Questão de visibilidade “Viver em sociedade” é um termo comum, aparentemente simples, mas que agrega significados diversos e complexos. Primeiramente, conviver significa compartilhar, sejam espaços, opiniões, características, experiências, entre outras. Sabe-se que desde os tempos mais remotos, é um desafio para cidadãos pertencentes a diferentes classes sociais se misturarem e, atualmente, a segregação tem se dado de formas tão diversas e cruéis que indignam quem se volta para essa doença social. Houve um tempo, no Brasil e no mundo, que lugares e facilidades antes acessíveis somente para os ricos eram bem distintos, os espaços não se misturavam e as classes existentes não entravam em atritos tão constantes como os que ocorrem nos dias atuais. Com o advento da globalização e o acesso à informação ter se tornado universal, as injustiças e desigualdades não conseguem mais serem mascarados. Os pobres têm conhecimento e motivos para se orgulharem da condição em que se encontram, não são facilmente intimidados e não temem reivindicar seus direitos e inserirem em espaços desconhecidos; aos poucos, e com dificuldade, conseguem ser vistos em um cenário onde são constantemente ignorados e diminuídos. As diversas formas de segregação a que as pessoas marginalizadas estão submetidas representam uma afronta à democracia e o pior disso é que a “camarotização” é permitida, tanto em espaços públicos, como aeroportos e shoppings quanto nas segregações promovidas por padrões impostos, onde homens e mulheres precisam se “encaixar” para serem aceitos e respeitados. Entretanto, essa realidade está sendo transformada e os ricos e classe média que preferem se isolar em seus camarotes e áreas VIP terão que conviver com a diversidade e a desconstrução de paradigma, não serão imunes, onde quer que se “protejam”. Por tudo isso, conclui-se que os cidadãos estão aprendendo a dar um significado para a palavra democracia. A tentativa de misturar as classes sociais e promover o respeito e a tolerância é válida e deve ser defendida por aqueles que buscam uma sociedade igualitária, mesmo que ainda faltem inúmeras medidas a serem adotadas. É importante que haja visibilidade e empoderamento das minorias, para que a sociedade compreenda que não existem fatores sociais isolados, visto que as pessoas convivem entre si. Zilá Carvalho Igualdade social: ilusão versus possibilidade A intensa globalização tão marcante em nossa realidade tem influenciado inúmeras mudanças nos diferentes âmbitos da sociedade. Nesse sentido, um assunto muito discutido é a “camarotização” da sociedade brasileira que, utilizando deste novo termo faz com que as relações físicas e sociais entre as pessoas de diferentes classes caminhem para o desaparecimento. Ao analisarmos a história do mundo, notamos que essa diferença de classes já é oriunda dos nossos antepassados que, quando iam a eventos e espetáculos fixavam-se em lugares diferentes daqueles que pertenciam ao povo. Porém, hoje em dia, isso tem ganhado uma proporção muito grande devido à tecnologia e informação excessivas disponibilizadas pelo sistema capitalista. O termo citado acima tem sua origem na palavra camarote que, se bem considerada, pode ser um conforto àqueles que possuem maiores dificuldades de locomoção, para que estes também possam participar e desfrutar de eventos e apresentações. Contudo, devido ao seu alto custo, acaba se transformando em mais uma forma de segregação das classes sociais. Todos estes fatos evidenciam que o capitalismo é o grande motor que impulsiona esta diferença na realidade da sociedade. E um exemplo claro disto são os hospitais, lugares visíveis que separam os brasileiros de acordo com a conta bancária e com o status social. Portanto, concluímos que, em um país que possui uma das sociedades mais desiguais do mundo, o termo “camarotização” é mais uma maneira de estimular as diferenças sociais tão presentes em nossa realidade. É necessário que rápidas atitudes sejam tomadas, investindo-se nas propriedades públicas, a fim de que estas substituam as propriedades particulares e para que todos possam, assim, frequentar os mesmos lugares sem distinção de classe. Quem sabe dessa forma conseguiremos resgatar os verdadeiros valores e estes impeçam que o Brasil desenvolva uma sociedade ainda mais desigual e injusta. Giovana Taglialegna Verola Moreira Falsa ideologia Apesar de ter uma ideologia de mistura, no Brasil, sempre houve a separação das classes sociais e privilégios concedidos àqueles com maior poder aquisitivo. Mesmo com a ascensão da classe média, a criação de espaços restritos cresce cada vez mais para o agrado daqueles que desejam tratamento diferenciado. A regra é simples: pessoas que possuem condições econômicas parecidas tendem a ocupar os mesmos espaços, como é o exemplo de condomínios fechados, das áreas de entretenimento e até mesmo de bares e restaurantes. A “camarotização” representa uma ameaça à democracia uma vez que esta exige que os cidadãos compartilhem de uma vida comum, além de ser uma perda na vida humana que se enriquece através do convívio pacífico entre as diferenças. Talvez um dos pretextos para a criação deste abismo entre classes seja justamente a procura pelo melhor quando se vive em um país onde a administração adequada dos recursos não é tratada com seriedade. Ainda, o recente fenômeno urbano gentrificação (do inglês gentrification) acentua esse processo de segregação social, uma vez que por ele ocorre o processo de mudança imobiliária que envolve a troca de um grupo por outro com maior poder aquisitivo. Tomemos como exemplo os ingleses que pela sua simplicidade ao utilizarem transportes públicos, independente de sua classe, tornam-se modelo para a sociedade americana. Bem como a Suécia, que é palco de inovações, um país, praticamente sem desigualdade e com justiça social. Portanto, a “camarotização” da sociedade brasileira, além de danosa à democracia, sintetiza, também, a consolidação de uma pluralidade indesejada: os povos do Brasil e não mais o povo brasileiro. Por isso, é fundamental que os espaços urbanos comuns sejam projetados a fim de atrair a sociedade como um todo, bem como não haja espaços excludentes de entretenimento nem, tampouco, tratamento especial. Maria Gabrielle Terra Faria