ANEXO 21 E 22 MARCOS INTRODUÇÃO I. AUTORIA Este

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ANEXO 21 E 22
MARCOS
INTRODUÇÃO
I. AUTORIA
Este evangelho não menciona o seu autor. Entretanto, a autoria de Marcos,
assistente de Pedro, nunca foi seriamente posta em dúvida. Não se duvida tampouco que
este Marcos seja aquele "João, que tinha por sobrenome Marcos", a quem o Novo
Testamento se refere oito vezes. Era parente de Barnabé (#Cl 4.10); a afirmação de
#1Pe 5.13 pode significar que ele se converteu por meio de Pedro. Nos escritos
patrísticos dos primeiros quatro séculos há abundante evidência para a autoria marcana.
Papias, Justino Mártir, Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, Eusébio e
Jerônimo se referem à autoria de Marcos.
II. DATA E LUGAR DA OBRA
Quanto à data do segundo evangelho, as opiniões variam muito dentro dos 35
anos entre 40 A. D. e 75 A. D. Marcos é agora aceito, quase universalmente, como o
mais antigo dos quatro evangelhos. Por um lado, a declaração de Irineu que Marcos
compõs seu evangelho "depois da saída (exodos) de Pedro e Paulo", indica uma data
não anterior a 68. A. D., e não posterior a 70 A. D., ano da destruição de Jerusalém, se
aceitarmos a hipótese, não absolutamente segura, de que esta "saída" significa a morte.
Dr. Vincent Taylor apóia a data 65 a 67 A. D. e considera precárias as teorias de uma
data mais antiga. Por outro lado, a relação de Marcos com os outros sinóticos,
especialmente com Lucas que precede os Atos dos Apóstolos (Ver #At 1.1), sugere uma
data nos meados do século. Uma data entre 50 e 55 A. D. nos daria uma posição entre
os dois extremos.
A maioria dos eruditos, seguindo evidências antigas, apontam Roma como o
lugar em que foi escrito. Dr. Graham Scroggie considera que #1Pe 5.13 tende a
confirmar esta idéia, caso Babilônia significasse Roma. Outros sugerem Alexandria,
Cesaréia e Antioquia da Síria.
É provável que este evangelho fosse escrito para leitores gentílicos em geral e
mais particularmente para os romanos. Há relativamente poucas citações e alusões
tiradas do Velho Testamento; expressões aramaicas são interpretadas (v.g. #Mc 5.41);
os costumes dos judeus são explicados (v.g. #Mc 7.3-11); algumas palavras latinas
aparecem. O teor geral da obra, que representa a incessante atividade do Senhor e Seu
poder sobre os demônios, a enfermidade e a morte, atrairia o leitor romano, interessado
mais em atividade do que em palavras.
III. FONTES
Uma vez aceita a prioridade de Marcos, as pesquisas quanto às fontes deste
evangelho não têm obtido o mesmo êxito como no caso de Mateus e de Lucas.
A tradição oral tornou-se o objeto de intensos estudos nos últimos cinqüenta
anos, estudos estes que deram origem à Crítica de Forma propalada por Martin Dibelius.
A Crítica de Forma propõe a existência, antes de serem escritos os evangelhos que
possuímos, de pequenos círculos de tradição. Estes círculos conservariam o evangelho
pelo método oral, embora houvesse alguns evangelhos escritos, como o prefácio de
Lucas indica. A nomenclatura desses círculos difere conforme o crítico. B. S. Easton
divide o material da maneira seguinte: Ditados, Parábolas, Diálogos, Narrativas
Miraculosas e Narrativas da Paixão. V. Taylor distingue Histórias Declarativas,
Histórias Miraculosas e Histórias sobre Jesus. A evidente diversidade entre as diferentes
análises aponta para o perigo inerente nelas, a saber, a pura subjetividade que as
determina, tendo em vista a impossibilidade de verificação externa, que se usa para a
Crítica Textual. Uma vez que se propõem investigações além dos documentos escritos,
qualquer hipótese razoável pode ser sugerida. Por outro lado, há valor na insistência dos
críticos da forma que o evangelho era pregado antes de ser escrito. Com o decorrer do
tempo, muito material assumiu forma mais definida para os fins mnemónico e
catequético, e disto há indicações na ordem tópica que Marcos adota.
Quanto à sua forma e caráter, esta tradição oral é em grande parte semítica. A
presença de uma considerável influência aramaica no grego de Marcos indica isto, sem
porém levar-nos a conclusão, mantida por C. C. Torrey e outros, de que o evangelho
fosse tradução de um original aramaico. O importante é que este fato aumenta
incontestavelmente o valor histórico da obra, visto que Marcos, embora gentílico nas
suas simpatias, se coloca perto da tradição dos cristãos judeus. Quanto às fontes
documentárias, a questão principal é se Marcos conheceu e utilizou o duvidoso
documento "Q". Na opinião do Cônego Streeter é quase certo que "Q" precede Marcos;
outros pretendem reconhecer vestígios de "Q" no seu evangelho. Além desta
possibilidade indecisa, não há mais para dizer. Alguns procuram provar a existência
duma edição preliminar, uma espécie de ensaio, conhecida como Ur-Markus, isto é,
Marcos Original, mas esta sugestão altamente subjetiva pode ser considerada apenas
uma hipótese. Em síntese, podemos dizer que a fonte principal deste evangelho é a
pregação e ensino de Pedro, cujo sermão em Cesaréia constitui realmente um resumo do
evangelho (#At 10.34-43). A esta fonte principal seriam acrescentadas uma parte geral
da tradição oral, as reminiscências pessoais de Marcos, e talvez material tirado de outros
documentos.
IV. TEOLOGIA
a) A Pessoa de Cristo
Consta que Marcos apresenta a pessoa de Cristo como Servo de Jeová (#Is
52.13-53.12), enquanto Mateus o descreve como Rei, Lucas como Homem, e João
como Filho de Deus. Diversos aspectos deste evangelho, como a ausência de uma
genealogia e a predominância da ação sobre o ensino, apóiam esta descrição. O uso do
título "Filho do Homem" ocorre quatorze vezes neste evangelho, e se interpreta na
maioria dos casos (#Mc 8.31; #Mc 9.9,12,31; #Mc 10.33,45; #Mc 14.21,41) de acordo
com este conceito. Entretanto, desde o primeiro versículo do livro, Marcos identifica o
humilde Servo como o próprio Filho de Deus, cujo ministério é autenticado por suas
obras poderosas. É inequívoca a atestação divina desta identidade na hora do batismo e
da transfiguração (#Mc 1.11; #Mc 11.7). Dr. V. Taylor a considera como o elemento
mais fundamental da cristologia marcana, "uma cristologia tão sublime como se
encontra em qualquer parte do Novo Testamento, sem excluir o evangelho de S. João".
O ministério messiânico de Jesus, segundo Marcos, se vê como segredo bem
guardado, pelo menos até a confissão de Pedro (#Mc 8.30). Sem dúvida, o motivo para
sigilo seria de evitar o perigo inerente nos conceitos populares nacionalistas e
materialistas, com que as expectativas dos judeus investiram o título. Ao mesmo tempo,
o autor desejava assegurar-lhe uma significação tanto ética como apocalíptica. O termo
"Cristo" se usa apenas sete vezes, e Jesus nunca o usa com referência a si mesmo.
b) A Obra de Cristo
As duas metáforas usadas em #Mc 10.45 e #Mc 14.24 indicam quais são as
doutrinas principais enunciadas. A vida do Nosso Senhor, dada como sacrifício, se
descreve como "resgate de muitos", e como o "sangue do Novo Testamento". Aquele
efetua libertação do pecado e do juízo, enquanto este estabelece um novo pacto e
comunhão entre Deus e o homem. Estes conceitos em Marcos não são elaborados num
sistema de doutrina. Há menos razão ainda para supor que a referência ao "resgate"
indique influência paulina. Diz o Dr. James Denney: "Se achamos o mesmo pensamento
em Paulo, não digamos que o evangelista fosse exposto à influência paulina, mas antes
que S. Paulo aprendeu aos pés de Jesus. Todos os sinóticos mencionam as três ocasiões
em que Jesus procurou, propositadamente, advertir os discípulos de sua paixão próxima.
Mas é Marcos que observa mais especialmente as diferentes atitudes dos discípulos
(#Mc 8.31 e seg.; #Mc 9.31 e seg.; #Mc 10.32).
c) Escatologia
A escatologia do evangelho se encontra principalmente nas duas passagens #Mc
8.38-9.31 e #Mc 13.1-37, em que Jesus discursa sobre dois acontecimentos bem
separados em tempo, a saber: a destruição de Jerusalém em 70 A. D., e Sua segunda
vinda em glória. Contudo, é preciso reconhecer que Marcos escreve do Reino de Deus
em termos predominantemente escatológicos. As idéias básicas deste conceito são,
primeiro, o governo real dum Deus soberano, e em segundo lugar, de um reino ou
comunidade em que se ingressa (#Mc 9.47; #Mc 10.23). As declarações sobre este
segundo conceito podem conter uma possível significação futura, também, mas outras
referências, como #Mc 14.25 e #Mc 15.43, se aplicam, inegavelmente, a um
cumprimento futuro.
d) Afinidade com o ensino paulino
Foi mencionada acima a sugestão que Marcos fosse sujeito à influência paulina.
É assunto de importantes debates desde muito tempo. É verdade que há muito em
comum tanto no vocabulário como nas idéias entre este evangelho e os escritos de
Paulo. Entretanto, esta semelhança é verificável em quase todos os escritos da igreja
primitiva. Por outro lado, é verdade também que muitas das expressões e conceitos
doutrinários tipicamente paulinos, como por exemplo "justiça", "justificação pela fé",
"união com Cristo", "vida no Espírito" etc., são inteiramente ausentes em Marcos. Só
podemos dizer que Marcos viveu e escreveu num ambiente romano e paulino e, mais
ainda, que talvez conhecesse algumas das epístolas mais primitivas. Como observa o
Dr. V. Taylor: "Marcos nem refaz, nem ofusca a tradição histórica. Seu Jesus é o Jesus
da Galiléia".
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