significado do cuidar/cuidado de enfermagem frente ao paciente

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SIGNIFICADO DO CUIDAR/CUIDADO DE ENFERMAGEM FRENTE AO
PACIENTE COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA
MEANING OF CARE / NURSING CARE TO FACE WITH CHRONIC RENAL FAILURE
PATIENT
Lucas Queiroz dos Santos1
Marcela Mota Ramos2
RESUMO
O estudo teve como objetivo compreender o significado do cuidar/cuidado de enfermagem
frente ao paciente com insuficiência renal crônica através do levantamento bibliográfico.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritiva realizada na base de dados da Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS) a partir das fontes da Literatura Latino-Americana do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS), Literatura Internacional em Ciências as Saúde (MEDLINE) e
Scientific Eletronic Library On-linede (SciELO). Do total de trabalhos encontrados na busca,
selecionou-se os publicados em língua portuguesa, dos últimos quinze anos, na forma de
textos completos e resumos. A amostra final foi composta por 05 publicações. De posse dos
artigos ou dos resumos, todos foram lidos e analisados criteriosamente. A partir destes artigos
analisados, foram estabelecidas duas categorias: Significado do cuidar/cuidado para o
enfermeiro frente ao paciente com insuficiência renal crônica e Significado do cuidar/cuidado
de enfermagem para o paciente com insuficiência renal crônica. O cuidar para profissionais de
enfermagem transcende a dimensão técnica, indo muito além das dimensões biológicas e
perpassando pelo cuidar como estabelecimento de relação terapêutica e de confiança. O
enfermeiro também enxerga a importância do seu papel educativo junto ao paciente renal
crônico, constituindo uma ação transformadora de realidade. Para os clientes em tratamento
hemodialítico, ser cuidado significou estabelecer relacionamento interpessoal, reduzir suas
angústias e medos, aderir ao tratamento e ter sua vida prolongada, sendo evidente a relevância
do papel de cada componente da tríade cliente-profissionais-máquina para a eficácia do
tratamento.
Palavras-chave: Cuidado; Enfermagem; Insuficiência renal.
ABSTRACT
The study aimed to understand the meaning of caring / nursing care towards the patient with
chronic renal failure through literature. It is a literature search done on descriptive database of
the Virtual Health Library (VHL) as the sources of Latin American Caribbean Health
Sciences (LILACS), International Literature in the Health Sciences (MEDLINE) and
Scientific Electronic Library Online linede (SciELO). Of total jobs found in the search, we
selected those published in Portuguese, the last fifteen years, in the form of full texts and
1
Enfermeiro. Pós-Graduando em Nefrologia pela Atualiza. Graduado pela Faculdade São Camilo. Salvador –
BA. E-mail: [email protected]
2
Enfermeira. Pós-Graduanda em Nefrologia pela Atualiza. Graduada pela Universidade Federal da Bahia.
Salvador – BA. E-mail: [email protected]
2
abstracts. The final sample consisted of 05 publications. Possession of articles or abstracts, all
were read and analyzed carefully. From these articles analyzed were established two
categories: Significance of care / care for the nurse in the patient with chronic renal failure
and Meaning of the care / nursing care for the patient with chronic renal failure. Caring for
nurses transcends the technical dimension, going far beyond the dimensions of biological and
care as permeating the establishment of the therapeutic relationship and trust. The nurse also
sees the importance of their educational role with the chronic renal patient, constituting a
transformation of reality. For customers in hemodialysis, be careful meant to establish
interpersonal relationships, reduce their anxieties and fears, adhere to treatment and have his
life prolonged, being evident the important role of each component of the triad-professionalclient machine to the effectiveness of treatment.
Key words: Care; Nursing; Renal failure.
INTRODUÇÃO
O cuidado é uma necessidade humana essencial, pois sem ele não haveria vida
(NEVES, 2002). O exercício do cuidado é uma tarefa difícil e desafiadora. Cuidar, segundo
Silva e Gimenes (2000, p. 307), “é servir, é oferecer ao outro como forma de serviço, o
resultado de nossos talentos, preparos e escolhas”. Estes são adquiridos em nossa vivência de
cuidador, demonstrando ao ser cuidado atitudes oriundas do nosso conhecimento, do nosso
afeto e das nossas habilidades. Todas essas atitudes se transformam em ações que refletem o
ser humano que somos e a maneira como nós cuidamos.
Para Waldow (1998), o cuidar não se apresenta apenas como uma tarefa a ser
executada no sentido de tratar uma ferida ou auxiliar na cura de uma doença e sim, num
sentido mais amplo, que se dá por meio do ‘relacionamento com o outro, como uma expressão
de interesse e carinho’.
Silva e Damasceno (2005, p. 259) afirmam que “o cuidado de enfermagem é um
complexo de ações com vistas ao suprimento de necessidades circunstanciais das vastas
manifestações humanas dos pacientes”, pois cada pessoa responde singularmente a
determinado problema. Assim, o cuidado seria tudo o que se faz pelo sujeito.
No que se refere ao cuidado prestado aos pacientes com Insuficiência Renal Crônica
(IRC), a enfermagem tem função importantíssima (FERREIRA et al., 2001). A convivência
desses pacientes com os enfermeiros torna evidente a relevância da assistência de
enfermagem que deve se pautar na busca por soluções com relação às limitações provocadas
pela IRC. Pelo fato da IRC e do tratamento hemodialítico provocarem uma sucessão de
alterações no paciente renal crônico (mudanças físicas, psicológicas, familiares e sociais), a
3
assistência de enfermagem a este paciente exige um reaprendizado do cuidado, de uma
maneira cada vez mais humana (CESARINO; CASAGRANDE, 1998).
Por conta do diagnóstico, o paciente vê suas relações alteradas, afastando-se de
algumas pessoas e por vezes solidificando a aproximação com a equipe de enfermagem, uma
vez que esta se torna o seu convívio social pelo tempo de duração do tratamento (FERREIRA
et al., 2011). Entre os profissionais de saúde, o enfermeiro é um dos elementos que atuam de
modo mais constante e mais próximo dos pacientes, daí a importância do significado do
cuidado de enfermagem frente ao paciente renal crônico (CESARINO; CASAGRANDE,
1998).
Torna-se relevante esta pesquisa por entender que o adoecimento por insuficiência renal
crônica é considerado uma situação extremamente complexa e delicada. Além de envolver o
diagnóstico de uma doença crônica, é uma das principais causas de morbi-mortalidade mundiais.
Dessa forma, a intervenção e o conhecimento dos profissionais de saúde e, em especial do
enfermeiro, são de suma importância diante deste contexto, necessitando serem subsidiados por
saberes qualificados que irão nortear a prática, melhorar o tratamento e, consequentemente,
promover a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Vale também ressaltar, que como os
autores deste trabalho não atuam diretamente na área de nefrologia, optaram por um tema mais
teórico e menos técnico, justamente pela abordagem ser de mais fácil compreensão. Desta forma
o estudo teve com objetivo compreender o significado do cuidar/cuidado de enfermagem
frente ao paciente com insuficiência renal crônica através do levantamento bibliográfico.
REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Significado do cuidar/cuidado
Segundo Waldow (2004), o cuidar envolve verdadeiramente uma ação interativa. Essa
ação e comportamento estão calcados em valores e no conhecimento do ser que cuida "para" e
"com" o ser que é cuidado. O cuidado ativa um comportamento de compaixão, de
solidariedade, de ajuda, no sentido de promover o bem, no caso das profissões de saúde,
visando ao bem-estar do paciente, à sua integridade moral e à sua dignidade como pessoa.
Desta forma, sentimo-nos confortáveis para dizer que o cuidar em Enfermagem é "Luz
e Energia". Isto porque o cuidado tem sido considerado essencial à vida por sua função
primordial na sobrevivência de todo ser vivo, especialmente do ser humano, pois tudo que
existe e vive precisa de cuidados para continuar a existir e viver. Então, cuidar é e será sempre
4
indispensável, não apenas à vida dos indivíduos, mas à perenidade de todo o grupo social
(BOFF, 1998).
“O cuidar em Enfermagem envolve a cordialidade consigo e com o outro, envolve o
enxergar com o coração, envolve o tocar a natureza (homem) em toda a sua essência e
plenitude, transcender e plasmar” (WALDOW, 1998). De acordo com este autor, é possível
afirmar que cuidar implica em intimidade, em acolhimento, em respeito e segurança. É estar
em sintonia com o outro, afinando-se com ele. Cuidar envolve ainda a compreensão de dois
significados básicos colhidos da filologia que confirmam que o cuidado é mais do que um ato
singular ou uma virtude ao lado de outras. É um modo de ser, isto é, a forma como a pessoa
humana se estrutura e se realiza no mundo com outros.
Boff (1998) refere que o cuidar é mais que um ato é uma “atitude”. Representa uma
“atitude” de ocupação, de preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o
outro. Ele se inspira em Heidegger ao explanar a natureza do cuidado. Para ele o “cuidado
como modo-de-ser perpassa toda existência humana e possui ressonância em diversas atitudes
importantes. Através dele, as dimensões de céu (transcendência) e as dimensões da terra
(imanência) buscam seu equilíbrio e co-existência”. As dimensões privilegiadas por Boff são:
o amor como fenômeno biológico, a justa medida, a ternura, a carícia, a confiabilidade, a
confiabilidade e a compaixão.
Para Griffin (1983), o cuidado é uma característica estrutural que acompanha o
crescimento e desenvolvimento humano. Como um modelo de ser, o cuidar é um estado de
existência humana e de alta significância nos relacionamentos como outros seres humanos e
com o mundo. Ela argumenta que existem dois aspectos principais sobre o cuidar em
enfermagem: o aspecto de atividade e o aspecto de atitudes e sentimentos. Coloca que o
recebedor do cuidado (o paciente, no caso da enfermagem) tem necessidades físicas e
mentais. Emocional e moralmente o paciente necessita ser reconhecido pelo que foi, é, e pelo
que espera torna-se novamente. Em relação ao cuidador, aponta um aspecto importante que é
o de maturidade, ou seja, autoconhecimento ou consciência de si, assim como,
conseqüentemente, consciência dos outros, de suas necessidades. Por outro lado, esse aspecto
propicia um bom relacionamento consigo mesmo, o que representa uma precondição para se
relacionar bem com os outros.
“Humaniza-se... não na concepção moderna, no sentido de mais virtuoso, bilhante,
bem-sucedido. Humanizar-se é também a capacidade de ser frágil, poder chorar,
sentir o outro, ser vulnerável e, ao mesmo tempo, ter vigor, lutar, resistir, poder
traçar caminhos. Ternura e vigor.” (BOFF, 1998)
5
Tanji (2000) coloca que, a tradicional visão cartesiana de que apenas a ciência é
soberana no entendimento do indivíduo em seu processo saúde-doença contribuiu,
sobremaneira, para que a enfermagem priorizasse o cuidado técnico (ciência) em detrimento
do humano (arte). Sendo que um dos pretextos que os intelectuais utilizaram para não abordar
este assunto tão polêmico, é a afirmação de que ciência e arte se separam, uma apontando
para a racionalidades e outra para a criatividade e expressividades do ser humano. Neste
sentido, não há estímulo para a criatividade e sim para a repetição; não há espaço para a
integração e sim para as normas. O "fazer com prazer" tornou-se utópico e o alcance da
criatividade passou a ser fantástico.
A arte, então, mais que urgentemente, precisa ser compreendida em sua finalidade,
ainda que pesem os valores simbólicos, individuais ou coletivos das diferentes formas, pois
nela reside a essência, a imanência e a transcendência do cuidado de enfermagem. A reflexão
realizada até o momento, remete-nos à necessidade de novos questionamentos sobre os temas
aqui colocados, a arte e a ciência articuladas para o agir em enfermagem como uma
possibilidade de vir-a-ser um cuidado em sua concretude holística e ética (WALDOW, 1998).
O cuidado de enfermagem promove e restaura o bem-estar físico, o psíquico e o
social e amplia as possibilidades de viver e prosperar, bem como as capacidades
para associar diferentes possibilidades de funcionamento factíveis para a pessoa.
Nessa perspectiva, o cuidar em enfermagem insere-se no âmbito da
intergeracionalidade, pois se revela na prática com um conjunto de ações,
procedimentos, propósitos, eventos e valores que transcendem ao tempo da ação.
Abraça, pois, diferentes gerações, imprimindo-lhes realização e bem-estar
(WALDOW, 2004).
Para Waldow (2004), o cuidado de enfermagem consiste na essência da profissão e
pertence a duas esferas distintas: uma objetiva, que se refere ao desenvolvimento de técnicas e
procedimentos, e uma subjetiva, que se baseia em sensibilidade, criatividade e intuição para
cuidar de outro ser. A forma, o jeito de cuidar, a sensibilidade, a intuição, o 'fazer com', a
disponibilidade, a participação, a interação, a cientificidade, o vínculo compartilhado, a
espontaneidade, o respeito, a empatia, o estabelecimento de limites, a valorização das
potencialidades, a visão do outro como único e a comunicação terapêutica são os elementos
essenciais que fazem a diferença no cuidado.
6
2.2 Insuficiência Renal Crônica
A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é a perda aguda e normalmente reversível da
função renal. O paciente costuma apresentar uremia sintomática. Algumas características
dessa patologia são a dispnéia intensa e até edema agudo de pulmão por causa da sobrecarga
de líquidos. Além disso, ocorre uma dificuldade em eliminar o excesso de hidrogênio e o
acúmulo de ácidos, aumentando o pH do sangue ácido podendo gerar uma acidose metabólica
no paciente. Outro íon que também se acumula é o potássio (hiperpotassemia) que acarreta em
arritmia e parada cardíaca (FERMI, 2003).
Figueiredo et al. (2007), descrevem a necessidade de conhecer melhor as
manifestações da doença renal, sobretudo nos estágios iniciais, quando alterações cognitivas e
comportamentais sutis frequentemente passam despercebidas.
As causas da IRA podem ser de origem pré-renal: isquemia renal, hipotensão severa,
desidratação grave, hemorragias, uso prolongado e inadequado de diuréticos, choque
cardiogênico, insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e embolia pulmonar; origem renal:
glomérulopatias, vasculites, hipertensão arterial maligna, intoxicações por drogas como
aminoglicosídeos e antiinflamatórios, intoxicação por contrastes e infecções graves (sepses); e
origem pós-renal: obstrução do fluxo urinário, tumores e coágulos (FERMI, 2003).
Insuficiência Renal Crônica (IRC) para Riella (2003) é definida por uma de duas
situações: 1º lesão renal por um período de 3 meses ou mais, sendo definida por
anormalidades estruturais ou funcionais do rim, com a diminuição ou não da taxa de filtração
glomerular (TFG) manifestada por anormalidades patológicas ou marcadores de lesão renal
(anormalidades na composição da urina, do sangue ou nos testes de imagem). 2º TFG < 60
ml. minuto/ 1,73 m2 por ≥ 3 meses com ou sem lesão renal.
Schnuelle et al. (1998), Evans, Manninen, Garrison (1985) apud Santos e Pontesn
(2007) descrevem que entre as causas mais prevalentes de IRC estão diabetes mellitus,
hipertensão arterial sistêmica, doença policística renal de caráter hereditário e doenças
autoimunes. Além destas, Fermi (2003) descreve também causa da IRC as malformações
como agenesia (rim único), válvula de uretra posterior; doenças hereditárias como doença de
Alport.
Normalmente a IRC ocorre lentamente e pode ser divida em quatro fases. (FERMI,
2003):
7
1ª Fase: redução de 25% da função renal, não há uremia. Os néfrons ainda
funcionantes mantêm o balanço hidroeletrolítico.
2ª Fase: redução de 75% da função renal. O rim não tem capacidade de manter a
homeostasia. Paciente apresenta nictúria, anemia e azotemia.
3ª Fase: função renal abaixo de 20%. Sintomas de uremia intensos (anemia, acidos
metabólica, hipocalcemia (diminuição de cálcio), hiperfosfatemia (aumento de fósforo) e
hiponatremia (baixa concentração extracelular de sódio).
4ª Fase: fase terminal. Faz-se necessário alguma forma de terapia renal substitutiva ou
transplante renal.
A National Kidney and Urologic Diseases Information Clearinghouse (1997 p. 67),
descreve o seguinte sobre os rins e suas funções:
Os rins quando sadios limpam o sangue filtrando o excesso de água e resíduos. Eles
também produzem hormônios que mantêm seus ossos fortes e o sangue saudável.
Quando ambos rins falham, seu organismo passa a reter líquidos. Sua pressão
arterial aumenta. Resíduos prejudiciais se acumulam em seu organismo. Seu corpo
não faz mais glóbulos vermelhos em quantidade suficiente. Quando isso ocorre,
você precisa de tratamento para substituir o trabalho de seus rins.
Segundo Fermi (2003), existem vários tipos de tratamento para substituir as funções
renais, que é escolhido de acordo com as condições clínicas do paciente, socio-econômicas e
de qualidade de vida.
Pacientes com anemia recebem eritropoetina humana sintética e hidróxido de ferro
(Noripurum), se apresentar deficiência de vitaminas receberá ácido fólico e complexo B e
suplementação de cálcio quando houver deficiência deste. Alguns necessitam de diuréticos e
anti-hipertensivos para o controle da pressão arterial. As orientações nutricionais incluem
controle da ingesta hídrica, dieta hipoproteica e hipopotássica (FERMI, 2003).
A Diálise Peritoneal é um método de diálise que utiliza o peritônio como membrana
semipermeável, funcionando como um “filtro” que regula a troca de água e solutos entre os
capilares do interstício peritoneal e o líquido de diálise, isso para que ocorra a depuração de
várias toxinas urêmicas. Ele remove solutos acumulados no sangue, como uréia, creatinina,
potássio, fosfato e água, para o dialisado que é infundido na cavidade peritoneal. A diálise
peritoneal realizada de forma adequada mantém o paciente portador de IRC sem sintomas por
meio da reposição parcial da função renal saudável. (PECOITS-FILHO apud RIELLA, 2003).
De acordo com Pecoits-Filho apud Riella (2003), na diálise peritoneal da modalidade
intermitente destacam-se: Diálise Peritoneal Ambulatorial Diária (DPAD): ocorrem trocas de
8
dialisato a cada 3 ou 4 horas durante o dia. Antes de dormir, o dialisato é drenado. É indicada
para pacientes com dificuldade de ultrafiltração por causa da alta permeabilidade; Diálise
Peritoneal Intermitente (DPI): o tratamento ocorre em ambiente hospitalar, duas vezes por
semana, durante cerca de 24 horas com trocas a cada 1-2 horas. No período entre as diálises, o
abdômen fica seco. Indicada para paciente com alta permeabilidade de membrana e função
renal residual significativa; e Diálise Peritoneal Noturna (DPN): é realizada por meio de uma
cicladora somente enquanto o paciente dorme, por um período de 8 a 12 horas. Durante o dia
o abdômen fica vazio. É indicada para pacientes com área de superfície corporal alta e sem
função renal residual, pode ser necessária uma ou duas trocas durante o dia.
A diálise peritoneal na modalidade Contínua inclui: Diálise Peritoneal Ambulatorial
Contínua (DPAC): três trocas durante o dia e uma antes de dormir a noite, feitas
manualmente. O conteúdo do dialisato é definido pelas necessidades específicas do paciente.
É uma modalidade adequada para a maioria dos pacientes em diálise. Diálise Peritoneal
Automatizada Contínua (DPA): as trocas feitas pela cicladora durante a noite seguida por um
longo ciclo durante o dia. Método adequado para pacientes que necessitam estar em cicladora,
mas não têm como realizar trocas durante o dia (PECOITS-FILHO apud RIELLA, 2003).
A terapia renal substitutiva extracorpórea – hemodiálise (HD) trata-se de uma forma
de diálise, que é um método de reposição renal. Devem ser realizadas por enfermeiras com
treinamento específico (POTTER e PERRY, 2005).
Potter e Perry, (2005 p. 128), descrevem a realização de uma hemodiálise da seguinte
maneira;
a hemodiálise usa uma máquina equipada com uma membrana de filtragem
semipermeável (rim artificial) que remove produtos residuais acumulados e excesso
de líquido do sangue. Na máquina de diálise, o líquido dialisado é bombeado por um
lado da membrana filtrante; enquanto o sangue do paciente passa por outro lado. Os
processos de difusão, osmose e ultrafiltragem limpam o sangue do paciente, que
retorna através de um aparelho de acesso vascular colocado especialmente (fístula
arteriovenosa ou cateter de hemodiálise).
No Brasil no ano 2005, para uma população de 65.121 pacientes em hemodiálise e
diálise peritoneal foram realizados 3.332 transplantes de rim (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE
TRANSPLANTES
DE
ÓRGÃOS,
2006;
SOCIEDADE
BRASILEIRA
DE
NEFROLOGIA, 2006 apud SANTOS E PONTES, 2007).
A doação de um rim pode ser feita por: doador vivo-relacionado, onde quem doa o rim
é membro da família do paciente, ou doador cadáver, onde se recebe o rim de uma pessoa que
9
morreu
recentemente
(NATIONAL
KIDNEY
AND
UROLOGIC
DISEASES
INFORMATION CLEARINGHOUSE, 1997).
Para realizar o transplante, é muito importante que exista a compatibilidade entre o
doador e o receptor para diminuir as chances de uma rejeição. Para tentar impedir a rejeição
após o transplante, o paciente deverá consumir diariamente os imunossupressores. No entanto,
às vezes essas drogas não impedem que o organismo rejeite o novo rim. Se isto ocorrer, o
paciente deverá voltar a fazer alguma forma de diálise, enquanto aguarda um outro
transplante. (NATIONAL KIDNEY AND UROLOGIC DISEASES INFORMATION
CLEARINGHOUSE, 1997).
Dados do censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia de janeiro de 2007 revelam que
havia no Brasil 621 centros de diálise; destes, 546 responderam o questionário totalizando
73.065 pacientes, sendo 18.753 com 60 anos ou mais de idade. Estavam em hemodiálise
66.833 pacientes e em diálise peritoneal 6.772. (SBN, 2007).
A hemodiálise (HD) como forma de tratamento da uremia crônica difundiu-se a partir
da década de 60. Graças a avanços tecnológicos no que diz respeito às máquinas e a
fabricação de dialisadores mais eficientes e seguros, e ao desenvolvimento de técnicas
cirúrgicas de confecção de acessos vasculares permanentes, a hemodiálise tornou-se famosa.
Estima-se que mais de um milhão de pessoas no mundo têm sua vida mantida graças à terapia
renal substitutiva, que também proporciona as condições clínicas necessárias para pacientes
que aguardam o transplante renal. (LUGON, STROGOFF E MATOS e WARRAK apud
RIELLA, 2003).
Assim como foi descrito nos tratamentos para IRC, na hemodiálise, a circulação do
paciente é extracorpórea e a filtração ocorre por meio de uma membrana imersa em uma
solução eletrolítica chamada banho de diálise. Portanto, para realizá-la são necessários o
dialisador capilar, água tratada, banho de diálise, rim artificial e via de acesso. (FERMI,
2003).
A hemodiálise funciona a partir de processos fisiológicos baseados na diálise, ou seja,
ocorre quando substâncias passam de uma solução A para uma solução B, ambas com
concentrações diferentes, através de uma membrana semipermeável que as separam. As
moléculas de água e solutos pequenos nas duas soluções podem passar pela membrana,
através da difusão e/ou ultrafiltração e misturarem-se, já os solutos maiores permanecem cada
um em seu lado, pois não conseguem passar. Todos os tratamentos de substituição da função
10
renal são baseados neste processo, a diferença entre os tratamentos é a membrana utilizada, na
diálise peritoneal a membrana é o peritônio e na hemodiálise é o dialisador capilar (FERMI,
2003).
METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica de fontes secundárias é a que especificamente interessa a esse
trabalho. Conforme indicam Marconi e Lakatos (2002, p.43), a pesquisa bibliográfica ou de
fontes secundárias trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de
livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita.
Segundo Pádua (2004), a pesquisa bibliográfica é fundamentada nos conhecimentos de
biblioteconomia, documentação e bibliografia; sua finalidade é colocar o pesquisador em
contato com o que já se produziu a respeito do seu tema de pesquisa.
Este estudo é caracterizado como bibliográfico, visto que serão utilizadas as mais
diversas fontes de materiais já publicados acerca do tema em questão, com o objetivo de
apontar as idéias dos principais autores que publicaram ou escreveram sobre o tema. Trata-se
de uma pesquisa bibliográfica descritiva, pois abrange uma análise e interpretação a fim de
construir uma perspectiva mais ampliada acerca do assunto.
Foi realizado um levantamento bibliográfico de publicações de artigos científicos
publicados dos últimos quinze anos, disponíveis na base de dados da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), a partir das fontes da Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Literatura Internacional em Ciências as Saúde (MEDLINE) e Scientific
Eletronic Library On-linede (SciELO). Foram utilizados os seguintes descritores:
“Insuficiência Renal”, “cuidado” e “enfermagem”. Do total de trabalhos encontrados na
busca, selecionou-se os publicados em língua portuguesa na forma de textos completos e
também resumos. Os resumos de alguns artigos foram também utilizados justamente por
apresentarem questões relevantes com relação ao tema da pesquisa.
A coleta de dados foi realizada no período de março a maio de 2012. Nesta primeira
etapa, buscou-se identificar as referências bibliográficas relacionadas com o tema em questão.
Em síntese, selecionar aqueles documentos diretamente relacionados com a temática e com os
objetivos da pesquisa.
A etapa subseqüente compreendeu a leitura e o fichamento dos materiais com o
objetivo de isolar as informações necessárias para a redação do texto final, e também avaliar
11
os documentos quanto à efetiva utilidade para a pesquisa e outros parâmetros de qualidade,
atualização e confiabilidade do documento.
A seguir, a Figura 1 permite compreender como foi a seleção dos artigos obtidos
através da Biblioteca Virtual em Saúde.
Figura 1: Seleção de artigos através da Biblioteca Virtual em Saúde
236 artigos localizados
pelos descritores
pesquisados
05 artigos selecionados
para análise após leitura
do texto completo ou do
resumo
31 artigos selecionados
em português
20 artigos selecionados pelo
título para posterior leitura do
texto completo ou do resumo
Fonte: Pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde
Os critérios de inclusão dos artigos nesta pesquisa foram os de selecionar publicações
em português no período de 1998 a 2012 que atendessem aos descritores já citados. Para a
exclusão dos artigos utilizou-se como critério aqueles que não tratam diretamente do tema,
mesmo apresentando alguns dos descritores pesquisados, além de artigos publicados em
língua estrangeira. Vale ressaltar, que a disponibilidade virtual completa do texto não foi
considerada como critério de exclusão.
Através da busca pelos descritores foram localizados 236 artigos. Destes, apenas 31
estavam em português. A partir daí, foi realizada a leitura dos títulos e então selecionados 20
artigos. Enfim, após a leitura dos vinte artigos (texto completo ou resumo disponível) e
observando se estes se adequavam à temática do trabalho, restaram 05 artigos para serem
analisados e discutidos. A fim de responder os objetivos do estudo, esse material foi
organizado e categorizado em dois núcleos temáticos: significado do cuidar/cuidado para o
12
enfermeiro frente ao paciente com insuficiência renal crônica e significado do cuidar/cuidado
de enfermagem para o paciente com insuficiência renal crônica.
No que tange aos aspectos éticos, não houve necessidade de submeter o trabalho ao
comeitê de ética uma vez que segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde –
Ministério da Saúde – 10 de outubro de 1996, parágrado IV referente ao Consentimento Livre
e Esclarecido no item “c” do subtópico IV.3, encontramos que por se tratar de dados obtidos a
partir de um levantamento em bases de dados secundárias, torna-se desnecessária a submissão
do estudo ao comitê de ética, já que indivíduos não foram envolvidos diretamente no processo
de coleta de dados, e sim todas as informações foram extraídas dos sistemas de informação
para coleta online.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
SIGNIFICADO DO CUIDAR/CUIDADO PARA O ENFERMEIRO FRENTE AO
PACIENTE COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA
Os artigos ao abordarem a percepção do enfermeiro evidenciam que o cuidado ao
paciente em condição crônica vai além dos aspectos biológicos, necessitando de condutas
eficazes que visam não apenas o controle dos desquilíbrios na extensão fisiopatológica, mas
também com enfoque nos aspectos psicossocioespirituais.
Mattos e Maruyama (2009) realizaram uma pesquisa de natureza qualitativa, tipo
Estudo de Caso. O estudo foi feito com um usuário em hemodiálise, em uma clínica no
Estado de Mato Grosso e com sua esposa, no período de fevereiro a julho de 2008, através da
entrevista. A análise dos dados permitiu apreender que a experiência de adoecimento
incorpora não somente processos biológicos, como também processos subjetivos, que devem
ser discutidos nas práticas de atenção à saúde.
O profissional de enfermagem pôde visualizar que a experiência do adoecimento
associa significados às vivências passadas e presentes, e a perspectiva de vida demonstra
valores e crenças compartilhados socialmente e na vida em família. Logo, compreender estes
significados e os sentidos integrados na experiência do adoecimento sustentam práticas em
saúde competentes, humanizadas, acolhedoras e emancipatórias, uma vez que a narrativa do
adoecimento possibilitou ao paciente em condição crônica o entendimento deste processo,
suas escolhas, decisões e superação dos múltiplos desafios presentes no adoecimento.
13
Analisando essa lógica, o cuidar de enfermagem deve transceder a dimensão técnica,
favorecendo, assim, no processo de reinterpretação e de resignificação da vida pelo paciente.
Um estudo de caso clínico realizado por Mascarenhas e cols. (2011), desenvolvido
durante as atividades práticas da disciplina Enfermagem Clínico-Cirúrgica I, do curso de
Graduação em Enfermagem de uma universidade pública do Estado da Bahia, objetivou
relatar a aplicação da sistematização da Assistência de Enfermagem no cuidado a um paciente
portador de Diabetes Mellitus e Insuficiência Renal Crônica. Com o desenvolvimento do
estudo, foi possível perceber a necessidade da interface entre a Sistematização da Assistência
de Enfermagem, equipe de enfermagem e paciente no processo do cuidar, diante da
singularidades dos cuidados de enfermagem. A paciente hospitalizada necessitou de condutas
que visaram não apenas o controle dos desequilíbrios fisiopatológicos, mas também com
ênfase nos aspectos psicossocioespirituais. A SAE, método científico que nortea a prática do
enfermeiro e da sua equipe, foi de extrma importância para que o cuidado prestado fosse
eficiente e individualizado, de modo a assegurar a integralidade e a qualidade da assistência.
Refletindo sobre o artigo acima, percebe-se que a execução da SAE exige uma
integração efetiva com toda a equipe multidisciplinar, ao considerá-la primordial na escolha
de ações indivudualizadas e humanizadas. Para a adoção efetiva da SAE são necessárias
algumas medidas, como: superação do tecnicismo, integração do cuidado humanizado e
sistematizado por toda a equipe, relação terapêutica e de confiança com o paciente e
conhecimento e discussões sobre sua implementação. Para Rodrigues e Botti (2009), o cuidar
de enfermagem ultrapassa os limites técnico-científicos, devendo a relação terapêutica ser
pautada, antes de mais nada, na confiança. O enfermeiro deve ter a habilidade dos aspectos
que levem em consideração os sentimentos e as necessiades dos pacientes. Deve também
estabelecer diálogos que ultrapassem o formalismo técnico habitual, nos quais praticamente
só o profissional tem a palavra e a razão.
Com relação às ações educativas, Cesarino e Casagrande (1998) desenvolveram um
estudo com oito sujeitos renais crônicos, sendo quatro do sexo feminino e quatro do sexo
masculino, com idade entre 17 e 63 anos de idade. O objetivo da pesquisa foi colaborar para o
conhecimento da atividade educativa do enfermeiro com o paciente renal crônico em
tratamento hemodialítico, oferecendo uma melhoria da sua qualidade de vida, por meio da
educação conscientizadora. A coleta de dados sobre situações significativas foi realizada
através da observação participante e a interpretação dos dados relacionou-se com a análise dos
14
temas geradores. Os dados foram selecionados e codificados em seis temas geradores:
Insuficiência Renal Crônica (IRC), Causas da IRC, Tratamento Hemodialítico, Limitações e
Possibilidades do Renal Crônico em Tratamento Hemodialítico, Transplante Renal e Apoio
Familiar. Foram constatadas mudanças satisfatórias na qualidade de vida dos pacientes
participantes do processo ensino-aprendizagem. As ações educativas desenvolvidas com
aplicação da metodologia conscientizadora proporcionaram reflexão e compreensão dos
elementos básicos quanto à realidade da doença e dos esquemas terapêuticos. Os círculos de
discussão e a implementação do plano de ensino foram importantes ferrementos desse
processo de aprendizagem.
Queiroz e cols. (2008) reforçam a ideia dos encontros educativos como mais um
recurso que pode contribuir com reflexões-ações, superando as adversidades impostas pela
doença, não somente no âmbito biológico, como também no atendimento das necessidades
psicossociais do paciente renal crônico. Seria uma forma de oferecer ao paciente não uma
orientação autoritária, mas sim uma educação libertadora.
SIGNIFICADO DO CUIDAR/CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA O PACIENTE
COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA
Um sentimento frequentemente experienciado pelos doentes renais crônicos é o medo,
devido às complicações da doença e aos efeitos adversos da terapia, além do medo da morte
que aparece como unanimidade em todos os pacientes (SOUZA; DE MARTINO; LOPES,
2007). No entanto, um bom relacionamento interpessoal entre o paciente e o enfermeiro e
uma comunicação adequada associada ao vínculo terapêutico facilitariam o enfrentamento de
certos estressores.
Gullo, Lima e Silva (2000) desenvolveram algumas reflexões sobre o aspecto da
comunicação na prática do enfermeiro junto ao paciente renal crônico, em programa de
hemodiálise, cujo tratamento possibilita uma relação prolongada e, muitas vezes, mais
profunda e intensa. Devido a este contato prolongado, o relacionamento interpessoal
enfermeiro-paciente, no contexto da hemodiálise, favorece o estabelecimento de um vínculo
terapêutico. Os pacientes por vivenciarem sensações aflitivas como ansiedade, angústia,
impotência e insegurança solicitam do enfermeiro o ato da escuta. Querem também verbalizar
melhor, analisar as alternativas já tentadas, procurar novas alternativas, analisar os prós e
15
contras e refletir sobre as consequências dos seus atos. Ou seja, para o paciente a base do
vínculo terapêutico está numa comunicação bem construída.
Assim, a comunicação em enfermagem pode ser vista como uma competência que a
enfermeira deverá desenvolver, como se fosse um instrumento básico ou ferramenta
primordial de trabalho. Segundo Carneiro (2008), é preciso que o enfermeiro se permita a
ouvir o outro. Muitas vezes, a solução é saber ouvir; é tentar compreender; é ser solidário; é
estar disponível; é ter interesse pelo outro.
Machado e Car (2003) procuraram compreender o cotidiano da vida de doentes com
insuficiência renal crônica em hemodiálise. As entrevistas foram realizadas com dezoito
pacientes revelando temas da realidade social da vida cotidiana. Estes temas foram, então,
analisados frente às categorias: processo saúde-doença; possibilidade x realidade e
necessidade x casualidade. Neste cenário, aparece a enfermagem que precisa ampliar sua
compreensão sobre a árdua, triste, difícil e monótona realidade e suas possibilidades de
transformação. As entrevistas revelaram o quão importante é o carinho e o compromisso da
equipe de saúde com o renal crônico. Eles relatam sentir o sofrimento amenizado na
hemodiálise quando o profissional demonstra paciência nos seus atos. Falam que melhoram
até as condições emocionais: ameniza o medo, o estresse e a angústia. As atitudes
humanizadas dos profissionais repercutem positivamente no tratamento. Ir além da assistência
profissional técnica e restrita à unidade de hemodiálise seria o exercício da cidadania em
compartilhar saberes.
Portanto, o estabelecimento de vínculos dentro da equipe de enfermagem pode criar ou
aumentar a confiança do paciente contribuindo para o seu processo de ensino-aprendizagem,
percepção crítica e auto-cuidado.
CONCLUSÃO
O enfrentamento da cronicidade da doença envolve a compreensão pelo paciente sobre
o seu significado e dos reflexos no seu cotidiano: nas relações, na concepção de vida e nas
alterações físicas e emocionais que acabam por representar obstáculos ao seguimento do
tratamento. Tratamento este que engloba a hemodiálise, a dieta, o acesso ao serviço entre
outras questões que o deixam exposto a uma vastidão de eventos que promovem medo,
angústia e insegurança.
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O fato de sobreviver com a insuficiência renal crônica, às vezes por longos períodos,
não significa "viver bem", pois quase sempre há limitações com prejuízos da participação em
várias atividades do dia a dia. Por isso, é importante abordar junto ao paciente a compreensão
do "estar crônico" e do “ser crônico” para que, assim, possa emergir uma visão saudável em
relação à continuidade da vida, não permanecendo na estagnação e passividade da doença.
O cuidar para profissionais de enfermagem transcende a dimensão técnica, envolvendo
o estabelecimento de relação terapêutica e de confiança, além do papel de educador. Para os
clientes em tratamento hemodialítico, ser cuidado significou estabelecer relacionamento
interpessoal, aderir ao tratamento e ter sua vida prolongada, sendo evidente a relevância do
papel de cada componente da tríade cliente-profissionais-máquina para o sucesso do
tratamento. Mesmo com a complexidade e especificidade do processo de hemodiálise, com a
demanda do conhecimento técnico e científico específico, com as constantes influências
tecnológicas, a equipe de enfermagem mostrou assistência que vai além do fazer, atuando na
perspectiva do cuidado humanizado e preocupada com o ser cuidado.
O presente estudo pôde atingir seu objetivo ao compreender e abordar o significado do
cuidado tanto para o paciente quanto para o profissional de forma clara e sintética, mas sem
desconsiderar a relevância do assunto.
Assim, torna-se relevante divulgar as informações reunidas neste estudo aos
profissionais que atuam em serviços de atenção em hemodiálise a fim de valorizar o ser. Fazse necessário redimensionar as ações terapêuticas no processo de cuidado a partir da escuta
sensível que ajude na compreensão do cotidiano da pessoa portadora de doença renal crônica.
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