1 COMENTÁRIO ACERCA DA OBRA “COMO LER WITTGENSTEIN”, DE JOÃO DA PENHA Jorge Wilson Carvalho Fonseca* João da Penha, em seu pequeno livro Como ler Wittgenstein, apresenta-nos de forma clara e resumida um método de leitura das principais obras do pensador austríaco Ludwig Wittgenstein. O autor, além de citar os principais aspectos biográficos da vida do Wittgenstein, aborda as possíveis influências que tal história de vida possa ter sobre seu pensamento. João da Penha analisa o modo de escrita do autor e conclui, a partir disso, que ele possui uma maneira singular de expor sua filosofia: por meio de aforismos. O método, que tal livro nos estabelece, não visa esconder aos futuros leitores de Wittgenstein a complexidade de suas obras. Logo no início de sua abordagem é levantado tal questionamento sobre as barreiras, que em primeiro momento, parecem ser intransponíveis para quem está iniciando o contato com a obra de Wittgenstein. O objetivo do autor é, portanto, oferecer aos iniciantes em tal filosofia uma linha norteadora dos principais conceitos abordados por Wittgenstein. Além da parcial biografia do autor, a obra apresenta, de forma resumida, os principais autores que influenciaram de perto a filosofia wittgensteiniana, de modo especial o lógico Friedrich L. Frege e o filósofo amigo de Ludwig, Bertrand Russel. João da Penha explicita mais detidamente as duas principais obras de Wittgenstein: 1º O Tractatus Logico-Philosophicus, única obra publicada em vida pelo autor, que compõe a primeira fase de seu pensamento e que muitos especialistas denominam de “1º Wittgenstein”; 2º Investigações Filosóficas, obra que caracteriza a segunda fase do pensamento do autor. Por fim, João da Penha menciona alguns outros escritos do autor e apresenta-nos um vocabulário crítico contendo os significados das principais palavras que permeiam a filosofia de Wittgenstein. A biografia de Wittgenstein é muito vasta e contém inúmeros fatos singulares. Muitas personalidades de grande destaque em Viena perpassaram pela vida familiar de Wittgenstein. Muitas são as obras que retratam o modo elitizado da vida de Ludwig. Mas o que João da Penha destacou com mais nitidez foram os períodos mais marcantes da vida de Wittgenstein, períodos estes que coincidem com a compilação de suas duas principais obras. No advento da Primeira Guerra, João da Penha nos relata o encontro de Wittgenstein com os principais pensadores que marcaram sua atividade filosófica: Frege e Russel. Durante os acontecimentos da Guerra, relata-nos a escrita da primeira obra do autor, o Tractatus. Após a conclusão dessa * Jorge Wilson Carvalho Fonseca é graduando em Filosofia na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). É bolsista de iniciação científica pela FAPEMIG. 2 obra, Wittgenstein considera ter encerrado sua contribuição à filosofia, acreditando ter dissolvido todos os “pseudoproblemas filosóficos”. Por isso, ele encerra por um tempo sua atividade no âmbito da filosofia. Passado um tempo, o autor retoma a prática filosófica e compila escritos que se transformarão na segunda fase de seu pensamento, propriamente descrita na obra Investigações Filosóficas. O contato de Wittgenstein com a tradição filosófica é eminentemente limitado por alguns poucos pensadores. Os pensadores que mais contribuíram para o seu filosofar são em grande parte lógicos e filósofos que pensaram acerca da linguagem. Entre eles estão Frege e Russel. João da Penha, de forma bastante resumida, delineia alguns conceitos principais trabalhados por esses autores. Segundo esse autor, Russel contribuiu de forma efetiva para o surgimento da lógica simbólica e tal pensador defendia a tese de que a matemática pode ser deduzida da lógica. A obra que evidencia tais pensamentos é os Principia Mathematica. No que se refere a Frege, o autor faz menção a uma pequena obra denominada Línguas por Fórmulas do Pensamento Puro, cuja centralidade se dá na formulação de uma nova lógica formal. Ou seja, a principal contribuição de Russel se dá no rompimento com a lógica tradicional e a reformulação de novos princípios que modelaram a nova lógica. Como mencionamos anteriormente, duas foram as obras que João da Penha centrou mais detidamente sua reflexão: o Tractatus e as Investigações. Ele expõe de forma muito clara os principais conceitos que se manifestam no Tractatus. Em tópicos bastante curtos, o autor divide as concepções conceituais, de modo que o leitor possa compreender com mais clareza a finalidade da obra, sua relação com a lógica, por conseguinte, a relação da lógica com a filosofia. Para João da Penha, o Tractatus vem para derrogar com todos os postulados metafísicos que, para Wittgenstein, são considerados “pseudoproblemas”. Resta, portanto, à filosofia a seguinte finalidade: “exercer a crítica da linguagem, única forma de pôr a nu a insensatez das proposições filosóficas” (PENHA, 2013, p. 48). Ou seja: a filosofia deve se limitar ao âmbito daquilo que pode ser dito com sentido. No que se refere à obra Investigações, João da Penha evidencia de forma breve as dissonâncias entre os intérpretes de Wittgenstein. Alguns acreditam que Wittgenstein possui duas filosofias distintas, para outros, não há incompatibilidade entre essas duas fases. Para o autor do pequeno método, as duas obras principais de Wittgenstein não são excludentes. Embora ele não negue as diferenças evidentes que são encontradas ao compararmos uma obra à outra, a finalidade das duas obras não são incompatíveis. Pois, ambas visam “depurar a linguagem dos erros linguísticos causados pela especulação metafísica” (PENHA, 2013, p. 61). O autor delimita as principais diferenças que podem ser evidenciadas e, por fim, tenta 3 selecionar os elementos comuns que possivelmente comprovarão a existência de uma única filosofia. O livro de João da Penha transmite com clareza os principais conceitos wittgenstenianos. Ao fim de cada capítulo lança perguntas norteadoras que nos convidam a refletir sobre o assunto abordado. Além de orientar cada capítulo desse modo, ao final da obra nos apresenta de forma breve outros escritos de Wittgenstein. E também elenca-nos um vocabulário crítico que possibilitará a um iniciante em filosofia wittgensteiniana, familiarizarse com mais profundidade em tais conceitos. Referências PENHA, João da. Como ler Wittgenstein. São Paulo: Paulus, 2013. Dados do autor (transcritos do próprio livro): João da Penha, jornalista e professor aposentado, colaborou em publicações culturais como Encontros com a Civilização Brasileira, Cult e Tempo Brasileiro. Autor, dentre outros livros, de O que é existencialismo (Brasiliense, 2011, 17. ed.) e Períodos Filosóficos (Ática 2000, 4. ed.), traduziu para revistas e jornais poemas dos russos Sierguêi Iessiênin e Alieksandr Blok, e contos de José Maria Argüedas, Júlio Cortázar e Gabriel García Márquez, publicados em Os primeiros contos de dez mestres da narrativa latino-americana (Paz e Terra, 1978).