Impactos Econômicos da Internet das Coisas no Brasil

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Rua Estados Unidos, 498 Jardim Paulista 01427-000 – São Paulo – SP
Tel: 5511 3052 3311 Fax: 5511 3884 9022 www.tendencias.com.br
Impactos Econômicos da
Internet das Coisas no Brasil
Julho/2016
Tendências Consultoria Integrada
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Impactos Econômicos da Internet das
Coisas no Brasil
ÍNDICE
1
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 4
2
ARCABOUÇO CONCEITUAL ................................................................... 6
3
REVISÃO DA LITERATURA .................................................................... 9
4
3.1
IMPACTOS DA DIFUSÃO DOS COMPUTADORES SOBRE A PRODUTIVIDADE .................. 9
3.2
IMPACTOS ECONÔMICOS DA DIFUSÃO DA BANDA LARGA ....................................12
EFEITOS DE LONGO PRAZO SOBRE O PIB E O EMPREGO .................... 15
4.1
IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA GLOBAL.......................................................15
4.2
IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA ..................................................17
5
RECURSOS NECESSÁRIOS .................................................................. 24
6
CONCLUSÕES ..................................................................................... 28
EQUIPE RESPONSÁVEL ............................................................................. 31
3
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
A FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES (“FEBRATEL”) é uma entidade
sindical patronal de segundo grau cuja missão é defender os interesses das empresas
prestadoras de serviços de telecomunicações, cujas atividades estão definidas e
regulamentadas na Lei Geral de Telecomunicações, incluindo-se as empresas de TV
por assinatura (cabo) e as empresas que fazem planejamento, projetos, implantação
e manutenção de serviços de telecomunicações para as empresas concessionárias,
autorizatárias ou permissionárias de serviços de telecomunicações, tendo como base
todo o território nacional.
A Tendências Consultoria Integrada (“Tendências”)1 foi contratada pela FEBRATEL
para, em parceira com a Teleco, elaborar este estudo econômico sobre considerações
econômicas e impactos decorrentes da Internet das Coisas, no âmbito do Projeto
Internet das Coisas no Brasil (IoT Brasil).
As informações utilizadas para a elaboração do Parecer contêm dados provenientes
de informações fornecidas pela FEBRATEL, bem como em estimativas elaboradas pela
Tendências, com base em informações públicas sobre o setor de atuação da
FEBRATEL, incluindo matérias e artigos disponibilizados pela mídia especializada e
devidamente identificadas ao longo do trabalho.
A Tendências empregou os melhores esforços para a coleta dos dados contidos neste
Parecer visando que estes fossem os mais atualizados, corretos e precisos, além da
isenção nas opiniões e conclusões apresentadas no Relatório. A elaboração deste
Parecer não incluiu a verificação independente dos dados e das informações
fornecidas ou dados públicos utilizados. Este Parecer não é indicativo, de nenhuma
forma e em nenhum nível, de resultados futuros reais, os quais poderão ser
materialmente diversos, para mais ou para menos, do que estes aqui apresentados.
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Rua Estados Unidos, 498 Jardim Paulista 01427-000 – São Paulo – SP
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Impactos Econômicos da Internet das
Coisas no Brasil
1 Introdução
A internet serviu inicialmente para permitir o tráfego de informação entre
computadores, e expandiu-se desde então para conectar os mais variados tipos de
objetos. A 5ª Geração da telefonia celular (5G), por exemplo, está sendo projetada
para permitir a conexão de bilhões de dispositivos à internet. A conexão entre
“coisas” permite a otimização e automação de processos, e pode levar a um ganho
brutal de produtividade na economia. As possibilidades trazidas pela conexão de
grandes quantidades de objetos distintos constituem o que veio a ser denominado
de Internet das Coisas (“Internet of Things” ou “IoT”), tema dos mais relevantes em
tecnologia das comunicações no mundo.
Como qualquer outra tecnologia altamente inovadora, a difusão da IoT e o seu
impacto sobre a economia brasileira dependem de diversos fatores. É importante
enfatizar os elementos complementares que facilitam o processo de adoção destas
tecnologias. A presença destes elementos - tais como tecnologia de comunicações,
infraestrutura e recursos humanos - é fundamental para o potencial inovador da IoT
sobre a produtividade da economia. Por se tratarem de tecnologias caras e
complexas, também são fundamentais os recursos para investimentos e um
adequado
ambiente
mecanismos
de
regulatório,
coordenação
com
entre
proteção
os
à
propriedade
participantes
para
intelectual
e
assegurar
a
interoperabilidade dos sistemas por meio da padronização. Da mesma forma, por se
tratar de tecnologia de propósito geral, em diversos aspectos a IoT assemelha-se aos
ciclos de difusão de novas tecnologias presenciados no passado.
Por se tratar de tema relativamente recente, o assunto carece de estudos acadêmicos
nos quais possamos nos balizar. Em razão da relevância e do potencial transformador
da IoT, propõe-se um estudo de seus principais impactos sobre a economia brasileira.
Após esta breve introdução, apresentamos na Seção 2 o arcabouço conceitual
derivado da moderna Teoria do Crescimento utilizado para discutir os potenciais
impactos da IoT sobre a economia.
A Seção 3 discute a controvérsia que ocorreu na literatura econômica nos anos 1990
sobre os efeitos da introdução dos computadores na produtividade das economias.
Também são analisados os efeitos econômicos da difusão da internet banda larga
sobre o PIB e o emprego em diversos países.
A seção 4 discute alguns estudos de consultorias internacionais que procuram
quantificar o impacto da IoT no Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Embora a
5
IoT tenha aplicações nas áreas residencial (automação) e de serviços, o foco será na
sua utilização no setor industrial (“Industrial Internet of Things” ou “IIoT”). Apresenta
a estimativa para o impacto da IIoT no Brasil, assim como a posição do país em um
ranking que mede o grau de preparo das economias para aproveitar as oportunidades
oferecidas por estas novas tecnologias. Por meio de uma estimação do impacto da
IIoT sobre a PTF, analisa o efeito não-transitório de um choque no investimento em
tecnologia
de informação
e
comunicação
(“Information
and
Communication
Technology” ou “ICT”) sobre o crescimento brasileiro de longo prazo e analisa os
resultados de estudos acadêmicos da difusão de tecnologias de propósito gerais sobre
o PIB e emprego.
Por fim, a seção 5 faz uma breve reflexão sobre os recursos necessários para que a
IoT se dissemine no Brasil. Enfatiza os recursos humanos, cuja demanda será
estimada a partir da Matriz de Insumo-Produto brasileira, pois embora esta
tecnologia seja uma oportunidade para criar empregos de boa qualidade no futuro,
a restrição de mão de obra qualificada pode ser um fator limitante para a expansão
da IoT no Brasil. A seção 6 apresenta um sumário com as principais conclusões do
trabalho.
6
2 Arcabouço Conceitual
Esta seção tem como objetivo apresentar o arcabouço conceitual que balizará a
discussão apresentada nas próximas seções a respeito dos potenciais impactos da
disseminação da IoT sobre o crescimento econômico do país. De forma simplificada,
serão apresentados os principais conceitos subjacentes aos estudos econômicos
sobre crescimento, inovação e tendências de longo prazo.
Os fatores que determinam o nível de renda dos países e o seu crescimento no longo
prazo 2 têm sido amplamente estudados pelos economistas. De modo geral, o
entendimento mais recente na literatura é o de que o valor dos bens e serviços
produzidos por um país ao longo de um determinado intervalo de tempo está
associado aos recursos disponíveis na economia e à eficiência na utilização
destes insumos. A esta associação entre o produto agregado (PIB) e os insumos os
economistas dão o nome de função de produção agregada.
Trabalhos na área de crescimento econômico tipicamente consideram os seguintes
insumos na função de produção agregada:
(i)
Trabalho: corresponde ao total de pessoas empregadas no país;
(ii)
Capital Físico: conjunto de máquinas, equipamentos e construções à
disposição da atividade produtiva. Estes ativos sofrem depreciação ao
longo do tempo e, portanto, precisam ser continuamente repostos.
Também pode ocorrer depreciação por obsolescência tecnológica, que
eleva os custos de operação e manutenção de gerações mais antigas de
máquinas e equipamentos, reforçando a necessidade de reposição
constante; e
(iii)
Capital Humano: termo que pode ser entendido como uma medida da
qualificação da mão de obra. Busca-se através dele incorporar o papel da
educação formal para o crescimento econômico dos países, embora o
capital humano também possa ser acumulado por meio da experiência no
exercício das tarefas ou treinamento no próprio ambiente de trabalho.
Apesar de estes insumos desempenharem papel relevante no crescimento econômico
de curto prazo, as pesquisas desenvolvidas ao longo das últimas décadas na área de
crescimento apontam para uma menor relevância destes fatores na compreensão da
evolução do produto per capita no longo prazo, principalmente para as nações mais
desenvolvidas, que já acumularam maiores quantidades de capital físico e humano.
O entendimento dos economistas é o de que variáveis como a taxa de poupança – a
qual determina o montante de investimentos da economia e, deste modo, a
acumulação de capital físico – a taxa de crescimento populacional, a taxa de
2
O longo prazo neste contexto refere-se a um período de décadas à frente.
7
depreciação do capital e mesmo o nível educacional da população afetam o nível da
renda per capita no longo prazo, mas têm impactos apenas transitórios sobre a taxa
de crescimento do país.
Segundo a Teoria Econômica, este resultado é decorrente dos retornos decrescentes
de escala dos fatores de produção, isto é, dos ganhos cada vez menores advindos da
acumulação de insumos. A literatura empírica e teórica sugere que unidades
adicionais de capital (físico e humano), bem como de trabalho, levam a uma
adição cada vez menor de produto. Desta forma, um aumento da taxa de
poupança levaria apenas a um crescimento temporário do produto per capita,
aumentando o nível de renda da população no longo prazo, em detrimento do
consumo presente.
Em função desta característica intrínseca ao processo produtivo, o crescimento
econômico de longo prazo parece estar atrelado a outros fatores de difícil percepção
e mensuração. Estes fatores compõem o que foi definido acima como a
“eficiência na utilização dos insumos”, termo conhecido na literatura
econômica como Produtividade Total dos Fatores (PTF).
Nos últimos 60 anos3 foram empregados esforços pelos pesquisadores para tentar
entender os condicionantes da chamada PTF, dada a sua elevada importância na
explicação do crescimento econômico de longo prazo e das (enormes) diferenças de
renda per capita entre os países. Apesar dos seus componentes serem de difícil
mensuração, esta medida da eficiência agregada da economia (em geral,
encontrada como resíduo) é percebida atualmente como variável-chave
para o entendimento do crescimento econômico de longo prazo, também
chamado de produto potencial do país.
De modo simplificado, pode-se dizer que a PTF corresponde a uma alteração na
função de produção agregada, isto é, na relação definida entre produto e insumos.
Esta variável captura variações no produto que não podem ser explicadas por
mudanças no acúmulo de insumos (trabalho, capital físico e capital humano).
Segundo a Teoria Econômica, diversos fatores podem ocasionar uma mudança
na função de produção agregada, dentre os quais merecem destaque as
transformações
tecnológicas,
choques
externos,
além
de
mudanças
institucionais e organizacionais.
Conforme discutido acima, ao longo das últimas décadas, os diversos modelos de
crescimento econômico buscaram compreender o papel de cada um dos fatores
mencionados sobre a evolução da PTF. Inicialmente, o entendimento dos economistas
era o de que variações na PTF e, consequentemente, nas taxas de crescimento (da
O artigo-mãe sobre crescimento econômico foi escrito por Robert Solow na década de 1950. Vide: Solow,
R. (1956). A Contribution to the Theory of Economic Growth. The Quarterly Journal of Economics,
The MIT Press, Vol. 70, No 1.
3
8
renda per capita) entre os países, seriam o resultado de uma evolução diferenciada
da fronteira tecnológica entre as nações.
Avanços tecnológicos, ou mesmo novas técnicas de produção baseadas em
tecnologias já estabelecidas, possibilitam a incorporação de maiores ganhos
de produto para um mesmo montante de insumos, atenuando os retornos
decrescentes de escala.
Os
trabalhos
recentes
sobre
crescimento,
no
entanto,
ponderam
que
as
transformações tecnológicas são apenas a face mais nítida do aumento de
produtividade característico das economias de mercado. Segundo esta
literatura, o desenho institucional tem papel preponderante sobre a capacidade
produtiva e de geração de renda da economia. Isto porque são as regras
institucionais que determinam o ambiente no qual as decisões econômicas são
tomadas, inclusive as relativas aos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D), os quais formam a base para a expansão e a adoção de novas tecnologias (as
quais, como visto, geram ganhos de produtividade).
Tendo em vista esta breve introdução ao arcabouço conceitual das teorias recentes
sobre crescimento, tornam-se nítidos os potenciais impactos econômicos da IoT para
o país. Esta tecnologia emergente pode gerar – assim como ocorrido com
outros avanços tecnológicos recentes – elevados ganhos de produtividade,
os quais se refletirão em um maior crescimento da renda per capita no longo
prazo. Conforme exposto acima, isto se deve ao potencial que a incorporação de
novas tecnologias e técnicas de produção tem para gerar um montante maior de
produto com a mesma quantidade de insumos.
É necessário ressaltar, no entanto, que a concretização deste potencial depende
não apenas do desenvolvimento da tecnologia, mas também de um ambiente
institucional e econômico favorável para a sua disseminação. Como exposto,
a literatura recente sobre crescimento tem enfatizado o papel do arcabouço
institucional e regulatório para a obtenção dos ganhos de produtividade, inclusive
daqueles advindos da adoção de novas tecnologias. Os potenciais ganhos de
produtividade da IoT, bem como as medidas necessárias para que estes se
concretizem, serão discutidos em maior profundidade nas seções adiante.
9
3 Revisão da literatura
Esta seção discute algumas conclusões da literatura técnica e científica sobre o
impacto de IoT na economia. Houve nos anos 1990 um amplo debate sobre os efeitos
da introdução dos computadores na produtividade das economias, cujas conclusões
são aqui apresentadas em razão da analogia com o caso de IoT. Também são
analisados os efeitos econômicos da difusão da internet banda larga sobre o PIB e o
emprego em diversos países.
3.1 Impactos da
produtividade
difusão
dos
computadores
sobre
a
Por se tratar de um tema recente, a literatura econômica a respeito da IoT e dos
potenciais impactos desta tecnologia sobre o crescimento dos países ainda é escassa.
Grande parte das discussões sobre o tema tem sido realizada em ambientes restritos,
como congressos e conferências internacionais, com foco, sobretudo, em aspectos
técnicos da tecnologia.
Em função da carência de estudos acadêmicos sobre o tema, este trabalho buscou
analisar a controvérsia que ocorreu na literatura econômica nos anos 1990 sobre os
efeitos da introdução dos computadores na produtividade das economias. Embora
esta discussão não esteja diretamente relacionada com a IoT, a introdução dos
computadores no ambiente de trabalho apresenta diversas semelhanças com o caso
em tela. Neste sentido, a análise deste evento trata-se de importante insumo na
identificação dos canais pelos quais os efeitos da IoT podem se manifestar, bem como
dos possíveis desafios para que esta tecnologia desenvolva seu pleno potencial.
Conforme discutido na seção anterior, a chamada PTF é uma medida da eficiência
agregada da economia, a qual responde significativamente pelo crescimento de longo
prazo dos países. De modo geral, esta variável está relacionada com o arcabouço
institucional dos países e com as transformações tecnológicas – fatores de difícil
mensuração, que dificultam a avaliação quantitativa deste processo.
Em função dos efeitos potenciais da adoção de novas tecnologias, havia grande
expectativa de que os computadores provocariam um significativo aumento de
produtividade nos países, o que ensejou vultosos investimentos das firmas nestes
equipamentos. O aumento da produtividade advém da adoção de novas técnicas e
tecnologias de produção, e esperava-se que os computadores, enquanto tecnologia
de propósito geral fosse capaz de promover a automação de certas tarefas nas
empresas com maior eficiência.
10
No entanto, concomitantemente à adoção desta nova tecnologia, a partir de 1973 4,
a produtividade americana passou a crescer de forma mais lenta, levantando dúvidas
a respeito do uso dos computadores como forma de aumento da produtividade nas
empresas.
Ao final da década de 1980, o prêmio Nobel em Economia Robert Solow iniciou um
longo debate acadêmico a respeito da adoção da tecnologia da informação (TI) pelas
empresas - quando aplicada ao mercado norte americano. Solow, em uma nota
pessimista sobre o efeito dos computadores na produtividade das empresas, cunhou
a célebre expressão: “É possível ver a era do computador em toda parte, exceto nas
estatísticas de produtividade”.
A primeira reação a esta provocação de Solow foi a busca por explicações para o
aparente paradoxo que acabara de ser identificado. Nesta linha, Brynjolfsson (1993)
agrupa possíveis explicações para o fenômeno em quatro categorias:
(i) Problemas de mensuração do estoque de capital investido em TI - devido a
mudanças bruscas no preço e na qualidade dos computadores - poderiam
superestimar o estoque de capital, com consequente subestimação do
impacto dos computadores no avanço da produtividade. Na mesma linha, as
metodologias empregadas na construção das Contas Nacionais (cálculo do PIB
e de seus componentes) desprezavam melhorias na qualidade dos serviços
prestados que haviam sido provocadas pelo uso intensivo de TI;
(ii) Possível defasagem entre a introdução de TI nos sistemas produtivos e os
seus impactos na produtividade, uma vez que seria necessário atingir uma
massa crítica de experiência e difusão destes investimentos na economia para
que seus efeitos se tornassem relevantes;
(iii) O desenvolvimento pleno do potencial desta tecnologia estaria condicionado
às mudanças nas práticas de gestão, o que não ocorreu; e
(iv)A introdução de TI poderia ajudar as firmas na disputa por mercado com suas
concorrentes,
mas
não
provocaria
mudanças
no
nível
agregado
de
produtividade da economia.
Posteriormente, outra linha de pesquisa procurou verificar a própria existência do
paradoxo pela aferição mais precisa da relação entre o uso de computadores e a
produtividade das firmas. Isto só foi possível no início dos anos 90, quando dados
desagregados de investimento em TI de um grande número de empresas americanas
possibilitaram aos pesquisadores encontrar padrões de comportamento entre o
investimento e a produção de modo mais robusto e consistente. Tais dados
A PTF nos Estados Unidos havia crescido 1,9% ao ano entre 1948 e 1973, enquanto a produtividade do
trabalho havia crescido 2,9% ao ano. Após 1973, o crescimento da produtividade era de 0,2% e 1,1% ao
ano, respectivamente.
4
11
possibilitaram a revisão das conclusões anteriores sobre o efeito da TI na
produtividade. Ou seja, a conclusão de Solow, baseada em grande medida na análise
de dados em nível agregados, não resistiria a estudos mais rigorosos.
Esses novos dados permitiram a estimação parcial do valor intangível criado pelos
computadores, o que não pode ser observado diretamente. Encontrou-se que a
contribuição dos equipamentos de TI para o crescimento econômico mais que dobrou
em relação à década anterior, passando de 0,09% ao ano no período de 1970-79
para 0,21% ao ano no período de 1980-92. Estes resultados foram obtidos por Oliner
& Sichel (1994), que revisitaram esta questão e apontaram que Solow teve acesso
apenas aos dados de investimento em hardware, que nunca é utilizado isoladamente,
mas em combinação com software e mão de obra qualificada. Ou seja, o uso efetivo
do hardware pressupõe a existência de insumos complementares.
Outros estudos com os dados desagregados encontraram que o investimento em
equipamentos de TI é associado a um aumento substancial de receita ao longo dos
anos5. Brynjolfsson & Hitt (1996) estudaram o paradoxo da produtividade utilizando
dados de 367 grandes empresas, que geraram cerca de US$ 1,8 bilhão de receita em
1991. Os autores inferem a partir do resultado que, para cada US$ 1 gasto com
equipamento de TI, associa-se um aumento marginal na receita de US$ 0,81 por
ano. Da mesma forma, para cada dólar gasto em mão de obra especializada em TI,
associa-se um aumento marginal de receita de US$ 2,62 anuais. Tais resultados são
consistentes com a conclusão de Morrison & Berndt (1991) 6 , citado em Triplett
(1999), para os dados agregados da indústria entre 1952-86.
Posteriormente, outras análises encontraram resultados semelhantes por meio de
diferentes premissas metodológicas, caracterizações de investimentos em TI e dados
de outros setores7. Em suma, os resultados a partir dos dados desagregados sugerem
que o paradoxo da produtividade proposto por Solow não existia.
Oliner & Sichel (2000) sugerem que o investimento em TI teria sido o principal fator
responsável pelo aumento da produtividade nos Estados Unidos ao longo da década
de 1990. Os autores citam o trabalho de Robert Gordon (1999)8, em que este conclui
que todo o aumento de produtividade teria sido decorrente da produção de hardware
Vide: Brynjolfsson, E. & Hitt, L. (1995). Information Technology as a Factor of Production: The
Role of Differences Among Firms, e
Brynjolfsson, E. & Hitt, L. (1996). Paradox Lost? Firm-Level Evidence on the Returns to Information
Systems.
6
Vide: Morrison, C. & Berndt, E., (1991) - Assessing the Productivity of Information Technology
Equipment in U.S. Manufacturing Industries.
7
Vide: Brynjolfsson, E. & Hitt, L. (1997). Computing productivity: Are Computers Pulling Their
Weight? e
Dewan, S. & C. Min (1997). The Substitution of IT for Other Factors of Production: A Firm-Level
Analysis.
8
Vide: Gordon, R. J. (1999). Has the ‘New Economy’ Rendered the Productivity Slowdown
Obsolete?
5
12
de computadores, e que o uso desta tecnologia em si não guardava qualquer relação
com este avanço. Isso significa dizer que a aceleração da produtividade na segunda
metade da década de 1990 era reflexo puramente de fatores cíclicos. No entanto,
Gordon havia escrito o trabalho antes da revisão metodológica das Contas Nacionais,
ocorrida em outubro de 1999. Ao identificar e retificar o equívoco em Gordon (1999),
os autores concluem que o uso de computadores também contribuiu para o
crescimento da produtividade em outros setores da economia, porém em menor
magnitude quando comparado com a produção desta tecnologia.
Embora ainda persistam algumas polêmicas sobre os efeitos do uso de
computadores e TI na evolução da produtividade da economia 9, boa parte
da evidência hoje disponível aponta para uma relação positiva entre estes
fatores. À medida que a adoção de novas tecnologias passou a fazer parte da rotina
de investimentos das empresas, a produtividade retomou o processo de crescimento.
Em março de 2000, Solow declarou que “agora já se pode ver os computadores nas
estatísticas de produtividade”10.
Ressaltamos que a melhor compreensão dos efeitos da introdução de computadores
sobre a evolução da produtividade, assim como a identificação dos canais e desafios,
deve fornecer lições importantes sobre a disseminação da IoT que deve ocorrer nas
próximas décadas.
3.2 Impactos econômicos da difusão da banda larga
O impacto econômico da introdução da tecnologia de banda larga foi alvo de debate
acadêmico mais recentemente. Devido à sua natureza estrutural, a tecnologia de
banda larga é comparada, em termos de importância econômica, aos investimentos
de infraestruturas convencionais como rodovias e pontes. Assim, cabe discutir, no
âmbito deste estudo, pontos relevantes acerca deste assunto.
A difusão da tecnologia de banda larga vem desempenhando papel crescente na
evolução do capital humano, condição necessária para o crescimento econômico e
aumento da competitividade de um país. Além da redução da assimetria de
informação, a banda larga permite aos indivíduos adquirir, a baixo custo, habilidades
que facilitam a sua integração econômica. No que tange ao universo empresarial,
Qiang, Rossotto e Kimura (2009) denotam que as empresas americanas puderam
cortar custos da ordem de US$ 155 bilhões entre 1998 e 2002 em função da
tecnologia de banda larga. Da mesma forma, França, Alemanha e Reino Unido
Vide: Brynjolfsson & McAfee (2011) e Acemoglu et al. (2014).
Vide:
Uchitelle,
Louis
(2000).
Disponível
em:
<http://www.nytimes.com/2000/03/12/business/economic-view-productivity-finally-shows-the-impact-o
f-computers.html>. Acesso em: 29/01/2016.
9
10
13
conjuntamente reduziram custos da ordem de US$ 8,3 bilhões, bem como
aumentaram receitas na ordem de US$ 79 bilhões para o mesmo período.
Os mesmos autores ressaltam que, para cada 1% de aumento no número de usuários
de internet, as exportações aumentam 4,3%, dos quais, 3,8% decorrem de
exportações de países emergentes para países desenvolvidos. O impacto da difusão
da banda larga tende a ser maior em países emergentes, onde o subgrupo de países
com melhor infraestrutura consegue atrair maiores investimentos estrangeiros
diretos, serviços de offshoring e outsourcing.
Katz, et al. (2012) encontram dois efeitos pouco intuitivos: em primeiro lugar, o
impacto para o PIB tende a ser maior em países onde a adoção da tecnologia de
banda larga encontra-se em estágio mais avançado. Neste sentido, os autores
concluem que a menos que as economias emergentes acelerem o aumento de
penetração da banda larga, o impacto da tecnologia será muito limitado.
Em segundo lugar, embora a difusão tenha efeitos positivos sobre o emprego, o
impacto tem retornos marginais decrescentes. Ou seja, à medida que a taxa de
penetração aumenta, o efeito positivo sobre o emprego é cada vez menor (efeito
saturação). Katz, et al. (2012) evidenciam trabalhos anteriores que estimam o efeito
sobre o emprego, por meio de um choque no investimento em capital tecnológico na
matriz insumo-produto. Embora a matriz insumo-produto seja um modelo estático
que reflete a inter-relação entre os setores econômicos, os autores consideram que
o resultado da estimação seja bastante confiável. Tais trabalhos indicam a criação de
140 mil empregos por ano nos Estados Unidos durante 10 anos e de 211 mil no Reino
Unido, considerando empregos diretos, indiretos e induzidos.
Outros estudos mostram que quanto maior a velocidade da internet banda larga,
maior impacto sobre o aumento do PIB per capita. O European Investment Bank
(2014), utilizando dados entre 2008 e 2012, encontrou resultados consistentes com
a literatura anterior11, ou seja, o efeito nos países de menor renda per capita é maior
que nos países de renda mais alta. Para cada 10% de penetração da banda larga,
em países de menor renda per capita, a taxa de crescimento do PIB aumenta em
0,098% e nos países de renda per capita maior, a taxa aumenta em 0,059%.
Além disso, Katz, et al. (2012) apresentam estudos de casos de impacto da banda
larga para diversos países: Brasil, Chile, República Dominicana, Arábia Saudita,
Índia, Malásia, China e Indonésia. Os autores buscam replicar a metodologia aplicada
anteriormente para estimar o impacto da difusão da banda larga na Alemanha 12,
Vide: Katz et al., (2010) – The impact of broadband on jobs and the German economy;
Rohman & Bohlin, (2012) – Does broadband speed really matter as a driver of economic growth?
Investigating OECD countries e
Forzati & Mattsson, (2012) – Socio-economic effects of FTTH/FTTX in Sweden.
12
Vide: Katz, R., et al. (2010) - The impact of broadband on jobs and the German economy.
11
14
porém não dispõem dos dados desagregados para o Brasil. Assim, não foi possível
especificar um modelo robusto para o país, em função do limitado número de
observações.
O modelo alternativo adotado leva em consideração a base de dados dos 27 estados
brasileiros. O principal resultado esperado, ou seja, o impacto da penetração da
banda larga sobre o emprego, não foi estatisticamente significante. Os autores
consideram que o resultado demonstra que o impacto não é uniforme em todos os
estados brasileiros. Além disso, assumem que o modelo é valido porque é consistente
com os resultados de estudos similares. Assim, concluem que no caso brasileiro, para
cada 10% de penetração da banda larga, a contribuição é de 0,08% de crescimento
do PIB. Os autores também especificam um modelo cross-section, com dados de
2007, para estimar o impacto para estimar o impacto sobre o emprego no Brasil. Os
resultados mostram que um aumento de 10% na penetração da banda larga produz
uma redução no desemprego da ordem de 0,06%.
15
4 Efeitos de longo prazo sobre o PIB e o emprego
Nesta seção serão apresentadas algumas estimativas dos impactos de longo prazo
da disseminação da IoT sobre a economia global e, especificamente, sobre o Brasil.
Por se tratar de uma tecnologia ainda em desenvolvimento, a extensão e a
profundidade das mudanças que a IoT pode ocasionar na estrutura produtiva dos
países são incertas.
Em função destas incertezas e da ausência de dados consolidados sobre o setor,
exercícios de estimação como o proposto são de difícil execução. Neste sentido, esta
seção faz uso de estudos independentes a respeito do assunto – desenvolvidos por
consultorias de negócios internacionais a partir da coleta de dados sobre a tecnologia
e da opinião de especialistas – bem como de trabalhos acadêmicos sobre os impactos
de tecnologias similares na PTF dos países.
Inicialmente são apresentadas as conclusões de estudos internacionais a respeito dos
potenciais impactos da IoT sobre a economia global, ao passo em que a segunda
subseção apresenta as estimativas da Tendências para a economia brasileira,
complementando-as com a avaliação feita por estudos internacionais.
4.1 Impactos sobre a economia global
Conforme discutido na Seção 2, inovações tecnológicas têm papel fundamental em
promover significativos ganhos de produtividade na produção de bens e serviços,
gerando uma renda maior para um mesmo montante de insumos empregados. Neste
sentido, a disseminação da internet das coisas pode representar uma grande
oportunidade para os países, o que tem promovido estudos a este respeito.
A conexão dos objetos em redes de dados, sobretudo no âmbito produtivo (tecnologia
conhecida como Industrial Internet of Things – IIoT), tem o potencial de melhorar o
monitoramento em tempo real da produção, além de prover informações que
possibilitem a otimização do processo produtivo e uma melhor gestão. Ressalta-se
ainda que o desenvolvimento desta tecnologia possa estimular a criação de novos
produtos e serviços, alterando não apenas a estrutura de custos, mas também a
prospecção de negócios pelas empresas.
Segundo a consultoria Accenture em parceria com a Frontier Economics 13 , a
estimativa é de que a adoção desta tecnologia possa gerar uma adição de
O estudo analisou os possíveis impactos sobre o PIB de 20 países, emergentes e desenvolvidos, que
representam cerca de 75% do PIB mundial. São eles: Austrália, Brasil, Canadá, China, Dinamarca,
Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Holanda, Noruega, Rússia, Coréia do Sul, Espanha,
Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. O modelo e as premissas utilizadas não estão disponíveis no
relatório
público
divulgado
pela
consultoria.
Estudo
disponível
em:
<https://www.accenture.com/_acnmedia/Accenture/Conversion13
16
US$ 10,6 e 14,2 trilhões ao PIB destes países ao longo do intervalo
analisado. Os cálculos foram feitos com base em um modelo quantitativo 14
elaborado pela Frontier Economics, o qual considera não apenas os efeitos diretos
dos investimentos em IIoT sobre o PIB – através da acumulação de capital físico –
mas também os seus impactos indiretos, sobre a PTF (a qual, como visto, trata-se
de uma medida da eficiência agregada da economia).
Segundo o estudo, o impacto de US$ 10,6 trilhões foi calculado assumindo que os
níveis atuais de investimento nesta tecnologia serão mantidos até 2030. É
ponderado, entretanto, que este montante pode alcançar o valor de US$ 14,2
trilhões caso os países analisados adotem medidas que favoreçam a
capacidade de absorção da tecnologia pela economia. As consultorias apontam
que, dentre os países analisados, aqueles com maior potencial para auferir ganhos
com a disseminação da IIoT são: Estados Unidos, Suíça e Finlândia. Por outro lado,
os que apresentam menor capacidade de absorção tecnológica são: Itália, Índia e
Rússia.
No entanto, as estimativas da Accenture/Frontier Economics estão bem aquém dos
valores encontrados pelo McKinsey Global Institute – instituto de pesquisa vinculado
à consultoria McKinsey & Company. Em estudo publicado em junho de 2015,
este afirma que a IoT tem o potencial de adicionar entre US$ 3,9 trilhões e
US$ 11,1 trilhões por ano ao PIB mundial até 2025. Ao contrário do trabalho
da Accenture, o instituto considerou os impactos potenciais da IoT não
apenas sobre o setor produtivo, mas também possíveis aplicações desta
tecnologia no âmbito doméstico e na automatização de veículos, entre
outros.
O gráfico abaixo apresenta outras estimativas para o impacto da IoT (em US$
trilhões) na economia mundial até 2020. Como pode ser visto, os valores variam
bastante entre si e também diferem consideravelmente dos montantes discutidos
acima. Esta elevada variância pode ser atribuída às já mencionadas incertezas em
relação à dimensão dos possíveis efeitos da IoT na estrutura produtiva dos países 15.
Assets/DotCom/Documents/Global/PDF/Dualpub_18/Accenture-Industrial-Internet-Things-GrowthGame-Changer.pdf>. Acesso em: 01/03/2016.
A partir da estimativa das consultorias para o período de 2015 a 2030, pode-se inferir que, para o
período de 5 anos – até 2025, seria projetado um impacto de aproximadamente US$ 7,0 trilhões na
economia mundial (considerando-se apenas os 20 países analisados).
15
17
Figura 1.
Projeções para o impacto da Internet das Coisas sobre o PIB mundial
até 2020 (em US$ trilhões)
14,4
7,1
4,5
1,9
Cisco
IDC
Machina
Gartner
Fonte: Departamento de Ciência do Reino Unido . Elaboração: Tendências.
16
Cabe ainda destacar que, conforme discutido na Seção 2, a concretização do potencial
econômico das inovações tecnológicas não depende apenas do desenvolvimento
destas tecnologias, mas, sobretudo, do ambiente institucional e econômico do país.
Este definirá a capacidade de disseminação (ou absorção) da tecnologia e, portanto,
de realização do potencial que esta representa. Similarmente ao efeito divulgado por
Katz, et al. (2012) a respeito da difusão da banda larga – vide subseção 3.2 – a
Tendências acredita que quanto maior a difusão da IIoT nos países, maior será o
efeito sobre o PIB.
4.2 Impactos sobre a economia brasileira
Com relação ao impacto potencial da IoT sobre a economia brasileira, a Tendências
estimou os possíveis efeitos desta tecnologia sobre a trajetória da PTF e,
consequentemente, sobre o crescimento econômico de longo prazo. Este cálculo foi
feito com base na estimativa desta consultoria para o crescimento da PTF ao longo
dos próximos anos, bem como nos ganhos de produtividade calculados para
tecnologias similares.
Diversos estudos recentes destacam os efeitos positivos de produtividade advindos
do investimento, produção e uso de tecnologias da informação e comunicação (“ICT”)
sobre o produto potencial dos países. Em função da ausência de dados consolidados
sobre o setor de IoT no Brasil, a Tendências incorporou as estimativas para o impacto
Estas estimativas das consultorias são citadas em um estudo feito pelo órgão, disponível em:
<https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/409774/14-1230internet-of-things-review.pdf>. Acesso em: 01/03/2016.
16
18
da ICT na evolução recente da PTF de países europeus 17 no cálculo dos possíveis
efeitos da nova tecnologia (IoT) sobre o Brasil.
A IoT, assim como a ICT, trata-se de uma tecnologia de propósito geral, com
impactos não-transitórios sobre a capacidade produtiva dos países. Assim, cabe a
ressalva de que, embora os ganhos de produtividade aqui utilizados se refiram à
difusão da ICT sobre economias desenvolvidas, existem significativas similaridades
entre estas tecnologias, fator que justifica sua utilização no trabalho (como variável
proxy 18 ). Ademais, destaca-se que, conforme discutido brevemente nas seções
anteriores – sobretudo na Seção 319, o impacto de novas tecnologias tende a ser
maior em países emergentes.
Segundo o estudo de van Ark (2014), a difusão da ICT apresenta três efeitos sobre
o PIB dos países: os incidentes sobre a PTF do setor produtor da tecnologia, os
atuantes sobre a PTF dos demais setores (que adotam a ICT), e os efeitos diretos
advindos dos investimentos na produção e utilização da tecnologia. A tabela abaixo
apresenta a contribuição média (crescimento ao ano) encontrada pelo autor para os
efeitos da ICT sobre o PIB dos países ao longo da década de 2001-2011.
Tabela 1.
Contribuição do investimento, produção e uso da
tecnologia da informação e comunicação (% ao ano)
2001-2011
Efeitos sobre a PTF do setor de produção de ICT (i)
0,22%
Efeitos sobre a PTF dos demais setores (ii)
0,01%
Impactos diretos dos investimentos (iii)
0,33%
Efeito total da ICT
0,55%
Fonte: van Ark (2014). Elaboração: Tendências.
Os valores correspondentes aos efeitos da tecnologia sobre a PTF (itens i e ii) foram
incorporados à projeção da Tendências para a evolução da PTF brasileira. A previsão
inicial desta consultoria – sem os potenciais efeitos da expansão da IoT – é de que a
PTF brasileira sofrerá forte redução nos próximos dois anos, em função da conjuntura
econômica atual. Após esse período, a produtividade deverá
retomar seu
crescimento, entre 0,2% e 0,3% ao ano, pelo menos até 2025. Assim, segundo os
cálculos da Tendências e tomando como base o ano de 2016, espera-se um
crescimento da produtividade de 1,1% ao longo dos próximos 10 anos.
Vide: van Ark, B. (2014) - Total factor productivity: Lessons from the past and directions for
the future. Disponível em: <https://www.nbb.be/doc/ts/publications/wp/wp271en.pdf>. Acesso em:
14/03/2016.
18
Os economistas dão o nome de proxy quando uma variável é utilizada no lugar de outra, inicialmente
desejada, em função da ausência de dados para este fator.
19
Vide Seção 3, referência ao trabalho de Qiang, Rossotto e Kimura (2009).
17
19
Considerando-se que a expansão da IoT deve ter efeito semelhante sobre a PTF ao
das tecnologias da informação e comunicação, o crescimento estimado para a
produtividade passa a ser de 3,16% ao longo da próxima década. Ou seja, tendo
em vista o impacto de tecnologias similares, espera-se que a difusão da IoT
gere um crescimento da produtividade e, consequentemente, do PIB, de
cerca de 2 pontos percentuais a mais do que o inicialmente previsto. O gráfico
abaixo ilustra estes resultados.
Figura 2.
Projeções para a evolução da PTF brasileira – Índices (base 100 =
2016)
104
103
102
101
100
99
98
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025
Com IoT
Sem IoT
Fonte: van Ark (2014) e Tendências. Elaboração: Tendências.
De acordo com Qiang, Rossotto e Kimura (2009), ao utilizar os valores encontrados
por van Ark (2014) para o caso de um país emergente, o resultado obtido pode
subestimar o impacto potencial da tecnologia no Brasil. Considerando-se este
impacto sobre a PTF, a Tendências estima que a difusão da IoT possa gerar uma
adição de cerca de R$ 122 bilhões ao PIB brasileiro até 2025.
Este resultado é relativamente próximo ao encontrado pelas consultorias Accenture
e Frontier Economics em estudo citado anteriormente. Segundo este estudo, a
disseminação da IIoT (aplicação da IoT ao setor produtivo) pode gerar um ganho de
cerca de US$ 39 bilhões (aproximadamente R$ 156 bilhões) para a economia
brasileira ao longo dos próximos 15 anos. Caso ocorram melhorias na capacidade de
absorção tecnológica do país, as consultorias estimam que este ganho possa alcançar
US$ 48 bilhões (R$ 192 bilhões ) para o mesmo período.
O modelo adotado pela Frontier Economics utiliza 55 indicadores – a respeito do
ambiente institucional e econômico intrínseco à difusão de tecnologias – para avaliar
a capacidade de absorção tecnológica do país. Dentre os 20 países analisados no
estudo, o Brasil ficou em 17º lugar no ranking da capacidade de absorção da
tecnologia (“National Absorptive Capacity index” ou “NAC Index).
20
Os gráficos abaixo sintetizam o estudo da Accenture, apresentando a posição dos
países no ranking do potencial de geração de renda da IIoT e da capacidade de
absorção tecnológica.
Impacto potencial da IIoT sobre a economia do país (em US$
bilhões)
6.132
Figura 3.
7.500
6.000
4.500
68
56
39
37
15
Finlândia
Dinamarca
Brasil
Índia
Rússia
108
Espanha
136
157
157
159
183
Suécia
Noruega
247
Coréia do Sul
167
277
Canadá
Holanda
351
303
França
Reino Unido
497
China
960
593
1.500
Alemanha
3.000
Austrália
Itália
Suíça
Japão
Estados Unidos
0
Fonte: Accenture/Frontier Economics. Elaboração: Tendências.
25
21,3
31,3
Itália
29,9
32,4
Brasil
35
Espanha
45,7
França
45
33,0
47,1
China
50,9
54,1
Austrália
Canadá
54,3
Alemanha
52,2
54,4
Japão
Coréia do Sul
55,0
55
Reino Unido
58,8
61,8
Noruega
Dinamarca
62,4
Suécia
59,0
63,2
Finlândia
Holanda
63,9
Suíça
65
64,0
75
Índice da Capacidade de Absorção Nacional (NAC index)
Estados Unidos
Figura 4.
Rússia
Índia
15
Fonte: Accenture/Frontier Economics. Elaboração: Tendências. Obs: Índices próximos a 100
indicam uma elevada capacidade de absorção (ou disseminação) da tecnologia pela economia.
Como pode ser visto, apesar do elevado tamanho da sua economia, o Brasil está
em 18º lugar no ranking do impacto potencial da IIoT, atrás de economias
significativamente
menores.
Isto
se
deve,
em
parte,
à
sua
baixa
classificação em termos de capacidade de absorção tecnológica, fator que
afeta consideravelmente a dimensão dos efeitos de novas tecnologias sobre a
eficiência econômica (PTF).
21
Vale ainda ressaltar os potenciais impactos de tecnologias de proposito geral (como
a IoT e os diversos ramos da ICT) sobre o mercado de trabalho. Conforme
apresentado na Seção 3, esta discussão foi tema de trabalho recente realizado por
Katz et al. (2012) sobre os efeitos da disseminação da banda larga. No estudo, a
análise do mercado brasileiro revela que, em média, uma expansão de 10 pontos
percentuais na penetração da banda larga pode gerar uma redução de 0,06% no
desemprego. Este resultado dá uma dimensão do potencial da IoT sobre a geração
de empregos, não podendo, entretanto, ter sua metodologia aplicada diretamente ao
caso da IoT, uma vez que a banda larga, tem penetração limitada (entre 0 e 100%
dos computadores).
Katz, et al. (2012) mostraram-se bastante confortáveis ao utilizar os resultados da
metodologia de matriz insumo-produto para estimar o efeito para o emprego da
difusão da banda larga para os Estados Unidos, Reino Unido e Suíça. Os autores citam
quatro trabalhos que estimam o número de empregos gerados para cada país,
apresentados na tabela abaixo:
22
Tabela 2.
País
Resultados sobre o impacto da banda larga no número de postos de
trabalho.
Autores Instituição
(*)
Objetivo
Resultado
Crandall, et al.
(2003) Brookings
Institution
Estimar o impacto sobre
o emprego da difusão da
banda larga focado no
aumento da adoção
doméstica de 60% para
95%, requerendo
investimento de US$
63.6 bilhões.
Criação de 140.000
empregos por ano por
10 anos.
Total de empregos: 1.2
milhões (incluindo
546.000 para a
construção e 665.000
indiretos)
Atkinson, et al.
(2009) - ITIF
Estimar o impacto de
investimento de US$ 10
bilhões na difusão da
banda larga.
Total de empregos:
180.000 empregos por
ano (incluindo 64.000
empregos diretos e
116.000 indiretos e
induzidos)
Katz, et al.
(2008) - CITI
Estimar o impacto da
difusão de uma rede
nacional de banda larga,
requerendo um
investimento de CHF 13
bilhões
Total de empregos:
114.000 ao longo de
quatro anos (incluindo
83.000 diretos e
31.000 indiretos)
Liebenau et al,
(2009) - LSE
Estimar o impacto do
investimento de US$ 7.5
bilhões para atingir a
meta definida pelo Plano
"Digital Britain".
Total de empregos:
211.000 por ano
(incluindo 76.500
diretos e 134.500
indiretos e induzidos)
Estados
Unidos
Suíça
Reino Unido
Fonte: Katz, et al. (2012). Elaboração: Tendências.
(*) Notas: ITIF: Information Technology and Innovation Foundation; CITI Columbia Institute for TeleInformation; LSE: London School of Economics.
Alternativamente, pode-se avaliar o impacto destas tecnologias a partir do emprego
de técnicas da Matriz Insumo-Produto (MIP). Nassif, Santos & Pereira (2008) 20 ,
utilizando o chamado Modelo de Geração de Empregos do BNDES 21 sobre a MIP de
1996, estimam o número de postos de trabalho que poderiam surgir em decorrência
de choques positivos de investimento nos diversos setores econômicos brasileiros.
Para o setor de comunicações (no qual a IoT estaria inserida), os autores estimam
Vide: Nassif, A. Santos, L. & Pereira, R., Revista do BNDES, V. 14, N. 29, P. 157-176 (2008) –
Produtividade e Potencial de Emprego no Brasil: As Prioridades Estratégicas das Políticas
Públicas.
Disponível
em:
<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Consulta_Expressa/Set
or/Emprego/200806_7.html>. Acesso em: 25/04/2015.
21
Este modelo utiliza dados oficiais do IBGE para estimar o número de postos de trabalho necessários –
considerando-se o mercado formal e informal – para atender a um determinado choque de produção nos
diversos setores econômicos.
20
23
que um aumento de R$ 10 milhões22 no investimento pode levar a criação de cerca
de 542 novos postos de trabalho (empregos diretos, indiretos e de efeito-renda23) no
período de um ano. Apesar de este resultado ser apenas uma proxy do que
seria observado no caso da difusão da IoT, há relativo consenso na literatura
a respeito dos efeitos positivos de tecnologias de proposito geral sobre a
geração de empregos.
Do exposto, fica claro que a IoT tem um elevado potencial para gerar renda e,
consequentemente, emprego no país. Este potencial, no entanto, pode ser
mais bem aproveitado a partir de investimentos na capacidade de
disseminação tecnológica da economia. Esta poderia ser ampliada com
melhorias, sobretudo, no ambiente comercial e de inovação (suporte a P&D) do país,
tema que será discutido com maiores detalhes na próxima seção.
A preços médios de 2008. Valor equivalente a R$ 15,5 milhões a preços de dezembro/2015.
Emprego efeito-renda – emprego criado em virtude do aumento da renda gerada pela expansão da
produção e do emprego direto e indireto. O emprego efeito-renda decorre do fato de que o incremento de
produção direta e indireta enseja, ao mesmo tempo, o aumento de rendas derivadas nesses setores
(massa salarial, dividendos e pro-labore), proporcionando, em última instância, incremento da demanda
e do emprego nos setores produtores de bens de consumo. Vide Nassif, Santos & Pereira (2008).
22
23
24
5 Recursos necessários
A consultoria Teleco – Inteligência em Telecomunicações observa que a conexão
entre “coisas” permitirá a otimização e automação de processos, levando a grandes
ganhos de produtividade na economia, sendo que a conexão é apenas o primeiro
passo. As maiores transformações virão com os objetos inteligentes, em que estes
passam a ter autonomia para agir sobre o meio em que se encontram.
Segundo a mesma, o conjunto de objetos com potencial para serem conectados à
internet pode ser segmentado em sete subconjuntos, com o intuito de estimar os
investimentos necessários para os próximos dez anos: cidade inteligente, carro
inteligente; casa inteligente; saúde inteligente; energia inteligente; indústria
inteligente (automação) e varejo inteligente (pagamentos). Para estimar o
investimento necessário em cada segmento, a Teleco contou com estimativas e com
a opinião de especialistas em cada área.
A consultoria Teleco estimava que houvesse cerca de 20 milhões de objetos
conectados no Brasil em 2015, considerando-se os seis segmentos (este
número não inclui os computadores, smartphones e smartTVs). Estima-se
que este número mais que dobre até 2020, atingindo a marca de 100 milhões
de objetos conectados em 2025. O investimento nesse cenário chegará a R$
127 bilhões nos próximos 10 anos, sendo que R$ 54,4 bilhões serão
dedicados à indústria. No entanto, há barreiras atualmente presentes que
reduzem o potencial da IoT, que deverão passar por processo de negociação
a fim de que o setor se desenvolva em sua plenitude.
Barreiras culturais a crença equivocada de que o desenvolvimento da IoT no Brasil
elevaria o desemprego podem dificultar a adoção mais intensa de novas tecnologias.
O Brasil também se destaca pela elevada tributação que incide sobre o setor de
telecomunicações, que eleva o custo de implantação e de operação dos serviços
de telecomunicação, insumos essenciais para a realização do potencial completo da
IoT.
Entre estes tributos e contribuições, destacamos:

Taxa de Fiscalização de Instalação (TFI) e a Taxa de Fiscalização de
Funcionamento
(TFF),
cujas
receitas
são
destinadas
ao
Fundo
de
Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) para o financiamento das
atividades de regulação e fiscalização setorial. A TFI (no valor de R$ 26,83) é
devida pela prestadora no ato de concessão da licença para o funcionamento
dos diversos tipos de estação, enquanto a TFF deve ser paga anualmente e
corresponde a metade do valor da TFI (R$ 13,42). Além disso, destinam-se
ao FISTEL metade das receitas de outorga de concessões, permissões e
25
autorizações de uso de radiofrequências, e as decorrentes de multas previstas
na Lei Geral de Telecomunicações (Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997);

Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST),
cuja
função seria
o
subsídio de algumas atividades relacionadas à
universalização dos serviços de telecomunicações, cujo custo não possa ser
recuperado com a exploração eficiente do serviço. O FUST é financiado por
receitas decorrentes de outorga de concessões, permissões e autorizações de
uso de radiofrequências, e multas previstas na Lei Geral de Telecomunicações.
Além disso, cabe a este fundo particular 1% da receita operacional bruta
decorrente de prestação de serviços de telecomunicações (excluindo-se o
ICMS, o PIS e a COFINS); e

Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações
(FUNTTEL), financiado por uma contribuição de 0,5% sobre a receita bruta
das empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, e com o objetivo
de
fomentar
iniciativas
para
o
desenvolvimento
da
indústria
de
telecomunicações no Brasil.
Estes tributos arrecadam valores significativos (R$ 7,8 bilhões somente em 2015),
sem que houvesse uma aplicação adequada dos recursos para os fins aos que são
legalmente destinados. Grande parte dos recursos foi alocada ao Orçamento Geral
da União, para financiar gastos gerais do governo brasileiro. Ou seja, trata-se na
prática de meros tributos que oneram em última instância o usuário dos serviços de
comunicações.
Embora os valores de TFI e TFF tenham sido reduzidos para R$ 5,68 e R$ 1,89
respectivamente em conexões M2M (Lei 12.715 de 2012), ainda assim o seu custo
inviabiliza aplicações massivas de IoT em que o valor pago pela conexão pode ser de
menos de R$ 5,00 por dispositivo por ano. Só com a eliminação desta taxa será
possível a difusão de IoT para aplicações que utilizam uma grande quantidade de
sensores como na agricultura de precisão. Destacamos que a manutenção da TFI e
da TFF representam um contrassenso do ponto econômico. Trata-se de atividade com
grande potencial de geração de externalidades positivas (benefícios colaterais ao
restante da sociedade). Nesta situação, a prescrição econômica é o uso de medidas
de incentivo (como subsídios), e não a taxação da atividade.
Questões não resolvidas, relacionadas à privacidade e segurança das informações,
bem como de regulação e do cenário econômico também atuam no sentido de inibir
o desenvolvimento da IoT no Brasil. Um exemplo de barreira por questões não
resolvidas tem a ver com a implantação nacional do SINIAV (Sistema de Identificação
Automática de Veículos), que se arrasta desde 2006. O sistema é baseado em
tecnologia de identificação de veículos automotores por radiofrequência e foi criado
para prevenir, fiscalizar e reprimir o furto e o roubo de veículos e cargas,
26
possibilitando inclusive a melhoria do trânsito nas grandes cidades. No entanto foi
implantado parcialmente apenas no estado de Roraima.
Na hipótese de redução de tais barreiras, a Teleco estima que o número de objetos
conectados no território brasileiro alcançará 75 milhões em 2020, chegando a dobrar
no ano de 2025, atingindo cerca de 200 milhões de dispositivos. Neste cenário, serão
necessários investimentos da ordem de R$ 204,6 bilhões, dos quais R$ 76,3 bilhões
serão dedicados à automação industrial.
Utilizando-se os valores obtidos por Nassif, Santos & Pereira (2008), apresentados
na seção 4.2, podemos estimar o número de postos de trabalho que serão criados
com o desenvolvimento da IoT. Ou seja, para cada R$ 15,5 milhões (valor
atualizado para dez/2015) de investimento no setor de comunicações, serão
criados 542 novos postos de trabalho diretos, indiretos ou efeito-renda.
Assim, para o cenário atual, sendo necessários investimentos da ordem de
R$ 54,4 bilhões para os próximos 10 anos, estima-se que serão criados
1.902.245 novos postos de trabalho, sendo que 78% são emprego derivados
do efeito-renda24. Já na hipótese da redução de barreiras, serão necessários
investimentos da ordem de R$ 76,3 bilhões que gerarão 2.668.039 novos
empregos diretos, indiretos ou derivados do efeito-renda. O quadro abaixo
mostra a projeção dos investimentos e da criação de novos postos de trabalho no
cenário atual e no cenário com redução de barreiras à implantação da IoT no Brasil:
Tabela 3.
Projeção dos investimentos e de criação de novos postos de trabalho
(diretos, indiretos ou emprego efeito-renda) com o desenvolvimento da IoT no
Brasil.
Cenário com redução
de barreiras
Cenário Atual
ANO
INVESTIMENTO
(em R$ bilhões)
Empregos
Criados
INVESTIMENTO
(em R$ bilhões)
Empregos
Criados
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
4,7
165,9
5,0
175,6
4,9
170,9
5,5
191,4
5,0
176,0
6,0
208,6
5,2
181,3
6,5
227,4
5,3
186,8
7,0
247,9
5,5
192,4
7,7
270,2
5,7
198,1
8,4
294,5
5,8
204,1
9,2
321,0
6,0
210,2
10,0
349,9
2025
6,2
216,5
10,9
381,4
TOTAL
54,4
1.902,2
76,3
2.668,0
Trata-se do crescimento do consume derivado da elevação da renda dos setores direta ou indiretamente
associados à implantação e à gestão de IoT.
24
27
Fonte: Teleco. Elaboração: Tendências.
28
6 Conclusões
A Internet das Coisas (IoT) vai muito além da simples conexão entre dispositivos e
já faz parte do nosso dia-a-dia. O objetivo deste estudo foi analisar os principais
impactos sobre a economia brasileira. Por se tratar de tema relativamente recente,
o assunto carece de estudos acadêmicos. Desta forma, dado que a IoT é um conjunto
de tecnologias de propósito geral, em diversos aspectos a IoT assemelha-se aos ciclos
passados de difusão de novas tecnologias, nos quais nos baseamos para tirar nossas
conclusões.
Analisamos aspectos relacionados ao que a literatura econômica tratou como
Paradoxo da Produtividade, ao final da década de 1980, decorrente de expectativas
irrealistas da difusão dos computadores sobre a produtividade nos Estados Unidos.
Discutimos também, dado que a difusão da tecnologia de banda larga vem
desempenhando papel crescente na evolução do capital humano, estudos empíricos
que mostram que o impacto econômico é positivo, tanto para a produtividade quanto
para o emprego. Qiang, Rossotto e Kimura (2009) observam que o impacto da
difusão da banda larga tende a ser maior em países emergentes.
A difusão da IoT e o seu impacto positivo sobre a economia brasileira dependem de
diversos fatores, dentre os quais se destacam a tecnologia de comunicações,
infraestrutura e recursos humanos. Assim, discutimos o efeito da IoT na
Produtividade Total dos Fatores (PTF), medida da eficiência agregada da economia.
Além disso, discutimos projeções para o impacto da Internet das Coisas sobre o PIB
mundial até 2020. Considerando-se que o efeito da expansão da IoT sobre a PTF
deve assemelhar-se ao das tecnologias da informação e comunicação, estimamos
que a IoT gere um crescimento da produtividade de cerca de 2 pontos percentuais
ao longo da próxima década. A partir deste impacto sobre a PTF, a Tendências estima
que a difusão da IoT possa gerar uma adição de cerca de R$ 122 bilhões ao PIB
brasileiro até 2025.
Este resultado é relativamente próximo ao encontrado pelas consultorias Accenture
e Frontier Economics, que considera que a disseminação da IIoT (aplicação da IoT ao
setor produtivo) pode gerar um ganho de cerca de US$ 39 a 48 bilhões
(aproximadamente R$ 156 a 192 bilhões) para a economia brasileira ao longo dos
próximos 15 anos.
Com base em estimações da consultoria Teleco, o Brasil terá cerca de 100 milhões
de dispositivos conectados em 2025, sendo necessários investimentos entre R$ 127
e R$ 204,6 bilhões, dos quais R$ 54,4 a R$ 76,3 bilhões serão dedicados à automação
industrial. Dado que ainda há muitas barreiras à implantação plena da IoT no Brasil,
a Tendências estima que serão criados entre 1,9 milhões e 2,6 milhões novos postos
de trabalho diretos, indiretos ou emprego efeito-renda.
29
Procuramos demonstrar que há relativo consenso acadêmico dos efeitos positivos da
difusão de tecnologias de propósitos gerais sobre a produtividade econômica e o
emprego. A IoT possui elevado potencial para gerar renda e emprego no país, que
pode ser melhor aproveitado a partir de investimentos na capacidade de
disseminação tecnológica da economia. Portanto, a concretização deste potencial
depende não apenas do desenvolvimento da tecnologia, mas também de um
ambiente institucional e econômico favorável para a sua disseminação.
Com base na experiência de outros países e na revisão da literatura, identificamos
alguns eixos de políticas que podem ser implantadas para acelerar (ou mesmo
permitir) o desenvolvimento da IoT no Brasil. Algumas delas requerem apenas
modificações
regulatórias,
enquanto
outras
demandam
investimentos
cuja
maturação deve ocorrer somente a longo prazo.
Em primeiro lugar, deve-se tomar medidas para reduzir o custo dos insumos
físicos utilizados na implantação da IoT. Há dois elementos para considerar
nesta categoria. De um lado temos os serviços de telecomunicações, que se tornarão
essenciais
para
conectar
objetos
e
dispositivos,
e
assim
otimizar
seu
uso/comportamento. Sem a comunicação eficaz e de baixo custo, não será viável o
investimento na conexão de objetos, o que impedirá a implantação e a disseminação
da IoT em todo o seu potencial. Conforme já apontamos na seção anterior, o setor
de telecomunicações no Brasil está sujeito a uma elevada taxação
(principalmente as taxas destinadas aos fundos de desenvolvimento) e a outros
regulamentos que encarecem o serviço aos usuários. Uma revisão destes ônus
(com eliminação das contribuições ao FUST e ao FISTEL para conexões M2M)
seria benéfica não somente ao desenvolvimento da IoT, mas à economia
brasileira como um todo, aproximando as empresas brasileiras das condições de
competitividade que existem em outros países.
Do outro lado, temos o custo dos equipamentos (hardware) que também são
fundamentais para o bom funcionamento da cadeia da IoT. Trata-se de sensores,
atuadores, e equipamentos de comunicação que permitem a conexão e o fluxo de
informação entre os dispositivos e servidores responsáveis pelo seu controle. É
importante que os agentes tenham acesso a estes equipamentos ao menor custo
possível para facilitar o desenvolvimento de aplicações genuinamente nacionais,
agregando valor à cadeias instaladas no Brasil. Com este objetivo, seria salutar um
programa de redução dramática de alíquotas de importação e impostos
domésticos
(IPI,
ICMS,
PIS/Cofins,
etc)
que
incidem
sobre
estes
equipamentos. Esta conclusão é reforçada pela constatação de que a grande
contribuição de valor da IoT encontra-se no desenho de dispositivos, na integração
dos destes e no desenvolvimento de algoritmos para otimizar processos a partir das
informações coletadas, e não na manufatura de dispositivos.
30
Por fim, o Brasil deve desenvolver os recursos humanos capazes de conceber
e operacionalizar as soluções envolvendo a IoT. Trata-se de formar engenheiros
e tecnólogos das mais diversas áreas. O Brasil tem historicamente apresentado
deficiências quantitativas e qualitativas na formação de profissionais nestas áreas 25,
com efeitos adversos sobre sua capacidade de crescimento. Períodos de aquecimento
da economia são rapidamente acompanhados por aumentos significativos nos
salários
dos
profissionais,
sem
a
contrapartida
necessária
em
termos
de
produtividade, o que termina por reduzir a competitividade da economia.
Medidas para sanar estas deficiências têm longa maturação, pois envolvem a
formação (ou requalificação) de profissionais. Ações para incrementar a oferta destes
profissionais incluem políticas de financiamento de cursos superiores nestas
áreas em condições mais favoráveis, além da maior oferta de cursos nestas áreas
pelas instituições públicas de ensino no nível superior e técnico. Também é
importante adotar políticas para aumentar o aprendizado dos alunos do ensino
básico, principalmente nas áreas de matemática e ciências.
Em um horizonte mais curto, pode-se recorrer a arranjos para atrair indivíduos com
este perfil profissional de outros países. Para tanto, além de remuneração
competitiva, é necessário facilitar os trâmites para concessão de vistos de trabalho e
reconhecimento de diplomas obtidos em universidades estrangeiras.
São Paulo, 22 de julho de 2016.
Ernesto Moreira Guedes Filho
Corecon/SP: 13.965
Fernando Balbino Botelho
Corecon/SP: 28.895
Daniele Chiavenato
Corecon/SP: 35.047
Ver Oliveira et al., (2012) Estudo Comparativo da Formação em Engenharia: Brasil, BRICs e
Principais Países da OCDE, trabalho apresentado no XL Congresso Brasileiro de Educação em
Engenharia, Belém, PA.
25
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EQUIPE RESPONSÁVEL
Este relatório foi elaborado por Ernesto Moreira Guedes Filho, Fernando Balbino Botelho, Daniele
Chiavenato e Reinaldo Kenji Kagi.
Daniele Chiavenato: Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração e
Ciências Contábeis da Universidade São Paulo (FEA/USP).
Ernesto Moreira Guedes Filho: Bacharel em Ciências Econômicas Faculdade de Economia,
Administração e Ciências Contábeis da Universidade São Paulo (FEA/USP), com pós-graduação pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE/USP). É Diretor Executivo e de Estudos, Projetos e
Pareceres da Tendências.
Fernando Balbino Botelho: Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Princeton, Bacharel e
Mestre em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da
Universidade São Paulo (FEA/USP). É professor do departamento de economia da FEA-USP na área de
Teoria Econômica.
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