PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Albina Carvalho de Oliveira Nogueira ELABORAÇÃO DE CURSO DE FITOTERAPIA PARA O ENSINO DE BOTÂNICA, COM BASE NAS PLANTAS MEDICINAIS SELECIONADAS PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE DE INTERESSE PARA O SUS Belo Horizonte 2012 Albina Carvalho de Oliveira Nogueira ELABORAÇÃO DE CURSO DE FITOTERAPIA PARA O ENSINO DE BOTÂNICA, COM BASE NAS PLANTAS MEDICINAIS SELECIONADAS PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE DE INTERESSE PARA O SUS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Biologia. Orientadora: Profª. Drª. Cláudia de Vilhena Schayer Sabino. Coorientadora: Profª. Drª Andréa Carla Chaves. Belo Horizonte 2012 Albina Carvalho de Oliveira Nogueira ELABORAÇÃO DE CURSO DE FITOTERAPIA PARA O ENSINO DE BOTÂNICA, COM BASE NAS PLANTAS MEDICINAIS SELECIONADAS PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE DE INTERESSE PARA O SUS Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. _____________________________________________________________ Profª. Drª. Cláudia de Vilhena Schayer Sabino (Orientadora) – PUC Minas _____________________________________________________________ Profa. Dra. Andréa Carla Leite Chaves (Coorientadora) – PUC Minas _____________________________________________________________ Prof. Dr. David Pereira Neves- Faseh _____________________________________________________________ Prof. Dr. Wolney Lobato – PUC Minas Belo Horizonte, 07 de agosto de 2012. Para Hugo José de Oliveira (in memoriam) e Alice Ezequiel de Carvalho Oliveira, meus honrados e queridos pais, exemplos de amor e dedicação. Para Marco Antonio, meu querido esposo, companheiro de jornada e aprendizado. Para Ricardo e André, meus queridos e amados filhos, alegrias de minha vida. Para Maria Francisca, Hugo e Manoel, meus queridos irmãos. AGRADECIMENTOS Foram várias as pessoas que me auxiliaram no desenvolvimento deste trabalho. No apoio ao curso, nas discussões teóricas, nos trabalhos de campo, na amizade, no carinho ou na paciência. Cada um, à sua maneira, contribuiu de forma imensurável para a minha formação como pessoa ou como profissional. Agradeço a todos que foram fundamentais nesta etapa de minha vida. À Dra. Profª. Drª. Cláudia de Vilhena Schayer Sabino, que aceitou o desafio de me orientar, sempre apoiando e aperfeiçoando com competência o desenvolvimento do meu trabalho. Agradeço, principalmente, por sua confiança, amizade e disponibilidade de sempre. À Dra. Andréa Carla Chaves, pelas sugestões, correções, incentivo e apoio. À Fundação Zoobotânica, na pessoa do seu presidente, Sr. Evandro Xavier Gomes, e da diretoria executiva, por liberarem parte da minha carga horária de trabalho no Jardim Botânico (JB) para a realização do mestrado. À assessoria de comunicação da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte (FZB-BH), pela divulgação do curso no Diário Oficial do Município. À Prefeitura de Belo Horizonte (Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte S/A. - PRODABEL), pela impressão do material didático distribuído aos alunos do curso de Fitoterapia. Ao Jardim Botânico da FZB-BH, na pessoa do seu diretor Gladstone Correa Araújo, por disponibilizar suas instalações e funcionários para as aulas no jardim de plantas medicinais, ervanário, herbário e produção de mudas. Ao Conselho Regional de Biologia, na pessoa do seu presidente, Sr. Gladstone Correa Araújo, por disponibilizar as instalações e funcionários do Conselho Regional de Biologia (CRBio) para a aplicação do curso. À Prefeitura de Belo Horizonte (Diário Oficial do Município), Conselho Regional de Biologia, Sociedade dos Amigos da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte e à Rede Fito-Cerrado (Ministério da Saúde), por divulgarem o curso “Fitoterapia para profissionais da saúde”. Aos coordenadores, professores, funcionários e colegas do mestrado que conviveram comigo nesse período, pela troca de experiências, informações e sugestões. Destaco aqui Mariana, pelo carinho, disponibilidade e principalmente por sua amizade de sempre. Aos alunos do curso de Fitoterapia não devo agradecer apenas por terem participado e avaliado o curso, mas também por me terem permitido aprender um pouco mais sobre o uso das plantas medicinais em várias localidades de Minas Gerais (Brasil) e em outros países, como a Bolívia e Guiné Bissau. Especialmente a meus pais, Hugo e Alice, aos quais faço de cada conquista um instrumento de gratidão e reconhecimento por tudo que recebi deles, principalmente a confiança necessária para realizar meus sonhos. Ao meu marido, Marco Antonio, sempre paciente e disponível aos meus apelos profissionais durante o mestrado e sua participação nos trabalhos de informática e layout do material didático. A meus filhos, Ricardo e André, sempre disponíveis nos finais de semana para fotografarem as atividades durante o curso e, principalmente, pela paciência, carinho e compreensão nos meus momentos mais difíceis. À Carolina, minha sobrinha, que muito me ajudou na primeira etapa do curso como fotógrafa e com suas críticas. Ao meu irmão, Manoel Domingos, sempre me incentivando, por sua gentileza, afeto e disponibilidade de sempre, nas minhas dúvidas na elaboração e execução do meu mestrado. Aos meus irmãos, Maria Francisca e Hugo, por suas presenças afetivas, pelo apoio e incentivo constantes. À minha maravilhosa família Carvalho Oliveira e Nogueira, meus cunhados e sobrinhos, pelo amor, partilha e alegria que me proporcionam sempre. Aos colegas do Jardim Botânico, Gladstone Araújo, Marina Torres, Márcia Bacelar, Miriam Pimentel, Maria Guadalupe Carvalho, Ines Ribeiro, Juliana Ordones, Fernando Fernandes, Sérgio André, Gustavo Nassif, Rodrigo Moreira, Carla Daniela, Magna Lemos e Humberto Espirito Santo (Zoo) pelo apoio, amizade e contribuição técnica durante o desenvolvimento do meu trabalho. E, finalmente, agradeço a Deus, a todos meus amigos e àqueles que neste momento fogem à minha memória, mas que, de alguma forma, deram a sua contribuição e fazem parte da minha história... Muito agradecida! No final, conservaremos somente o que amamos, amaremos somente o que compreendemos, compreenderemos somente o que nos é ensinado. (DIOUM). RESUMO Baseando-se na importância da capacitação de profissionais da saúde para a Fitoterapia, a proposta deste trabalho foi elaborar um curso utilizando uma sequência didática para o ensino de Botânica, tendo como base a Relação Nacional de Plantas Medicinais de interesse do Sistema Único de Saúde. Na graduação, extensão e na pós-graduação, em que a Fitoterapia faz parte do conteúdo programático, a Botânica, quando é enfocada, é quase sempre teórica, desestimulante, fundamentada em repetição e fragmentação. Utilizam-se métodos que distanciam o estudo dos vegetais da relação com os outros conteúdos integrados ao tema. Este trabalho apresenta um conjunto de unidades didáticas sobre a “Fitoterapia”, com o propósito de focalizar o conteúdo botânico com sugestões de estratégias para orientar e subsidiar o professor para que ele tenha mais segurança em abordar a Botânica nos cursos de Fitoterapia para profissionais da área de saúde. Para a elaboração do curso, foi feito inicialmente um levantamento sobre o conteúdo de 10 cursos de Fitoterapia. A sequência, elaborada a partir do modelo proposto por Zaballa, teve como referência as plantas medicinais indicadas no Sistema Único de Saúde para a produção de fitofármacos/fitomedicamentos, configurando-se no produto educacional desta pesquisa. As unidades didáticas foram experimentadas em sala de aula (atividades teóricas) e no Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte (atividades práticas) com 26 profissionais da área de saúde. Para cada atividade didática elaborada foram indicados título, objetivos, tempo de duração, material necessário e desenvolvimento. Foi elaborado material didático para o aluno e para o professor, com sugestões e direcionamento das aulas, resultando em ferramenta complementar para capacitar, facilitar e desencadear o processo ensinoaprendizagem na formação dos profissionais da saúde no tocante à Botânica ligada à Fitoterapia. A partir da apresentação de trabalhos desenvolvidos pelos alunos, evidenciaram-se mudanças de conceitos, procedimentos e posição mais criteriosa em relação ao uso das plantas medicinais. Finalizando, os alunos avaliaram o curso, apresentando suas sugestões e críticas. Palavras-chave: Sequência didática. Ensino-aprendizagem de Botânica. Fitoterapia. Sistema Único de Saúde. ABSTRACT Based on the importance of training health professionals for Phytoterapy, the purpose of this study was to develop a course using a didactic sequence for teaching Botany based on the National List of Medicinal Plants of interest to the Unified Health System. In extent and in graduate school where Phytoterapy is part of the curriculum, the focus on botany is often theoretical, unexciting, based on repetition and fragmentation. They use methods that separate the study of plants from the relationship with other content integrated into the theme. This research presents a set of teaching units on the " Phytoterapy " in order to focus on botanical content with strategies suggestions that guide and subsidize the teacher giving him more confidence to approach botany in Phytoterapy courses for Health professionals. In order to prepare the course, initially, a research of the contents and how they are developed was made in ten courses in Phytoterapy. The sequence, drawn from the model proposed by Zaballa, had by reference the medicinal plants listed in the Unified Health System for the production of Phytochemicals / Phytomedicine, setting up the educational product in this dissertation. The teaching units were tested at the classroom (theoretical activities) and at the Botanical Garden of the Fundação Zoobotânica from Belo Horizonte (practical and field activities) with twenty-six health professionals. For each didactic activity produced, was nominated title, objectives, duration, required material and development. Teaching material for the student and the teacher with suggestions and guidance lessons was prepared, resulting in a complementary tool to enable, facilitate and initiate the teaching / learning process in the training of health professionals regarding the Botany related to Phytoterapy. Through the presentation of works developed by students changes in concepts, procedures and more careful position in relation to the use of medicinal plants were evidenced. Finally, students evaluated the course by presenting their suggestions and criticisms. Keywords: Sequence teaching. Teaching-Learning of Botany. Phytoterapy. Unified Health System. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Jardim de plantas medicinais do Jardim Botânico..................... 39 FIGURA 2 – Bauhinia forficata....................................................................... 48 FIGURA 3 - Participantes do curso de fitoterapia: aula expositiva................ 58 FIGURA 4 - Participantes do curso em trabalho de grupo............................. 60 FIGURA 5 - Participantes do curso utilizando a apostila............................... 62 FIGURA 6 – Aula expositiva: metabolismo secundário.................................. 64 FIGURA 7 – Aula expositiva: cultivo.............................................................. 64 FIGURA 8 – Espécies in 66 natura...................................................................... FIGURA 9 – Aula prática: critérios de utilização............................................ 66 FIGURA 10 - Aula prática: formas farmacêuticas.......................................... 68 FIGURA 11 - Estufa de cultivo e jardim de plantas medicinais...................... 70 FIGURA 12 - Aula de campo no jardim de plantas medicinais...................... 72 FIGURA 13 - Aula de campo no Jardim Botânico (jardim de plantas . . medicinais)................................................................................ 72 FIGURA 14 - Coleções secas: herbário e ervanário...................................... 73 FIGURA 15 - Aula prática: ervanário.............................................................. 73 FIGURA 16 - Aula prática no Jardim Botânico (ervanário)............................ 74 FIGURA 17 – Apresentação dos alunos........................................................ 75 FIGURA 18 – Apresentação dos alunos........................................................ 75 FIGURA 19 – Entrega de 76 certificados............................................................. FIGURA 20 – Entrega de 76 certificados............................................................. FIGURA 21 - Alunos respondendo o questionário......................................... 77 FIGURA 22 – Parte da turma do curso de Fitoterapia................................... 82 16 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Avaliação do conteúdo programático de 10 cursos de . . Fitoterapia para profissionais da área de saúde...................... 50 GRÁFICO 2 - Profissionais da saúde participantes do curso........................ 78 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Lista de plantas medicinais de interesse do SUS - Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS).......... 37 QUADRO 2 - Exemplo da caracterização de plantas medicinais no material . didático.................................................................................... 48 QUADRO 3 - Espécies de plantas medicinais com dados insatisfatórios...... 54 QUADRO 4 - Questionário de avaliação do curso......................................... 77 QUADRO 5 - Avaliação dos alunos em relação ao curso.............................. 78 LISTA DE SIGLAS CEME - Central de Medicamentos CRBio - Conselho Regional de Biologia DAF - Departamento de Assistência e Farmacêutica DOM - Diário Oficial do Município FZB - Fundação Zoobotânica JB - Jardim Botânico MS - Ministério da Saúde OMS - Organização Mundial de saúde PMNPC - Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares PNPI - Política Nacional de Práticas Integrativas PPPM - Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais PRODABEL – Processamento de dados de Belo Horizonte RENISUS - Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS SCTIE - Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos SEA - Serviço de Educação Ambiental SUS - Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1.1 Justificativa............................................................................................. 1.2 Objetivos................................................................................................. 1.2.1 Objetivo geral...................................................................................... 1.2.2 Objetivos específicos......................................................................... 27 29 32 32 32 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO DA LITERATURA............... 2.1 A Botânica como diretriz nos cursos de Fitoterapia.......................... 2.2 Fitoterapia no SUS/ Ministério da Saúde............................................. 2.3 O Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte.... 2.4 Concepção construtivista e a sequência didática.............................. 33 33 35 38 40 3 METODOLOGIA......................................................................................... 3.1 Fase exploratória.................................................................................... 3.1.1 Levantamento sobre o ensino de Fitoterapia em instituições de ensino superior............................................................................................ 3.1.2 Pesquisa bibliográfica: sequência didática, ensino de Botânica e fitoterapia no SUS........................................................................................ 3.1.3 Levantamento e seleção dos aspectos mais importantes da teoria de Zabala para direcionamento da elaboração da sequência didática e do material didático.................................................................... 3.1.4 Levantamento bibliográfico sobre as espécies medicinais indicadas pelo SUS para a produção de fitomedicamentos/ fitofármacos.................................................................................................. 3.1.5 Levantamento fotográfico das espécies medicinais (SUS) no Jardim Botânico........................................................................................... 3.2 Elaboração do produto.......................................................................... 3.2.1 Seleção dos conteúdos importantes para os profissionais da saúde relativos à Fitoterapia....................................................................... 3.2.2 Elaboração das unidades didáticas que constituirão a sequência didática do curso com os conteúdos selecionados e as plantas indicadas....................................................................................................... 3.2.3 Revisão bibliográfica sobre os temas abordados nas atividades.. 3.3 Teste do produto.................................................................................... 3.4 Coleta de dados...................................................................................... 3.5 Análise dos dados.................................................................................. 43 43 4 RESULTADOS............................................................................................ 4.1 Fase exploratória.................................................................................... 4.1.1 Levantamento das instituições de ensino........................................ 4.1.2 Cursos diagnosticados/ estrutura..................................................... 4.1.3 Pesquisa bibliográfica: sequência didática, ensino de Botânica e Sistema Único de Saúde.............................................................................. 4.1.4 Levantamento e seleção dos aspectos mais importantes da teoria de Zabala para a elaboração da sequência didática e do material didático a ser produzido............................................................................... 43 44 44 45 45 45 46 46 47 47 49 49 50 50 50 50 51 51 4.1.5 Levantamento bibliográfico sobre as espécies medicinais indicadas pelo SUS para a produção de fitofármacos e/ou fitomedicamentos......................................................................................... 4.1.6 Levantamento fotográfico das espécies medicinais (SUS) no Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte.............. 4.2 Elaboração do produto.......................................................................... 4.2.1 Seleção dos conteúdos relativos à Fitoterapia, importantes para os profissionais da saúde........................................................................... 4.2.2 Elaboração das unidades da sequência didática do curso com os conteúdos e plantas selecionados........................................................ 4.3 Teste do produto.................................................................................... 4.3.1 Aplicação do curso............................................................................. 4.4 Coleta de dados...................................................................................... 4.5 Análise dos dados.................................................................................. 55 56 57 77 78 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 81 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 83 52 54 55 55 APÊNDICES......................................................................................................... 85 ANEXOS............................................................................................................... 147 27 1 INTRODUÇÃO O tradicionalismo, a falta de investimentos e estudos são fatores que podem tornar as atividades de ensino enfadonho e desinteressante. A Botânica, uma ciência tão rica e fácil de ser apresentada não foge a essa regra. Assim “Atividades práticas, em sua maioria, apresentam limitações, em decorrência de insegurança muitas vezes demonstrada pelo professor” (ALMEIDA et al., 2008, p.10). À medida que se desprende das práticas tradicionais e percebe-se a educação como processo mais dinâmico, em que professores e alunos desenvolvem o ensino e aprendizagem de maneira participativa, passa-se a investir em metodologias que ampliam esse processo. O ensino de Botânica, hoje, é marcado por diversos obstáculos e tem sido alvo da preocupação de vários pesquisadores. As dificuldades em se ensinar e, consequentemente, em se aprender Botânica tornam a “cegueira Botânica” mais evidente, tanto entre os estudantes quanto professores. A aquisição do conhecimento em Botânica é prejudicada não somente pela falta de estímulo em observar e interagir com as plantas, como também pela precariedade de equipamentos, métodos e tecnologias que possam ajudar no aprendizado (CECCANTINI, 2006, p. 335). “O atual currículo nos cursos voltados para a área de saúde vem sendo motivo de questionamentos e análises de forma sistemática por profissionais e educadores, bem como a questão dos seus conceitos e sua duração” (ESTEFAN, 1986,p.505). Esses problemas podem ser resolvidos buscando-se uniformidade, mantendo-se, entretanto, possibilidades de inovação em cada curso, visando atender às peculiaridades do ensino. Problemas de saúde derivam geralmente de fatores sociais, econômicos e políticos e poderão ser modificados com a participação coletiva. Nesse sentido, urgem o incremento e o estímulo a projetos de educação que se dediquem à manutenção e à proteção da saúde nos quais se devem incluir atores dos segmentos tanto da saúde como da educação. Há reconhecimento internacional da necessidade de mudança na educação em áreas da saúde frente à inadequação do aparelho formador em responder às demandas sociais. Na perspectiva desenvolvida por Cunha (2001), a inovação pode contribuir para a ruptura com o paradigma dominante, fazendo avançar em diferentes âmbitos, 28 formas alternativas de trabalhos que quebrem com a estrutura tradicional. O processo de mudança na educação traz inúmeros desafios, entre os quais: romper com estruturas cristalizadas e modelos de ensino tradicional e formar profissionais da saúde com competências que lhes permitam conhecer novos conceitos e adaptar esses conceitos à profissão. Um conceito milenar e que hoje tem sido foco de estudo na área da saúde é a Fitoterapia. Fitoterapia é a terapêutica caracterizada pelo uso das plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal (LUZ NETTO, 1998). O uso das plantas medicinais não é isento de efeitos colaterais, interações medicamentosas ou contraindicações. Apresentam substâncias que podem ser tóxicas, desencadeando reações adversas. São necessárias medidas de conscientização da população e educação dos profissionais de saúde para que o uso racional das plantas medicinais seja disseminado. A Botânica, nos cursos de Fitoterapia das áreas de saúde, com base no levantamento feito pela autora em alguns conteúdos programáticos, está sempre ligada à farmacognosia, fitoquímica e farmacobotânica. As disciplinas em questão enfocam muito mais a química do que a identificação e os critérios de utilização dos vegetais. O estudo taxonômico ou as relações entre famílias botânicas e a constituição química (quimiotaxonomia) são pouco focalizados. Analisando algumas disciplinas ligadas à fitoterapia para profissionais da saúde, observou-se acentuada deficiência no conteúdo relacionado às plantas. Disciplinas clássicas no currículo de Farmácia, como a Botânica e a Farmacognosia, estão em franco abandono. É necessário retomá-las, fortalecê-las, como forma de implementar a pesquisa na área de produtos naturais. Recentemente tem-se ressaltado a importância da Botânica não apenas no conhecimento de plantas medicinais, mas em outros problemas relacionados com a saúde ambiental (ESTEFAN, 1986, p.507). O relatório final da Conferência Nacional de Saúde (1996), realizada no Brasil, delibera que a Fitoterapia seja incentivada na assistência farmacêutica e elabora normas para sua utilização nos programas de saúde. Para isso, os profissionais da área deverão conhecer as plantas medicinais nos cursos de graduação, extensão e/ou pós-graduação (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1996). 29 A partir da minha experiência desenvolvendo projetos voltados para plantas medicinais e educação junto a prefeituras, universidades públicas e privadas e ministrando cursos nessas instituições e no Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, foi possível observar a dificuldade do público em conhecer e estudar Botânica. Tanto para os leigos como para os profissionais em saúde que usam ou trabalham com plantas medicinais, conhecer o vegetal é indispensável para lidar corretamente com este assunto. Considerando os processos de mudança na educação e a demanda por novas formas de trabalhar com o conhecimento, buscou-se com este trabalho uma inovação na área da saúde com o estudo dos vegetais na Fitoterapia. O curso aqui apresentado foi estruturado em unidades didáticas, inseridas num método construtivista com ênfase em Botânica. Um curso de Fitoterapia, no qual a prioridade é estudar o vegetal, foi objetivo e incentivo para a elaboração do meu trabalho final no Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. O curso Fitoterapia para profissionais da saúde tendo como base as plantas medicinais indicadas no SUS pode ser uma ferramenta a mais no programa nacional de saúde e nas instituições de ensino que formam ou especializam profissionais da área de saúde. 1.1 Justificativa O uso das plantas como medicamento é um fator marcante na cultura popular e tão antigo quanto o próprio homem. Antes de aparecer qualquer forma de escrita, o ser humano já usava as plantas como alimento e remédio. Experimentando e passando adiante, através da tradição oral, firmou-se o hábito de usar certas ervas para determinados males (GUIÃO et al., 2004 p.45). A história do uso das ervas também está associada às lendas, práticas mágicas e ritualísticas. A utilização das plantas medicinais (fitoterapia) nos programas de atenção primária, como recomenda a Organização Mundial da Saúde, pode se constituir numa forma muito útil e econômica de alternativa terapêutica. Segundo Guião et al. (2004.p.78), associar o avanço tecnológico, conhecimento popular e desenvolvimento sustentável e implementar uma política de assistência farmacêutica eficaz, abrangente e humanizada para as populações de baixa renda passa a ser uma das grandes metas do Sistema Único de Saúde (SUS). 30 Em 1986, o relatório final da 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizado em Brasília, refere-se à introdução de práticas alternativas no SUS e ao acesso democrático de escolher a terapêutica preferida. Na 10ª Conferência Nacional da Saúde de 1996, gostaria de destacar duas das deliberações: a) Incorporar ao SUS, em todo o país, as práticas de saúde como a fitoterapia, acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias alternativas e práticas populares. b) O Ministério da Saúde deve incentivar a fitoterapia na Assistência Farmacêutica Pública e elaborar normas para sua utilização, amplamente discutidas com os trabalhadores em saúde e especialistas, nas cidades onde existir mais participação popular com gestores mais empenhados com a questão da cidadania e dos movimentos populares (CONFERÊNCIA NACIONAL DA SAÚDE, 1996 p.50). Desde 1996 sou curadora das coleções de Etnobotânica e Plantas Medicinais Aromáticas e Tóxicas do Jardim Botânico de Belo Horizonte e a partir de 2008 passei a fazer parte do conselho gestor do Fito Cerrado das Redes Fito (Programa Nacional de Plantas Medicinais do Ministério da Saúde). Em minha experiência como participante e ministrante de cursos de Fitoterapia percebo a complexidade desse conteúdo e a importância em detalhar os critérios de utilização dos vegetais, principalmente em relação à identificação botânica, para a manutenção e eficácia da fitoterapia. Simões et al. (2004) enfatizam que a primeira etapa do estudo de um fitoterápico é a seleção do material a ser testado. Garantir a uniformidade e a estabilidade do produto a ser utilizado durante todo ensaio é essencial para a qualidade de todo o processo. A identificação da planta medicinal oferece dificuldades já na fase preliminar. “É comum a confusão botânica entre espécies afins e exemplares de uma mesma espécie colhidos em épocas diferentes ou locais diferentes, não tendo necessariamente a mesma atividade” (SIMÕES et al., 2004,p.78). A maioria dos cursos de graduação e/ou extensão mostra muito pouco ou nada sobre a identificação do vegetal que é indicado na terapia medicinal. A Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares (PMNPC) (BRASIL, 2006a) tem como uma de suas diretrizes a formação e educação permanente dos profissionais de saúde em plantas medicinais e fitoterapia. Para tanto, deverão ser adotadas medidas que possibilitem: 31 1. Definir localmente, em consonância com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, a formação e educação permanente em plantas medicinais e fitoterapia para os profissionais que atuam nos serviços de saúde. A educação permanente de pessoas e equipes para o trabalho com plantas medicinais e fitoterápicos, pactuada junto aos polos de educação permanente, dar-se-á nos níveis: 1.1. Básico interdisciplinar comum a toda equipe: contextualizando a Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares (PMNPC), contemplando os cuidados gerais com as plantas medicinais e fitoterápicos; 1.2. específico para profissionais de saúde de nível universitário: detalhando os aspectos relacionados à manipulação, uso e prescrição das plantas medicinais e fitoterápicos; 1.3. especifico para profissionais da área agronômica: detalhando os aspectos relacionados à cadeia produtiva de plantas medicinais. 2. Estimular a elaboração de material didático e informativo visando apoiar os gestores do SUS no desenvolvimento de projetos locais de formação e educação permanente. 3. Estimular estágios nos serviços de fitoterapia aos profissionais das equipes de saúde e estudantes dos cursos técnicos e graduação. 4. Estimular as universidades a inserir nos cursos de graduação e pósgraduação, envolvidos na área, disciplinas com conteúdo voltado para as plantas medicinais e fitoterapia (BRASIL, 2006a, p.18). Baseando-se nessa diretriz e considerando os processos de mudança na educação e a demanda por novas formas de trabalhar com o conhecimento, buscouse com este trabalho uma inovação na área da saúde com o estudo dos vegetais na Fitoterapia. A elaboração de um curso utilizando uma sequência didática promove a integração de conteúdos conceituais aos procedimentais e atitudinais, podendo viabilizar o conteúdo “Botânica”, que geralmente é sinônimo de dificuldade. Utilizar o Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte como laboratório das aulas de campo pode ser uma estratégia diferenciada e motivadora, transformando um fato abstrato, o que concerne à identificação das plantas a processos concretos, visuais, interpretativos e dinâmicos. O estudo diferenciado dos vegetais nos cursos de graduação ou extensão é de extrema importância e esse conhecimento passa a ser um diferencial na Fitoterapia. Com a demanda do Ministério da Saúde (PMNPC e SUS) para a formação de especialistas nessa área, este estudo foi uma iniciativa de priorizar o conhecimento botânico nos cursos de Fitoterapia para profissionais da área de saúde com estratégias que motivem e facilitem o ensino-aprendizagem dos conteúdos abordados. 32 1.2 Objetivos O objetivo primordial dessa dissertação foi a elaboração de um curso de Fitoterapia para profissionais da saúde tendo a Botânica como diretriz a seguir é exposto os obejtivos gerais e específicos. 1.2.1 Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho foi elaborar e testar um material didático para um curso de Fitoterapia tendo como base as plantas medicinais selecionadas pelo Ministério da Saúde de interesse para o SUS na produção de fitofármacos/fitomedicamentos. 1.2.2 Objetivos específicos a) Levantar os princípios básicos do estudo de Botânica nos cursos de Fitoterapia para profissionais de saúde. b) Inserir as espécies de plantas medicinais selecionadas no SUS como modelo no ensino de Botânica em cursos de Fitoterapia para profissionais da área de saúde. c) Elaborar sequência didática e material educativo, voltado para professores e alunos, visando aprimorar o processo ensino-aprendizagem de botânica. d) Ministrar curso de Fitoterapia direcionado para profissionais da saúde, abordando as espécies medicinais selecionadas no SUS e usando a sequência didática elaborada como método de ensino. e) Utilizar o Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte como espaço educacional no ensino de Botânica nos cursos de Fitoterapia direcionados para profissionais de saúde. f) Avaliar o curso e o material educativo produzido. 33 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO DE LITERATURA Esta dissertação fundamentou-se na Botânica como diretriz nos cursos de fitoterapia, a relação nacional de plantas medicinais de interesse para o SUS, o Jardim Botânico como espaço de aprendizagem e a sequência didática como método de ensino. 2.1 A Botânica como diretriz nos cursos de Fitoterapia O conhecimento botânico é indispensável na terapia medicinal, para evitar que muitas espécies sejam utilizadas de maneira incorreta, pois a identificação da planta é determinante para o seu uso. A qualidade e eficácia da fitoterapia começam com a identificação científica do vegetal. Como primeiro critério para a utilização das plantas medicinais, a identificação botânica é um dos aspectos mais delicados na fitoterapia e se traduz como a identidade dos vegetais. Por ser baseada em nomes vernaculares, a verdadeira identidade de uma planta recomendada pode variar significativamente de região para região. Plantas completamente distintas podem ter o mesmo nome popular, algumas acumulam um grande número deles para a mesma espécie (LORENZI; MATOS, 2002). A espécie Chenopodium ambrosioides L. conta com 27 nomes populares. As interpretações taxonômicas errôneas podem não só induzir o usuário a utilizar plantas sem o princípio ativo desejado, como também induzi-lo a fazer uso de outra espécie que pode ser perigosa. Outro critério importante a ser considerado é relativo à parte da planta medicinal a ser usada como remédio, uma vez que os princípios ativos não são distribuídos igualmente em todos os órgãos da planta. Na maioria das vezes, somente se emprega uma parte da planta para fins medicinais, sendo as demais consideradas inertes, ou mesmo substâncias tóxicas. Como exemplo desta situação pode ser citado a Lantana camara que suas folhas são indicadas para afecções do sistema respiratório ao passo que seus frutos são considerados tóxicos (GUIÃO et al., 2004, p. 45). O uso das plantas medicinais vem crescendo devido ao baixo custo, facilidade de obtenção e a crença popular de que tudo que é natural é inofensivo. Para conhecer as plantas medicinais, é importante entender que os vegetais são 34 constituídos de substâncias químicas, logo, dizer que é natural, portanto, não faz mal é um erro. Pouco se sabe sobre a constituição química dos vegetais e o risco que pode acarretar à saúde o seu uso indiscriminado sem o respaldo científico. O homem primitivo, ao procurar plantas para seu sustento, foi descobrindo espécies com ação tóxica ou medicinal, dando início a uma sistematização empírica dos vegetais, de acordo com o uso que podia fazer deles. Indícios do uso de plantas medicinais e tóxicas foram encontrados nas mais antigas civilizações. A grande diversidade de formas vegetais tornou necessária uma sistematização, muitas vezes artificial, com base em critérios de mais fácil utilização, agrupando aquelas formas com mais semelhança externa e interna em níveis hierárquicos, dependentes do grau de uniformidade de suas características. A hierarquização e a caracterização dos diferentes grupos de vegetais originaram os sistemas de classificação. Os sistemas mais antigos baseavam-se em características morfológicas externas, agrupando as espécies em divisões naturais, tais como algas, briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Os sistemas artificiais dos quais o mais conhecido foi o de Lineu, baseavam-se apenas em algumas características morfológicas, utilizando como regra a teoria da imutabilidade das espécies (SIMÕES et al., 2004 p.75). Com Wallace e Darwin, os sistemas filogenéticos foram baseados na teoria da evolução que reflete a história evolutiva dos táxons, arranjando-os de acordo com afinidades existentes entre eles (BEZERRA; FERNANDES, 1984, p. 100). Desses sistemas, o que alcançou mais divulgação na primeira metade do século XX foi o de Engler, em várias edições modificadas. Os sistemas de classificação são sempre aperfeiçoados, sofrendo alterações a cada nova descoberta. Atualmente, os sistemas usuais, elaborados com base em dados morfológicos, fitoquímicos, micromorfológicos, isto é, ultraestruturais, entre outros (como, por exemplo, para angiospermas, os de Cronquist, 1988), estão sendo alvo de novas propostas de modificações, baseadas principalmente no conhecimento da biologia molecular, cujos dados são obtidos a partir do sequenciamento de porções do genoma de cada táxon (BEZERRA; FERNANDES, 1984, p. 100). Domingues(1973,p.281) conceitua a quimiotaxonomia como um ramo da ciência que usa as características químicas, em particular os metabólitos secundários (alcaloides, terpenoides, flavonoides, entre outros) de um conjunto de organismos, para determinar uma classificação hierárquica dos seres vivos. A biologia molecular é considerada uma boa ferramenta para a formulação e o entendimento de hipóteses e teorias evolutivas, proporcionando consciência aos 35 sistemas ultimamente propostos. De acordo com Daly, Cameron e Stevenson (2001,p.1329), essa nova metodologia não exclui todas as outras ferramentas clássicas utilizadas na caracterização dos táxons, como os caracteres morfológicos comparativos, externos e internos, os embriológicos, os paleontológicos, entre outros. Simões et al. (2004) complementam que as características morfológicas externas possibilitam, via de regra, a classificação de uma espécie vegetal em qualquer nível hierárquico. No entanto, algumas vezes são necessárias observações complementares da organização interna, estudos embriológicos e/ou análise dos metabólitos secundários para estabelecer fidedignamente tal classificação. A atenção ao conhecimento botânico em cursos de Fitoterapia é base para todo o processo de utilização das plantas medicinais. Desde o cultivo, a prospecção fitoquímica até testes clínicos, é indispensável, em primeiro lugar, identificar corretamente o vegetal estudado e/ou utilizado. 2.2 Fitoterapia no SUS/ Ministério da Saúde As plantas medicinais vêm sendo utilizadas pelos humanos ao longo da história da humanidade no tratamento e cura de enfermidades. O uso das plantas medicinais nasceu provavelmente na Pré-História, quando, a partir da observação do comportamento dos animais na cura de suas feridas e doenças, os homens descobriram as propriedades curativas das plantas e começaram a utilizá-las, levando ao acúmulo de conhecimentos empíricos que foram passados de geração para geração (FERRO, 2006, p.114). No Brasil, a adoção da Política Nacional de Práticas Integrativas e complementares (PNPI) no SUS abriu um novo acesso ao conhecimento das plantas medicinais brasileiras e ao emprego correto para recuperação e manutenção da saúde. Foi um avanço no processo de fusão do saber do povo com o saber do técnico, conhecido por Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais (PPPM). Esse programa, desenvolvido por pesquisadores brasileiros apoiados pelo Ministério da Saúde por meio do setor de pesquisas da antiga Central de Medicamentos (CEME), foi uma inovação na área da saúde. A Política Nacional de Plantas Medicinais (Ministério da Saúde) visa garantir o acesso a plantas medicinais, fitoterápicos e 36 fitomedicamentos, com serviço eficaz e de qualidade. Conhecer o vegetal é fundamental para obter essa qualidade desejada. A Fitoterapia é uma palavra que une dois radicais gregos: phyton, que significa planta, e therapia, tratamento. É a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal (BRASIL, 2006b, p. 46). A fitoterapia é uma terapêutica popular milenar, com reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O uso de fitoterápicos com finalidade profilática, curativa, paliativa ou com fins de diagnóstico passou a ser oficialmente reconhecido pela OMS em 1978, quando foi recomendada a difusão mundial dos conhecimentos necessários para o uso de vegetais na Medicina. Considerando-se as plantas medicinais importantes instrumentos da assistência farmacêutica, vários comunicados e resoluções da OMS expressam a posição do organismo a respeito da necessidade de valorizar o uso desses medicamentos, no âmbito sanitário. É sabido que 80% da população mundial dependem das práticas tradicionais no que se refere à atenção primária à saúde, e 85% dessa parcela utiliza plantas ou preparações à base de vegetais. Ressalte-se aí que 67% das espécies vegetais medicinais do mundo são originadas dos países em desenvolvimento (ALONSO, 1999, p. 21). Em seu papel institucional, o Ministério da Saúde desenvolve diversas ações junto a outros órgãos governamentais e não governamentais para a elaboração de políticas públicas voltadas para a inserção de plantas medicinais e da fitoterapia no SUS e para o desenvolvimento do setor. A cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos tem interface com diversas áreas do conhecimento e demanda, portanto, ações multidisciplinares. Nesse sentido, os resultados esperados, no âmbito da saúde, dependem das normas que regulam todas as etapas e das ações dos parceiros responsáveis. Para buscar ações conjuntas e complementares, o Ministério da Saúde reuniu as várias iniciativas no setor. Entre as iniciativas: a Proposta de Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos (2001), o Seminário Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e Assistência Farmacêutica (2003), o Diagnóstico Situacional de Programas de Fitoterapia no SUS (2004/05), a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (2003/05) e, mais recentemente, em 2005, a criação, por decreto presidencial, do Grupo de Trabalho Interministerial para elaborar a Proposta de Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (BRASIL, 2006, p. 60). 37 A aplicação das plantas medicinais pelo SUS disciplina o emprego da fitoterapia por populações que têm como única opção para o tratamento de seus males o uso empírico dos vegetais. Valoriza a cultura popular e regulariza, a partir de estudos científicos, a validade e comprovações para o uso das plantas. Várias espécies medicinais foram estudadas e submetidas a pesquisas relativas a ensaios pré-clínicos, clínicos, atividade biológica e toxicidade, resultando em 71 espécies na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do SUS (BRASIL, 2009). As 71 plantas medicinais (QUADRO 1) foram abordadas neste trabalho entre as inúmeras utilizadas pela população brasileira. Quadro 1 - Lista de plantas medicinais de interesse do SUS - Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Espécies vegetais Achillea millefolium 37 Lippia sidoides Allium sativum 38 Malva sylvestris Aloe spp* (A. vera ou A. barbadensis) 39 Maytenus spp* (M.aquifolium ou M.ilicifolia) Alpinia spp* (A.zerumbet ou 40 Mentha pulegium A.speciosa) Mentha spp* (M.crispa, M. piperita ou M. Anacardium occidentale 41 villosa) Ananas comosus 42 Mikania spp* (M. glomerata ou M. laevigata) Apuleia ferrea = Caesalpinia ferrea * 43 Momordica charantia Arrabidaea chica 44 Morus sp* Artemisia absinthium 45 Ocimum gratissimum Baccharis trimera 46 Orbignya speciosa Bauhinia spp* (B. affinis, B. forficata ou Passiflora spp* (P. alata, P. edulis ou P. 47 B. variegata) incarnata) Persea spp* (P. gratissima ou P. Bidens pilosa 48 americana) Calendula officinalis 49 Petroselinum sativum Phyllanthus spp* (P. amarus, P.niruri, P. Carapa guianensis 50 tenellus e P. urinaria) Casearia sylvestris 51 Plantago major Chamomilla recutita = Matricaria 52 Plectranthus barbatus = Coleus barbatus chamomilla = Matricaria recutita Polygonum spp* (P. acre ou P. Chenopodium ambrosioides 53 hydropiperoides) Copaifera spp* 54 Portulaca pilosa Cordia spp* (C. curassavica ou C. 55 Psidium guajava verbenacea) * Costus spp* (C. scaber ou C. spicatus) 56 Punica granatum Croton spp(C.cajucara ou C.zehntneri) 57 Rhamnus purshiana Curcuma longa 58 Ruta graveolens Cynara scolymus 59 Salix alba 38 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Dalbergia subcymosa Eleutherine plicata Equisetum arvense Erythrina mulungu Eucalyptus globulus Eugenia uniflora ou Myrtus brasiliana* Foeniculum vulgare Glycine max Harpagophytum procumbens Jatropha gossypiifolia Justicia pectoralis Kalanchoe pinnata = Bryophyllum calycinum* 36 Lamium album 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 Schinus terebinthifolius = Schinus aroeira Solanum paniculatum Solidago microglossa Stryphnodendron barbatimão Syzygium spp* (S.jambolanum ou S.cumini) Tabebuia avellanedeae Tagetes minuta Trifolium pratense Uncaria tomentosa Vernonia condensata Vernonia spp* (V.ruficoma ou V.polyanthes) Zingiber officinale Fonte: BRASIL, 2009 2.3 O Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte Os jardins botânicos mantêm coleções de plantas vivas ou secas. Uma coleção de plantas vivas é um conjunto de plantas cultivadas para um propósito definido. Entre as várias coleções, o Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte possui um jardim de plantas medicinais aromáticas e tóxicas com aproximadamente 200 espécies usadas pela população brasileira. A Fundação Zoobotânica é um órgão da administração indireta da Prefeitura de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. “A missão da FZB-BH é contribuir para a conservação da natureza, realizando ações de educação, pesquisa e lazer que sensibilizem as pessoas para o respeito à vida” (NOGUEIRA et al., 2011, p. 109). A coleção de plantas medicinais e tóxicas no Jardim Botânico da FZB-BH 2 está distribuída em um jardim de 1.000 m e tem como propósito a identificação das plantas usadas na medicina popular e a investigação de dados sobre a toxicidade e propriedades medicinais das mesmas. Esses dados retornam à população através de cursos, atendimentos a pesquisas e interpretação da coleção. Este jardim foi definido de maneira a abordar didaticamente a diversidade das espécies medicinais distribuindo-as em canteiros identificados de acordo com as seguintes categorias: tóxicas, suculentas, frutíferas, nativas, místicas, condimentos, herbáceas, ameaçadas de extinção e medicina dos signos (COSTA, 2004, p. 23-24). De acordo com Nogueira et. al.(2011) o jardim de plantas medicinais do Jardim Botânico da FZB-BH foi planejado em forma de cocar indígena e é disponível à visitação pública estimada 1 milhão/ano. 39 A coleção de plantas medicinais tem o objetivo de mostrar a importância do uso dessas espécies no contexto da preservação. Reforça, também, os aspectos culturais e a avaliação crítica, baseada em informações científicas quanto ao uso terapêutico das plantas expostas. A coleção de plantas secas é uma forma de armazenar, por mais longo prazo, o material botânico que deve ser devidamente desidratado para, posteriormente, servir de referência. As coleções de plantas secas compreendem um herbário com cerca de 9.000 exsicatas, um ervanário com 140 amostras de partes de plantas citadas na farmacopeia e uma coleção carpológica com 1.533 amostras de frutos e sementes. As coleções temáticas dos jardins botânicos são organizadas para fins educacionais e científicos e para exibição pública. O Jardim Botânico (JB) oferece ao público cursos regulares sobre plantas medicinais, abordando aspectos históricos, botânicos, fitoquímicos e de uso dos vegetais. Com o objetivo de introduzir uma metodologia que facilite o ensino de Botânica nos cursos de Fitoterapia para profissionais da saúde, neste trabalho utilizou-se o Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte como espaço de aprendizagem. Isso permitiu o reconhecimento das espécies medicinais indicadas no SUS, o que foi muito importante no desenvolvimento das atividades práticas e de trabalho de campo do curso aqui proposto. Figura 1- Jardim de plantas medicinais do Jardim Botânico Fonte: Acervo do Jardim Botânico/Fundação Zoobotânica-BH. 40 2.4 Concepção construtivista e a sequência didática De acordo com Zabala (2010), os processos educativos são suficientemente complexos para que não seja fácil reconhecer todos os fatores que os definem. Para obter resultados satisfatórios no ensino-aprendizagem do tema fitoterapia, é necessário conhecer vários conteúdos que se completam. Para tanto, o método de sequência didática possibilita a ordenação dos conteúdos dentro da complexidade do tema. A sequência didática apresenta desafios cada vez maiores aos alunos, permitindo a construção do conhecimento. Utiliza-se um processo no qual o planejamento, execução e avaliação devem assegurar um sentido integral às variáveis metodológicas que caracterizam as unidades de intervenção pedagógica. As sequências didáticas ou sequências de atividades do ensino-aprendizagem são, segundo Zabala (2010), “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos” (ZABALA, 2010 p.50). Zabala (2010) explicita que a ordenação articulada das atividades seria o elemento diferenciador das metodologias e que o primeiro aspecto característico de um método é o tipo de ordem em que se propõem as atividades. O autor ressalta que o parcelamento da prática educativa tem certo grau de artificialidade, explicável pela dificuldade em encontrar um sistema interpretativo adequado, que deveria permitir o estudo do conjunto de todas as variáveis incidentes nos processos educativos. A sequência considera a importância das intenções educacionais na definição dos conteúdos de aprendizagem e o papel das atividades que são propostas. Alguns critérios para análise das sequências reportam que os conteúdos de aprendizagem agem explicitando as intenções educativas, podendo abranger os conteúdos nas seguintes dimensões: a) Conceituais: em que a aprendizagem nunca pode ser considerada acabada, uma vez que sempre existe a possibilidade de ampliação ou aprofundamento já apropriados (ZABALLA, 2010, p.81). 41 b) Procedimentais: apresentam um conjunto de ações ordenadas e com um fim, ou seja, dirigidas para a realização de um objetivo. Apresenta-se o modelo, o aluno é conduzido por meio da pratica guiada a assumir de forma progressiva o controle, a direção e a responsabilidade na execução do conteúdo (ZABALLA, 2010, p.82). c) Atitudinais: englobam uma série de conteúdos que, por sua vez, podem ser agrupados nas categorias, atitudes e normas. Para que esse conhecimento se transforme em referência de atuação, é preciso mobilizar todos os recursos relacionados ao componente afetivo. A atividade de ensino necessária se traduz na “cooperação”. Ao longo do curso e em todas as unidades haverá vivências ou experiências cruciais para a aprendizagem do conteúdo (ZABALLA, 2010, p.83). Partindo do princípio de que a Fitoterapia é constituída de vários conteúdos, tanto conceituais quanto procedimentais, o conteúdo atitudinal passa a ser essencial na sequência didática. Desse modo, o aluno se torna atuante e deixa de ser um mero ouvinte, pois nesse método utilizam-se o diálogo, o debate, o trabalho em grupo e o trabalho de campo, o que favorece a socialização, implicando o aprender a ser, existindo aí uma consciência educativa. A concepção construtivista promove atividades mentais do aluno e permite estabelecer relações entre os novos conteúdos e os conhecimentos prévios. A concepção construtivista partindo da natureza social e socializadora da educação escolar e do acordo construtivista que desde algumas décadas se observa nos âmbitos da Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem reúne uma série de princípios que permitem compreender a complexidade dos processos de ensino-aprendizagem e que articulam em torno da atividade intelectual implicada na construção de conhecimentos (ZABALA, 2010, p.40). A sequência didática permite o levantamento de problemas que possibilitam intervenções (ações educativas), em conjunto com os participantes na tentativa de buscar caminhos para a resolução de problemas. O planejamento de uma unidade didática, conforme Zabala (2010), configura-se como uma sequência de atividades. As atividades que formam uma sequência didática podem restringir-se apenas a conteúdos conceituais, mas Zabala (2010) chama a atenção para a necessidade de ampliação dos objetivos de ensino para abranger, também, 42 conteúdos procedimentais e atitudinais. Os conteúdos assim classificados envolvem variadas dimensões da formação do aluno, porque articula esses conteúdos. Os temas utilizados nos cursos de Fitoterapia são geralmente conteúdos conceituais. A sequência didática possibilita introduzir as vivências ou experiências cruciais para a aprendizagem dos conteúdos. 43 3 METODOLOGIA Na execução deste trabalho foram elaboradas unidades didáticas de uma sequência didática desenvolvida como pesquisa-ação para alunos de um curso de Fitoterapia. Como base e modelo, foram usadas as plantas medicinais selecionadas pelo Ministério da Saúde, de interesse na produção de fitofármacos/ fitomedicamentos no SUS. O curso foi direcionado para profissionais e/ou estudantes da área de saúde que utilizam as plantas medicinais como objeto de trabalho. A metodologia foi dividida em cinco etapas: 3.1 Fase exploratória Constituiu-se do levantamento sobre o ensino de Fitoterapia em instituições de ensino superior, pesquisa bibliográfica sobre sequência didática, ensino de Botânica e fitoterapia no (SUS), pesquisa bibliográfica sobre a metodologia a ser aplicada na produção de um curso de Fitoterapia para profissionais da saúde e levantamento fotográfico das espécies de Plantas medicinais indicadas no SUS . 3.1.1 Levantamento sobre o ensino de Fitoterapia em instituições de ensino superior Trata-se de pesquisa na internet e em curso de especialização para médicos, em que a autora participou como ministrante. Com o objetivo de conhecer o conteúdo programático dos cursos de Fitoterapia ministrados na área de saúde e, principalmente, como a Botânica é enfatizada nesses cursos, inicialmente foi feito levantamento em 10 instituições de ensino superior, que oferecem cursos de Fitoterapia na graduação e/ou pósgraduação na área de saúde. Como as plantas medicinais são foco desses cursos, é importante o estudo sobre a Biologia e, principalmente, a identificação dos parâmetros indispensáveis na definição e manutenção do uso das plantas como remédio. Assim, podem-se resumir os objetivos dessa etapa como: 44 a) Conhecer a estrutura de alguns cursos aplicados a profissionais da saúde no tocante ao conhecimento biológico e taxonômico das plantas medicinais. b) Identificar as espécies citadas nos cursos e compará-las com as espécies indicadas no SUS. c) Observar e analisar o ensino de Botânica relacionado aos critérios de utilização das plantas medicinais nos cursos citados. 3.1.2 Pesquisa bibliográfica: sequência didática, ensino de Botânica e fitoterapia no (SUS) Após a avaliação dos cursos pesquisados e tendo como embasamento o conhecimento botânico, selecionaram-se os conteúdos que seriam contemplados no curso de Fitoterapia para profissionais da saúde. Para direcionar, utilizou-se a metodologia de unidades didáticas, propondo uma sequência de atividades favoráveis ao professor e ao aluno, e a autonomia referida e explicitada por Zabala (2010). A partir da pesquisa bibliográfica foi estruturado o curso de Fitoterapia para profissionais da saúde, abordando as espécies medicinais indicadas no SUS (BRASIL, 2009). 3.1.3 Levantamento e seleção dos aspectos mais importantes da teoria de Zabala para direcionamento da elaboração da sequência didática e do material didático A distribuição dos conteúdos teve como base a organização sistemática de conteúdos conceituais em que a aprendizagem nunca pode ser considerada acabada, uma vez que existe sempre a possibilidade de ampliação ou aprofundamento de conteúdos já apropriados e a importância da interação entre aluno e professor na perspectiva de melhorar a prática educativa. Para a elaboração das unidades didáticas, este estudo apoiou-se em pesquisas referentes ao uso das plantas medicinais, a quimiotaxonomia, a identificação botânica, a história e curiosidades sobre cada planta. 45 As atividades foram planejadas de acordo com a sequência didática recomendada por Zabala (2010), na qual o aluno apresenta questionamentos, pesquisas pessoais e, no presente caso, o uso mais criterioso das plantas medicinais como terapia medicamentosa. 3.1.4 Levantamento bibliográfico sobre as espécies medicinais indicadas pelo SUS para a produção de fitomedicamentos/fitofármacos Para as pesquisas sobre as características botânicas e a fitoquímica, foram usados periódicos, dissertações de mestrado e doutorado, livros e revistas científicas das áreas de Botânica (taxonomia e plantas medicinais), Química, Farmacognosia e Ensino de Botânica. Entre as 71 espécies medicinais (BRASIL, 2009), foram selecionadas as que possuem mais complexidade nos estudos e pesquisas para serem inseridas no material didático (baseando-se desde a identificação botânica até os testes clínicos). 3.1.5 Levantamento fotográfico das espécies medicinais (SUS) no Jardim Botânico Com o objetivo de identificar morfologicamente as espécies medicinais indicadas no SUS foi feito levantamento fotográfico no acervo do JB e do Centro de Documentação da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte. Na pesquisa identificou-se a maioria das espécies medicinais que constam da lista do SUS (BRASIL, 2009). No acervo do Jardim Botânico e Centro de Documentação da FZB-BH foram identificadas e selecionadas as fotos das espécies de plantas medicinais da RENISUS. Algumas espécies que não constam no acervo foram fotografadas durante o trabalho. 3.2 Elaboração do produto Para a elaboração do produto (curso de Fitoterapia para profissionais da saúde) foi necessário selecionar conteúdos, elaborar unidades didáticas e fazer um 46 levantamento bibliográfico em literatura especializada. Cada tópico será detalhado a seguir. 3.2.1 Seleção dos conteúdos importantes para os profissionais da saúde relativos à Fitoterapia Objetivando facilitar o ensino-aprendizagem e inserir itens importantes e relevantes ao estudo dos vegetais, optou-se por distribuir os conteúdos programáticos nos seguintes itens: a) Plantas medicinais e história. b) Taxonomia vegetal: a diversidade biológica (reinos e espécies medicinais). c) Metabolismo secundário/quimiotaxonomia. d) Identificação botânica. e) Critérios de utilização das plantas medicinais. f) Formas de preparo das plantas medicinais: formas farmacêuticas. g) Cultivo das plantas medicinais. Baseando-se no conteúdo e planejamento do curso, foi elaborada uma apostila para acompanhamento das aulas pelos alunos. 3.2.2 Elaboração das unidades didáticas que constituirão a sequência didática do curso com os conteúdos selecionados e as plantas indicadas Na elaboração da sequência utilizou-se como exemplo a unidade quatro do livro de Zaballa (2010, p. 61), no qual, nas atividades que formam a sequência, aparecem conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Os alunos controlam o ritmo da sequência atuando através do diálogo, discussão e trabalho em grupos. Para a elaboração da sequência foram feitas pesquisas sobre cada item citado anteriormente a fim de explicitar o estudo referente à Fitoterapia. Resultaram 8 unidades didáticas de acordo com o conteúdo, acrescentando-se a visita ao Jardim Botânico da FZB-BH. Cada unidade apresentou a seguinte estrutura: título, 47 objetivos, duração, número de participantes, material utilizado, desenvolvimento e considerações. 3.2.3 Revisão bibliográfica sobre os temas abordados nas atividades Consistiu-se na definição dos itens de maior relevância na elaboração das unidades didáticas introduzida no material didático para o acompanhamento das atividades pelos alunos e direcionamento do professor. 3.3 Teste do produto A aplicação do curso teve várias etapas, que incluíram: Programação do curso: a) Definição do local, carga horária e data (aulas teóricas e de campo). Foi feito levantamento sobre locais mais adequados levando-se em conta o acesso mais fácil para o aluno e a infraestrutura para a aplicação do curso. b) Material necessário: levantamento de todos os materiais necessários para a elaboração do curso e sua aplicação. c) Divulgação: levantamento e contato em vários órgãos de divulgação. d) Aplicação do curso de Fitoterapia para profissionais da saúde. e) Avaliação f) Certificados As aulas foram direcionadas utilizando-se as plantas indicadas no SUS. Foram caracterizadas 25 entre as 71, com os seguintes itens: identificação botânica, nomes populares, família botânica, origem, usos, constituição química, partes da planta a serem usadas, como usar, curiosidades, toxicidade e fotos para a identificação. Um exemplo está apresentado no QUADRO 2. 48 Quadro 2 - Exemplo da caracterização de plantas medicinais no material didático Exemplo: Bauhinia forficata Nomes populares: pata de vaca, bauínia, miriró, capa de bode, pata de boi, pata de veado, unha de vaca. Família: Fabaceae (Leguminosae) Origem: Brasil Usos: antidiabético, diurético, purgante e usado no tratamento da cistite e do diabetes. Constituição química: esteroides, flavonoides livres e glicosilados, alcaloides (trigonelina), antocianidinas, sistosterol, mucilagens, saponinas, taninos, triterpenoides. Partes usadas: toda a planta. Como pode ser usada: folhas, flores e cascas. Curiosidade: os primeiros estudos que confirmaram a atividade hipoglicemiante foram refutados por um estudo mais recente, publicado em 1990. A árvore apresenta espinhos, as flores são brancas com folhas coriáceas com aspecto de pata de vaca. Gênero dedicado aos irmãos Bahuin, botânicos suíços do século XVI. Observação: atividade mutagênica induzindo a formação de tumores e bócio. Fonte: Elaborado pela autora. Figura 2 - Bauhinia forficata Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica As unidades didáticas foram testadas com os participantes do curso. Inicialmente, os alunos foram informados sobre os objetivos e a intenção de utilizar os dados obtidos durante o desenvolvimento do curso nesta dissertação de mestrado. 49 3.4 Coleta de dados Foi aplicado um questionário visando avaliar o curso “Fitoterapia para profissionais da saúde (abordando as espécies medicinais indicadas no SUS)”, considerando-se quatro aspectos fundamentais: treinamento, material didático, instrutor e aplicabilidade do curso. 3.5 Análise dos dados Para a organização e análise, os dados coletados sobre a avaliação e impressão dos alunos sobre o curso “Fitoterapia para profissionais da saúde” (abordando as espécies medicinais indicadas no SUS) foram apresentados na forma de quadro. 50 4 RESULTADOS Os resultados foram descritos de acordo com as etapas metodológicas e teve como produto o Curso de Fitoterapia para profissionais da saúde abordando relação das plantas medicinais de interesse do SUS . 4.1 Fase exploratória A fase exploratória resultou no levantamento dos 10 cursos (de Fitoterapia) pesquisados em instituições de ensino de nível superior . 4.1.1 Levantamento das instituições de ensino Para este estudo foram pesquisados 10 cursos, apresentados no ANEXO A. Os dados coletados estão apresentados no GRÁF. 1. 4.1.2 Cursos diagnosticados/ estrutura Gráfico 1 - Avaliação do conteúdo programático de 10 cursos de Fitoterapia para profissionais da área de saúde Fonte: Elaborada pela autora 51 Observa-se que os cursos em geral não focalizam o estudo dos vegetais, citando as plantas medicinais de forma simples e empírica. Geralmente o vegetal é identificado pelo nome popular, o que pode causar erros na utilização. Nos cursos avaliados o estudo dos vegetais faz parte do conteúdo, mas não contempla a biologia da planta, a relação das famílias botânicas com a produção de metabólitos secundários (quimiotaxonomia) e, principalmente, a importância da identificação científica da planta. Constatou-se, também, que nenhum dos cursos analisados aborda todas as espécies medicinais indicadas no SUS (BRASIL, 2009). Geralmente, as espécies referenciadas são exóticas (não são nativas do Brasil) e as informações fornecidas ao aprendiz são ultrapassadas ou baseadas apenas no conhecimento popular. 4.1.3 Pesquisa bibliográfica: sequência didática, ensino de Botânica e Sistema Único de Saúde A partir da pesquisa bibliográfica foi estruturado o curso de Fitoterapia para profissionais da saúde, abordando as espécies medicinais indicadas no SUS (BRASIL, 2009). 4.1.4 Levantamento e seleção dos aspectos mais importantes da teoria de Zabala para a elaboração da sequência didática e do material didático a ser produzido A sequência considera a importância das intenções educacionais na definição dos conteúdos de aprendizagem e o papel das atividades que são propostas. Objetivando explicitar as intenções educativas, foi desenvolvido o conteúdo de acordo com as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. Enfocaram-se, também, observação, associação e expressão. Ao colocar os alunos em contato com os fatos e os acontecimentos por meio de experimentação, expressão oral, dados empíricos e o conhecimento prévio, eles identificaram o problema a partir da observação. Ao relacionarem o que observaram com as ideias novas, pesquisas, práticas e realização de exercícios, puderam associar o conhecimento prévio ao fato novo (associação). Uma vez observado o que conheciam e associado o conhecimento prévio à ciência, os alunos puderam expressar, por intermédio de 52 questionamentos e expressões orais, suas pesquisas e os trabalhos desenvolvidos (expressão). 4.1.5 Levantamento bibliográfico sobre as espécies medicinais indicadas pelo SUS para a produção de fitofármacos e/ou fitomedicamentos Entre as 71 espécies medicinais (BRASIL, 2009), as que apresentaram mais complexidade nos estudos e pesquisas (baseando-se desde a identificação botânica até os testes clínicos), foram inseridas no material didático. Encontrou-se que: 25 espécies constam no material didático impresso (APÊNDICE A) e 36 foram apenas citadas nas aulas teóricas. Depois de elaborados os textos e editadas as fotos, todo o material utilizado nas aulas (APÊNDICE B – Apresentação multimídia) foi enviado aos alunos pelo correio eletrônico. Na diversidade de espécies medicinais, a escolha das 71 indicadas pelo SUS (BRASIL, 2009) teve como objetivo o conhecimento das espécies que terão prioridade na produção de fitofármacos/medicamento, pois, para isso, é necessário o conhecimento dessas plantas. Foram utilizados os seguintes itens de organização para cada espécie: a) Identificação botânica; b) nomes populares; c) origem; d) usos populares; e) comprovação científica; f) constituição química; g) a parte da planta a ser usada, como usar e cultivo; h) curiosidades sobre essas espécies. As plantas foram divididas da seguinte forma: a) Espécies de plantas medicinais abordadas no material impresso: Achilea millefolium L., Aloe vera (L.) Bum. F., Artemisia absintium L., Baccharis trimera (Less) D.C., Bauhinia forficata Bink, Bidens pilosa L., Bryophyllum pinnatum Kurz, Calendula officinalis L., Chamomilla recutita 53 (L.) Rauschert, Chenopodium ambrosioides L., Cynara scolymus L., Equisetum hiemale L., Foeniculum vulgare Mill., Malva sylvestris L., Maytenus ilicifolia Reissek, Mentha pulegium L., Ocimum gratissimum L., Passiflora alata Curtis, Phyllanthus niruri L., Plantago major L., Plectranthus barbatus Andrews, Ruta graveolens L., Solidago chilensis Meyen, Stryphnodendron adstringens Mart, Tabebuia avellanedae Lor. Ex Griseb. b) Plantas medicinais abordadas no material enviado por correio eletrônico (APÊNDICE B): Achilea millefolium L., Aloe vera (L.) Bum. F, Artemisia absintium L., Allium sativum L., Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt& R.M.Sm, Anacardium occidentale L., Ananas comosus (L.) Merr., Baccharis trimera (Less) D.C., Bauhinia forficata Bink, Bidens pilosa L., Bryophyllum pinnatum Kurz, Calendula officinalis L., Vernonia condensata Baker, Libidibia ferrea (Mart.ex Tul.)L.P. Queiroz, Arrabidaea chica (Bonpl.)B. Verl., Bauhinia forficata Link, Bidens pilosa L., Copaifera langsdorffii Desf, Cordia verbenacea D.C., Costus spicatus (Jacq.) Sw., Croton cajucara Benth, Curcuma longa L., Erythrina mulungu Mart. Ex. Benth, Lippia sidoides, Plectranthus barbatus Andrews, Mikania glomerata Spreng., Momordica charantia L., Orbignya speciosa (Mart.), Persea americana Mill., Petroselinum crispum (Mill.) A.W.Hill, P. crispum (Mill.) Mansf., Polygonum hydropiperoides Michx, Psidium guajava L., Punica granatum L., Rhamnus purshiana D.C., Salix alba, Schinus terebinthifolius Raddi, Solanum paniculatum, Tagetes minuta L., Syzygium cumini (L.) Skeels Os nomes abreviados são os autores das espécies citadas (FORZZA, 2011). Os nomes científicos foram confirmados ou corrigidos de acordo com a referência citada. Ressalta-se que algumas espécies constam no material impresso e no material enviado eletronicamente, porque essas espécies são muito usadas popularmente e foi necessário acrescentar às características itens de relevância para o conhecimento dos profissionais participantes do curso. Das 71, durante a pesquisa detectou-se que os dados de 12 espécies (QUADRO 3) estão incompletos ou insatisfatórios quanto à fitoquímica ou testes clínicos, por isso elas não foram inseridas no material didático. Durante as aulas 54 (teóricas ou práticas), essas espécies foram citadas e apresentadas aos alunos no ervanário, herbário e no jardim de plantas medicinais do Jardim Botânico da FZBBH. Quadro 3 - Espécies de plantas medicinais com dados insatisfatórios Carapa guianensis 1 2 Casearia sylvestris 3 Morus sp 4 Dalbergia subcymosa 5 Eleutherine plicata 6 Eucalyptus globulus 7 Eugenia uniflora 8 Glycine max 9 Harpagophytum procumbens 10 Lamium album 11 Trifolium pratense 12 Uncaria tomentosa Fonte: Elaborada pela autora 4.1.6 Levantamento fotográfico das espécies medicinais (SUS) no Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte As fotos foram editadas e caracterizadas com o nome científico e popular. As plantas que não constam nos arquivos da Zoobotânica e JB foram fotografadas no jardim de plantas medicinais e na área de visitação da FZB-BH. Como critério para fotografar as plantas levou-se em conta principalmente a floração e/ou frutificação, que são itens determinantes na identificação botânica das espécies. As fotos foram utilizadas nas aulas expositivas e apresentações e inseridas no material impresso distribuído aos alunos. 55 4.2 Elaboração do produto O produto resultou no curso de Fitoterapia para profissionais da saúde abordando as espécies medicinais de interesse para o SUS. 4.2.1 Seleção dos conteúdos relativos à Fitoterapia, importantes para os profissionais da saúde Nos cursos avaliados foram detectadas deficiências no estudo dos vegetais, por exemplo: a identificação botânica e a relação da fisiologia vegetal com a produção de metabólitos secundários. E em nenhum desses cursos foram abordadas todas as 71 espécies medicinais indicadas no SUS. Os conteúdos programáticos selecionados foram abordados nas aulas e no material didático produzido. A seleção foi estruturada da seguinte forma: a) Plantas medicinais e história. b) Taxonomia vegetal: a diversidade biológica (reinos e espécies medicinais). c) Metabolismo secundário/quimiotaxonomia. d) Identificação botânica das espécies de plantas medicinais indicadas pelo SUS como fitofármacos/fitomedicamentos. e) Critérios de utilização das plantas medicinais. f) Formas de preparo das plantas medicinais: formas farmacêuticas. g) Cultivo das plantas medicinais. h) Aula de campo (visita técnica ao Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte). 4.2.2 Elaboração das unidades da sequência didática do curso com os conteúdos e plantas selecionados Os tópicos foram distribuídos de acordo com o conteúdo planejado: a) Plantas medicinais e história. b) Taxonomia vegetal: a diversidade biológica (reinos e espécies medicinais). c) Metabolismo secundário. Quimiotaxonomia. 56 d) Identificação botânica das espécies de plantas medicinais indicadas pelo SUS como fitofármacos/fitomedicamentos. e) Critérios de utilização das plantas medicinais f) Formas de preparo das plantas medicinais: formas farmacêuticas. g) Cultivo das plantas medicinais. h) Características de 25 espécies medicinais indicadas no SUS para produção de fitomedicamentos/fitoterápicos (APÊNDICE A). i) Elaboração de certificados emitido pela prefeitura de Belo Horizonte (Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte) e Conselho Regional de Biologia (CRBio) (APÊNDICE C). O APÊNDICE A compreende o material impresso com as unidades da sequência didática. 4.3 Teste do produto Curso: Fitoterapia para profissionais da saúde (abordando as espécies medicinais indicadas pelo SUS para a produção de fitomedicamentos e ou fitofármacos). Público-alvo: o curso aplicado teve como público 26 profissionais das seguintes áreas: Biologia, Enfermagem, Terapia holística, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia e Educação (pedagogo e educador qualificante). Programação do curso: definição do local, carga horária e data (aulas teóricas e de campo). Considerando-se a facilidade de acesso dos participantes ao curso, definiu-se o local para a aplicação no centro de Belo Horizonte, optando-se pelo Conselho Regional de Biologia para as aulas teóricas. Conhecendo a importância do JB na preservação, conservação e complexidade da flora medicinal, esse local foi sugerido para a as aulas práticas. No JB foram ministradas as aulas de campo e algumas práticas. Baseando-se no conteúdo, foi definida a carga horária de 25 horas/aula e a data da realização do curso foi de 25 e 26 de março, 1o e 02 de abril de 2011. O curso teve divulgação em diversos órgãos : Diário Oficial do Município (DOM), Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de Minas Gerais, site da Sociedade 57 de Amigos da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, site do CRBio (Biologia em rede) e Portal das redes fito – Fito Cerrado (Programa Nacional de Saúde) (ANEXO B). Foi feita também divulgação a alguns profissionais da saúde interessados na área de Fitoterapia. 4.3.1 Aplicação do curso Para acompanhamento das aulas pelos alunos, foi elaborado material didático contendo as unidades didáticas, fotos com características das plantas e glossário. A seguir, faz-se a descrição das unidades didáticas e o relato de experiência da sua aplicação no curso. UNIDADE DIDÁTICA 1 - Plantas medicinais e história Objetivos: Identificar e localizar o uso das plantas medicinais ao longo da história; Promover aprofundamento conceitual sobre o tema; Relacionar a importância do uso das plantas medicinais na saúde a partir de 3000 a.C; Identificar algumas espécies usadas desde a Antiguidade até a atualidade. Duração: 100 minutos (2 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: Textos e fotos ilustrativas sobre o uso das plantas medicinais ao longo da história; Computador e multimídia. Desenvolvimento: distribuição dos textos, leitura individual. Discussão em grupo. O curso contou com 26 inscritos. Após prévia apresentação dos participantes, a ministrante do curso sugeriu que a turma formasse cinco grupos (quatro de cinco integrantes e um grupo de seis). Os grupos receberam textos e fotos de plantas medicinais e seus usos em diferentes épocas. Os textos e fotos utilizados referem-se ao uso de determinadas espécies de plantas medicinais ao longo da história, por exemplo: babosa (Aloe vera) - usada como cicatrizante e cosmético desde a Antiguidade pelos egípcios (CUNHA, 2007). Os participantes tiveram 30 minutos para a leitura, discutiram entre si sobre a identidade da planta, seu uso, substâncias ativas e como é usada atualmente. A partir de quadro comparativo os alunos 58 resumiram características das plantas citadas no texto de referência constando a época, o local e o uso. Relacionaram o uso das plantas na Antiguidade com o uso atual. Após discussão, os grupos se uniram formando grupo único. Escolheram seu representante para apresentar as características da espécie que receberam para trabalhar. Para concluir, a ministrante do curso apresentou em multimídia espécies medicinais da lista do SUS (BRASIL, 2009) muitas das quais desde a Antiguidade são utilizadas na terapia medicinal e são consagradas até hoje. Os alunos tiveram oportunidade de intervir, questionar e acrescentar informações. Considerações sobre a unidade 1 Relacionar o uso das plantas medicinais usadas atualmente com o passado é sempre muito curioso e estimulante. Voltar ao passado, conhecer um pouco a história da Medicina e como as plantas, desde a Pré-História, têm papel fundamental na saúde física da espécie humana foi importante no envolvimento dos participantes. A atenção dos alunos foi maior, principalmente quando foram relacionadas as plantas medicinais aos mitos, lendas e curiosidades desde a Grécia e Egito Antigos, passando pela Idade Média até chegar-se aos ritos de magia dos Pagés indígenas e ao candomblé. Figura 3 - Participantes do curso de fitoterapia: aula expositiva Fonte: Acervo da autora. 59 UNIDADE DIDÁTICA 2 - Taxonomia vegetal (Espécies medicinais) Objetivos: Diferenciar os vários seres vivos com atividades medicinais e erroneamente chamados “plantas”; Diferenciar as espécies medicinais quanto a morfologia e taxonomia; Conhecer as principais espécies medicinais e divisão taxonômica. Duração: 200 minutos (4 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: exemplares de bactérias, algas, fungos e plantas (vivos ou secos), fotos e textos complementares caracterizando cada grupo taxonômico e livros de Botânica, sistemática vegetal e plantas medicinais. Desenvolvimento: Distribuição dos materiais (exemplares) aos grupos; Caracterizar cada exemplar distribuído; Apresentação dos grupos; Grupo de discussão. Foi sugerido pela ministrante que os alunos mudassem de grupo. Foram distribuídos textos e os seguintes exemplares aos alunos. a) Bactérias (microfotografia), algas (herborizadas) e fungos (fotos). b) Pteridófitas e Briófitas (fotos, herbário e exemplares vivos). c) Gimnospermas e Angiospermas(fotos, herbário e exemplares vivos). Tomando como base os textos e os elementos de cada grupo, por meio dos exemplos, foram identificadas as características determinantes de cada divisão taxonômica. Os grupos apresentaram as características dos exemplares existentes a partir de desenhos ou esquemas. Depois de 20 minutos foi sugerido aos grupos que trocassem os materiais, repetindo-se os procedimentos anteriores, acrescentando itens não observados pelo grupo anterior. O reino Plantae foi separado como objeto de estudo (planta medicinal). Foi feito um grupo de discussão em que a ministrante fez questionamentos sobre as diferenças entre as divisões. Como fechamento, os alunos relacionaram as 60 diferenças identificadas e citaram as características semelhantes e antagônicas das divisões taxonômicas. Considerações sobre a unidade 2 Essa unidade permitiu aos alunos aprofundar na identificação botânica das espécies medicinais e possibilitou diferenciar e comparar essas espécies focalizando o reino Plantae, onde está inserido o mais alto número de famílias com atividades terapêuticas. O resultado foi ampliar a conscientização por parte dos alunos no cuidado ao dar nome e indicação medicinal às plantas. Conhecer o vegetal apenas pelo nome popular pode gerar erros no uso, podendo levar o usuário a doenças graves, chegando à morte em decorrência de efeitos colaterais e toxidade da planta usada erradamente. Figura 4 - Participantes do curso em trabalho de grupo Fonte: Acervo da autora 61 UNIDADE DIDÁTICA 3 - Identificação botânica das 71 espécies de plantas medicinais indicadas pelo SUS como fitofármacos/fitomedicamentos Objetivos: Identificar as principais famílias botânicas que constituem as 71 espécies de plantas medicinais; Conhecer características básicas das famílias que caracterizam as 71 espécies de plantas medicinais; Conhecer as famílias consideradas mais tóxicas para o organismo humano entre as que constituem as 71 plantas estudadas; Conhecer a importância das famílias em relação à produção de metabólitos secundários. Duração: 200 minutos (4 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: apostila (material didático produzido pelo professor) (APÊNDICE A), bibliografia complementar. Desenvolvimento: Cada grupo pesquisou sobre duas famílias botânicas representadas nas 71 plantas do SUS; Os grupos identificaram os constituintes químicos que caracterizam essas famílias; Cada grupo apresentou as plantas sugeridas e os respectivos constituintes químicos; Discussão e fechamento. O material usado para a aula foram a apostila (produzido pela autora) e o material impresso complementar (textos e livros referentes à Botânica, plantas medicinais e quimiotaxonomia). Cada grupo ficou responsável por pesquisar duas famílias botânicas representadas nas 71 plantas indicadas pelo SUS. Os grupos identificaram os constituintes químicos que caracterizam as famílias pesquisadas. Após a pesquisa e discussão nos grupos, os participantes tiveram cinco minutos para a apresentação das plantas sugeridas e respectivos constituintes químicos. Depois das apresentações houve discussão geral sobre a relação família botânica/ substâncias ativas. Como fechamento, foi feita exposição em data show, pela ministrante, sobre a relação taxonômica com a química. 62 Considerações sobre a unidade 3 Na unidade 3 direcionou-se o foco, entre as milhares de espécies medicinais, para as plantas indicadas no SUS na produção de fitomedicamentos e/ou fitofármacos (BRASIL, 2009). Além disso, foi introduzida a quimiotaxonomia, que é a relação da identificação botânica com a produção de metabólitos secundários. As 71 espécies medicinais foram separadas de acordo com a família. O estudo que caracteriza cada família e sua constituição química foi surpresa para todos os participantes do curso. Os alunos comprovaram como a ação do ambiente e diferentes formas de cultivo podem mudar a constituição química dos vegetais, interferindo nas propriedades medicinais. Observaram, também, que alguns grupos químicos são mais frequentes em determinadas famílias botânicas, por exemplo: flavonóides caracterizam Asteraceae; por outro lado, óleos essenciais são mais constantes em Lamiaceae. Mesmo os alunos que têm mais experiência e conhecimento na área identificaram os problemas ao indicarem a fitoterapia, “por ser natural, pode, sim, fazer mal”. Essa unidade proposta mostrou aos alunos que não existe planta medicinal sem efeito colateral. Mesmo não tendo referência de toxicidade, quando usadas sem os devidos critérios podem levar o usuário a problemas graves ou complicações em sua saúde. Figura 5 - Participantes do curso utilizando a apostila Fonte: Acervo da autora 63 UNIDADE DIDÁTICA 4 - Metabolismo secundário Objetivos: Conhecer os mecanismos de produção de substâncias ativas pelas plantas; Identificar os principais grupos químicos resultantes do metabolismo secundário;. Identificar a ação no organismo humano dos alcaloides, flavonoides, terpenos, antraquinonas, glicosídeos cardioativos, taninos e óleos essenciais. Duração: 100 minutos (2 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: computador, multimídia. Desenvolvimento: exposição do professor sobre o assunto, explicação e discussão. Quando citado o metabolismo secundário como tema da aula, os alunos manifestaram-se negativamente sobre esse assunto. Foi importante esclarecer que, para conhecer as plantas medicinais, é necessário que se tenha conhecimento do processo de produção das substâncias responsáveis pelas alterações de cura ou toxidade no organismo humano. Foram feitas a exposição do metabolismo secundário e as diferentes rotas metabólicas nos vegetais e a origem e a função das substâncias ativas produzidas por eles. Os alunos questionaram sobre as interferências ambientais no metabolismo vegetal, o que provocou discussão e interação entre os participantes. Considerações sobre a unidade 4 Nessa unidade a estratégia utilizada foi aula expositiva objetivando acrescentar conceitos importantes no processo fitoquímico. Como a maioria dos alunos teve contato com a bioquímica na graduação, interagiram questionando e acrescentando elementos à aula. Os alunos tiveram liberdade de interromper a exposição sempre que necessário e a participação deles foi ativa e dinâmica. Ao final da aula os alunos relacionaram as famílias botânicas com substâncias ativas, a importância do cultivo e/ou ecologia da planta na produção de metabólitos secundários e o valor da química nos processos biológicos dos vegetais. 64 Figura 6 - Aula expositiva: metabolismo secundário Fonte: Acervo da autora FIGURA 7 - Aula expositiva: cultivo Fonte: Acervo da autora. 65 UNIDADE DIDÁTICA 5 - Critérios de utilização das plantas medicinais Objetivos: Conhecer critérios para o uso das plantas medicinais: identificação da doença, a escolha correta da planta (identificação botânica), o método de preparação adequada das formas farmacêuticas e a dose. Duração: 50 minutos (1 hora-aula) Número de participantes: 25 alunos Desenvolvimento: aula expositiva. Foram separados vários vegetais (in natura) da lista do SUS (BRASIL, 2009). Como o primeiro critério é a identificação botânica, foi sugerido aos alunos que identificassem as plantas com os nomes populares. Como nem todos apresentavam flores, mostrou-se como a identificação botânica (a partir do material reprodutivo) é importante, vegetais com folhas e/ou flores muito parecidas poderiam ser de famílias e espécies diferentes. Outro critério importante a ser considerado é relativo à parte da planta medicinal a ser usada como remédio, uma vez que os princípios ativos não são distribuídos igualmente em todos os órgãos da planta. Para cada planta mostrada foi perguntado aos alunos que órgão é utilizado na terapia medicinal, como é a forma farmacêutica e a dose. A maioria dos alunos não soube a sequência correta. Para cada planta foram citados os critérios e a importância de conhecê-los. As formas farmacêuticas foram citadas em aula expositiva e alguns exemplos de manipulações erradas também. A aula teve continuidade no herbário e ervanário. No herbário os alunos puderam identificar cientificamente o vegetal. No ervanário identificaram as partes das plantas onde ocorre mais produção de princípios ativos, portanto, é a parte usada. As formas farmacêuticas foram enfocadas em um momento pontual e em outra unidade didática. Considerações sobre a unidade 5 Essa unidade foi, a princípio, muito questionada. A maioria dos alunos acredita que as plantas medicinais podem ser usadas para qualquer doença e de qualquer forma. No início do curso verificou-se que os alunos estavam muito preocupados em conhecer o maior número de espécies medicinais e quais as doenças curáveis por 66 meio delas. Critérios como a identificação botânica, a parte usada na planta, as formas farmacêuticas e a dose não seriam importantes. Essa unidade é importante para que os participantes tenham ações mais críticas e utilizem as plantas medicinais com critério, mais estudo e consciência. Ao terminar essa unidade os alunos começaram a pesquisar os critérios de utilização para as várias espécies de que eles fazem uso em seu trabalho de rotina. Figura 8 - Espécies in natura Fonte: Acervo da autora Figura 9 - Aula prática: critérios de utilização Fonte: Acervo da autora 67 UNIDADE DIDÁTICA 6 - Formas farmacêuticas Objetivos: Conhecer os mecanismos de extração dos princípios ativos das plantas medicinais. Identificar as formas farmacêuticas de algumas plantas entre as 71 estudadas como as substâncias ativas agem no organismo humano. Conhecer os efeitos prejudiciais no organismo humano, resultado da manipulação e/ou formas farmacêuticas erradas. Conhecer a legislação sobre quem pode manipular, registrar, prescrever e formular produtos fitoterápicos. Anexo E: Portaria 6 de 31 de janeiro de 1995 (ANVISA)- Institui e normatiza o registro de produtos fitoterápicos junto ao Sistema de Vigilância Sanitária. Portaria 123 de 19 de outubro de 1994 (M.S.)- Normas para o registro de produtos fitoterápicos. Portaria 22 de 30 de outubro de 1967(M.S) Normas para o emprego de preparações fitoterápicas Duração: 100 minutos (2 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: textos, ebulidor, vasilhame de vidro, álcool de cereais, água, folhas de Foeniculum vulgare, Kalanchoe pinnata, Plantago major. Desenvolvimento: Preparo de infusão com as folhas de Foeniculum vulgare. Preparo de decocção com as folhas de Plantago major. Macerado de alcanfor Artemisia camphorata. Preparo de extração aquosa com folhas de Kalanchoe pinnata. Utilizando o material didático impresso foi solicitado aos alunos que lessem a unidade 5 da apostila “Formas de preparo”. Foi feita a infusão do funcho (Foeniculum vulgare), decocção de tranchagem (Plantago major), extração aquosa de saião (Kalanchoe pinnata) e macerado de alcanfor (Artemisia camphorata). Enfatizou-se aos alunos que formas farmacêuticas são manipulações executadas por profissionais da área. Os exemplos citados foram formas de preparo usualmente feitas pela população. As preparações executadas são citadas popularmente como chás. Outros aspectos a serem observados são a parte da planta a ser usada e a dose. O objetivo é mostrar que as formas de extração de 68 substâncias ativas podem ser muitas e que a maneira errada pode acarretar danos ao organismo. Considerações sobre a unidade 6 Os alunos puderam comprovar diferenças na forma de preparo para extração de princípios ativos. Após questionamentos sobre as diferentes formas de extração dos princípios ativos, os alunos relataram a importância de conhecer os critérios para a utilização das plantas medicinais. Exemplo de observação feita por um dos alunos: os chás podem ser benéficos ou não, vai depender da parte da planta, forma de preparo e a dose. Nunca pensei nisso. Qualquer chá, pra mim, não faria mal algum. Aulas práticas são importantes para comprovar a teoria e fixar o conhecimento. As formas de preparo mais utilizadas pela população são as infusões e decocções denominadas chás. Essa atividade foi realizada no JB e o material coletado no jardim de plantas medicinais aromáticas. Figura 10 - Aula prática: formas farmacêuticas Fonte: Acervo da autora 69 UNIDADE DIDÁTICA 7 - Cultivo das plantas medicinais Objetivos: Conhecer os métodos de cultivo das plantas medicinais; Conhecer o controle de doenças e pragas das plantas medicinais. Duração: 100 minutos (2 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: computador/ Jardim Botânico Desenvolvimento: Aula expositiva e de campo. Discussão. Cultivo de plantas medicinais: Foi feita a apresentação em multimidia sobre o cultivo de plantas medicinais, tendo como itens: determinação da espécie, escolha do local, preparo da sementeira, preparação do solo, plantio, controle de pragas e doenças e os fatores que influenciam na produção de metabólitos secundários. A parte prática sobre o cultivo foi complementada na visita técnica ao JB, onde os alunos tiveram a oportunidade de conhecer as etapas de produção de mudas, enfocando alternativas naturais de controle de pragas e doenças. Chamouse a atenção dos alunos para os métodos de manutenção e conservação de espécies nativas do Brasil, priorizando os biomas de Minas Gerais. Na aula teórica foi acrescentada apresentação em multimídia dos mitos e verdades sobre as plantas medicinais. O objetivo foi chamar a atenção dos alunos sobre o que a população acredita: as curiosidades e o misticismo envolvendo as plantas. A “doutrina dos signos” também foi citada e exemplificada nessa aula. Considerações sobre a unidade 7 O desenvolvimento dessa unidade possibilitou reflexão sobre a importância de cultivar as espécies medicinais, tomando o cuidado da manutenção saudável e dentro das possibilidades ambientais que cada uma exige. Os alunos perceberam a diferença entre os mitos e a verdade (ciência). Evidenciaram-se os riscos na utilização de plantas medicinais quando não há preocupação com a origem e como foram produzidas. Para os produtores, os 70 métodos de cultivo e produção de plantas medicinais são determinantes no metabolismo secundário que direciona todo o arranjo produtivo do fitomedicamento e/ou fitofármaco. Figura 11 - Estufa de cultivo e jardim de plantas medicinais Fonte: Acervo da autora 71 UNIDADE DIDÁTICA 8 - Aula de campo (visita técnica ao Jardim Botânico da FZB-BH) e apresentação dos alunos Objetivos: Identificar no Jardim Botânico in natura as espécies medicinais da lista do SUS. Pesquisa e apresentação dos alunos sobre critérios e utilização das plantas medicinais Duração: 400 minutos (8 horas-aula) Etapa I: Visita técnica ao Jardim Botânico da FZB-BH Duração: 200 minutos (5 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: coleção de plantas medicinais, herbário e ervanário da FZB-BH. Etapa II: Apresentação dos alunos Duração: 200 minutos (5 horas-aula) Número de participantes: 25 alunos Material: livros de sistemática vegetal, farmacognosia e plantas medicinais, artigos científicos, periódicos e teses. Visita técnica ao Jardim Botânico Nessa unidade inseriu-se a parte prática do cultivo de plantas medicinais. Após rápida apresentação do JB, a história e disposição dos canteiros, a ministrante sugeriu aos alunos que, de acordo com o que fora estudado nas aulas anteriores, cada um identificasse pelo menos cinco espécies medicinais da lista do SUS (BRASIL, 2009) no jardim de plantas medicinais do JB. Os alunos tiveram oportunidade de sentir os aromas, diferenciar algumas famílias botânicas e diferenciar espécies semelhantes de diferentes famílias. Foi uma aula prática de identificação botânica. No ervanário, os alunos manipularam e conheceram as partes das plantas usadas como medicamento e no herbário, com base nas exsicatas, eles conheceram as espécies que foram identificadas no jardim, mas não estavam férteis (determinantes na identificação botânica). 72 Figura 12 - Aula de campo no jardim de plantas medicinais Fonte: Acervo da autora Figura 13 - Aula de campo no Jardim Botânico (jardim de plantas medicinais) Fonte: Acervo da autora. 73 Figura 14 - Coleções secas: herbário e ervanário Fonte: Acervo do Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica Figura 15 - Aula prática: ervanário Fonte: Acervo da autora 74 FIGURA 16 - Aula prática no Jardim Botânico (ervanário) Fonte: Acervo da autora Apresentação dos alunos Após questionamento de um aluno sobre como eles poderiam dar continuidade à pesquisa em plantas medicinais, foi sugerido pela ministrante do curso que cada um escolhesse uma planta e dissertasse sobre todas as suas características, constando os seguintes itens: nome científico, sinonímia, nomes populares, família, origem, usos, constituição química, parte usada, forma farmacêutica, toxidade e curiosidades. Foram distribuídos, aos alunos, periódicos, livros e artigos científicos. A ministrante orientou e tirou dúvidas sobre a apresentação. A apresentação foi individual, sendo que os ouvintes puderam intervir acrescentando conhecimentos oriundos de suas pesquisas. Discutiu-se sobre as plantas estudadas, em que houve integração e troca de conhecimentos. Ao final, a ministrante apresentou em multimídia todas as espécies da lista do SUS, acrescentando dados e completando os trabalhos. Considerações sobre a unidade 8 Percebeu-se que as atividades desenvolvidas nessa unidade didática possibilitaram o desenvolvimento da capacidade de observar e criticar dos alunos. O contato com as plantas e o JB como laboratório foram muito importantes, pois os alunos observaram, experimentaram e comprovaram vários fatos duvidosos 75 relacionados à identificação botânica e produção de metabólitos secundários referentes à adaptação ambiental dos vegetais. A reclamação geral é de que o tempo para as aulas de campo no JB foi curto: “A aula no Jardim poderia ter tido carga horária maior”, sugestão de uma aluna, ou “seria necessário mais tempo no Jardim Botânico”, proposto por outro aluno. Essa unidade foi muito compensadora. Os alunos tiveram a oportunidade de pesquisar e apresentar o resultado da pesquisa para os outros participantes. Nesse momento houve também troca de conhecimento, discussão, críticas e envolvimento de todos. FIGURA 17 - Apresentação dos alunos Fonte: Acervo da autora Figura 18 - Apresentação dos alunos Fonte: Acervo da autora 76 Após a apresentação dos alunos, foram entregues certificados de conclusão do curso. Foi um momento de agradecimento e carinho tanto por parte da ministrante quanto dos alunos. O interesse demonstrado pelos alunos durante as atividades certifica a importância do tema e a curiosidade dos profissionais em aprender sobre essa terapia milenar, suas bases terapêuticas e tóxicas. Além disso, a troca de conhecimento sobre um assunto tão complexo (sempre há o que acrescentar) é essencial para desenvolver o trabalho de rotina com mais qualidade e eficácia. Figura 19 - Entrega de certificados Fonte: Acervo da autora Figura 20 - Entrega de certificados Fonte: Acervo da autora 77 4.4 Coleta de dados Os alunos responderam ao questionário apresentado no QUADRO 4. Quadro 4 - Questionário de avaliação do curso A. Treinamento a). Objetivos foram informados de forma clara? b). O conteúdo atendeu às expectativas dos alunos? c). Carga horária foi suficiente? B. Material didático possibilitou a compreensão do conteúdo? C. O instrutor teve disposição em esclarecer dúvidas? D. Aplicabilidade do curso e possibilidade de realização do trabalho mais eficiente E. Profissão dos participantes e local de trabalho Fonte: Elaborada pela autora Figura 21 - Alunos respondendo o questionário Fonte: Acervo da autora Entre os alunos que participaram do curso, apenas dois não trabalham com fitoterapia. Os demais são profissionais da saúde e/ou estudantes de graduação ou pós-graduação que fazem pesquisa na área de plantas medicinais. O GRÁF. 2 mostra a relação de profissionais que participaram do curso. 78 Gráfico 2 - Profissionais da saúde participantes do curso Fonte: Elaborada pela autora O QUADRO 5 mostra os dados obtidos na avaliação dos alunos em relação ao curso. Quadro 5 - Avaliação dos alunos em relação ao curso Ótimo Bom Regular Insatisfatório Avaliação de reação dos alunos Os objetivos foram informados de forma clara? 24 02 00 00 O conteúdo atendeu às expectativas? 18 07 01 00 A carga horária foi suficiente? 05 15 05 01 O material didático possibilitou a compreensão do conteúdo? 13 13 00 00 O instrutor esteve sempre disposto a esclarecer as dúvidas? 22 03 01 00 Esse curso possibilitará que você realize um trabalho mais eficiente? 17 07 01 01 Os objetivos foram informados de forma clara? 24 02 00 00 O conteúdo atendeu às expectativas? 18 07 01 00 Fonte: Elaborada pela autora 4.5 Analise dos dados A análise do QUADRO 5 revela que a avaliação do curso pelos alunos foi muito positiva e que o conteúdo atendeu, para a maioria, às expectativas. Na avaliação de reação, quando perguntado aos alunos se os objetivos foram informados de forma clara, a maioria opinou que não tinha muita afinidade com a Botânica, mas a partir da maneira como foi abordada tiveram mais possibilidade de conhecer e gostar do conteúdo. Alguns alunos não conheciam o estudo dos vegetais e fizeram algumas observações: 79 Senti dificuldade por não ter familiaridade com Botânica, mas a instrutora foi muito clara nas suas explicações. Material autoexplicativo e como todo curso de bom nível, com bastante conhecimento adicional [...]. O conteúdo atendeu às minhas expectativas, apesar de ter informações muito complexas para mim, que sou leiga, não sou bióloga. O conteúdo superou minhas expectativas. Fonte: Dados da pesquisa. A maioria dos participantes de cursos de Fitoterapia conhece muito das indicações medicinais, mas desconhece a complexidade que é a biologia da planta e a sua relação com a produção de substâncias ativas e sua atividade biológica. A carga horária foi muito questionada, a maioria dos participantes queria mais tempo: “Por serem 25 horas, gostaria de mais horas para aprender mais, porque o curso é muito interessante”. O aluno que achou a carga horária insatisfatória justificou da seguinte forma: “Muita informação! Seria necessário pelo menos o dobro da carga horária entre atividade in loco [horto] e teórica”. O material didático distribuído recebeu boa avaliação: “O material didático com fotos foi excelente para ajudar na identificação das espécies”; “Excelente impressão, faltou completar as plantas do SUS”. Outro aluno complementou: “O material foi bem formulado, sugiro que mais imagens possam ser enviadas por email”. Salienta-se que, por ser impresso com fotos coloridas, ficou inviável colocar as 71 espécies de plantas medicinais da lista do SUS (BRASIL, 2009). Foram impressas apenas 25 espécies no material impresso distribuído. As espécies restantes foram citadas e apresentadas em multimídia durante as aulas expositivas. E, devido à avaliação feita pelos alunos sobre o material, as espécies restantes (com as características botânicas e químicas, indicações, curiosidades e fotos) foram enviadas aos alunos pela ministrante por correio eletrônico. Quanto à avaliação do instrutor, um participante avaliou-o como regular e não justificou a sua opção. Para a maioria, a avaliação sobre a instrutora foi boa, conforme: “A instrutora sempre ouviu todos e explicou com clareza”; “muito tranquila, sempre atendeu a todos com atenção e boa vontade. É uma excelente instrutora”. “É realmente invejável sua capacidade de atender a um grupo tão heterogêneo. Parabéns!” Na aplicabilidade do curso foi interessante a análise da maioria dos participantes quanto à importância de adequação do curso à prática deles, indicando 80 plantas medicinais como se não houvesse problema. Exemplos de frases escritas pelos alunos: “Terei que retomar para adequar o conteúdo às experiências que tenho”; “estou colocando em prática com meus alunos [público da assistência social], muitos ingerem ervas sem saber dos efeitos colaterais, o que aprendi posso repassar”. Um aluno conceituou como regular a possibilidade de aplicar o curso no seu trabalho e justificou: “O curso foi o início dos meus estudos sobre plantas medicinais. Preciso estudar muito para realizar um bom trabalho na área”. Alguns participantes atendem a pacientes (como enfermeiros) em postos de saúde e indicam plantas medicinais. Após o curso, houve mudanças na ação dos alunos, conforme a citação de um participante: “Com a noção que adquiri neste curso, vai facilitar no atendimento aos usuários”. A Fitoterapia é importante na manutenção da saúde, desde que usada com critério. O curso mostra principalmente esses critérios e a importância da Botânica como um dos principais itens da utilização das plantas medicinais. Foi importante chamar a atenção dos praticantes da fitoterapia para os efeitos tóxicos do uso indiscriminado de plantas. Neste sentido, houve avanço quanto à conscientização desses profissionais. 81 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta dissertação descreveu a elaboração e aplicação de um curso de Fitoterapia objetivando contribuir com a prática e uso das plantas medicinais por profissionais da área de saúde. A aprendizagem de conteúdos relacionados à identificação dos vegetais, à química, farmacologia e, especialmente, ao uso criterioso objetiva também a manutenção da saúde por meio das plantas. Profissionais da saúde que utilizam a fitoterapia no cotidiano do seu trabalho geralmente não aprofundam o estudo sobre a identificação correta do vegetal e principalmente a relação dos processos ambientais e biológicos na produção de metabólitos secundários que interferem diretamente na atividade farmacológica da planta. Estruturou-se esse curso na expectativa de serem inscritos médicos, dentistas, veterinários, biólogos, nutricionistas e farmacêuticos, pois esses profissionais estão mais ligados à saúde. Não foi o que ocorreu. O grupo que participou do curso foi constituído principalmente de terapeutas, educadores e biólogos, acrescentado de enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionista. A maioria trabalha em centros de saúde municipais, o que propicia mais contato com os usuários da fitoterapia. Foram abordados temas que geralmente não são oferecidos nos cursos de Fitoterapia, por exemplo, a quimiotaxonomia e a relação ambiental com a produção de substâncias ativas dos vegetais que poderão ser úteis ou tóxicas ao ser humano. A escolha por utilizar como método a sequência didática, proposta por Zabala (2010), possibilitou organizar os conteúdos abordados com estratégias nas quais o aluno participa efetivamente da produção do conhecimento. Outro fator que diferenciou a metodologia usada no curso ministrado da de outros foi a participação ativa dos alunos em toda etapa, questionando e introduzindo novos conhecimentos. As possibilidades de pesquisa, movimento e intervenção do aluno na produção e assimilação do conhecimento tornaram o trabalho mais dinâmico e significativo. A metodologia usada estimulou a ação e reflexão dos participantes, possibilitando mais compromisso e empenho, proporcionou-lhes apresentar suas vivências experimentando a oportunidade de posicionarem-se como detentores do saber e transmissores do mesmo. 82 Considera-se que a sequência didática é válida para conteúdos diferentes e facilita a organização e estruturação de temas complexos como a fitoterapia. Como única executora e ministrante desse curso, acredita-se que cada unidade apresentada na sequência didática, produto desta dissertação, pode ser complementada e enriquecida pela participação de profissionais de outras áreas ligadas à Fitoterapia, devido à multidisciplinaridade deste tema. Esse curso continuará sendo oferecido no Jardim Botânico da Fundação ZooBotânica de Belo Horizonte e poderá ser utilizado em projetos de capacitação das Redes Fito (Ministério da Saúde), devendo ser submetido a alterações e aperfeiçoamento, de acordo com a demanda. Espera-se que o material de apoio didático seja proveitoso para o professor na sua prática e para a aprendizagem dos alunos, contribuindo para a construção do conhecimento, desenvolvimento de habilidades e competências na área de ensino de botânica, sendo útil nos processos de atualização e capacitação dos profissionais da área de saúde que utilizam as plantas medicinais em seu trabalho. Figura 22 - Parte da turma do curso de Fitoterapia Fonte: Acervo da autora 83 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria da Conceição Vieira et al. O ensino de Botânica e a participação de alunos do ensino médio em atividades práticas laboratoriais. Departamento de Ciências Biológicas Mossoró, RN. In: Anais do 59º Congresso Nacional de Botânica, Natal. Rio grande do Norte. 2008. ALONSO, Jorge. Tratado de fitofármacos y nutracéuticos.Ed. Corpus, 1999.1140p. Brasil. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. 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Educação superior: travessias e atravessamentos.cap.2 e3 p.33-90 Canoas: ULBRA, 2001. 90p. 84 CUNHA, Proença A. Plantas aromáticas em Portugal, caracterização e utilizações. Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007. 328 p. DALY, Douglas; CAMERON, Kenneth; STEVENSON, Dennis W. Plant systematic in age of genomics. Plant Physiologyv, v. 127, p.1328-1333, 2001. DOMINGUEZ S., Xorge Alejandro. Metodos de investigacion fitoquimica. Mexico: Centro Regional de Ayuda Técnica, 1973. 281p. ESTEFAN, Iracema Joana Salim. O ensino de Farmácia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 2, n. 4, p. 503-519, Dez 1986. FERRO, Degmar. Fitoterapia: conceitos clínicos. São Paulo: Atheneu, 2006. 502p. FORZZA, Rafaela,C. Lista da flora do Brasil. Rio de Janeiro, 2011.1699p. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br>. Acesso em: abril de 2012. GUIÃO, Marcos et al. Plantas medicinais: cultivo, utilidades e comercialização. 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Fundamentos da educação) ISBN 8573074264 85 APÊNDICE A - MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO (APOSTILA) INTRODUÇÃO Como falar da terapia medicinal utilizando as plantas sem de fato conhecê-las? Diferenciar o veneno do remédio está relacionado aos critérios de utilização das plantas medicinais. A identificação correta (científica) do vegetal é um dos critérios mais importantes para o uso eficaz. Justifica-se aí a elaboração de um curso direcionado à Botânica das espécies medicinais. Considerando os processos de mudança na área de educação para profissionais da saúde e a demanda por novas formas de trabalhar com o conhecimento, busca-se com este curso uma inovação com o estudo dos vegetais na Fitoterapia. No Brasil a adoção da Política Nacional de Práticas Integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), abriu um novo acesso ao conhecimento das plantas medicinais brasileiras e ao emprego correto para recuperação e manutenção da saúde. Foi um avanço no processo de fusão do saber do povo com o saber do técnico conhecido pela sigla PPPM (Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais). Esse Programa desenvolvido por pesquisadores brasileiros apoiados pelo Ministério da Saúde, por meio do setor de pesquisas da antiga Ceme (Central de Medicamentos), foi muito importante na padronização do uso das plantas medicinais. Sua aplicação pelo SUS dá início ao disciplinamento do emprego da fitoterapia de base científica extraída do conjunto de plantas colecionadas por gerações sucessivas de uma população que às vezes tem como única opção para o tratamento de seus males o uso empírico das plantas medicinais de fácil acesso em cada região do país. Várias espécies de plantas medicinais foram estudadas e submetidas a pesquisas relativas a ensaios pré-clínicos, clínicos, atividade biológica e toxicidade, resultando em 71 espécies. Essas espécies serão priorizadas no curso em questão. Com o objetivo de facilitar o estudo das plantas medicinais, este curso mostra características botânicas, químicas, atividades biológicas e formas de uso das espécies medicinais indicadas no SUS para a produção de fitomedicamentos e ou fitofármacos. 86 RENISUS – Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS Espécies vegetais Quadro 1 - Lista de plantas medicinais de interesse do SUS Espécies vegetais 1 Achillea millefolium 37 Lippia sidoides 2 Allium sativum 38 Malva sylvestris 3 Aloe spp* (A. vera ou A. barbadensis) 39 Maytenus spp* (M.aquifolium ou M.ilicifolia) 4 Alpinia spp* (A.zerumbet ou A.speciosa) 40 Mentha pulegium 5 Anacardium occidentale 41 Mentha spp* (M.crispa, M. piperita ou M. villosa) 6 Ananas comosus 42 Mikania spp* (M. glomerata ou M. laevigata) 7 Apuleia ferrea = Caesalpinia ferrea * 43 Momordica charantia 8 Arrabidaea chica 44 Morus sp* 9 Artemisia absinthium 45 Ocimum gratissimum 10 Baccharis trimera 46 Orbignya speciosa Bauhinia spp* (B. affinis, B. forficata ou B. Passiflora spp* (P. alata, P. edulis ou P. 11 47 variegata) incarnata) 12 Bidens pilosa 48 Persea spp* (P. gratissima ou P. americana) 13 Calendula officinalis 49 Petroselinum sativum Phyllanthus spp* (P. amarus, P.niruri, P. tenellus 14 Carapa guianensis 50 e P. urinaria) 15 Casearia sylvestris 51 Plantago major Chamomilla recutita = Matricaria 16 52 Plectranthus barbatus = Coleus barbatus chamomilla = Matricaria recutita 17 Chenopodium ambrosioides 53 Polygonum spp* (P. acre ou P. hydropiperoides) 18 Copaifera spp* 54 Portulaca pilosa Cordia spp* (C. curassavica ou C. 19 55 Psidium guajava verbenacea) * 20 Costus spp* (C. scaber ou C. spicatus) 56 Púnica granatum 21 Croton spp(C.cajucara ou C.zehntneri) 57 Rhamnus purshiana 22 Curcuma longa 58 Ruta graveolens 23 Cynara scolymus 59 Salix alba 24 Dalbergia subcymosa 60 Schinus terebinthifolius = Schinus aroeira 25 Eleutherine plicata 61 Solanum paniculatum 26 Equisetum arvense 62 Solidago microglossa 27 Erythrina mulungu 63 Stryphnodendron barbatimão 28 Eucalyptus globulus 64 Syzygium spp* (S.jambolanum ou S.cumini) 29 Eugenia uniflora ou Myrtus brasiliana* 65 Tabebuia avellanedeae 30 Foeniculum vulgare 66 Tagetes minuta 31 Glycine max 67 Trifolium pratense 32 Harpagophytum procumbens 68 Uncaria tomentosa 33 Jatropha gossypiifolia 69 Vernonia condensata 34 Justicia pectoralis 70 Vernonia spp* (V.ruficoma ou V.polyanthes) 35 Kalanchoe pinnata = Bryophyllum 71 Zingiber officinale calycinum* 36 Lamium album Fonte: BRASIL, 2009 87 O conhecimento botânico é indispensável na terapêutica medicinal, para evitar que muitas espécies sejam utilizadas de maneira incorreta. O primeiro critério para a utilização das plantas medicinais é a identificação botânica. Um dos aspectos mais delicados na fitoterapia está na identidade das plantas. Por ser baseada em nomes vernaculares, a verdadeira identidade de uma planta recomendada pode variar enormemente de região para região. “Plantas, completamente distintas, podem ter o mesmo nome popular, algumas acumulam elevado número deles para a mesma espécie” (LORENZI; MATOS, 2002). A espécie Chenopodium ambrosioides L., por exemplo, conta com 27 nomes populares. As interpretações taxonômicas errôneas podem não só induzir o usuário a utilizar uma planta sem o princípio ativo desejado, como também induzi-lo a fazer uso de uma espécie perigosa. Outro critério importante a ser considerado é relativo à parte da planta medicinal a ser usada como remédio, uma vez que os princípios ativos não são distribuídos igualmente em todos os órgãos da planta. Na maioria das vezes, somente se emprega uma parte da planta para fins medicinais, sendo as demais consideradas inertes ou mesmo substâncias tóxicas. Como exemplo dessa situação pode ser citada a Lantana câmara que suas folhas são indicadas para afecções do sistema respiratório, ao passo que seus frutos são considerados tóxicos (GUIÃO et al., 2004, p. 45). De acordo com a Política Nacional de Plantas Medicinais, o Ministério da Saúde tem como objetivo garantir o acesso às plantas medicinais e fitoterápicos, com serviços eficazes e de qualidade. Conhecer o vegetal é fundamental para obter essa qualidade desejada. O estudo taxonômico ou as relações entre famílias botânicas e a constituição química são pouco focalizados nos cursos de graduação em saúde. A utilização do Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte como laboratório das aulas de campo é uma estratégia diferenciada e motivadora, pois transforma um fato abstrato, o que concerne à identificação das plantas a processos concretos, visuais, interpretativos e dinâmicos. A Botânica nos cursos de graduação ou extensão é de extrema importância e esse conhecimento passa a ser um diferencial na Fitoterapia. O assunto do curso é ministrado com base em unidades didáticas, pois a fitoterapia é extremamente abrangente e a metodologia aplicada pode ordenar e 88 facilitar o ensino-aprendizagem. Com a demanda no SUS de especialistas nessa área, esse material é uma iniciativa que prioriza a Botânica nos cursos de Fitoterapia, mostrando os critérios de utilização das plantas medicinais, seu cultivo e um pouco do misticismo que envolve a manutenção do homem nesse universo natural. Vale salientar que, do mesmo modo que as plantas curam, podem matar. Na maioria das vezes, conhece-se o efeito medicinal popular, mas, como todos os remédios, existem contraindicações. Portanto, o uso das plantas deve ser controlado e conhecê-las é indispensável. A atenção dada às plantas talvez seja o início de uma nova visão do mundo, um despertar para nossa capacidade de entender a evolução da vida. 89 UNIDADE DIDÁTICA 1 Plantas medicinais e História Objetivos: Identificar e localizar o uso das plantas medicinais ao longo da história. Promover aprofundamento conceitual sobre o tema. Relacionar a importância do uso das plantas medicinais na saúde a partir de 3000 a.C. Identificar algumas espécies usadas desde a Antiguidade até a atualidade. ESPÉCIES MEDICINAIS Histórico A utilização das plantas como medicamento é tão antiga quanto o próprio homem. Muito antes de aparecer qualquer forma de escrita, o homem já usava as plantas como alimento e remédio. É difícil delimitar as etapas que marcaram a evolução da arte de curar, já que a Medicina esteve por muito tempo associada a práticas mágicas, místicas e ritualísticas. O conhecimento histórico do uso de plantas medicinais mostra ao longo da história da humanidade que, pela própria necessidade humana, as plantas foram os primeiros recursos terapêuticos usados. A história da terapêutica começa provavelmente por Mitrídates, rei de Ponto, de 120 a 63 a.C., o primeiro farmacologista experimental. A lenda conta que, procurando imunizar-se contra um eventual envenenamento, tomava doses crescentes (mas nunca letais) dos venenos de que tinha conhecimento, até que fosse capaz de tolerar até mesmo a dose letal. Prática do mitridatismo. Após ser derrotado por Pompeu, Mitrídates tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito, devido à sua imunidade. Teria então, forçado um de seus servos a matá-lo com a espada (Peça Mitrídates, 1673, Racine e na ópera Mitrídates, di Ponto 1770, de Mozart). Consideradas ou não seres espirituais, as plantas, por suas propriedades terapêuticas ou tóxicas, adquiriram fundamental importância na medicina popular. 90 Todos os médicos e feiticeiros antigos eram herboristas e nesse campo a Botânica e a magia se confundiam. Os mais antigos documentos médicos datam do ano 3700 a.C. e vêm da China. Atualmente, a China mantém laboratórios de pesquisa e cientistas trabalhando exclusivamente para desenvolver produtos farmacêuticos com ervas medicinais de uso popular. Em 2300 a.C., egípcios, assírios e hebreus cultivavam diversas ervas e traziam de suas expedições tantas outras. Criavam purgantes, vermífugos, cosméticos e especiarias para a cozinha, além de líquidos e gomas utilizados no embalsamento de múmias. Na Babilônia (600 a.C.), Nabucodonosor mandou plantar em seus jardins, além de flores e árvores, alecrim cheiroso e açafrão. Na Grécia (460-377 a.C.), Hipócrates, “Pai da medicina”, resumiu em sua obra, “Corpus Hipocratium”, a síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo, indicando para cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento adequado. No começo da Era Cristã, Dioscórides, ao acompanhar os exércitos romanos na Península Ibérica, no norte da África e na Síria, recolheu abundante informação sobre plantas dessas regiões. Escreveu o tratado “De Matéria Médica”, que representa um marco histórico no conhecimento de numerosos fármacos, muitos dos quais são usados ainda hoje. Nele foram descritos cerca de 600 produtos de origem vegetal com indicações sobre seu emprego terapêutico. Essa obra foi escrita no ano 78 da nossa era e passou a ser usada como guia de ensino, no mundo romano e árabe. Em vigor até finais da Idade Média, ainda no século XV eram feitas cópias em latim dessa obra. Na Idade Média, o estudo das plantas medicinais estagnou por longo período. Com a queda do Império Romano e o fortalecimento da Igreja Católica, os tratados sobre o poder das plantas foram esquecidos ou mesmo perdidos e foram parcialmente recuperados no início do século XVI. Os mosteiros tornaram-se centros de estudos e os monges, que se apoderaram do saber antigo, cultivavam ao redor dos conventos e igrejas maravilhosos jardins de ervas que eram utilizadas como alimento, bebidas e medicamentos. 91 No século XVI, Theophrastus (Paracelso) viajou por toda a Europa à procura de plantas e minerais. Ouviu feiticeiros, curandeiros e parteiras e comparava estudos médicos com a sabedoria popular. No reinado de Elizabeth I (1558-1603) o saber das ervas pertencia a seres sobrenaturais (fadas, príncipes, duendes e bruxas) que habitavam pântanos e florestas. Na América, o primeiro registro data de 1552, quando o médico mexicano de origem índia, Juan Badianus, escreveu seus estudos que eram procurados por muitos estudiosos. De 1790 a 1850 predominava na Europa e nos Estados Unidos a chamada “medicina heroica”. Um dos arautos dessa modalidade terapêutica foi exatamente Willian Cullen, que recomendava, contra a febre, o chamado “antiflogístico”, à base de sangria e purgativos. Postulava-se a “unidade das doenças”, todas as doenças deveriam ter um único tipo de tratamento. A “medicina heroica” preconizava como terapêutica a eliminação dos venenos internos pelo aumento das excreções do organismo. Assim, durante mais de meio século a venissecção - “abertura de veias para a drenagem de sangue” - era ensinada praticamente em todas as escolas médicas americanas e europeias. Não havia limites para a quantidade de sangue a ser retirada. Além da sangria, usavam purgativos, eméticos para a eliminação das impurezas que tomariam o corpo. O uso do calomelano (cloreto de mercúrio) era obrigatório para quase tudo. E a posologia era pródiga: devia-se aumentar a dose até que o paciente salivasse profundamente, o que sabemos, hoje, ser o primeiro sinal de envenenamento pelo cloreto de mercúrio. Foi nesse contexto histórico da Medicina oficial que surgiu a Homeopatia. Utilizada em 1848 nos Estados Unidos na grande epidemia de cólera, um número muito mais alto de pacientes tratados com a Homeopatia sobreviveu em comparação com a Medicina tradicional. Na Homeopatia, além de plantas são usadas estruturas animais e minerais. No século XVIII, Lineu (naturalista sueco) criou a nomenclatura e a sinonímia botânica dividindo as plantas em 24 classes, o que permitiu estudo mais completo e abrangente. No século XIX, com a Revolução Industrial, tornou-se ridículo acreditar no poder curativo das plantas. 92 Hoje, depois de tanto tempo, na busca de melhor qualidade de saúde física e mental, o mundo está tentando redescobrir os verdadeiros valores da vida por meio das plantas. 93 UNIDADE DIDÁTICA 2 Taxonomia vegetal (espécies medicinais) Objetivos: Diferenciar os vários grupos de seres vivos com atividades terapêuticas, erroneamente, chamados ”plantas”. Caracterizar morfolologicamente espécies com atividades medicinais. Conhecer as principais espécies medicinais de cada divisão taxonômica. A DIVERSIDADE BIOLÓGICA O homem primitivo, ao procurar plantas para seu sustento, foi descobrindo espécies com ação tóxica ou medicinal, dando início a uma sistematização empírica dos seres vivos, de acordo com o uso que podia fazer deles. Indícios do uso de plantas medicinais e tóxicas foram encontrados nas mais antigas civilizações. A grande diversidade de formas vegetais tornou necessária uma sistematização, muitas vezes artificial, com base em critérios de mais fácil utilização, agrupando aquelas formas com mais semelhança externa e interna em níveis hierárquicos, dependentes do grau de uniformidade de suas características. A hierarquização e a caracterização dos diferentes grupos de vegetais originaram os sistemas de classificação. Os sistemas mais antigos baseavam-se em características morfológicas externas, agrupando as espécies em divisões naturais, tais como algas, briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Os sistemas artificiais dos quais o mais conhecido foi o de Lineu baseavam-se apenas em algumas características morfológicas, utilizando como regra a teoria da imutabilidade das espécies (SIMÕES et al., 2004, cap. 4). Com Wallace e Darwin, os sistemas filogenéticos foram baseados na teoria da evolução e refletem a história evolutiva dos táxons, arranjando-os de acordo com afinidades existentes entre eles (BEZERRA; FERNANDES,1984, p. 100). Desses sistemas, o que alcançou mais divulgação na primeira metade do século XX foi o de Engler, em várias edições modificadas. Os sistemas de classificação são sempre questionados, sofrendo alterações a cada nova descoberta. Atualmente, os sistemas usuais, elaborados com base em dados morfológicos, fitoquímicos, micromorfológicos, isto é, ultraestruturais, entre outros (como, por exemplo, para 94 angiospermas, os de Cronquist (1988) e outros autores estão sendo alvo de novas propostas de modificações, baseadas principalmente no conhecimento da biologia molecular, cujos dados são obtidos do sequenciamento de porções do genoma de cada táxon. A biologia molecular é considerada uma boa ferramenta para a formulação e o entendimento de hipóteses e teorias evolutivas, proporcionando consciência aos sistemas ultimamente propostos. Essa nova metodologia não exclui todas as outras ferramentas clássicas utilizadas na caracterização dos táxons, como os caracteres morfológicos comparativos, externos e internos, os embriológicos, os paleontológicos, entre outros (DALY; CAMERON; STEVENSON, 2001, p. 13281333). As características morfológicas externas possibilitam, via de regra, a classificação de uma espécie vegetal em qualquer nível hierárquico. No entanto, algumas vezes são necessárias observações complementares da organização interna, estudos embriológicos e/ou análise dos metabólitos secundários, para estabelecer fidedignamente tal classificação (SIMÕES et al., 2004). O mundo vivo é constituído por significativa variedade de organismos. Para estudar e compreender tamanha variedade, foi necessário agrupar os indivíduos de acordo com suas características comuns. Utilizando a evidência molecular, o sistema de classificação adotado neste curso reconhece os três domínios: Bactéria, Archaea e Eukarya. Protistas, fungos, plantas e animais são agora vistos como reinos dentro do domínio Eukaria. Portanto domínios, não reinos são categorias taxonômicas mais elevadas. Para facilitar a identificação, é necessário caracterizar cada organismo diferenciando plantas de outros seres vivos que também apresentam substâncias ativas usados nas terapias para a saude. Principais características que distinguem os três Domínios Características Bactéria Archaea Eukarya Tipo de célula Procariota Procariota Eucariota Envotório nuclear Ausente Ausente Presente Organelas (mitocôndria e plastídios ) Ausente Ausente Presente Citoesqueleto Ausente Ausente Presente Fotossíntese baseada em clorofila Presente Ausente Presente Fonte: Raven, 2010 95 I. Bactéria e Archaea Seres mais simples de todos os seres vivos, unicelulares que não apresentam carioteca (membrana nuclear), dotados de parede celular rígida, reprodução assexuada por divisão transversal ou por esporos. Reprodução sexuada a partir de recombinação genética. Exemplo de bactéria utilizada na terapêutica médica: Streptomyces bactérias produtoras de antibióticos como a actinomicetina e a aureomicina. II. Eukarya Incluem todos os eucariotos. Reino Fungi, Reino Protista, Reino Plantae Seres unicelulares eucariontes (apresentam membrana nuclear), pluri ou unicelulares, autótrofos (algas) ou heterótrofos (protozoários), não possuem tecidos. Constituintes: algas e protozoários. Exemplos de protistas utilizados na terapêutica medicinal: Laminaria - alga parda Sargassum, Fucus vesiculoso - alga parda Indicação: escrofulismo, obesidade e gota. Composição: Iodo Indicação: dilatação de vasos sanguíneos. Chondrus crispus - musgo da Irlanda - alga vermelha rica em mucilagem. Indicação: emoliente e laxante. III. Reino Fungi: Eucariontes, uni ou pluricelulares, heterotróficos, membrana de celulose ou quitina, corpo vegetativo formado por hifas. Fungos usados na medicina: Penicillium notatum (antibiótico) Saccharomyces cerevisiae (tônico regulador do intestino, laxante suave) IV. Reino Vegetal: Eucariontes, autotróficos, pluricelulares. IV.1 Divisão Bryophyta 96 Criptógamas (plantas sem sementes, sem flores, sem frutos, sem vasos condutores). Musgos: Marchantia polymorpha (utilizada para problemas hepáticos). IV.2 Pteridophyta Criptógamas (plantas sem sementes, flores, sem frutos, com vasos condutores). Lycopodium clavatum (combater catarros e inflamações das vias urinárias). Selaginella denticulata (virtude: anti-helmíntica). Equisetum arvense (diurético). IV.3 Divisão Spermathophyta IV.3.1 Gimnospermas São plantas que possuem flores carpelares e sementes, não possuem frutos. Cupressus sempervirens (resina utilizada nas prisões de ventre e hemorroidas). Pinus silvestris (reumatismo e dores). IV.3.2 Angiospermas São vegetais que apresentam flores, frutos e sementes. UNIDADE DIDÁTICA 3 Metabolismo Secundário Objetivos: Conhecer os mecanismos de produção de substâncias ativas pelas plantas. Identificar os principais grupos químicos resultantes do metabolismo secundário. Identificar a ação no organismo humano dos alcalóides, flavonóides, terpenos, antraquinonas, glicosídeos cardioativos, taninos e óleos essenciais. PLANTA MEDICINAL Conceitos Plantas - constituem o reino vegetal (Plantae). São elas: briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. 97 Medicinal - É a planta que possui um ou mais de um princípio ativo, conferindo-lhe atividade terapêutica. Princípio ativo - as plantas sintetizam compostos químicos a partir dos nutrientes da água e luz que recebem. Esses compostos podem provocar reações nos organismos, são os princípios ativos. São compostos sintetizados a partir do metabolismo secundário. A síntese dos compostos essenciais para a sobrevivência das espécies faz parte do metabolismo primário → fotossíntese. Os compostos sintetizados por outras vias e que aparentam não ter grande utilidade na sobrevivência das espécies fazem parte do metabolismo secundário, por isso são chamados compostos secundários. De acordo com Mann, os pontos de origem e produção dos compostos secundários diferenciados são: a) Ácido shiquímico → precursor de compostos aromáticos. b) Aminoácidos → fonte de alcaloides peptídeos. c) Acetato malonato → origina poliacetilenos, terpenos, esteroides e outros. Síntese dos metabólitos secundários → compostos ativos. CO2 + H2O (Fotossíntese) ↓ Glicose Eritrose Piruvato Shiquimato + Policetídeos =Flavonoide ↑ Shiquimato - Outros compostos Aromáticos (lignanas) ↓ Ciclo do Ác. Cítrico Aminoácidos Aromáticos 98 Aminoácidos - Alcaloide Policetídeos Acetato malonato ↓ Ac. Graxos Mevalonato - Terpenos, esteroides e carotenos ↓ Policetilenos e Antibióticos Alcaloides e terpenos são as classes químicas com mais potencialidades de fornecer compostos com atividade farmacológica. Alcaloides: nicotina, pilocarpina, vincristina, vimblastina, emetina, morfina, beberina, catequina, dopamina, efedrina, etc. Terpenos: citral, linalol, cânfora, carvacrol, carotenoides. Flavonoides: flavus → amarelo das flores (atração de polinizadores). São exclusivos de plantas superiores. Anti-inflamatório, fortalecem vasos capilares, antibacterianos, diuréticos, etc. Taninos: proteção da planta contra herbívoros, são adstringentes, provocam a contração de vasos capilares, cicatrização de queimaduras e antidiarreico. Óleos essenciais: substâncias voláteis conhecidas pelo aroma que caracteriza certas plantas, ex: mentol, eucaliptol. Propriedades: bactericida, antivirótico, antiespasmódico, analgésico, cicatrizante, expectorante, relaxante, vermífugo, etc. Cumarinas: gramíneas e umbelíferas são particularmente ricas em cumarinas, podem apresentar odor. Propriedades: antibacteriano, estimulam a pigmentação da pele. Antraquinonas: são purgativos, estimulam os movimentos peristálticos. Ácidos orgânicos: málico, cítrico, tartárico, oxálico, tartárico. Os ácidos têm ação laxativa, outros aumentam o fluxo de saliva, contribuindo para reduzir o número de bactérias que causam cáries. Geralmente os ácidos são laxativos e diuréticos. O ácido oxálico estimula o surgimento de cálculos renais e reduz a proporção de cálcio no sangue, afetando o coração. Mucilagens: laxativos, aumentam a secreção de muco. 99 Substâncias amargas: estimula no organismo o funcionamento das glândulas, produzindo vários efeitos: Aumenta a secreção de sucos digestivos, aguçando o apetite, e a produção e fluxo da bílis. Saponinas: formam espuma em água. Ação anti-inflamatória, laxativo suave, diurético e expectorante. Compostos fenólicos: originam diversos outros, como os taninos Ex: ácido salicílico, que tem ação antisséptica, analgésica e anti-inflmatória. Compostos inorgânicos: sais de cálcio e potássio → diuréticos. Cálcio → Formação da estrutura óssea. Sais de silício → Fortalecimento do tecido conjuntivo. 100 UNIDADE DIDÁTICA 4 Identificação botânica das espécies de plantas medicinais indicadas pelo SUS como fitofármacos/fitomedicamentos Objetivos: Identificar as principais famílias que caracterizam as 71 espécies de plantas medicinais indicadas pelo SUS. Conhecer as famílias consideradas mais tóxicas para o organismo humano entre as que constituem as plantas medicinais estudadas. Conhecer a importância das famílias em relação à produção de metabólitos secundários. Conhecer características básicas das famílias que caracterizam essas espécies de plantas medicinais. CRITÉRIOS DE UTILIZAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS As plantas podem ser usadas como remédio desde que utilizadas com critério. Esses critérios referem-se à identificação da doença, à escolha correta da planta (identificação botânica) a ser utilizada e à preparação adequada. Na medida do possível, devem-se utilizar plantas cujos efeitos tóxicos sejam bem conhecidos, evitando-se os excessos. É importante tomar cuidados quanto à forma de uso (banhos, infusão, etc.) das plantas a serem usadas. Outro critério que deve ser levado em conta é a dose. O uso contínuo de determinada planta, mesmo sem referência toxicológica, deve ser evitado. Sempre procurar orientação de um profissional de saúde. Famílias botânicas Caesalpiniaceae(Leguminosae), (Labiatae), Myrtaceae, estudadas: Compositae Fabaceae(Leguminosae), Zingiberaceae, Euforbiaceae, (Asteraceae), Lamiaceae Anacardiaceae, Umbeliferae (Apiaceae), Phyllanthaceae. Asteraceae (Compositae) Características botânicas: ervas ou subarbustos, menos frequente arbustos, pequenas árvores ou lianas, látex às vezes presente; espinhos presentes em algumas espécies. Folhas alternas, simples, sem estípulas, margem inteira ou mais 101 frequente serreada. Inflorescência do tipo capítulo envolvido por brácteas. Flores todas iguais entre si ou diferenciadas em flores do raio (as mais externas) e flores do disco (as mais internas). Corola geralmente pentâmera, gamopétala, estames cinco, ovário ínfero, bicarpelar. Fruto geralmente aquênio, com papilo normalmente persistente, auxiliando na dispersão. Características químicas: principais constituintes - flavonóides, lactonas, terpenos, sesquiterpenos e substâncias amargas. Fabaceae (Leguminosae) Características botânicas: ervas, arbustos, árvores ou lianas, folhas alternas, raramente opostas, geralmente compostas, com estípulas às vezes transformadas em espinhos. Inflorescência geralmente racemosa; flores vistosas ou não, geralmente bissexuadas, zigomorfas, diclamídeas ou raramente monoclamídeas (copaíba). Cálice pentâmero, dialissépalo ou gamossépalo. Estames geralmente em número duplo ao das pétalas, ocasionalmente em número menor, iguais ou numerosos (neste caso frequentemente vistoso), livres ou unidos entre si. Ovário súpero. Fruto legume. Características químicas: Esteróis, flavonoides, glicosídeos, antraquinonas, taninos, saponinas e alcaloides. Lamiaceae (Labiatae ) Características botânicas: ervas, arbustos ou árvores, folhas simples opostas ou verticiladas com limbo inteiro, denteado, lobado ou partido, revestidas de pelos glandulares que normalmente secretam essências aromáticas. Flores pequenas ou grandes, geralmente vistosas, reunidas em inflorescência derivada de ramos cimosos. São hermafroditas, diclamídeas, pentâmeras, bilabiadas com marcante zigomorfia (que em alguns casos é pouco pronunciada, ex: lavandula e mentha. Cálice tubuloso apresentando geralmente diferenciado em lábio superior (labrum) e inferior (labíolo). Androceu formado por dois a quatro estames. Fruto geralmente baga ou esquizocapo. Características químicas: óleos essenciais, terpenos e esteróis, flavonoides e raramente alcaloides. 102 Myrtaceae Características botânicas: árvores ou arbustos, raramente subarbustos, tronco geralmente com córtex esfoliante; folhas opostas ou menos frequente alternas, raramente verticiladas, simples, margem inteira geralmente coriácea. Inflorescência geralmente cimosa, às vezes reduzida a uma única flor; flores vistosas, geralmente de coloração branca, bissexuada, raramente unissexuada, actinomorfa, diclamídea. Estames em geral em número duplo ao das pétalas. Fruto: baga, drupa, cápsula ou núcula. Características químicas: taninos, flavonoides, óleos essenciais, vitaminas B e C. Zingiberaceae Características botânicas: ervas rizomatosas; folhas alternas, peniparalelinérveas; bainha geralmente aberta. Inflorescência cimosa; flores vistosas, bissexuada, zigomorfa, diclamídea, heteroclamídea; cálice trímero, gamossépalo, corola trímera com uma pétala maior que as demais. Fruto: cápsula com semente com arilo ou baga. Características químicas: óleos essenciais, flavónoides, ácido oxálico, taninos e mucilagens. Euphorbiaceae Características botânicas: ervas, arbustos, árvores ou lianas geralmente com látex; folhas alternas, raramente opostas ou verticiladas, simples ou menos frequente opostas, com estípulas, margem geralmente inteira, frequentemente com nectários extraflorais no pecíolo ou na face abaxial. Inflorescência cimosa ou racemosa, às vezes reduzida, formando uma estrutura semelhante à única flor. Flores não vistosas, unissexuada, actinomorfa, aclamídea às vezes envolvidas por brácteas vistosas. Cálice geralmente 3-6 mero, dialissépalo ou gamossépalo. Corola dialissépala ou gamopétala, ovário súpero. Fruto geralmente cápsula, raramente baga, drupa ou sâmara. Características químicas: aminoácidos, di e triterpenos, óleos essenciais, taninos, alcalóides, esteróis. 103 Phyllanthaceae Características botânicas: ervas, arbustos, árvores não latescentes; folhas alternas geralmente trifoliadas, com estipulas, margem geralmente inteira, sem nectários extraflorais. Inflorescência racemosa, às vezes uniflora. Flores não vistosas, unissexuada(plantas monóicas ou dióicas), actinomorfa, monoclamídea ou raramente diclamídea. Cálice geralmente 2-8(12)-mero, geralmente gamossépalo, perfloração valvar ou umbricada. Corola 5-mera, dialipétala; estames 2-14 frequentemente unidos entre si, anteras rimosas; ovário supero . Corola dialissépala ou gamopétala, ovário súpero. Fruto cápsula, com deiscência elástica (tricoca) semente sem carúncula. Ausência de latex e nectários extraflorais nas folhas. Características químicas: óleos essenciais, taninos, alcalóides, esteróis. Anacardiaceae Características botânicas: árvores ou arbustos, raramente lianas ou ervas aromáticas; folhas geralmente alternas, compostas ou menos frequente simples, sem estípulas, margem inteira ou serreada. Flores pouco vistosas, geralmente unissexuada, actinomorfa, diclamídea. Cálice pentâmero, dialissépalo ou gamossépalo; corola pentâmera, dialipétala ou gamopétala. Fruto: em geral drupa ou sâmara. Características químicas: compostos fenólicos (taninos, chalconas, flavonóides), esteroides, vitamina C. Apiaceae (Umbelifareae) Características botânicas: ervas, muito raramente arbustos ou árvores geralmente aromáticos; folhas alternas, simples ou compostas. Inflorescência do tipo umbela, mais frequentemente composta. Flores não vistosas, bissexuadas ou raramente unissexuadas, actinomorfa, diclamídea ou raramente monoclamídea. Cálice pouco desenvolvido e pentâmero, dialissépalo; corola em geral pentâmera dialipétala. Fruto: esquizocárpicos com mericarpos semelhantes a aquênios. Características químicas: óleos essenciais, alcaloides, flavonoides, ácidos, tanino, mucilagens, esteroides, vitaminas do complexo B. 104 UNIDADE DIDÁTICA 5 Formas farmacêuticas Objetivos: Conhecer os mecanismos de extração dos princípios ativos das plantas medicinais. Identificar as formas farmacêuticas de algumas plantas entre as 71 estudadas como as substâncias ativas agem no organismo humano. Conhecer os efeitos prejudiciais no organismo humano, resultado da manipulação e/ou formas farmacêuticas erradas. Conhecer a legislação sobre quem pode manipular, registrar, prescrever e formular produtos fitoterápicos. Vide Anexo E : Portaria 6 de 31 de janeiro de 1995 (ANVISA)- Institui e normatiza o registro de produtos fitoterápicos junto ao Sistema de Vigilância Sanitária. Portaria 123 de 19 de outubro de 1994 (M.S.)- Normas para o registro de produtos fitoterápicos. Portaria 22 de 30 de outubro de 1967(M.S) Normas para o emprego de preparações fitoterápicas 105 UNIDADE DIDÁTICA 6 Prática de identificação Objetivos: Identificar no Jardim Botânico in natura as espécies medicinais da lista do SUS. Material: livros, textos, data show, computador, coleção de plantas medicinais (jardim), herbário e ervanário da FZB-BH. 106 PLANTAS MEDICINAIS Achilea millefolium L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: mil folhas, macelão, milefólio, erva dos carpinteiros, atroveram, aquiléa. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Europa. Usos: diurético, anti-inflamatório, antiespasmódico, cicatrizante, carminativo, antidiarreico, no tratamento de hemorroidas, contusões, doenças da pele, feridas e dores musculares. Constituição química: óleo essencial com terpenos (cineol, cânfora, pinenos), taninos, mucilagens, resinas, saponinas, esteroides, flavonoides e cumarinas. Partes da planta a serem usadas: folhas e inflorescências. Como pode ser usada: infusão, decocção, suco, emplasto e pomadas. Curiosidade: da mitologia grega Aquiles foi ferido no calcanhar por uma flecha envenenada atirada por Páris. Afrodite usou essa planta para estancar a hemorragia. Também chamada de erva-do-carpinteiro. De acordo com a lenda, São José, trabalhando como carpinteiro, um dia feriu-se e o Menino Jesus foi buscar uma erva para curá-lo e trouxe a mil folhas. 107 Aloe vera (L.) Bum. F. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: erva-babosa, aloe-do cabo, babosa, babosa grande. Família: Aloeaceae (Liliaceae). Origem: sul da África. Usos: cicatrizante nos casos de queimaduras e ferimentos superficiais da pele, pela aplicação local do sumo fresco. Hemorroidas, contusões e dores reumáticas. Usado pelas mulheres no tratamento dos cabelos para dar brilho e força. Indicação confirmada: tratamento de queimaduras (1º e 2º graus) e de radiação. Constituição química: antraquinonas, aloinas e mucilagem constituída do polissacarídeo aloeferon. Partes usadas: gel mucilaginoso das folhas. Como pode ser usada: sumo fresco, alcoolatura e in natura. Uso tópico. Curiosidade: esta é uma das plantas de uso tradicional mais antigo que se conhece, inclusive pelos judeus, que costumavam envolver os mortos em lençol embebido no sumo de aloe, para retardar a putrefação, e no extrato de mirra, para encobrir o cheiro da morte. A babosa foi um dos ingredientes secretos da beleza de Cleópatra. Obs: ingerida em altas doses pode provocar nefrite aguda. 108 Artemisia absintium L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: losna, absinto, erva-dos-vermes, erva-santa, alvina, gotas-amargas. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Ásia, Europa e Norte da África. Usos: estimulante, tônico, vermífugo, distúrbios digestivos causados pelo mau funcionamento do fígado. Constituição química: óleo (tujona), sesquiterpenos (absintina), ácidos graxos, vitaminas B e C, flavonoides. Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: infusão e maceração das folhas, compressas e decocção. Curiosidade: seu nome vem do grego e significa: “privado de doçura”. Essa planta é citada num papiro egípcio que data de 1600 a.C. Os celtas e árabes aconselhavam seu uso e os médicos da Antiguidade tinham-na como símbolo das dificuldades e tristezas da vida. Obs: gestantes e crianças não podem usar. Pode causar (em altas doses) convulsões, perda de consciência, câimbras e alucinações. 109 Baccharis trimera (Less) D.C. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: carqueja, carqueja-do-mato, carqueja amarga, vassoura, tiririca-de-barbado. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Brasil. Usos: confirmado - dispepsias. Outros usos: tônico, estomáquico, afecções estomacais, intestinais e do fígado. Constituição química: polifenóis (proantocianinas), flavonoides, lactonas sesquiterpênicas, alcaloides, óleos voláteis, taninos, saponinas. Partes usadas: caule alados. Como pode ser usada: infusão. Curiosidade: cresce em terras secas, pedregosas, à beira das estradas. Há séculos é usada pelos índios para o tratamento de várias doenças. O primeiro registro sobre seu uso data de 1931, para o tratamento de esterilidade feminina e impotência masculina. Obs: não é recomendado o uso durante a gravidez. O uso constante pode causar diminuição do potássio no organismo. 110 Bauhinia forficata Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: pata de vaca, bauínia, miriró, capa de bode, pata de boi, pata de veado, unha de vaca. Família: Fabaceae (Leguminosae). Origem: Brasil. Usos: antidiabético, diurético, purgante e usado no tratamento da cistite e do diabetes. Constituição química: esteroides, flavonoides livres e glicosilados, alcaloides (trigonelina), antocianidinas, sistosterol, mucilagens, saponinas, taninos, triterpenoides. Partes usadas: toda a planta. Como pode ser usada: folhas, flores e cascas. Curiosidade: os primeiros estudos que confirmaram a atividade hipoglicemiante foram refutados por um estudo mais recente, publicado em 1990. A árvore apresenta espinhos, as flores são brancas com folhas coriáceas com aspecto de uma pata de vaca. Gênero dedicado aos irmãos Bahuin, botânicos suíços do século XVI. Obs: atividade mutagênica induzindo a formação de tumores. O consumo crônico pode levar ao hipotiroidismo e à formação de bócio. 111 Bidens pilosa Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: erva-picão, picão-do-campo, carrapicho, guambu, cuambu, carrapicho de duas pontas, carrapicho-agulha, piolho de padre. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: América tropical (Brasil: Pampa e Mata Atlântica). Usos: problemas hepáticos (icterícia e hepatite). Propriedades diuréticas e depurativas. Bactericida, anti-inflamatório e externamente no tratamento de micoses. Constituição química: flavonoides, esteróis ácidos graxos, taninos, poliacetilenos, fenilheptatrina (antibiótico citotóxico através da fotosensibilização). Partes usadas: toda a planta. Como pode ser usada: infusão e banho. Curiosidade: o picão é um tipo de carrapicho comum de terrenos baldios e estradas. Para disseminar suas sementes, tem a estratégia de grudar nos animais. O extrato bruto inibe a síntese da protaglandina, que é parte de um processo metabólico ligado à dor de cabeça e doenças inflamatórias. 112 Bryophyllum pinnatum Kurz. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: folha grossa, roda-da-fortuna, fortuna, folha-da-costa. Família: Crassulaceae. Origem: Ilhas Maurício ou África. Usos: emoliente, cicatrizante e anti-inflamatório (uso externo). Usado também no tratamento de úlceras gástricas e gastrite. Constituição química: hidrocarbonetos, álcoois, triterpenos, esteróis, flavonoides livres: quercetina. Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: cataplasma e suco. Curiosidade: a espécie Kalanchoe brasiliensis pode ser confundida com a Bryophyllum pinnatum, K. brasiliensis pode causar hipotiroidismo, por isso a importância da identificação correta da planta. Dizem que a folha da fortuna traz dinheiro a quem possuí-la. Mas seu valor está mesmo nas indicações medicinais, não há dinheiro que pague a saúde. 113 Calendula officinalis L. Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: calêndula, malmequer e maravilha-dos-jardins, maravilha dos jardins. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Europa. Usos: ação cicatrizante e antisséptica (uso externo), sudorífica, analgésica, anti-inflamatória e tonificante da pele (contra acne), manchas da pele, queimaduras. Constituição química: óleos essenciais, carotenoides, flavonoides (rutina e heperidina, mucilagens, saponinas, resinas e princípio amargo). Partes usadas: flores e folhas. Como pode ser usada: pomadas e tintura das flores e folhas, cataplasma e infusão. Curiosidade: na Espanha era considerada uma planta mágica. Para obter proteção contra todos os perigos, os feiticeiros aconselhavam a usar um talismã de calêndulas colhidas quando o sol estivesse entrando no signo de virgem, embrulhadas junto com um dente de lobo e várias flores de louro. Uma guirlanda de calêndulas na porta impede à entrada de qualquer tipo de mal. A menina que andar descalça em cima das pétalas de calêndula vai conseguir entender a linguagem dos pássaros. Obs: o uso interno dessa planta é proibido nos Estados Unidos e Europa. 114 Chamomilla recutita (L.) Rauschert Matricaria chamomilla L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: camomila, maçanilha, matricária, camomila- verdadeira. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Europa. Usos: sedativo, carminativo, carminativo, antiespasmódico, digestivo, cicatrizante, antivirótico (herpes), antisséptico, como cosmético (clareador dos cabelos). Constituição química: óleo essencial azul (abisabolol), polissacaridios, ésteres, flavonoides. Partes usadas: capítulos florais. Como pode ser usada: infusão, pomadas, cremes, loções e xampus. Curiosidade: os egípcios dedicavam a camomila ao sol e adoravam-na mais do que qualquer outra erva, pelas suas propriedades curativas. O nome “Matricaria” deriva do latim, “Mater”, ou talvez de “Matrix”, útero, por ser utilizada em doenças femininas. "Olho gordo". Obs: pode provocar dermatite de contato. 115 Chenopodium ambrosioides L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: ambrosina, mentruz, erva formigueira, mastruz, mastruço, erva-de-santa-maria, quenopódio. Família: Chenopodiaceae. Origem: América Central e América do Sul (Brasil). Usos: estomáquica, diurética, vermífuga, sudorífera, infecções pulmonares, cicatrizante. Constituição química: óleo essencial (ascaridol), proteínas, compostos flavônicos, vitamina C, ácidos e carotenoides. Partes usadas: folhas e flores. Como pode ser usada: infusão, sumo, cataplasma. Curiosidade: Chenopus - que tem os pés espalmados como de ganso. A estrutura da planta inteira é de pé de ganso, explicando a etimologia da planta. Colocar ramos da erva de santa maria debaixo dos colchões ou varrer a casa utilizando suas folhas como vassoura elimina e repele pulgas e percevejos. Obs: o óleo essencial da planta pode causar vômitos, lesões hepáticas e renais. A dose letal em ratos é de 0,075 mg/kg. 116 Cynara Scolymus L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: alcachofra, cachofra. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Mediterrâneo. Usos: depurativa do sangue, colagoga, hipoglicemiante, laxante, ativa a vesícula biliar, abaixa os níveis de colesterol (HDL) e açúcar do sangue e facilita a digestão Constituição química: flavonoides livres e glicosilados, óleos essenciais, cinarina e ácido cafeico. Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: decocção, tintura, vinho e extrato. Curiosidade: a alcachofra não é só uma planta alimentícia, mas uma erva medicinal que recebeu dos médicos árabes o nome de “al-kharsaf”. O nome genérico “cynara” vem do latim “canina” e refere-se à semelhança dos espinhos que a envolvem com os dentes de cachorro. As folhas devem ser colhidas antes da floração. 117 Equisetum hiemale L. Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: cavalinha, milho-de-cobra, erva-canudo. Família: Equisetaceae. Origem: América do Sul. Usos: problemas renais e obesidade. Constituição química: alcaloides piridínicos, nicotina, palustrina, flavonoides glicosilados, tiaminase. Partes usadas: hastes estéreis e folhas. Como pode ser usada: infusão. Curiosidade: a cavalinha é um dos seres vivos mais antigos do planeta. É mais antiga que as baratas que apareceram na Terra há 300 milhões de anos. No Paleozoico as cavalinhas gigantes mediam até 10 metros de altura e 2 metros de diâmetros. A magia também está presente na história da cavalinha. Com ela os pastores construíam pequenas flautas para espantar serpentes e encantar o ser amado... Obs: em excesso pode provocar carência de vitamina B. 118 Foeniculum vulgare Mill. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: funcho, fiolho, fiolho-doce, erva-doce, falso anis. Família: Apiaceae (Umbeliferae). Origem: Mediterrâneo. Usos: carminativo, digestivo, galactagogo, diurético, antiespasmódico, tônico. Constituição química: óleo essencial (anetol, funchona, foeniculina), proteínas, carboidratos, ácidos, cumarinas, flavonoides e esteroides. Partes usadas: folhas, frutos e raízes. Como pode ser usado: infusão, vinho medicinal, decocção. Curiosidades: em uso concomitante com substâncias anticancerígenas evitou o aparecimento das reações secundárias próprias da quimioterapia. Seu lado mágico: um saquinho perto do coração afasta o “olho gordo” e atrai bons fluidos. É uma proteção segura contra todos os ataques das feiticeiras, que fogem quando sentem o cheirinho doce e gostoso que busca o amor eterno e verdadeiro. Obs: o uso de mais de 20 g/L dessa erva pode ser convulsionante. 119 Malva sylvestris L. Fonte: Fernando Fernandes. Nome popular: malva. Família: Malvaceae Origem: África do Sul. Usos: emoliente, laxante, anti-inflamatória, béquico. Constituição química: ácido D-galacturônico, D-galactose, glucose, taninos e vitaminas. Partes usadas: folhas e flores. Como pode ser usada: gargarejo, infusão. Curiosidade: seus poderes mágicos são considerados imensos. Os vasos de malva protegem e melhoram a saúde e a fertilidade. Vasos dentro de casa perfumam o ambiente, evitam discussões e aumentam o carinho, o amor e a paz na família. 120 Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: espinheira-santa,espinho-de-deus,salva-vidas,cacrosa, cancerosa, maiteno. Família: Celastraceae. Origem: Brasil. Usos: gastrite, úlceras gástricas e duodenais, antitumoral, dispepsia e laxante. Constituição química: glicosídeos, alcaloides, polifenois, diterpenos, triterpenos e sesquiterpenos. Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: infusão, decocção e emplasto. Curiosidade: a espinheira santa tornou-se conhecida no mundo médico em 1922, quando o professor Aluízio França, da Faculdade de Medicina do Paraná, relatou o sucesso obtido com essa planta no tratamento da úlcera. Era usada como antitumoral pelos índios. No Paraguai, a população usava como contraceptivo; e na Argentina, como antiasmático e antisséptica 121 Mentha pulegium L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: erva-de-São-Lourenço, poejo-das-hortas, poejo real. Família: Lamiaceae (Labiatae). Usos: mucolítico, anticatarral, bronquite, coqueluche, leucorreia, afecções da pele. Constituição química: óleo essencial (pulejona, mentona, isomentona), flavonoides, ác. rosmárico. Parte usada: folhas Como pode ser usada: infusão. Curiosidade: o poejo é uma planta anual, rasteira e verdinha. Além da beleza, tem a qualidade de repelir os insetos. Evita enjoos nas viagens, devendo ser colocado nos sapatos. É uma erva de paz e, quando plantada perto de casa, acaba com as brigas do casal. Traz saúde e alegria às famílias. Obs.: sua administração em doses equivalentes a 5 g do óleo essencial tem ação abortiva e hepatotóxica, Nos EUA e Europa seu uso oral não é recomendável. 122 Ocimum gratissimum L. Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: alfavaca, alfavaca-cravo, alfavacão. Família: Lamiaceae (Labiatae). Origem: Brasil. Usos: carminativo, sudorífico, diurético, expectorante, bactericida e analgésico. Constituição química: óleos essenciais (eugenol, cineol), b-cariofileno, ocimeno e princípio balsâmico Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: infusão, xarope. Curiosidade: dentre as ações biológicas experimentadas, essa planta age como larvicida e repelente de insetos. Por seu sabor e odor semelhantes ao cravoda-índia, é usado como condimento na culinária. 123 Passiflora alata Curtis Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nome popular: maracujá. Família: Passifloraceae. Origem: Brasil. Usos: tranquilizante, miorrelaxante, calmante. Constituição química: alcaloide (passiflorina), glicossídios, flavonoides totais expressos na forma de isovitexina ou vitexina e flavonoides glicosilados. Partes da planta: folhas. Como pode ser usada: decocto e tintura. Curiosidades: o maracujá é originado da América tropical, que necessita de temperaturas elevadas e só se aclimata bem nas regiões temperadas. É uma trepadeira perene, que floresce na primavera e dá seus frutos no início do verão. Suas flores lembram os instrumentos utilizados na crucificação de Cristo, daí ser conhecida em outros idiomas como “flor-da-paixão”, e são de grande efeito ornamental. A polpa dos frutos é comestível, contém sementes que servem para preparar bebidas refrescantes. É rica em vitamina C. 124 Phyllanthus niruri L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: arranca- pedra, erva-pomba, quebra-pedra, saxifraga, conami, saudade -da- mulher. Família: Phyllanthaceae Origem: região tropical (Brasil). Usos: diurético, analgésico, litíase renal (pedra nos rins), antivirótico (hepatite b). Constituição química: flavonoides, lignanas, triterpenoides, alcaloide pirrolizidínico. Parte usada: toda a planta. Como pode ser usada: decocto e cápsula. Curiosidade: várias espécies de Phyllantus são usadas na medicina popular, mas das plantas conhecidas como quebra-pedra o Phyllanthus niruri é a mais ativa. Por causa da toxicidade, devido à presença de um tipo de alcaloide, não deve ser usado em altas doses e é conveniente interromper o uso do chá por uma semana após cada período de três semanas. Sua ação antiviral na hepatite B já é patente de um laboratório americano. 125 Plantago major L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: trançagem, tranchagem, trançage. Família: Plantaginaceae. Origem: Europa. Usos: expectorante, antidiarreica, cicatrizante, emoliente, depurativa, inflamações bucofaringeanas, dérmicas, gastrintestinais e das vias urinárias. Constituição química: flavonoides, esteroides, mucilagens, taninos, saponinas, ác. orgânicos e alcaloides. Parte usada: toda a planta. Como pode ser usada: infusão, gargarejo, cataplasma. Curiosidade: a trançagem exige muito sol, algumas espécies são usadas como hortaliças. Como dizem os raizeiros, é um ‘’santo remédio’’ para inflamações da garganta. As sementes funcionam também como laxantes. O gênero Plantago não apresenta referência alguma de toxicidade. 126 Plectranthus barbatus Andrews Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: boldo, boldo-do-reino, malva-santa, boldo peludo, falso boldo. Família: Lamiaceae (Labiatae). Origem: Nova Guiné Usos: dispepsia, azia, mal-estar gástrico, ressaca, como amargo estimulante da digestão e do apetite, ação hipossecretora gástrica. Constituição química: óleo essencial rico em guaieno e fenhona, triterpenos, esteroides. Partes da planta usada: folhas frescas. Como pode ser usada: sumo e tintura. Curiosidade: essa planta é extremamente comum nos quintais mineiros. Às vezes leva o nome de boldo-do-chile, o que é incorreto, pois o referido boldo é uma árvore com características morfológicas diferentes. Além disso, o boldo-do-chile é da família Monimiaceae. Obs: em altas doses pode causar irritação gástrica e aumentar a pressão arterial. 127 Ruta graveolens L Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nome popular: arruda, erva-arruda, ruta-fedorenta, ruta de cheiro. Família: Rutaceae. Origem: Europa e Ásia. Usos: reumatismo, flebite e vermífugo. Também usada para facilitar a menstruação. Eficiente na eliminação de piolhos e sarnas. Constituição química: óleo essencial (rico em metilcetonas), flavonoides (rutina), saponinas, alcaloides. Parte usada: folhas. Como pode ser usada: sumo e infusão. Curiosidade: na Idade Média, era considerada uma proteção poderosa contra as feiticeiras; e nos tribunais ingleses do séc. XVII ramos de arruda eram colocados nos bancos para evitar as doenças de cadeira. A arruda é usada em banhos para combater todos os tipos de mau-olhado. Leonardo da Vinci e Michelângelo afirmaram que graças aos poderes metafísicos da arruda, seu sentido criativo e a sua visão interior melhoraram consideravelmente. Os ladrões que roubavam as vítimas da peste negra protegiam-se com o chamado ”vinagre dos quatro ladrões”, que tinha em sua composição a arruda. Obs: pode provocar queimaduras na pele e morte em mulheres grávidas. 128 Solidago chilensis Meyen Solidago microglossa D.C. Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: arnica, arnica brasileira, erva-lanceta, arnica-silvestre, espiga-de-ouro. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Sul e Sudeste do Brasil. Usos: estomáquica, adstringente, cicatrizante, traumatismos e contusões. Constituição química: quercitina, flavonoide glicosídico, taninos, saponinas, óleos essenciais e ácidos. Partes usadas: folhas, rizomas e flores. Como pode ser usada: tintura ou maceração em álcool. Curiosidade: as inflorescências são apícolas. Suas atividades não foram ainda comprovadas cientificamente quanto à eficácia. Sua utilização vem sendo feita com base na tradição popular. No aspecto mágico: as asteraceas absorvem muita energia do sol, transmutando essa energia às pessoas que as cultivam. Obs: seu uso interno é considerado tóxico. 129 Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: barbatimão, paricarana, uabatimo, barba de timão. Família: Fabaceae (Leguminosae). Origem: Brasil. Usos: leucorreia, hemorragias, diarreia, conjuntivite, cicatrizante. Constituição química: taninos gálicos, mucilagens, flavonoides, corante vermelho, açúcar solúvel e alcaloides. Partes da planta a serem usadas: casca do tronco. Como pode ser usada: decocto, banhos. Uso tópico Curiosidades: antigamente as prostitutas usavam como adstringente, daí o nome de “casca da virgindade”. No Hospital do Câncer ,em Jaú, São Paulo, está sendo utilizado um medicamento feito com o decocto do barbatimão para prevenir queimaduras resultantes da radioterapia. 130 Handroanthus impetiginosus (Mattos) Tabebuia avellanedae Lor. Ex Griseb Fonte: Acervo Fundação Zoobotânica. Nomes populares: ipê-roxo, ipê-preto, lapacho, piúva, pau-d’arco-rosa. Família: Bignoniaceae. Origem: América no Brasil desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul . Usos: anti-infeccioso, antifúngico, diurético, adstringente, antitumoral, psoríase, inflamações da pele. Constituição química: naftoquinonas (lapachol, lapachona), quercetina e AC. hidroxibenzoico. Partes usadas: casca. Como pode ser usada: extrato aquoso, decocção, banhos. Curiosidade: várias substâncias isoladas dessa planta, principalmente o lapachol, têm apresentado nos ensaios farmacológicos atividade antineoplásicas, atividade antibacteriana (bactérias do gênero Brucella), atividade contra penetração de larvas de Shistossoma mansoni e, ainda, ação anticoagulante. Obs: seu uso em doses elevadas pode levar a perda de peso, anorexia e diarreia. 131 Glossário Abscesso Inchação causada por formação de pus ou acúmulo deste numa cavidade. Adstringente Agente que diminui ou impede a secreção ou absorção, causando sensação de secura e aspereza na boca. Afecção Doença Amenorreia Ausência de menstruação Analgésico Agente que acalma ou impede a dor Anestésico Agente que abranda ou tolhe a sensibilidade Antiácido Que neutraliza a ação dos ácidos Antidiarreico Agente que evita diarreia Antiemético Que previne o vômito Antiespasmódico Que age contra espasmos e dores agudas Antiescorbútico Agente que combate o escorbuto Antisséptico Que age contra infecções, destruindo ou inibindo a proliferação de microrganismos patogênicos Antitérmico Febrífugo Aperiente Que estimula o apetite Arteriosclerose Degeneração distúrbios e endurecimento circulatórios e das alterações artérias, nos produzindo órgãos, com enfraquecimento das artérias cerebrais e decadência psíquica Bacteriostático Antisséptico, que impede o desenvolvimento da bactérias Béquico Que combate a tosse (antitussígeno) Calmante O mesmo que sedativo Cardiotônico Que estimula e regula as contrações cardíacas Carminativo Agente que favorece e provoca a expulsão de gases intestinais Catártico Purgante mais enérgico que o laxante e menos drástico Cirrose Endurecimento de um órgão, em consequência a aumento de tecido conjuntivo Cistite Inflamação da bexiga Colagogo Que provoca e favorece a expulsão da bílis Depurativo Medicamento que libera o organismo e o sangue de substâncias tóxicas através da urina, das fezes ou do suor 132 Desobstruente Agente que combate as obstruções intestinais e hepáticas Diurético Que provoca a eliminação abundante da urina Eczema Doença de pele, com avermelhamento e prurido Edema Acúmulo patogênico de líquido proveniente do sangue Emenagogo Que restabelece o fluxo menstrual Emético Que provoca vômito Emoliente Substância capaz de amolecer ou abrandar uma rigidez local Enterite Inflamação intestinal Escorbuto Doença que ocorre em virtude de carência de vitamina C Estimulante Excita a atividade nervosa e vascular Estomáquico Agente que estimula a atividade secretora do estômago Expectorante A ação exercida sobre as vias respiratórias, ajudando a expulsar o catarro dos canais bronquiais Febrífugo Antipirético Flatulência Acúmulo de gases no tubo digestivo Galactagogo Agente que provoca ou aumenta a secreção do leite Hemostático Agente que auxilia no controle de hemorragias Hidropisia Acúmulo de líquido sérico nas células ou numa cavidade do corpo Hipoglicemiante Que diminui a taxa de glicose no sangue Hipotensor Que diminui a pressão arterial Histeria Psiconeurose que pode se manifestar por reações exteriores de agitação ou simulação de sintomas orgânicos diversos Laxativo / laxante Vide purgativo Leucorreia Secreção branca, vaginal ou uterina Mucilagem Substância amorfa de natureza polissacarídica que, na presença de água, origina soluções viscosas e não adesivas Peitoral Que cura doenças no aparelho respiratório Purgativo Substância que causa forte evacuação intestinal Resolutivo Que faz cessar uma inflamação Sedativo Agente tranquilizante do sistema nervoso central, sem provocar sono Terçol Pequeno abscesso na borda das pálpebras 133 Tônico Medicamento que excita a atividade orgânica, diminuindo a fadiga 134 REFERÊNCIAS BEZERRA, Prisco; FERNANDES, Afrânio Gomes. Fundamentos de taxonomia vegetal. Universidade Federal do Ceara. Brasília: PROED, 1984.150p. BOLMÉ, François. Plantas medicinais. São Paulo: Hernus, 1982. 398 p. BORNHAUSEN, Rosy L. As ervas do sítio: história, magia, saúde, culinária e cosmética. 2. ed. São Paulo, 1998. 207 p. CALIGARI, Peter Douglas Savaria (Volume editor); HIND, Nicolas (editor-in-chef); SMITH, Sal(Assistant editor). Compositae: biology e utilization Proccedings of the International Compositae Conference, Kew,1994 , v. 2, The Royal Botanic Gardens, Kew, Published 1996. 689 p. CRONQUIST, Arthur. An integrated system of classification of flowering plants. New York: Columbia University, 1981. CRONQUIST, Arthur. The evolution and classification of flowering plants,Second Edition. The New York Botanical Garden U.S.A.,1988. 555 p. CUNHA, Antonio Proença. Aspectos históricos sobre plantas medicinais, seus constituintes ativos e fitoterapia. Disponível em <http://www.antoniopcunha.com.sapo.pt>. Acesso em 20 de jan. de 2011. DALY, Douglas; CAMERON, Kenneth; STEVENSON, Dennis W. Plant systematic in age of genomics. Plant Physiologyv, v. 127, p.1328-1333, 2001. FORZZA Rafaela Campostrini et al. Lista de espécies da flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2010. GUIÃO, Marcos et. al. Plantas medicinais: cultivo, utilidades e comercialização. Belo Horizonte: EMATER- MG/Prorenda Rural, Ideal, Doces Matas, 1.ed. 2004. 192p. JOLY, Aylthon Brandão. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. São Paulo: Nacional, 1983, 777 p. KISSMANN, Kurt Gottfried; GROTH Doris. Plantas infestantes e nocivas. Vol. II, São Paulo: Basf Brasileira Sociedade Anonima. 1991-1992. 798p MARTINS, Ernane Ronie; CASTRO, Daniel Melo de; CASTELLANI, Débora Cristina. Plantas medicinais. Viçosa: UFV-MG, 1995. 220p. ISBN 8572690115 QUER, Pio Font. Plantas medicinais (el dioscórides renovado). Barcelona: Labor, 1993. v. 3. ISBN 84-335-0084-8 (obra completa) RAVEN, Peter H., Biologia Vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 135 REBECCA, Marcelo Alessandro et al. Toxicological studies on Stryphnodendron adstringens. Journal of Ethnopharmacology, v. 83, n. 1-2, 2002. 104p. SIMÕES, Cláudia Maria Oliveira et al. Farmacognosia da planta ao medicamento. 5.ed. Florianópolis: UFSC, 2004. 1102p. ISBN 8570256825 SIQUEIRA, N.C.S.; ALICE, C.B.; THIESEN, F.V. Aspectos farmacológicos e perfil cromatográfico dos constituintes de Baccharis articulata LAM. (Pers.) Compositae. Caderno de Farmácia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 4, n. 1/2, p. 1988. 76p 136 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO CURSO DE FITORERAPIA Curso “Fitoterapia para profissionais da saúde (abordando as espécies medicinais indicadas pelo SUS)” Aluno ____________________________________ Data: ___/___/____ Data do curso: 25, 26/03 e 1o,02/04/2011 Carga horária: 25 horas Avaliação de Reação Esse instrumento pretende avaliar o curso, considerando quatro aspectos fundamentais: 1. No treinamento; 2. Os materiais didáticos; 3. O instrutor; 4. A aplicabilidade do conteúdo em seu trabalho, dessa forma, auxiliando no aperfeiçoamento de nosso trabalho. Ao preencher, expresse sua opinião verdadeira, não havendo necessidade de assinar a folha ou identificar-se. Assinale com um “X” a resposta que estiver mais próxima de sua opinião. No treinamento Os objetivos foram informados de forma clara: ☺ ótimo bom regular insatisfatório Comentários: __________________________________________ _____________________________________________________ O conteúdo atendeu suas expectativas: ☺ ótimo bom regular insatisfatório Comentários: __________________________________________ _____________________________________________________ A carga horária foi suficiente: ☺ ótimo bom regular insatisfatório Comentários: __________________________________________ _____________________________________________________ O material didático Possibilitou a compreensão do conteúdo: ☺ ótimo bom regular insatisfatório Comentários: __________________________________________ _____________________________________________________ 137 O instrutor Esteve sempre disposto a esclarecer as dúvidas que surgiram: ☺ ótimo bom regular insatisfatório Comentários: ___________________________________________ ______________________________________________________ A aplicabilidade Esse curso possibilitará que você realize um trabalho mais eficiente: ☺ ótimo bom regular insatisfatório Comentários: ___________________________________________ ______________________________________________________ Sugestões: ______________________________________________________ 6. Sua profissão e local de trabalho: _____________________________________________ 138 APÊNDICE C – EXEMPLOS DE QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS Fig. 1 folha 1 do questionário Fonte: Dados da pesquisa 139 Fig. 2 folha 2 do questionário Fonte: Dados da pesquisa. 140 APÊNDICE D - APRESENTAÇÃO MULTIMÍDIA UTILIZADA NO CURSO DE FITOTERAPIA Histórico e critérios de utilização das plantas medicinais Sistemática vegetal Metabolismo secundário Formas de preparo Famílias tóxicas 141 142 143 144 145 146 APÊNDICE E – CERTIFICADO ENTREGUE AOS PARTICIPANTES DO CURSO DE FITOTERAPIA Certificado Certificamos que Carolina Carvalho Oliveira S ilva participou do Curso “ Fitoterapia para profissionais da saúde no Conselho Regional de Biologia e Jardim Botânico da Fundação ZooBotânica de Belo Horizonte, nos dias 25 e 26 de março, 1 e 2 de abril totalizando 25 horas Belo Horizonte, 2 de abril de 2011 _________________________ Albina Carvalho O. Nogueira Instrutora ______________________ Gladstone C. Araújo Presidente do CRBio-04 _______________________ Evandro X. Gomes Presidente da FZBBH 147 ANEXO A - CURSOS DE FITOTERAPIA PESQUISADOS E ANALISADOS Curso 1 (FACULDADE EFICAZ E CENTRO EDUCACIONAL DE MARINGÁ ),2009 Nível: Pós-graduação em Fitoterapia Carga horária: 360 h Ano: 2009 Conteúdo: Introdução à educação à distância. Metodologia de pesquisa. Introdução à fitoterapia. Métodos extrativos de princípios ativos e validação de métodos analíticos. Cultivo Orgânico de plantas medicinais e manipulação de fitoterápicos. Plantas medicinais tóxicas. Plantas que agem no sistema digestivo e geniturinário. Fitoterapia na atenção básica à saúde. Plantas que agem no sistema cardiovascular. Respiratório, nervoso central e sistema imunológico. Fitoterapia oriental. Fitoterapia no Brasil. Organização de serviços de fitoterapia em unidades de saúde. Importância das plantas na cosmetologia e Curso 2 – (CENTRO UNIVERSITÁRIO BARRIGA VERDE), 2007 Fitoterapia Médica Ano: 2007 Nível – Pós-graduação lato sensu Carga horária: 360 h Conteúdo: Bases conceituais da fitoterapia. Aspectos históricos, legais e éticos. Mercado de fitoterápicos. Botânica e etonobotânica aplicadas à fitoterapia. Visita ao horto de plantas medicinais com aula de campo. Fitoquímica, farmacologia e clínica. Estudo das ações farmacológicas, mecanismos de ação das principais drogas e extratos, suas aplicações clínicas com 8 horas de atendimento ambulatorial por mês. Monografias. Didática do curso superior. Curso de especialização exclusivo para médicos (em que ministrei aulas de botânica e etnobotânica) Curso 3 – (COLÉGIO BRASILEIRO DE ACUPUNTURA), 2009 Formação de especialistas em Fitoterapia Nível – Pós-graduação latu sensu Carga horária: 360 h 148 Ano: 2010 Conteúdo: História e fundamentos de Fitoterapia. Botânica. Tópicos da relação entre classes de produtos naturais. Farmacologia aplicada. Fitoquímica. Controle de qualidade de plantas medicinais. Farmacognosia. Toxicologia préClínica. Fitoterapia clínica. Farmacotécnica (noções). Seminários de monografias. Atividades. Curso 4 – (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FITOTERAPIA),2009 Plantas Medicinais e fitoterápicos para médicos e farmacêuticos Nível – Extensão carga horária: 60 h Ano: 2009 Conteúdo: Aspectos históricos, de mercado, legais e éticos. Fitoquímica e farmacologia. Noções de farmacotécnica aplicadas. Aspectos tradicionais em Fitoterapia. Parâmetros e técnicas de formulação e prescrição. Aspectos de segurança e interações no uso de fitoterápicos e alimentos funcionais. Orientação e preparação caseira de fitoterápicos e alimentos funcionais. Fitoterápicos e doenças do sistema respiratório, digestório, sistema desintoxicante, sistema imune, sistema músculo-esquelético, antioxidante, da carcinogênese e do envelhecimento Curso 5 – (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FITOTERAPIA),2009 Plantas Medicinais e fitoterápicos em nutrição (semipresencial) Nível – Extensão carga horária: 60 h Ano: 2009 Conteúdo: Aspectos históricos, de mercado, legais e éticos. Fitoquímica e farmacologia. Noções de farmacotécnica aplicadas. Aspectos tradicionais em Fitoterapia. Parâmetros e técnicas de formulação e prescrição. Aspectos de segurança e interações no uso de fitoterápicos e alimentos funcionais. Orientação e preparação caseira de fitoterápicos e alimentos funcionais dos sistemas Curso 6 – ( CONSELHO BRASILEIRO DE FITOTERAPIA),2011 Curso Multidisciplinar de Fitoterapia 149 Nível – Extensão carga horária: 60 h Ano: 2011 Conteúdo: Como prescrever fitoterápicos e plantas medicinais. Etnofarmacologia. Uso e aplicações de plantas medicinais. Farmacognosia e farmacobotânica. Insumos fitoterápicos e formas de uso. Agronomia, biotecnologia e plantas orgânicas. Fitoquímica, fitocomplexos e marcadores em plantas medicinais e fitoterápicos. Farmacologia básica e clínica. Uso e aplicação de plantas medicinais (sistema digestório). Sinergismo entre plantas medicinais, fitocosméticos e fitocosmescêutica. Plantas medicinais e fitoterápicos na nutrição. Fito-hormônios. Síndrome metabólica, uso e aplicação de plantas medicinais - veterinária e odontologia. Vigilância sanitária. Aplicação de plantas medicinais na dor. Curso 7- (INSTITUTO DE ESTUDOS CULTURAIS E AMBIENTAIS),2010 Fitoterapia e Fitocosmética Nível – Complementar carga horária: 12 h Conteúdo: Saúde e beleza com as plantas medicinais. Pronto-socorro verde. Reconhecimento das espécies medicinais. Principais ativos vegetais. Sucos de clorofila. Ervas para o rejuvenescimento. Manipulação: extrato, xarope, tônicos, óleos de massagem, creme e loção. Atividades programadas Curso 8 – (ENSINO NACIONAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA),20010 Legislacao dos fitoterápicos Nível – Complementar carga horária: 60 h Ano: 2010 Conteúdo: Introdução sobre fitoterapia e seu histórico. Estudo das plantas medicinais. Exemplo de plantas medicinais. Princípio ativo. Aplicações terapêuticas das plantas medicinais. Uso correto das plantas medicinais. Do saber popular e científico. Diferentes formas de uso popular. Fitoterapia: do saber popular. Ilustração de algumas plantas. Uso e preparo de algumas plantas medicinais: manjericão, girassol, alecrim de jardim, angélica, aroeira, avenca, maracujá, alfafa e agrião. Dicas de utilização e benefícios. Toxicidade das plantas. Mercado dos 150 medicamentos fitoterápicos. Plantio, cultivo e utilização das plantas. Legislação dos fitoterápicos. Curso 9 – (CARRARA),2011 Projeto Pedagógico do Curso de Fitoterapia Nível – Complementar Carga horária: 12 h Ano: 2010 Conteúdo: Breve resumo histórico sobre a experiência popular no tratamento das doenças. Indígenas. Negros. Europeus. Técnicas de herborização. Técnicas de coleta de insumos para fitoterapia. Noções de Antropologia. Introdução à botânica sistemática. Estudo geral sobre as principais divisões do reino vegetal. Início do estudo sobre as angiospermas. Estudos das principais diferenças entre a classe das dicotiledôneas e das monocotiledôneas. Estudo da morfologia externa das angiospermas (monocotiledôneas e dicotiledôneas) com a análise das diversas características das raízes, caules, folhas, flores, frutos e sementes. Excursão ao Jardim Botânico, com o objetivo de identificar espécies medicinais, recolher amostras para o herbário da turma e identificar as principais classes e famílias. Estudo das principais plantas medicinais utilizadas no Brasil. História terapêutica das plantas medicinais mais importantes e reconhecidamente ativas, tais como a quina, o guaraná, a ipeca, a sapucainha, a noz de cola, o quebra-pedra, a erva-de-Santa Maria, o saião, o mastruço ou a espinheira-santa. Biopirataria. Estudo das principais doenças tratadas pelos praticantes da medicina popular no Brasil: bronquite, câncer, pneumonia, dermatoses, reumatismo, dores, espinhela-caída, quebrante, mauolhado. História da fitoterapia no Brasil. Plantas africanas e europeias introduzidas no Brasil. Cultivo e comercialização. Fitoterapia francesa, ayurveda e chinesa Curso 10 – (BARROS), 2006 Curso de Fitoterápicos UFMG Nível – Extensão carga horária: 24 h Ano: 2006 Conteúdo: Preparo e identificação botânica de plantas medicinais. Cultivo e produção de mudas de plantas medicinais. Referenciamento da matéria-prima 151 vegetal. Selo verde: controle de qualidade. Farmacognóstico de plantas medicinais e matéria-prima vegetal. Introdução aos métodos na pesquisa etnobotânica. Preparo de extratos e extração de óleos essenciais de plantas medicinais. Controle de qualidade farmacotécnica. Educação ambiental em plantas medicinais. Pós-colheita e comercialização das plantas medicinais. Critérios de qualidade e segurança na preparação e utilização de remédios caseiros com plantas medicinais. 152 ANEXO B - DIVULGAÇÃO DO CURSO Foto da publicação do Diário Oficial do Município em que foi publicado a oferta do curso de Fitoterapia para profissionais da saúde. Fonte: Diário Oficial do Município,2011 Publicação do site do Sindicato dos farmacêuticos do Estado de Minas Gerais em que foi divulgado o curso de Fitoterapia. 153 Fonte: Sindicato dos farmacêuticos do Estado de Minas Gerais,2011. Publicação do site do Conselho Regional de Biologia em que foi divulgado o curso de Fitoterapia. 154 Fonte: Biologia em rede, 2011 155 ANEXO C – LEGISLAÇÃO VIGENTE SOBRE FITOTERÁPICOS Segundo Panizza(2010) a Assistência Nacional de Vigilância Sanitária institui e normatiza o registro de produtos fitoterápicos junto ao Sistema de Vigilância Sanitária. Panizza(2010) cita as portarias que estabelecem normas para o emprego de preparações fitoterápicas, registro e estabelece quais são os profissionais que podem prescrever e os que são habilitados a recomendar fitoterápicos. Plantas que necessitam de prescrição médica (tarja vermelha): ● Arctostaphylos uva-ursi (uva-ursina); ● Cimicifuga racemosa (cimicífuga); ● Echinacea purpurea (equinácea)' ● Ginkgo biloba (ginkgo); ● Hypericum perforatum (hipérico); ● Piper methysticum (kava-kava); ● Serenoa repens (saw palmeto); ● Tanacetum parthenium (tanaceto); ● Valeriana officinalis (valeriana). OBS: na forma de droga seca para fazer infusão e decocção (chá) ou como fitoterápicos manipulados (isentos de registro na ANVISA) essas plantas podem ser recomendadas por profissionais não-médicos. Plantas que podem ser manipuladas com recomendação de terapeuta ● plantas constantes em edições da Farmacopéia Brasileira; ● plantas constantes no Formulário Nacional; ● plantas constantes em obras equivalentes, a saber, as farmacopéias alemã, americana, argentina, britânica, européia, francesa, japonesa, mexicana e portuguesa. No bloco de recomendação terapêutica para plantas medicinais ou fitoterápicos deverá ter: nome do profissional, profissão e especialidade, número do registro de conselho de classe, nome popular seguida de nome científico, modo de preparo com quantidade s específicas, posologia e tempo de uso, data, assinatura ou carimbo profissional, endereço e telefone do profissional. 156 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FITOTERAPIA. Introdução a plantas medicinais e fitoterapia. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em <www.abfit.org.br/eventosecursos.shtml>. Acesso em 15 de junho de 2010. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FITOTERAPIA. Plantas Medicinais e fitoterápicos em nutrição (semipresencial). Rio de Janeiro,2009. Disponível em <www.abfit.org.br/eventosecursos.shtml>. Acesso em 15 de junho de 2010. BARROS, Ana Maria. Curso de Fitoterápicos. Disciplina do mestrado em Ciências Farmacêuticas Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2006. CARRARA, Douglas. Projeto Pedagógico do Curso de Fitoterapia. 2011. Disponível em <www.recantodasletras.com.br/artigos/2204296>. Acesso em 5 março de 2011. CENTRO UNIVERSITARIO BARRIGA VERDE. Fitoterapia Médica Pos graduação Latu sensu. Santa Catarina, 2007. Disponível em <www.fitomedica.com.br/fitoterapia medica.htm> . Acesso em 2 de julho de 2010. COLEGIO BRASILEIRO DE ACUPUNTURA. Formação de especialistas em Fitoterapia. Belo Horizonte, 2009. 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