APLICAÇÃO DE TÉCNICA DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

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IMPLEMENTAÇÃO DE TÉCNICA DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
PARA O MELHORAMENTO DO BEM-ESTAR ANIMAL EM AVES DE
RAPINA RESIDENTES NA FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DE BELO
HORIZONTE (FZB-BH) MARÇO A JUNHO DE 2014.
Atencio, N.O.1,2,3 Bernadete Faggioli, A.4 Cipreste, C.4
1
Facultad de Ciencias Naturales e Instituto Miguel Lillo (Miguel Lillo 205),CP 4000 San
Miguel de Tucumán.
2
Reserva Experimental Horco Molle, Facultad de Ciencias Naturales e IML. Yerba Buena,
Tucumán, Argentina.
3
Centro Nacional de anillado de aves (CENAA), Facultad de Ciencias Naturales e IML.
Tucumán, Argentina.
4
Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte. Minas Gerais. Brasil.
[email protected]
Resumo
As aves de rapina estão localizadas de acordo com a taxonomia na ordem Falconiformes
(aves de rapina diurnas), como falcões, águias, gaviãos, e Strigiformes (Corujas) corujas
e mochos. Estes animais têm características morfológicas que os diferenciam de outras
aves. Compartilham três características comuns: a presença de bicos com gancho e
bordas afiadas, pés, que são utilizados para capturar suas presas que têm garras afiadas e
curvas e visão binocular. Estas características estão relacionadas com a sua dieta que é
baseada, principalmente, na carne. O bem-estar animal de acordo com a Organização
Mundial de Saúde Animal (OIE) é o estado dinâmico de um indivíduo em relação aos
mecanismos biológicos que ele usa para se adaptar de forma positiva e com sucesso
frente às mudanças de seu meio ambiente, envolvendo também os estados de saúde,
conforto e condição emocional (Ferna Fernández, Quintana; Paglieri 2013). Animais em
cativeiro requerem a realização de atividades de enriquecimento ambiental que os
estimulem. Essas atividades têm como objetivo final que a manutenção de animais
selvagens em jardins zoológicos e em reservas ecológicas seja menos problemática e
que o efeito do estresse seja minimizado. A avaliação de possíveis problemas, bem
como ações para quebrar a rotina dos animais que vivem em cativeiro são fundamentais
neste tipo de atividade. Neste trabalho foi realizado um estudo sobre o histórico dos
indivíduos de diferentes espécies de aves de rapina presentes no plantel da Seção de
Aves da FZB-BH. As atividades incluíram aspectos de enriquecimento ambiental do
tipo estrutural, sensorial e alimentar. O grupo de aves de rapina com os quais foi
desenvolvido o presente projeto é composto por: um casal de Gavião-real (Harpia
harpyja), um casal de Gavião Caboclo (Buteogallus meridionales) e um Corujão
Orelhudo (Bubo virginianus). Estas espécies são nativas da América do Sul. Os
resultados obtidos através do emprego das técnicas de enriquecimento ambiental podem
ser considerados positivos. Foi observada a interação das aves de rapina com os
estímulos de enriquecimento. Esta interação positiva contribuiu para melhorar o bemestar dos animais estudados, pois houve uma mudança em sua rotina através da
introdução de novos desafios. Este projeto demonstra a importância de se implantar
planos que incluam atividades de enriquecimento, periodicamente, para animais que
vivem em instituições como a FZB-BH.
Sugere-se a implementação de melhorias estruturais nos recintos que abrigam estes
animais, considerando-se como pontos importantes o tamanho, a localização e a
configuração geral dos mesmos, de maneira que se maximize os resultados positivos
encontrados neste trabalho. É fundamental desenvolver políticas de gestão que
permitam destinar fundos necessários para o desenvolvimento de projetos que
contemplem melhorias nos espaços ocupados por estes indivíduos.
Palavras-chave: bem-estar animal, enriquecimento ambiental, aves de rapina
Introdução.
Literalmente, o termo "ave de rapina" tem um significado amplo que inclui muitas aves
que caçam e se alimentam de animais até aves que comem insetos muito pequenos. Na
ornitologia, e na definição utilizada aqui, o termo tem um significado mais restrito e
refere-se a aves apresentam uma visão muito desenvolvida, usada para encontrar seu
alimento, fortes garras para pegar a presa, e um bico curvo forte para rasgar a carne. Em
geral, as aves alimentam-se de vertebrados, por vezes, geralmente muito grandes em
relação ao tamanho da ave. Algumas também consomem carniça. Os insetos são uma
parte importante na dieta de algumas espécies de aves de rapina (Méndez. et al., 2006).
Com este conjunto de características anatômicas e seu comportamento as aves de rapina
podem ser divididas em espécies que caçam durante o dia ou aves de rapina diurnas
(Falconiformes), e as espécies que caçam à noite, corujas (Strigiformes). As aves de
rapina diurnas e noturnas estão afastadas filogenéticamente e classificam-se em
diferentes ordens. No entanto, sua evolução tem sido convergente e ambos os grupos de
aves desenvolveram sua própria adaptação ao estilo de vida predador. A importância na
natureza das aves de rapina, como conjunto de espécies, arraiga no papel ecológico que
desempenham.
As aves de rapina são predadores de topo (Cortés, 2010), ou seja, estão no topo da
cadeia alimentar. Ratos, coelhos, esquilos e outros roedores, bem como peixes, insetos,
répteis e anfíbios podem sofrer aumentos no tamanho de suas populações devido ao
aumento da disponibilidade de algum recurso. Situação comum em roedores, peixes,
anfíbios e até mesmo populações de serpentes.
As aves de rapina ajudam a manter o equilíbrio e o tamanho dessas populações. O
estudo e a compreensão dos movimentos de população de aves de rapina em um
ecossistema é uma medida da variação de espécies animais. Da mesma forma, também
são conhecidas como espécies "barômetro ecológico", que significa simplesmente que
nos ajudam a saber o quão saudável é um habitat. As aves de rapina são extremamente
sensíveis a muitos sinais ambientais sobre mudanças em um ecossistema.
Interpretando o seguinte como uma questão meramente antropocêntrica, que só procura
encontrar um valor agregado ao intrínseco dos seres vivos, se pode mencionar a
importância econômica que as aves de rapina têm.
As aves de rapina menores se alimentam de insetos e as maiores se alimentam de
roedores, isto é ajudam no controle biológico de pragas (Godoy; Planos; & Díaz 2011).
Os vermes cortadores, bem como coelhos e ratos de campo são capazes de destruir
campos inteiros de cultivos caso se reproduzam livremente, sem quaisquer aves de
rapina para predá-los.
As aves de rapina estão atualmente sujeitas a problemas que afetam sua sobrevivência
como um grupo funcional (Vergara; Soto 2011). A maioria dos problemas são devido às
atividades humanas, como o desmatamento, a caça ilegal, envenenamento, etc.
Tal é o impacto dessas ações que algumas espécies de aves de rapina estão à beira da
extinção, citando o caso de Harpialiaetus coronatus (Vieillot, 1817), cuja população
atual está estimada em 1.000 indivíduos dentro de sua área de distribuição em todo o
mundo (BirdLife International, 2008) (Atencio,N.O. et al 2013)
Atividades de enriquecimento que permitam uma melhoria no estado geral das aves de
rapina encontradas em cativeiro, principalmente no que se refere à capacidade de vôo,
aos comportamentos naturais e à melhorias das aptidões biólogicas podem ser a chave
para o desenvolvimento de planos de manejo, reprodução em cativeiro e reintrodução de
espécies com valor de conservação. Este pensamento agora é muito difundido entre os
zoológicos de todo o mundo, onde a velha cena de animais em cativeiro apenas para ser
expostos está sendo substituído por ações mas próximas dos trabalhos de educação
ambiental e de conservação das espécies.
O Bem-Estar Animal considera a qualidade de vida e a forma de abordar o ambiente por
parte dos indivíduos (Ovalle; Carvajal 2013). No entanto, deve-se dizer que não existe
uma definição simples de Bem-Estar Animal, o termo não foi criado como um conceito
científico, mas sim como um reflexo dos nossos valores para expressar preocupação
com o tratamento adequado aos animais. O Bem-Estar Animal é considerado no seu
contexto mais amplo em relação às normas e aos valores éticos e sociais, tendo em
conta não só os aspectos que podem causar danos físicos, mas também outros aspectos
da intervenção psicológica.
Sendo definido como "o estado de um animal em relação às suas tentativas de lidar com
o ambiente." "Este é um estado mensurável." (Donald Broom 1986). Para uma análise
sobre a qualidade de vida de um animal podem ser empregadas as 5 liberdades (Farm
Animal Welfare Council, UK 1992), verificando se o animal está:
1 -. Livre de fome e sede: Isto é ter fácil acesso à água limpa e a uma dieta capaz de
manter um bom estado de saúde.
2 -. Livre de desconforto: provisão de ambientes apropriados que incluam proteção e
áreas de descanso confortáveis.
3 -. Livre de dor, ferimentos e doenças: Esquemas preventivos e o estabelecimento de
diagnósticos e de tratamento adequado.
4 -. Livre para expressar comportamento normal: Fornecer espaço suficiente, infraestrutura adequada e companhia de animais da mesma espécie, para que eles possam
interagir.
5 -. Livre do medo e angústia (distress): Provisão de condições e de tratamentos que
evitem o sofrimento mental.
O método científico, que é utilizado para melhorar o estado de saúde físico e
psicológico dos animais selvagens de cativeiro é denominado enriquecimento
ambiental. É definido como um processo que procura melhorar tanto o ambiente do
animal, como seu manejo, dentro do contexto de sua biologia comportamental, ecologia
e história natural de cada espécie (Shepherdson, 1998).
Tipos de enriquecimento : A contribuição de qualquer estímulo que desperta o interesse
dos animais pode ser considerada enriquecimento ambiental, incluindo objetos naturais
e artificiais, diferentes aromas, novos alimentos ou ou alimentos preparados de forma
diferente. A maioria dos estímulos de enriquecimento é dividida em seis grupos:
S ensorial: estímulos para os sentidos: visual, olfativo, auditivo, tátil e gustativas;
Alimentar: consiste em transformar a alimentação em um desafio. Isso pode ser feito
por vários métodos, apresentar a comida de uma forma que lhes obrigue a resolver
pequenos problemas que incentivam os animais a investigar, manipular e trabalhar para
obter, como fazem na natureza. Alimentos escondidos em vários objetos concebidos
para dificultar o seu acesso, como por exemplo, blocos gelo, alimentos colocados em
dispositivos mecânicos que simulam presa em movimento, etc.
Manipulação: fornecer elementos que podem manipular com os pés, boca, cabeça,
chifres, etc. Isso induz a um comportamento de pesquisa e a comportamentos
exploratórios;
Estrutural: melhorar o ambiente onde se encontram os animais acrescentando
mudanças e aumentando a complexidade do ambiente;
Sociais: proporcionar aos animais oportunidades de interagir com outros individuos, de
sua especie ou não.
Treinamento: treinar os animais em diferentes tarefas usando reforço positivo ou
habituação. (Exemplo técnicas derivadas de falcoaria).
Pode-se argumentar que um estímulo pode ser considerado enriquecimento, mesmo se o
animal reage negativamente, como odores desagradáveis. Os estímulos que causam
medo ou estresse extremos, e estímulos que podem causar dor ao animal devem ser
evitados.
Zoológicos modernos são projetados frequentemente com instalações enriquecidas com
estruturas apropriadas ao desempenho de comportamentos mais próximos dos naturais e
que oferecem melhor qualidade de vida aos animais.
Existem vários métodos para avaliar a eficiência do enriquecimento ambiental oferecido
a um animal. Os itens utilizados devem estimular os animais de cativeiro a
desempenharem comportamentos semelhantes aos exibidos por animais de vida livre da
mesma espécie, devem também estimular os animais a executarem as atividades e
interações que preferem (fazendo testes de preferência), e deve permitir que os
animais realizem as atividades para as quais estão mais motivados (realizando teste de
motivação).
O sucesso do enriquecimento ambiental pode ser avaliado pela quantificação do grau de
indicadores de bem-estar animal, tanto fisiológicos e etológicos. Entre os indicadores
etológicos incluem-se a incidência de comportamentos anormais (por exemplo
movimentos estereotipados, estudos das distorções cognitivas, e os efeitos da
frustração). Entre os indicadores fisiológicos estão a frequência cardíaca, a presença de
corticosteroides, a função imune, a neurobiologia, a qualidade da casca dos ovos,
termografia, etc.
Aves de rapina selvagens transferidas para centros de reabilitação ou para
zoológicos são propensas ao estresse crônico (Ovalle; Carvajal 2013). O ótimo estado
do indivíduo depende de seu estado de saúde-doença, das condições de captura, de
transporte, de tratamento médico, de meio ambiente, de dieta e de condições de
exercício de vôo em cativeiro.
Permitir o comportamento natural dos indivíduos em cativeiro (Hewson, 2003), a
melhoria da infra-estrutura e condições de manejo com enriquecimento ambiental, por
exemplo, são estratégias que reduzem o estresse e melhoram o desempenho (Pizzutto;
Sgai; Guimarães 2010). A privação de estímulos mentais e sensoriais provoca padrões
anormais de conduta em diversas espécies animais (World Society for the Protection of
Animals. WSPA. 2007). A conduta estereotipada é um padrão repetitivo e invariável de
um comportamento normal, sem objetivo ou função aparentes (Mason, 1993).
Desenvolvimento de um programa de enriquecimento
O sucesso no desenvolvimento de um programa de enriquecimento ambiental precisa de
cada uma das seguintes fases:
1) Estudo da biologia das espécies.
2) Realizar uma análise da situação inicial dos animais e a comparar com os resultados
do estudo da biologia das espécies e da história natural.
3) Determinar os objetivos a serem obtidos com o programa de enriquecimento.
4) Desenvolver o programa do projeto de enriquecimento e executa-lo.
5) Avaliar e análisar os resultados.
Implementar um programa de EA requer ordem lógica, a primeira fase de análise define
objetivos e alternativas, a fase de planejamento gera cronogramas ações e critérios para
o sucesso, logo a fase de desenvolvimento e avaliação por meio de monitoramento vai
gerar os ajustes necessários ( Guillén-Salazar et al., 2001).
Objetivos.
Conhecer e analisar de forma geral os elementos e técnicas de enriquecimento
ambiental desenvolvidas na FZB BH para melhorar o bem-estar dos animais.
Implementar novas atividades de enriquecimento ambiental e somá-las às já
existentes, tendo em conta a história particular de cada individuo do plantel de
aves de rapina da FZB-BH.
Reduzir o possível estado de estresse crônico experimentado por indivíduos ao
estar na área de exposição de FZB-BH.
Avaliar por meio de testes comportamentais e critérios adequados, os efeitos e as
respostas às atividades de enriquecimento ambiental dos indivíduos submetidos
às técnicas de eniquecimento.
Avaliar a condição geral e sugerir possíveis modificações nos recintos ocupados
pelas aves de rapina.
Materiais e métodos.
Para a realização deste trabalho experimental foram consideradas as atividades
desenvolvidas pela Área de Bem-Estar Animal da FZB-BH.
É importante comentar sobre uma das primeiras atividades planejadas para desenvolver
com o plantel de aves de rapina.
Depois de conhecer os indivíduos e suas histórias particulares pensou-se no
desenvolvimento de técnicas de falcoaria como uma alternativa de enriquecimento
ambiental. Estas atividades seriam empregadas com um casal de
Buteogallus meridionalis. Ao iniciar as primeiras etapas de aproximação, muito
importante neste tipo de técnica, concluiu-se que o tempo dos indivíduos em cativeiro,
por volta de 10 anos, e a presença de comportamento estereotipado impossibilitaram
continuar o desenvolvimento das técnicas de falcoaria. Visto isto, se considerou mudar
de maneira quase completa, as possíveis ideias para a realização do trabalho de
investigação. Como resultado, foi planejado um programa de atividades de
enriquecimento ambiental para ser aplicado com os indivíduos de aves de rapina
pertencentes às espécies Bubo virginianus (Gmelin, 1788), Buteogallus
meridionalis (Latham, 1790), Harpya harpija (Linnaeus, 1758). Estas atividades
contemplaram diferentes tipos de enriquecimento do tipo estrutural, sensorial e
alimentares.
O enriquecimento estrutural foi implantado no recinto ocupado pelo casal de
Buteogallus meridionalis, e consistiu na colocação de bambus na parte inferior frontal
do recinto. Os bambus foram cortados a uma altura de 1,60 cm e foram presos ao solo
rentes à tela frontal do recinto. Esta estrutura foi colocada com o objetivo de diminuir o
estresse provocado pela presença contínua de visitantes, bem como também obrigar os
indivíduos a permanecer o menor tempo possível no solo. Fomentando também o
exercício através da realização de vôos se eles quisessem observar os visitantes.
O enriquecimento sensorial, consistiu na realização de playback com vocalizações de
indivíduos da mesma espécie dos estudados neste projeto e a coleta dos dados se fez
através do etograma utilizado pela Área de Bem-Estar Animal. A coleta de dados
ocorreu sempre durante 10 minutos. Estas atividades foram desenvolvidas para as três
espécies. Para a realização dos playbacks utilizaram-se os sons incluídos na guia de
identificação de aves da Argentina e do Uruguai (Narosky & Yzurrieta. 2010)
As atividades de enriquecimento alimentar, de maneira geral, foram compostas por
modificações na forma de oferecimento dos alimentos, no tipo de alimento e no horário
de alimentação. Os estímulos inseridos foram: carne coberta com papel e penas de aves,
carne embrulhada em folhas de banana para Harpya hapija; grilos e larvas de tenébrios
para Buteogallus meridionalis. A alteração no horário de entrega do alimento ocorreu
apenas com o indivíduo de Bubo virginianus.
Análise de resultados.
O resultado obtido com a aplicação do enriquecimento estrutural, no recinto dos
Heterospizia meridionalis, foi analisado qualitativamente mediante a observação critica.
Apesar de não haver dados estatísticos, os resultados foram considerados positivos, pois
foi possível reduzir a exibição do comportamento anormal provocado pela presença dos
visitantes. Antes da introdução do enriquecimento estrutural os indivíduos permaneciam
a maior parte do tempo no piso do recinto. Após a inserção dos estímulos passaram a
realizar vôos e a utilizar os poleiros criados para estimular o pouso e o voo. Desta
maneira estimula-se a atividade física dos indivíduos evitando que sua musculatura do
voo fique atrofiada.
Os playbacks com vocalizações específicas, para os indivíduos das três espécies, foi
analisada quantitativamente de maneira simples, obtendo-se porcentagens relativas ao
uso do tempo e do espaço durante as atividades de enriquecimento. Este tipo de
enriquecimento é importantíssimo para aves de rapina que estão em cativeiro por vários
anos e para as que nasceram neste estado. Favorece a atividade cognitiva ao estimular o
reconhecimento de sons dos indivíduos da mesma espécie. As vocalizações estimulam
respostas ao chamado dos indivíduos de sua espécie. Da mesma maneira, é possível
realizar estudos comparativos entre as vocalizações de indivíduos cativos com as dos
que vivem em liberdade.
A realização do playback por 60 minutos para as harpias (Harpía harpija) resultou em
mais de 75% do tempo com respostas positivas, como vocalizações, vôos e
comportamento alerta com procura do lugar de origem do som. É importante destacar
que a maior parte das respostas às vocalizações foi realizada pela fêmea.
As melhores respostas aos estímulos utilizados foram dos indivíduos de Buteogallus
meridionalis. Houve resposta de 100% para os 60 minutos de playback. Sendo mais
representativo o comportamento alerta, seguido dos comportamentos vôo e vocalização.
Como ocorreu com as harpias, a maior parte das vocalizações de Buteogallus
meridionalis foram emitidas pela fêmea. Este fato pode ser explicado através da história
evolutiva das aves de rapina, onde as fêmeas, por regra geral, são mais territoriais.
O caso particular do indivíduo de Bubo virginianus merece especial atenção por tratarse de uma ave de rapina de hábitos noturnos e crepusculares. Neste caso obteve-se uma
porcentagem de interação geral mais baixa, em torno de 60%, de um total de 70 minutos
de playback. O hábito noturno desta ave pode ter influenciado baixo nível de resposta
aos estímulos sonoros, já que os experimentos foram realizados em horários incomuns
para os hábitos desta espécie. A melhor resposta foi observada nas primeiras horas da
manhã e no final da tarde.
Quanto à análise qualitativa das vocalizações, É preciso mencionar que nenhuma das
respostas emitidas foram similares em intensidade, estrutura, e duração, com relação às
gravações utilizadas. No entanto era possível distinguir um padrão similar ao de cada
espécie. Uma possível explicação para este fato pode ser a de que indivíduos que são
mantidos por longos períodos em cativeiro podem sofrer alterações etológicas e
cognitivas que implicam em modificações no padrão de suas vocalizações. Por outro
lado é preciso considerar que as vocalizações que foram utilizadas pertencem a
populações diferentes das dos indivíduos estudados no presente projeto, sendo este fato
também uma possível explicação para o observado.
Os estímulos de enriquecimento alimentar introduzidos para os indivíduos de Harpía
harpija foram avaliados mediante observação e coleta de dados com o uso de etogramas.
Foram registradas interações positivas em todas as atividades. Foi observado também
um comportamento não exibido antes da introdução dos estímulos alimentares que foi a
interação social com presença de displays entre ambos indivíduos. Quando o
enriquecimento foi introduzido no recinto, tanto a fêmea quanto o macho abriram suas
asas como se um desafiasse o outro, dando a impressão de que cada um protegia seu
alimento. Durante a disputa de demonstrações (displays), aparentemente o mais bem
sucedido foi o macho, que realizou um voo oblíquo para agarrar o pacote que estava
mais próximo à fêmea. Após agarrar o enriquecimento, o macho voou para seu poleiro
novamente, para abrir o pacote com o bico e se alimentar. Após seu retorno para o
poleiro, a fêmea voou em direção ao outro pacote, agarrou-o e voltou para seu poleiro
para também se alimentar. Este comportamento pode ser devido a que os indivíduos não
formaram um casal estabelecido, mesmo assim apos de muitos anos de convivência.
Ao analisar os movimentos posteriores à obtenção dos pacotes de carne, observo-se que
estes se correspondem com a etologia alimentar tipica desta espécie. Este
comportamento consiste em que uma vez a presa sujeita nas garras, esta é levada até
posaderos
localizados
no
alto
de
arboles.
Durante
a
disputa, realizada com demonstrações (displays), aparentemente o mais bem sucedido
foi o macho, que realizou um voo oblíquo para agarrar o pacote que estava mais
próximo à fêmea. Após agarrar o enriquecimento, o macho voou para seu poleiro
novamente, para abrir o pacote com o bico e se alimentar. Após seu retorno para o
poleiro, a fêmea voou em direção ao outro pacote, agarrou-o e voltou para seu poleiro
para também se alimentar. Este comportamento sugere que possivelmente os
indivíduos não formaram um casal, mesmo após muitos anos de convivência. Os
movimentos posteriores à obtenção dos pacotes de carne correspondem ao repertório
comportamental típico desta espécie, que consiste em capturar a presa com as garras
para depois lavá-la para a copa de uma árvore.
Foi observado resultado positivo no comportamento dos indivíduos de Buteogallus
meridionalis com a implementação de novas opções alimentares. Vale destacar que os
itens modificados em sua alimentação só foram consumidos pela fêmea.
O macho permaneceu sem interagir com o enriquecimento. A modificação no horário de
alimentação em Bubo virginianus teve um resultado positivo, levando-se em
consideração seu comportamento natural.
Conclusões
Todas as atividades de enriquecimento ambiental, desenvolvidas, com as aves de rapina
pertencentes ao plantel da FZB-BH estimularam interações positivas, conforme análise
realizada.
As atividades de enriquecimento ambiental desenvolvidas para as aves de rapina são
fundamentais para melhorar o bem-estar dos indivíduos que se encontram em cativeiro.
A variabilidade no horário de entrega dos alimentos, bem como a modificação na
maneira de apresentação dos mesmos às aves de rapina ampliaram o repertório
comportamental destes animais.
Alimentos pertencentes à dieta natural das aves de rapina foram bem recebidas e
consumidos por Buteogallus meridionalis.
Os playbacks com sons de indivíduos da mesma espécie foi uma ótima forma de
estimulo sensorial-cognitivo para estas aves.
As estratégias e as atividades já desenvolvidas pela Área de Bem-Estar Animal da FZBBH são uma excelente forma de reduzir o impacto negativo do cativeiro nos animais de
seu plantel.
Como conclusão final, em termos gerais, este trabalho de investigação criou
oportunidades para que as aves de rapina, integrantes do platel da FZB-BH, exibissem
comportamentos mais próximos dos naturais. Entre os comportamentos exibidos
podemos citar: os exercícios de voo e de saltos e as interações sociais; além da
simulação de cenários mais naturais que estimulam os animais positivamente. A
utilização de novas estruturas e a distribuição de alimentos em horários aleatórios, além
da modificação na forma de apresentar este alimento, fez com que as aves desviassem
sua atenção para as novidades introduzidas em seu recinto e em sua rotina, aliviando o
estresse provocado por visitantes e consequentemente estimulando a substituição de
alguns comportamentos anormais por comportamentos mais próximos dos exibidos por
indivíduos de vida livre.
Sugestões
Dando continuidade ao último objetivo proposto por este trabalho, depois de ter
observado as condições gerais dos recintos ocupados pelas aves de rapina da FZB-BH,
considero necessária a realização de melhorias nos recintos das mesmas.
Sendo particularmente necessário o aumento da área disponível, visto que este tipo de
animal se desloca por meio de voo, sendo fundamentais os espaços horizontal e o
vertical.
A localização dos recintos, a orientação e a conformação que estes apresentam limitam
os indivíduos com uma visão unidireccionada, favorecendo a monotonia e
estabelecendo uma rotina, que são prejudiciais aos animais. É Também fundamental
oferecer maior privacidade aos indivíduos através da inserção de esconderijos ou
abrigos em seu recinto. Solução seria a implementação do projeto de mudança dos
recintos das aves de rapina apresentado por Ángela Faggioli bióloga responsável pela
Seção de aves. De maneira geral, este projeto considera a inclusão dos recintos, em suas
medidas, dentro da matriz de floresta que se encontra atrás da atual localização. Esta
reforma oferece aos indivíduos elementos quase naturais de estímulos sonoros, visuais e
oportunidades diferentes de utilização do espaço tridimensional.
De maneira similar a estética seria melhorada notavelmente e os visitantes teriam outra
visão dos animais que ali se encontram, sentindo a experiência dos observa-los voando
como se o fizessem em seu ambiente natural.
Infelizmente a aprovação do mencionado projeto, que contribuiria de maneira drástica à
melhora do bem-estar animal dos indivíduos estudados, se encontra suspendida por falta
de recursos para a sua implantação.
Finalmente este trabalho tenta gerar um espaço de reflexão sobre as prioridades levadas
em consideração no desenvolvimento de políticas públicas que nos convertam em uma
sociedade comprometida com a educação ambiental e com o cuidado dos recursos
naturais. Garantindo com estes objetivos, um futuro melhor para as gerações futuras.
Agradecimentos
É preciso reconhecer a ajuda recebida para a realização deste pequeno trabalho de
investigação. Em primeiro lugar às autoridades de FZB-BH na pessoa do diretor
Gladstone Corrêa de Araujo, minhas coordenadoras Ângela Bernadete Faggioli e
Cynthia Cipreste. Da mesma maneira agradeço à boa predisposição dos tratadores da
Área de Bem-Estar Animal: Thiago e Márcio e dos tratadores responsáveis pela Praça
das Aves: Marcos, Amarildo e a todas as pessoas que ofereceram sua ajuda de maneira
desinteresada.
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