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É com imenso prazer que lhes apresentamos hoje o quarto número da Revista Virtual da Flappsip, “Intercâmbio
Psicanalítico”. Órgão que possibilita a difusão e o intercâmbio do conhecimento psicanalítico dos nossos integrantes em
diferentes países e regiões da América Latina.
Uma das maiores riquezas da nossa Federação, refletida nas atividades e nas publicações, é a pluralidade do pensamento
que circula nas distintas associações, resultando em um terreno propício para identificar semelhanças e diferenças, e
fomentar o intercâmbio, assim como para nos nutrirmos com as contribuições de cada um.
A edição neste período continua sob a responsabilidade dos companheiros David Gutiérrez e Claudia Ortiz, do Impac do
México.
Apenas para ilustrar, traçaremos um breve panorama dos artigos apresentados neste número da revista.
Do CPPL, Dunia Samamé, em seu artigo (De) terminações dos amantes, nos fala do desamor e da ruptura sentimental.
Apresenta a necessidade de estudar as diversas dinâmicas que fazem com que, apesar de que a pessoa não queira mais nada
com o outro, prefira continuar a sofrer e garantir a si mesmo um gozo paradoxal ao qual não aceita renunciar. Descreve
como o fracasso da aventura amorosa para os amantes traz consigo uma profunda crise existencial, e a forma em que isso
se vivencia será diferente, dependendo de muitos fatores que foram construindo o vínculo.
Gloria Abadi, da AEAPG, em seu artigo Psicanálise vincular: Duas travessias clínicas, nos mostra, através de dois casos
de análise vincular de duas mães com suas respectivas filhas, a possibilidade de pensar tais materiais a partir de um
pensamento que inclua o indeterminado. Para além das diferenças, o ponto em comum das histórias foi um sentimento de
abandono e de exclusão por parte das filhas.
Marta de Giusti e Inés Gutiérrez refletem sobre as heterogeneidades sexuais que se apresentam na contemporaneidade e
sugerem como entender essas práticas. Questionam o diagnóstico que gira ao redor da neurose ou da perversão, enfatizando
o dispositivo analítico como instrumento para sustentar a escuta e as tensões que essa clínica promove, em nível diagnóstico,
técnico e transferencial.
Da Audepp, Magdalena Lema, em seu artigo Reflexões sobre a relação entre o analista e as teorias psicanalíticas, se
questiona sobre como funciona o saber teórico na tarefa do analista. Faz referência ao fato de que ele pode se submeter a
uma revisão constante quando o espaço clínico é fecundo ou se transformar em um obstáculo que limite a escuta e a
intervenção.
Elina Carril, que também pertence à Audepp, nos fala sobre as marcas no psiquismo e na subjetividade impressas por um
abuso sexual, na infância, sobre os pacientes adultos, e sobre a singularidade dessas marcas. Percorre diferentes situações
clínicas, ao longo da sua prática analítica, que lhe permitiram evidenciar esses aspectos.
Sander Machado da Silva, do CepdePa, em Entrelinhas da transmissão psicanalítica, aborda algumas questões da
transmissão na psicanálise, a partir da releitura do texto de Breuer e Freud “Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos
histéricos: comunicação preliminar”. Indica que a palavra “entrelinhas” faz alusão ao jogo transferencial presente na
transmissão da psicanálise e na escrita psicanalítica.
No artigo Uma leitura sobre o estranho escrevente de Melville e seu esgotamento criativo, a autora, Marina Pinto de
Camargo, que pertence ao CepdePa, realiza um exercício livre de escrita em psicanálise. Pretende investigar o personagem
clássico de Herman Melville, Bartleby, à luz dos conceitos freudianos. Trabalha temas como o recolhimento da libido, o
limite e os efeitos da sublimação.
Da Asappia, nos chega um artigo sobre Abuso sexual na infância: A intervenção nas consequências do traumatismo, de
Marcela Marsenac; artigo que é interessante relacionar com o texto de Elina Carril, que também trata da mesma temática,
mas pela ótica da repercussão em pacientes adultos. Muito estimulante para o intercâmbio.
Marcela, por sua vez, nos fala do abuso sexual como uma situação que toca o psiquismo infantil, gerando um fluxo de
excitação inelaborável para o eu, que ataca as funções autoconservativa e autorrepresentativa, gerando identificações
estruturantes e promovendo defesas patológicas. A autora descreve a intervenção do analista de formas diferentes, de acordo
com a possibilidade de se o abuso deixou uma inscrição psíquica representacional no psiquismo ou se o acontecimento
arrasou a capacidade simbólica do eu.
Outro tema proposto por María Teresa Ravagnan, da Asappia, é a Promoção da resiliência diante de uma catástrofe social.
Descreve uma experiência precoce interdisciplinar com funcionários do correio oficial da República Argentina que foram
afetados por inundações na cidade de La Plata, em abril de 2013. Conta como, a partir de uma intervenção psicoterapêutica
grupal, foram promovidas as bases para um futuro desenvolvimento da resiliência.
Da ADDP nos chega o trabalho de Olinda Serrano de Dreifuss sobre Enactment e mentalização nos vínculos terapêuticos.
A autora explora certos aspectos do conceito de Enactment como sua definição, sua vinculação com o conceito de agieren
e acting, a mudança de paradigma que supõe, os valores que suscita, os tipos de Enactments, a conotação de poder e
encenação que implica, a vinculação com os conceitos de “baluarte” e com conceitos bionianos. Como enfrentá-lo no
processo analítico, propondo o conceito de mentalização como aquele que os integra.
Reflete, ilustrando com vinhetas clínicas, sobre o alcance desse conceito que, por sua vez, nos alerta para os riscos do nosso
trabalho com o paciente, mas também nos abre possibilidades no nosso trabalho cotidiano.
Delicia Ferrando, da ADPP, desenvolve a questão do início da masculinidade, os ritos de passagem, as fantasias do que se
espera do homem na nova etapa. Através de um belo poema espanhol de Antonio Casero, “De pantalón largo” (De calças
compridas), analisa a complexidade da entrada na masculinidade em sociedades tradicionais e contemporâneas, e contrapõe
uma entrada mais ou menos adequada a uma passagem traumática que marca a vida futura, em relação aos recursos
disponíveis.
Da Ichpa, vêm duas contribuições. Uma é o relato do trabalho de um grupo sobre a Representação da psicanálise através
de imagens, apresentado em uma mesa no VIII Congresso da Flappsip em Lima, em maio de 2015. O grupo se propôs a
construir sua própria representação da psicanálise através de fotografias, usando uma metodologia qualitativa. Convergem
diversos olhares e escutas dos participantes da experiência.
O outro artigo, de Cristóbal Carvajal, nos oferece a abordagem do caso de um paciente transgênero masculino que deseja
começar um processo de mudança física acompanhado de um processo psicoterapêutico. O autor realiza algumas reflexões
a partir da teoria de Melanie Klein e se interroga sobre o papel do analista nesse tipo de caso.
Pablo Varela, do Impac, nos apresenta um artigo sobre Globalização e a saúde mental. Realiza aqui uma revisão desses
conceitos e faz uma análise a partir da perspectiva de Erich Fromm da psicopatologia da normalidade e da alienação, como
o maior problema de saúde mental, de acordo com esse autor.
Alma Dunia Vásquez, do México, nos oferece uma análise do personagem do zombie a partir da popular série “The Walking
Dead”. Analisa a estrutura simbólica fundamental que caracteriza o zombie atual como figura metafórica que condensa e
expressa os temores principais do sujeito contemporâneo. Reflete sobre a zumbificação do caráter social atual e as formas
clínicas em que o sofrimento se expressa atualmente.
Apresentamos, por sua vez, uma série de resenhas de livros que, junto à variedade de artigos, acreditamos, será uma
contribuição tanto para nossos sócios como para todos aqueles que entrarem em contato com esta publicação e que se
aproximarem, assim, das diferentes formas de pensar e de exercer a psicanálise na América Latina.
Doris Cwaigenbaum
Secretária científica da Flappsip
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