a dor no membro fantasma

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A DOR DO MEMBRO FANTASMA
Joel Priori Maia
O conceito de membro fantasma é diferente do conceito de dor fantasma . E´ interessante
considerar o esquema corporal que cada pessoa possui de si mesmo e que se constitui em sua
individualidade. Assim a dor fantasma é uma forma de expressão fantasiosa de emoções, de
tensões, estresse ou mesmo desagrado pelo que o seu corpo representa no esquema corporal
elaborado em sua consciência e que se torna “pesado”, “dolorido”, difícil de se movimentar.
Geralmente isso ocorre quando o corpo é imaginado da forma diferente da que se apresenta
na realidade. Um obeso que gostaria de ser magro e sua imagem projetada no espelho não
corresponde à sua expectativa. Esse corpo poderá lhe parecer disforme e exagerado e ao se
movimentar ele se torna mais pesado e na maioria das vezes surgem dores articulares e muitas
vezes fibromialgias. É o transtorno dismórfico corporal em sua representação mental.
O paciente é consciente de que seu corpo deve mudar e freqüentemente não consegue atingir
esse objetivo, por várias razões, entre as quais os esforços penosos que pode demandar ou as
dificuldades em se exercitar ou fazer dietas. O astênico que quer engordar também pode
desencadear a mesma sintomatologia que demonstra sua insatisfação pelo corpo que
apresenta.
Quando uma parte do corpo é amputada, o paciente toma consciência de que ocorreu uma
mudança. O membro a principio parece mais longo, movimentando-se em toda a sua
extensão, mas com o tempo parece encurtar e finalmente “encolher” para o comprimento real
de tal maneira que o indivíduo conscientiza-se que possui apenas o coto.
O membro fantasma compões das seguintes sensações:
1) Leve formigamento, maior nas partes com as maiores representações corticais, como o
1° quirodáctilo, o 2º quirodáctilo ou o halux.
2) Sensação de agulhadas ao tocar no coto.
3) Sensação de movimentos no membro que é acompanhada de contrações observadas
nos músculos do coto.
4) Podem ocorrer sensações de ardência, de torção ou movimento do membro e algumas
vezes sensação de perfuração.
5) Pode sentir que o membro se encontra em posição desconfortável, não usual, às vezes
na posição e com as dores em que o trauma ocorreu. Este é o membro fantasma
doloroso e, quanto mais tempo persistir, mais difícil será de ser removido.
Geralmente é causado pelo neuroma de amputação, quando a bainha de mielina se
enrola na terminação do nervo que foi cortado.
Não existe um tratamento único para este estado. Os métodos propostos consistem na
correção do neuroma de amputação, excisão da cicatriz nervosa, inclusão da cicatriz na bainha
de Millipore e tubo de Silastic ou silicone, colocação da extremidade do nervo no osso ou
alcoolização da extremidade nervosa através da cicatriz.
Objetiva-se assim, evitar a formação de novo neuroma. Outro procedimento é a cordotomia
extramedular intradural que varia da lesão clássica à interrupção do trato espinotalâmico
medular produzindo lesão necrótica controlada. Vários são os procedimentos para se atingir
esse objetivo, como a implantação de estrôncio 90, a cordotomia intramedular intradural com
um anodo de corrente contínua (método de Mullan), a resseção do neuroma e cordotomia
com ou sem alcoolização, sessões de eletrochoques , etc .
Admite-se que além do componente fisiológico real e presente, há um grande aspecto afetivo
e emocional na dor fantasma e a hipnose como psicoterapia periódica é necessária neste
estado, ainda sem tratamento satisfatório e em muitas partes desconhecido.
Na hipnose, recomenda-se algumas sessões iniciais semanais (2 a 3) com aprofundamento
contínuo – em cada sessão busca-se aprofundar o estado hipnótico do paciente, com
sugestões objetivas usando-se a imaginação do paciente, com hipnoanestesia. Várias são as
técnicas que se pode utilizar. Citaremos algumas:
1) Molha-se um algodão em água ou álcool e se esfrega delicadamente no coto do
paciente em hipnose. Sugere-se que o algodão está embebido em uma solução
analgésica poderosa que irá “apagando” toda a sensação dolorosa. A medida que se
vai passando o algodão a dor e a irritação do membro vão se extinguindo
progressivamente, ao mesmo tempo que se “apagam” os dedos, a palma e o dorso da
mão, o punho, o ante-braço, o cotovelo que deixam de incomodar o paciente.
2) Pede-se para o paciente imaginar que está sentindo uma “pomada anestésica” que o
hipnotizador está passando e espalhando no coto, enquanto se massageia
delicadamente o local com o dedo indicador. Sugerir que não há dor ou sensação
estranha no local e que esta sugestão permanecerá até a próxima sessão.
3) Pede-se ao paciente imaginar que está estendendo seu membro sobre um folha de
papel onde se lhe apresenta como um desenho seu membro amputado e imaginar
que o hipnotizador vai com uma borracha (dedo indicador-2 º quirodáctilo) apagando
os traços do desenho. À medida que os traços vão se apagando, as sensações (das
partes amputadas) vão desaparecendo até que não existam mais traços no desenho
imaginado e avançando para o coto massageia-se suavemente dizendo que também a
dor vai desaparecendo, desaparecendo, até sumir.
4) Usar a técnica de anestesia superficial e profunda, “anestesiando” da pele até a
profundidade plano por plano, com sugestões repetidas de bem estar, sem dor, sem
sensações diferentes e de calma e serenidade.
5) Em todos os procedimentos acima não esquecer das sugestões de bem estar, de calma
e de tranqüilidade e de incentivar o paciente por ocasião da dehipnotização(acordar),
dizendo-lhe que foi muito bem e que na próxima sessão obterá resultados ainda
melhores e mais definitivos.
6) Através das técnicas de hipnose podemos obter perturbações da consciência da
realidade anatômica e funcional, além da orientação sensorial e espacial do próprio
corpo.
7) Alguns autores têm tratado, com a hipnose, fenômenos de diferenciação da
estranheza e desdobramento do corpo, produzindo-se a autopagnosia ou a
anosognosia.
Na primeira, produz-se a incapacidade de mover os próprios dedos ou o membro
amputado cuja representação cortical ainda persiste e na segunda sugerir que se
ignore uma parte do corpo.
Não esquecer de antes, durante ou depois de cada sessão de abordar os componentes
afetivos e emocionais do paciente e de tratar possível estresse pós-traumático ou
condições depressivas, ansiosa e fóbicas que o paciente possa estar apresentando.
ONDE LER MAIS
Benjamin Boshes, Alex J. Arieff – Experiência Clinica sobre a Natureza Neurológica da
Dor – Dor e seu Tratamento Clínico – Clinica Médica da América do Norte- 118;119janeiro de 1968- Ed. Guanabara-Koogan-RJ
Franco Granone- Tratado de Hipnosis (sofrologia)-Trad.- 2ªEd.- 384-386- Editorial
Científico-Médica- 1973-Barcelona-Espanha.
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