Tendências Consultoria Integrada Rua Estados Unidos, 498 Jardim Paulista 01427-000 – São Paulo – SP Tel: 5511 3052 3311 Fax: 5511 3884 9022 www.tendencias.com.br Impactos Econômicos da Internet das Coisas no Brasil Julho/2016 Tendências Consultoria Integrada Rua Estados Unidos, 498 Jardim Paulista 01427-000 – São Paulo – SP 1 Tel: 5511 3052 3311 Fax: 5511 3884 9022 www.tendencias.com.br 1 2 Impactos Econômicos da Internet das Coisas no Brasil ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 4 2 ARCABOUÇO CONCEITUAL ................................................................... 6 3 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................... 9 4 3.1 IMPACTOS DA DIFUSÃO DOS COMPUTADORES SOBRE A PRODUTIVIDADE .................. 9 3.2 IMPACTOS ECONÔMICOS DA DIFUSÃO DA BANDA LARGA ....................................12 EFEITOS DE LONGO PRAZO SOBRE O PIB E O EMPREGO .................... 15 4.1 IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA GLOBAL.......................................................15 4.2 IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA ..................................................17 5 RECURSOS NECESSÁRIOS .................................................................. 24 6 CONCLUSÕES ..................................................................................... 28 EQUIPE RESPONSÁVEL ............................................................................. 31 3 INFORMAÇÕES IMPORTANTES A FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES (“FEBRATEL”) é uma entidade sindical patronal de segundo grau cuja missão é defender os interesses das empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, cujas atividades estão definidas e regulamentadas na Lei Geral de Telecomunicações, incluindo-se as empresas de TV por assinatura (cabo) e as empresas que fazem planejamento, projetos, implantação e manutenção de serviços de telecomunicações para as empresas concessionárias, autorizatárias ou permissionárias de serviços de telecomunicações, tendo como base todo o território nacional. A Tendências Consultoria Integrada (“Tendências”)1 foi contratada pela FEBRATEL para, em parceira com a Teleco, elaborar este estudo econômico sobre considerações econômicas e impactos decorrentes da Internet das Coisas, no âmbito do Projeto Internet das Coisas no Brasil (IoT Brasil). As informações utilizadas para a elaboração do Parecer contêm dados provenientes de informações fornecidas pela FEBRATEL, bem como em estimativas elaboradas pela Tendências, com base em informações públicas sobre o setor de atuação da FEBRATEL, incluindo matérias e artigos disponibilizados pela mídia especializada e devidamente identificadas ao longo do trabalho. A Tendências empregou os melhores esforços para a coleta dos dados contidos neste Parecer visando que estes fossem os mais atualizados, corretos e precisos, além da isenção nas opiniões e conclusões apresentadas no Relatório. A elaboração deste Parecer não incluiu a verificação independente dos dados e das informações fornecidas ou dados públicos utilizados. Este Parecer não é indicativo, de nenhuma forma e em nenhum nível, de resultados futuros reais, os quais poderão ser materialmente diversos, para mais ou para menos, do que estes aqui apresentados. Tendências Consultoria Integrada Rua Estados Unidos, 498 Jardim Paulista 01427-000 – São Paulo – SP Telefone: 5511 3052 3311 Fax: 5511 3884 9022 www.tendencias.com.br 1 4 Impactos Econômicos da Internet das Coisas no Brasil 1 Introdução A internet serviu inicialmente para permitir o tráfego de informação entre computadores, e expandiu-se desde então para conectar os mais variados tipos de objetos. A 5ª Geração da telefonia celular (5G), por exemplo, está sendo projetada para permitir a conexão de bilhões de dispositivos à internet. A conexão entre “coisas” permite a otimização e automação de processos, e pode levar a um ganho brutal de produtividade na economia. As possibilidades trazidas pela conexão de grandes quantidades de objetos distintos constituem o que veio a ser denominado de Internet das Coisas (“Internet of Things” ou “IoT”), tema dos mais relevantes em tecnologia das comunicações no mundo. Como qualquer outra tecnologia altamente inovadora, a difusão da IoT e o seu impacto sobre a economia brasileira dependem de diversos fatores. É importante enfatizar os elementos complementares que facilitam o processo de adoção destas tecnologias. A presença destes elementos - tais como tecnologia de comunicações, infraestrutura e recursos humanos - é fundamental para o potencial inovador da IoT sobre a produtividade da economia. Por se tratarem de tecnologias caras e complexas, também são fundamentais os recursos para investimentos e um adequado ambiente mecanismos de regulatório, coordenação com entre proteção os à propriedade participantes para intelectual e assegurar a interoperabilidade dos sistemas por meio da padronização. Da mesma forma, por se tratar de tecnologia de propósito geral, em diversos aspectos a IoT assemelha-se aos ciclos de difusão de novas tecnologias presenciados no passado. Por se tratar de tema relativamente recente, o assunto carece de estudos acadêmicos nos quais possamos nos balizar. Em razão da relevância e do potencial transformador da IoT, propõe-se um estudo de seus principais impactos sobre a economia brasileira. Após esta breve introdução, apresentamos na Seção 2 o arcabouço conceitual derivado da moderna Teoria do Crescimento utilizado para discutir os potenciais impactos da IoT sobre a economia. A Seção 3 discute a controvérsia que ocorreu na literatura econômica nos anos 1990 sobre os efeitos da introdução dos computadores na produtividade das economias. Também são analisados os efeitos econômicos da difusão da internet banda larga sobre o PIB e o emprego em diversos países. A seção 4 discute alguns estudos de consultorias internacionais que procuram quantificar o impacto da IoT no Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Embora a 5 IoT tenha aplicações nas áreas residencial (automação) e de serviços, o foco será na sua utilização no setor industrial (“Industrial Internet of Things” ou “IIoT”). Apresenta a estimativa para o impacto da IIoT no Brasil, assim como a posição do país em um ranking que mede o grau de preparo das economias para aproveitar as oportunidades oferecidas por estas novas tecnologias. Por meio de uma estimação do impacto da IIoT sobre a PTF, analisa o efeito não-transitório de um choque no investimento em tecnologia de informação e comunicação (“Information and Communication Technology” ou “ICT”) sobre o crescimento brasileiro de longo prazo e analisa os resultados de estudos acadêmicos da difusão de tecnologias de propósito gerais sobre o PIB e emprego. Por fim, a seção 5 faz uma breve reflexão sobre os recursos necessários para que a IoT se dissemine no Brasil. Enfatiza os recursos humanos, cuja demanda será estimada a partir da Matriz de Insumo-Produto brasileira, pois embora esta tecnologia seja uma oportunidade para criar empregos de boa qualidade no futuro, a restrição de mão de obra qualificada pode ser um fator limitante para a expansão da IoT no Brasil. A seção 6 apresenta um sumário com as principais conclusões do trabalho. 6 2 Arcabouço Conceitual Esta seção tem como objetivo apresentar o arcabouço conceitual que balizará a discussão apresentada nas próximas seções a respeito dos potenciais impactos da disseminação da IoT sobre o crescimento econômico do país. De forma simplificada, serão apresentados os principais conceitos subjacentes aos estudos econômicos sobre crescimento, inovação e tendências de longo prazo. Os fatores que determinam o nível de renda dos países e o seu crescimento no longo prazo 2 têm sido amplamente estudados pelos economistas. De modo geral, o entendimento mais recente na literatura é o de que o valor dos bens e serviços produzidos por um país ao longo de um determinado intervalo de tempo está associado aos recursos disponíveis na economia e à eficiência na utilização destes insumos. A esta associação entre o produto agregado (PIB) e os insumos os economistas dão o nome de função de produção agregada. Trabalhos na área de crescimento econômico tipicamente consideram os seguintes insumos na função de produção agregada: (i) Trabalho: corresponde ao total de pessoas empregadas no país; (ii) Capital Físico: conjunto de máquinas, equipamentos e construções à disposição da atividade produtiva. Estes ativos sofrem depreciação ao longo do tempo e, portanto, precisam ser continuamente repostos. Também pode ocorrer depreciação por obsolescência tecnológica, que eleva os custos de operação e manutenção de gerações mais antigas de máquinas e equipamentos, reforçando a necessidade de reposição constante; e (iii) Capital Humano: termo que pode ser entendido como uma medida da qualificação da mão de obra. Busca-se através dele incorporar o papel da educação formal para o crescimento econômico dos países, embora o capital humano também possa ser acumulado por meio da experiência no exercício das tarefas ou treinamento no próprio ambiente de trabalho. Apesar de estes insumos desempenharem papel relevante no crescimento econômico de curto prazo, as pesquisas desenvolvidas ao longo das últimas décadas na área de crescimento apontam para uma menor relevância destes fatores na compreensão da evolução do produto per capita no longo prazo, principalmente para as nações mais desenvolvidas, que já acumularam maiores quantidades de capital físico e humano. O entendimento dos economistas é o de que variáveis como a taxa de poupança – a qual determina o montante de investimentos da economia e, deste modo, a acumulação de capital físico – a taxa de crescimento populacional, a taxa de 2 O longo prazo neste contexto refere-se a um período de décadas à frente. 7 depreciação do capital e mesmo o nível educacional da população afetam o nível da renda per capita no longo prazo, mas têm impactos apenas transitórios sobre a taxa de crescimento do país. Segundo a Teoria Econômica, este resultado é decorrente dos retornos decrescentes de escala dos fatores de produção, isto é, dos ganhos cada vez menores advindos da acumulação de insumos. A literatura empírica e teórica sugere que unidades adicionais de capital (físico e humano), bem como de trabalho, levam a uma adição cada vez menor de produto. Desta forma, um aumento da taxa de poupança levaria apenas a um crescimento temporário do produto per capita, aumentando o nível de renda da população no longo prazo, em detrimento do consumo presente. Em função desta característica intrínseca ao processo produtivo, o crescimento econômico de longo prazo parece estar atrelado a outros fatores de difícil percepção e mensuração. Estes fatores compõem o que foi definido acima como a “eficiência na utilização dos insumos”, termo conhecido na literatura econômica como Produtividade Total dos Fatores (PTF). Nos últimos 60 anos3 foram empregados esforços pelos pesquisadores para tentar entender os condicionantes da chamada PTF, dada a sua elevada importância na explicação do crescimento econômico de longo prazo e das (enormes) diferenças de renda per capita entre os países. Apesar dos seus componentes serem de difícil mensuração, esta medida da eficiência agregada da economia (em geral, encontrada como resíduo) é percebida atualmente como variável-chave para o entendimento do crescimento econômico de longo prazo, também chamado de produto potencial do país. De modo simplificado, pode-se dizer que a PTF corresponde a uma alteração na função de produção agregada, isto é, na relação definida entre produto e insumos. Esta variável captura variações no produto que não podem ser explicadas por mudanças no acúmulo de insumos (trabalho, capital físico e capital humano). Segundo a Teoria Econômica, diversos fatores podem ocasionar uma mudança na função de produção agregada, dentre os quais merecem destaque as transformações tecnológicas, choques externos, além de mudanças institucionais e organizacionais. Conforme discutido acima, ao longo das últimas décadas, os diversos modelos de crescimento econômico buscaram compreender o papel de cada um dos fatores mencionados sobre a evolução da PTF. Inicialmente, o entendimento dos economistas era o de que variações na PTF e, consequentemente, nas taxas de crescimento (da O artigo-mãe sobre crescimento econômico foi escrito por Robert Solow na década de 1950. Vide: Solow, R. (1956). A Contribution to the Theory of Economic Growth. The Quarterly Journal of Economics, The MIT Press, Vol. 70, No 1. 3 8 renda per capita) entre os países, seriam o resultado de uma evolução diferenciada da fronteira tecnológica entre as nações. Avanços tecnológicos, ou mesmo novas técnicas de produção baseadas em tecnologias já estabelecidas, possibilitam a incorporação de maiores ganhos de produto para um mesmo montante de insumos, atenuando os retornos decrescentes de escala. Os trabalhos recentes sobre crescimento, no entanto, ponderam que as transformações tecnológicas são apenas a face mais nítida do aumento de produtividade característico das economias de mercado. Segundo esta literatura, o desenho institucional tem papel preponderante sobre a capacidade produtiva e de geração de renda da economia. Isto porque são as regras institucionais que determinam o ambiente no qual as decisões econômicas são tomadas, inclusive as relativas aos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), os quais formam a base para a expansão e a adoção de novas tecnologias (as quais, como visto, geram ganhos de produtividade). Tendo em vista esta breve introdução ao arcabouço conceitual das teorias recentes sobre crescimento, tornam-se nítidos os potenciais impactos econômicos da IoT para o país. Esta tecnologia emergente pode gerar – assim como ocorrido com outros avanços tecnológicos recentes – elevados ganhos de produtividade, os quais se refletirão em um maior crescimento da renda per capita no longo prazo. Conforme exposto acima, isto se deve ao potencial que a incorporação de novas tecnologias e técnicas de produção tem para gerar um montante maior de produto com a mesma quantidade de insumos. É necessário ressaltar, no entanto, que a concretização deste potencial depende não apenas do desenvolvimento da tecnologia, mas também de um ambiente institucional e econômico favorável para a sua disseminação. Como exposto, a literatura recente sobre crescimento tem enfatizado o papel do arcabouço institucional e regulatório para a obtenção dos ganhos de produtividade, inclusive daqueles advindos da adoção de novas tecnologias. Os potenciais ganhos de produtividade da IoT, bem como as medidas necessárias para que estes se concretizem, serão discutidos em maior profundidade nas seções adiante. 9 3 Revisão da literatura Esta seção discute algumas conclusões da literatura técnica e científica sobre o impacto de IoT na economia. Houve nos anos 1990 um amplo debate sobre os efeitos da introdução dos computadores na produtividade das economias, cujas conclusões são aqui apresentadas em razão da analogia com o caso de IoT. Também são analisados os efeitos econômicos da difusão da internet banda larga sobre o PIB e o emprego em diversos países. 3.1 Impactos da produtividade difusão dos computadores sobre a Por se tratar de um tema recente, a literatura econômica a respeito da IoT e dos potenciais impactos desta tecnologia sobre o crescimento dos países ainda é escassa. Grande parte das discussões sobre o tema tem sido realizada em ambientes restritos, como congressos e conferências internacionais, com foco, sobretudo, em aspectos técnicos da tecnologia. Em função da carência de estudos acadêmicos sobre o tema, este trabalho buscou analisar a controvérsia que ocorreu na literatura econômica nos anos 1990 sobre os efeitos da introdução dos computadores na produtividade das economias. Embora esta discussão não esteja diretamente relacionada com a IoT, a introdução dos computadores no ambiente de trabalho apresenta diversas semelhanças com o caso em tela. Neste sentido, a análise deste evento trata-se de importante insumo na identificação dos canais pelos quais os efeitos da IoT podem se manifestar, bem como dos possíveis desafios para que esta tecnologia desenvolva seu pleno potencial. Conforme discutido na seção anterior, a chamada PTF é uma medida da eficiência agregada da economia, a qual responde significativamente pelo crescimento de longo prazo dos países. De modo geral, esta variável está relacionada com o arcabouço institucional dos países e com as transformações tecnológicas – fatores de difícil mensuração, que dificultam a avaliação quantitativa deste processo. Em função dos efeitos potenciais da adoção de novas tecnologias, havia grande expectativa de que os computadores provocariam um significativo aumento de produtividade nos países, o que ensejou vultosos investimentos das firmas nestes equipamentos. O aumento da produtividade advém da adoção de novas técnicas e tecnologias de produção, e esperava-se que os computadores, enquanto tecnologia de propósito geral fosse capaz de promover a automação de certas tarefas nas empresas com maior eficiência. 10 No entanto, concomitantemente à adoção desta nova tecnologia, a partir de 1973 4, a produtividade americana passou a crescer de forma mais lenta, levantando dúvidas a respeito do uso dos computadores como forma de aumento da produtividade nas empresas. Ao final da década de 1980, o prêmio Nobel em Economia Robert Solow iniciou um longo debate acadêmico a respeito da adoção da tecnologia da informação (TI) pelas empresas - quando aplicada ao mercado norte americano. Solow, em uma nota pessimista sobre o efeito dos computadores na produtividade das empresas, cunhou a célebre expressão: “É possível ver a era do computador em toda parte, exceto nas estatísticas de produtividade”. A primeira reação a esta provocação de Solow foi a busca por explicações para o aparente paradoxo que acabara de ser identificado. Nesta linha, Brynjolfsson (1993) agrupa possíveis explicações para o fenômeno em quatro categorias: (i) Problemas de mensuração do estoque de capital investido em TI - devido a mudanças bruscas no preço e na qualidade dos computadores - poderiam superestimar o estoque de capital, com consequente subestimação do impacto dos computadores no avanço da produtividade. Na mesma linha, as metodologias empregadas na construção das Contas Nacionais (cálculo do PIB e de seus componentes) desprezavam melhorias na qualidade dos serviços prestados que haviam sido provocadas pelo uso intensivo de TI; (ii) Possível defasagem entre a introdução de TI nos sistemas produtivos e os seus impactos na produtividade, uma vez que seria necessário atingir uma massa crítica de experiência e difusão destes investimentos na economia para que seus efeitos se tornassem relevantes; (iii) O desenvolvimento pleno do potencial desta tecnologia estaria condicionado às mudanças nas práticas de gestão, o que não ocorreu; e (iv)A introdução de TI poderia ajudar as firmas na disputa por mercado com suas concorrentes, mas não provocaria mudanças no nível agregado de produtividade da economia. Posteriormente, outra linha de pesquisa procurou verificar a própria existência do paradoxo pela aferição mais precisa da relação entre o uso de computadores e a produtividade das firmas. Isto só foi possível no início dos anos 90, quando dados desagregados de investimento em TI de um grande número de empresas americanas possibilitaram aos pesquisadores encontrar padrões de comportamento entre o investimento e a produção de modo mais robusto e consistente. Tais dados A PTF nos Estados Unidos havia crescido 1,9% ao ano entre 1948 e 1973, enquanto a produtividade do trabalho havia crescido 2,9% ao ano. Após 1973, o crescimento da produtividade era de 0,2% e 1,1% ao ano, respectivamente. 4 11 possibilitaram a revisão das conclusões anteriores sobre o efeito da TI na produtividade. Ou seja, a conclusão de Solow, baseada em grande medida na análise de dados em nível agregados, não resistiria a estudos mais rigorosos. Esses novos dados permitiram a estimação parcial do valor intangível criado pelos computadores, o que não pode ser observado diretamente. Encontrou-se que a contribuição dos equipamentos de TI para o crescimento econômico mais que dobrou em relação à década anterior, passando de 0,09% ao ano no período de 1970-79 para 0,21% ao ano no período de 1980-92. Estes resultados foram obtidos por Oliner & Sichel (1994), que revisitaram esta questão e apontaram que Solow teve acesso apenas aos dados de investimento em hardware, que nunca é utilizado isoladamente, mas em combinação com software e mão de obra qualificada. Ou seja, o uso efetivo do hardware pressupõe a existência de insumos complementares. Outros estudos com os dados desagregados encontraram que o investimento em equipamentos de TI é associado a um aumento substancial de receita ao longo dos anos5. Brynjolfsson & Hitt (1996) estudaram o paradoxo da produtividade utilizando dados de 367 grandes empresas, que geraram cerca de US$ 1,8 bilhão de receita em 1991. Os autores inferem a partir do resultado que, para cada US$ 1 gasto com equipamento de TI, associa-se um aumento marginal na receita de US$ 0,81 por ano. Da mesma forma, para cada dólar gasto em mão de obra especializada em TI, associa-se um aumento marginal de receita de US$ 2,62 anuais. Tais resultados são consistentes com a conclusão de Morrison & Berndt (1991) 6 , citado em Triplett (1999), para os dados agregados da indústria entre 1952-86. Posteriormente, outras análises encontraram resultados semelhantes por meio de diferentes premissas metodológicas, caracterizações de investimentos em TI e dados de outros setores7. Em suma, os resultados a partir dos dados desagregados sugerem que o paradoxo da produtividade proposto por Solow não existia. Oliner & Sichel (2000) sugerem que o investimento em TI teria sido o principal fator responsável pelo aumento da produtividade nos Estados Unidos ao longo da década de 1990. Os autores citam o trabalho de Robert Gordon (1999)8, em que este conclui que todo o aumento de produtividade teria sido decorrente da produção de hardware Vide: Brynjolfsson, E. & Hitt, L. (1995). Information Technology as a Factor of Production: The Role of Differences Among Firms, e Brynjolfsson, E. & Hitt, L. (1996). Paradox Lost? Firm-Level Evidence on the Returns to Information Systems. 6 Vide: Morrison, C. & Berndt, E., (1991) - Assessing the Productivity of Information Technology Equipment in U.S. Manufacturing Industries. 7 Vide: Brynjolfsson, E. & Hitt, L. (1997). Computing productivity: Are Computers Pulling Their Weight? e Dewan, S. & C. Min (1997). The Substitution of IT for Other Factors of Production: A Firm-Level Analysis. 8 Vide: Gordon, R. J. (1999). Has the ‘New Economy’ Rendered the Productivity Slowdown Obsolete? 5 12 de computadores, e que o uso desta tecnologia em si não guardava qualquer relação com este avanço. Isso significa dizer que a aceleração da produtividade na segunda metade da década de 1990 era reflexo puramente de fatores cíclicos. No entanto, Gordon havia escrito o trabalho antes da revisão metodológica das Contas Nacionais, ocorrida em outubro de 1999. Ao identificar e retificar o equívoco em Gordon (1999), os autores concluem que o uso de computadores também contribuiu para o crescimento da produtividade em outros setores da economia, porém em menor magnitude quando comparado com a produção desta tecnologia. Embora ainda persistam algumas polêmicas sobre os efeitos do uso de computadores e TI na evolução da produtividade da economia 9, boa parte da evidência hoje disponível aponta para uma relação positiva entre estes fatores. À medida que a adoção de novas tecnologias passou a fazer parte da rotina de investimentos das empresas, a produtividade retomou o processo de crescimento. Em março de 2000, Solow declarou que “agora já se pode ver os computadores nas estatísticas de produtividade”10. Ressaltamos que a melhor compreensão dos efeitos da introdução de computadores sobre a evolução da produtividade, assim como a identificação dos canais e desafios, deve fornecer lições importantes sobre a disseminação da IoT que deve ocorrer nas próximas décadas. 3.2 Impactos econômicos da difusão da banda larga O impacto econômico da introdução da tecnologia de banda larga foi alvo de debate acadêmico mais recentemente. Devido à sua natureza estrutural, a tecnologia de banda larga é comparada, em termos de importância econômica, aos investimentos de infraestruturas convencionais como rodovias e pontes. Assim, cabe discutir, no âmbito deste estudo, pontos relevantes acerca deste assunto. A difusão da tecnologia de banda larga vem desempenhando papel crescente na evolução do capital humano, condição necessária para o crescimento econômico e aumento da competitividade de um país. Além da redução da assimetria de informação, a banda larga permite aos indivíduos adquirir, a baixo custo, habilidades que facilitam a sua integração econômica. No que tange ao universo empresarial, Qiang, Rossotto e Kimura (2009) denotam que as empresas americanas puderam cortar custos da ordem de US$ 155 bilhões entre 1998 e 2002 em função da tecnologia de banda larga. Da mesma forma, França, Alemanha e Reino Unido Vide: Brynjolfsson & McAfee (2011) e Acemoglu et al. (2014). Vide: Uchitelle, Louis (2000). Disponível em: <http://www.nytimes.com/2000/03/12/business/economic-view-productivity-finally-shows-the-impact-o f-computers.html>. Acesso em: 29/01/2016. 9 10 13 conjuntamente reduziram custos da ordem de US$ 8,3 bilhões, bem como aumentaram receitas na ordem de US$ 79 bilhões para o mesmo período. Os mesmos autores ressaltam que, para cada 1% de aumento no número de usuários de internet, as exportações aumentam 4,3%, dos quais, 3,8% decorrem de exportações de países emergentes para países desenvolvidos. O impacto da difusão da banda larga tende a ser maior em países emergentes, onde o subgrupo de países com melhor infraestrutura consegue atrair maiores investimentos estrangeiros diretos, serviços de offshoring e outsourcing. Katz, et al. (2012) encontram dois efeitos pouco intuitivos: em primeiro lugar, o impacto para o PIB tende a ser maior em países onde a adoção da tecnologia de banda larga encontra-se em estágio mais avançado. Neste sentido, os autores concluem que a menos que as economias emergentes acelerem o aumento de penetração da banda larga, o impacto da tecnologia será muito limitado. Em segundo lugar, embora a difusão tenha efeitos positivos sobre o emprego, o impacto tem retornos marginais decrescentes. Ou seja, à medida que a taxa de penetração aumenta, o efeito positivo sobre o emprego é cada vez menor (efeito saturação). Katz, et al. (2012) evidenciam trabalhos anteriores que estimam o efeito sobre o emprego, por meio de um choque no investimento em capital tecnológico na matriz insumo-produto. Embora a matriz insumo-produto seja um modelo estático que reflete a inter-relação entre os setores econômicos, os autores consideram que o resultado da estimação seja bastante confiável. Tais trabalhos indicam a criação de 140 mil empregos por ano nos Estados Unidos durante 10 anos e de 211 mil no Reino Unido, considerando empregos diretos, indiretos e induzidos. Outros estudos mostram que quanto maior a velocidade da internet banda larga, maior impacto sobre o aumento do PIB per capita. O European Investment Bank (2014), utilizando dados entre 2008 e 2012, encontrou resultados consistentes com a literatura anterior11, ou seja, o efeito nos países de menor renda per capita é maior que nos países de renda mais alta. Para cada 10% de penetração da banda larga, em países de menor renda per capita, a taxa de crescimento do PIB aumenta em 0,098% e nos países de renda per capita maior, a taxa aumenta em 0,059%. Além disso, Katz, et al. (2012) apresentam estudos de casos de impacto da banda larga para diversos países: Brasil, Chile, República Dominicana, Arábia Saudita, Índia, Malásia, China e Indonésia. Os autores buscam replicar a metodologia aplicada anteriormente para estimar o impacto da difusão da banda larga na Alemanha 12, Vide: Katz et al., (2010) – The impact of broadband on jobs and the German economy; Rohman & Bohlin, (2012) – Does broadband speed really matter as a driver of economic growth? Investigating OECD countries e Forzati & Mattsson, (2012) – Socio-economic effects of FTTH/FTTX in Sweden. 12 Vide: Katz, R., et al. (2010) - The impact of broadband on jobs and the German economy. 11 14 porém não dispõem dos dados desagregados para o Brasil. Assim, não foi possível especificar um modelo robusto para o país, em função do limitado número de observações. O modelo alternativo adotado leva em consideração a base de dados dos 27 estados brasileiros. O principal resultado esperado, ou seja, o impacto da penetração da banda larga sobre o emprego, não foi estatisticamente significante. Os autores consideram que o resultado demonstra que o impacto não é uniforme em todos os estados brasileiros. Além disso, assumem que o modelo é valido porque é consistente com os resultados de estudos similares. Assim, concluem que no caso brasileiro, para cada 10% de penetração da banda larga, a contribuição é de 0,08% de crescimento do PIB. Os autores também especificam um modelo cross-section, com dados de 2007, para estimar o impacto para estimar o impacto sobre o emprego no Brasil. Os resultados mostram que um aumento de 10% na penetração da banda larga produz uma redução no desemprego da ordem de 0,06%. 15 4 Efeitos de longo prazo sobre o PIB e o emprego Nesta seção serão apresentadas algumas estimativas dos impactos de longo prazo da disseminação da IoT sobre a economia global e, especificamente, sobre o Brasil. Por se tratar de uma tecnologia ainda em desenvolvimento, a extensão e a profundidade das mudanças que a IoT pode ocasionar na estrutura produtiva dos países são incertas. Em função destas incertezas e da ausência de dados consolidados sobre o setor, exercícios de estimação como o proposto são de difícil execução. Neste sentido, esta seção faz uso de estudos independentes a respeito do assunto – desenvolvidos por consultorias de negócios internacionais a partir da coleta de dados sobre a tecnologia e da opinião de especialistas – bem como de trabalhos acadêmicos sobre os impactos de tecnologias similares na PTF dos países. Inicialmente são apresentadas as conclusões de estudos internacionais a respeito dos potenciais impactos da IoT sobre a economia global, ao passo em que a segunda subseção apresenta as estimativas da Tendências para a economia brasileira, complementando-as com a avaliação feita por estudos internacionais. 4.1 Impactos sobre a economia global Conforme discutido na Seção 2, inovações tecnológicas têm papel fundamental em promover significativos ganhos de produtividade na produção de bens e serviços, gerando uma renda maior para um mesmo montante de insumos empregados. Neste sentido, a disseminação da internet das coisas pode representar uma grande oportunidade para os países, o que tem promovido estudos a este respeito. A conexão dos objetos em redes de dados, sobretudo no âmbito produtivo (tecnologia conhecida como Industrial Internet of Things – IIoT), tem o potencial de melhorar o monitoramento em tempo real da produção, além de prover informações que possibilitem a otimização do processo produtivo e uma melhor gestão. Ressalta-se ainda que o desenvolvimento desta tecnologia possa estimular a criação de novos produtos e serviços, alterando não apenas a estrutura de custos, mas também a prospecção de negócios pelas empresas. Segundo a consultoria Accenture em parceria com a Frontier Economics 13 , a estimativa é de que a adoção desta tecnologia possa gerar uma adição de O estudo analisou os possíveis impactos sobre o PIB de 20 países, emergentes e desenvolvidos, que representam cerca de 75% do PIB mundial. São eles: Austrália, Brasil, Canadá, China, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Holanda, Noruega, Rússia, Coréia do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. O modelo e as premissas utilizadas não estão disponíveis no relatório público divulgado pela consultoria. Estudo disponível em: <https://www.accenture.com/_acnmedia/Accenture/Conversion13 16 US$ 10,6 e 14,2 trilhões ao PIB destes países ao longo do intervalo analisado. Os cálculos foram feitos com base em um modelo quantitativo 14 elaborado pela Frontier Economics, o qual considera não apenas os efeitos diretos dos investimentos em IIoT sobre o PIB – através da acumulação de capital físico – mas também os seus impactos indiretos, sobre a PTF (a qual, como visto, trata-se de uma medida da eficiência agregada da economia). Segundo o estudo, o impacto de US$ 10,6 trilhões foi calculado assumindo que os níveis atuais de investimento nesta tecnologia serão mantidos até 2030. É ponderado, entretanto, que este montante pode alcançar o valor de US$ 14,2 trilhões caso os países analisados adotem medidas que favoreçam a capacidade de absorção da tecnologia pela economia. As consultorias apontam que, dentre os países analisados, aqueles com maior potencial para auferir ganhos com a disseminação da IIoT são: Estados Unidos, Suíça e Finlândia. Por outro lado, os que apresentam menor capacidade de absorção tecnológica são: Itália, Índia e Rússia. No entanto, as estimativas da Accenture/Frontier Economics estão bem aquém dos valores encontrados pelo McKinsey Global Institute – instituto de pesquisa vinculado à consultoria McKinsey & Company. Em estudo publicado em junho de 2015, este afirma que a IoT tem o potencial de adicionar entre US$ 3,9 trilhões e US$ 11,1 trilhões por ano ao PIB mundial até 2025. Ao contrário do trabalho da Accenture, o instituto considerou os impactos potenciais da IoT não apenas sobre o setor produtivo, mas também possíveis aplicações desta tecnologia no âmbito doméstico e na automatização de veículos, entre outros. O gráfico abaixo apresenta outras estimativas para o impacto da IoT (em US$ trilhões) na economia mundial até 2020. Como pode ser visto, os valores variam bastante entre si e também diferem consideravelmente dos montantes discutidos acima. Esta elevada variância pode ser atribuída às já mencionadas incertezas em relação à dimensão dos possíveis efeitos da IoT na estrutura produtiva dos países 15. Assets/DotCom/Documents/Global/PDF/Dualpub_18/Accenture-Industrial-Internet-Things-GrowthGame-Changer.pdf>. Acesso em: 01/03/2016. A partir da estimativa das consultorias para o período de 2015 a 2030, pode-se inferir que, para o período de 5 anos – até 2025, seria projetado um impacto de aproximadamente US$ 7,0 trilhões na economia mundial (considerando-se apenas os 20 países analisados). 15 17 Figura 1. Projeções para o impacto da Internet das Coisas sobre o PIB mundial até 2020 (em US$ trilhões) 14,4 7,1 4,5 1,9 Cisco IDC Machina Gartner Fonte: Departamento de Ciência do Reino Unido . Elaboração: Tendências. 16 Cabe ainda destacar que, conforme discutido na Seção 2, a concretização do potencial econômico das inovações tecnológicas não depende apenas do desenvolvimento destas tecnologias, mas, sobretudo, do ambiente institucional e econômico do país. Este definirá a capacidade de disseminação (ou absorção) da tecnologia e, portanto, de realização do potencial que esta representa. Similarmente ao efeito divulgado por Katz, et al. (2012) a respeito da difusão da banda larga – vide subseção 3.2 – a Tendências acredita que quanto maior a difusão da IIoT nos países, maior será o efeito sobre o PIB. 4.2 Impactos sobre a economia brasileira Com relação ao impacto potencial da IoT sobre a economia brasileira, a Tendências estimou os possíveis efeitos desta tecnologia sobre a trajetória da PTF e, consequentemente, sobre o crescimento econômico de longo prazo. Este cálculo foi feito com base na estimativa desta consultoria para o crescimento da PTF ao longo dos próximos anos, bem como nos ganhos de produtividade calculados para tecnologias similares. Diversos estudos recentes destacam os efeitos positivos de produtividade advindos do investimento, produção e uso de tecnologias da informação e comunicação (“ICT”) sobre o produto potencial dos países. Em função da ausência de dados consolidados sobre o setor de IoT no Brasil, a Tendências incorporou as estimativas para o impacto Estas estimativas das consultorias são citadas em um estudo feito pelo órgão, disponível em: <https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/409774/14-1230internet-of-things-review.pdf>. Acesso em: 01/03/2016. 16 18 da ICT na evolução recente da PTF de países europeus 17 no cálculo dos possíveis efeitos da nova tecnologia (IoT) sobre o Brasil. A IoT, assim como a ICT, trata-se de uma tecnologia de propósito geral, com impactos não-transitórios sobre a capacidade produtiva dos países. Assim, cabe a ressalva de que, embora os ganhos de produtividade aqui utilizados se refiram à difusão da ICT sobre economias desenvolvidas, existem significativas similaridades entre estas tecnologias, fator que justifica sua utilização no trabalho (como variável proxy 18 ). Ademais, destaca-se que, conforme discutido brevemente nas seções anteriores – sobretudo na Seção 319, o impacto de novas tecnologias tende a ser maior em países emergentes. Segundo o estudo de van Ark (2014), a difusão da ICT apresenta três efeitos sobre o PIB dos países: os incidentes sobre a PTF do setor produtor da tecnologia, os atuantes sobre a PTF dos demais setores (que adotam a ICT), e os efeitos diretos advindos dos investimentos na produção e utilização da tecnologia. A tabela abaixo apresenta a contribuição média (crescimento ao ano) encontrada pelo autor para os efeitos da ICT sobre o PIB dos países ao longo da década de 2001-2011. Tabela 1. Contribuição do investimento, produção e uso da tecnologia da informação e comunicação (% ao ano) 2001-2011 Efeitos sobre a PTF do setor de produção de ICT (i) 0,22% Efeitos sobre a PTF dos demais setores (ii) 0,01% Impactos diretos dos investimentos (iii) 0,33% Efeito total da ICT 0,55% Fonte: van Ark (2014). Elaboração: Tendências. Os valores correspondentes aos efeitos da tecnologia sobre a PTF (itens i e ii) foram incorporados à projeção da Tendências para a evolução da PTF brasileira. A previsão inicial desta consultoria – sem os potenciais efeitos da expansão da IoT – é de que a PTF brasileira sofrerá forte redução nos próximos dois anos, em função da conjuntura econômica atual. Após esse período, a produtividade deverá retomar seu crescimento, entre 0,2% e 0,3% ao ano, pelo menos até 2025. Assim, segundo os cálculos da Tendências e tomando como base o ano de 2016, espera-se um crescimento da produtividade de 1,1% ao longo dos próximos 10 anos. Vide: van Ark, B. (2014) - Total factor productivity: Lessons from the past and directions for the future. Disponível em: <https://www.nbb.be/doc/ts/publications/wp/wp271en.pdf>. Acesso em: 14/03/2016. 18 Os economistas dão o nome de proxy quando uma variável é utilizada no lugar de outra, inicialmente desejada, em função da ausência de dados para este fator. 19 Vide Seção 3, referência ao trabalho de Qiang, Rossotto e Kimura (2009). 17 19 Considerando-se que a expansão da IoT deve ter efeito semelhante sobre a PTF ao das tecnologias da informação e comunicação, o crescimento estimado para a produtividade passa a ser de 3,16% ao longo da próxima década. Ou seja, tendo em vista o impacto de tecnologias similares, espera-se que a difusão da IoT gere um crescimento da produtividade e, consequentemente, do PIB, de cerca de 2 pontos percentuais a mais do que o inicialmente previsto. O gráfico abaixo ilustra estes resultados. Figura 2. Projeções para a evolução da PTF brasileira – Índices (base 100 = 2016) 104 103 102 101 100 99 98 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 Com IoT Sem IoT Fonte: van Ark (2014) e Tendências. Elaboração: Tendências. De acordo com Qiang, Rossotto e Kimura (2009), ao utilizar os valores encontrados por van Ark (2014) para o caso de um país emergente, o resultado obtido pode subestimar o impacto potencial da tecnologia no Brasil. Considerando-se este impacto sobre a PTF, a Tendências estima que a difusão da IoT possa gerar uma adição de cerca de R$ 122 bilhões ao PIB brasileiro até 2025. Este resultado é relativamente próximo ao encontrado pelas consultorias Accenture e Frontier Economics em estudo citado anteriormente. Segundo este estudo, a disseminação da IIoT (aplicação da IoT ao setor produtivo) pode gerar um ganho de cerca de US$ 39 bilhões (aproximadamente R$ 156 bilhões) para a economia brasileira ao longo dos próximos 15 anos. Caso ocorram melhorias na capacidade de absorção tecnológica do país, as consultorias estimam que este ganho possa alcançar US$ 48 bilhões (R$ 192 bilhões ) para o mesmo período. O modelo adotado pela Frontier Economics utiliza 55 indicadores – a respeito do ambiente institucional e econômico intrínseco à difusão de tecnologias – para avaliar a capacidade de absorção tecnológica do país. Dentre os 20 países analisados no estudo, o Brasil ficou em 17º lugar no ranking da capacidade de absorção da tecnologia (“National Absorptive Capacity index” ou “NAC Index). 20 Os gráficos abaixo sintetizam o estudo da Accenture, apresentando a posição dos países no ranking do potencial de geração de renda da IIoT e da capacidade de absorção tecnológica. Impacto potencial da IIoT sobre a economia do país (em US$ bilhões) 6.132 Figura 3. 7.500 6.000 4.500 68 56 39 37 15 Finlândia Dinamarca Brasil Índia Rússia 108 Espanha 136 157 157 159 183 Suécia Noruega 247 Coréia do Sul 167 277 Canadá Holanda 351 303 França Reino Unido 497 China 960 593 1.500 Alemanha 3.000 Austrália Itália Suíça Japão Estados Unidos 0 Fonte: Accenture/Frontier Economics. Elaboração: Tendências. 25 21,3 31,3 Itália 29,9 32,4 Brasil 35 Espanha 45,7 França 45 33,0 47,1 China 50,9 54,1 Austrália Canadá 54,3 Alemanha 52,2 54,4 Japão Coréia do Sul 55,0 55 Reino Unido 58,8 61,8 Noruega Dinamarca 62,4 Suécia 59,0 63,2 Finlândia Holanda 63,9 Suíça 65 64,0 75 Índice da Capacidade de Absorção Nacional (NAC index) Estados Unidos Figura 4. Rússia Índia 15 Fonte: Accenture/Frontier Economics. Elaboração: Tendências. Obs: Índices próximos a 100 indicam uma elevada capacidade de absorção (ou disseminação) da tecnologia pela economia. Como pode ser visto, apesar do elevado tamanho da sua economia, o Brasil está em 18º lugar no ranking do impacto potencial da IIoT, atrás de economias significativamente menores. Isto se deve, em parte, à sua baixa classificação em termos de capacidade de absorção tecnológica, fator que afeta consideravelmente a dimensão dos efeitos de novas tecnologias sobre a eficiência econômica (PTF). 21 Vale ainda ressaltar os potenciais impactos de tecnologias de proposito geral (como a IoT e os diversos ramos da ICT) sobre o mercado de trabalho. Conforme apresentado na Seção 3, esta discussão foi tema de trabalho recente realizado por Katz et al. (2012) sobre os efeitos da disseminação da banda larga. No estudo, a análise do mercado brasileiro revela que, em média, uma expansão de 10 pontos percentuais na penetração da banda larga pode gerar uma redução de 0,06% no desemprego. Este resultado dá uma dimensão do potencial da IoT sobre a geração de empregos, não podendo, entretanto, ter sua metodologia aplicada diretamente ao caso da IoT, uma vez que a banda larga, tem penetração limitada (entre 0 e 100% dos computadores). Katz, et al. (2012) mostraram-se bastante confortáveis ao utilizar os resultados da metodologia de matriz insumo-produto para estimar o efeito para o emprego da difusão da banda larga para os Estados Unidos, Reino Unido e Suíça. Os autores citam quatro trabalhos que estimam o número de empregos gerados para cada país, apresentados na tabela abaixo: 22 Tabela 2. País Resultados sobre o impacto da banda larga no número de postos de trabalho. Autores Instituição (*) Objetivo Resultado Crandall, et al. (2003) Brookings Institution Estimar o impacto sobre o emprego da difusão da banda larga focado no aumento da adoção doméstica de 60% para 95%, requerendo investimento de US$ 63.6 bilhões. Criação de 140.000 empregos por ano por 10 anos. Total de empregos: 1.2 milhões (incluindo 546.000 para a construção e 665.000 indiretos) Atkinson, et al. (2009) - ITIF Estimar o impacto de investimento de US$ 10 bilhões na difusão da banda larga. Total de empregos: 180.000 empregos por ano (incluindo 64.000 empregos diretos e 116.000 indiretos e induzidos) Katz, et al. (2008) - CITI Estimar o impacto da difusão de uma rede nacional de banda larga, requerendo um investimento de CHF 13 bilhões Total de empregos: 114.000 ao longo de quatro anos (incluindo 83.000 diretos e 31.000 indiretos) Liebenau et al, (2009) - LSE Estimar o impacto do investimento de US$ 7.5 bilhões para atingir a meta definida pelo Plano "Digital Britain". Total de empregos: 211.000 por ano (incluindo 76.500 diretos e 134.500 indiretos e induzidos) Estados Unidos Suíça Reino Unido Fonte: Katz, et al. (2012). Elaboração: Tendências. (*) Notas: ITIF: Information Technology and Innovation Foundation; CITI Columbia Institute for TeleInformation; LSE: London School of Economics. Alternativamente, pode-se avaliar o impacto destas tecnologias a partir do emprego de técnicas da Matriz Insumo-Produto (MIP). Nassif, Santos & Pereira (2008) 20 , utilizando o chamado Modelo de Geração de Empregos do BNDES 21 sobre a MIP de 1996, estimam o número de postos de trabalho que poderiam surgir em decorrência de choques positivos de investimento nos diversos setores econômicos brasileiros. Para o setor de comunicações (no qual a IoT estaria inserida), os autores estimam Vide: Nassif, A. Santos, L. & Pereira, R., Revista do BNDES, V. 14, N. 29, P. 157-176 (2008) – Produtividade e Potencial de Emprego no Brasil: As Prioridades Estratégicas das Políticas Públicas. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Consulta_Expressa/Set or/Emprego/200806_7.html>. Acesso em: 25/04/2015. 21 Este modelo utiliza dados oficiais do IBGE para estimar o número de postos de trabalho necessários – considerando-se o mercado formal e informal – para atender a um determinado choque de produção nos diversos setores econômicos. 20 23 que um aumento de R$ 10 milhões22 no investimento pode levar a criação de cerca de 542 novos postos de trabalho (empregos diretos, indiretos e de efeito-renda23) no período de um ano. Apesar de este resultado ser apenas uma proxy do que seria observado no caso da difusão da IoT, há relativo consenso na literatura a respeito dos efeitos positivos de tecnologias de proposito geral sobre a geração de empregos. Do exposto, fica claro que a IoT tem um elevado potencial para gerar renda e, consequentemente, emprego no país. Este potencial, no entanto, pode ser mais bem aproveitado a partir de investimentos na capacidade de disseminação tecnológica da economia. Esta poderia ser ampliada com melhorias, sobretudo, no ambiente comercial e de inovação (suporte a P&D) do país, tema que será discutido com maiores detalhes na próxima seção. A preços médios de 2008. Valor equivalente a R$ 15,5 milhões a preços de dezembro/2015. Emprego efeito-renda – emprego criado em virtude do aumento da renda gerada pela expansão da produção e do emprego direto e indireto. O emprego efeito-renda decorre do fato de que o incremento de produção direta e indireta enseja, ao mesmo tempo, o aumento de rendas derivadas nesses setores (massa salarial, dividendos e pro-labore), proporcionando, em última instância, incremento da demanda e do emprego nos setores produtores de bens de consumo. Vide Nassif, Santos & Pereira (2008). 22 23 24 5 Recursos necessários A consultoria Teleco – Inteligência em Telecomunicações observa que a conexão entre “coisas” permitirá a otimização e automação de processos, levando a grandes ganhos de produtividade na economia, sendo que a conexão é apenas o primeiro passo. As maiores transformações virão com os objetos inteligentes, em que estes passam a ter autonomia para agir sobre o meio em que se encontram. Segundo a mesma, o conjunto de objetos com potencial para serem conectados à internet pode ser segmentado em sete subconjuntos, com o intuito de estimar os investimentos necessários para os próximos dez anos: cidade inteligente, carro inteligente; casa inteligente; saúde inteligente; energia inteligente; indústria inteligente (automação) e varejo inteligente (pagamentos). Para estimar o investimento necessário em cada segmento, a Teleco contou com estimativas e com a opinião de especialistas em cada área. A consultoria Teleco estimava que houvesse cerca de 20 milhões de objetos conectados no Brasil em 2015, considerando-se os seis segmentos (este número não inclui os computadores, smartphones e smartTVs). Estima-se que este número mais que dobre até 2020, atingindo a marca de 100 milhões de objetos conectados em 2025. O investimento nesse cenário chegará a R$ 127 bilhões nos próximos 10 anos, sendo que R$ 54,4 bilhões serão dedicados à indústria. No entanto, há barreiras atualmente presentes que reduzem o potencial da IoT, que deverão passar por processo de negociação a fim de que o setor se desenvolva em sua plenitude. Barreiras culturais a crença equivocada de que o desenvolvimento da IoT no Brasil elevaria o desemprego podem dificultar a adoção mais intensa de novas tecnologias. O Brasil também se destaca pela elevada tributação que incide sobre o setor de telecomunicações, que eleva o custo de implantação e de operação dos serviços de telecomunicação, insumos essenciais para a realização do potencial completo da IoT. Entre estes tributos e contribuições, destacamos: Taxa de Fiscalização de Instalação (TFI) e a Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF), cujas receitas são destinadas ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) para o financiamento das atividades de regulação e fiscalização setorial. A TFI (no valor de R$ 26,83) é devida pela prestadora no ato de concessão da licença para o funcionamento dos diversos tipos de estação, enquanto a TFF deve ser paga anualmente e corresponde a metade do valor da TFI (R$ 13,42). Além disso, destinam-se ao FISTEL metade das receitas de outorga de concessões, permissões e 25 autorizações de uso de radiofrequências, e as decorrentes de multas previstas na Lei Geral de Telecomunicações (Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997); Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), cuja função seria o subsídio de algumas atividades relacionadas à universalização dos serviços de telecomunicações, cujo custo não possa ser recuperado com a exploração eficiente do serviço. O FUST é financiado por receitas decorrentes de outorga de concessões, permissões e autorizações de uso de radiofrequências, e multas previstas na Lei Geral de Telecomunicações. Além disso, cabe a este fundo particular 1% da receita operacional bruta decorrente de prestação de serviços de telecomunicações (excluindo-se o ICMS, o PIS e a COFINS); e Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (FUNTTEL), financiado por uma contribuição de 0,5% sobre a receita bruta das empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, e com o objetivo de fomentar iniciativas para o desenvolvimento da indústria de telecomunicações no Brasil. Estes tributos arrecadam valores significativos (R$ 7,8 bilhões somente em 2015), sem que houvesse uma aplicação adequada dos recursos para os fins aos que são legalmente destinados. Grande parte dos recursos foi alocada ao Orçamento Geral da União, para financiar gastos gerais do governo brasileiro. Ou seja, trata-se na prática de meros tributos que oneram em última instância o usuário dos serviços de comunicações. Embora os valores de TFI e TFF tenham sido reduzidos para R$ 5,68 e R$ 1,89 respectivamente em conexões M2M (Lei 12.715 de 2012), ainda assim o seu custo inviabiliza aplicações massivas de IoT em que o valor pago pela conexão pode ser de menos de R$ 5,00 por dispositivo por ano. Só com a eliminação desta taxa será possível a difusão de IoT para aplicações que utilizam uma grande quantidade de sensores como na agricultura de precisão. Destacamos que a manutenção da TFI e da TFF representam um contrassenso do ponto econômico. Trata-se de atividade com grande potencial de geração de externalidades positivas (benefícios colaterais ao restante da sociedade). Nesta situação, a prescrição econômica é o uso de medidas de incentivo (como subsídios), e não a taxação da atividade. Questões não resolvidas, relacionadas à privacidade e segurança das informações, bem como de regulação e do cenário econômico também atuam no sentido de inibir o desenvolvimento da IoT no Brasil. Um exemplo de barreira por questões não resolvidas tem a ver com a implantação nacional do SINIAV (Sistema de Identificação Automática de Veículos), que se arrasta desde 2006. O sistema é baseado em tecnologia de identificação de veículos automotores por radiofrequência e foi criado para prevenir, fiscalizar e reprimir o furto e o roubo de veículos e cargas, 26 possibilitando inclusive a melhoria do trânsito nas grandes cidades. No entanto foi implantado parcialmente apenas no estado de Roraima. Na hipótese de redução de tais barreiras, a Teleco estima que o número de objetos conectados no território brasileiro alcançará 75 milhões em 2020, chegando a dobrar no ano de 2025, atingindo cerca de 200 milhões de dispositivos. Neste cenário, serão necessários investimentos da ordem de R$ 204,6 bilhões, dos quais R$ 76,3 bilhões serão dedicados à automação industrial. Utilizando-se os valores obtidos por Nassif, Santos & Pereira (2008), apresentados na seção 4.2, podemos estimar o número de postos de trabalho que serão criados com o desenvolvimento da IoT. Ou seja, para cada R$ 15,5 milhões (valor atualizado para dez/2015) de investimento no setor de comunicações, serão criados 542 novos postos de trabalho diretos, indiretos ou efeito-renda. Assim, para o cenário atual, sendo necessários investimentos da ordem de R$ 54,4 bilhões para os próximos 10 anos, estima-se que serão criados 1.902.245 novos postos de trabalho, sendo que 78% são emprego derivados do efeito-renda24. Já na hipótese da redução de barreiras, serão necessários investimentos da ordem de R$ 76,3 bilhões que gerarão 2.668.039 novos empregos diretos, indiretos ou derivados do efeito-renda. O quadro abaixo mostra a projeção dos investimentos e da criação de novos postos de trabalho no cenário atual e no cenário com redução de barreiras à implantação da IoT no Brasil: Tabela 3. Projeção dos investimentos e de criação de novos postos de trabalho (diretos, indiretos ou emprego efeito-renda) com o desenvolvimento da IoT no Brasil. Cenário com redução de barreiras Cenário Atual ANO INVESTIMENTO (em R$ bilhões) Empregos Criados INVESTIMENTO (em R$ bilhões) Empregos Criados 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 4,7 165,9 5,0 175,6 4,9 170,9 5,5 191,4 5,0 176,0 6,0 208,6 5,2 181,3 6,5 227,4 5,3 186,8 7,0 247,9 5,5 192,4 7,7 270,2 5,7 198,1 8,4 294,5 5,8 204,1 9,2 321,0 6,0 210,2 10,0 349,9 2025 6,2 216,5 10,9 381,4 TOTAL 54,4 1.902,2 76,3 2.668,0 Trata-se do crescimento do consume derivado da elevação da renda dos setores direta ou indiretamente associados à implantação e à gestão de IoT. 24 27 Fonte: Teleco. Elaboração: Tendências. 28 6 Conclusões A Internet das Coisas (IoT) vai muito além da simples conexão entre dispositivos e já faz parte do nosso dia-a-dia. O objetivo deste estudo foi analisar os principais impactos sobre a economia brasileira. Por se tratar de tema relativamente recente, o assunto carece de estudos acadêmicos. Desta forma, dado que a IoT é um conjunto de tecnologias de propósito geral, em diversos aspectos a IoT assemelha-se aos ciclos passados de difusão de novas tecnologias, nos quais nos baseamos para tirar nossas conclusões. Analisamos aspectos relacionados ao que a literatura econômica tratou como Paradoxo da Produtividade, ao final da década de 1980, decorrente de expectativas irrealistas da difusão dos computadores sobre a produtividade nos Estados Unidos. Discutimos também, dado que a difusão da tecnologia de banda larga vem desempenhando papel crescente na evolução do capital humano, estudos empíricos que mostram que o impacto econômico é positivo, tanto para a produtividade quanto para o emprego. Qiang, Rossotto e Kimura (2009) observam que o impacto da difusão da banda larga tende a ser maior em países emergentes. A difusão da IoT e o seu impacto positivo sobre a economia brasileira dependem de diversos fatores, dentre os quais se destacam a tecnologia de comunicações, infraestrutura e recursos humanos. Assim, discutimos o efeito da IoT na Produtividade Total dos Fatores (PTF), medida da eficiência agregada da economia. Além disso, discutimos projeções para o impacto da Internet das Coisas sobre o PIB mundial até 2020. Considerando-se que o efeito da expansão da IoT sobre a PTF deve assemelhar-se ao das tecnologias da informação e comunicação, estimamos que a IoT gere um crescimento da produtividade de cerca de 2 pontos percentuais ao longo da próxima década. A partir deste impacto sobre a PTF, a Tendências estima que a difusão da IoT possa gerar uma adição de cerca de R$ 122 bilhões ao PIB brasileiro até 2025. Este resultado é relativamente próximo ao encontrado pelas consultorias Accenture e Frontier Economics, que considera que a disseminação da IIoT (aplicação da IoT ao setor produtivo) pode gerar um ganho de cerca de US$ 39 a 48 bilhões (aproximadamente R$ 156 a 192 bilhões) para a economia brasileira ao longo dos próximos 15 anos. Com base em estimações da consultoria Teleco, o Brasil terá cerca de 100 milhões de dispositivos conectados em 2025, sendo necessários investimentos entre R$ 127 e R$ 204,6 bilhões, dos quais R$ 54,4 a R$ 76,3 bilhões serão dedicados à automação industrial. Dado que ainda há muitas barreiras à implantação plena da IoT no Brasil, a Tendências estima que serão criados entre 1,9 milhões e 2,6 milhões novos postos de trabalho diretos, indiretos ou emprego efeito-renda. 29 Procuramos demonstrar que há relativo consenso acadêmico dos efeitos positivos da difusão de tecnologias de propósitos gerais sobre a produtividade econômica e o emprego. A IoT possui elevado potencial para gerar renda e emprego no país, que pode ser melhor aproveitado a partir de investimentos na capacidade de disseminação tecnológica da economia. Portanto, a concretização deste potencial depende não apenas do desenvolvimento da tecnologia, mas também de um ambiente institucional e econômico favorável para a sua disseminação. Com base na experiência de outros países e na revisão da literatura, identificamos alguns eixos de políticas que podem ser implantadas para acelerar (ou mesmo permitir) o desenvolvimento da IoT no Brasil. Algumas delas requerem apenas modificações regulatórias, enquanto outras demandam investimentos cuja maturação deve ocorrer somente a longo prazo. Em primeiro lugar, deve-se tomar medidas para reduzir o custo dos insumos físicos utilizados na implantação da IoT. Há dois elementos para considerar nesta categoria. De um lado temos os serviços de telecomunicações, que se tornarão essenciais para conectar objetos e dispositivos, e assim otimizar seu uso/comportamento. Sem a comunicação eficaz e de baixo custo, não será viável o investimento na conexão de objetos, o que impedirá a implantação e a disseminação da IoT em todo o seu potencial. Conforme já apontamos na seção anterior, o setor de telecomunicações no Brasil está sujeito a uma elevada taxação (principalmente as taxas destinadas aos fundos de desenvolvimento) e a outros regulamentos que encarecem o serviço aos usuários. Uma revisão destes ônus (com eliminação das contribuições ao FUST e ao FISTEL para conexões M2M) seria benéfica não somente ao desenvolvimento da IoT, mas à economia brasileira como um todo, aproximando as empresas brasileiras das condições de competitividade que existem em outros países. Do outro lado, temos o custo dos equipamentos (hardware) que também são fundamentais para o bom funcionamento da cadeia da IoT. Trata-se de sensores, atuadores, e equipamentos de comunicação que permitem a conexão e o fluxo de informação entre os dispositivos e servidores responsáveis pelo seu controle. É importante que os agentes tenham acesso a estes equipamentos ao menor custo possível para facilitar o desenvolvimento de aplicações genuinamente nacionais, agregando valor à cadeias instaladas no Brasil. Com este objetivo, seria salutar um programa de redução dramática de alíquotas de importação e impostos domésticos (IPI, ICMS, PIS/Cofins, etc) que incidem sobre estes equipamentos. Esta conclusão é reforçada pela constatação de que a grande contribuição de valor da IoT encontra-se no desenho de dispositivos, na integração dos destes e no desenvolvimento de algoritmos para otimizar processos a partir das informações coletadas, e não na manufatura de dispositivos. 30 Por fim, o Brasil deve desenvolver os recursos humanos capazes de conceber e operacionalizar as soluções envolvendo a IoT. Trata-se de formar engenheiros e tecnólogos das mais diversas áreas. O Brasil tem historicamente apresentado deficiências quantitativas e qualitativas na formação de profissionais nestas áreas 25, com efeitos adversos sobre sua capacidade de crescimento. Períodos de aquecimento da economia são rapidamente acompanhados por aumentos significativos nos salários dos profissionais, sem a contrapartida necessária em termos de produtividade, o que termina por reduzir a competitividade da economia. Medidas para sanar estas deficiências têm longa maturação, pois envolvem a formação (ou requalificação) de profissionais. Ações para incrementar a oferta destes profissionais incluem políticas de financiamento de cursos superiores nestas áreas em condições mais favoráveis, além da maior oferta de cursos nestas áreas pelas instituições públicas de ensino no nível superior e técnico. Também é importante adotar políticas para aumentar o aprendizado dos alunos do ensino básico, principalmente nas áreas de matemática e ciências. Em um horizonte mais curto, pode-se recorrer a arranjos para atrair indivíduos com este perfil profissional de outros países. Para tanto, além de remuneração competitiva, é necessário facilitar os trâmites para concessão de vistos de trabalho e reconhecimento de diplomas obtidos em universidades estrangeiras. São Paulo, 22 de julho de 2016. Ernesto Moreira Guedes Filho Corecon/SP: 13.965 Fernando Balbino Botelho Corecon/SP: 28.895 Daniele Chiavenato Corecon/SP: 35.047 Ver Oliveira et al., (2012) Estudo Comparativo da Formação em Engenharia: Brasil, BRICs e Principais Países da OCDE, trabalho apresentado no XL Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia, Belém, PA. 25 31 EQUIPE RESPONSÁVEL Este relatório foi elaborado por Ernesto Moreira Guedes Filho, Fernando Balbino Botelho, Daniele Chiavenato e Reinaldo Kenji Kagi. Daniele Chiavenato: Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade São Paulo (FEA/USP). Ernesto Moreira Guedes Filho: Bacharel em Ciências Econômicas Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade São Paulo (FEA/USP), com pós-graduação pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE/USP). É Diretor Executivo e de Estudos, Projetos e Pareceres da Tendências. Fernando Balbino Botelho: Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Princeton, Bacharel e Mestre em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade São Paulo (FEA/USP). É professor do departamento de economia da FEA-USP na área de Teoria Econômica.