de mata e os anos e as
espécies foram classificadas quanto aos grupos ecológicos. Em 2006, na porção do
alto foi registrada a nova ocorrência de uma família, cinco gêneros e cinco espécies.
Na meio foram três famílias, oito gêneros e nove espécies e no baixo, uma família,
sete gêneros e nove espécies. Comparada com 1999, a porção do baixo registrou
mais perdas. De forma geral, as famílias e gêneros com maior riqueza de espécies
foram os mesmos em 1999 e 2006. A diversidade de espécies foi elevada para as
três porções de mata nos dois períodos de amostragem. Quanto à diversidade e
composição de espécies as porções da mata do Bacaba diferem entre si,
confirmando que as matas de galeria e ciliares do Cerrado apresentam grande
heterogeneidade florística, mesmo em áreas geograficamente próximas. O
predomínio de espécies clímax exigentes de luz indica que a mata se encontra em
estágio intermediário de sucessão. As três porções de mata apresentaram
mudanças na estrutura da vegetação no período analisado. No baixo, a espécie com
maior IVI (Mauritia flexuosa) foi a mesma nos dois levantamentos. No alto, foi
registrada uma expressiva mudança na posição de Astrocaryum vulgare, que
passou a ser a mais importante em 2006. Esta espécie, típica de ambientes
antropizados, pode ser um indicativo de que esta porção tenha sido mais afetada
pela queimada que ocorreu em 2001. No baixo, a posição hierárquica de algumas
espécies pioneiras declinou em 2006, indicando que a vegetação encontra-se em
fase de fechamento pós-distúrbio. Estes aspectos reforçam que esta mata é
dinâmica, sendo resiliente em algumas porções e em relação a algumas populações
e resistente em outras. As três porções de mata apresentaram maior mortalidade do
que recrutamento no período amostrado. Os parâmetros registrados para esta mata
indicam um padrão mais dinâmico quando comparada a outras matas. O maior
incremento periódico anual foi registrado para Sclerolobium paniculatum. Os
incrementos de todas as espécies foram bastante variáveis. As diferenças
registradas na dinâmica desta mata nos levam a destacar a variabilidade em que os
processos operam em uma comunidade e o grau de heterogeneidade espacial que
9
estes processos produzem ao longo do tempo. Com base nos parâmetros florísticos,
estruturais e de dinâmica foi possível indicar algumas espécies para serem usadas
em iniciativas de recuperação de matas degradadas.
Palavras-chave: florística, fitossociologia, dinâmica florestal, mata de galeria.
10
ABSTRACT
Gallery forest dynamics is still little known in Mato Grosso State. This work was
conducted along a topographic gradient in the gallery forest of the Bacaba Stream, at
the Bacaba Municipal Park (14º43’S e 52º21W) in Nova Xavantina-MT. The objective
of the study was to compare the changes in the floristic composition, structure and
dynamics of the vegetation in three forest sections (upper, middle and lower) over a
seven-year period. In 1999, 141 nested 10 x10m plots were established in each
section and all individuals with CBH ≥ 15 cm were identified and measured. In 2006,
the same individuals were measured again, as well as the recruits. Diversity and
floristic similarity for the forest sections within and between years were calculated,
and the species were classified into ecological groups. In 2006 it was recorded a new
occurrence of one family, five genera and five species for the upper section. In the
middle section three families, eight genera and nine species were recorded, and in
the lower, one family, seven genera and nine species. Compared to 1999 the lower
section presented more tree loss. Overall, the families and genera with higher
species richness were the same in 1999 and 2006. Species diversity was high for the
three forest sections in both sampling periods. Bacaba’s forest sections were
different among them in relation to species diversity and composition, confirming that
Cerrado gallery forests present great floristic heterogeneity, even in geographically
closer areas. The predominance of light-demanding climax species indicates that the
forest is at the intermediate succession stage. The three forest sections presented
changes in the vegetation structure in the studied period. At the lower section the
species with higher IVI (Mauritia flexuosa) was the same in both surveys. At the
upper section it was recorded an expressive change in the position of Astrocaryum
vulgare, which became the most important in 2006. This species is typical of
anthropized environments and it can be an indicative that this section has been very
affected by the fire that occurred in 2001. At the lower section the hierarchical
position of some pioneer species declined in 2006, indicating that the vegetation is in
the post-disturbance phase. These aspects enhance the finding that this forest is
dynamic, being resilient in some portions and in relation to some populations, and
resistant in relation to others. The three forest sections presented mortality higher
than recruitment in the sampled period. The parameters recorded for this forest
indicates a more dynamic pattern when compared to other forests. The highest
annual increment was recorded for Sclerolobium paniculatum. The increment of all
species showed great variation. The differences observed regarding the forest
dynamics enhances the variability in which the process operate in a community and
the level of spatial heterogeneity that these process produce along the time. Based
11
on floristic, structural and dynamics parameters it was possible to indicate some
species suitable to be used in restoration initiatives of degraded forests.
Key words: Floristics, phytosociology, forest dynamics, gallery forest.
12
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do alto, Parque do
Bacaba, Nova Xavantina-MT........................................................................................
Figura 2. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do meio, Parque
do Bacaba, Nova Xavantina-MT...................................................................................
Figura 3. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do baixo, Parque
do Bacaba, Nova Xavantina-MT...................................................................................
Figura 1.1. Mapa hipsométrico da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova
Xavantina-MT. Porções Alto (1), Meio (2) e Baixo (3)................................................
Figura 1.2. Diagrama de Venn indicando o número de espécies em comum e
exclusivas de três porções do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Valores dentro
do círculo correspondem ao inventário realizado em 1999 (Marimon et al. 2002) e
valores dentro dos retângulos correspondem ao presente estudo (2006). N = número
de espécies......................................................................................................................
Figura 2.1. Dominância Relativa (DoR), Freqüência Relativa (FR) e Densidade
Relativa (DR), das 10 principais famílias (maior Índice de Valor de Importância) das
porções do alto, meio e baixo da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova
Xavantina-MT................................................................................................................
16
16
17
24
37
52
13
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1.1. Listagem de espécies amostradas no levantamento florístico realizado
em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova
Xavantina-MT. Sendo: P= Pioneiras, CL= Clímax exigentes de luz, CS= Clímax
tolerantes à sombra, A=Alto, M=Meio, B=Baixo e GE= Grupos ecológicos...............
Tabela 1.2. Valores apresentados para toda comunidade e para as porções da mata de
galeria do córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT, nos anos de 1999 e 2006. Sendo:
S= número de espécies, fam= número de famílias, G= número de gêneros, H’=
índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener, J’= equabilidade de Pielou.....
Tabela 1.3. Similaridade florística pelos índices de Sørensen e Morisita para as três
porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) no período de 2006 no Córrego
Bacaba, Nova Xavantina-MT........................................................................................
Tabela 1.4. Similaridade florística pelos índices de Sørensen e Morisita para as três
porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) entre os períodos de 1999 e 2006 no
Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT..........................................................................
Tabela 1.5. Valores de similaridade florística calculados pelo índice de Sørensen
entre a mata de galeria do Córrego Bacaba e outras áreas de mata de galeria ou ciliar
do bioma Cerrado. Sendo: IS = índice de Sørensen e H´= índice de diversidade de
espécies de Shannon-Wiener........................................................................................
Tabela 1.6. Número de espécies, indivíduos e valores de área basal (m2 ha-1) por
grupo ecológico das espécies nas três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba
nos períodos de 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT......................................................
Tabela 2.1. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥
5cm amostradas na porção do alto no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo:
DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta,
DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e
IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores
relativos (%). Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis na Tab.
1.1 (Cap. 1).....................................................................................................................
Tabela 2.2. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥
5cm amostradas na porção do meio no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT.
Sendo: DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância
absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência
relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e
valores relativos (%). Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis
na Tab. 1.1 (Cap. 1)........................................................................................................
Tabela 2.3. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥
5cm amostradas na porção do baixo no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT.
Sendo: DA= Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância
absoluta, DoR= Dominância relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência
relativa e IVI= Índice de valor de importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e
valores relativos (%). Autores das espécies e respectivas famílias estão disponíveis
na Tab. 1.1 (Cap. 1)........................................................................................................
Tabela 3.1. Parâmetros de dinâmica da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm) em três
porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e
2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: AB= área basal (m2 ha-1) e IPA= incremento
periódico anual (cm ano-1)...........................................................................................
Tabela 3.2. Número de espécies e indivíduos da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm)
que apresentaram mortalidade (Mort.) e recrutamento (Recr.) em três porções (alto,
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14
meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova
Xavantina-MT. Sendo: Clímax luz= espécies clímax exigentes de luz e Clímax
sombra= espécies clímax tolerantes à sombra. Valores percentuais entre parênteses...
Tabela 3.3. Parâmetros de dinâmica das árvores com maior IVI e acima de 10
indivíduos (DAP ≥ 5 cm) em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do
Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: m= taxa de
mortalidade (% ano-1), r= taxa de recrutamento (% ano-1), in= taxa anual de
incremento (% ano-1), p= taxa anual de perda (% ano-1), t1/2= tempo de meia vida
(anos), t2= tempo de duplicação (anos), TRo= taxa de rotatividade (indiv., % ano-1),
TRoAB= taxa de rotatividade (área basal, % ano-1), Sub= tempo de substituição
(anos), Est= estabilidade (anos), ABin= área basal de incremento (m2 ha-1), Abd=
área basal de decremento (m2 ha-1) e Abr= área basal de recrutas (m2 ha-1)..................
Tabela 3.4. Incremento periódico anual de diâmetro (IPA, cm ano-1) e coeficiente de
variação (CV, %) por espécie em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria
do Córrego Bacaba, entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. O CV foi calculado
apenas para as espécies representadas por no mínimo 10 indivíduos............................
88
90
15
1. INTRODUÇÃO GERAL
O Cerrado abriga uma grande riqueza florística e alta diversidade de espécies
devido a vários fatores que influenciam na distribuição da flora, como clima,
características químicas e físicas do solo, topografia, luz, profundidade do lençol
freático, freqüência de queimadas, entre outros (FELFILI, 1994; OLIVEIRA-FILHO &
RATTER, 1995; REZENDE, 1998; PINTO & OLIVEIRA-FILHO, 1999; MARIMON et
al., 2001, 2002, 2003; RATTER et al., 2003). Embora se reconheça a grande riqueza
florística e a alta diversidade de espécies do Cerrado, pouco se sabe sobre a
dinâmica de suas principais fitofisionomias (ARCE et al., 2000).
As matas de galeria do bioma Cerrado desempenham importante papel na
proteção de nascentes, no controle de erosão, na filtragem de resíduos e ainda
funcionam como zona tampão (FELFILI, 1994; REZENDE, 1998; PINTO &
OLIVEIRA-FILHO, 1999; VAN DEN BERG & OLIVEIRA-FILHO, 2000; RIBEIRO &
WALTER, 2001; MARIMON et al., 2002, 2003; ARANTES et al., 2003; SOUZA et al.,
2003; GUARINO & WALTER, 2005; DIETZSCH et al., 2006). Estudos de dinâmica
em matas de galeria são importantes, pois visam entender os processos de
crescimento, regeneração, recrutamento e mortalidade de espécies arbóreas
(FELFILI, 1993, 1994; WERNECK et al., 2000; PINTO & HAY, 2005; OLIVEIRA &
FELFILI, 2005), e através destes podemos estar indicando espécies para a
recuperação de áreas degradadas.
Ratter et al. (1997) mencionaram estudos demonstrando que as matas de
galeria apresentam maior diversidade de espécies de árvores e arbustos do que as
fitofisionomias vizinhas. Além disso, as matas de galeria apresentariam significativas
diferenças na composição florística ao longo do bioma Cerrado, representando uma
16
forte ligação com a Floresta Amazônica e a Floresta Atlântica, além de espécies
endêmicas (FELFILI, 1994; OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 1995; SILVA-JÚNIOR et
al., 1998; OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 2000).
Em matas de galeria na região central do Brasil foram identificadas
comunidades preferenciais por áreas úmidas e secas, além de comunidades
colonizadoras de clareiras e de áreas sob constantes perturbações, bem como
relacionadas ao tipo de solo e a fertilidade (FELFILI, 1993, 1995; MARIMON et al.,
2003). Estes estudos são essenciais para subsidiar estratégias de manejo e
iniciativas de recuperação dessas áreas (FELFILI, 1995; PINTO, 2002; MARIMON et
al., 2002, 2003;), principalmente no que tange à seleção de espécies certas para os
ambientes certos.
As diferentes condições de luminosidade e umidade que ocorrem nestas matas
propiciam uma grande variedade de microsítios e uma elevada diversidade de
espécies com distintos requerimentos ecológicos que ainda precisam ser estudados
a fim de se estabelecer modelos ou estratégias de recuperação (FELFILI, 1995;
SALGADO et al., 2001). Neste caso, a classificação das espécies em grupos
ecológicos é uma ferramenta essencial para a compreensão da sucessão ecológica
(PAULA et al., 2004). Outro fator que afeta o desenvolvimento das plantas é o fogo.
As queimadas aumentam as taxas de mortalidade das árvores, especialmente dos
indivíduos de menor diâmetro, diminuindo a densidade da vegetação e provocando
alterações significativas na sua estrutura (SATO & MIRANDA, 1996; HOFFMANN,
2001; KLINK et al., 2002).
Na cidade de Nova Xavantina, apesar das residências serem abastecidas por
água tratada, ainda há um bairro que recebe água não-tratada, provinda de um
pequeno córrego cujo ponto de captação situa-se no Parque Municipal do Bacaba,
17
atualmente sob os cuidados do Campus Universitário de Nova Xavantina. A água do
Córrego Bacaba, que abastece as residências do Bairro Olaria, é protegida por uma
mata de galeria que se distribui em quase toda a sua extensão. Em 2001, alguns
pontos da mata foram degradados em função de uma queimada ocorrida no mês de
julho. Esta queimada teve início em uma fazenda adjacente ao Parque, onde o
proprietário (pecuarista) costuma utilizar o fogo para renovar o pasto. Assim, a
manutenção da mata e a recuperação dos pontos degradados são de fundamental
importância não só para garantir a preservação de um importante manancial do
município, mas também para a conservação da fauna que depende das plantas
desta mata.
Neste contexto, visando conhecer as alterações da composição florística e da
estrutura da vegetação e avaliar os parâmetros de dinâmica da comunidade e de
algumas populações de espécies arbóreas da mata de galeria do Córrego Bacaba
(Figuras 1, 2 e 3), em um período de sete anos (1999-2006), é que propusemos o
presente estudo.
No município de Nova Xavantina, há agricultores que descaracterizaram as
matas de galeria em suas propriedades e que precisam, por força da lei ou por
iniciativa própria, recuperar estas Áreas de Proteção Permanente (APP´s). O grande
desafio é selecionar espécies de árvores ou arbustos que apresentem uma resposta
adequada para cada situação e indicá-las para uso na recuperação de matas de
galeria na região. Assim, o presente estudo foi realizado no sentido de ampliar o
conhecimento sobre as espécies e poder propor aquelas que apresentem as
melhores características para serem usadas em iniciativas de recuperação de matas
de galeria degradadas
18
Figura 1. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do alto, Parque
Municipal do Bacaba, Nova Xavantina-MT.
Figura 2. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do meio, Parque
Municipal do Bacaba, Nova Xavantina-MT.
19
Figura 3. Detalhes da mata de galeria do Córrego Bacaba, porção do baixo, Parque
Municipal do Bacaba, Nova Xavantina-MT.
20
2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAL
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componente herbáceo-arbustivo em um gradiente florestal da estação ecológica do
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MARIMON, B.S.; FELFILI. J.M.; LIMA, E.S. & RODRIGUES, A.J. Distribuição de
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24
Capítulo I
MUDANÇA NA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES EM TRÊS
PORÇÕES DA MATA DE GALERIA DO CÓRREGO BACABA (1999-2006),
NOVA XAVANTINA-MT
1.1 Introdução
Entre as diferentes formações do Cerrado temos as matas de galeria, caracterizadas por
associarem-se a cursos d’água de pequeno porte do Brasil Central (Ribeiro & Walter 1998).
Esta fitofisionomia tropical apresenta diferentes características particulares, tanto no aspecto
biótico como aquelas relacionadas ao seu ambiente físico, abrigando uma grande riqueza e
diversidade genética, além de desempenhar um importante papel na proteção dos recursos
hídricos, edáficos e na fauna silvestre (Felfili 1994; Rezende 1998; Pinto & Oliveira-Filho
1999; van den Berg & Oliveira-Filho 2000; Ribeiro & Walter 2001, Arantes et al. 2003;
Souza et al. 2003; Guarino & Walter 2005; Dietzsch et al. 2006).
As matas de galeria encontradas no Brasil Central são consideradas elos entre outras
grandes formações florestais no Brasil, apresentando uma flora arbórea diversificada, além de
espécies exclusivas (Felfili 1994; 1995; Oliveira-Filho & Ratter 2000). Algumas espécies
encontradas nessas matas sugerem a conexão com a Floresta Amazônica, Atlântica e a
floresta da Bacia do Rio Paraná (Felfili 1994; Silva-Júnior et al.1998; Oliveira-Filho & Ratter
2000). Neste caso, a interface das matas de galeria com outras formações vegetais adjacentes
também contribui para a composição florística e sua elevada diversidade, visto que algumas
espécies típicas de cerrado sentido restrito e cerradão também podem ser encontradas
colonizando as matas de galeria (Oliveira-Filho & Ratter 1995; Silva-Júnior et al. 1998; Pinto
& Oliveira-Filho 1999; Marimon et al. 2002; Oliveira & Schiavini 2003).
Mesmo com tamanha diversidade, abrigando cerca de 33% do número total de
espécies conhecidas para o bioma Cerrado, e uma ampla distribuição geográfica, as matas de
galeria recobrem uma superfície pequena na paisagem, apenas 5% em relação às demais
fitofisionomias (Felfili et al. 2001b; Lima & Zakia 2000). Apesar de sua grande importância
ecológica, estas matas vêm sofrendo uma diminuição em diversas partes do Brasil, causada
pela contaminação por produtos químicos utilizados em plantações, erosão através dos
25
desmatamentos para a expansão de pecuária e agricultura, além de danos resultantes de
atividades de mineração (Felfili 1994; 1995).
Neste contexto, é necessário conhecer melhor as matas de galeria para propor ações
adequadas para a manutenção, recuperação e manejo sem agredir sua biodiversidade (Lopes
& Schiavini 2003). Por meio de levantamentos florísticos, podemos adquirir conhecimentos
inicias sobre a flora de uma determinada área, sendo que a lista de espécies pode contribuir
também para outros estudos de comunidades. Além disso, a classificação quanto aos grupos
ecológicos das espécies é apontada como uma ferramenta essencial para a compreensão da
sucessão ecológica de uma fitofisionomia.
Estudos de fenologia, fitossociologia e dinâmica das populações e comunidades
(Felfili 1995; Mendes et al. 2003; Paula et al. 2004) são fundamentais para que se possam
conhecer melhor as características que envolvem a estrutura e o funcionamento das matas de
galeria. A classificação das espécies quanto aos grupos ecológicos pode estar diretamente
relacionada com a luminosidade associada ao respectivo estrato. Entretanto, algumas espécies
apresentam bastante plasticidade, podendo ser incluídas em mais de um grupo, assim como
também o número de grupos não apresenta apenas uma definição, podendo ser dividido em
três ou quatro, dependendo do critério utilizado (Swaine & Whitmore 1988, Werneck et al.
2000; Paula et al. 2004).
Diversos trabalhos têm sido realizados envolvendo uma, duas ou mais observações de
campo em diferentes intervalos de tempo, no intuito de proporcionar conhecimento das
espécies que ocorrem nessas áreas e sua dinâmica em diferentes regiões (Oliveira-Filho et al.
1990; Salis et al. 1994; Felfili 1994; 1995; Oliveira-Filho & Ratter 1995; van den Berg &
Oliveira-Filho 2000; Rodrigues & Nave 2000; Marimon et al. 2002; Paula et al. 2004;
Battilani et al. 2005; Guarino & Walter 2005; Pinto & Hay 2005; Oliveira & Felfili 2005;
Dietzsch et al. 2006; Oliveira-Filho et al. 2007). Estes estudos são importantes, pois somente
eles podem apontar alterações quanto à diversidade de espécies e estrutura das comunidades
entre diferentes períodos (Felfili 1995; Werneck et al. 2000; Pinto & Hay 2005; Oliveira &
Felfili 2005). O objetivo deste estudo foi analisar e descrever as alterações que ocorreram na
composição florística e na diversidade de espécies da mata de galeria do Córrego Bacaba,
localizada no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina-MT, em um período de sete
anos (1999 a 2006).
26
1.2 Material e métodos
Área de estudo - O trabalho foi realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata
de galeria do Córrego Bacaba (14º 41’ 25’’S e 52º 20’ 55’’W), no Parque Municipal do
Bacaba em Nova Xavantina, Mato Grosso (Fig. 1.1). A mata ocupa cerca de 40 ha dos 492 ha
do Parque e desempenha um papel importante, pois protege a água do Córrego Bacaba, que
abastece um bairro carente do município, sem tratamento prévio. A altitude média da área de
estudo é de 346 m, o clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, com
precipitação anual de 1.300 a 1.500 mm, e temperatura média mensal de 25ºC (Marimon et al.
2003).
Figura 1.1. Localização e mapa hipsométrico da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova
Xavantina-MT. Porções Alto (1), Meio (2) e Baixo (3).
27
A porção do alto apresenta uma declividade média de 42%, com presença de
afloramentos rochosos de quartzito e ocorrência de enchentes sazonais com drenagem rápida.
O meio apresenta declividade de aproximadamente 32%, com afloramentos rochosos e em
locais com menor declividade o lençol freático aflora no período chuvoso e o baixo, com
reduzida declividade (cerca de 5%), não apresenta afloramentos rochosos e a drenagem do
solo é deficiente (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). Em julho de 2001 foi registrada uma
queimada no Parque, que também atingiu parte da mata de galeria do Córrego Bacaba. O fogo
que adentrou no Parque originou-se de uma fazenda adjacente, visto que os pecuaristas locais
utilizam as queimadas no período da seca para renovar o pasto.
Amostragem da vegetação - No ano de 1999 foram estabelecidas pelo método de
parcelas fixas (Philip 1994) 141 parcelas permanentes de 10x10m visando uma caracterização
fitossociológica e estrutural da vegetação (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). As parcelas
foram posicionadas contínua e sistematicamente, atravessando perpendicularmente o córrego
e cobrindo toda a área ocupada pela mata até seu encontro com o cerrado stricto sensu. Foram
demarcadas 47 parcelas perpendiculares ao córrego em cada porção (alto, meio e baixo).
Em 1999, todas as árvores, arvoretas, palmeiras, lianas ou indivíduos mortos em pé
com CAP (circunferência à altura do peito) ³ 15cm foram identificados e medidos (Marimon
et al. 2002). No presente estudo (2006), todos os indivíduos amostrados no primeiro
inventário e aqueles que atingiram a circunferência mínima (³ 15cm) de inclusão (recrutas)
foram registrados e identificados.
Coleta e identificação das espécies - Para cada espécie amostrada foi coletado, no
mínimo, um número de herbário (Voucher) para comprovar sua identificação. Por um período
mínimo de um ano (Dez/2006 a Dez/2007) foram realizadas visitas quinzenais às parcelas
onde foram coletadas todas as espécies encontradas com material reprodutivo. Foram
coletadas no mínimo quatro duplicatas para compor a coleção do Herbário NX e permitir o
envio a especialistas. Considerando que no primeiro inventário foi utilizado o sistema de
classificação de Cronquist (1988), optou-se por adotar o mesmo sistema no presente estudo,
permitindo posterior comparação de dados. Os nomes das espécies foram conferidos em
MOBOT (2007).
Diversidade Florística e Grupos Ecológicos - Para avaliar a diversidade florística da
mata e das diferentes porções amostradas (alto, meio e baixo), foram utilizados os índices de
diversidade de espécies de Shannon-Wiener (H’) e de Simpson (1/Ds) (Magurran 1988). O
índice de Shannon-Wiener é não-paramétrico e baseia-se na abundância proporcional das
espécies. Os valores de H' geralmente estão entre 1,3 e 3,5 podendo alcançar em torno de 4,5
28
em ambientes tropicais e o índice de Simpson é uma medida que dá mais importância às
espécies comuns (Felfili & Rezende 2003). Para avaliar a equabilidade foi utilizado o índice
de Pielou (J) de acordo com Ludwig & Reynolds (1988). O valor de J varia entre 0 e 1, sendo
que o valor máximo significa que todas as espécies possuem a mesma abundância (Magurran
1988). Os resultados do índice de Shannon-Wiener, determinados para cada porção da mata,
foram comparados entre si e com os resultados do primeiro inventário (Marimon et al. 2001;
2002; 2003), utilizando-se o teste t de Hutcheson (Zar 1999). Para realizar os cálculos de H' e
J foi utilizado o programa FITOPAC 1 (Shepherd 1994).
Para avaliar a similaridade florística entre as porções da mata e entre os dois períodos
de amostragem, foram utilizados os índices de Sørensen e Morisita (Brower & Zar 1977). O
Índice de Sørensen, que é qualitativo, baseia-se na presença ou ausência de espécies e dá mais
importância às espécies comuns do que às exclusivas. O índice de Morisita é quantitativo e
baseia-se na abundância das espécies (Müeller-Dombois & Ellenberg 1974; Brower & Zar
1977). Os valores dos índices variam entre 0 e 1, sendo que valores maiores do que 0,5
indicam alta similaridade entre as áreas comparadas (Kent & Coker 1992; Felfili & Rezende
2003; Fonseca & Silva-Júnior 2004).
As espécies também foram classificadas quanto ao grupo ecológico (clímax tolerante à
sombra, clímax exigente de luz e pioneira) e a classificação foi baseada nas características
apresentadas pelos indivíduos jovens e adultos e por meio de consultas às bibliografias
especializadas (Swaine & Whitmore 1988; Oliveira-Filho et al. 1994; Pinto & Hay 2005).
1.3 Resultados e discussão
Composição florística e riqueza de espécies - No levantamento geral de 2006, foram
encontradas 135 espécies, 113 gêneros e 49 famílias (Tab.1.1). Apenas 11 foram identificadas
somente até gênero, representando 8,1% do total de espécies.
As famílias e gêneros com maior riqueza de espécies foram: Fabaceae (10 espécies),
Rubiaceae (8), Apocynaceae (8), Caesalpiniaceae (8), Mimosaceae (7) e Bignoniaceae (6). Os
gêneros foram: Aspidosperma, Bauhinia, Diospyros, Licania e Myrcia, com três espécies
cada. Marimon et al. (2002) registraram as mesmas famílias e gêneros como os mais
importantes no levantamento realizado na mesma mata em 1999. Além dessas, as famílias
Chrysobalanaceae (5 espécies), Annonaceae (5), Myrtaceae (5) e Bignoniaceae (6) também
29
apresentaram um número significativo de espécies no levantamento de 2006, podendo ser
citadas entre as mais importantes.
Em um estudo realizado por Silva-Júnior et al. (1998), no qual foi comparada a
composição florística de 15 matas de galeria no Distrito Federal, as famílias Annonaceae,
Fabaceae, Mimosaceae, Caesalpiniaceae, Myrtaceae e Rubiaceae foram apontadas entre as de
maior riqueza. Rodrigues & Nave (2000), quando compilaram os dados de 43 levantamentos
florísticos e fitossociológicos de florestas ciliares do Brasil extra-amazônico, apontam estas
famílias como as que apresentaram maior riqueza de espécies. Estudos realizados por Felfili
(1994; 1995), Battilani et al. (2005) e Dietzsch et al. (2006) também registraram as mesmas
famílias como sendo as de maior riqueza.
Na mata de galeria do Córrego Bacaba, a família Fabaceae apresentou 7,4% de todas
as espécies amostradas, Rubiaceae, Apocynaceae e Caesalpiniaceae apresentaram 5,9% cada,
Mimosaceae 5,2% e Bignoniaceae 4,4%. Felfili et al. (2001b), quando analisaram a flora
fanerogâmica das matas de galeria e ciliares do Brasil Central, registraram para
Caesalpiniaceae, Mimosaceae e Fabaceae, 9,2% das espécies encontradas, Rubiaceae com
5,3%, Apocynaceae 2,3% e Bignoniaceae 2,1%, valores próximos aos encontrados no
presente estudo.
Silva-Júnior et al. (2001), com base em trabalhos realizados em 21 matas de galeria no
Distrito Federal, observaram que as famílias Rubiaceae, Myrtaceae e Annonaceae estiveram
presentes em todos os levantamentos, Caesalpiniaceae e Mimosaceae estiveram presentes em
95,2% das áreas estudadas, Apocynaceae em 90,5%, Fabaceae em 81% e Bignoniaceae em
76,2% das áreas. Este fato reforça que as famílias mais representativas da mata de galeria do
Córrego Bacaba também apresentam grande distribuição e riqueza nas matas de galeria e
ciliares do Brasil Central.
Segundo Goodland (1979), Leguminosae (incluindo Fabaceae, Mimosaceae e
Caesalpiniaceae) é considerada uma das famílias mais importantes nas formações florestais do
bioma Cerrado, justificando seu predomínio à sua capacidade de fixação de nitrogênio
apresentada por várias de suas espécies, o que pode representar uma vantagem competitiva,
principalmente nos solos pobres do Brasil Central. Polhill et al. (1981) também observaram
que o predomínio desta família pode estar relacionado ao fato da região central do Brasil ser
considerada o principal centro de diversificação de Leguminosae. Para Felfili et al. (2001b),
Myrtaceae e Rubiaceae também se apresentam entre as famílias com maior riqueza de
espécies tanto em ambientes savânicos quanto florestais. Além disso, Myrtaceae possui cerca
30
de 3% das espécies de plantas do mundo (Mabberley 1997) e é uma das famílias de destaque
no Cerrado (Mendonça et al. 1998).
Os gêneros Aspidosperma e Myrcia também apresentaram o maior número de
espécies em uma mata de galeria do Distrito Federal (Felfili 1994). No trabalho realizado por
Silva-Júnior et al. (2001) Myrcia esteve presente em 81% das áreas estudadas pelo referido
autor, apresentando 16 diferentes espécies, Aspidosperma esteve presente em 76% das áreas
com sete espécies, Licania, Diospyros e Bauhinia em 67% das áreas, com duas ou três
espécies cada. No trabalho de Felfili et al. (2001b), tal como foi registrado no presente estudo,
a média do número de espécies por gênero também foi de aproximadamente três, denotando
assim a alta diversidade genética das matas associadas aos cursos de água do Cerrado.
Comparando-se o presente estudo (2006) com o levantamento de 1999 (Marimon et al.
2002), foram registradas para a mata de galeria do Córrego Bacaba 12 novas ocorrências de
espécies (Arrabidaea sp. Banisteriopsis sp., Callichlamys sp., Dimorphandra mollis, Guapira
graciliflora, Marcgravia sp., Secondatia densiflora, Strychnos sp., Trichilia pallida,
Tocoyena formosa e Trema micrantha), sendo dez novas ocorrências de gêneros
(Banisteriopsis, Callichlamys, Dimorphandra, Guapira, Marcgravia, Secondatia, Strychnos,
Tocoyena e Trichilia) e cinco novas ocorrências de famílias (Ulmaceae, Nyctaginaceae,
Loganiaceae, Meliaceae e Marcgraviaceae). Em contrapartida, desapareceram seis espécies
(Doliocarpus dentatus, Tococa formicaria, Paragonia pyramidata, Abuta grandifolia,
Agonandra brasiliensis e Ficus sp2), cinco gêneros (Doliocarpus, Tococa, Paragonia, Abuta
e Agonandra) e três famílias (Menispermaceae, Opiliaceae e Melastomataceae).
Tabela 1.1. Listagem de espécies amostradas no levantamento florístico realizado em três
porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT.
Sendo: P= Pioneiras, CL= Clímax exigentes de luz, CS= Clímax tolerantes à sombra, A=Alto,
M=Meio, B=Baixo e GE= Grupos ecológicos.
ESPÉCIES
Acosmium sp.
Aiouea saligna Meisn.
Alibertia elliptica (Cham.) K. Schum.
Amaioua guianensis Aubl.
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Andira vermifuga Mart. ex Benth
Apeiba tibourbou Aubl.
Apuleia leiocarpa (Vog.) Macbr.
Arrabidaea brachypoda (DC.) Bur
Arrabidaea sp.
Aspidosperma macrocarpon Mart.
Aspidosperma subincanum Mart.
FAMÍLIA
GE
Fabaceae
Lauraceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Mimosaceae
Fabaceae
Tiliaceae
Caesalpiniaceae
Bignoniaceae
Bignoniaceae
Apocynaceae
Apocynaceae
CL
CL
CS
CL
P
CL
CL
CL
P
P
CL
CS
A
M
X
X
X
X
X
B
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
31
(Continuação Tabela 1.1)
ESPÉCIES
Aspidosperma tomentosum Mart.
Astrocaryum vulgare Mart.
Astronium fraxinifolium Schott.
Banisteriopsis sp.
Bauhinia longifolia D.Dietr.
Bauhinia outimouta Aubl.
Bauhinia sp.
Bowdichia virgilioides Kunth
Byrsonima laxiflora Griseb.
Callichlamys sp.
Callisthene fasciculata Mart.
Calophyllum brasiliense Cambess
Cariniana rubra Gardner ex Miers
Casearia arborea (Rich.) Urb.
Casearia sylvestris Sw.
Cecropia pachystachya Trécul
Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm.
Combretum vernicosum Rusby
Campomanesia eugenioides (Cambess.)D. Legrand
Copaifera langsdorffii Desf.
Cordia glabrata (Mart.) A. DC.
Cordia sellowiana Cham.
Coussarea platyphylla Müll. Arg.
Curatella americana L.
Cuspidaria sp.
Davilla elliptica A.St-Hil.
Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch
Dilodendron bipinnatum Radlk.
Dimorphandra mollis Benth.
Dioclea glabra Benth.
Dioclea virgata (Rich.) Amshoff
Diospyros hispida A.DC.
Diospyros obovata Jacq.
Diospyros sericea A.DC.
Dipteryx alata Vogel
Duguetia marcgraviana Mart.
Emmotum nitens (Benth.) Miers
Endlicheria lhotzkyi (Nees) Mez.
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong
Ephedranthus parviflorus S. Moore
Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns
Erythroxylum daphnites Mart.
Eugenia aurata O. Berg.
Ficus cf. enormis (Mart. ex Miq) Mart.
Ficus sp.
Genipa americana L.
Guapira graciliflora (Schmidt) Lundell
Guazuma ulmifolia Lam.
Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl.
Hancornia speciosa Gomes
Hieronyma alchorneoides Allemão
FAMÍLIA
GE
Apocynaceae
Arecaceae
Anacardiaceae
Malpighiaceae
Caesalpiniaceae
Caesalpiniaceae
Caesalpiniaceae
Fabaceae
Malpighiaceae
Bignoniaceae
Vochysiaceae
Clusiaceae
Lecythidaceae
Flacourtiaceae
Flacourtiaceae
Cecropiaceae
Hippocrateaceae
Combretaceae
Myrtaceae
Caesalpiniaceae
Boraginaceae
Boraginaceae
Rubiaceae
Dilleniaceae
Bignoniaceae
Dilleniaceae
Araliaceae
Sapindaceae
Mimosaceae
Fabaceae
Fabaceae
Ebenaceae
Ebenaceae
Ebenaceae
Fabaceae
Annonaceae
Icacinaceae
Lauraceae
Mimosaceae
Annonaceae
Bombacaceae
Erythroxylaceae
Myrtaceae
Moraceae
Moraceae
Rubiaceae
Nyctaginaceae
Sterculiaceae
Rubiaceae
Apocynaceae
Euphorbiaceae
CL
P
CL
P
CL
CL
CL
P
CL
P
CS
CS
CS
CS
CL
P
CS
CL
CL
CS
P
P
CL
CL
P
P
CL
P
CL
P
P
CL
CS
CL
CL
CS
CL
CS
CL
CL
CL
CS
CL
CL
CS
CS
CL
CL
CL
CL
CL
A
M
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
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X
X
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X
X
X
X
X
X
X
X
B
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
32
(Continuação Tabela 1.1
ESPÉCIES
Himatanthus bracteatus (A.DC.) Woodson
Himatanthus obovatus (Müell. Arg.) Woodson
Hirtella glandulosa Spreng.
Hirtella gracilipes (Hook.f.) Prance
Hymenaea courbaril L.
Ilex affinis Gardner
Inga heterophylla Willd.
Inga thibaudiana DC.
Jacaranda cuspidifolia Mart.
Kielmeyera rubriflora Cambess.
Licania apetala (E. Mey) Fritsch
Licania blackii Prance
Licania gardneri (Hook.f.) Fritsch
Luehea candicans Mart.
Mabea pohliana (Benth.) Müll. Arg.
Machaerium acutifolium Vogel
Machaerium sp.
Magonia pubescens A. St.-Hil.
Marcgravia sp.
Matayba guianensis Aubl.
Mauritia flexuosa L.f.
Mauritiella armata (Mart.) Burret
Maytenus cf. floribunda Reissek
Micropholis venulosa (Mart.& Eichler) Pierre
Mimosa laticifera Rizzini & A. Mattos
Moutabea excoriata Mart. ex. Miq
Myrcia tomentosa (Aubl.) DC.
Myrcia amazonica DC.
Myrcia sellowiana O. Berg.
Odontadenia spoliata Malme
Oenocarpus distichus Mart.
Ormosia coarctata Jacks.
Ouratea castaneifolia (DC.) Engl.
Peltogyne confertiflora (Mart. ex Hayne) Benth.
Physocalymma scaberrimum Pohl.
Plathymenia reticulata Benth.
Platypodium elegans Vogel.
Posoqueria aff. macropus Mart.
Pouteria gardneri (Mart. & Miq.) Baehni
Pouteria torta (Mart.) Radlk.
Protium heptaphyllum (Aubl.)Marchand
Protium spruceanum (Benth.) Engl.
Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A. Robyns
Pseudolmedia laevigata Trécul
Psychotria carthagenensis Jacq.
Qualea multiflora Mart.
Salacia elliptica (Mart. ex Schult.) G. Don
Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin
Sclerolobium paniculatum Vogel.
Secondatia densiflora A.DC.
Serjania glutinosa Radlk.
FAMÍLIA
Apocynaceae
Apocynaceae
Chrysobalanaceae
Chrysobalanaceae
Caesalpiniaceae
Aquifoliaceae
Mimosaceae
Mimosaceae
Bignoniaceae
Clusiaceae
Chrysobalanaceae
Chrysobalanaceae
Chrysobalanaceae
Tiliaceae
Euphorbiaceae
Fabaceae
Fabaceae
Sapindaceae
Marcgraviaceae
Sapindaceae
Arecaceae
Arecaceae
Celastraceae
Sapotaceae
Mimosaceae
Polygalaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Myrtaceae
Apocynaceae
Arecaceae
Fabaceae
Ochnaceae
Caesalpiniaceae
Lythraceae
Mimosaceae
Fabaceae
Rubiaceae
Sapotaceae
Sapotaceae
Burseraceae
Burseraceae
Bombacaceae
Moraceae
Rubiaceae
Vochysiaceae
Hippocrateaceae
Araliaceae
Caesalpiniaceae
Apocynaceae
Sapindaceae
GE
CL
P
CL
CL
CS
CL
CL
CL
CL
CS
CL
CS
CS
CS
P
CL
CL
P
CL
CL
CL
CL
CS
CL
P
CS
CL
CS
CL
P
CL
CS
CS
CS
CL
P
P
CS
CS
CL
CL
CS
CL
CL
CS
CL
CL
CL
CL
CL
P
A
X
X
X
X
X
X
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X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
M
X
X
X
B
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
33
(Continuação Tabela 1.1
ESPÉCIES
Sorocea guilleminiana Gaudich.
Sterculia speciosa K. Schum.
Sterculia striata A. St.-Hil & Naudin
Strychnos sp.
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex.DC.) Standl.
Tapirira guianensis Aubl.
Tapura amazonica Poepp.
Tetragastris altissima (Aubl.) Swart.
Tetrapterys glabra (Spreng.) Griseb.
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K. Schum.
Trema micrantha (L.) Blume
Trichilia pallida Sw.
Unonopsis lindmanii R.E. Fr.
Virola urbaniana Warb.
Vismia sp.
Vitex polygama Cham.
Vochysia haenkeana Mart.
Xylopia aromatica (Lam.) Mart.
Xylopia emarginata Mart.
Zanthoxylum cf. riedelianum Engl.
FAMÍLIA
Moraceae
Sterculiaceae
Sterculiaceae
Loganiaceae
Bignoniaceae
Anacardiaceae
Dichapetalaceae
Burseraceae
Malpighiaceae
Rubiaceae
Ulmaceae
Meliaceae
Annonaceae
Myristicaceae
Clusiaceae
Verbenaceae
Vochysiaceae
Annonaceae
Annonaceae
Rutaceae
GE
CS
CL
CL
P
CL
P
CS
CS
P
CL
P
CS
CS
CL
CL
P
CL
P
CL
CL
A
X
X
X
X
X
X
M
B
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Na porção do alto, em 2006, foram amostradas 77 espécies, distribuídas em 67 gêneros
e 38 famílias, sendo duas novas ocorrências de famílias (Flacourtiaceae e Marcgraviaceae),
cinco espécies e cinco gêneros (Banisteriopsis sp., Casearia arborea, Dimorphandra mollis,
Marcgravia sp. e Sorocea guilleminiana) (Tab. 1.2) em relação a 1999 (Marimon et al. 2002).
As famílias com maior riqueza de espécies na porção do alto em 2006 foram Apocynaceae (5
espécies), Caesalpiniaceae (5), Chrysobalanaceae (5) e Rubiaceae (5). Doliocarpus dentatus e
Tococa formicaria e a família Melastomataceae, presentes no levantamento de 1999 não
foram encontradas no alto em 2006.
Na porção do meio, em 2006, foram amostradas 88 espécies, distribuídas em 76
gêneros e 40 famílias. Comparado ao levantamento de 1999, foi registrada a ocorrência de
quatro novas famílias (Nyctaginaceae, Loganiaceae, Malpighiaceae e Meliaceae), nove
espécies e oito gêneros (Byrsonima, Guapira, Odontadenia, Ormosia, Salacia, Secondatia,
Strychnos e Trichilia). Sete espécies, cinco gêneros e duas famílias presentes em 1999 não
foram encontrados em 2006 (Tab. 1.2).
Na porção do baixo foram encontradas em 2006, 71 espécies, distribuídas em 62
gêneros e 38 famílias. Houve a ocorrência de apenas uma nova família (Ulmaceae), sete
gêneros e nove espécies (Tab. 1.2). Comparada ao levantamento de 1999 (Marimon et al.
2002), a porção do baixo perdeu 15 espécies: Abuta grandifolia, Agonandra brasiliensis,
34
Aiouea saligna, Alibertia elliptica, Astronium fraxinifolium, Diospyros sericea, Ficus cf.
enormis, Ficus sp.2, Hieronyma alchorneoides, Posoqueria aff. macropus, Protium
spruceanum, Pseudolmedia laevigata, Sorocea klotzschiana, Tabebuia impetiginosa e Tococa
formicaria. Quanto aos gêneros, 12 não foram registrados em 2006 e quatro famílias
desapareceram: Menispermaceae, Opiliaceae, Moraceae e Melastomataceae.
A porção do baixo foi a que apresentou maior variação, pois o surgimento de gêneros
e espécies não superou a perda. Nesta porção, o relevo é mais plano e o lençol freático tende a
permanecer aflorado ou próximo à superfície mesmo no período seco (Marimon et al. 2003).
Neste caso, é possível que poucas espécies estejam adaptadas a tais condições ambientais.
Segundo Rezende (1998), as matas de galeria encontram-se em transição quanto ao tipo de
solo e gradiente de umidade dos mesmos, sendo que geralmente a umidade determina o tipo
de vegetação, indicando e selecionando espécies adaptadas ao meio. No caso da porção do
baixo, apenas as espécies tolerantes a solos encharcados ou sujeitos às inundações temporárias
seriam selecionadas.
Analisando-se os resultados quanto ao surgimento e desaparecimento de espécies entre
os estudos realizados em 1999 e 2006, verificou-se que, no geral, 5,2% das espécies
registradas no primeiro inventário não foram encontradas no segundo, sendo que a porção do
alto teve uma perda de 2,8% de espécies, o meio perdeu 7,9% e o baixo 22,5%. Quanto a nova
ocorrência de espécies em relação aos dois levantamentos (1999 e 2006) no geral, em 2006,
houve um aumento de 8,9% de espécies, sendo que na porção do alto foram registradas 6,5%,
no meio 10,2% e no baixo, 12,7%. De maneira geral, a nova ocorrência de espécies em
inventários recorrentes numa mesma área, com curtos intervalos de tempo entre cada
medição, varia de 3 a 13% e o desaparecimento entre 0 e 8% (Pinto & Hay 2005).
Os elevados percentuais de desaparecimento registrados na mata do Córrego Bacaba
excederam os valores sugeridos por Pinto & Hay (2005) em pelo menos duas das três porções
avaliadas no presente estudo. Este fato pode estar relacionado ao histórico de fogo registrado
na mata em 2001. Neste caso, o fogo que atingiu parte da mata pode ter alterado a dinâmica
da comunidade, pois entre as novas ocorrências de espécies registradas nas três porções, a
maioria são de espécies secundárias (Ex: Salacia elliptica, Trichilia pallida e Trema
micrantha), típicas de áreas em processo de renovação após algum distúrbio (Lorenzi 1992;
1998; Rezende 1998). Entre as espécies com nova ocorrência, também foram registradas três
lianas (Marcgravia sp., Banisteriopsis sp. e Odontadenia spoliata) e algumas típicas de
cerrado e cerradão (Dimorphandra mollis, Byrsonima laxiflora e Guapira graciliflora)
(Lorenzi, 1992; 1998; Rezende 1998).
35
Sendo assim, supõe-se que estas porções de mata estão sob impacto do efeito de borda
pela presença de lianas nas clareiras abertas pelo fogo e permitindo a entrada de espécies de
cerrado e cerradão. Felfili (1997a, b) observou que queimadas ocasionais que atingem as
bordas das matas de galeria tornam a comunidade vulnerável à propagação de invasoras,
dificultando a colonização de espécies florestais. Oliveira & Felfili (2005) classificam as
espécies de borda como sendo as mais resistentes a estresses ocasionais como as queimadas,
sendo elas as mais indicadas para a revegetação de fragmentos florestais degradados sujeitos a
distúrbios como o fogo. Entretanto, apesar das matas de galeria serem consideradas
comunidades estáveis e auto-regenerativas, diferenças florísticas nas bordas são esperadas,
uma vez que essas áreas estão mais expostas a fatores como o vento, luz e fogo (Felfili et al.
2001a; Oliveira & Felfili 2005).
Tabela 1.2. Valores apresentados para toda comunidade e para as porções da mata de galeria
do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT, nos anos de 1999 e 2006. Sendo: S= número de
espécies, fam= número de famílias, G= número de gêneros, H’= índice de diversidade de
espécies de Shannon-Wiener, J= equabilidade de Pielou.
Alto
Ano do inventário:
Espécies
Famílias
Gêneros
Perda de S (fam)
Ganho de S (fam)
Perda de G
Ganho de G
H' (nats ind.-1)
J
1/DS (Simpson)
1999
74
37
64
3,84
0,89
34,57
Meio
2006
77
38
67
2 (1)
5 (2)
2
5
3,66
0,84
21,28
1999
86
38
73
4,08
0,91
49,09
2006
88
40
76
7 (2)
9 (4)
5
8
4,02
0,90
43,95
Baixo
1999
2006
77
71
41
38
67
62
15 (4)
9 (1)
12
7
3,57
3,46
0,82
0,81
24,03
19,95
Total
1999
129
47
108
4,21
0,87
48,32
2006
135
49
113
6 (3)
12 (5)
5
10
4,10
0,83
35,55
Diversidade e similaridade - Foram encontrados valores de H’ elevados para as três
porções de mata nos dois períodos de amostragem, sendo que em 1999 os valores variaram de
3,57 a 4,08 nats ind.-1 (Marimon et al. 2002) e em 2006 de 3,66 a 4,02, com uma pequena
variação entre os dois estudos (Tab. 1.2). Os valores da equabilidade também permaneceram
elevados nas três porções, sendo que em 1999 estiveram entre 0,82 e 0,91 (Marimon et al.
2002) e em 2006 entre 0,82 e 0,90 (Tab. 1.2). Os valores de H’ determinados para as três
porções da mata de galeria do Córrego Bacaba em 2006 e comparados pelo teste t de
Hutcheson mostraram que as áreas diferem entre si quanto a diversidade de espécies (P<
0,05). Entretanto, quando comparados os valores de H’ entre os levantamentos de 1999 e
2006, verificou-se que somente a diversidade de espécies da porção do alto diferiu entre os
36
dois períodos amostrados (t0,05(2),146= 2,54, P< 0,05). Esta diferença de diversidade de espécies
registrada para a porção do alto, que foi menor em 2006 (Tab. 1.2), também pode ser um
reflexo dos efeitos negativos da queimada ocorrida em 2001.
O índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) da porção do baixo apresentou o
menor valor, tanto em 1999 quanto em 2006 (Tab. 1.2). Segundo Haridasan (1998), solos
alagados e com drenagem deficiente tendem a apresentar uma diversidade menor que solos
bem drenados, sendo que em casos extremos estão os buritizais. No presente estudo, somente
na porção do baixo houve a ocorrência de Mauritia flexuosa (buriti), espécie típica de áreas
alagadas e mal drenadas (Oliveira-Filho & Ratter 1995).
De forma geral, os solos encharcados de algumas matas de galeria apresentam baixos
níveis de oxigênio, restringindo a respiração das raízes das plantas, que são obrigadas a adotar
estratégias para garantir sua sobrevivência durante os períodos de inundações. Como
exemplo, Tapirira guianensis, com raízes escoras e Mauritia flexuosa com pequenas raízes
aéreas (Oliveira-Filho et al. 1990), que também ocorreram na porção do baixo da mata do
Bacaba. Joly (1991) observou que, dependendo da duração de um alagamento em uma
floresta, o impacto é evidente na diversidade de espécies e Almeida et al. (2004) registraram
que em áreas inundáveis o grau de resiliência pode ser baixo, o que causaria a perda da
cobertura vegetal.
Nas matas de galeria do Brasil Central os índices de diversidade (H’) variam de 2,27
até 4,45 nats ind-1, geralmente com valores entre 3,6 e 4,2, sendo os índices mais baixos
observados em matas de galeria inundáveis (Guarino & Walter 2005). Silva-Júnior et al.
(1998) registraram os maiores valores de diversidade de espécies em matas localizadas em
solos bem drenados. Em estudos realizados em matas de galeria sobre solos bem drenados na
Chapada dos Guimarães-MT, em Brasília-DF e Jardim-MS, também foram encontrados
valores elevados para o índice de diversidade de espécies, variando de 3,3 a 4,3 nats ind-1
(Oliveira-Filho 1989; Felfili 1994; 1995; Pinto & Hay 2005; Battilani et al. 2005; Dietzsch et
al. 2006). Os valores registrados nas três porções e em toda a mata de galeria do Bacaba (Tab.
1.2) estão entre os valores e padrões sugeridos para as matas de galeria do Brasil Central.
O estudo realizado na mata de galeria do Córrego Bacaba apresentou espécies em
comum com levantamentos realizados na Floresta Atlântica e Amazônica (Rolim et al. 1999;
Oliveira-Filho et al. 2004; Ivanauskas et al. 2004) destacando-se: Amaioua guianensis,
Apuleia leiocarpa, Copaifera langsdorffii, Cordia sellowiana, Inga thibaudiana, Micropholis
venulosa, Protium heptaphyllum, Schefflera morototoni, Siparuna guianensis e Unonopsis
lindmanii. As mesmas espécies também foram encontradas em outras matas de galeria do
37
Brasil Central (Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto & Hay 2005; Guarino & Walter 2005).
Comparações como estas reforçam a afirmação de que as matas de galeria e ciliares do Brasil
Central apresentam conexão com a Floresta Amazônica e Atlântica, além de contribuir para
sua diversidade (Felfili 1994; Silva-Júnior et al. 1998; Pinto & Oliveira-Filho 1999). OliveiraFilho & Ratter (1995) realizaram uma avaliação da composição florística das matas ciliares do
Brasil Central, compararam com outros grandes grupos de florestas e observaram que 77% de
espécies são compartilhadas com as Florestas Ombrófilas Amazônicas e com a Floresta
Atlântica sensu lato.
Assim como há espécies comuns entre a Floresta Amazônica, Atlântica e matas
ciliares do Brasil Central, há também espécies que ocorrem somente nas matas ciliares do
Brasil Central e na Floresta Amazônica, como é o caso de Mauritia flexuosa, Xylopia
emarginata e Vochysia haenkeana. As duas primeiras espécies são características de matas
ciliares brejosas e veredas do Cerrado, dependentes de solos saturados e consideradas por
alguns autores (Oliveira-Filho 1989; Oliveira-Filho & Ratter 1995, Oliveira-Filho & Ratter
2000) como as espécies mais típicas das matas ciliares do Brasil Central. Em contrapartida,
também existem espécies que ocorrem nas matas ciliares e que são compartilhadas somente
com a Floresta Atlântica, um exemplo encontrado em nosso estudo é Diospyros hispida,
espécie exigente de solos melhor drenados, com pouca fertilidade, sendo comum também em
áreas de cerrado stricto sensu e cerradão (Oliveira-Filho 1989; Oliveira-Filho & Ratter 1995,
Oliveira-Filho & Ratter 2000). Neste caso, a conectividade que as matas ripárias do Brasil
Central apresentam com as duas maiores formações florestais brasileiras por intermédio dos
corredores dendríticos contribui para uma maior diversidade das mesmas (Oliveira-Filho &
Ratter 1995; Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto & Hay 2005).
Estudos realizados em matas de galeria no Distrito Federal (Felfili 1994; 1995;
Dietzch et al. 2006), em Mato Grosso (Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto & Hay 2005;
Marimon et al. 2002) e em Mato Grosso do Sul (Battilani et al. 2005) mostraram que os
valores da equabilidade foram similares, apresentando uma distribuição uniforme das espécies
e baixa dominância ecológica em todas essas matas. A menor equabilidade registrada na
porção do baixo, na mata do Bacaba, provavelmente se deve pela presença expressiva dos
buritis (Mauritia flexuosa).
Neste caso, a menor equabilidade da porção do baixo também contribuiu para o menor
valor de H’ (Tab. 1.2). Além disso, o encharcamento do solo (Marimon et al. 2003) deve ser
um fator limitante para muitas espécies nesta porção. O regime hídrico influenciado pela
topografia e condições microclimáticas (sombreamento total ou não da superfície do solo) são
38
fatores que determinam as características químicas mais importantes dos solos das matas de
galeria (Haridasan 1998), determinando assim o tipo de vegetação.
A similaridade florística determinada pelo índice de Sørensen revelou valores altos
para as três porções (≥ 0,50), sendo que a porção do baixo foi a que apresentou menor
similaridade quando comparada com as demais porções (Tab. 1.3). Por outro lado, o índice de
Morisita apresentou elevado valor de similaridade somente entre as porções do alto e baixo
(Tab. 1.3). No levantamento realizado em 1999, Marimon et al. (2002), registraram que a
porção do alto apresentou elevada similaridade entre as porções do meio e baixo (Sørensen=
0,65). Provavelmente a redução da diversidade de espécies registrada no alto em 2006
(possivelmente em resposta ao fogo de 2001) e a variação sazonal do lençol freático que
ocorre no baixo e que também pode conduzir à redução da diversidade de espécies, tenham
contribuído para a elevada similaridade entre estas porções geograficamente mais distantes.
Em 2006 a porção do baixo apresentou menor número de espécies em comum com o alto e o
meio (Fig. 1.2), quando comparado com 1999. De acordo com Silva-Júnior et al. (1998), a
variação topográfica produz ambientes peculiares em cada local com o conseqüente
estabelecimento de comunidades floristicamente menos similares. Este aspecto também pode
explicar porque o baixo (em relevo plano) apresentou menor similaridade florística com o
meio (relevo acidentado) em 2006 e poucas espécies em comum em 1999.
Tabela 1.3. Similaridade florística determinada pelos índices de Sørensen e Morisita para as
três porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) no período de 2006 no Córrego Bacaba,
Nova Xavantina-MT.
Morisita
Sørensen
Alto
Meio
Baixo
Alto
0,37
0,71
Meio
0,66
0,30
Baixo
0,55
0,49
-
A similaridade florística das três porções de mata foi elevada para as comparações
efetuadas entre 1999 e 2006 (Tab. 1.4), indicando que apesar de decorridos sete anos a
composição florística da mata de galeria do Córrego Bacaba não apresentou grandes
variações.
Os resultados apresentados na comparação da composição florística da mata de galeria
do Córrego Bacaba com outras matas de galeria do Cerrado (Tab. 1.5) demonstram que essas
são bastante diversas, heterogêneas e apresentam características peculiares, pois nenhuma das
39
oito áreas comparadas com o presente estudo alcançou valores de similaridade superiores a
0,5 (Sørensen). Analisando as fitofisionomias florestais do Brasil Central, podemos concluir
que essas matas abrigam uma grande riqueza, diversidade e, consequentemente, uma grande
heterogeneidade, apresentando reduzida similaridade entre si, até mesmo entre áreas
próximas, evidenciando características ambientais diferentes para cada localidade (SilvaJúnior et al. 1998; Silva-Júnior et al. 2001; Felfili 2000). Rodrigues (2000) observou que os
ambientes ribeirinhos, de forma geral, refletem as características geológicas, geomorfológicas,
climáticas, hidrológicas e hidrográficas, com freqüências e intensidades variáveis no espaço e
tempo. Assim, esses fatores atuariam como definidores da paisagem e das condições locais de
cada área, determinando a heterogeneidade do ambiente e constituindo um mosaico de
condições ecológicas distintas, cada qual com sua particularidade fisionômica, florística e/ou
estrutural.
Alto
(N2006 = 77)
(N1999 = 74)
21
15
Meio
(N2006 = 88)
(N1999 = 86)
28
13
27
12
34
7
5
39
7
10
00
21
25
Baixo
(N2006 = 71)
(N1999 = 77)
Figura 1.2. Diagrama de Venn indicando o número de espécies em comum e exclusivas de
três porções do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Valores dentro dos círculos/elipses
correspondem ao inventário realizado em 1999 (Marimon et al. 2002) e valores dentro dos
retângulos/quadrados correspondem ao presente estudo (2006). N = número de espécies.
40
Segundo Felfili et al. (2001b), as matas de galeria apresentam cerca de 89% das
famílias, 62% dos gêneros e 33% das espécies de fanerógamas compiladas para todas as
fitofisionomias do Cerrado. Rodrigues & Nave (2000) reuniram 43 listas de levantamentos
florísticos e fitossociológicos de espécies arbustivo-arbóreas de matas ciliares do Brasil extraamazônico e verificaram que 37% do total de 947 espécies amostradas foram encontradas em
apenas uma das áreas, 56% em uma ou duas e apenas 1% das espécies foram amostradas no
mínimo em 21 áreas. Os referidos autores observaram ainda que, graças à grande
heterogeneidade que essas matas comportam, atividades ligadas à conservação, manejo e
restauração não são passíveis de generalização. Sendo assim, as matas de galeria preservadas
podem ser consideradas um rico experimento natural onde as relações espécie/ambiente
podem ser avaliadas e transformadas em conhecimento e, posteriormente, utilizadas em
estratégias para a recuperação de áreas degradadas (Silva-Júnior et al. 2001).
Atualmente, os trabalhos de recuperação de matas de galeria têm sido realizados com
um número restrito de espécies florestais nativas, podendo resultar em uma homogeneização
artificial da vegetação ciliar, causando conseqüências imprevisíveis na dinâmica e diversidade
ecológica dessas áreas e no sucesso dessas propostas, principalmente nas regiões onde ocorre
uma maior fragmentação desses remanescentes ciliares (Rodrigues & Nave 2000). Este fato
confirma a importância de se conhecer plenamente a composição florística e a variação
temporal da composição florística da mata de galeria do Córrego Bacaba para que se possam
subsidiar estratégias de manejo e conservação desta importante fitofisionomia.
Tabela 1.4. Similaridade florística determinada pelos índices de Sørensen e Morisita para
as três porções de mata estudadas (alto, meio e baixo) entre os períodos de 1999 e 2006 no
Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT.
Índices
Sørensen
Morisita
Alto
1999x2006
0,95
0,87
Meio
1999x2006
0,90
0,82
Baixo
1999x2006
0,82
0,90
Grupos ecológicos – A amostragem de espécies realizada em 2006 revelou que a mata
do Córrego Bacaba é composta por 29 espécies pioneiras (21,6%), 70 clímax exigentes de luz
(52,3%) e 35 clímax tolerantes à sombra (26,1%) (Tab. 1.1). Em 1999, as espécies pioneiras
representavam 19,4%, as clímax exigentes de luz 52% e as clímax tolerantes à sombra
compunham 28,6% da comunidade. Em ambos os períodos de amostragem as espécies
41
pioneiras estiveram em menor número, assim como as clímax tolerantes à sombra,
destacando-se as espécies clímax exigentes de luz, indicando que a mata se encontra em um
estágio intermediário de sucessão. Entre 1999 e 2006 as pioneiras tiveram um pequeno
aumento no número de espécies, número de indivíduos e área basal (Tab. 1.6), parecendo
estarem restritas, de forma geral, ao surgimento de pequenas clareiras formadas pela queda de
galhos ou árvores isoladas. Convém salientar que, mesmo a mata tendo sido atingida pelo
fogo em 2001 o grupo de espécies pioneiras não apresentou um grande aumento em relação
ao período anterior ao fogo. Paula et al. (2004) observaram que a queda de árvores e a
abertura de clareiras é um processo natural na dinâmica das matas de galeria e Felfili (1994;
1997b) observou que queimadas ocasionais e de baixa intensidade alteram pouco a estrutura e
a composição florística de uma mata de galeria.
Tabela 1.5. Valores de similaridade florística calculados pelo índice de Sørensen entre a mata
de galeria do Córrego Bacaba e outras áreas de mata de galeria ou ciliar do bioma Cerrado.
Sendo: IS = índice de Sørensen, H´= índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener
(nats ind.-1), CAP/DAP/PAP= circunferência/diâmetro/perímetro ao nível do peito,
CAS/DAS= circunferência/diâmetro ao nível do solo.
Localização
Área
Métod
amostra
o
l
coleta
Nº de
espécie
s
Córrego Bacaba - MT
1,41 ha
Parc.
135
Riacho Fundo - DF
0,8 ha
Parc.
53
Córrego Acampamento - DF
0,8 ha
Parc.
60
Brasília - DF
3,03 ha
Parc.
95
Cuiabá - MT
Chapada dos Guimarães MT
0,201 ha
Parc.
89
1,08 ha
Parc.
147
Gaúcha do Norte - MT
Itutinga - MG
2,0 ha
0,84 ha
Parc.
Parc.
76
163
Jardim - MS
0,9 ha
Parc.
66
H’
IS
Limite
inclusa
o
CAP ≥
15 cm
DAP ≥
3 cm
DAP ≥
3 cm
CAP ≥
31cm
CAS ≥
9 cm
DAP ≥
5 cm
PAP ≥
15 cm
DAS ≥
5cm
Referências
4,1
0
2,8
4
2,9
9
3,8
4
4,3
0
4,3
4
3,0
7
3,8
9
0,1
4
0,1
2
0,3
0
0,3
1
0,3
5
0,1
7
0,1
5
3,4
1
0,1 DAP ≥
4 3,18 cm Battilani et al. (2005)
--
Presente estudo
Guarino & Walter (2005)
Guarino & Walter (2005)
Felfili (1994)
Oliveira-Filho (1989)
Pinto & Hay (2005)
Ivanauskas et al. (2004)
van den Berg & OliveiraFilho
(2000)
42
Tabela 1.6. Número de espécies, indivíduos e valores de área basal (m2 ha-1) por grupo
ecológico das espécies nas três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba nos períodos de
1999 e 2006, Nova Xavantina-MT.
Grupos
Ecológicos
Alto
1999
Pioneiras
14
Nº de espécies
85
Nº de indivíduos
1,41
Área Basal
Clímax exigentes de Luz
37
Nº de espécies
197
Nº de indivíduos
3,97
Área Basal
Clímax tolerantes à Sombra
23
Nº de espécies
175
Nº de indivíduos
3,82
Área Basal
Meio
Baixo
Total
2006
1999
2006
1999
2006
1999
2006
14
142
1,79
20
77
1,57
21
74
1,66
12
235
2,78
15
184
2,77
46
397
5,76
50
400
6,22
39
195
4,45
44
200
4,5
44
190
4,8
43
271
7,02
41
262
8,36
124
668
15,49
124
647
17,61
24
166
4,17
22
166
4,1
23
142
3,93
21
85
0,8
15
61
0,84
66
426
8,72
62
369
8,94
A maior ocorrência de espécies clímax exigentes de luz nas porções do alto e meio
pode ser explicada devido à maior declividade do terreno (até 42%), pois a mata em alguns
trechos não apresenta um dossel contínuo, propiciando a incidência de luz e favorecendo a
regeneração de espécies nos estratos inferiores (Paula et al. 2004). Na porção do baixo, o
relevo plano associado a períodos de inundação com afloramento do lençol freático pode ser
limitante a determinadas espécies (Marimon et al. 2003). Nas matas de galeria podemos
encontrar grupos de espécies tolerantes e intolerantes à inundação prolongada, formando
grupos funcionais de espécies relacionados à resposta a inundação (Schiavini et al. 2001). Por
outro lado, mesmo os grupos ecológicos tendo apresentado redução no número de espécies e
de indivíduos entre 1999 e 2006, observou-se um aumento na área basal em todos os estágios
sucessionais nas três porções da mata, demonstrando que seus indivíduos estão conseguindo
se estabelecer na comunidade. Schiavini et al. (2001) observaram que as comunidades de
florestas tropicais não se constituem de um estágio de equilíbrio único, mas sim de um
mosaico de estágios, com arranjos de espécies e indivíduos em diferentes fases de
regeneração e sujeitas a perturbações mais ou menos recorrentes.
A riqueza florística da mata de galeria do Córrego Bacaba pode ser considerada alta
nos dois levantamentos, com um aumento de espécies em 2006, isso porque cada porção
apresenta uma estrutura diferente contribuindo para sua diversidade de acordo com cada
ambiente. O surgimento de novos taxa se limitou às espécies com poucos indivíduos e
superou a perda. Este fato confirma que a mata apresenta uma tendência a um equilíbrio
43
dinâmico em relação a sua recomposição. A porção do baixo, que apresenta relevo plano e
variação sazonal do lençol freático foi a única que perdeu mais espécies do que ganhou,
sugerindo que ali ocorrem preferencialmente espécies adaptadas a tais condições ambientais.
No entanto, o desaparecimento de espécies também foi elevado na porção do meio,
provavelmente refletindo distúrbios causados pela queimada que ocorreu na área em 2001.
Tanto na porção do meio quanto na do baixo o surgimento de espécies secundárias, típicas de
áreas em recuperação após distúrbio confirma o caráter dinâmico desta mata.
Quanto à diversidade e composição de espécies, as porções da mata de galeria do
Córrego Bacaba diferem entre si confirmando que as matas de galeria do bioma Cerrado
apresentam grande heterogeneidade florística e ambiental, mesmo em áreas geograficamente
próximas. As mudanças na diversidade e composição de espécies foram em geral pequenas
entre os dois períodos de amostragem (1999-2006), indicando que, mesmo decorridos sete
anos, a composição florística da mata de galeria do Córrego Bacaba não apresenta grandes
variações. O predomínio de espécies clímax exigentes de luz indica que a mata se encontra
em estágio intermediário de sucessão.
44
1.4 Referências bibliográficas
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Capítulo II
MUDANÇAS NA ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO LENHOSA EM TRÊS PORÇÕES DA MATA DE
GALERIA DO CÓRREGO BACABA (1999-2006), NOVA XAVANTINA-MT.
2.1 Introdução
As matas de galeria são notadamente compostas por uma flora muito diversa, sendo
consideradas extremamente importantes para a fauna do Cerrado e agindo como corredores de
migração (Felfili 1994; Oliveira-Filho & Ratter 1995). Esta fitofisionomia tropical está entre
as que despertam maior interesse em estudos ecológicos, pois apresenta inúmeras
características particulares, tanto em aspectos bióticos como em relação ao ambiente físico
(Pinto & Oliveira-Filho 1999). Fatores físicos locais como variações edáficas e topografia
influenciam na sua vegetação, além dos processos de perturbações naturais e antrópicas
freqüentes nessas comunidades (Battilani et al. 2005) que causam alterações em sua
composição florística e na estrutura da vegetação, como o fogo e as enchentes sazonais
(Felfili 1995; Moreira 2000; Rodrigues 2000).
Comunidades e populações de espécies lenhosas de florestas tropicais podem
apresentar mudanças temporais de densidade e área basal, sugerindo que a estrutura é
dinâmica (Felfili 1994; 1995). Em uma floresta de vale na Chapada dos Guimarães-MT, Pinto
& Hay (2005) registraram taxas de mudança positivas para árvores e arvoretas em diferentes
habitats. Em um estudo de 25 florestas neo e paleotropicais, Phillips & Gentry (1994)
registraram que a riqueza pode ser explicada pela dinâmica da comunidade, apesar de Pinto
(2002) sugerir que em muitos casos esta hipótese não seria apropriada para explicar a riqueza
dentro de uma determinada área (diversidade alfa).
Os levantamentos florísticos permitem realizar comparações simples e eficientes entre
um grande número de áreas. Entretanto, somente os levantamentos fitossociológicos podem
fornecer informações sobre semelhanças e diferenças na estrutura da vegetação entre áreas
aparentemente similares floristicamente, podendo ser melhor abordadas através de dados
quantitativos, pois as diferenças estruturais podem ser mais marcantes que as diferenças
florísticas (van den Berg & Oliveira-Filho 2000). Existem diversos trabalhos fitossociológicos
realizados em diferentes intervalos de tempo, no entanto a maioria desses levantamentos
51
discute resultados baseados em apenas uma única observação (Oliveira-Filho 1989; OliveiraFilho et al. 1990; Felfili 1994; Salis et al. 1994; Marimon et al. 2002; Battilani et al. 2005),
não analisando as mudanças florísticas e estruturais das comunidades ao longo do tempo
(Werneck et al. 2000; Pinto & Hay 2005; Oliveira & Felfili 2005).
O objetivo deste estudo foi analisar e descrever as mudanças que ocorreram na
estrutura da vegetação lenhosa da mata de galeria do Córrego Bacaba, localizada no Parque
Municipal do Bacaba em Nova Xavantina-MT, em um período de sete anos (1999 a 2006).
2.2 Material e métodos
Área de estudo - O trabalho foi realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata
de galeria do Córrego Bacaba (14º 41’ 25’’S e 52º 20’ 55’’W), no Parque Municipal do
Bacaba em Nova Xavantina, Mato Grosso. A água do Córrego Bacaba abastece um bairro
residencial do município (Olaria), sem tratamento prévio. A altitude média da área de estudo é
de 346 m, o clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, com precipitação anual
de 1.300 a 1.500 mm e temperatura média mensal de 25ºC (Marimon et al. 2003).
A porção do alto apresenta uma declividade média de 42%, com presença de
afloramentos rochosos de quartzito e ocorrência de enchentes sazonais com drenagem rápida.
O meio apresenta declividade de aproximadamente 32%, com afloramentos rochosos e em
locais com menor declividade o lençol freático aflora no período chuvoso e o baixo, com
reduzida declividade (cerca de 5%), não apresenta afloramentos rochosos e a drenagem do
solo deficiente (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). Em julho de 2001 foi registrada uma
queimada no Parque que também atingiu parte da mata de galeria estudada. O fogo originouse de uma fazenda adjacente, cujo proprietário utiliza a prática de queimadas para renovar o
pasto, no período da seca (maio-setembro).
Amostragem da vegetação - No ano de 1999 foram estabelecidas 141 parcelas fixas
(Philip 1994) permanentes de 10x10m visando uma caracterização fitossociológica e
estrutural da vegetação (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). As parcelas foram posicionadas
contínua e sistematicamente atravessando perpendicularmente o córrego e cobrindo toda a
área ocupada pela mata até seu encontro com o cerrado stricto sensu. Foram demarcadas 47
parcelas perpendiculares ao córrego em cada porção (alto, meio e baixo).
Em 1999 todas as árvores, arvoretas, palmeiras, lianas ou indivíduos mortos em pé
com CAP (circunferência à altura do peito) ³ 15cm foram identificados e medidos (Marimon
52
et al. 2002). No ano de 2006 (presente estudo), todos os indivíduos amostrados no primeiro
inventário foram remedidos juntamente com aqueles que atingiram a circunferência mínima
de inclusão (recrutas). Cada novo indivíduo amostrado foi marcado com uma plaqueta de
alumínio numerada, permitindo sua posterior localização dentro das parcelas.
Coleta e identificação das espécies - Para cada espécie amostrada foi coletado, no
mínimo, um número de herbário (Voucher) para comprovar sua identificação. Por um período
mínimo de um ano (Dez/2006 a Dez/2007) foram realizadas visitas quinzenais às parcelas
onde foram coletadas todas as espécies encontradas com material reprodutivo. Foram
coletadas no mínimo quatro duplicatas para compor a coleção do Herbário NX e permitir o
envio a especialistas. Considerando que no primeiro inventário foi utilizado o sistema de
classificação de Cronquist (1988), optou-se por adotar o mesmo sistema no presente estudo,
permitindo posterior comparação de dados. Os nomes das espécies foram conferidos em
MOBOT (2007).
Parâmetros fitossociológicos – Para a descrição da estrutura da vegetação (espécies e
famílias) de cada porção da mata de galeria do Córrego Bacaba, foram utilizados os
parâmetros: densidade, freqüência e dominância absolutas e relativas e o índice de valor de
importância (IVI), conforme Curtis & McIntosh (1950; 1951) e Müeller-Dombois &
Ellenberg (1974). Os resultados do inventário realizado em 2006 foram comparados com os
parâmetros determinados no inventário de 1999. Para as análises foi utilizado o programa
FITOPAC 1.0 (Shepherd 1994).
2.3 Resultados e discussão
No levantamento fitossociológico, considerando-se as três porções de mata (alto, meio
e baixo), foram amostrados 3.012 indivíduos/ha entre árvores, arbustos e lianas, pertencentes
a 135 espécies, 113 gêneros e 49 famílias botânicas. Nas Tabelas 2.1, 2.2 e 2.3 estão listadas
as espécies das três porções estudadas na mata de galeria do Córrego Bacaba e seus
respectivos parâmetros fitossociológicos. Em relação ao levantamento de 1999, houve um
pequeno aumento, sendo que naquela ocasião foram registradas 129 espécies, 105 gêneros e
47 famílias (Marimon et al. 2002).
Em 2006, a família Arecaceae apesar de apresentar apenas duas espécies no alto e
quatro no baixo apresentou o maior IVI (índice de valor de importância) em ambas as porções
(Fig. 2.1). No meio, Caesalpiniaceae apresentou o maior IVI, principalmente em função da
53
elevada dominância. Burseraceae, que apresentou três espécies, também se destacou no alto
(3º IVI) e no meio (2º) (Fig. 2.1). No estudo realizado em 1999, nas três porções de mata, as
mesmas famílias se apresentaram entre as mais importantes, com pequenas mudanças na
ordem hierárquica. Entretanto, Cecropiaceae na porção do baixo, que em 1999 ocupava a
segunda posição de IVI (60 indivíduos), em 2006 caiu para a 11ª (17 ind.).
As famílias Annonaceae, Apocynaceae, Burseraceae, Caesalpiniaceae e Fabaceae, que
foram classificadas entre as 10 de maior IVI nas três porções da mata de galeria do Córrego
Bacaba, foram consideradas por Silva-Júnior et al. (2001) como as mais freqüentes e
abundantes em matas de galeria do Brasil Central. Em 2006, Burseraceae, encontrada entre as
mais importantes nas três porções da mata do Bacaba, indica vínculo florístico com a Floresta
Amazônica, além de Annonaceae, Caesalpiniaceae, Mimosaceae e Fabaceae, que também são
importantes na Floresta Atlântica (Pinto & Oliveira-Filho 1999), reforçando a teoria de que as
matas de galeria do Brasil Central apresentam ligações florísticas com as matas dos referidos
biomas (Felfili 1994; Oliveira-Filho & Ratter 1995; Silva-Júnior et al. 1998; Oliveira-Filho &
Ratter 2000).
Na porção do baixo, a mudança expressiva da família Cecropiaceae, que passou da 2ª para a
11ª posição em 2006 [representada por Cecropia pachystachya, uma espécie pioneira (Felfili
1995)], pode indicar que esta porção de mata se encontra em um processo de auto-desbaste,
tal como registrado por Oliveira-Filho et al. (1997), em uma floresta tropical semi-decidual.
Hallé et al. (1978) observaram que quando isto ocorre a comunidade (ou população) estaria na
fase de “construção” do ciclo silvigenético.
No alto, 22 espécies apresentaram apenas um indivíduo, sendo consideradas raras,
correspondendo a 28,6% do número total das espécies e 5,1% do IVI. No meio, foram 26
espécies com apenas um indivíduo, 29,5% do total das espécies e 6,8% do IVI e no baixo,
foram registradas 20 espécies raras, somando 28,1% do total das espécies e 3,8% do IVI.
Valores semelhantes (25,7 a 27,9% do total de espécies e de 4,4 a 6,3% do IVI) também
foram encontrados em outros estudos em matas de galeria (Pinto & Oliveira-Filho 1999; Pinto
& Hay 2005; Battilani et al. 2005). Pinto & Hay (2005) registraram que este é um resultado
esperado em florestas tropicais, sendo que cerca de 1/4 a um 1/3 das espécies são amostradas
com baixa densidade.
C
ce
ae
ea
e
ce
ni
ac
ae
ae
ac
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se
ra
al
pi
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sa
lp
i
Ìndice de Valor de Importância
40
ae
70
ac
e
e
Índice de Valor de Importância
C
al
pi
al
a
no
n
Fa
b
An
ac
ea
e
ae
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Índice de Valor de Importância
35
Eu
ph
o
An
no
n
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e
54
40
ALTO
DoR
30
FR
25
DR
20
15
10
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0
Famílias
50
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MEIO
30
25
20
15
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Famílias
90
80
60
BAIXO
50
40
30
20
10
0
Famílias
Figura 2.1. Dominância Relativa (DoR), Freqüência Relativa (FR) e Densidade Relativa
(DR), das 10 principais famílias (maior Índice de Valor de Importância) das porções do alto,
meio e baixo da mata de galeria do Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT.
55
.
Em 1999, na porção do alto, as espécies raras foram representadas por 20,3% do
número total de espécies e 4,3% do IVI total, na porção do meio foram 21% do total de
espécies e 4,2% do IVI, e na porção do baixo 26% e 3,3%, respectivamente. Em 2006, houve
um aumento proporcional de espécies raras nas três porções da mata. Entretanto, em ambos os
levantamentos (1999 e 2006) o percentual de espécies raras esteve dentro dos valores
indicados por Battilani et al. (2005) e Silva-Júnior et al. (2001).
O elevado número de espécies com baixa densidade também contribui para uma alta
riqueza, diante disso, Battilani et al. (2005) consideram comum em estudos fitossociológicos
a ocorrência de um número elevado de espécies representadas por apenas um ou poucos
indivíduos. Em um trabalho realizado por Silva-Júnior et al. (2001), no qual os autores
analisaram 21 levantamentos realizados em matas de galeria no Distrito Federal, cerca de
71% das espécies listadas foram consideradas raras, ocorrendo entre uma e seis localidades
das matas estudadas.
Felfili et al. (2001a) afirmam que em ambientes ripários do Brasil Central, cerca de
1/5 das espécies apresentam metade do número total de indivíduos de uma área amostrada.
Em 2006, nas três porções do Córrego Bacaba, 20% das espécies concentraram mais de 50%
do total de indivíduos, sendo 59% para o alto, 51,5% para o meio e 64,7% para o baixo,
valores próximos aos registrados por Pinto & Hay (2005) em uma floresta de vale na Chapada
dos Guimarães-MT (56 a 58%). Em 1999, na mata do Bacaba, 52% dos indivíduos no alto,
49,5% no meio e 72% no baixo, estavam concentrados em apenas 20% das espécies
(Marimon et al. 2002). Isto confirma que o padrão de concentrar a maior parte dos indivíduos
em poucas espécies (Felfili et al. 2001a) tende a se manter com o passar dos anos em matas de
galeria da região central do Brasil (Pinto & Hay 2005).
Parâmetros fitossociológicos do alto - A densidade absoluta registrada na porção do
alto, em 2006, foi de 1.070 indivíduos ha-1 com uma área basal de 22,18 m2 ha-1. Entre as
espécies mais importantes em IVI estão Astrocaryum vulgare, Diospyros obovata,
Calophyllum brasiliense, Mabea pohliana, Protium heptaphyllum, Licania blackii,
Oenocarpus distichus, Apuleia leiocarpa, Tetragastris altissima e Hymenaea courbaril, que
juntas representam 43,2% do IVI total, 68,4% do número de indivíduos amostrados e 45,7%
da área basal total (Tab. 2.1).
O componente mais importante para Astrocaryum vulgare, a espécie de maior IVI, foi
a densidade absoluta que junto com Diospyros obovata também apresentou os maiores
valores de freqüência absoluta (Tab. 2.1). Calophyllum brasiliense, com apenas 13
56
indivíduos, se destacou com a maior dominância absoluta e Mabea pohliana, apesar de
apresentar menor dominância que C. brasiliense apresentou maiores densidade e freqüência
(Tab. 2.1).
A posição hierárquica das espécies em 2006 apresentou mudanças em relação a 1999,
onde as espécies de maior importância foram Diospyros obovata (IVI= 22,93), Calophyllum
brasiliense (12,44) Tetragastris altissima (12,42), Protium heptaphyllum (11,71),
Astrocaryum vulgare (10,90), Apuleia leiocarpa (10,75), Mabea pohliana (10,04),
Physocalymma scaberrimum (9,34), Licania blackii (9,06) e Hymenaea courbaril (8,74).
Comparando com o inventário de 1999 (Marimon et al. 2002), as espécies mais importantes
que não mudaram de posição hierárquica ou alteraram apenas uma posição em 2006 foram H.
courbaril (1999= 10ª posição e 2006= 10ª), D. obovata (1ª e 2ª), C. brasiliense (2ª e 3ª) e P.
heptaphyllum (4ª e 5ª) e as espécies que mudaram duas ou três posições hierárquicas entre os
dois períodos estudados foram A. leiocarpa (6ª e 8ª), M. pohliana (7ª e 4ª) e L. blackii (9ª e
6ª).
Tabela 2.1. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm
amostradas na porção do alto no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo: DA=
Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância
relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de
importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%). Autores das espécies e
respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1).
Densidade
Dominância
Frequência
Espécies
IVI
DA
DR
DoA
DoR
FA
FR
Astrocaryum vulgare
174,5 16,30 0,972
4,38 34,40
4,80 25,49
Diospyros obovata
95,7
8,95 1,631
7,36 40,43
5,71 22,01
Calophyllum brasiliense
24,7
2,58 1,795
8,09 17,02
2,40 13,08
Mabea pohliana
46,8
4,37 0,559
2,52 31,91
4,50
11,4
Protium heptaphyllum
38,3
3,58 0,707
3,19 29,79
4,20 10,97
Licania blackii
34,0
3,18 0,768
3,46 23,40
3,30
9,95
Oenocarpus distichus
31,9
2,98 0,663
2,99 25,53
3,60
9,58
Apuleia leiocarpa
19,1
1,79 1,232
5,56 14,89
2,10
9,45
Tetragastris altissima
31,9
2,98 0,450
2,03 29,79
4,20
9,22
Hymenaea courbaril
10,6
0,99 0,355
6,11 10,64
1,50
8,61
Tapirira guianensis
14,9
1,39 1,070
4,83 12,77
1,80
8,02
Licania apetala
29,8
2,78 0,472
2,13 21,28
3,00
7,92
Physocalymma scaberrimum
19,1
1,79 0,756
3,41 19,15
2,70
7,90
Himatanthus bracteatus
29,8
2,78 0,423
1,91 19,15
2,70
7,40
Aspidosperma subincanum
27,7
2,58 0,437
1,97 19,15
2,70
7,26
Protium spruceanum
12,8
1,19 0,841
3,79 10,64
1,50
6,49
Ephedranthus parviflorus
27,7
2,58 0,315
1,42 14,89
2,10
6,11
Inga thibaudiana
21,3
1,99 0,386
1,74 12,77
1,80
5,53
57
Luehea candicans
Ormosia coarctata
Vitex polygama
Pseudolmedia laevigata
Sclerolobium paniculatum
Andira vermifuga
Myrcia sellowiana
Licania gardneri
Astronium fraxinifolium
Odontadenia spoliata
Pouteria gardneri
Xylopia emarginata
Inga heterophylla
Siparuna guianensis
Bauhinia outimouta
Salacia elliptica
Aiouea saligna
Micropholis venulosa
Hirtella gracilipes
Schefflera morototoni
Hirtella glandulosa
Dioclea glabra
Myrcia tomentosa
Duguetia marcgraviana
Diospyros sericea
Callisthene fasciculata
Xylopia aromatica
Cecropia pachystachya
Copaifera langsdorffii
Himatanthus obovata
Ilex affinis
Moutabea excoriata
Tetrapterys glabra
Byrsonima laxiflora
Tabebuia impetiginosa
Ouratea castaneifolia
Magonia pubescens
Dendropanax cuneatus
Emmotum nitens
Mimosa laticifera
Hieronyma alchorneoides
Curatella americana
Sterculia speciosa
Cordia sellowiana
17,0
21,3
10,6
19,1
12,8
6,4
14,9
12,8
12,8
14,9
12,8
12,8
6,4
10,6
8,5
10,6
8,5
6,4
10,6
6,4
6,4
6,4
6,4
8,5
6,4
2,1
6,4
6,4
4,3
4,3
6,4
4,3
6,4
2,1
2,1
4,3
4,3
4,3
2,1
4,3
2,1
2,1
2,1
2,1
1,59
1,99
0,99
1,79
1,19
0,60
1,39
1,19
1,19
1,39
1,19
1,19
0,60
0,99
0,80
0,99
0,80
0,60
0,99
0,60
0,60
0,60
0,60
0,80
0,60
0,20
0,60
0,60
0,40
0,40
0,60
0,40
0,60
0,20
0,20
0,40
0,40
0,36
0,20
0,40
0,20
0,20
0,20
0,20
0,267
0,310
0,584
0,260
0,457
0,767
0,270
0,286
0,210
0,131
0,120
0,082
0,337
0,038
0,137
0,078
0,183
0,197
0,092
0,126
0,088
0,088
0,086
0,053
0,091
0,237
0,076
0,072
0,093
0,079
0,030
0,071
0,021
0,175
0,175
0,063
0,045
0,041
0,150
0,032
0,134
0,113
0,102
0,077
1,21
1,40
2,64
1,17
2,06
3,46
1,22
1,29
0,95
0,59
0,54
0,37
1,52
0,17
0,62
0,35
0,82
0,89
0,42
0,57
0,40
0,40
0,39
0,24
0,41
1,07
0,34
0,33
0,42
0,36
0,14
0,32
0,60
0,20
0,20
0,40
0,40
0,40
0,20
0,40
0,20
0,20
0,20
0,20
17,02
12,77
10,64
14,89
12,77
6,38
12,77
12,77
10,64
10,64
10,64
8,51
4,26
10,64
8,51
8,51
6,38
6,38
6,38
6,38
6,38
6,38
6,38
4,26
4,26
2,13
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
2,13
2,13
4,26
4,26
4,26
2,13
4,26
2,13
2,13
2,13
2,13
2,40
1,80
1,50
2,10
1,80
0,90
1,80
1,80
1,50
1,50
1,50
1,20
0,60
1,50
1,20
1,20
0,90
0,90
0,90
0,90
0,90
0,90
0,90
0,60
0,60
0,30
0,60
0,60
0,60
0,60
0,60
0,60
0,60
0,30
0,30
0,60
0,60
0,60
0,30
0,60
0,34
0,34
0,31
0,30
5,20
5,19
5,13
5,07
5,06
4,96
4,41
4,29
3,64
3,49
3,24
2,77
2,72
2,67
2,62
2,55
2,52
2,39
2,31
2,07
1,90
1,90
1,89
1,63
1,61
1,57
1,54
1,52
1,42
1,36
1,34
1,32
1,29
1,29
1,29
1,28
1,20
1,18
1,18
1,15
1,10
1,01
0,96
0,85
58
Coussarea platyphylla
Virola urbaniana
Myrcia amazonica
Psychotria carthagenensis
Casearia arborea
Amaioua guianensis
Alibertia elliptica
Matayba guianensis
Dimorphandra mollis
Marcgravia sp.
Sorocea guilleminiana
Cheiloclinium cognatum
Banisteriopsis sp.
Ficus cf. enormis
Posoqueria aff. macropus
Total
4,3
0,40 0,031
0,20
2,13
0,30
0,84
2,1
0,20 0,067
0,20
2,13
0,30
0,80
2,1
0,20 0,012
0,20
2,13
0,30
0,56
2,1
0,20 0,010
0,20
2,13
0,30
0,55
2,1
0,20 0,009
0,20
2,13
0,30
0,54
2,1
0,20 0,008
0,20
2,13
0,30
0,54
2,1
0,20 0,008
0,20
2,13
0,30
0,54
2,1
0,20 0,008
0,20
2,13
0,30
0,54
2,1
0,20 0,007
0,20
2,13
0,30
0,53
2,1
0,20 0,006
0,20
2,13
0,30
0,53
2,1
0,20 0,005
0,10
2,13
0,30
0,53
2,1
0,20 0,005
0,10
2,13
0,30
0,52
2,1
0,20 0,004
0,10
2,13
0,30
0,51
2,1
0,20 0,003
0,10
2,13
0,30
0,50
2,1
0,20 0,003
0,03
2,13
0,30
0,50
1.067,
1 100,00 21,142 100,00 708,99 100,00 300,00
Intervalo de Confiança (P= 0,95): Densidade= [1061-1072]; Dominância= [21,06-21,22]
Merece destaque a posição ocupada por Astrocaryum vulgare que foi a 5ª espécie de
maior IVI em 1999 e a 1ª em 2006, Tetragastris altissima que passou da 3ª para a 9ª posição e
Physocalymma scaberrimum que em 1999 ocupava a 8ª posição e em 2006 não figurou entre
as 10 espécies mais importantes. Alguns autores afirmam que as espécies mais abundantes
recrutam um maior número de indivíduos que as espécies raras, pois as primeiras seriam mais
eficientes para explorar os recursos disponíveis e mesmo que apresentem elevada
mortalidade, também costumam apresentar maior taxa de recrutamento mantendo assim sua
posição entre as mais importantes (Felfili 1994; 1995; Pinto & Hay 2005). Além disso, Felfili
et al. (2000) observaram que, em geral, as espécies que ocorrem com reduzida densidade
tendem a desaparecer mais facilmente do que as de maior densidade.
Oenocarpus distichus, espécie clímax exigente de luz (vide Cap. 1), que no inventário
de 1999 ocupava a 11ª posição em IVI (28 indivíduos ha-1 e 0,56 m2 ha-1) (Marimon et al.
2002), em 2006 passou a ocupar a 7ª posição (32 ind. ha-1 e 0,66 m2 ha-1), possivelmente
influenciada pelos distúrbios que ocorreram na área em 2001 (fogo) e que promoveram a
abertura de clareiras que podem ter beneficiado o crescimento e estabelecimento desta
espécie. Tetragastris altissima, por ser uma espécie clímax tolerante à sombra (Cap. 1) pode
ter sofrido um efeito contrário com a abertura da área (clareiras) e maior incidência de luz nas
parcelas, visto que em 2006 sofreu uma redução de 13 indivíduos em relação a 1999. O
59
mesmo pode ter acontecido com Physocalymma scaberrimum, que reduziu a dominância
absoluta de 0,81 m2 ha-1 em 1999 para 0,75 em 2006.
Os distúrbios ocasionados pelo fogo que atingiu a mata do Bacaba em 2001 podem ter
causado mudanças na estrutura da vegetação favorecendo o desenvolvimento de espécies
clímax exigentes de luz, capazes de suportar maior luminosidade (Paula et al. 2004). De
acordo com Ribeiro & Schiavini (1998) e Felfili et al. (2001b), queimadas de baixa
intensidade costumam causar pouco impacto nas bordas das matas de galeria. Entretanto, a
intensidade do fogo pode variar de acordo com a umidade, quantidade de serapilheira e estado
de conservação da mata. Em períodos de secas prolongadas ou em matas de galeria
degradadas os incêndios podem causar danos maiores e se propagar no interior da mata, tal
como foi observado em alguns pontos da mata estudada.
Queimadas ocasionais nas bordas das matas de galeria acentuam sua heterogeneidade,
gerando mosaicos de vegetação em diferentes estágios sucessionais, permitindo a coexistência
de muitas espécies arbóreas (Felfili et al. 2001a). Entretanto, as queimadas promovem a
abertura de clareiras, que são invadidas por gramíneas, samambaias, lianas, bambus e outras
espécies colonizadoras, alterando e transformando a estrutura da mata (Klink et al. 2002).
Considerando-se todas as 77 espécies amostradas no alto em 2006, 14 mantiveram as
mesmas posições hierárquicas de IVI nos dois períodos de estudo (1999 e 2006), 10 mudaram
apenas uma posição, 20 mudaram duas ou três posições e 33 mudaram cinco ou mais posições
hierárquicas entre os dois períodos estudados. Algumas espécies apresentaram mudanças
superiores a 10 posições hierárquicas, dentre as quais destacam-se Sclerolobium paniculatum
(36ª em 1999 e 23ª em 2006), Bauhinia outimouta (18ª e 33ª) Hirtella glandulosa (52ª e 39ª) e
Ilex affinis (68ª e 49ª), reforçando o caráter dinâmico de algumas populações.
Entre as espécies de maior IVI em 2006 e que apresentaram as maiores mudanças
hierárquicas em relação ao levantamento de 1999, destacam-se Astrocaryum vulgare (5ª para
1ª posição) e Tetragastris altissima (3ª para 9ª). A. vulgare é uma espécie geralmente
relacionada à perturbação humana (Marimon et al. 2002), perenifólia, heliófita, seletiva
xerófila e característica da mata pluvial amazônica de terra firme. Ocorre em agrupamentos
mais ou menos homogêneos, tanto em formações primárias como secundárias, regenera-se em
grande intensidade após as derrubadas e produz anualmente grande quantidade de sementes
(Lorenzi 2002). O registro desta espécie como a de maior importância no levantamento de
2006 confirma os efeitos negativos que podem ter sido causados pela queimada em 2001
nesta porção de mata.
60
As espécies Calophyllum brasiliense (2ª para 3ª posição) e Diospyros obovata (1ª para
2ª), apresentaram pequenas alterações hierárquicas entre 1999 e 2006. C. brasiliense é uma
espécie que apresenta capacidade de germinação mesmo após vários meses de submersão de
suas sementes (Marques & Joly 2000) e apresenta um ciclo constante na produção de frutos
(Schiavini et al. 2001). Apesar desta espécie ser classificada como clímax tolerante à sombra
(Cap. 1), Marques & Joly (2000) concluíram que a falta ou excesso de radiação não são
fatores condicionantes a sua mortalidade, recrutamento ou densidade. Na mata estudada estas
espécies costumam estar localizadas na borda do córrego, em parcelas com solo mais úmido
(Marimon et al. 2003), provavelmente tendo sido menos afetadas pela queimada de 2001.
Em 2006 as espécies mortas em pé representaram 5,4% da densidade total e 4,7% da
área basal. No inventário efetuado em 1999 as espécies mortas apresentaram 4,8% da
densidade total e 4,1% da área basal (Marimon et al. 2002), confirmando que houve um
aumento das espécies mortas entre os dois períodos, provavelmente causado pela queimada
que atingiu a mata em 2001.
Parâmetros fitossociológicos do meio - A densidade absoluta registrada na porção do
meio em 2006 foi de 864 indivíduos ha-1 com uma área basal de 22,12 m2 ha-1. Aspidosperma
subincanum, Tetragastris altissima, Hymenaea courbaril, Apuleia leiocarpa, Pouteria torta,
Ephedranthus parviflorus, Vitex polygama, Protium heptaphyllum, Luehea candicans e
Pouteria gardneri foram as espécies mais importantes, que juntas somaram 39% do IVI total,
36% do número de indivíduos amostrados e 49% da área basal total. A. subincanum
apresentou a maior densidade e freqüência absolutas e H. courbaril apresentou a maior
dominância absoluta dentre todas as espécies amostradas nesta porção da mata.
Tabela 2.2. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm
amostradas na porção do meio no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo que DA=
Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância
relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de
importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%).Autores das espécies e
respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1).
Densidade
Dominância
Frequência
Espécies
IVI
DA
DR
DoA
DoR
FA
FR
Aspidosperma subincanum
57,4
6,65
0,737
3,33 31,91
4,66 14,64
Tetragastris altissima
44,7
5,17
0,962
4,35 31,91
4,66 14,18
Hymenaea courbaril
17,0
1,97
2,151
9,72 12,77
1,86 13,56
Apuleia leiocarpa
21,3
2,46
1,736
7,85 21,28
3,11 13,42
Pouteria torta
12,8
1,48
2,119
9,58 12,77
1,86 12,92
Ephedranthus parviflorus
46,8
5,42
0,410
1,86 27,66
4,04 11,31
61
Vitex polygama
Protium heptaphyllum
Luehea candicans
Pouteria gardneri
Sclerolobium paniculatum
Platypodium elegans
Bauhinia outimouta
Protium spruceanum
Mabea pohliana
Unonopsis lindmanii
Anadenanthera colubrina
Calophyllum brasiliense
Copaifera langsdorffii
Coussarea platyphylla
Alibertia elliptica
Astronium fraxinifolium
Tabebuia impetiginosa
Cuspidaria sp.
Sterculia striata
Licania blackii
Inga thibaudiana
Physocalymma scaberrimum
Aiouea saligna
Bauhinia longifolia
Combretum vernicosum
Xylopia aromatica
Oenocarpus distichus
Pseudolmedia laevigata
Virola urbaniana
Diospyros obovata
Ficus cf. enormis
Mimosa laticifera
Dilodendron bipinnatum
Sterculia speciosa
Ficus sp.l
Astrocaryum vulgare
Eugenia aurata
Micropholis venulosa
Dioclea virgata
Casearia sylvestris
Myrcia sellowiana
Hirtella glandulosa
Cecropia pachystachya
Licania apetala
8,50
42,6
31,9
27,7
19,1
21,3
21,3
14,9
21,3
23,4
12,8
4,3
4,3
23,4
19,1
14,9
6,4
17,0
6,4
12,8
12,8
12,8
14,9
12,8
12,8
12,8
10,6
12,8
8,5
8,5
8,5
8,5
6,4
6,4
2,1
8,5
6,4
2,1
6,4
6,4
4,3
4,3
4,3
6,4
0,99
4,93
3,69
3,2
2,22
2,46
2,46
1,72
2,46
2,71
1,48
0,49
0,49
2,71
2,22
1,72
0,74
1,97
0,74
1,48
1,48
1,48
1,72
1,48
1,48
1,48
1,23
1,48
0,99
0,99
0,99
0,99
0,74
0,74
0,25
0,99
0,74
0,25
0,74
0,74
0,49
0,49
0,49
0,74
1,779
0,335
0,222
0,462
0,561
0,263
0,183
0,544
0,167
0,238
0,508
0,964
0,962
0,192
0,149
0,295
0,787
0,139
0,655
0,340
0,404
0,224
0,097
0,123
0,122
0,106
0,289
0,114
0,165
0,110
0,415
0,047
0,054
0,058
0,299
0,058
0,025
0,270
0,016
0,074
0,128
0,110
0,106
0,052
8,04
1,51
1,00
2,09
2,54
1,19
0,83
2,46
0,76
1,08
2,30
4,36
4,35
0,87
0,67
1,34
3,56
0,63
2,96
1,54
1,83
1,02
0,44
0,56
0,56
0,48
1,31
0,52
0,75
0,50
0,19
0,22
0,30
0,26
1,35
0,26
0,11
1,22
0,08
0,34
0,58
0,50
0,48
0,24
8,51
25,53
23,40
19,15
14,89
17,02
17,02
10,64
17,02
12,77
12,77
4,26
4,26
12,77
17,02
14,89
6,38
14,89
6,38
10,64
8,51
12,77
12,77
12,77
12,77
12,77
8,51
8,51
6,38
6,38
8,51
6,38
6,38
6,38
2,13
4,26
6,38
2,13
6,38
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
1,24
3,73
3,42
2,80
2,17
2,48
2,48
1,55
2,48
1,86
1,86
0,62
0,62
1,86
2,48
2,17
0,96
2,17
0,93
1,55
1,24
1,86
1,86
1,86
1,86
1,86
1,24
1,24
0,93
0,93
1,24
0,93
0,93
0,93
0,31
0,62
0,93
0,31
0,93
0,62
0,62
0,62
0,62
0,62
10,27
10,17
8,11
8,09
6,93
6,14
5,78
5,74
5,70
5,65
5,64
5,47
5,46
5,44
5,37
5,23
5,23
4,78
4,63
4,57
4,55
4,36
4,03
3,90
3,90
3,82
3,78
3,24
2,67
2,42
2,41
2,13
1,97
1,93
1,91
1,87
1,79
1,78
1,75
1,70
1,70
1,61
1,60
1,60
62
Odontadenia spoliata
Emmotum nitens
Himatanthus bracteatus
Magonia pubescens
Cheiloclinium cognatum
Ouratea castaneifolia
Dipteryx alata
Arrabidaea brachypoda
Guazuma ulmifolia
Duguetia marcgraviana
Peltogyne confertiflora
Siparuna Guianensis
Jacaranda cuspidifolia
Tapirira guianensis
Maytenus cf. floribunda
Inga heterophylla
Kielmeyera rubriflora
Myrcia tomentosa
Aspidosperma macrocarpon
Cordia glabrata
Byrsonima laxiflora
Bowdichia virgilioides
Himatanthus obovata
Campomanesia eugenioides
Xylopia emarginata
Vochysia haenkeana
Guettarda viburnoides
Plathymenia reticulata
Serjania glutinosa
Strychnos sp.
Guapira graciliflora
Schefflera morototoni
Eriotheca gracilipes
Ormosia coarctata
Secondatia densiflora
Myrcia amazonica
Salacia elliptica
Trichilia pallida
Total
6,4
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
2,1
2,1
4,3
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
864,2
0,74
0,49
0,49
0,49
0,49
0,49
0,49
0,49
0,49
0,49
0,49
0,49
0,25
0,25
0,49
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,25
0,21
0,20
100,00
0,013
0,056
0,047
0,041
0,040
0,034
0,101
0,031
0,026
0,020
0,011
0,010
0,127
0,091
0,029
0,076
0,056
0,055
0,050
0,025
0,022
0,022
0,014
0,013
0,012
0,011
0,011
0,011
0,010
0,009
0,007
0,007
0,007
0,005
0,005
0,004
0,004
0,004
22,443
0,06
4,26
0,62
1,42
0,26
4,26
0,62
1,37
0,21
4,26
0,62
1,33
0,19
4,26
0,62
1,30
0,18
4,26
0,62
1,30
0,16
4,26
0,62
1,27
0,46
2,13
0,31
1,26
0,14
4,26
0,62
1,26
0,12
4,26
0,62
1,23
0,09
4,26
0,62
1,21
0,05
4,26
0,62
1,16
0,05
4,26
0,62
1,16
0,58
2,13
0,34
1,13
0,41
2,13
0,34
0,97
0,13
2,13
0,33
0,94
0,35
2,13
0,31
0,90
0,25
2,13
0,31
0,81
0,25
2,13
0,31
0,81
0,23
2,13
0,31
0,78
0,12
2,13
0,31
0,67
0,10
2,13
0,31
0,66
0,10
2,13
0,31
0,66
0,06
2,13
0,31
0,62
0,06
2,13
0,31
0,62
0,06
2,13
0,31
0,61
0,05
2,13
0,31
0,61
0,05
2,13
0,31
0,61
0,05
2,13
0,31
0,61
0,05
2,13
0,31
0,61
0,04
2,13
0,31
0,60
0,04
2,13
0,31
0,59
0,03
2,13
0,31
0,59
0,03
2,13
0,31
0,59
0,03
2,13
0,31
0,58
0,03
2,13
0,31
0,58
0,02
2,13
0,31
0,58
0,02
2,13
0,31
0,58
0,02
2,13
0,31
0,57
100,00 685,25 100,00 300,00
Intervalo de Confiança (P= 0,95): Densidade= [862-866]; Dominância= [22,353-22,533]
A posição hierárquica das espécies em 2006 também apresentou mudanças em relação
a 1999, onde de acordo com Marimon et al. (2002) as espécies de maior importância foram
63
Hymenaea courbaril (15,31), Tetragastris altissima (12,92), Apuleia leiocarpa (12,34),
Pouteria torta (11,83), Ephedranthus parviflorus (11,52), Aspidosperma subincanum (11,51),
Vitex polygama (9,48), Luehea candicans (8,85), Protium heptaphyllum (8,85) e Pouteria
gardneri (7,95). Comparando com o inventário de 1999 as espécies mais importantes que não
mudaram de posição hierárquica ou alteraram apenas uma posição em 2006 foram T.
altissima (2ª posição em 1999 e 2006, respectivamente), V. polygama (7ª e 7ª), P. gardneri
(10ª e 10ª), A. leiocarpa (3ª e 4ª), P. torta (4ª e 5ª), E. parviflorus (5ª e 6ª), L. candicans (8ª e
9ª) e P. heptaphyllum (9ª e 8ª). Apenas H. courbaril passou da 1ª para a 3ª posição em 2006 e
A. subincanum da 6ª para a 1ª.
Considerando-se todas as 88 espécies amostradas no meio em 2006, sete mantiveram
as mesmas posições hierárquicas de IVI nos dois períodos (1999 e 2006), 10 mudaram apenas
uma posição, nove mudaram duas ou três posições e 62 mudaram cinco ou mais posições
hierárquicas entre os dois períodos estudados. Tal como observado em algumas espécies na
porção do alto, esta porção também apresentou espécies com mudanças hierárquicas
marcantes. Cecropia pachystachya passou da 20ª posição em 1999 para a 49ª em 2006 e
Bauhinia outimouta passou da 45ª posição em 1999 para a 10ª em 2006, Schefflera
morototoni (51ª para 82ª), Siparuna guianensis (25ª para 62ª) e Emmotum nitens (62ª para
52ª) também apresentaram posições bem diferentes nos dois períodos. C. pachystachya é uma
espécie pioneira, típica de áreas abertas, prefere matas secundárias, mas também pode ser
encontrada em capoeiras novas situadas junto a vertentes ou cursos d’água e em terrenos com
lençol freático superficial. Tal como já discutido anteriormente para a família Cecropiaceae, a
redução no número de indivíduos desta espécie entre os dois inventários (1999 e 2006) sugere
que esteja ocorrendo o fechamento da vegetação nesta porção de mata (Oliveira-Filho &
Ratter 1995; Lorenzi 2002; Guarino & Walter 2005).
Sugere-se que Aspidosperma subincanum, que passou de 6ª posição de IVI em 1999
para 1ª em 2006, pode estar refletindo uma condição de proteção e ter sido beneficiada pela
implantação do Parque Municipal do Bacaba (Lei Municipal nº 652 de 27/12/1995). Antes da
criação desta unidade de conservação esta espécie era cortada para a confecção de cabos de
ferramentas e atualmente não se encontra mais sob pressão de corte.
Entre as espécies mais importantes na porção do meio também destacam-se Hymenaea
courbaril (1ª posição em 1999 e 3ª em 2006), planta semidecídua, heliófila ou esciófita,
seletiva xerófila, pouco exigente em fertilidade e umidade do solo, geralmente ocorrendo em
terrenos bem drenados e Apuleia leiocarpa (3ª e 4ª), heliófita ou de luz difusa e indiferente às
condições físicas do solo (Lorenzi 2002), sendo ambas espécies pouco exigentes em termos
64
edáficos e climáticos, consideradas de fácil adaptação e mais resistentes às mudanças do
ambiente (Schiavini et al. 2001). Hymenaea courbaril desceu da 1ª para a 3ª posição em 2006
em função da morte de dois indivíduos de grande porte. Não é possível afirmar com certeza
que a morte tenha sido causada pela queimada em 2001. Entretanto, esta espécie, diferente do
que é observado na congenérica típica de cerrado sentido restrito (Hymenaea stigonocarpa)
(Silva-Júnior 2005), não apresenta ritidoma espesso que pode proteger o tronco do fogo.
Neste caso, supõe-se que a queimada que atingiu a mata em 2001 pode ter contribuído com a
morte dos referidos indivíduos.
Em 2006, os indivíduos mortos em pé registrados na porção do meio representaram
19,3% da densidade total e 1,9% da área basal. De acordo com Marimon et al. (2002), no
levantamento de 1999, as mortas representaram apenas 2,4% da densidade e 2,8% da área
basal total, registrando-se um aumento no número e a redução na área basal de indivíduos
mortos em 2006. Da mesma forma que foi descrito para a porção do alto, sugere-se que os
impactos causados pelo fogo que atingiu a mata em 2001 e o fechamento de dossel sejam
responsáveis pelo aumento da mortalidade de indivíduos jovens, visto que em 1999 a maior
área basal e a menor densidade registradas para os mortos podem estar relacionadas ao
registro de árvores adultas e velhas (mortas em pé) efetuado na ocasião.
Parâmetros fitossociológicos do baixo - A densidade absoluta nesta porção, em 2006,
foi de 1.079 indivíduos.ha-1 com uma área basal de 25,50m2 ha-1. As espécies mais
importantes
foram:
Mauritia
flexuosa,
Astrocaryum
vulgare,
Virola
urbaniana,
Physocalymma scaberrimum, Himatanthus bracteatus, Tapirira guianensis, Mabea pohliana,
Xylopia aromatica, Aspidosperma subincanum e Acosmium sp., que juntas representam 62%
do IVI total, 61,5% do número de indivíduos amostrados e 73,6% da área basal total (Tab.
2.3). Mauritia flexuosa apresentou dominância absoluta cerca de 10 vezes superior à segunda
espécie com maior IVI (Astrocaryum vulgare), que por sua vez, apresentou a maior densidade
e freqüência absolutas (Tab. 2.3)
Tabela 2.3. Parâmetros fitossociológicos para as espécies principais com DAP ≥ 5cm
amostradas na porção do baixo no Córrego Bacaba, Nova Xavantina-MT. Sendo que DA=
Densidade absoluta, DR= Densidade relativa, DoA= Dominância absoluta, DoR= Dominância
relativa, FA= Freqüência absoluta, FR= Freqüência relativa e IVI= Índice de valor de
importância. Valores absolutos (N/ha e m2/ha) e valores relativos (%).Autores das espécies e
respectivas famílias estão disponíveis na Tab. 1.1 (Cap. 1).
Densidade
Dominância
Frequência
Espécies
IVI
DA
DR
DoA
DoR
FA
FR
Mauritia flexuosa
97,9
9,07 10,647
41,74 46,81
6,94 57,75
65
Astrocaryum vulgare
Virola urbaniana
Physocalymma scaberrimum
Himatanthus bracteatus
Tapirira guianensis
Mabea pohliana
Xylopia aromatica
Aspidosperma subincanum
Acosmium sp.
Cecropia pachystachya
Cordia sellowiana
Tetragastris altissima
Vitex polygama
Coussarea platyphylla
Schefflera morototoni
Myrcia sellowiana
Bauhinia longifolia
Inga thibaudiana
Casearia sylvestris
Protium heptaphyllum
Curatella americana
Sclerolobium paniculatum
Luehea candicans
Cariniana rubra
Trema micrantha
Sterculia speciosa
Apeiba tibourbou
Siparuna guianensis
Bauhinia outimouta
Licania gardneri
Hirtella glandulosa
Apuleia leiocarpa
Qualea multiflora
Endlicheria lhotzkyi
Tapura amazonica
Licania blackii
Byrsonima laxiflora
Emmotum nitens
Matayba guianensis
Inga heterophylla
Oenocarpus distichus
Aspidosperma tomentosum
Diospyros hispida
Vismia sp.
146,8
85,1
59,6
61,7
36,2
55,3
48,9
40,4
31,9
36,2
23,4
21,3
14,9
14,9
12,1
17,0
14,9
10,6
21,3
17,0
10,6
4,3
12,8
8,5
8,5
4,3
4,3
6,4
6,4
6,4
6,4
6,4
6,4
6,4
4,3
6,4
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
4,3
13,61
7,89
5,52
5,72
3,35
5,13
4,54
3,75
2,96
3,35
2,17
1,97
1,38
1,38
1,18
1,58
1,38
0,99
1,97
1,58
0,99
0,39
1,18
0,79
0,79
0,39
0,39
0,59
0,59
0,59
0,59
0,59
0,59
0,59
0,39
0,59
0,39
0,39
0,39
0,39
0,39
0,39
0,39
0,39
1,613
0,765
0,097
0,835
1,373
0,444
0,744
0,633
0,761
0,460
0,742
0,409
0,353
0,333
0,443
0,154
0,123
0,289
0,103
0,086
0,263
0,539
0,136
0,086
0,064
0,308
0,219
0,082
0,078
0,135
0,041
0,033
0,026
0,016
0,091
0,038
0,084
0,073
0,072
0,071
0,059
0,053
0,045
0,039
6,32
3,00
3,78
3,27
5,38
1,74
2,92
2,48
2,98
1,80
2,91
1,60
1,38
1,31
1,74
0,60
0,48
1,13
0,41
0,34
1,03
2,12
0,54
0,34
0,25
1,21
0,86
0,32
0,31
0,53
0,16
0,13
0,10
0,07
0,36
0,15
0,33
0,29
0,28
0,28
0,23
0,21
0,18
0,16
48,94
31,91
42,55
36,17
29,79
36,17
29,79
21,28
19,15
19,15
19,15
14,89
10,64
10,64
8,51
10,64
12,77
10,64
8,51
10,64
8,51
4,26
8,51
8,51
8,51
4,26
4,26
6,38
6,38
4,26
6,38
6,38
6,38
6,38
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
4,26
7,26
4,73
6,31
5,36
4,42
5,36
4,42
3,15
2,84
2,84
2,84
2,21
1,58
1,58
1,26
1,58
1,89
1,58
1,26
1,58
1,26
0,63
1,26
1,26
1,26
0,63
0,63
0,95
0,95
0,63
0,95
0,95
0,95
0,95
0,63
0,63
0,63
0,63
0,63
0,63
0,63
0,63
0,63
0,63
27,19
15,62
15,62
14,36
13,15
12,23
11,87
9,38
8,78
8,00
7,92
5,78
4,34
4,27
4,19
3,76
3,76
3,70
3,64
3,49
3,28
3,14
2,98
2,39
2,30
2,23
1,89
1,86
1,85
1,75
1,70
1,67
1,64
1,60
1,39
1,37
1,36
1,31
1,31
1,30
1,26
1,23
1,20
1,18
66
Licania apetala
4,3
0,39
Magonia pubescens
4,3
0,39
Casearia arborea
4,3
0,39
Mimosa laticifera
4,3
0,39
Pouteria gardneri
4,3
0,39
Zanthoxylum cf. riedelianum
2,1
0,24
Callichlamys sp.
4,3
0,39
Genipa americana
2,1
0,20
Platypodium elegans
2,1
0,20
Pseudobombax longiflorum
2,1
0,20
Dendropanax cuneatus
2,1
0,20
Duguetia marcgraviana
2,1
0,20
Sterculia striata
2,1
0,20
Calophyllum brasiliense
2,1
0,20
Machaerium acutifolium
2,1
0,20
Hancornia speciosa
2,1
0,20
Enterolobium contortisiliquum
2,1
0,20
Mauritiella armata
2,1
0,20
Machaerium sp.
2,1
0,20
Davilla elliptica
2,1
0,20
Tocoyena formosa
2,1
0,20
Dioclea glabra
2,1
0,20
Erythroxylum daphnites
2,1
0,20
Bauhinia sp.
2,1
0,20
Secondatia densiflora
2,1
0,20
Arrabidaea sp.
2,1
0,20
Total
1078,4 100,00
0,037
0,026
0,025
0,014
0,061
0,108
0,010
0,052
0,039
0,033
0,030
0,016
0,016
0,011
0,011
0,011
0,008
0,007
0,006
0,006
0,005
0,004
0,004
0,004
0,004
0,003
24,608
0,15
0,10
0,10
0,06
0,24
0,43
0,04
0,20
0,15
0,13
0,12
0,07
0,07
0,05
0,05
0,07
0,03
0,03
0,02
0,02
0,02
0,02
0,02
0,02
0,02
0,02
100,00
4,26
0,63
1,17
4,26
0,63
1,13
4,26
0,63
1,12
4,26
0,63
1,08
2,13
0,32
0,95
2,13
0,32
0,94
2,13
0,32
0,75
2,13
0,32
0,72
2,13
0,32
0,67
2,13
0,32
0,64
2,13
0,32
0,63
2,13
0,32
0,58
2,13
0,32
0,58
2,13
0,32
0,56
2,13
0,32
0,56
2,13
0,32
0,56
2,13
0,32
0,54
2,13
0,32
0,54
2,13
0,32
0,54
2,13
0,32
0,54
2,13
0,32
0,54
2,13
0,32
0,54
2,13
0,32
0,54
2,13
0,32
0,53
2,13
0,32
0,53
2,13
0,21
0,53
674,6 100,00 300,00
Intervalo de Confiança (P= 0,95): Densidade= [1072-1084]; Dominância= [24,311-24,905]
Em 2006, a posição hierárquica das espécies apresentou mudanças expressivas em
relação a 1999; de acordo com Marimon et al. (2002) as espécies de maior importância foram
Mauritia flexuosa (IVI= 50,50), Cecropia pachystachya (24,07), Astrocaryum vulgare
(18,20), Tapirira guianensis (16,53), Xylopia aromatica (13,75), Physocalymma scaberrimum
(12,33), Virola urbaniana (12,10), Mabea pohliana (8,28), Cordia sellowiana (7,58) e
Himatanthus bracteatus (7,53). Comparando com o inventário de 1999 as espécies mais
importantes que não mudaram de posição hierárquica ou alteraram apenas uma posição em
2006 foram M. flexuosa (1ª posição em 1999 e 2006, respectivamente), A. vulgare (3ª e 2ª) e
M. pohliana (8ª e 7ª). As mudanças mais expressivas foram registradas para C. pachystachya,
que passou da 2ª posição em 1999 para a 11ª em 2006, H. bracteatus (10ª para 5ª), Acosmium
sp. (15ª para 10ª), V. urbaniana (7ª para 3ª) e A. subincanum (13ª para 9ª).
67
Esta porção de mata, apesar de ser a única onde a espécie de maior IVI em 1999
também se manteve na primeira posição no inventário de 2006 (Mauritia flexuosa),
apresentou grandes mudanças nas posições hierárquicas das demais espécies, com algumas
desaparecendo da mata, algumas novas sendo registradas (Cap. 1) e outras alterando até 35
posições (ex: Mauritiella armata) em relação ao levantamento de 1999.
As espécies Himatanthus bracteatus, Virola urbaniana e Physocalymma scaberrimum
ganharam até cinco posições hierárquicas de IVI em 2006 em conseqüência do aumento da
dominância absoluta. Estas também são exemplos de espécies clímax exigentes de luz (Cap.
1) que, provavelmente, foram beneficiadas com um aumento no crescimento (o número de
indivíduos sofreu pouca alteração) em função da maior entrada de luz na mata, resultante da
queimada que ocorreu em 2001. Dentre as espécies que perderam posições destacam-se C.
pachystachya, X. aromatica e C. sellowiana, todas classificadas como pioneiras (OliveiraFilho & Ratter 1995; Lorenzi 2002; Guarino & Walter 2005). Neste caso, sugere-se que esta
porção de mata encontra-se em processo de recuperação pós-distúrbio.
Considerando-se todas as 71 espécies amostradas no baixo em 2006, apenas uma
(Mauritia flexuosa) manteve a mesma posição hierárquica de IVI nos dois períodos de estudo
(1999 e 2006), duas mudaram apenas uma posição, 16 mudaram duas ou três posições
hierárquicas e 52 mudaram cinco ou mais posições entre os dois períodos estudados.
Mauritia flexuosa é uma espécie perenifólia, heliófita e higrófita, encontrada em várias
formações vegetais, porém invariavelmente em áreas brejosas ou permanentemente
inundadas. É particularmente freqüente nas baixadas úmidas do Brasil Central (Oliveira-Filho
& Ratter 2000) e ocorre em agrupamentos quase homogêneos (buritizais) (Lorenzi 2002).
Astrocaryum vulgare (3ª posição em 1999 para 2ª em 2006), ao contrário do que foi registrado
na porção do alto, esteve entre as espécies com pequenas alterações hierárquicas nesta porção.
Cecropia pachystachya, espécie pioneira que também ocorre com freqüência em solos úmidos
(Oliveira-Filho & Ratter 1995; Felfili 1995; Lorenzi 2002), alterou nove posições (2ª para
11ª), sugerindo o fechamento da vegetação nesta porção. Tapirira guianensis, apresentou
pouca mudança hierárquica (4ª para 6ª), confirmando o que já foi observado por OliveiraFilho & Ratter (1995) que a consideram uma espécie cosmopolita que apresenta alta
plasticidade em termos ambientais, ocorrendo desde a América Central até o Sul do Brasil,
inclusive em solos com altos teores de alumínio, como os do Cerrado (Britez et al. 2002).
Aspidosperma subincanum (passou de 12ª para 9ª posição em 2006), tal como discutido
anteriormente, também pode ter sido beneficiada nesta porção de mata a partir da proibição do
corte, após a implantação do Parque do Bacaba.
68
Convém salientar que na porção do baixo, a expressiva mudança de posições
hierárquicas registrada para a maioria das espécies, em comparação com as porções do alto e
do meio, também pode estar sendo ocasionada por distúrbios ligados às inundações e ao
afloramento do lençol freático no período chuvoso. Rodrigues (2000) apresenta a elevação do
curso d’água e/ou do lençol freático como um processo de perturbação natural nas formações
ribeirinhas, tornando mais complexa a dinâmica sucessional dessas áreas, pois esses fatores
causam alterações vegetacionais decorrentes da deposição de sedimentos, soterramento ou
retirada da serapilheira e do banco de sementes. O autor observa ainda que as espécies
apresentam uma performance diferencial ao encharcamento sazonal, tal como observado em
Mauritia flexuosa, espécie de maior importância nesta porção e típica de áreas alagadas
(Oliveira-Filho & Ratter 1995).
As espécies mortas em pé, em 2006, representaram na porção do baixo 4% da
densidade e 2,6% da área basal total. No inventário de 1999 as espécies mortas representaram
6,9% da densidade e 3,5% da área basal total (Marimon et al. 2002). Nesta porção foi
registrada uma redução na densidade e na área basal das espécies mortas em 2006, sugerindo
que esta pode ter sido menos afetada pela queimada que ocorreu em 2001 e se encontra
atualmente em estágio de recuperação pós-distúrbio, tal como já discutido anteriormente.
As três porções estudadas na mata de galeria do Córrego Bacaba apresentaram
mudanças na estrutura da vegetação lenhosa no período analisado (1999 e 2006). Em um
intervalo de sete anos, observa-se que a ordem das espécies sofreu alterações hierárquicas em
maior ou menor intensidade. Em alguns casos, como na porção do baixo para Mauritia
flexuosa, não ocorreu mudança da espécie de maior IVI e, em outros casos, como na porção
do alto, foi registrada uma expressiva mudança na posição da espécie mais importante, como
Astrocaryum vulgare, que passou da 5ª posição em 1999 para a 1ª em 2006. Este aspecto
reforça que esta mata é dinâmica, sendo resiliente em algumas porções e em relação a
algumas populações e resistente em outras. Felfili (1995) e Pinto & Hay (2005) observaram
que a dinâmica das comunidades vegetais é regulada por flutuações cíclicas, alternando
períodos de alta mortalidade com outros de alto recrutamento, mantendo a estrutura e a
composição florística da comunidade aparentemente estável.
Em relação às espécies de maior IVI registradas nas três porções da mata de galeria do
Córrego Bacaba, Calophyllum brasiliense e Protium heptaphyllum também foram
consideradas importantes por Guarino & Walter (2005) em duas matas de galeria no Distrito
Federal. Oliveira-Filho & Ratter (1995) analisaram 106 listas de espécies que ocorrem em
matas ciliares no Brasil e dentre as espécies citadas, Protium heptaphyllum, Tapirira
69
guianensis e Xylopia aromatica, que também apareceram entre as mais importantes no
presente estudo, foram apontadas pelos referidos autores entre as 13 mais importantes, tendo
sido classificadas como generalistas quanto ao tipo de hábitat.
Curiosamente, entre as dez espécies de maior IVI no presente estudo, nenhuma foi
comum às três porções da mata de galeria do Córrego Bacaba. É considerável que porções de
mata tão próximas entre si (distância menor do que 300 m entre as porções) apresentem
características estruturais da vegetação (densidade, freqüência e dominância relativa das
principais espécies) tão distintas. Astrocaryum vulgare foi a única espécie que ocupou
posições hierárquicas próximas na porção do alto (1º IVI) e do baixo (2º). Oliveira-Filho
(1989), apesar de considerar somente as cinco espécies de maior IVI, também não encontrou
espécies em comum nas três áreas por ele estudadas (nascente, cachoeira e vereda).
No presente estudo, isto se deve porque as porções de mata estudadas apresentam
características ambientais heterogêneas, fato este que pode contribuir para as diferenças
estruturais observadas na vegetação. Na porção do alto, a declividade é acentuada e apresenta
afloramentos rochosos, no meio também há afloramentos rochosos, mas a declividade do
terreno é menos acentuada e no baixo, a topografia plana favorece o acúmulo de água e o
afloramento do lençol freático no período chuvoso. Neste caso, onde as vertentes são mais
inclinadas, a drenagem é favorecida e onde o terreno é plano o afloramento sazonal do lençol
freático possibilita o surgimento do buritizal.
Entre os dois períodos de estudo (1999 e 2006), a mata de galeria do Córrego Bacaba
apresentou diferenças na estrutura fitossociológica. As maiores diferenças foram observadas
na porção do baixo, com grandes alterações quanto às espécies de maior IVI, com apenas uma
espécie permanecendo na mesma posição entre os dois levantamentos.
De modo geral, o número de espécies raras permaneceu elevado nos dois períodos
(1999 e 2006), confirmando um padrão esperado em matas de galeria do Cerrado e
contribuindo para uma maior diversidade. Entretanto, as maiores alterações no IVI foram
registradas nas espécies raras ou com pequeno número de indivíduos, favorecendo a
predominância das espécies mais abundantes. As mudanças no IVI registradas nas espécies
das três porções de mata estudadas reforçam a idéia de que esta mata apresenta uma dinâmica
constante, sendo resiliente em algumas porções e resistente em outras.
Baseando-se na composição florística e nas características estruturais de cada porção
da mata de galeria do Córrego Bacaba, sugere-se que estas porções tenham sido afetadas de
forma diferenciada pela queimada que atingiu a área em 2001. A porção do alto, por se
encontrar em terreno com maior declive e solo de menor umidade (Marimon et al. 2003),
70
pode ter sido a mais afetada pelo fogo, visto que uma espécie típica de ambientes
antropizados, Astrocaryum vulgare, passou a ocupar a primeira posição de importância na
comunidade, em comparação com o levantamento realizado antes da passagem do fogo
(1999).
A porção do meio, que apresenta características ambientais similares à porção do alto
também sofreu mudança na posição hierárquica da espécie de maior IVI. Entretanto, neste
caso, o impacto do fogo pode não ter sido muito grande, visto que espécies pioneiras, como
Cecropia pachystachya, encontram-se com as populações em declínio. Por outro lado, sugerese que apesar de ter sofrido grandes mudanças estruturais nas populações, a porção do baixo,
provavelmente por apresentar condições de maior umidade no solo, esteja conseguido
recuperar a estrutura da vegetação mais rapidamente após a passagem do fogo, visto que a
posição hierárquica de algumas espécies pioneiras (C. pachystachya e Xylopia aromatica)
declinou entre o período estudado, indicando que a vegetação encontra-se em fase de
fechamento pós-distúrbio, aumentando o sombreamento das espécies no sub-bosque. Além
disso, esta porção foi a única onde a espécie de maior IVI (Mauritia flexuosa) se manteve a
mesma nos dois períodos de amostragem.
71
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75
Capítulo III
CRESCIMENTO, RECRUTAMENTO E MORTALIDADE DA MATA DE GALERIA DO
CÓRREGO BACABA EM UM PERÍODO DE SETE ANOS (1999-2006),
NOVA XAVANTINA-MT
3.1 Introdução
As comunidades florestais são dinâmicas e as mudanças ocorrem continuamente em
níveis individuais e populacionais ao longo do tempo, mesmo que a comunidade como um
todo seja considerada estável devido a um balanço entre crescimento, recrutamento e
mortalidade (Felfili 1995a).
Nas matas de galeria e ciliares as espécies vegetais se distribuem em resposta aos
processos formadores de distúrbios naturais e antrópicos que se modificam ao longo do
tempo. De forma geral, as modificações em uma comunidade ficam expressas na sua estrutura
populacional, sendo importante estudar e detectar os principais fatores que limitam e
promovem o sucesso de uma população em determinada área envolvendo tanto avaliações
estruturais como temporais (Schiavini et al. 2001).
Embora o Cerrado seja o segundo maior bioma da América do Sul e esteja sofrendo
um forte antropismo com mudanças associadas ao desmatamento, alta incidência de fogo e
invasão de plantas exóticas, há poucos estudos usando parcelas permanentes para avaliar a
mortalidade, crescimento e recrutamento de sua vegetação (Henriques & Hay 2002). Alguns
estudos de dinâmica já realizados em matas de galeria e ciliares no Brasil Central indicam que
estas, mesmo sendo uma faixa estreita de vegetação circundada pelo cerrado, apresentam
flutuações nas taxas de mortalidade e recrutamento de algumas populações, mas tendem ao
equilíbrio dinâmico demonstrando serem comunidades auto-regenerativas (Felfili 1995a, b;
Pinto & Hay 2005; Oliveira & Felfili 2005).
Estudos da dinâmica são importantes, pois buscam compreender o processo evolutivo
de uma comunidade ou população, num determinado intervalo de tempo, contribuindo para
predições sobre o crescimento e a produtividade florestal (Felfili 1995a; Felfili et al. 2000;
Lopes & Schiavini 2003; 2007), facilitando a implantação de programas de manejo, a
utilização racional e a recuperação das florestas tropicais. Além disso, tais estudos podem
facilitar a distinção entre o impacto causado por atividades humanas daqueles causados por
distúrbios naturais (Muniz & Schiavini 2003).
76
O objetivo deste estudo foi avaliar as mudanças na estrutura da mata de galeria do
Córrego Bacaba localizada no Parque Municipal do Bacaba em Nova Xavantina-MT, com
base na mortalidade, recrutamento e crescimento da vegetação lenhosa em um período de sete
anos (1999 e 2006).
3.2 Material e métodos
Área de estudo - O trabalho foi realizado em três porções (alto, meio e baixo) da mata
de galeria do Córrego Bacaba (14º41’S e 52º20’W), no Parque Municipal do Bacaba em Nova
Xavantina, Mato Grosso. A mata ocupa cerca de 8% dos quase 500 ha do Parque e
desempenha um papel importante, pois protege a água do Córrego Bacaba, que abastece um
bairro residencial do município sem tratamento prévio. A altitude média da área de estudo é
de 346 m e o clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, com precipitação anual
entre 1.300 a 1.500 mm e temperatura média mensal de 25ºC (Marimon et al. 2003).
A porção do alto apresenta uma declividade média de 42%, com presença de
afloramentos rochosos de quartzito e ocorrência de enchentes sazonais com drenagem rápida.
O meio apresenta declividade de aproximadamente 32%, com afloramentos rochosos e em
locais com menor declividade o lençol freático aflora no período chuvoso e o baixo, com
reduzida declividade (cerca de 5%), não apresenta afloramentos rochosos e a drenagem do
solo é deficiente (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). Em julho de 2001 foi registrada uma
queimada no Parque que também atingiu parte da mata de galeria do Córrego Bacaba. O fogo
que adentrou no Parque originou-se em uma fazenda adjacente, visto que os pecuaristas locais
utilizam as queimadas no período da seca para renovar o pasto.
Amostragem da vegetação - No ano de 1999 foram estabelecidas 141 parcelas fixas
(Philip 1994) permanentes de 10x10 m visando a caracterização fitossociológica e estrutural
da vegetação (Marimon et al. 2001; 2002; 2003). As parcelas foram posicionadas contínua e
sistematicamente, atravessando perpendicularmente o córrego e cobrindo toda área coberta
pela mata até a borda, no encontro com o cerrado stricto sensu. Foram demarcadas 47
parcelas perpendiculares ao córrego em cada porção (alto, meio e baixo).
Em 1999, todas as árvores, arvoretas, palmeiras, lianas ou indivíduos mortos em pé
com DAP (diâmetro à altura do peito) ³ 5 cm foram identificados e medidos (Marimon et al.
2002). No ano de 2006 (presente estudo), todos os indivíduos amostrados no primeiro
inventário foram remedidos, juntamente com aqueles que atingiram o diâmetro mínimo de
77
inclusão (recrutas). Cada novo indivíduo amostrado foi marcado com uma plaqueta de
alumínio numerada, permitindo sua posterior localização nas parcelas.
Parâmetros de dinâmica – Baseando-se no número de indivíduos, foram calculadas as
taxas de mortalidade, recrutamento (Sheil et al. 1995, 2000) e rotatividade (média dos valores
absolutos entre as taxas de mortalidade e recrutamento). A partir da taxa de mortalidade e
recrutamento foram calculados os tempos de meia-vida (t1/2) e duplicação (t2). O t1/2
corresponde ao tempo estimado para que a comunidade reduza seu tamanho à metade em
função da taxa de mortalidade ou de decréscimo; quanto maior a taxa de
mortalidade/decréscimo menor o t1/2. O t2 corresponde ao tempo necessário para a
comunidade duplicar seu tamanho em função da taxa anual de recrutamento ou de acréscimo;
quanto maior o recrutamento/acréscimo, menor o t2. A estabilidade foi calculada a partir da
diferença entre o tempo de duplicação e a meia-vida; quanto mais próximo de zero mais
estável seria a comunidade. O tempo de substituição (turnover time) foi calculado pela média
entre t1/2 e t2 e quanto menor, mais dinâmica é a comunidade. Para os cálculos foram
utilizadas as fórmulas propostas por Korning & Balslev (1994a).
A partir da área basal foram calculadas as taxas de incremento (acréscimo –
crescimento dos sobreviventes + recrutas, dividido pelo tempo transcorrido em anos), perda
(decréscimo – diminuição dos sobreviventes + mortas) e rotatividade (média dos valores
absolutos entre taxa de decréscimo e de acréscimo) (Pinto 2002). O incremento periódico
anual em diâmetro (IPA), expresso em cm ano-1 foi calculado a partir da diferença do DAP na
segunda e na primeira medição dividido pelo período estudado, em anos (Scolforo 1994;
Imaña-Encinas et al. 2005).
Os parâmetros anteriormente descritos foram calculados para as comunidades de cada
porção de mata estudada (alto, meio e baixo) e para as principais espécies em IVI (índice de
valor de importância, vide Capítulo 2) que apresentaram mais de 10 indivíduos em 2006.
3.3 Resultados e discussão
Nas três porções de mata estudadas observamos que a mortalidade foi superior ao
recrutamento (Tab. 3.1). A porção do baixo foi a que apresentou a maior taxa de mortalidade
(6,84%), mas em contrapartida também apresentou o maior recrutamento (4,73%). Já a porção
do alto apresentou os menores valores, tanto de mortalidade quanto de recrutamento, sendo
78
até três vezes menores que na porção do baixo. Em estudos de dinâmica realizados com a
comunidade lenhosa em matas de galeria no Distrito Federal e em Mina Gerais, Felfili
(1995a) e Lopes & Schiavini (2007) também encontraram valores de mortalidade superiores
aos de recrutamento.
Na porção do alto a diferença foi de apenas 0,46% em favor da mortalidade, indicando
um baixo desbalanceamento no período estudado, dentro de valores normalmente encontrados
em florestas de galeria (Felfili 1995a). Lieberman & Lieberman (1985), em uma floresta na
Reserva de La Selva na Costa Rica e Pires & Prance (1977) na Amazônia brasileira, também
encontraram um pequeno desbalanceamento em favor da mortalidade. Felfili (1995a, b)
observou que isto acontece naturalmente, pois a mortalidade abre espaço para o recrutamento
e em pouco tempo o balanceamento é restabelecido.
Nas porções do meio e do baixo o desbalanceamento em favor da mortalidade foi
muito superior ao observado no alto (0,46, 1,06 e 2,11%, no alto, meio e baixo,
respectivamente). No caso da porção do baixo, a maioria das espécies que apresentaram
perdas foram as pioneiras (42,4% dos indivíduos) e na porção do meio a entrada do fogo em
2001 pode ter sido determinante para este desbalanceamento. Em ambos os casos, a estrutura
da comunidade poderá sofrer mudanças qualitativas com o passar dos anos, principalmente no
baixo, onde espécies tolerantes à sombra poderão se tornar mais representativas. Em uma
floresta de galeria no Brasil Central, Felfili (1995a) também observou que a maioria das
espécies que sofreu perdas pertencia ao grupo das “exigentes de luz” e aquelas que mais
recrutaram pertenciam às “tolerantes à sombra”.
Os valores registrados no presente estudo, para a taxa anual de mortalidade nas três
porções da mata de galeria do Bacaba (Tab. 3.1), em geral, foram superiores aos valores
observados por Felfili (1995), van den Berg (2001), Pinto (2002) e Lopes & Schiavini (2007)
e menores que os encontrados por Appolinário et al. (2005), Aquino (2007) e Oliveira-Filho
et al. (2007). De acordo com Felfili (1995a), valores de taxa de mortalidade próximos a 3,5%
ano-1 seriam típicos de áreas que sofreram distúrbios. Este aspecto reforça o padrão dinâmico
da mata de galeria do Bacaba, visto que as porções avaliadas no presente estudo apresentaram
valores superiores ou muito próximos aos registrados por Felfili (1995a). Segundo Lopes &
Schiavini (2007), taxas menores são características de áreas mais estáveis, sem grandes
distúrbios e auto-mantenedoras, com populações numericamente constantes em um equilíbrio
dinâmico, mas isto não implica que estas seriam estáticas ou incapazes de mudar ao longo do
tempo.
79
A elevada mortalidade registrada na mata do Bacaba, quando comparada com outras
matas de galeria (Felfili 1995; van den Berg 2001 e Pinto 2002 e Lopes & Schiavini 2007),
pode ser explicada pela passagem do fogo em 2001 e pelo afloramento do lençol freático
(porção do baixo), favorecendo somente a permanência de espécies adaptadas a determinados
fatores ambientais. Alguns autores afirmam que o fogo é responsável pela exclusão de
algumas espécies sensíveis e pela redução no número de indivíduos, sendo que, sua exclusão
favorece a incrementos progressivos na vegetação lenhosa, permite a regeneração das
espécies e reduz a rotatividade de plantas (Felfili et al. 2000; Henriques & Hay 2002; Libano
& Felfili 2006; Aquino et al. (2007)).
Tabela 3.1. Parâmetros de dinâmica da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm) em três porções
(alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova
Xavantina-MT. Sendo: AB= área basal (m2 ha-1) e IPA= incremento periódico anual (cm
ano-1).
ALTO
MEIO
BAIXO
PARÂMETROS
-1
2,38
3,72
6,84
Taxa de mortalidade (% ano )
-1
1,92
2,66
4,73
Taxa de recrutamento (% ano )
-1
21,27
22,44
14,24
Taxa anual de incremento (% ano )
0,059
0,072
0,059
Taxa anual de perda (% ano-1)
29,12
18,63
10,13
Tempo de meia vida (anos)
36,10
26,06
14,65
Tempo de duplicação (anos)
-1
2,15
3,19
5,78
Taxa de rotatividade (indivíduos, % ano )
10,66
11,25
7,14
Taxa de rotatividade (AB, % ano-1)
32,61
22,34
12,39
Tempo de substituição (anos)
6,98
7,43
4,52
Estabilidade (anos)
2
-1
1,7100
1,5314
2,2818
Área Basal de incremento (m ha )
0,3565
0,1475
0,3545
Área Basal de decremento (m2 ha-1)
2
-1
0,2541
0,2246
1,8087
Área Basal de recrutas (m ha )
0,20
0,25
0,35
Incremento periódico anual (IPA)
1,44
1,02
1,10
Coeficiente de variação (do IPA)
Como conseqüência de elevados valores de mortalidade e recrutamento, a porção do
baixo da mata do Bacaba apresentou também os menores valores de tempo de meia vida e de
duplicação, assim como os menores valores referentes ao tempo de substituição e estabilidade
e maior taxa de rotatividade (nº de indivíduos), caracterizando-se como a porção mais
dinâmica da mata estudada (Tab. 3.1). Situação oposta foi observada na porção do alto, que
apresentou os menores valores de mortalidade e recrutamento, sendo a porção com o menor
desbalanceamento entre estes dois parâmetros. Apesar de muito próximas geograficamente, as
porções estudadas apresentaram diferenças em relação à estrutura e aos padrões de dinâmica
80
da comunidade lenhosa. Neste caso, a heterogeneidade ambiental (alto= elevada declividade e
afloramentos rochosos e baixo= relevo plano e sem rochas) e as perturbações antrópicas
(fogo) podem ter contribuído para evidenciar as diferenças registradas.
Lopes & Schiavini (2007), estudando uma mata de galeria em Minas Gerais,
registraram diferentes parâmetros de dinâmica para comunidades localizadas em áreas
próximas. Felfili (1995b) e Pinto & Hay (2005) afirmam que a dinâmica das comunidades
vegetais é regulada por flutuações cíclicas, apresentando períodos de alta mortalidade com
outros de alto recrutamento de forma alternada, mantendo a estrutura e composição da
comunidade aparentemente estável. Entretanto, Cabral (1999) afirma que o desequilíbrio entre
mortalidade e recrutamento pode ser comum em áreas com medições realizadas em curtos
intervalos de tempo.
Segundo Henriques & Hay (2002), os processos dinâmicos de uma fitofisionomia
parecem depender de quatro fatores locais: água, nutrientes, herbivoria e fogo. Estes autores
afirmam que o fogo reduz o recrutamento, conduzindo a uma interrupção ou estabilização do
desenvolvimento da vegetação, processo pelo qual a mata de galeria do Bacaba pode estar
sendo influenciada, justificando seu baixo recrutamento em relação à mortalidade.
As taxas anuais de incremento, perda e rotatividade (AB) apresentaram os maiores
valores na porção do meio (Tab. 3.1). Quando nos referimos à área basal, a porção do baixo
apresentou os maiores valores do incremento e dos recrutas. Embora os valores da taxa de
mortalidade terem sidos elevados nas três porções estudadas, o incremento em área basal
sugere que esta mata encontra-se em um período intermediário de sucessão, onde estaria
reduzindo a densidade e aumentando a área basal total, tal como foi observado por Felfili
(1995a) e Werneck et al. (2000), em um padrão de auto-desbaste. Em um estudo sobre
dinâmica realizado por Oliveira & Felfili (2005), em uma mata de galeria do Brasil Central, a
comunidade apresentou elevada redução da densidade total e aumento da área basal devido a
um maior sombreamento da área, inibindo o crescimento de pioneiras e heliófilas, conduzindo
a comunidade a um estágio de sucessão mais climácico, situação similar a do presente estudo.
Oliveira-Filho et al. (2007) e Chagas et al. (2001), estudando duas florestas em Minas
Gerais, registraram maior mortalidade do que recrutamento, assim como taxa de ganho em
área basal superior a perda. De acordo com os referidos autores, isto representa um quadro de
instabilidade, com acúmulo de biomassa em pé e declínio da densidade de árvores, associado
a uma fase de construção intermediária a tardia do ciclo-silvigenético pós-distúrbio. Lopes &
Schiavini (2007) afirmam que fatores exógenos como clima, geologia, incidência luminosa e
distúrbios naturais favorecem a mudanças evolutivas na comunidade vegetal, uma vez que as
81
alterações que provocam a saída de espécies também fornecem condições para a entrada de
espécies mais adaptadas às condições ambientais da comunidade.
Na porção do alto, 55% das espécies registradas entre 1999 e 2006 apresentaram
mortalidade, recrutamento ou ambos, sendo que no meio foram 69% e no baixo, 70%. Neste
caso, a porção do alto pode ser considerada mais estável do que as demais porções. Felfili
(1995b) observou que em uma mata de galeria do Brasil Central, 86% de todas as espécies
sofreram mortalidade, recrutamento ou ambos em um período de seis anos, conferindo um
caráter de elevada dinâmica àquela floresta. Por outro lado, em uma mata estudada na
Fazenda Água Limpa (DF), somente seis das espécies de maior abundância apresentaram
mudanças na densidade, sendo esta considerada uma comunidade estável (Felfili et al. 2000).
A mata de galeria do Córrego Bacaba, em geral, apresentou elevados valores de mudanças,
indicando ser bastante dinâmica, provavelmente devido ao estágio de sucessão intermediário
no qual se encontra. Segundo Appolinário et al. (2005), espera-se maior estabilidade em
florestas que sofrem menos perturbações.
O tempo de meia vida e de duplicação e a taxa de rotatividade e estabilidade,
registrados para as três porções da mata de galeria do Bacaba (Tab. 3.1), conferiram a esta
floresta um padrão mais dinâmico quando comparada com uma mata de vale estudada por
Pinto (2002), na Chapada dos Guimarães-MT. A mata do Bacaba também apresentou-se mais
dinâmica do que uma floresta tropical semidecidual em Brasília e outra em Uberlândia
(Appolinário et al. 2005; Paiva et al. 2007) e quando comparada com fragmentos de cerrado
sensu stricto no Maranhão (Aquino et al. 2007). Entretanto, Oliveira-Filho et al. (2007) em
um fragmento de floresta semidecidual em Minas Gerais, encontraram valores de rotatividade
maiores, provavelmente em função da maior luminosidade e exposição aos ventos,
aumentando a proporção de espécies de crescimento rápido e ciclo de vida curto.
No presente estudo, comparando-se três grupos ecológicos nas três porções da mata do
Bacaba (Tab. 3.2) as espécies clímax exigentes de luz apresentaram a maior porcentagem de
espécies e indivíduos para os quais foi registrada mortalidade. Com relação ao recrutamento,
este grupo ecológico também apresentou os maiores valores quando comparado com os outros
dois (Tab. 3.2). Felfili (1995b) observou em seu estudo que as espécies exigentes de luz
apresentaram maiores taxas de mortalidade do que as espécies tolerantes à sombra e estas
apresentaram maior recrutamento, indicando que o dossel da floresta por ela estudada poderá
sofrer mudanças qualitativas à medida que as tolerantes à sombra se tornarem mais comuns.
Comparando-se cada grupo ecológico entre as porções de mata do Córrego Bacaba,
observou-se que apenas as espécies clímax tolerantes a sombra sempre apresentaram
82
percentual de mortalidade superior ao recrutamento (Tab. 3.2). Este fato difere do que foi
registrado por Felfili (1995b) e Chagas et al. (2001), onde estas espécies apresentaram maior
recrutamento em relação à mortalidade. No caso da mata do Bacaba é possível que os
distúrbios sofridos pela queimada e a abertura da mata, permitindo maior entrada de luz,
tenham promovido um aumento na mortalidade, quando comparado com o recrutamento,
deste grupo de espécies.
De acordo com Korning & Balslev (1994b), a dinâmica de uma comunidade pode ser
expressa pelo tempo de substituição e pela taxa de rotatividade, que sintetizam as mudanças
que estão ocorrendo na comunidade (recrutamento ou acréscimo e mortalidade ou
decréscimo). No presente estudo, a maior dinâmica foi registrada para a porção do baixo em
função das altas taxas de entrada e saída (recrutamento e mortalidade). No caso do baixo, a
elevada mortalidade pode estar associada a fatores abióticos, como afloramento do lençol
freático e maior período de encharcamento do solo (Marimon et al. 2003). Por outro lado, o
elevado recrutamento, pode ter sido favorecido pela entrada de luz difusa no local,
confirmado pela elevada ocorrência de recrutas de espécies heliófilas nesta porção. Padrão
similar, em florestas de galeria, também foi registrado por van den Berg (2001) e Pinto
(2002).
Em relação à área basal do incremento e dos recrutas (m2 ha-1), a mata do Bacaba
apresentou valores bem maiores aos encontrados por Pinto (2002). Na mata do Bacaba, a área
basal de incremento variou entre 1,53 a 2,28 m2 ha-1, enquanto que na mata de vale da
Chapada dos Guimarães-MT esteve entre 0,09 e 0,4 m2 ha-1. Da mesma forma, a área basal
dos recrutas foi superior na mata do Bacaba (0,22 a 1,81 m2 ha-1) do que na mata estudada por
Pinto (2002) (0,028 a 0,14) e a taxa de rotatividade (área basal, % ano-1) na mata do Bacaba
(Tab. 3.1) foi até três vezes superior ao valor registrado por Pinto (2002). A mata estudada por
Pinto (2002) localiza-se em uma depressão de aproximadamente 70 m em relação às áreas
adjacentes. Neste caso, comparando-se com a mata do Bacaba, as espécies que ocorrem na
mata da Chapada dos Guimarães estão sujeitas a uma condição ambiental mais extrema
(acentuado gradiente topográfico), fato este que pode reduzir o incremento e limitar o
recrutamento de muitas espécies.
83
Tabela 3.2. Número de espécies e indivíduos da comunidade lenhosa (DAP ≥ 5 cm) que
apresentaram mortalidade (Mort.) e recrutamento (Recr.) em três porções (alto, meio e
baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT.
Sendo: Clímax luz= espécies clímax exigentes de luz e Clímax sombra= espécies clímax
tolerantes à sombra. Valores percentuais entre parênteses.
ALTO
MEIO
BAIXO
Grupo Ecológico
Mort.
Recr.
Mort.
Recr.
Mort.
Recr.
Espécies
8 (27,4)
4 (14,3)
8 (17,4)
6 (18,2)
8 (16,7)
11 (28,2)
Pioneiras
11 (37,8)
15 (53,6)
23 (50,0)
17 (51,5)
29 (60,4)
21 (53,8)
Clímax luz
10 (34,8)
9 (32,1)
14 (32,6)
10 (30,3)
11 (22,9)
7 (18,0)
Clímax sombra
Indivíduos
Pioneiras
Clímax luz
Clímax sombra
16 (24,6)
23 (35,4)
26 (40,0)
14 (25,4)
24 (43,6)
17 (31,0)
15 (15,3)
44 (44,9)
39 (39,8)
13 (19,4)
32 (47,8)
22 (32,8)
89 (42,3)
85 (40,4)
36 (17,3)
58 (40,0)
73 (50,3)
14 (9,7)
A taxa de rotatividade é influenciada por altas taxas de distúrbios naturais, como
formação de clareiras e queda parcial ou total de árvores de grande porte (Pinto & Hay 2005).
Na mata do Bacaba, além do fogo em 2001, o afloramento do lençol freático na porção do
baixo podem ser fatores importantes na determinação da taxa de rotatividade e da área basal
do incremento e dos recrutas.
Quando analisamos os parâmetros da dinâmica das espécies de maior IVI (índice de
valor de importância) e com maior número de indivíduos (> 10) para cada porção de mata
estudada, Astrocaryum vulgare (alto) e Tapirira guianensis (baixo) se destacam entre as de
maior taxa de mortalidade (Tab. 3.3). Ambas são consideradas espécies pioneiras (Pinto 2002;
Lorenzi et al. 1996) e, neste caso, a redução na densidade destas populações pode indicar que
a comunidade está em fase de recuperação pós-distúrbio, tal como observado por Felfili
(1995a), Oliveira-Filho et al. (1997), Chagas et al. (2001) e Pinto (2002), em outras florestas
do Brasil Central.
Aspidosperma subincanum (meio) e Virola urbaniana (baixo) foram espécies que
apresentaram elevada taxa de recrutamento entre as dez com maior IVI (Tab. 3.3). A.
subincanum é classificada como espécie clímax tolerante à sombra e V. urbaniana, clímax
exigente de luz, indicando que algumas espécies estão progredindo no estágio sucessional.
Dentre as principais espécies das três porções da mata do Bacaba, Virola urbaniana
(baixo) e Tapirira guianensis (baixo) estão entre as de maior taxa de mortalidade e
recrutamento (Tab. 3.3). T. guianensis apresenta uma ampla ocorrência em todo Brasil,
principalmente em formações florestais ombrófilas de planície, sendo também encontrada em
formações secundárias, várzeas e margens de rios (Guimarães 2003; Cesarino et al. 2007).
84
Em uma mata de galeria em Minas Gerais (Lopes & Schiavini 2007), esta espécie esteve entre
as de maior mortalidade e recrutamento.
Na mata de galeria analisada no presente estudo, algumas espécies apresentaram
parâmetros de dinâmica similares, independentemente da porção de mata onde foram
registradas, destacando-se Aspidosperma subincanum (meio e baixo) e Mabea pohliana (alto
e baixo). Outras espécies, como Astrocaryum vulgare e Tetragastris altissima, apresentaram
maior mortalidade em uma porção e maior recrutamento em outra porção de mata (Tab. 3.3).
Neste caso, confirma-se o que também foi observado por Pinto (2002), na floresta de vale da
Chapada dos Guimarães-MT, de que os parâmetros de dinâmica das populações podem ser
extremamente heterogêneos, sugerindo que o processo de dinâmica é multidirecional. Neste
contexto, Felfili (1997) e van den Berg (2001) observaram que a dinâmica das populações
apresenta variações em áreas submetidas a diferentes regimes de distúrbio ou diferentes
condições ambientais. De acordo com Lieberman (1996), as variações na dinâmica das
populações parece ser uma característica intrínseca das espécies tropicais e pode ser um dos
mecanismos responsáveis pela coexistência de várias espécies.
Considerando-se todas as espécies e indivíduos no período de sete anos (1999 a 2006),
o incremento periódico anual (IPA) da comunidade lenhosa em cada porção da mata de
galeria do Córrego Bacaba foi de 0,20 cm.ano-1, para o alto, 0,25 para o meio e 0,35 para o
baixo. Os valores do IPA registrados nas três porções de mata estudadas (Tab. 3.1) são
próximos e até superiores aos valores registrados por Felfili (1995b), para uma mata de
galeria no Brasil Central (0,25 cm.ano-1), em um período de seis anos e por Pinto (2002), em
uma mata de vale na Chapada dos Guimarães-MT (0,21 cm.ano-1), em um período de cinco
anos. Silva et al. (2002) avaliaram 272 árvores em uma floresta de terra firme na Amazônia
central e encontraram incremento médio de 0,16 cm ano-1 e Barreto & Uhl (1993) estudaram
uma floresta no Pará e registraram valores entre 0,2 e 0,6 cm ano-1.
A variação entre os valores de incrementos registrados nas comunidades das três
porções da mata estudada foi elevada, onde todos os coeficientes de variação foram superiores
a 100% (Tab. 3.1). Diversos autores têm registrado grandes variações em termos de
crescimento para comunidades e populações florestais (Pires & Prance 1977; Swaine et al.
1987; Lieberman & Lieberman 1987; Felfili 1995a, b; Felfili 1997; Kellman et al. 1998; van
den Berg 2001; Pinto 2002; Pinto & Hay 2005). De acordo com Felfili (1995b) a elevada
variação entre os incrementos é uma conseqüência da heterogeneidade genética e ambiental
das florestas tropicais, sendo que cada árvore apresenta seu próprio potencial genético
adaptado a uma condição única de micro habitat.
85
Na Tabela 3.4 estão discriminados os valores do incremento periódico anual (IPA) das
espécies amostradas em 1999 e 2006 nas três porções da mata do Bacaba. As variações entre
os valores do incremento de cada espécie foram elevadas. Dentre as espécies avaliadas na
porção do alto, 53% apresentaram o IPA acima do valor médio da comunidade (0,20 cm ano1
). Na porção do meio, 40% das espécies apresentaram IPA acima da média (0,25 cm ano-1) e
no baixo, foram 50% (0,35 cm ano-1). De acordo com Felfili (1995a, b; 1997), as diferenças
registradas nas taxas de crescimento de uma espécie florestal podem estar associadas a
variações ambientais e/ou genéticas.
Analisando-se o IPA de algumas espécies comuns às três porções de mata do Bacaba
(Tab. 3.4), como Hirtella glandulosa, Schefflera morototoni, Protium heptaphyllum, Mimosa
laticifera e Cecropia pachystachya, verificou-se que apresentaram diferenças de até 300% no
incremento de uma porção de mata para outra, podendo indicar que estas espécies apresentam
restrições para crescer em determinados ambientes, visto que o crescimento em determinadas
condições foi reduzido. Por outro lado, algumas espécies como Licania blackii, Mabea
pohliana, Tetragastris altissima, Luehea candicans e Inga heterophylla apresentaram valores
de IPA muito similares nas três porções de mata estudadas, confirmando que apresentam
plasticidade para se adaptar às diferentes condições ambientais.
Dentre as 33 espécies comuns às três porções de mata e que tiveram o incremento
periódico anual (IPA) avaliado (Tab. 3.4), apenas nove apresentaram valores superiores à
média de incremento de cada porção (ex: Sclerolobium paniculatum, Sterculia speciosa, Inga
thibaudiana, Tapirira guianensis, entre outras), 11 espécies apresentaram valores acima da
média em duas porções de mata avaliadas (ex: Hirtella glandulosa, Schefflera morototoni,
Licania blackii, Calophyllum brasiliense, etc.) e oito estiveram acima da média em apenas
uma porção (alto: Licania apetala, Siparuna guianensis, Mimosa laticifera, Tetragastris
altissima e Apuleia leiocarpa; meio: Emmotum nitens e baixo: Byrsonima laxiflora e
Duguetia marcgraviana). Luehea candicans, Physocalymma scaberrimum, Inga heterophylla,
Magonia pubescens e Astrocaryum vulgare apresentaram valores de IPA inferiores à média
da comunidade para as três porções de mata. Todas as espécies comuns às três porções de
mata que apresentaram incrementos acima da média das comunidades caracterizam-se como
espécies de dossel. Felfili (1995a) observou que as espécies que exigem luz e ocupam o
dossel superior apresentam taxa de incremento maior.
Observou-se que o maior incremento periódico anual (IPA) registrado nas três porções
de mata foi para Sclerolobium paniculatum (1 a 2,05 cm ano-1), espécie que pertence ao grupo
das clímax exigentes de luz e apresenta elevado crescimento sob condições de maior
86
luminosidade. Assim, quando os indivíduos desta espécie atingem determinada altura e
diâmetro passam a contar com grande disponibilidade de luz para suprir suas necessidades
fotossintéticas. Felfili & Silva-Júnior (1998) observaram que freqüentemente são encontrados
indivíduos de S. paniculatum de grande porte mortos. Neste caso, esses indivíduos podem
promover a abertura de novas clareiras, mantendo assim a possibilidade de regeneração e
crescimento desta espécie.
Segundo Alvino et al. (2007), Sclerolobium paniculatum possui
um grande potencial para recuperação de áreas degradadas e programas de reflorestamento,
pois tem rápido crescimento e elevada produção de desrama de folhas, o que possibilita uma
rápida formação de serapilheira. Esta espécie geralmente é colonizadora de terrenos marginais
e margens de estrada, iniciando uma sucessão secundária em áreas abertas pela germinação
intensa de sementes no solo (Pires & Marcati 2005; Felfili et al. 2000). Em um estudo
realizado por Felfili et al. (2000), em uma área de cerrado sensu stricto no Distrito Federal, S.
paniculatum foi a espécie que apresentou o maior incremento em um período de nove anos.
As taxas de incremento registradas para as espécies da mata estudada também foram
bastante variáveis, apresentando diferenças entre os indivíduos e entre as espécies (Tab. 3.4).
Felfili (1995a) observou que a variação dos incrementos foi elevada em uma floresta de
galeria em Brasília-DF, tanto para a comunidade quanto para as populações. Marimon (2005)
observou que a grande variação dos incrementos entre os indivíduos de uma espécie pode
indicar um potencial para reagir às mudanças que ocorrem no ambiente. De acordo com a
referida autora, espécies com elevada plasticidade ambiental tendem a apresentar elevados
coeficientes de variação para o incremento. Felfili (1993) observou que a competição entre os
indivíduos e a exigência por luz estariam entre as principais causas da variabilidade,
sugerindo que indivíduos que precisam de luz para crescer podem permanecer com o
incremento igual a zero até que ocorra a abertura de uma clareira. A autora observou ainda
que são as diferenças entre as espécies que permitem sua coexistência e garantem a
exploração dos recursos com sucesso, e a variação entre os incrementos seria uma
conseqüência da heterogeneidade genética e ambiental das florestas.
A taxa de crescimento registrada para algumas espécies pioneiras, como Xylopia
aromatica pode indicar que em algumas porções da mata do Bacaba as condições ambientais,
principalmente luz, estejam sendo favoráveis para o desenvolvimento desta espécie. De
acordo com Oliveira-Filho & Ratter (1995), esta espécie é tipicamente heliófila, de
crescimento rápido e possui ampla distribuição no Brasil Central e no estudo realizado por
Pinto (2002), X. aromatica esteve entre aquelas que apresentaram os maiores valores de
incremento.
87
Comparando-se as espécies coincidentes entre a mata do Bacaba e uma floresta de vale
na Chapada dos Guimarães-MT (Pinto 2002), observou-se que Unonopsis lindmanii,
Pseudolmedia laevigata, Siparuna guianensis e Xylopia aromatica registraram valores de
crescimento superiores nas porções de mata do presente estudo. Neste caso, é provável que as
condições ambientais (relevo acidentado, escarpa) da floresta na Chapada dos Guimarães
sejam mais desfavoráveis para estas espécies quando comparadas com as condições da mata
do Bacaba.
Os valores de incremento das espécies avaliadas no presente estudo representam
apenas uma pequena fase de desenvolvimento das mesmas e provavelmente devem variar
muito ao longo de seu ciclo vital. Alvarez-Buylla et al. (1996) observaram que os processos
que afetam a dinâmica de uma comunidade operam em um padrão estocástico e devem
produzir o mesmo padrão na taxa de crescimento das populações. De qualquer forma, apenas
estudos com longo período de acompanhamento poderão avaliar as variações no crescimento
que ocorrerem ano após ano.
Tal como salientado por Pinto (2002) e Lopes & Schiavini (2007), as diferenças
registradas na dinâmica da mata de galeria do Bacaba nos levam a destacar a variabilidade em
que os processos de dinâmica operam dentro de uma mesma comunidade e o grau de
heterogeneidade espacial que estes processos produzem ao longo do tempo. Assim, para
compreender plenamente a dinâmica da vegetação em comunidades que apresentam elevadas
variações internas, além de seguidas remedições também é necessário considerar as
particularidades dos micro-sítios analisados.
A avaliação de fatores temporais, levando em consideração dados demográficos e de
composição de espécies, como a estabilidade, recrutamento, crescimento, mortalidade,
biologia das espécies e produção de biomassa fornecem informações da comunidade a longo
prazo e as respostas à distúrbios ocasionais, possibilitando a avaliação da capacidade de
manutenção da comunidade ao longo do tempo e a indicação de espécies para cultivo ex situ
em programas de recuperação e manejo de áreas (Libano & Felfili 2006).
88
Tabela 3.3. Parâmetros de dinâmica das árvores com maior IVI e acima de 10 indivíduos (DAP ≥ 5 cm) em três porções (alto, meio e baixo) da mata
de galeria do Córrego Bacaba entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. Sendo: m= taxa de mortalidade (% ano-1), r= taxa de recrutamento (% ano-1),
in= taxa anual de incremento (% ano-1), p= taxa anual de perda (% ano-1), t1/2= tempo de meia vida (anos), t2= tempo de duplicação (anos), TRo= taxa
de rotatividade (indiv., % ano-1), TRoAB= taxa de rotatividade (área basal, % ano-1), Sub= tempo de substituição (anos), Est= estabilidade (anos),
ABin= área basal de incremento (m2 ha-1), Abd= área basal de decremento (m2 ha-1) e Abr= área basal de recrutas (m2 ha-1).
Espécies do ALTO
Astrocaryum vulgare
Diospyros obovata
Calophyllum brasiliense
Mabea pohliana
Protium heptaphyllum
Licania blackii
Oenocarpus distichus
Tetragastris altissima
Espécies do MEIO
Aspidosperma subincanum
Tetragastris altissima
Apuleia leiocarpa
Pouteria gardneri
Ephedranthus parviflorus
Protium heptaphyllum
Luehea candicans
Espécies do BAIXO
Mauritia flexuosa
Astrocaryum vulgare
Virola urbaniana
Physocalymma scaberrimum
Himatanthus bracteatus
Tapirira guianensis
Mabea pohliana
Xylopia aromatica
m
21,48
2,27
0
1,49
2,42
0,98
0
4,69
r
2,63
1,66
0
2,82
1,66
1,88
2,02
0
in
14,551
21,779
23,839
17,688
19,321
17,633
23,846
19,248
p
10,732
0,134
0,015
0
0,172
0
0,010
7,277
t 1/2
27,94
30,53
..
46,51
28,64
70,72
0
14,77
t2
26,35
41,75
..
24,57
41,75
36,86
34,31
..
TRo
2,55
1,96
0
2,15
2,04
1,42
1,01
2,34
TRoAB
12,64
10,95
11,92
8,84
9,66
8,81
11,92
13,25
Sub.
27,14
36,14
..
35,54
35,19
48,38
34,31
7,38
Est.
1,59
11,22
..
21,94
13,11
44,67
34,31
14,77
ABin
0,0779
0,1256
0,1254
0,0540
0,0665
0,8582
0,2782
0,0474
Abd
0,2153
0,0151
0,0008
0
0,0349
0
0,0002
0,0002
Abr
0,0750
0,0118
0
0,0133
0,0075
0,0071
0,0185
0
1,49
2,07
0
1,05
3,13
1,49
3,75
4,89
2,97
0
1,13
2,07
1,49
2,02
17,187
25,031
30,678
21,943
16,309
19,513
10,273
0
0
0,033
0
0,329
0
1,537
46,51
33,48
..
66,01
22,14
46,51
18,48
14,17
23,33
..
61,34
33,48
46,51
34,31
3,19
2,52
0
1,09
2,6
1,49
2,88
8,59
12,51
15,35
10,97
8,31
9,75
5,9
30,34
28,4
0
63,67
27,81
46,51
26,39
32,34
10,15
0
4,67
11,34
0
15,83
0,0691
0,0475
0,0584
0,0366
0,0442
0,0303
0,0218
0
0
0,0018
0
0,0055
0
0,0187
0,0235
0,0086
0
0,0018
0,0113
0,0046
0,0036
1,84
1,13
10,08
0
0,73
13,82
2,97
5,07
3,44
5,05
10,08
1,05
5,86
6,02
5,88
1,29
18,405
14,558
5,976
20,926
7,458
10,598
9,558
7,625
0,081
2,482
0
0,119
0,016
0,040
0,115
0,052
37,67
61,34
6,87
..
94,95
5,01
23,33
13,67
20,14
13,72
6,87
66,01
11,82
11,51
11,78
53,73
2,64
3,09
10,08
0,52
3,29
9,92
4,42
3,18
9,24
8,52
2,98
10,55
3,73
5,31
4,83
3,83
28,90
37,53
6,87
33,00
53,38
8,26
17,55
33,7
17,53
47,62
0
66,01
83,13
6,5
11,55
40,06
0,0604
0,1021
0,1524
0,0832
0,1831
0,2579
0,0673
0,1942
0,0660
0,1058
0
0,0031
0,0002
0,0183
0,0010
0,0012
1,1446
0,1499
0,0814
0,0045
0,0451
0,0367
0,0362
0,0065
89
Aspidosperma subincanum
Acosmium sp.
0
0
0,76
0,98
10,989
16,563
0
0,144
..
..
91,20
70,72
0,38
0,49
5,49
8,35
45,6
35,36
91,20
70,72
0,1296
0,0956
0
0,0025
0,0021
0,0051
90
Tabela 3.4. Incremento periódico anual de diâmetro (IPA, cm ano-1) e coeficiente de variação
(CV, %) por espécie em três porções (alto, meio e baixo) da mata de galeria do Córrego Bacaba,
entre 1999 e 2006, Nova Xavantina-MT. O CV foi calculado apenas para as espécies
representadas por no mínimo 10 indivíduos.
Alto
Meio
Baixo
Espécies
IPA
CV
IPA
CV
IPA
CV
Mabea pohliana (Benth.) Müll. Arg.
Aspidosperma subincanum Mart.
Astrocaryum vulgare Mart.
Protium heptaphyllum (Aubl.)Marchand
Tetragastris altissima (Aubl.) Swart.
Ephedranthus parviflorus S. Moore
Himatanthus bracteatus (A.DC.) Woodson
Licania apetala (E. Mey) Fritsch
Licania blackii Prance
Calophyllum brasiliense Cambess
Diospyros obovata Jacq.
Luehea candicans Mart.
Apuleia leiocarpa (Vog.) Macbr. var.
Unonopsis lindmanii R.E.Fr.
Pouteria gardneri (Mart. & Miq.) Baehni
Cordia sellowiana Cham.
Virola urbaniana Warb.
Acosmium sp. Schott
Andira vermifuga Mart. ex Benth
Callisthene fasciculata Mart.
Dioclea glabra Benth.
Hieronyma alchorneoides Allemão
Salacia elliptica (Mart. ex Schult.) G. Don
Moutabea excoriata Mart. ex. Miq
Myrcia amazonica DC.
Odontadenia spoliata Malme
Ormosia coarctata Jacks.
Tetrapterys glabra (Spreng.) Griseb.
Amaioua guianensis Aubl.
Diospyros sericea A.DC.
Ilex affinis Gardner
Hirtella gracilipes (Hook. f.) Prance
Posoqueria aff macropus Mart.
Sterculia striata A.St.-Hil & Naudin
Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau
Aspidosperma macrocarpon Mart.
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Campomanesia eugenioides (Cambess.)
D.Legrand
Bowdichia virgilioides Kunth
Combretum vernicosum Rusby
Cordia glabrata (Mart.) A.DC.
Cuspidaria sp.
Dilodendron bipinnatum Radlk.
Dipteryx alata Vogel.
Dioclea virgata (Rich.) Amshoff
Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns
Eugenia aurata O.Berg.
Fícus sp1 (pilosa)
Guazuma ulmifolia Lam.
Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl.
Jacaranda cuspidifolia Mart.
0,23
0,15
0,00
0,23
0,21
0,21
0,24
0,41
0,34
0,30
0,18
0,16
0,20
0,22
0,21
0,02
1,00
1,66
2,50
0,92
0,93
0,42
0,77
0,65
0,77
0,84
0,86
0,35
0,26
0,00
0,16
0,20
0,21
0,30
0,23
0,30
0,43
0,20
0,19
0,20
0,25
0,20
0,72
1,50
0,00
0,35
0,20
0,21
0,22
0,06
0,20
0,42
0,14
0,14
0,36
0,07
0,17
0,00
0,08
0,17
0,29
0,40
0,45
0,03
0,21
0,07
0,24
0,02
0,14
0,20
0,00
0,12
0,56
0,18
0,04
0,53
0,78
0,63
0,87
0,82
0,66
1,00
0,94
0,66
0,64
0,36
0,52
0,15
0,36
0,24
0,74
0,38
2,63
0,63
0,22
0,21
0,15
0,54
0,15
0,25
0,50
0,62
0,62
0,38
0,58
0,72
0,75
91
Kilmeyera rubriflora Cambess.
Maytenus cf. floribunda Reissek
Plathymenia reticulata Benth.
Peltogyne confertiflora (Mart. ex Hayne) Benth.
Pouteria torta (Mart.) Radlk.
Serjania glutinosa Radlk.
Enterolobium contortisiliquum (Vell.)
Machaerium acutifolium Vogel
Apeiba tibourbou Aubl.
Aspidosperma tomentosum Mart.
Cariana rubra Gardner ex Miers
Casearia arborea (Rich.) Urb.
Davilla elliptica A.St-Hil.
Diospyros hispida A.DC.
Genipa americana L.
Hancornia speciosa Gomes
Mauritia flexuosa L.f.
Mauritiella armata (Mart.) Burret.
Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.)
A.Robyns
Qualea multiflora Mart.
Tapura amazonica Poepp.
Vismia sp.
Zanthoxylum cf. riedelianum Engl.
Erythroxylum daphnites Mart.
Mimosa laticifera Rizzini & A. Mattos
Myrcia sellowiana O. Berg.
Duguetia marcgraviana Mart.
Emmotum nitens (Benth.) Miers
Coussarea platyphylla Müll. Arg.
Bauhinia outimouta Aubl.
Byrsonima laxiflora Griseb.
Cecropia pachystachya Trécul
Inga heterophylla Willd.
Hirtella glandulosa Spreng.
Inga thibaudiana DC.
Magonia pubescens A. St.-Hil.
Physocalymma scaberrimum Pohl.
Sclerolobium paniculatum Vogel.
Siparuna guianensis Aubl.
Sterculia speciosa K. Schum.
Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm.
& Frodin
Vitex polygama Cham.
Xylopia aromatica (Lam.) Mart.
Tapirira guianensis Aubl.
Xylopia emarginata Mart.
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex.DC.) Standl.
Myrcia tomentosa (Aubl.) DC.
Oenocarpus distichus Mart.
Ouratea castaneifolia (DC.) Engl.
Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm.
Copaifera langsdorffii Desf.
Aiouea saligna Meisn
Alibertia elliptica (Cham.) K. Schum.
Astronium fraxinifolium Schott.
Fícus cf. enormis (Mart. ex Miq) Mart.
Himatanthus obovatus (Müell. Arg.) Woodson
Hymenaea courbaril L.
Micropholis venulosa (Mart.& Eichler) Pierre
0,14
0,13
0,02
0,11
0,30
0,00
0,24
0,06
0,80
1,10
0,90
0,35
0,09
0,41
1,53
0,10
0,03
0,00
0,52
0,25
0,26
0,08
0,00
0,22
0,30
0,17
0,31
0,14
0,78
0,60
0,06
0,14
2,05
0,35
0,71
0,42
0,21
0,33
0,22
0,35
0,25
0,50
0,17
0,10
0,18
0,50
0,57
0,12
0,18
1,00
0,01
0,36
0,13
0,15
0,11
0,42
0,31
0,10
0,10
0,12
0,27
0,11
0,22
0,22
0,32
0,20
0,00
0,27
0,25
0,37
0,30
0,30
0,40
0,40
0,14
0,10
0,10
0,15
0,15
0,35
0,32
0,14
0,30
0,25
0,22
0,26
0,46
0,08
0,17
0,05
0,50
0,00
0,05
0,38
0,52
0,11
0,52
0,83
0,56
0,41
0,18
0,18
1,15
0,34
0,21
1,63
0,26
0,50
0,88
0,73
0,50
0,84
92
Protium spruceanum (Benth.) Engl.
Pseudolmedia laevigata Trécul
Curatella Americana L.
Licania gardneri (Hook.f.) Fritsch
Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch
Matayba guianensis Aubl.
Platypodium elegans Vogel.
Bauhinia longifolia D.Dietrr.
Casearia sylvestris Sw.
0,33
0,10
0,00
0,17
0,30
0,03
0,43
0,41
0,46
0,40
0,10
0,31
0,10
0,00
0,57
0,82
0,14
0,27
93
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A riqueza florística de cada porção da mata de galeria do Córrego Bacaba pode ser
considerada alta em ambos os períodos analisados (1999 e 2006). No inventário realizado em
2006 foi registrado um aumento na riqueza florística, especialmente para as espécies que
apresentavam poucos indivíduos em 1999. Esta característica provavelmente está conduzindo a
mata a um estágio de equilíbrio dinâmico em relação a sua composição, reforçado pelo
aparecimento de espécies secundárias, típicas de áreas em recuperação pós-distúrbio. A porção
do baixo, foi a única onde registrou-se mais perda do que ganho de espécies em 2006, sugerindo
que neste local ocorrem preferencialmente espécies adaptadas à variação sazonal do lençol
freático.
O presente estudo confirmou um padrão já verificado em outras matas de galeria do
bioma Cerrado, onde áreas geograficamente muito próximas apresentam diferenças na
diversidade e composição de espécies, provavelmente refletindo a heterogeneidade ambiental
desses ambientes.
Apesar da pequena variação na composição florística, registrada nas porções de mata do
Córrego Bacaba entre os dois períodos estudados (1999 e 2006), as diferenças na estrutura
fitossociológica foram representativas. Nenhuma espécie registrada entre as dez de maior índice
de valor de importância (IVI) foi comum às três porções de mata. As maiores mudanças foram
registradas na porção do baixo, principalmente para as espécies pioneiras, que diminuíram sua
importância na comunidade em 2006, fato este que pode sugerir um fechamento da mata. As
maiores mudanças de posições hierárquicas foram registradas para as espécies raras. Entretanto,
o número de espécies raras foi elevado em ambos os períodos inventariados, confirmando um
padrão também observado por outros autores em matas de galeria do bioma Cerrado.
Analisando-se as mudanças florísticas e estruturais ocorridas na mata do Bacaba, sugerese que as três porções apresentam padrões diferenciados, provavelmente condicionados pelas
características ambientais de cada porção ou pela queimada ocorrida em 2001. Neste caso,
sugere-se que a porção do alto tenha sido mais afetada pelo fogo, visto que uma espécie típica de
ambientes antropizados, Astrocaryum vulgare, passou a ocupar a primeira posição de
importância na comunidade. Nas porções do meio e do baixo as espécies pioneiras encontram-se
em declínio, sendo que este pode ser um indicativo de que o fogo tenha sido menos intenso
nestas porções.
As diferenças registradas na estrutura da vegetação também são um indicativo importante
de que quando são efetuados estudos sobre a ecologia vegetal em matas de galeria, em períodos
diferentes, estes não podem se basear exclusivamente em levantamentos e comparações da
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diversidade e composição florística. Neste caso, a avaliação da estrutura da comunidade é
essencial para fornecer informações mais detalhadas sobre as mudanças que aconteceram no
período avaliado. Da mesma forma, sem realizar estudos de dinâmica não é possível avaliar de
maneira segura o padrão que determinada comunidade apresenta. Neste caso, estudos florísticos,
fitossociológicos e de dinâmica são complementares, permitindo que se conheça não apenas a
condição presente de uma comunidade vegetal, mas também sua tendência futura.
Comparando-se os dados de 1999 e 2006, observou-se que a mortalidade foi superior ao
recrutamento nas três porções de mata estudadas. Os valores da taxa de mortalidade na mata do
Bacaba foram superiores àqueles registrados em outras matas de galeria do Brasil Central,
representando uma condição de distúrbios passados e reforçando o padrão dinâmico da mata
estudada. Apesar da taxa de mortalidade ter sido elevada nas três porções estudadas, o
incremento em área basal sugere que a mata encontra-se em um período intermediário de
sucessão.
O desbalanceamento em favor da mortalidade foi menor no alto e maior no baixo, onde a
maioria das espécies que apresentaram perdas foram as pioneiras. Entretanto, de forma geral, os
parâmetros de dinâmica foram diferentes entre as porções de mata. Neste caso, sugere-se que a
heterogeneidade ambiental (declividade x relevo plano e afloramentos rochosos x sem rochas) e
as perturbações antrópicas (fogo) podem ter contribuído para evidenciar as diferenças
registradas.
Na mata do Bacaba, algumas espécies apresentaram parâmetros de dinâmica similares,
independentemente da porção de mata onde foram registradas e algumas apresentaram maior
mortalidade em uma porção e maior recrutamento em outra porção de mata. Neste caso, observase que os parâmetros de dinâmica das populações podem ser bastante heterogêneos, sugerindo
que o processo de dinâmica é multidirecional e estas variações parecem ser uma característica
intrínseca das espécies tropicais podendo ser um dos mecanismos responsáveis pela coexistência
de várias espécies.
A variação entre os valores de incrementos registrados nas comunidades e populações das
três porções da mata estudada confirma o que já foi observado em outras matas de galeria do
Brasil Central, de que isto seria uma conseqüência da heterogeneidade genética e ambiental das
florestas tropicais. Algumas espécies, comuns às três porções de mata, parecem apresentar
restrições para crescer sob determinadas condições ambientais ao passo que outras apresentaram
plasticidade para se adaptar a diferentes ambientes.
Tendo por base os parâmetros de dinâmica registrados para as espécies da mata do
Bacaba (maior incremento, maior recrutamento e menor mortalidade), considerando-se o grupo
ecológico de cada uma e também o seu potencial de uso (alimentação, artesanato, medicinal,
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madeireira, paisagismo, reflorestamento, etc.) foi possível selecionar algumas espécies que
apresentam características recomendadas para uso em recuperação de matas degradadas. Assim,
dentre as pioneiras, podemos recomendar espécies com elevado incremento periódico anual e
ampla distribuição, além de apresentarem uso múltiplo: Astrocaryum vulgare, Tapirira
guianensis e Xylopia aromatica. Do grupo das clímax exigentes de luz merecem destaque as
espécies que apresentaram elevado recrutamento e/ou incremento, sendo que algumas também
apresentam interesse econômico: Sclerolobium paniculatum, Sterculia speciosa, Schefflera
morototoni, Inga thibaudiana, Virola urbaniana e Hirtella glandulosa e com relação às clímax
tolerantes à sombra, recomenda-se as seguintes espécies para serem utilizadas em programas de
recuperação de áreas degradadas: Calophyllum brasiliense, Licania blackii e Aspidosperma
subincanum, sendo que as três apresentam elevado incremento periódico anual e recrutamento e
duas são importantes no uso madeireiro e ornamental. Em se tratando de espécies com maior
plasticidade, que apresentaram elevados valores de incremento periódico anual nas três porções
de mata estudadas, destacam-se Mabea pohliana e Aspidosperma subincanum.
É importante salientar que, quando se fazem recomendações para a escolha de espécies a
serem utilizadas em programas de recuperação de áreas degradadas, deve-se considerar todos os
fatores envolvidos no processo de escolha. Neste caso, em uma situação em que são exigidos
resultados rápidos é recomendável que sejam usadas espécies que apresentam elevado
recrutamento e incremento, mas se a situação assim o permitir, além destas espécies também
devem ser selecionadas aquelas que apresentam condições menos favoráveis, como incremento
lento e elevada mortalidade, visto que em uma situação de distúrbio estas podem ser as mais
ameaçadas e suscetíveis à extinção local.
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