Weigert NM et al. ARTIGO DE REVISÃO Reabsorção idiopática do côndilo mandibular: frequente e desconhecida Idiopathic resorption of the mandibular condyle: common and unknown Natália Marreco Weigert1, Nilesh Joriel Moniz2, Ronaldo Rodrigues de Freitas3 RESUMO ABSTRACT A reabsorção do côndilo mandibular está relacionada com o aumento anormal de carga sobre a articulação temporomandibular (ATM) com subsequente reabsorção compressiva do osso. Isto ocorre, normalmente, após tratamento ortodôntico, cirurgia ortognática, disfunção temporomandibular (DTM), trauma, parafunção e oclusão instável. É verificada maior incidência em pacientes do gênero feminino, portadores de má oclusão esquelética Classe II, associada à mordida aberta ou não, com DTM e elevado ângulo do plano mandibular. Entretanto, na maioria dos casos, não há fator predisponente, sendo utilizado nestes casos o termo reabsorção condilar idiopática. Clinicamente, o paciente apresenta retrognatismo progressivo e aumento da mordida aberta anterior. Radiograficamente, são observadas alterações na morfologia e tamanho dos côndilos mandibulares, além de aumento do ângulo do plano mandibular e diminuição do ângulo SNB. O tratamento ainda é controverso: o tratamento incruento e preservação, cirurgia ortognática, condilectomia e reconstrução com enxertos autógenos ou materiais aloplásticos são os mais descritos na literatura. Mandibular condyle resorption is related to an abnormal load on temporomandibular joint (TMJ) that causes subsequent bone resorption due to compression. This usually occurs after orthodontic treatment, orthognathic surgery, temporomandibular disorders (TMD), trauma, parafunction and unstable occlusion. This condition occurs more frequently in female patients that have skeletal Class II malocclusion associated or not with anterior open bite, DTM and high mandibular plane angle. However, in most cases there is not a predisposing factor, these cases are described as idiopathic condylar resorption. Clinically, the patient presents a progressive retrognathism and an increase of anterior open bite. Radiographically, there are changes in the morphology and size of mandibular condyles, increase in mandibular plane angle and a decrease in SNB angle. Treatment is still controversial: closed treatment and follow up, orthognathic surgery, condylectomy and reconstruction with autografts or alloplastic materials are oftenly described in the literature. Descritores: Côndilo mandibular. Mandíbula/cirurgia. Reabsorção óssea. Incidência. Key words: Mandibular condyle. Mandible/surgery. Bone resorption. Incidence. 1.Residente do Setor de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. 2.Chefe do Setor de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. 3.Assistente do Setor de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Correspondência: Ronaldo Rodrigues de Freitas Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Setor de Cirurgia Buco Maxilo Facial Rua Dr. Cesário Motta Junior, 112 – Vila Buarque – São Paulo, SP, Brasil – CEP: 01221-020 E-mail: [email protected] Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2011; 14(2): 102-7 102 Reabsorção idiopática do côndilo mandibular: frequente e desconhecida A RCI parece ter uma predileção por mulheres com DTM preexistente, com ângulo do plano mandibular elevado e entre 15 e 35 anos3,13-16. Wolford & Cardenas17 descreveram que a maioria dos casos de reabsorção do côndilo mandibular ocorreu em jovens durante a fase puberal e, devido a isto, os hormônios sexuais podem estar envolvidos com as alterações bioquímicas na ATM, causando a hiperplasia do tecido sinovial e estimulando a produção de substratos destrutivos. Isto fez com que estruturas ligamentares, que normalmente suportam e estabilizam o disco articular, se tornassem frouxas, ocorrendo o deslocamento anterior do disco. O tecido sinovial hiperplásico assume uma posição ao redor da cabeça do côndilo mandibular, aumentando ainda mais sua exposição aos substratos responsáveis pelo processo de reabsorção. Gunson et al.18 sugeriram que a hipoestrogenemia não diagnosticada, associada à sobrecarga da articulação por DTM, bruxismo ou tratamento ortodôntico, pode explicar a reabsorção do côndilo mandibular. A maioria dos pacientes do gênero feminino com reabsorção do côndilo mandibular grave deste estudo apresentava sinais e sintomas de deficiência da citocina 17β-estradiol. A baixa circulação de 17β-estradiol parece tornar impossível a capacidade de reparação fisiológica do côndilo mandibular, sendo o mesmo mais susceptível a fatores inflamatórios. Isto resulta em lise do osso cortical e medular do côndilo mandibular. Fatores que contribuem para uma alteração na biomecânica da mastigação podem provocar mudanças na estrutura da ATM. Desta forma, alterações na oclusão (ausências dentárias, cirurgia ortognática, ortodontia), hábitos parafuncionais e alterações de posicionamento entre o disco articular e o côndilo mandibular podem contribuir para a remodelação das estruturas articulares da ATM. Os principais fatores mecânicos capazes de iniciar alterações na estrutura da ATM são: terapia oclusal, parafunção, macrotrauma e oclusão instável. Estes fatores podem ocorrer isoladamente ou estarem interligados. Quando dois ou mais fatores estão presentes, é mais provável que mudanças morfológicas ocorram, ou caso o paciente apresente a capacidade de adaptação óssea limitada, as alterações condilares serão mais acentuadas6. Algumas doenças sistêmicas são capazes de diminuir a capacidade de adaptação das superfícies articulares da ATM, por meio de alterações no crescimento, maturação e remodelamento ósseo5. A esclerodermia, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, espondilite anquilosante e miopatias podem provocar a reabsorção do côndilo mandibular13,19. A presença de artralgias foi observada em 20% a 50% dos casos de miopatias e pode estar relacionada como uma manifestação da miopatia, indução por esteroides, estresse mecânico ou combinação destes20,21. Os glicocorticoides são agentes terapêuticos essenciais em tratamentos de algumas doenças crônicas. Eles apresentam ação antiinflamatória, imunossupressora e antineoplásica. No entanto, apresentam uma série de efeitos colaterais. In vivo, a administração destes fármacos tem uma relação direta sobre a atividade osteoblástica, ocorrendo a sua inibição. A redução na formação óssea durante a corticoterapia é refletida por meio de baixos níveis séricos de osteocalcina e fosfatase alcalina22. Ainda não existem evidências científicas que comprovem que a DTM pode ser induzida pelo tratamento ortodôntico. Entretanto, os seguintes fatores devem ser considerados em INTRODUÇÃO Os côndilos da mandíbula são duas eminências ósseas elipsóideas, que medem em média de 20 a 22 mm de comprimento, de uma extremidade a outra, por 7 a 8 mm de largura, no sentido ântero-posterior. O côndilo mandibular é bastante convexo na direção ântero-posterior e ligeiramente convexo no sentido médio-lateral. Sua morfologia modifica-se com a idade, de acordo com as alterações que ocorrem na oclusão1. É uma das faces articulares ósseas da ATM, além da eminência articular e fossa mandibular do osso temporal2. Na reabsorção do côndilo mandibular, ocorre a diminuição do volume e altura dos côndilos, provocando alterações na morfologia maxilofacial e na oclusão dentária3. De Bont & Stegenga4 a dividiram em primária e secundária, em função da presença ou não de fatores predisponentes. A reabsorção do côndilo mandibular está relacionada a um aumento anormal de carga na ATM e subsequente reabsorção como consequência da pressão exercida, o que pode ocorrer após tratamento ortodôntico, cirurgia ortognática, desarranjos internos, parafunção e trauma5,6. Ainda são descritos idade, gênero, fatores hormonais5-7, inclinação posterior do colo do côndilo mandibular8 e fixação interna rígida ou osteossíntese com fio de aço e bloqueio intermaxilar (BIM)9,10 como possíveis fatores etiológicos. Segundo Arnett et al.5,6, os pacientes com reabsorção do côndilo mandibular são, em sua maioria, mulheres (9:1), sendo a idade de maior incidência entre a menarca e a menopausa (entre 11 e 45 anos). Entretanto, na maioria das situações, não há fator predisponente, sendo utilizado nestes casos o termo “reabsorção idiopática do côndilo mandibular” (RCI)11. Alguns autores citam que, uma vez iniciado o processo de reabsorção, o mesmo será progressivo independente do tipo de tratamento escolhido7. Para outros, o tratamento deve ser instituído o mais precocemente possível, visando à diminuição do grau de reabsorção12. A decisão pelo tratamento cruento ou incruento ainda é controversa, e depende da gravidade dos fatores predisponentes, da deformidade esquelética e oclusal, da possibilidade de compensação ortodôntica ou do tratamento restaurador odontológico. Quanto ao tratamento cruento, a cirurgia ortognática, a condilectomia e a reconstrução do côndilo mandibular com enxertos autógenos ou materiais aloplásticos são os mais descritas na literatura13. O presente trabalho tem como objetivo estudar a etiopatogenia da reabsorção do côndilo mandibular, os exames de imagem utilizados para diagnóstico e os principais tipos de tratamento descritos na literatura. REVISÃO DE LITERATURA Etiopatogenia A etiopatogenia da reabsorção do côndilo mandibular continua desconhecida, entretanto, acredita-se que está associada a osteomielite, osteólise, osteodistrofia renal, osteoartrite, artrite reumatoide (AR), disfunção temporomandibular (DTM), trauma, uso crônico de corticoides, lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia, outras doenças vasculares do colágeno, tratamento ortodôntico e cirurgia ortognática7,13,14. Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2011; 14(2): 102-7 103 Weigert NM et al. Como resultado, a maioria dos pacientes apresenta redução no desempenho mastigatório, dor muscular ou articular, movimentos mandibulares limitados, diminuição da altura facial posterior, retrognatia e mordida aberta anterior progressiva, além de redução do crescimento mandibular, quando ocorre em pacientes jovens5,6,13. Na RCI, o côndilo diminui nos 3 planos do espaço, no osso subcondral, sem aparente destruição da fibrocartilagem articular presente no côndilo mandibular e na fossa articular, ao contrário do que ocorre na artrite, onde a fibrocartilagem é destruída devido ao processo inflamatório. A reabsorção do côndilo mandibular, eventualmente, pode estabilizar. No entanto, se o côndilo da mandíbula e o tecido sinovial hiperplásico receberem carga excessiva (hábitos parafuncionais, trauma, ortodontia, cirurgia ortognática), o processo de reabsorção pode ser reiniciado17. O processo de reabsorção pode tornar-se inativo após 1 a 5 anos, podendo ser reiniciado, sendo esta a distinção entre reabsorção condilar ativa e inativa. Após os 40 anos de idade, é raro que ocorra a reativação da reabsorção condilar. A reabsorção pode progredir e envolver todo o côndilo, restando apenas um coto, próximo à incisura mandibular. O ramo mandibular abaixo da incisura mandibular não é atingido11. casos onde se suspeite da DTM ou em casos onde há risco potencial de desenvolvimento durante o tratamento ortodôntico: (1) observar cuidadosamente o paciente quando é diagnosticada DTM durante o tratamento ortodôntico ativo; (2) avaliar eventuais doenças sistêmicas pré-existentes, como doenças reumáticas e hiperparatireoidismo; (3) realizar exame radiográfico de rotina a cada 3 meses; (4) cessar ajustes ortodônticos adicionais até que a etiologia de qualquer lesão óssea em desenvolvimento seja determinada e (5) iniciar terapia com placa oclusal, a qual pode ser considerada uma das melhores formas de estabilizar a DTM ou qualquer remodelação óssea associada23,24. Phillips & Bell25 foram os primeiros a relatarem a relação entre a reabsorção do côndilo mandibular e cirurgia ortognática, onde observaram atrofia bilateral dos côndilos mandibulares após realização de osteotomia sagital para avanço da mandíbula, e descreveram o aumento da tensão muscular como o principal responsável pelo fenômeno. A impactação maxilar, auto-rotação mandibular, osteotomia bimaxilar e avanço mandibular podem induzir, também, a reabsorção condilar11. Algumas características podem tornar o paciente propenso a desenvolver a reabsorção, são elas: mulheres com idades entre os 20-30 anos, ângulo do plano mandibular elevado, grandes avanços mandibulares e rotação no sentido antihorário do segmento proximal na osteotomia sagital bilateral do ramo mandibular9,26. Entretanto, ainda não está claro se a reabsorção do côndilo mandibular durante e/ou após o procedimento cirúrgico está associada ao tratamento ou a condições pré-operatórias8. A ATM é fundamental para a obtenção de resultados estáveis em cirurgias ortognáticas. A DTM preexistente também foi associada à recidiva esquelética após realização de cirurgia para avanço mandibular26. Ainda há controvérsia quanto ao adequado tratamento em pacientes com DTM que requerem cirurgia ortognática para a correção de má oclusões e deformidades esqueléticas. Alguns pesquisadores citam que a cirurgia ortognática ajuda na redução da disfunção e seus sintomas, e outros acreditam que o procedimento cirúrgico nestes pacientes causa efeitos deletérios adicionais à ATM27. A reabsorção do côndilo mandibular não ocorre exclusivamente em pacientes tratados com fixação interna rígida. Todavia, existem poucos estudos publicados sobre a relação entre osteossíntese com fio de aço e BIM e a incidência da reabsorção9,10. Alterações nos côndilos mandibulares foram observadas após osteossíntese com fio de aço e BIM de 3 a 7 semanas28. Entretanto, alterações osteoartríticas significativamente mais graves, acompanhadas de reabsorção óssea, ocorreram em todos os 13 pacientes analisados após a fixação interna rígida de fraturas do côndilo mandibular com miniplacas, avaliadas por meio de radiografias, com tempo médio de 18 meses de acompanhamento29. Na maioria dos casos, entretanto, não há fator desencadeador associado à reabsorção do côndilo mandibular, sendo utilizado o termo RCI ou lise condilar idiopática. Os mediadores inflamatórios responsáveis pela reabsorção do côndilo mandibular estão presentes na zona bilaminar do disco articular. Em um estudo de 15 pacientes com RCI, foram encontrados hipertrofia e proliferação dos tecidos bilaminar e sinovial ao redor do côndilo mandibular, sendo que a exposição do mesmo aos mediadores destes tecidos criava o fenômeno da reabsorção17. Exames complementares e diagnóstico A reabsorção do côndilo mandibular é diagnosticada com auxílio de exames de imagem convencionais, que é um método capaz de reproduzir de forma fiel a forma e o volume do côndilo mandibular30. A radiografia panorâmica é considerada uma opção satisfatória para avaliação da ATM, embora sejam identificadas apenas alterações radiográficas significativas30. É tido como parâmetro a assimetria dos côndilos mandibulares entre os dois lados diferindo em mais de 6% na dimensão vertical. Com base nestas informações, uma mudança condilar vertical que ocorre dentro desta margem de 6% seria considerada um processo de remodelação, enquanto alterações para além deste nível representariam a reabsorção do côndilo mandibular. Contudo, definir uma forma radiográfica típica e distinguir a remodelação funcional e não funcional é considerado ainda bastante subjetivo15. Alguns dos critérios descritos para diagnosticar a reabsorção do côndilo mandibular após a realização da cirurgia ortognática foram: (1) grande reabsorção óssea, com ou sem aposição óssea, e redução do contorno e volume condilar; (2) altura do ramo mandibular, medida por meio de radiografias, diferindo em 6% ou mais, entre os períodos pré ou pós-operatório imediato e 1 ano após o procedimento cirúrgico ou a longo prazo de acompanhamento e (3) perda do sobrepasse dos incisivos antagonistas na radiografia cefalométrica8. Em relação à radiografia cefalométrica lateral, será observado lenta retrusão, porém progressiva, da mandíbula durante a fase de reabsorção ativa. Já a série de radiografias cefalométricas pósteroanteriores pode apresentar o agravamento da assimetria facial17. A tomografia computadorizada é superior aos filmes comuns e ressonância magnética para demonstrar estruturas ósseas específicas. Pode ser feita em vários planos e visualizada em diferentes condições, que realçam tecido mole ou duro. Esta imagem supera a distorção ou sobreposição encontradas na Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2011; 14(2): 102-7 104 Reabsorção idiopática do côndilo mandibular: frequente e desconhecida radiografia simples, mas pode apresentar artefatos no contorno do côndilo mandibular, encontrados nas pequenas superfícies curvas do osso cortical. Além disso, também pode fornecer cortes de reconstrução tridimensional a partir de imagens originais30. A imagem esquelética por meio de radioisótopos é conhecida por ser um indicador sensível de doenças ósseas, mas não pode distinguir a reabsorção da remodelação do côndilo mandibular. Contudo, a cintilografia óssea com o tecnécio-99 pode ser usada para identificar o estadiamento da doença e para a avaliação da reparação óssea31. O isótopo tecnécio é essencial para diagnóstico da diferenciação da reabsorção do côndilo mandibular em ativa e inativa13. A ressonância magnética é pouco útil para o diagnóstico da reabsorção do côndilo mandibular, porém, pode ser utilizada para avaliação do grau de deformação e alterações degenerativas do disco articular17. Quando a reabsorção do côndilo mandibular é diagnosticada, a terapia com placa oclusal é indicada para diminuir a incidência de carga nos côndilos, prevenindo a progressão da doença e aliviando o desconforto e a hiperatividade muscular. É mais indicado adiar o tratamento oclusal definitivo (reabilitação protética, ortodontia ou cirurgia corretiva da mandíbula) até que seja comprovado que a reabsorção do côndilo mandibular foi interrompida. Apenas a cirurgia ortognática não é o tratamento ideal. A literatura relata que os resultados a longo prazo não são estáveis, e o processo de reabsorção pode ser agravado ou reiniciado3. A cirurgia ortognática, a ortodontia e a reabilitação protética como tratamentos definitivos da má oclusão provavelmente apresentarão resultados satisfatórios caso a reabsorção do côndilo mandibular esteja estável por pelo menos 1 ano e se houver cobertura cartilaginosa intacta na superfície condilar reabsorvida3. Ow & Cheung33 compararam a cirurgia ortognática e a distração osteogênica em pacientes que foram submetidos a avanços mandibulares entre 6 e 10 mm. A incidência de reabsorção do côndilo mandibular foi de 6,1% após a osteotomia sagital do ramo mandibular, e os fatores de risco observados foram DTM pré-existente, ângulo do plano mandibular elevado, acentuada inclinação posterior do côndilo mandibular e grandes avanços mandibulares. Esta complicação não é comum com a distração osteogênica, tendo sido observada em apenas 1 (1,4%) paciente, e os possíveis fatores desencadeadores ainda não estão claros. Acredita-se que o deslocamento superior e posterior do côndilo mandibular durante o processo de distração produz carga desfavorável ao côndilo mandibular e disco articular, resultado na reabsorção do mesmo, uma vez que excede sua capacidade adaptativa. Nestes casos, o controle da taxa e do ritmo da distração pode ser importante para permitir a adaptação fisiológica do côndilo mandibular. A condilectomia e a reconstrução com enxerto costocondral autógeno ou material aloplástico representam outra modalidade de tratamento. Há a hipótese de que a RCI cesse apenas quando o côndilo mandibular é reabsorvido até a incisura sigmoide ou quando é removido cirurgicamente. Assim, acredita-se que, em pacientes que apresentam a doença inativa, mas com remanescente do côndilo mandibular no pré-operatório, pode ocorrer a recidiva após o tratamento através da cirurgia ortognática13,34. A condilectomia associada à reconstrução com enxerto costocondral em pacientes com pequena altura posterior do ramo (menor que 35 mm) proporciona resultado mais estável do que a cirurgia ortognática13. Na fase final da reabsorção do côndilo mandibular, a deformidade maxilofacial pode afetar a função mastigatória, fonação, respiração e selamento labial. Uma vez que a reabsorção do côndilo mandibular tenha estabilizado, ou seja, não progressão por 1 ano, qualquer outra alteração facial é improvável. Desta forma, a ressecção preventiva da articulação e a utilização de enxerto autógeno (costela) ou implante aloplástico (prótese total articular) é raramente indicada3. Pacientes que foram tratados por condilectomia e reconstrução com enxerto costocondral apresentaram menor índice de recidiva em relação aos tratados através da cirurgia ortognática. Dos 18 pacientes que se submeteram à cirurgia ortognática, 8 apresentaram recidiva da mordida aberta e rotação mandibular no sentido horário ou sintomas da DTM no pós-operatório. Os Tipos de tratamento O tratamento da reabsorção do côndilo mandibular ainda é controverso, devido à pouca informação disponível a respeito do seu curso natural após o tratamento cruento ou incruento. Esta decisão depende de fatores, como a gravidade da deformidade óssea e oclusal, expectativa do paciente e da possibilidade de compensação ortodôntica ou de se obter estabilidade oclusal razoável após ajuste oclusal ou reabilitação protética32. Arnett & Tamborello15 propuseram um tratamento para pacientes que apresentaram a reabsorção do côndilo mandibular resultante de uma oclusão instável, que consistia na utilização de medicamentos antiinflamatórios e placas oclusais, para posterior preparo ortodôntico e cirurgia ortognática, sem que ocorresse sobrecarga na ATM. Segundo estes autores, sem este protocolo pré-cirúrgico, o processo de reabsorção do côndilo mandibular poderia evoluir significativamente. O tratamento da reabsorção do côndilo mandibular é triplo: (1) controle ou erradicação do fator etiológico, (2) estabilização da oclusão e ATM e (3) correção da deformidade oclusal15. A cirurgia ortognática também é uma das formas de tratamento da reabsorção do côndilo mandibular. Entretanto, ocorre recidiva caso a reabsorção esteja ativa no momento da operação ou caso ocorra a reativação no pós-cirúrgico. A reabsorção do côndilo mandibular pode ser reiniciada pela realização da osteotomia sagital bilateral do ramo mandibular e osteotomia Le Fort I8. A realização da cirurgia maxilar isolada também foi descrita para evitar a reativação do processo de reabsorção do côndilo mandibular. Entretanto, acredita-se que a rotação do plano oclusal no sentido antihorário pode aumentar a incidência de forças compressivas, aumentando o risco de desenvolver a reabsorção do côndilo mandibular15. Além disso, esta abordagem não forneceu resultados estéticos favoráveis na maioria dos casos32. Um estudo avaliou 18 pacientes que foram submetidos à cirurgia ortognática para o tratamento da reabsorção do côndilo mandibular inativa. Destes, 4 pacientes desenvolveram recidiva do processo, com recorrência de mordida aberta e retrognatia. Quatro apresentaram resultados estáveis no momento do estudo, mas desenvolveram sintomas de DTM. Dez pacientes tiveram um resultado estável, sem alteração na oclusão, na posição mandibular e sem sintomatologia dolorosa na ATM após 2 anos de proservação13. Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2011; 14(2): 102-7 105 Weigert NM et al. 5 pacientes que realizaram condilectomia e enxerto costocondral apresentaram-se estáveis e assintomáticos, com adequada função mandibular, sem recidivas após 30 meses13. O enxerto costocondral é uma técnica comum para a reconstrução da unidade ramo-côndilo mandibular. Entretanto, é relatado o crescimento excessivo do enxerto, linear ou um sobrecrescimento “tumor-like”, resultando em desvio do mento, prognatismo mandibular ou anquilose da ATM35. A reconstrução total aloplástica é uma solução biomecânica utilizada, principalmente, no tratamento de articulações anatomicamente alteradas e não funcionais, resultantes de doenças ortopédicas graves e debilitantes27,36,37. Entretanto, como esta não é uma solução biológica, pode ser necessária uma reintervenção cirúrgica para a remoção do tecido cicatricial dos componentes articulares do implante, para a substituição do implante após longo período, ou por insucesso no tratamento ou desgaste do material3,36,37. 8.Hoppenreijs TJ, Freihofer HP, Stoelinga PJ, Tuinzing DB, Van´t Hof MA. Condylar remodelling and resorption after Le Fort I and bimaxillary osteotomies in patients with anterior open bite: a clinical and radiological study. Int J Oral Maxillofac Surg. 1998;27:81-91. 9.Kerstens HCJ, Tuinzing DB, Golding RP, Van Der Kwast WAM. Condylar atrophy and osteoarthrosis after bimaxillary surgery. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1990;69:274-80. 10.Merkx MAW, Van Damme PA. Condylar resorption after orthognathic surgery: evaluation of treatment in 8 patients. J Craniomaxillofac Surg. 1994;22:53-8. 11.Papadaki ME, Tayebaty F, Kaban LB, Troulis MJ. Condylar resorption. 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A RCI parece ter uma predileção por mulheres com DTM preexistente, com ângulo do plano mandibular elevado e entre 15 e 35 anos. 3. O diagnóstico geralmente é baseado na história pregressa, avaliação clínica e exames de imagem do paciente, sendo os mais utilizados a radiografia panorâmica, a tomografia computadorizada e a cintilografia óssea. 4. Atualmente, não existe consenso de qual é o melhor tratamento para a RCI. O tratamento incruento e proservação, cirurgia ortognática, condilectomia e reconstrução condilar com enxertos autógenos ou materiais aloplásticos são os mais descritos na literatura. REFERÊNCIAS 1.Velayos JL, Santana HD. Anatomia da cabeça e pescoço. 3ª ed. São Paulo:Artmed Editora;2004. p.119-24. 2.Rizzolo RJC, Madeira MC. Anatomia facial com fundamentos de anatomia sistêmica geral. 2ª ed. São Paulo:Editora Sarvier;2006. p.124-38. 3.Posnick JC, Fantuzzo JJ. Idiopathic condylar resorption: current clinical perspectives. 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A rationale for total alloplastic temporomandibular joint reconstruction in the management of idiopathic/progressive condylar resorption. J Oral Maxillofac Surg. 2007;65:1600-9. Trabalho realizado na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Artigo recebido: 2/3/2011 Artigo aceito: 8/6/2011 Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2011; 14(2): 102-7 107