JORNAL DA SBCT Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica Ano 01 - Edição 01 - Setembro de 2010 Seção Perfil - resgata particularidades da personalidade do Dr. Jesse Teixeira Imagem cedida pelo acervo pessoal do Dr. Luis Carlos Losso Memória – Integrante da primeira diretoria da SBCT relembra história da entidade “Estávamos no início dos anos 80, época em que a cirurgia cardíaca florescia enquanto a cirurgia da tuberculose decrescia. Esse fato fez com que muitos dos que se dedicavam ao tratamento cirúrgico das doenças pleuro-pulmonares e mediastinais migrassem para aquela nova especialidade.” Página 06 Tórax 2011 será realizado em Manaus Em 2011, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica realiza a décima sétima edição do Congresso Brasileiro de Cirurgia Torácica. O evento acontece de 25 a 28 de maio no Hotel Tropical de Manaus (AM) e discute os principais avanços científicos envolvendo o tratamento das doenças dos órgãos da caixa torácica. O congresso recebe apoio da Sociedade Amazonense de Pneumologia e Cirurgia Torácica que hoje congrega cerca de 25 profissionais das áreas clínica e cirúrgica. Página 11 O Dr. Jesse Pandolpho Teixeira, carioca de nascimento, foi um dos maiores expoentes da cirurgia torácica no Brasil. Seu trabalho marcado pelo uso da cirurgia no tratamento da tuberculose e demais pneumopatias independentes ou relacionadas à doença, ganhou relevância nacional e internacional nas décadas de 50, 60 e 70. O ilustre médico formou-se no Rio de Janeiro no final dos anos 30 e, na primeira metade da década de 50, foi designado a trabalhar no Hospital Santa Maria, mantido pela Secretaria de Saúde do Estado da Guanabara. Foi nesta instituição que ele atuou, por boa parte da vida profissional, como chefe da Equipe de Cirurgia Torácica. Página 04 Charge - Nono Vicentinho O Jornal da SBCT traz, neste primeiro número, uma divertida seção de charges. O personagem da vez é o “Nono Vicentinho”, homenagem carinhosa prestada ao Dr. Vicente Forte, cujas atitudes e presença constante marcaram inúmeros Cirurgiões Torácicos brasileiros. Lembrar do exemplo, das histórias e de algumas passagens, até folclóricas, da vida do Vicente Forte é o objetivo do nosso “Nono Vicentinho”. Página 11 Página 02 - Setembro de 2010 Jornal da SBCT em novo ciclo SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA TORÁCICA DIRETORIA Presidente - FABIO BISCEGLI JATENE Vice- Presidente - ROBERTO SAAD JÚNIOR Secretário Geral - RUI HADDAD Tesoureiro - JORGE MONTESSI Secretário Científico - JOSÉ DE JESUS PEIXOTO CAMARGO Secretário de Assuntos internacionais - MÁRIO GESTEIRA COSTA JORNAL DA SBCT Editor Responsável - Luis Carlos Losso É com muita satisfação que temos a oportunidade de participar deste novo ciclo do Jornal da SBCT, que passa a ser reeditado a partir de 2010. Para quem não acompanha a história da entidade desde sua fundação, o Jornal da SBCT teve números publicados nos idos de 1998 e foi o primeiro projeto de comunicação direta da entidade com o sócio. Inspirados nesta versão antiga da publicação, retomamos o projeto, dando nova roupagem e trabalhando novos conceitos. Tudo para melhor informar o associado sobre os assuntos de maior relevância ética, história e científica dentro da nossa especialidade de Cirurgia Torácica. Portanto, as próximas páginas marcam o recomeço da história do jornal. E esperamos contar com a participação e sugestão de todos para construirmos juntos esta nova trajetória. Editor Adjunto - Mario CLAUDIO Ghefter Editor Adjunto - Luiz Carlos fILGUEIRAS Leiro Editores Jornalista Responsável - Ana Elisa Novo m.t.b 41871/SP Assistente Editorial e Diagramação - FELIPE MESTIERI ONOFRIO Impressão: Editora Atheneu Periodicidade: Trimestral Tiragem: 1.000 exemplares Secretaria Av. Paulista 2073 Horsa I cj. 518 São Paulo/SP - CEP 01311-300 Fone/fax: (11) 3253-0202 www.sbct.org.br [email protected] [email protected] Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da SBCT. COTA BRONZE Imagens cedidas pelo acervo pessoal do Dr. Luiz Carlos Filgueiras Leiro Setembro de 2010 - Página 03 Mensagem do Presidente N os últimos anos, observamos e participamos do grande progresso de nossa especialidade, que vive um período de crescimento resultado do investimento e do esforço que nossos colegas cirurgiões torácicos têm feito em todos os lugares onde atuam. Neste contexto, a SBCT tem buscado, desde a sua criação, colaborar com o cirurgião torácico brasileiro no desempenho adequado da prática assistencial e acadêmica. Isto inclui o suporte a várias atividades, onde destaco o aprimoramento científico contínuo, a defesa profissional, o estímulo à criação e manutenção de núcleos associativos e o intercâmbio entre seus membros. A atual diretoria, dando sequência às ações que vêm sendo realizadas nos últimos anos, elaborou um projeto onde estão incluídas algumas iniciativas. Para que cada uma delas pudesse ser viabilizada, solicitou e obteve o auxílio de vários colegas e colaboradores, além de recursos de parceiros. Podemos destacar a reforma e o aprimoramento do nosso site e a criação e manutenção de uma “newsletter” mensal, da revista científica virtual e do Jornal da SBCT. Após um longo período onde estiveram embutidos sonhos, muito trabalho e dedicação, estamos orgulhosos de apresentar aos membros da Sociedade, o Jornal da SBCT, cujo primeiro número todos estão recebendo. Consideramos que a sua edição visa atender ao nosso interesse educacional e de formação profissional. Por meio deste informativo, a SBCT procura criar um vínculo mais estreito de comunicação com o sócio, permitindo a difusão de notícias, o resgate histórico da especialidade e a divulgação de informações científicas e éticas direcionadas. Tudo isso com um importante toque de diversão. Para que o projeto de construção do jornal saísse da nossa imaginação e passasse a fazer parte da realidade, não posso deixar de mencionar e agradecer, entre tantos outros colaboradores, o trabalho realizado pelos doutores Luis Carlos Losso, Mario Ghefter e Luiz Carlos Filgueiras Leiro, membros do conselho editorial da publicação, que ajudaram a construir e editar o conteúdo apresentado neste número. Cremos que com estas iniciativas, a SBCT segue cumprindo o seu papel na expectativa de que a nossa Sociedade possa continuar se fortalecendo com maior união e aproximação de todos nós, seus membro Boa leitura! Fabio Biscegli Jatene Presidente da SBCT Página 04 - Setembro de 2010 Perfil JESSE PANDOLPHO TEIXEIRA O Dr. Jesse Teixeira, carioca de nascimento, foi um dos maiores expoentes da cirurgia torácica no Brasil. Seu trabalho marcado pelo uso da cirurgia no tratamento da tuberculose e demais pneumopatias independentes ou relacionadas à doença, ganhou relevância nacional e internacional nas décadas de 50, 60 e 70. O ilustre médico formou-se no Rio de Janeiro no final dos anos 30 e, na primeira metade da década de 50, foi designado a trabalhar no Hospital Santa Maria, mantido pela Secretaria de Saúde do Estado da Guanabara. Foi nesta instituição que ele atuou, por boa parte da vida profissional, como chefe da equipe de cirurgia torácica. “A incidência de tuberculose no Rio de Janeiro nos anos 50 era enorme e os doentes, mesmo quando livres do bacilo, ficavam internados por muitos anos, o que representava um custo extremamente grande para o Estado. Nesse sentido, a implementação da Cirurgia Torácica como forma de tratamento da tuberculose foi uma verdadeira arma de saúde pública contra a doença”, lembra o Dr. Haroldo Meyer, que trabalhou ao lado de Jesse Teixeira por duas décadas e foi um dos pioneiros na realização do procedimento no Rio de Janeiro. Ele recorda que o austero Dr. Jesse Teixeira tinha poucos “hobbies” e era dedicado ao trabalho quase que em tempo integral. “Quando não estava trabalhando, gostava muito de ler e, na maioria das vezes, eram livros que não tratavam de assuntos médicos”, explica. O Dr. Haroldo Meyer foi Professor da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio e, até 1986, atuou como cirurgião torácico no Hospital Rafael de Paula Souza, no Rio de Janeiro. Não podemos deixar de apontar que o Dr. Jesse Teixeira, além de cirurgião, também era preceptor exigente dos residentes do Hospital Santa Maria. Um desses residentes foi o Dr. José Antonio de Figueiredo Pinto, que é Professor da Faculdade de Medicina e Chefe da Cirurgia Torácica da PUC-RS. Ele explica que o Dr. Jesse reunia duas qualidades excepcionais e também opostas. “Era extremamente organizado na vida, no pensamento, na sua maneira de operar e na escolha da equipe. Mas também, ao contrário, era muito criativo”. O Dr. Paulo César Buffara Boscardim, que é responsável pela Cirurgia Torácica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, também foi residente do Dr. Jesse Teixeira, entre 1985 e 1987. Ele relembra que o Dr. Jesse operava com uma habilidade e elegância particulares. “Era preciso nos seus movimentos. Muito sério e de poucas palavras, exigia sempre o melhor de cada um dos seus residentes, inclusive no que dizia respeito à ortografia”, afirma. Figueiredo Pinto conta também que o Dr. Jesse Teixeira, apesar do seu trabalho enquanto preceptor, não pertencia formalmente a nenhuma universidade e, mesmo sendo cirurgião, valorizava sobremaneira a observação clínica, um de seus traços humanistas marcantes. “Ele costumava dizer que no seu serviço, nenhum paciente era rejeitado, seja pela gravidade da doença, seja pela sua situação econômica”, afirma. Pela contribuição no âmbito da cirurgia torácica, o Dr. Jesse Teixeira tornou-se, em 1971, membro da Academia Nacional de Medicina. Faleceu em 1994 deixando muita saudade. No exemplar do Jornal Brasileiro de Pneumologia, publicado em junho daquele ano, o Dr. José Camargo faz homenagem póstuma ao cirurgião. O texto diz assim: “Jesse Teixeira morreu. Foi uma agonia lenta e sofrida, mas ele enfrentou o sofrimento e a morte com a mesma dignidade com que vivera. Aquela altivez que distingue os homens superiores, que são assim especiais porque parecem naturalmente dignos, sem se esforçar. Foi uma perda dolorosa para mim em particular e, sem dúvida, para mais da metade dos cirurgiões de tórax que atuam no país e que tiveram o privilégio de sua tutoria fidalga e paternal... Não importa a extensão da dor que a morte do Professor provoque nas pessoas. Enquanto existir algum cirurgião de tórax que trabalhe com seriedade Imagem cedida pelo Dr. Rui Haddad que busque obstinadamente a inalcançável perfeição e que valorize dignidade e elegância, Jesse Teixeira continuará vivo. O corpo que enterraram lá no Cajú é a parte menos importante da história de um grande homem, e esta não morrerá. Morremos um pouco nós todos que aprendemos a querê-lo e a respeitá-lo. Lamento os que não puderam privar de sua amizade e, mais ainda, os que tiveram a oportunidade e não souberam valorizála. Que o exemplo de dignidade que caracterizou a sua vida sirva de consolo para os que lamentarão a sua morte” Imagem cedida pelo Dr. Marcelo Fatureto COTA BRONZE Setembro de 2010 - Página 05 Bioética V enho já há algum tempo observando a relação dos jovens médicos com seus pacientes nestes tempos de medicina atrelada a seguros-saúde e plantões de sobreaviso. Muitos hospitais estabelecem como norma que o médico obtenha o consentimento informado do paciente e/ou de seus familiares antes de qualquer procedimento a ser realizado. De fato, o novo código de ética médica, aprovado pelo CFM, no Capítulo IV Art. 22, estabelece: “é vedado ao médico: deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte”. Como sempre exerci a medicina com o objetivo principal de proteger o paciente, me assusta o fato de que, na atualidade, essa norma é prescrita com intuito fundamental de proteger o médico e a instituição. No meu modo de ver, isso é fruto da te e que seus objetivos são comuns. Creio ser este o espírito do verdadeiro consentimento esclarecido e informado pressa e do fato do médico ser indicado porque está de sobreaviso, e não por conta de ser da confiança do paciente ou de seu médico assistente. Tais circunstâncias não contribuem para o estabelecimento um vínculo sólido e de confiança mútua entre o médico e paciente. É preciso mudar este modo de olhar o consentimento informado e encarar este momento como mais uma oportunidade de se estabelecer uma parceria com o paciente e/ou sua família. É o momento de o médico “sentar à beira do leito” e tecer um vínculo de confiança com o paciente e seus familiares. Explicar sua proposta de tratamento falando sobre os benefícios e também sobre as possíveis complicações do procedimento a ser realizado com clareza e paciência. Procurar, sobretudo, demonstrar que está do mesmo lado do pacien- Luiz Felippe Júdice Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense – Hospital Universitário Antonio Pedro Membro da Comissão de Ética da SBCT . COTA BRONZE Valorização Profissional Q uando falamos em valorização profissional pensamos logo em vencimentos, algo ligado a valores monetários. Na verdade, valorização profissional, tem todo um conjunto de variáveis onde a remuneração é fator de reconhecimento e não de fim. O médico tem agido, ao longo dos anos, de uma maneira que fere os princípios da medicina de Hipócrates. O ganhar tornou-se imperativo, independente dos meios. Temos esquecido dos mais necessitados, virando-lhes as costas, atribuindo toda a responsabilidade em oferecer um tratamento digno aos gestores da saúde. Temos perdido o sentimento de amor aos mais necessitados. Frequentemente, vemos pacientes graves jogados à própria sorte, à busca de tratamento, encontrando as portas fechadas e o “não” como proposta terapêutica de uma doença grave, às vezes curável, evoluindo para um desfecho onde a dor e o sofrimento poderiam ter sido evitados. Terceirizar a sua responsabilidade, atribuindo ao sistema toda a miserabilidade, parece ser a palavra de ordem. Uma vez convencido que sua atitude não é a motivação do desfecho, ele consegue dormir tranquilo. Em outras, recebem de empresas de artigos médicos, um percentual sobre materiais utilizados, muitas vezes superindicando a utilização dos mesmos; cobram por fora uma “pseudo-complementação” de pobres coitados do SUS, agressão à ética e prática absurda de corrupção onde a imagem do médico é maculada. As más práticas do exercício da Medicina, o excesso de profissionais médicos, na sua maioria com formação a desejar, os altos custos gerados pelo mau uso da tecnologia em saúde, os pedidos indiscriminados de exames complementares, têm levado, por outro lado, as operadoras de saúde a tentarem minorar suas despesas. O meio mais fácil de um resultado de curto prazo está em achatar a remuneração do médico, o quê, por revolta ou por necessidade de manter-se, tem de atender mais e mais rápido, alimentando esse ciclo vicioso de banalização do sofrimento, da falta de ética, do erro médico e do ganho fácil. Estamos vivendo uma explosão de movimentos por todo o país nas mais diversas especialidades, em busca de reajuste das tabelas de honorários, especialmente da CBHPM, que hoje é a única tabela reconhecida como padrão mínimo de ética pela AMB e pelo CFM (Resolução 1673/03). A falta de diálogo entre as operadoras e os profissionais médicos, tem levado a paralisações de atendimento e, até mesmo, à solicitação de descredenciamento do especialista ou de toda uma especialidade. O preço pago por uma consulta ou por um procedimento é, na maioria das vezes, aviltante, diria até vergonhoso. Diferentemente dos lutadores, em algumas cidades ou regiões do país, os movimentos médicos padecem de uma apatia intrigante, onde a atividade artesanal do ato médico é até remunerada pela tabela AMB 90 ou 92, o que é inaceitável e abominável. Nessas localidades, alega-se que não haveria união, que furariam o movimento o que poderia ter repercussão nos vencimentos dos que aderissem; esses são os conformados. Tal comportamento tem retardado uma visão crítica por parte das operadoras, dificultando sobremaneira os resultados dos que lutam incessantemente, mesmo com risco de retaliações e perseguição pelas operadoras e hospitais; esses são os incansáveis desbravadores. O que não percebemos com muita clareza é que estamos num processo de empobrecimento progressivo. As luzes de alerta já se acenderam há muito tempo, agora só enxergamos as vermelhas de perigo. Vacilar neste momento é certamente o acesso direto à sucumbência. Segundo o Dr. Luiz Carlos de Alencastro, Presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, carecemos de organização nessa luta, utilizando uma linguagem única com os mesmos objetivos, esperando que resulte em facilitação do atendimento ao paciente e maior reconhecimento profissional. Finalmente, diante do exposto, espero ter-me feito entender que valorização profissional está muito além do ganhar mais. O valor monetário não está agregado à valorização profissional, entretanto, quando se é valorizado pelo mercado, ser bem remunerado é uma consequência natural. O que teremos de fazer como sociedade para termos o reconhecimento do nosso valor diante das operadoras de saúde, dos nossos pacientes e de nós mesmos? Vamos transformar a consequência em objetivo, o meio em fim Artur Gomes Neto Diretor Médico e Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica da Santa Casa de Misericórdia de Maceió Membro da Comissão de Honorácios e Valorização Profissional da SBCT Página 06 - Setembro de 2010 O INÍCIO DA SBCT Setembro de 2010 - Página 07 SBCT EM NÚMEROS QUANTIDADE DE SÓCIOS Conjunto Nacional - SP Sede da SBCT homenagem prestada ao Dr. Vicente Forte na inauguração da nova sede no Conjunto Nacional em São Paulo Página 08 - Setembro de 2010 Espaço científico QUAL A MELHOR TERAPIA PARA O N2? Praticamente qualquer atitude terapêutica recomendada a um paciente com carcinoma brônquico e metástase mediastinal (N2), encontrará algum respaldo na literatura médica recente. Depois de duas décadas em que a terapia neoadjuvante parecia assentada e as discussões giravam em torno do melhor esquema de drogas e, eventualmente do uso concomitante de radioterapia, o consenso do Chest, em 2007, recomendou que “na presença de estágio III-A3 (Metástase linfática mediastinal única ou múltipla reconhecida na avaliação pré-toracotomia, por mediastinoscopia, vídeo, tomografia, ou PET-CT) não há indicação formal de Terapia Neoadjuvante porque os resultados de QT + Cirurgia foram superponíveis com QT + Rxt”.(Grau de recomendação 1C) (Scott, 2007) As múltiplas contestações se basearam em números que mostravam um ganho real de sobrevida entre 5 e 10% (Takeda, 2006) e ficou desde logo evidente que a principal questão dizia respeito aos critérios de seleção da população cirúrgica. Uma publicação anterior do grupo de Boston (Bueno, 2001), criticada porque envolvia uma análise retrospectiva, já evidenciava a importância da negativação dos gânglios mediastinais sob ação da quimioterapia, como critério de indicação cirúrgica depois da terapia neoadjuvante. Os números foram bem eloquentes: nos casos de N2 que regrediram para NO, a sobrevida em 5 anos alcançou 35,8%, enquanto que naqueles que persistiram com N1 ou N2, a sobrevida em 5 anos foi de apenas 9%. Num material da Cornell University, recentemente apresentado no Congresso da AATS em Toronto, 2010 (Subroto, 2010), esta diferença prognóstica foi mais uma vez exaltada: numa série de 136 pacientes com N2, submetidos à quimioterapia (n=11) ou quimioterapia + radioterapia (n=17), houve redução do N em 49% (N2, N1ou No) e nestes casos a diferença de sobrevida em 5 anos entre os pacientes que lograram a redução de N2 para N1 ou No foi de 54%, significativamente superior a dos que persistiram com N2 (27%). Destas publicações restou uma conclusão definitiva: se o benefício cirúrgico é contestável nos pacientes que persistem com N2 depois de terapia neoadjuvante, todo o esforço propedêutico deve ser empreendido no sentido definir o melhor método de reavaliação mediastinal, reservando a cirurgia apenas àqueles pacientes que alcançaram a remissão anatomopatológica completa no mediastino. A confiabilidade do PET CT nesta avaliação ainda não está completamente determinada. Depois de uma publicação inicial do grupo do Memorial de N.York (Akhurst, 2002) que apontou que em apenas 52% dos casos a estimativa da condição nodal era correta, o grupo do Alabama, (Cerfolio, 2006) estudando 93 paciente com PET CT pré e pósterapia neoadjuvante, confirmou que quando a SUV do tumor primário pós terapia neoadjuvante era menor que 75% do valor inicial, era muito provável que o paciente apresentasse remissão completa (20% dos casos). Quando a SUV pós terapia neoadjuvante do linfonodo mediastinal fosse 50% ou menos da inicial, era muito provável que não hovesse neoplasia residual nos gânglios (No). Enquanto o papel do PET CT não se define mais claramente, a re-mediastinoscopia é recomendada, mas EUS-NA ou EBUS-NA podem ser alternativas razoáveis, desde que resultados inconclusivos sejam seguidos de mediastinoscopia. (Detterbeck, 2007) Nossa atitude tem sido de recomendar re-mediastinoscopia, dirigida às cadeias que previamente foram positivas, indicando a ressecção apenas naqueles casos em que o mediastino negativou. Quando a re-mediastinoscopia resulta positiva o tratamento quimioterápico deve ser retomado em associação com a radioterapia, e o projeto cirúrgico abandonado. Referencias: - Akhurst T; Downey RJ; Ginsberg MS; Gonen M; Bains M; Korst R; Ginsberg RJ; Rusch VW; Larson SM: An initial experience with FDG-PET in the imaging of residual disease after induction therapy for lung cancer. Ann Thorac Surg -2002; 73 : 259-266 - Bueno R; Richards WG; Swanson SJ; Jaklitsch MT; Lukanich JM; Mentzer SJ; Sugarbaker DJ: Nodal stage after induction therapy for stage IIIA lung cancer determines patient survival. Ann Thorac Surg 2000; 70: 1826-31 - Cerfolio RJ: Restaging patients with N2 (stage IIIa) non-small cell lung cancer after neoadjuvant chemoradiotherapy: a prospective study.- J Thorac Cardiovasc Surg - 2006; 131: 1229 - Detterbeck FC; Jantz MA; Wallace M; Vansteenkiste J; Silvestri GA: Invasive mediastinal staging of lung cancer: ACCP evidence-based clinical practice guidelines.- Chest - 2007; 132 : 202S-220S -Scott, WJ, Howington, Feigenberg,J et all: Treatment of Non-small Cell Lung Cancer Stage I and Stage II – ACCP evidence-based clinical practice guidelines. Chest, 2007;132:234S - Subroto,P., Port, J., Stiles, B., Lee, PC., Saundres, J. et al: Age, mediastinal dowstaging and extent of pulmonary resection are independent predictors of survival in clinical stage III A patients after induction therapy. 90 th Annual Meeting, American Association for Thoracic Surgery, Toronto, Canada, May 1-5, 2010. - Takeda S -Results of pulmonary resection following neoadjuvant therapy for locally advanced (IIIA-IIIB) lung cancer. Eur J Cardiothorac Surg - 2006; 30: 1849 José de Jesus Peixoto Camargo Professor de Cirurgia Torácica da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre Membro Titular da Academia Nacional de Medicina Secretário Científico da SBCT Setembro de 2010 - Página 09 INFORME-SE Cirurgia Torácica Geral O TRATAMENTO PROFILÁTICO DAS BLEBS CONTRALATERAIS É INDICADO EM PACIENTES COM PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO PRIMÁRIO? J Thorac Cardiovasc Surg 2010;139: 1241-5 Numa série prospectiva de 70 pacientes com pneumotórax espontâneo primário, 35 pacientes (50%) apresentaram blebs/bolhas assintomáticas no lado contrário. A proposta do estudo foi avaliar a necessidade de tratamento destas blebs/bolhas contralaterais. Metade dos 35 pacientes com doença bilateral foi submetida à videotoracoscopia bilateral e simultânea para ressecção das bolhas. O segmento das duas populações mostrou que o grupo submetido ao tratamento bilateral não apresentou recidiva num período médio de 17 meses. No grupo da vdeocirurgia unilateral a incidência de pneumotórax contralateral foi de 17,14%. O estudo conclui que o tratamento profilático das blebs/ bolhas bilaterais, em pacientes com pneumotórax espontâneo primário, é efetivo no controle da incidência de pneumotórax contralateral Procedimentos Minimamente Invasivos TESTES DE FUNÇÃO PULMONAR NÃO PREDIZEM COMPLICAÇÕES PULMONARES APÓS LOBECTOMIA VÍDEOTORACOSCÓPICA Ann Thorac Surg 2010;89: 1044-52 A proposta deste estudo multicêntrico foi testar a hipótese de que a lobectomia videotoracoscópica anula o impacto prognóstico dos testes pré-operatórios de função pulmonar. Um total de 340 pacientes portadores de carcinoma brônquico (173 lobectomias videotoracoscópicas e 167 lobectomias por toracotomia “aberta”) submetido a provas de função pulmonar ( VEF1 e Capacidade de difusão do monóxido de carbono) foi avaliado quando à incidência de complicações pulmonares pós-operatórias. Os autores verificaram que os testes de função pulmonar são capazes de prever complicações respiratórias em pacientes com reserva funcional comprometida, quando submetidos à lobectomia por toracotomia “aberta”, mas não tiveram a mesma habilidade quando a cirurgia foi realizada através da videotoracoscopia. Concluem que, quando tecnicamente possível, a ressecção toracoscópica deve ser o método de escolha para pacientes com reserva funcional marginal Tecnologias Inovativas TECNOLOGIA NANOMÉTRICA NA CIRURGIA TORÁCICA Ann Thorac Surg 2010; 89:S2188-90 Imagens fluorescentes da irradiação infravermelha detectam luzes com comprimento de onda entre 700 e 900 nanômetros ( fora do espectro da visão). Recentemente o desenvolvimento de um sistema de imagem ótica próxima da radiação infravermelha ( “ Fluorescence-Assisted Resection and Exploration FLARE ) permitiu o uso intraoperatório desta tecnologia e sua visualização em vídeo e em tempo real. O grupo da Universidade de Boston-Massachusetts do Brighan and Women´s Hospital estuda a aplicação da tecnologia nanométrica para identificar e tratar metástase ocultas no sistema linfático de pacientes portadores de carcinoma brônquico de células não pequenas. Os estudos pré-clinicos projetam a aplicação desta tecnologia para melhorar as técnicas de imagem e mapeamento do sistema linfático, terapêutica intralinfática com drogas antineoplásicas e substâncias radioativas. Concluem que os primeiros e promissores resultados inferem que as fronteiras da cirurgia minimamente invasiva serão, eventualmente, exploradas na escala nanométrica Darcy Ribeiro Pinto Filho Prof. de Cirurgia Torácica da Universidade de Caxias do Sul, Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital GeralFundação Universidade de Caxias do Sul, Cirurgião torácico titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica. Página 10 - Setembro de 2010 A ANATOMIA HUMANA, AS DOENÇAS E OS ARTISTAS DO ALTO RENASCIMENTO Leonardo da Vinci (1452-1519) preconizava que “para ser um bom fazedor de todas as posições e gestos que os membros adotam nos nus, é preciso que o pintor conheça a anatomia dos nervos, ossos, músculos e dos tendões, para saber, de acordo com os distintos movimentos e esforços, que nervo ou músculo é a causa do movimento. Quando observares uma pessoa, procura fazer com que ela não note que a estás examinando. Desse modo, os seus movimentos, o seu riso e o seu pranto serão mais naturais”. Leonardo da Vinci, junto com o professor de anatomia Marcantonio della Torre (1481-1512), dissecou 30 cadáveres e fez um tratado de anatomia, “Manuscrito Anatômico A” (1510-1511), que embora não finalizado, serviu para que outros contemporâneos, tais como Michelangelo, Botticelli e Dürer, pudessem exteriorizar através da pintura não só a beleza do corpo humano, mas também alguns defeitos. O Prof. Vito Franco, patologista e professor da Faculdade de Medicina de Palermo analisou algumas obras de arte e pontuou prováveis patologias.“Mona Lisa” de Leonardo da Vinci, além do sorriso enigmático apresenta um xantelasma no oco do olho esquerdo sugerindo que a mesma era portadora de hipercolesterolemia. Apresentava também provável tumor benigno no olho direito. Mona Lisa, La Gioconda. La Jaconde – Leonardo da Vinci: Museu do Louvre - Paris A Madonna Dell Parto, de Piero Della Francesca, além de estar grávida, possivelmente era portadora de hipotireoidismo, pois seu pescoço apresenta um alargamento importante. Nos séculos XIV e XV, era costume o armazenamento da água da chuva para consumo e consequentemente algumas pessoas poderiam ser portadoras de bócio endêmico devido a pouca quantidade de iodo consumido. Retrato do jovem com medalha. Galeria Uffizi – Florença – Sandro Botticelli Nesta obra de Botticelli podemos ver a desproporção entre os dedos e o tamanho das mãos, mostrando que o jovem era portador de aracnodactilia , talvez , Síndrome de Marfan. Dürer, ao retratar o próprio pai, que era ourives, mostrou deformidades como edema e desvios dos dedos, sugerindo doença osteoarticular. Retrato do Pai – Galeria Uffizi – Florença – 1490 – Albrecht Dürer Além de supostas patologias ou pequenas imperfeições superficiais, os artistas anatomistas mostraram a beleza do corpo humano. O afresco de Michelangelo intitulado “A criação do homem”, obra que está eternizada no teto da Capela Sistina (Roma), mostra a perfeição da forma humana com delineamento perfeito da musculatura de Adão . Para ler mais: 1. 2. 3. Madonna Dell Parto – Museo della Madonna Dell Parto – Monterchi – Toscana – Piero Della Francesca – 1457(aproximadamente) Laurenza, D.: O inventor do renascimento. Scientific American – Duetto Editorial Ltda, 2005 Bussagli,M.: Anatomia artística. Firenze: Giunti Gruppo Editoriale, 2001 Aris, A.: Medicina em La pintura. Barcelona, Lunwerg, 2002 Dr. Luiz Carlos F. Leiro Chefe de Serviço de Cirurgia Torácica e Pneumologia do Hospital Heliópolis Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica Mestre em Ciências – Área de Atuação: Cirurgia Torácica DIiretor do departamento de cirurgia torácica da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tsiologia Setembro de 2010 - Página 11 Mensagem dos Editores às novas gerações O “Nono Vicentinho” não é apenas um personagem, ele é uma homenagem ao seu inspirador Vicente Forte. Cirurgião Torácico brilhante, fundador e extremamente dedicado à SBCT. Suas atitudes e sua presença constante marcaram inúmeros Cirurgiões Torácicos brasileiros. Lembrar do exemplo, das histórias e de algumas passagens, até folclóricas, da vida do Vicente Forte é o objetivo do nosso “Nono Vicentinho”. Ele nos acompanhará, também, em futuras edições. Relembrem e matem saudade Para leitura! O livro “Cirurgia Torácica Geral”, publicado pela Editora Atheneu-Rio e editado pelos Professores Roberto Saad Junior, Walter Roriz de Carvalho, Manoel Ximenes Netto e Vicente Forte, é um verdadeiro compêndio em língua portuguesa sobre o progresso tecnológico da especialidade. A obra tem como meta suprir a necessidade de conhecimento de um número cada vez maior de cirurgiões torácicos em atividade no país, além de ser importante ferramenta de aprendizagem para aqueles que participam dos serviços e programas de Residência. A primeira edição do livro foi publicada em 2005 e contou com a chancela do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT). A obra contém 70 capítulos escritos por 120 colaboradores e está dividida nas seguintes partes: Generalidades, Vias Aéreas – Laringe, Traquéia e Brônquios Principais, Pulmão, Técnicas Cirúrgicas, Pleura, Parede Torácica, Diafragma, Mediastino e Trauma. “Em 2011, a editora Atheneu irá lançar a segunda edição revisada, editada e ampliada da obra”. Informações: 1ª Edição (2005) Páginas: 1058 Autores: Saad, Carvalho, Ximenes, Forte Editora: Atheneu Em breve nova edição editada, revisada e ampliada Tórax 2011 Em 2011, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica realiza a décima sétima edição do Congresso Brasileiro de Cirurgia Torácica. O evento acontece de 25 a 28 de maio no Hotel Tropical de Manaus (AM) e discute os principais avanços científicos envolvendo o tratamento das doenças dos órgãos da caixa torácica. O congresso recebe apoio da Sociedade Amazonense de Pneumologia e Cirurgia Torácica (SAPCT) que hoje congrega cerca de 25 profissionais das áreas clínica e cirúrgica. Paralelamente ao evento, acontecerão também o XIV Congresso Norte-Nordeste de Pneumologia e a XIII Jornada Amazonense de Pneumologia e Cirurgia Torácica, com temas voltados ao diagnóstico e tratamento das doenças pulmonares, efeitos da utilização do tabaco ao longo do tempo, infecções respiratórias mais comuns e avanços tecnológicos na área de pneumologia e cirurgia torácica. De acordo com o Presidente do Congresso, Dr. Fernando Luiz Westphal, a realização do evento em Manaus traz muitos benefícios para a região e dá destaque para o trabalho realizado pela SAPCT. “As atividades desta associação estão centralizadas na educação continuada e na conscientização da comunidade sobre as doenças respiratórias, por meio da realização de projetos de pesquisa e de ações básicas de saúde junto a Secretaria Estadual de Saúde”, afirma. As inscrições estão abertas a partir de agosto e os trabalhos de tema livre poderão ser enviados no período de 15 de agosto a 15 de outubro de 2010. Mais informações pelo site www.torax2011.com.br Participações internacionais O Tórax 2011 conta com a participação de renomados especialistas internacionais, como o Dr. Laureano Molins, do Hospital Universitari Sagrat Cor (Barcelona). Ele tratará dos temas“digital chest drainages” e “perioperative hook wire localization of lung nodules previous VATS resection”. Já o Dr. Milton Saute, do Rabin Medical Center - Beilinson Campus (Israel), irá discursar sobre “ECMO e Novalung” e “Bronchoscopic lung volume reduction”. O Dr. Shaf Keshavjee, membro da Divisão de Terapêuticas Experimentais do Toronto General Research Institute (Canada), fará palestra com os temas “State of the Art in Lung Transplantation: Ex vivo repair of donor lungs” e “Combined en bloc lung and vertebral body excision for lung cancer: Technique and outcomes”. Dr. Hisao Asamura, do National Cancer Center Hospital (Japão), irá discursar sobre “Mediastinal Lymph Node Dissection for Lung Cancer: an updated strategy”. Para fechar a participação desses conceituados especialistas internacionais, o Dr. Ramón Rami-Porta, de Terrassa (Barcelona), falará sobre “The new (2009) TNM Classification of Lung Cancer”