239 REVISÃO DE LITERATURA TERAPIA FARMACOLÓGICA NAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES CASSIO ROCHA SOBREIRA(*) (**) MARILDA RODRIGUES ZAMPIER RESUMO As Desordens Temporomandibulares (DTM) são um grupo de patologias que acometem grande parcela da população. Têm etiologia multifatorial e se manifestam através de sintomatologia variada, prevalecendo cefaléia, otalgia e dores orofaciais. A melhora ou remissão destas dores deve ser a prioridade no tratamento, sendo as terapias de suporte as primeiras modalidades terapêuticas a serem empregadas. O uso de medicação pode promover a diminuição ou eliminação das dores, porém, não trará a cura do problema ao paciente. Neste estudo comentaremos através de uma revista da literatura sobre a utilização de farmacoterapia como método de controle de sintomatologia dolorosa nas DTM, abordando os tipos de medicamentos mais utilizados, suas indicações, contra-indicações, efeitos colaterais e efetividade. DESCRITORES: Desordens Temporomandibulares, Farmacoterapia, Terapias de Suporte SUMMARY PHARMACOLOGIC TERAPEUTICS FOR TEMPOROMANDIBULAR DISORDERS – A REVIEW The Temporomandibular Disorders (TMD) are a group of pathologies that attack great portion of the population. They have multifatorial ethiology and show through varied simptomatology, prevailing migraine, heardache and orofacial pains. The improvement or remission of these pains should be the priority in the treatment, being the support therapies the first therapeutic modalities must be used. The medication use can promote the decrease or elimination of the pains, even so, won’t bring the cure of the problem to the patient. In this study we will comment through a review of the literature about the pharmacoterapy use as method of control of painful simptomatology in TMD, approaching the types of used medications, its indications, contraindications, collateral effects and effectiveness. KEYWORDS: Temporomandibular Disorders - Pharmacoterapy - Support Therapies 1. INTRODUÇÃO Uma parte significativa da população sofre de desordens que podem ser relacionadas a fatores oclusais e\ou distúrbios funcionais do sistema mastigatório que podem estar associados às DTM (Okeson, 1992). Freqüentemente sua etiologia é citada como multifatorial e complexa, estando relacionada a problemas oclusais, psicológicos, patológicos e traumáticos (Zampier, 1996). As DTM são caracterizadas por sintomatologia variada que inclui cefaléia, otalgia, dor na musculatura mastigatória e na região da articulação temporomandibular (ATM), limitação de abertura bucal, ruídos articulares, entre outros (Bell, 1991; Suvinen, 1995; Okeson, 1996; McNeill, 1997). Segundo Dos Santos Jr. (1995) e Mezzomo e Frasca (1996) , o controle da dor é a primeira meta no tratamento das DTM. O tratamento inicial com freqüência tem como objetivo o emprego de métodos não invasivos de controle da dor (Magni, 1991; Suvinen, 1995). A terapia de suporte é direcionada no sentido de se alterar os sintomas do paciente e não tem efeito na etiologia ou causa da desordem (Okeson, 1996). A terapia farmacológica pode ser um método efetivo no manuseio de sintomas associados com várias DTM, e cerca de 71 tipos de drogas diferentes já foram relatadas como terapêutica para as DTM (Gangarosa et al., 1991). 2.REVISÃO DE LITERATURA Segundo Okeson (1992), os agentes farmacológicos podem promover o conforto e a reabilitação do paciente quando usados como parte de um programa mais amplo. Nisto, podem ser incluídas várias modalidades terapêuticas como medicação, placas oclusais, acupuntura, fisioterapia, recursos físicos (calor, frio, laser, eletroterapia) que são todas modalidades reversíveis de tratamento (Mezzomo e Frasca, 1996; Magni, 1991). Dionne (1997) relata que intervenções farmacológicas no controle de dores orofaciais crônicas normalmente são consideradas terapias adjuntas a tratamentos definiti- * Acadêmico de Odontologia, Bolsista do “Serviço ATM” (FO/UFJF), [email protected], Juiz de Fora – MG. ** Cirurgiã-dentista (FO/UFJF), Especialista em Estomatologia (FO/UFRJ). R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:239-245,1999 240 C. R. SOBREIRA e M. R. ZAMPIER vos, não trazendo necessariamente a cura ou solução do processo patológico. De acordo com Bell(1991), é da responsabilidade do profissional estar adequadamente familiarizado com a droga e com o paciente , de modo que sejam garantidas a eficácia e a segurança. Okeson (1996) relata que apesar de existir uma tendência para o clínico confiar em um único agente “favorito”, nenhuma droga isoladamente provou ser eficiente para todo espectro das DTM. Além disso, nunca deve-se indicar o uso de medicação conforme a necessidade, pois este procedimento encoraja o paciente a abusar e depender do uso da droga, além de diminuir o seu efeito com o passar do tempo (Dionne e Gordon, 1994). O estágio em que a dor se encontra influi diretamente na escolha do medicamento a ser utilizado, determinando que classes de drogas são eficazes, o período de utilização e efeitos colaterais. Por isso, é válido uma breve distinção entre os dois principais estágios da dor que ocorrem nas DTM: aguda e crônica. A dor aguda e crônica representam marcadamente diferentes condições psicofisiológicas e exigem, igualmente, estratégias de condutas com drogas diferentes (Sternbach, 1974; Peñarrocha Diago e Bagan Sebastian, 1988). Segundo Gregg e Rugh (1988) e Phero (1984), a dor aguda apresenta poucos dias de duração, muitas vezes está associada à traumas e infecções; apresentando inflamação, trismo, e limitação de movimentos. Serve como um alerta ao indivíduo protegendo a região afetada de danos teciduais maiores. Já a dor crônica, não tem propósito útil, está associada à atrofia muscular, fibrose, imobilidade física e social, depressão e estresse emocional. Este trabalho tem por objetivo fazer uma revista da literatura sobre as principais classes de drogas utilizadas no controle das DTM que incluem os analgésicos não opióides, analgésicos opióides, corticosteróides, ansiolíticos, antidepressivos, anestésicos locais, relaxantes musculares e medicação placebo. 2.1 - ANALGÉSICOS NÃO OPIÓIDES Dennucci et al. (1996) e Dionne (1997) afirmam que analgésicos não opióides (ANO) são uma heterogênea classe de drogas que incluem os salicilatos, paraminofenóis e antiinflamatórios não esteroidais (AINE). Os ANO podem produzir respostas positivas no tratamento da dor miofascial (Bouckoms e Keith, 1991), principalmente as associadas com processo inflamatório (Dos Santos Jr., 1995) e são usados para dores orofaciais agudas, musculoesqueléticas (cefaléia, mialgia e artralgia) de brandas a moderadas. Quanto ao uso de ANO para dores crônicas, Dionne (1997) relata que alguns R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:239-245,1999 estudos demonstraram que o efeito positivo destas drogas não foi superior ao placebo. De acordo com vários autores (Hargreaves et al., 1987; Gregg e Rugh, 1988; Haas, 1995; Dos Santos Jr., 1995; Reisner-Keller, 1997; Castilho et al., 1998), um denominador comum para estes agentes é sua atuação como supressores de prostaglandinas nos nociceptores periféricos, através do bloqueio da cicloxigenase. Segundo Okeson (1996), Phero (1984) e Tucker e Dolwick (1996), os ANO devem ser tomados em doses regulares, rigidamente no horário e somente durante um período curto de tempo (2 a 3 semanas). Prescrições que indicam o uso de ANO conforme a necessidade, não devem ser feitas pois podem levar o paciente à tolerância e dependência devido à falta de controle das dosagens (Dionne e Gordon, 1994). Castilho et al. (1998) e Haas (1995) chamam a atenção para os efeitos deletérios dessas drogas: severa irritação do trato gastrointestinal, alteração do fluxo sangüíneo renal e dificuldade na coagulação sangüínea. Recentemente disponibilizouse no mercado alguns tipos de AINE para administração local e transcutânea (a base de flurbiprofeno), minimizando suas concentrações no plasma e diminuindo seus efeitos colaterais, sendo o efeito analgésico e anti-inflamatório positivos (Memeo et al., 1992; Bolten, 1994; Bratty et al., 1995; Ritchie, 1996). Há também os AINE que inibem seletivamente a cicloxigenase 2 (COX-2). Estes possuem os mesmos efeitos terapêuticos dos AINE inibidores da COX-1, porém, não inibem a ação citoprotetora desta última, assim os efeitos colaterais comumente observados são consideravelmente reduzidos (Goodman e Gilman, 1996). 2.2 - ANALGÉSICOS OPIÓIDES Segundo Reisner-Keller (1997) existem três classes de opióides: Fenantrenos (morfina, codeína), derivados da Fenilpiperidina (meperidina) e derivados do Difenilheptano (metadona). Os opióides incluem tanto agentes naturais quanto sintéticos e são únicos em sua capacidade de reduzir dores moderadas e severas. Hargreaves et. al (1987) afirmam que os analgésicos opióides (AO) são classificados de agonistas, antagonistas ou ambos dependendo do seu receptor de atividade no sistema nervoso. Os seus efeitos variam de benéficos como a analgesia até colaterais como dependência, tolerância, sedação, náuseas, constipação e depressão respiratória, isso indica a necessidade do conhecimento da dose (Gangarosa et al., 1991). Segundo vários autores (Gangarosa et al., 1991; Okeson, 1992; Tucker e Dolwick, 1996; TERAPIA FARMACOLÓGICA NAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES Tortamano, 1997) os AO são mais úteis em condições de dores agudas onde houver exacerbação da dor musculoesquelética, já que produzem menos efeitos colaterais quando usados num curto período de tempo (Dos Santos Jr., 1995). Dos Santos Jr. (1995) afirma que se houver indicação para uso de AO por longo prazo, esta terapia deve ser feita cuidadosamente com rigorosa supervisão médica. Segundo Truelove (1994), os AO têm sido objeto de muitos testes avaliando sua eficácia em dores crônicas não malignas, e não tem obtido o mesmo bom resultado que ocorre no controle da dor no câncer. Laskin (1995) diz que muitos clínicos temem o uso de AO por longos períodos pois não sabem qual o resultado da terapia com relação ao vício. Caso seja necessário um tratamento mais prolongado, o profissional deve estabelecer algumas interrupções na administração do fármaco (Gangarosa et al., 1991; Goodman e Gilman, 1996) e a retirada da droga deve ser feita de maneira gradual, para se evitar sintomas de abstinência (Goodman e Gilman, 1996). Marbach e Raphael (1997) relatam que o uso de AO é pouco aproveitado e pouco estudado para dor orofacial crônica e que mais estudos deveriam ser realizados, discordando de Dennucci et al. (1996) que afirmam que os efeitos colaterais e o potencial para produção de tolerância e dependência fazem dos opióides uma pobre escolha nos tratamentos de DTM, e que só deveriam ser usados quando outras modalidades terapêuticas falharam. 2.3 - CORTICOSTERÓIDES Corticosteróides são um grupo de antiinflamatórios esteróides de potente ação (Hargreaves et al., 1987). O mecanismo pelo qual exercem sua ação antiinflamatória ainda não está completamente compreendida, embora saiba-se que inibem a produção de prostaglandinas, tromboxina e leucotrienos (Vane e Botting, 1995). Okeson(1992) relata que os corticosteróides que não são comumente prescritos para uso sistêmico no tratamento de DTM devido a seus efeitos colaterais. Causam variados efeitos metabólicos e modificam as reações imunes do corpo a diversos estímulos. Necessitam de cuidados na sua administração, com vigorosa supervisão médica (Bell, 1991; Dos Santos Jr., 1995). Dennucci et al (1996) e Dionne (1994) relatam que corticosteróides têm sido aplicados topicamente na ATM para tentar minorar a dor, inflamação e disfunção associadas à DTM. Porém estes mesmos autores apresentam estudos que não comprovam a eficácia deste procedimento. Segundo Wennenberg e Kopp (1978) , Okeson (1996) e McNeill (1997), injeções de 241 corticosteróides na ATM têm sido recomendadas com bases limitadas em casos de dor severa na articulação em que outros tratamentos conservadores tiveram insucesso. Para Wennenberg e Kopp (1978) e Kopp et al (1987), corticosteróides via intra-articular têm provado ser úteis no alivio da dor, edema e disfunção em condições inflamatórias dos músculos e articulações como artrite reumatóide, gota e osteoartrite. Gregg e Rugh (1988) afirmam que uma única injeção na ATM tem efeito prolongado e bem sucedido no tratamento da fase inflamatória da osteoartrose, e tem a vantagem de apresentarem risco farmacológico mínimo para o paciente (Goodman e Gilman, 1996). Embora uma única injeção ocasionalmente ajude, há indícios que muitas injeções causem danos na articulação e devem ser evitadas (Okeson, 1996; Dionne, 1997). 2.4 - ANSIOLÍTICOS Segundo McNeill (1997) os ansiolíticos são classificados como drogas sedativo-hipnóticas e são mais comumente prescritos por seus efeitos contra a ansiedade. Também podem ser receitados como coadjuvantes nos tratamentos de fenômenos dolorosos, pois estes estão intimamente relacionados com aspectos psíquicos (Tortamano, 1997). Os agentes tranqüilizantes não eliminam o estresse, mas sim alteram a percepção ou reação do paciente ao mesmo, sendo portanto, uma terapia de suporte (Okeson, 1996). Os benzodiazepínicos são os ansiolíticos mais utilizados nas DTM. O Diazepan é a droga mais empregada desta classe e se presta para melhorar a qualidade do sono, reduzindo os hábitos parafuncionais e relaxando a musculatura (Okeson, 1992), portanto, seu uso é indicado para tratamento de suporte de sintomas miofasciais agudos, especialmente aqueles relacionados à ansiedade e bruxismo noturno (Andrade, 1999). Bell (1991) e Gregg e Rugh (1988) afirmam que embora este medicamento tenha poucos efeitos colaterais, tem forte capacidade para causar dependência e tolerância quando usados por longo prazo, devendo ser prescritos apenas para períodos limitados de tempo. Dennucci et al. (1996) concluem que pacientes cujas dores são de origem musculoesquelética podem beneficiar-se com o uso de benzodiazepínicos por poucas semanas, combinada com terapia conservadora, o que diminuiria a sintomatologia para níveis aceitáveis. A falta de eficácia, ou o aparecimento de efeitos colaterais poderia ser uma indicação para a redução ou descontinuação do uso. R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:239-245,1999 242 C. R. SOBREIRA e M. R. ZAMPIER 2.5 - ANTIDEPRESSIVOS Os antidepressivos constituem uma classe de drogas utilizadas há mais de 30 anos para o controle de dores orofaciais crônicas (Lascelles, 1966). A observação que antidepressivos são úteis mesmo quando não há presença de depressão, sugere que estas drogas tem atividade analgésica independente de efeitos antidepressivos (Phero,1984; France, 1987; Paul e Hersh, 1989; Magni, 1991; Haas, 1995; Okeson, 1996; Dennucci et al., 1996; Dionne, 1997). Os antidepressivos tricíclicos são os mais utilizados (Gregg e Rugh, 1988; Paul e Hersh, 1989) pois possuem ação analgésica demonstrada (Peñarrocha Diago e Bagan Sebastian, 1988). Estudos demonstram que sua utilização é realizada em vários tipos de dor facial incluindo dor facial atípica, DTM e dores de origem neurogênica (Paul e Hersh, 1989; Magni, 1991). Acredita-se que seus efeitos terapêuticos estejam relacionados à sua capacidade de disponibilizar serotonina, aminas biogênicas e norepinefrina nas junções sinápticas do SNC (Phero,1984; Diamond, 1987; Paul e Hersh, 1989; Haas, 1995; Okeson, 1996). Para Okeson, (1992), Truelove (1994), e McNeill (1997), baixas doses de amitriptilina (10 mg) antes do sono noturno pode ter efeito analgésico nas dores crônicas depois de algumas semanas de uso, e podem reduzir o bruxismo noturno, assim como melhorar a qualidade do sono. Okeson, (1996) e McNeill (1997), afirmam que os antidepressivos podem ser prescritos para pacientes com dor crônica, depressão, bruxismo e distúrbio do sono. As doses comumente utilizadas para controle das dores orofaciais crônicas são menores do que aquelas preconizadas para o tratamento da depressão, e podem ser usadas em pacientes que não estão deprimidos (Phero,1984; Haas, 1995; Dennucci et al., 1996; Dionne, 1997). Doses maiores podem ser prescritas para pacientes que sofrem de depressão, porém só devem ser prescritas por médicos psiquiatras (Okeson, 1992; Dionne, 1997). A dose de antidepressivos deve ser limitada pelos efeitos colaterais anticolinérgicos como xerostomia, constipação, visão turva, retenção urinária, respostas alérgicas e sedação (France, 1987; Haas, 1995; Goodman e Gilman, 1996; Dennucci et al., 1996; Dionne, 1997) e deveria ser ajustada em resposta à variação individual de analgesia e efeitos colaterais. 2.6 - RELAXANTES MUSCULARES Segundo Phero (1984), o grupo de drogas comumente referidas como relaxantes dos músculos R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:239-245,1999 estriados podem ter um importante papel na farmacoterapia empregada a pacientes com dor crônica. Dos Santos Jr. (1995) afirma que o uso desses medicamentos induz a um relaxamento central dos músculos pela supressão parcial dos impulsos nervosos para os músculos estriados. Esta modulação da contração muscular é atingida pela ação do medicamento no SNC. Estes compostos afetam a atividade neural associada com os reflexos de estiramento muscular (Okeson, 1996). No entanto, segundo Dionne (1997) não está claro se os relaxantes musculares (RM) agem somente no SNC ou se também possuem uma atividade de relaxamento específica. Seus efeitos são provavelmente devido ao placebo ou à sedação não específica (Gregg e Rugh, 1988; Haas, 1995). Tucker e Dolwick (1996) relatam que estes medicamentos podem proporcionar melhora significativa da função mandibular e alívio da dor durante a mastigação. Em muitos pacientes com dor aguda ou exacerbação da hiperatividade muscular, os relaxantes musculares (RM) devem ser considerados por períodos curtos de 1 a 2 semanas, usando-se a dose mínima eficaz. De acordo com Dennucci et al. (1996) os RM são muitas vezes prescritos a pacientes com DTM para prevenir ou aliviar a hiperatividade muscular muitas vezes presente. Estudos com carisoprodol têm demonstrado divergências nos resultados em sua administração se comparada ao placebo, podendo sua ação ser igual ou superior a este. Neste último caso , os RM demonstraram ser mais efetivos para dor aguda do que crônica. Apesar de não ser provado o seu benefício, os RM quando prescritos, devem fazer parte de um programa mais amplo, sendo complementado por fisioterapia ou placas oclusais. Bell (1991) afirma que os medicamentos RM têm algum valor, especialmente no tratamento de dores miogênicas, e são úteis na obtenção da desprogramação oclusal. Phero (1984) cita carisoprodol, metocarbamol, ciclobenzaprina, orfenadrina e clorzoxazona associada com acetominofem como as drogas mais representativas desta classe. Os RM têm grande capacidade de produzir dependência, sedação e depressão, quando usados por um grande período de tempo (Tucker e Dolwick, 1996). Os RM são anticolinérgicos e, por isso, revelam sintomas físicos incidentais àquela ação ( Bell, 1991). Mais estudos são necessários para documentar a eficácia de RM para dor orofacial em comparação ao placebo, e também avaliar as propriedades sedativas para ajudar a diferenciá-las das propriedades específicas de relaxamento muscular (Dionne, 1997). TERAPIA FARMACOLÓGICA NAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES 2.7 - ANESTÉSICOS LOCAIS Segundo Okeson (1996), quando a dor é localizada, especialmente dentro do músculo, os anestésicos locais (AL) podem ser utilizados para eliminá-la. Os AL bloqueiam o impulso nociceptivo que se propaga ao longo do sistema nervoso. Isto ocorre através de uma ação potencial na periferia dos nervos interferindo na permeabilidade dos canais de sódio (Hargreaves, 1987). Os anestésicos devem ser injetados no local da dor e podem ter um duplo significado: diagnóstico ou terapêutico (Gregg e Rugh, 1988; Okeson, 1992). Com relação ao diagnóstico, Kaplan (1997) relata que os clínicos que trabalham com pacientes com dor orofacial devem estar familiarizados com injeções de diagnóstico tanto nos músculos mastigatórios como na ATM, os bloqueadores podem definir o local e o grau de importância de cada músculo na geração da dor (Gangarosa et al, 1991), além disso, como os pontos álgicos miofasciais refletem dor em outros locais, injeções nestas áreas irão eliminar dor reflexa e confirmarão assim o diagnóstico (Okeson, 1992). Suas indicações terapêuticas específicas são a presença de mioespasmo agudo, pontos desencadeantes dolorosos palpáveis e disfunção muscular relacionada ao deslocamento do côndilo (Gangarosa et al, 1991; Haas, 1995). Os bloqueadores devem ser administrados principalmente para episódios agudos ou recorrentes de dor, e não somente podem dar alívio imediato ao paciente mas também assegurar tempo necessário para instituir terapias adicionais. Os bloqueadores podem ser repetidos em intervalos de 2 a 4 dias, aplicações com maior freqüência podem causar toxicidade e fibrose muscular local (Gregg e Rugh, 1988). Bell (1991) afirma que os anestésicos podem ser com ou sem vasoconstritores, sendo que Okeson (1992) contraindica os que possuem vasoconstritores para injeções musculares. 2.8 - MEDICAÇÃO PLACEBO Gregg e Rugh (1988) afirmam que o placebo são substâncias que não possuem elementos farmacêuticos ativos, mas geralmente têm efeitos psicológicos sobre a condição tratada. Cerca de 30 a 40% dos indivíduos expostos ao tratamento com placebo apresentam benefícios. Atualmente pensa-se que o placebo funcione através de alterações biomecânicas mediadas através do sistema de crenças e cognições do paciente. Laskin e Greene (1972) em seus estudos comprovaram que 26 de 50 pacientes medicados com placebo tiveram melhora em sua condição dolorosa 243 associada a DTM. Para eles interações psicológicas e procedimentos envolvendo o paciente e o profissional também têm forte influência no decorrer do terapia. Para Haas (1995), condições demonstradas ao paciente como compaixão, interesse, experiência e prestígio do dentista, preço do tratamento e preço da medicação, podem contribuir para o efeito placebo. 3.CONCLUSÕES Através deste estudo, segundo os autores consultados, sugere-se que: O papel da farmacologia nas DTM é na maioria das vezes coadjuvante. Sendo o seu uso mais eficiente como parte de um programa mais amplo, que envolva outras opções terapêuticas conservadoras. Antes de selecionar o fármaco para o tratamento das DTM é fundamental avaliar as características da dor, entre elas: origem (miofascial, vascular, neurogênica, óssea), tempo de duração (aguda ou crônica), e intensidade (leve, moderada, severa). As classes de drogas consideradas para o tratamento das DTM são: analgésicos opióides e não opióides, corticosteróides, ansiolíticos, antidepressivos, relaxantes musculares e anestésicos locais. Mais pesquisas devem ser feitas para determinar os fatores prognósticos na população com DTM, avaliando quais as drogas têm maior balanço favorável entre analgesia, melhora funcional e efeitos colaterais. 4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 1 a. Ed. São Paulo. Ed. Artes Médicas, 1999. 188p. BELL, W. E. Tratamento de pacientes com dor. Dores Orofaciais, classificação, diagnóstico e tratamento. 3a. Edição. Rio de Janeiro: Editora Quitessense Books. cap. 18, p. 394-412, 1991. BRATTY, J. R. et al. A Double-blind Study to Assess the Primart Irritancy of Flurbiprofen (Local Action Transcutaneus) When Applied to the Skin of Caucasians. Intern. J. Pharmaceutics. n. 115, p. 119-22, 1995. BOLTEN, W. 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