Som Livre: a última loja de discos A Som Livre está aberta há mais de trinta anos Centenas de CDs estão devidamente expostos, alguns com a capa desbotada, assim como os pôsteres das bandas U2 e Engenheiros do Hawaii, amarelados e colados na parede, onde também está fixada a capa do LP Falso Brilhante, de Elis Regina. Por trás do balcão, que ainda exibe fitas VHS e K7 “virgens” para a venda, está Anselmo Garcia Carvalho, proprietário da loja Som Livre, o último reduto especializado na venda de discos, especificamente CDs, em Uberaba. A loja Som Livre foi aberta há mais de trinta anos, primeiramente na Leopoldino de Oliveira, onde funcionou por dezoito anos, depois na Praça Frei Eugênio, onde funciona há quase quinze. Antes da Som Livre, Anselmo chegou a ter, em 1972, uma loja de discos, a Pop, que funcionava na rua São Benedito, mas a fechou para estudar. Formou-se em Química, trabalhou por mais de uma década em usinas siderúrgicas em Divinópolis, mas logo se entediou e voltou para os discos. “É um vício”, proclama Anselmo. Os CDs chegaram mercado no final da década de 80. Com a qualidade superior a popular fita K7 e a tecnologia do seu formato, tornaram-se atrativos ao público. Logo tomaram o lugar até dos LPs. A partir da metade dos anos 90, os Compact Disc tomaram a frente no mercado, até o advento da internet. Ao longo dos anos, os CDs foram sendo substituídos por mídias digitais e, as vendas caíram pela metade. A reboque disso, somado à pirataria já consolidada, as lojas de discos foram fechando as portas, uma a uma. A maioria dos clientes da Som Livre são da terceira idade. Procuram, sobretudo, músicas sertanejas de tempos antigos. Muitas vezes, trazem o LP e mostram a música que querem (Anselmo tem uma vitrola exposta na loja). “Aproveito e indico um disco semelhante ou um artista, muitos acabam levando”. Todos os dias, Anselmo é questionado sobre o dia em que vai fechar a loja. “Sou uma resistência, não fecharei“, sentencia e pede atenção ao cliente para a música que acabou de colocar, I am, I said, sucesso do cantor americano Neil Diamond, gravado no Brasil por Diana. Canção de tempos que não voltam mais. Exceto pela loja Som Livre, onde esse tempo é hoje.