POSSIBILIDADES E LIMITES DO

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POSSIBILIDADES E LIMITES DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
PERANTE O ESTADO CONTEMPORÂNEO
Felipe Onisto1
RESUMO
O artigo que se apresenta irá tratar da temática do desenvolvimento regional, tentando
identificar seus limites e potencialidade, além do levantamento de indagações do mesmo. O
texto se desdobra em três grandes eixos, dos
quais irão convergir em novos debates, o
primeiro seria: problemáticas do desenvolvimento regional: limites e potencialidades, que se
estenderá nos temas; O desenvolvimento regional contemporâneo, As dimensões de se
alcançar o desenvolvimento regional e limites e potencialidades do desenvolvimento. Na
segunda grande temática encontramos; A construção política do desenvolvimento: A
participação social. Esta também se divide em duas formas; Como se define participação
social e instrumentos necessários à participação em Política Pública. No último eixo: Cultura
e desenvolvimento, podemos encontrar a; Cultura como prática social diante do
desenvolvimento. Nas considerações finais o artigo tenta levantar questionamentos sobre a
forma de desenvolvimento aplicado hodiernamente, colaborando com algumas perspectivas
do novo modelo que está sendo elaborado por teóricos do país com a participação social.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Participação Social, Intelectual Regional.
ABSTRACT
The articles presents will address the issue of regional development, trying to identify its
limits and potential, in addition to raising the same questions. The text unfolds in three mains
areas, which will converge in further discussions, the first book would be problematic for
regional development: limits and possibilities, extending the themes, the regional
contemporary dimensions to achieve regional development and limits and potentials of
development. In the second major theme found; the political construction of development:
The social participation. This also is divided into two forms: How do you define social
participation and tools needed to participate in Public Policy. For the last topic: Culture and
development, we can find, Culture as social practice in the face of development. The final
considerations of the articles tries to raise questions about the way of development applied in
our times, collaborating with some prospects of the new model being developed by theorists
in the country with social participation.
Keywords: Regional Development, Social Participation, Regional Intellectual
1
Sociólogo – Professor de Sociologia da rede estadual de ensino de Santa Catarina, onde leciona a disciplina de
Sociologia para ensino médio e Sociologia da Educação para o Magistério. Atualmente é pós graduando em
Gestão Pública pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Email: [email protected]
PROBLEMÁTICAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: LIMITES E
POTENCIALIDADES
Desenvolvimento Regional Contemporâneo
Em primeira instância o artigo traz como discussão o conceito de Desenvolvimento
Regional amparado nos pressupostos teóricos de Sergio Boisier. No decorrer da fala
utilizaremos
dois
textos
do
autor,
intitulados
―EM
BUSCA
DO
ESQUIVO
DESENVOLVIMENTO REGIONAL: ENTRE A CAIXA-PRETA E O PROJETO POLÍTICO”,
seguido de ―EL DESSAROLO TERRITORIAL A PARTIR DE LA CONSTRUCCION DE
CAPITAL SINERGÉTICO‖.
Segundo o pensador existem três cenários que são independentes e levam a identificar
o Desenvolvimento Regional hodiernamente: cenário contextual, cenário estratégico e cenário
político.
O cenário contextual tem dois fenômenos modernos: primeiro, a abertura externa
forçada pela Globalização (fator extremamente Econômico), seguida da abertura interna
ocasionada pelas primazias da descentralização (atividade de caráter Político que está se
espalhando pelo mundo). Diante da mundialização podem-se mensurar as regiões do Estado
Nação que melhor se posicionam na cena mundial, através de índices pré-estabelecidos como
PIB e Balança Comercial, estas regiões se destacam por produzirem elementos em comum,
estando ligadas há uma lógica que sustenta o espaço economicamente. O ambiente geográfico
que ampara a região neste caso não deve ser mensurado por: limites naturais ou construídos, e
sim levando em consideração a produção econômica, cultural, social, política... as quais se
assemelham nos local e auxiliam a definir sua extensão.
A descentralização, ou chamada popular a participação dos processos decisórios,
sintetiza a abertura Política do Estado contemporâneo, sendo uma vertente a participação
social. Com o Estado descentralizado se torna mais fácil reivindicar propostas que atendam a
dinâmica e peculiaridades da região In locu, proporcionando o crescimento Econômico e uma
distribuição de renda igualitária, além disto, a participação civil irá convergir na constante
inovação tecnológica e de pesquisa, financiadas pelo Estado como garantia de manutenção às
adequações do mercado Internacional e Nacional. O Estado deve investir em pesquisas que
almejem descobrir novos produtos regionais, dos quais possam ser reconhecidos e
caracterizados como de tal localidade, estando estes diretamente ligados as particularidades
das famílias ou pessoas que produzem.
O cenário estratégico se divide em novos três conceitos do regionalismo: região
pivotal, regiões associativas e regiões virtuais. A região pivotal se destina em um menor
número de territórios, onde os membros têm uma alta capacidade em resolver problemas e
seus traços culturais são sistematicamente complexos (mas são extremamente coercitivos na
geração de novas identidades), estas regiões podem associar-se a outras, formando a região
associativa, ou melhor, uma extensão maior geograficamente, que se assemelhará em todos os
traços sociais. Estas regiões ainda podem aumentar, só que não de um modo territorial
palpável, e sim através das regiões virtuais que são redes a fim de produzir interações
abstratas nos mercados regionais.
Na cena política Boisier estabelece um conceito do qual tenta assimilar a região com o
Estado (política), ou melhor, ele parte da ideia que as regiões se encontram, relacionando-se
através de dominação e dependência em uma escala ordenatória já pré-estabelecida. Em
síntese as regiões dominadoras o fazem por deter um posicionamento político mais eficaz e
privilegiado, do qual se estende aos oprimidos, quando investido economicamente nas regiões
menos desenvolvidas, o lucro gerado volta aos dominadores, deixando sempre esta, a margem
de submissão, seja pelo fato de não conseguirem produzir ou deter instrumentos que
possibilitem o mesmo posicionamento nas tomadas de decisões, possíveis aos Estados
politicamente desenvolvidos.
O que resta então às regiões menos desenvolvidas? Segundo Boisier (p. 16, 1996):
―Isso é resolvido mediante dois processos: o primeiro, pela transferência
de poder político incorporada em um projeto nacional descentralizador
(como o que opera com timidez o Chile e com algo mais de audácia, pelo
menos financeira, a Colômbia), e segundo, por meio da criação de poder
político, algo que se obtém mediante o consenso político, o pacto social, a
cultura da cooperação e a capacidade de criar, coletivamente, um projeto
de desenvolvimento. Eis, portanto, a relevância do conceito de projeto
político regional como instrumento de criação de poder político.‖
Alguns fatores corroboram com as linhas acima e podem ser notados na leitura
cronológica elaborada por Oscar Rover em seu texto: “Gestão política e desenvolvimento na
região oeste de Santa Catarina”. No mesmo, o autor irá mostrar a importância histórica do
Estado como protagonista do desenvolvimento regional, sendo ele promotor das políticas,
financiador da ideia, executor e fiscalizador, uma espécie de desenvolvimento a partir de
Políticas Públicas. Outro fator que cabe ser levantado se refere à descentralização do Estado
em meados da década de 80 com a criação de novos municípios que iriam compor novos
territórios.
As Dimensões possíveis para alcançar o desenvolvimento regional
Seguindo a mesma linha de pensamento de Boisier, podemos identificar nove
possíveis dimensões das quais são fundamentais para alcançar o desenvolvimento regional,
sendo elas enumeradas como ―capital‖, onde o sinergético se demonstra como mais
importante e imanente às sociedades civis organizadas.
O primeiro capital que se refere o pensador seria, Capital Econômico, ou melhor, é
uma maneira exógena de destinar crescimento a região. As demandas deste capital
acompanham a lógica da globalização, não podendo os governos intervir nos paradigmas que
alocam este capital as regiões, cabendo ao Estado o poder de influenciar onde os recursos
melhores serão desfrutados e apresentarão resultados mais rápidos e satisfatórios atendendo as
expectativas de um mercado financeiro internacional.
O segundo capital refere-se ao Capital Cognitivo, o qual ajuda a revelar o
conhecimento científico e técnico produzido por uma comunidade. O conhecimento científico
deve dar conta de explicar a formação da localidade, juntamente com os fenômenos que se
desenvolvem cotidianamente, sejam eles, novas formas de organização social, participação
política, caos... quando a região estiver sendo afetado por uma quebra em sua lógica de
funcionamento que interfira na coletividade, cabe ao membros da mesma recorrer a este
conhecimento como maneira de identificar seu agente causador tentando encontrar possíveis
soluções ao mesmo.
A produção técnica agora deve fazer parte de todas as regiões, no período anterior a
globalização ela estava restrita aos países desenvolvidos economicamente, agora com a queda
das fronteiras estabelecida pela internacionalização das nações ela se espalha as regiões,
fazendo emergir maneiras, ou formas de desenvolvimento através das peculiaridades
regionais, da qual é formulada pelas pessoas em lócus.
Na temática do terceiro capital encontraremos o Capital Simbólico, tendo sua
originalidade em Pierre Bourdieu, expressando as palavras como forma de fazer as coisas
através dela mesmas, sendo um poder de consagração e revelação. O poder da palavra serve
como paradigma para a construção de imagens dentro da região em foco, como fonte
mobilizadora para chamar seu povo à criação de uma identidade local, ou seja, a palavra é o
princípio para criação do ponto que irá possibilitar o desenvolvimento regional.
O Capital de número quatro denomina-se Capital Cultural, o qual também se ampara
nos escritos de Bourdieu. Este capital é um conjunto de mitos, crenças, tradições, linguagens,
ou melhor, sinteticamente se refere a tudo que é gerado pelo homem. A partir deste capital,
podemos mensurar as formas usadas para desenvolver as sociedades passadas, e entender as
dinâmicas desse desenvolvimento e de que forma ele iniciou.
No quinto capital iremos nos deparar, com o Capital Institucional. As instituições
públicas e privadas compõem o mesmo, ambas devem deter características em comum como:
maleabilidade, eficácia, rapidez nas tomadas de decisões... elas são guiadas por um conjunto
de regras das quais devem facilitar a promoção do desenvolvimento regional.
Na sexta posição o capital psicossocial se faz presente, relacionando o pensamento e a
ação das pessoas, ou melhor, está ligado aos sentimentos, recordações, vibrações familiares...
e a grande tentativa, é aliar estas premissas com as tomadas de decisões coletivas, deve se
apostar no desenvolvimento regional, que é imanente aos humanos. A crença no futuro deve
fazer parte desde capital.
O capital social configura a sétima posição, em seus traços está à organização de
atores sociais angariados em uma cultura da confiança mútua. Este capital possibilita a
cooperação através da constituição de associações, das quais as pessoas devem confiar nas
outras. Este capital intangível se baseia na esperança do outro grupo arcar com seus
compromissos pré-estabelecidos, facilitando assim, a relação entre as regiões, fazendo com
que o desenvolvimento regional seja alcançado por toda a composição da localidade.
Em oitavo, o capital cívico remete-se a regiões onde a democracia impera e a
participação pública se demonstra exacerbante, além do mais a confiabilidade nos atores
públicos é obscena.
Em último lugar podemos observar o capital humano, que se refere a conhecimentos e
habilidade dos indivíduos. Este capital é fruto de um investimento no processo educativo, dos
quais mostram resultados futuros, como empregos qualificados e tomadas de decisões
conscientes e racionais, das quais poderão interferir na vida coletiva e ajudar a almejar o
desenvolvimento regional.
Limites e Potencialidades do Desenvolvimento
O fenômeno do desenvolvimento tomou força logo após o final da segunda guerra
mundial. Com a criação do chamado Império2, entidades internacionais que estimulavam o
2
Hans Kelsen uma das mais importantes figuras intelectuais que estão por trás da formação da Organização das
Nações Unidas (ONU)2. [...] propôs que o sistema jurídico internacional fosse concebido como a fonte suprema
de toda formação e constituição jurídica nacional. [...] Deram pernas a uma ideia do espírito; apresentaram uma
base real de eficácia para um projeto transcendental da validade do direito situado acima do Estado-Nação. [...]
(Negri, Hardt. 2006, p. 23, 24)
crescimento econômico e o desenvolvimento social de países. Podemos encontrar como
exemplos: Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização das Nações Unidas (ONU),
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), dentre outros.
Organizações como estas oferecem recursos financeiros e humanos a fim de promover o
desenvolvimento local em países subdesenvolvidos, o grande paradigma foi o estimulo dado à
Itália no pós guerra, que posteriormente viria a se tornar modelo mundial.
No caso brasileiro o atraso em busca do desenvolvimento se dá pelas formas de
regimes políticos que perpassam o país nos últimos anos, somente no final da década de 90
que começamos a nos estabilizar politicamente com o regime democrático. O
desenvolvimento regional ou local possui características peculiares para seu alcance, devendo
ser endógeno ou exógeno, participativo, inovador... O Estado tem papel primordial para sua
composição, podendo servir de mediador, promotor e financiador das ideias que envolvam a
região, sendo que a população unida poderá indicar fatores que possam alavancar os índices
de igualdade social no local.
O país ainda encontra dificuldades na promoção do desenvolvimento, primeiramente
pela sua formação cultural, não estamos familiarizados com esta ideia de participação nas
tomadas de decisões, muito menos em desempenharmos a solidariedade e cooperatividade,
este processo esta lentamente se arraigando no cotidiano das pessoas e a partir disto é possível
lutar por uma maior inclusão social, econômica e política no local de residência.
Cada região possui semelhanças na sua formação e é isto que podemos explorar no
caso do oeste de Santa Catarina, as indústrias agroalimentares dominam a localidade
promovendo desenvolvimento econômico, trazendo imanente outras modalidades de
desenvolvimento. As regiões devem reconhecem em que situação melhor se encaixa, sendo
produção in natura, comercialização, produção técnica, científica, desenvolvimento de
políticas... Com a execução de tarefas que sejam bem aceitas pela sociedade, os resultados
logo poderão aparecer, sejam eles uma maior distribuição de renda, melhor índice de
desenvolvimento humano (IDH), melhores condições de saúde... Basta identificar a
potencialidade local para começar a se pensar na construção da sinapse. As ideias poderão
nascer do clamor da população local, sendo sustentadas com o apoio da iniciativa privada
tendo enaltecimento do poder público. Quando estas ideias não nascem do povo em lócus,
surge o Estado como protagonista (neste caso a relação de parceria entre o governo e a
população é diminuta) intervindo diretamente nos locais, destinando a eles medidas que não
respeitam suas peculiaridades, porém a região deve se adequar as medidas coercitivas.
O ideal desenvolvimentista se dá pela inter-relação entre Estado e organização civil,
ambos devem agir em parceria. Como podemos observar no modelo brasileiro, o Estado age
como financiador e viabilizador político e humano resultado do Bem Estar Social. As
entidades civis organizadas podem solicitam ao governo, ajuda para a promoção de alguma
das modalidades de desenvolvimento, sendo prontamente atendidas com a verificação e
disponibilidade dos agentes de desenvolvimento.
Um dos limites que a nossa sociedade impõe a ela mesma, é a baixa participação nos
interesses públicos, dos quais restringem o crescimento da própria sociedade, estamos
corrompidos com o egoísmo consumista, buscamos freneticamente o sucesso pessoal através
da riqueza material privada, e é a partir disto que devemos elaborar modalidades, para inverter
está lógica, possibilitando a todos a inclusão social através da participação política.
CONTRUÇÃO POLÍTICA DO DESENVOLVIMENTO: A PARTICIPAÇÃO
SOCIAL
Definição de Participação Social
O conceito de participação social pode ser visto de inúmeras vertentes:
A participação social passou a representar, em suas diversas modalidades,
um elemento estruturante do Sistema Brasileiro de Proteção Social (SBPS).
Sua análise oferece elementos relevantes para o debate atual sobre políticas
públicas, seja no que se refere à sua institucionalização e execução, seja
quanto ao enfrentamento das questões sociais. (SILVA; JACCOUD;
BEGHI, p.1)
Como já notamos na temática acima, o processo democrático, se torna indispensável
para efetivarmos uma maior participação popular nos processos de desenvolvimento. O povo
certamente percebeu que políticas desenvolvimentistas que envolvam um grande leque de
localidades estão fadadas ao fracasso3, e é assim que novos teóricos se desafiam a criar
propostas para resolver estes problemas. Esta nova linha conceitual chegou à conclusão de
que quanto menor for o espaço regional, angariado no processo, seu grau de aceite será mais
bem quisto.
Isto se efetiva na medida em que as pessoas possam ter algum grau de relação, ou
melhor, um vizinho conhece bem o outro, sabe como ele age e quais são suas posições perante
3
O processo de Desenvolvimento deve nascer no local, onde irá reconhecer e respeitar suas particularidades,
tendo o Estado papel mediador para proporcionar o fim almejado.
a sociedade. Em pequenas cidades o grau de parentesco pode ajudar na promoção do
desenvolvimento, quando pessoas estão entre amigos ou família sentem se mais a vontade
para opinar sobre um fato, ou mesmo reivindicar mudanças que possam vir das instâncias
políticas.
As propostas políticas de desenvolvimento governamental sofrem preconceitos, pela
descrença nos políticos eleitos, a população tem uma visão generalizada dos nossos
representantes, são corriqueiramente taxados de corruptos, ladrões... (fatos vistos
cotidianamente em jornais), e com isto, acabam se abstendo da participação em fóruns,
agências ou mesmo eleições, visto que servem de mediadores para mudança. Com o espaço
do desenvolvimento vago, as pessoas que participam podem confiar melhor uma nas outras,
quando o político ou mediador é fruto da terra o grau de confiança em seu trabalho aumenta
gradativamente, além disto, ele deve conhecer muito bem a localidade.
Segundo BANDEIRA (1999, p.10):
[...] o capital social — que é composto por um conjunto de fatores de
natureza cultural que aumenta a propensão dos atores sociais para a
colaboração e para empreender ações coletivas — constitui-se em importante
fator explicativo das diferenças regionais quanto ao nível de
desenvolvimento [...]
Corroborando com a temática:
A noção de capital social permite ver que os indivíduos não agem
independentemente, que seus objetivos não são estabelecidos de maneira
isolada e seus objetivos nem sempre são estritamente egoístas. Neste sentido,
as estruturas sociais devem ser vistas como recursos, como um ativo de
capital de que os indivíduos podem dispor. ―O capital social, ensina
Coleman (1990:302) não é uma entidade singular, mas uma variedade de
diferentes entidades que possuem duas características em comum: consistem
em algum aspecto de uma estrutura social e facilitam algumas ações dos
indivíduos que estão no interior desta estrutura‖. O capital social, neste
sentido, é produtivo, já que ele torna possível que se alcancem objetivos que
não seriam atingidos na sua ausência. (ABRAMOVAY, p. 4)
O capital social se constitui como alternativa aos modelos de desenvolvimento, tendo
características endógenas que necessitam da participação social. Nos locais onde ele se
apresenta, o grau de desenvolvimento se eleva, as pessoas conseguem se organizar
economicamente, politicamente, socialmente... atingindo assim, uma melhor qualidade de
vida, além do mais as pessoas se interessam pela participação nas tomadas de decisões
públicas e criam possibilidades de corroborar com a temática apostando na confiabilidade
social, assim, fazem nascer cooperativas/associações que possam agir no mais variados
setores sociais, criando modelos de desenvolvimento.
Instrumentos necessários à participação em Políticas Públicas
O conceito de Políticas Públicas necessariamente entrelaça os meios políticos do país,
mas pouco se efetiva na dimensão corriqueira do mesmo. Esta ferramenta possui um alto grau
de eficácia quando desempenhada sistematicamente sua essência.
As Políticas Públicas são resultado de uma ação do Estado (quando nos remetemos a
Estado, devemos entender a própria sociedade segundo pensamento de Hegel), ou melhor,
elas demandam resolver um problema que assola a composição social em sua totalidade. Estas
políticas possuem no mínimo duas primazias, uma curativa do problema em foco e outra
preventiva para evitar dissipar se. As tomadas de decisões para formulação das mesmas
denotam de um caráter racional e participativo, onde se elaboram pesquisas em volta do
problema central a fim de poder ser atacado com eficácia.
Importante esclarecer que as Políticas Públicas necessariamente devem partir de uma
reivindicação social, sendo muitas vezes confundidas com tomadas de decisões
governamentais. Elas se diferem pelo grau de participação popular, medidas governamentais
possuem caráter emergencial, paliativo, coercitivo, e é exatamente nessas circunstâncias que
se cabem as críticas, ao denotarem por rapidez elas acabam apenas maquiando os problemas
sociais dos quais futuramente voltarão a acontecer, devido a isso, apresentamos a ideia de
pouco uso das Políticas Públicas na abertura deste tópico, da qual exerceria melhores
resultados diante da dimensão de problemas sociais.
O governo tem papel decisivo nas Políticas Públicas, ele serve como razão imanente,
mediador e facilitador para solução do problema em discussão, e é exatamente neste instante
que as medidas paliativas devam ser consideradas importantes, mas sempre diante da
participação coletiva, como uma pré-condição de continuação para resolução da problemática,
não ficando restrita ao resultado de cobertura enganosa, superficial. É também função do
governo se reunir com a sociedade da qual indicará seus maiores problemas e juntos
conseguirão achar soluções para superação de tal, não adianta o governo impor uma ação
coercitiva que seu resultado seguramente será falho, ou seja, o governo deve escutar as
reivindicações sociais, identificar o fator gerador do mesmo e deixar que a comunidade possa
escolher uma forma de resolvê-lo apenas auxiliando-os e financiando suas ideias,
possibilitando secundariamente o desenvolvimento regional, possível no movimento em que a
população se reconhece.
Nos últimos anos pudemos acompanhar algumas catástrofes que poderiam ser
previstas, neste caso foi às chuvas no Rio de janeiro (2010 - 2011) e em Blumenau (2009),
isto deixa evidente a falta de Políticas Públicas, medidas de prevenção. Restou ao governo
nestes casos medidas paliativas, das quais são extremamente importantes e condizem com o
clamor da coletividade afetada, as quais possivelmente irão ficar somente nisto. Enquanto o
país viver de ações superficiais e o cidadão não participar efetivamente da política, devemos
nos preparar para enfrentar os mais diversos problemas sociais.
Esta leitura evidência os impactos que uma sociedade desorganizada pode sofrer. Falta
algo nestes lugares, porém somente eles podem resolver esta situação, possível através da
reativação das modalidades de capital apresentadas por Boisier, emergindo assim nuances de
desenvolvimento e estruturação.
CULTURA E DESENVOLVIMENTO
Cultura como prática social diante do desenvolvimento
Ao tratarmos do conceito Cultura, se torna importante o desdobramento do mesmo,
segundo Roberto da Matta (1986):
[...] é a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa.
[...] É um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de
um dado grupo pensam, classifica, estudam e modificam o mundo e a si
mesmas.
Dado isto, podemos perceber o motivo de alguns lugares serem mais desenvolvidos
que outros, a forma como aquele grupo social se compõe se difere dos demais, possivelmente
o grau de participação daquela comunidade seja maior. A ideia de desenvolvimento está
relacionado ao bem viver das pessoas em sociedade, cada vez mais se deseja um padrão de
consumo elevado, educação, economia unificada, acesso a produção tecnológica, científica...
Processos como este são cobrados em locais onde certamente a população seja derivada de
ancestrais Europeus, fruto de uma cultura política diferenciada, onde o processo de
socialização se responsabilizou em transferir estes conhecimentos ao indivíduo.
Em inumeráveis localidades do Brasil o conceito de desenvolvimento nem se quer é
salientado, isto se dá pela formação étnica, em partes indígenas, caboclos, dos quais não se
atém as regras desenvolvimentistas, seus processos de humanização não estavam preocupados
em atender a esta lógica, mas lentamente estes grupos se rendem as estas perspectivas (fator
imposto pela globalização), a pureza de suas raças estão sendo corrompidas pela invasão de
brancos em suas culturas e vagarosamente se entregam aos laços do desenvolvimento. Em
partes podemos exemplificar assim o desenvolvimento (ou falta dele) em nosso país, não o
possuímos imanente a nossa cultura tradicional, ele é um sistema importado, que esta sendo
adaptado a nossa realidade.
A mundialização nos proporcionou novos olhares perante o mercado internacional,
fomos ensinados a materializar nossa produção cultural e vendê-la país a fora. O discurso é
que assim o desenvolvimento chegará mais depressa, mas de que desenvolvimentos estão
falando? Parece-nos que somente o desenvolvimento econômico está sendo evocado no
processo de mundialização?
Com isto, podemos levantar os seguintes questionamentos, até que ponto a venda
cultural irá nos trazer desenvolvimento? Será que o crescimento econômico é suficiente para
melhorar os indicadores socioeconômicos? A prática social através da cultura nos garantirá
um futuro melhor? O Brasil pode alcançar um alto padrão de desenvolvimento? A culturas
locais podem resistir ao desenvolvimento? Como fazê-lo? Ou afinal, o Brasil quer o
desenvolvimento em todo o território?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo passou por inúmeras perspectivas do desenvolvimento, apresentando
nove possibilidades de almejá-los segundo Boisier, nota-se dificuldades de aplicá-lo em nosso
país devido ao processo cultural estar afastado de carregar o mesmo.
Seria imprescindível uma busca frenética por este desenvolvimento que tanto se
almeja no globo? O que ele realmente nos traria? Adesão ao Ranking dos países
desenvolvidos? O que mudaria na vida da população?
Uma das grandes problemáticas do desenvolvimento regional é conseguir colocá-lo
em prática, as teorias dispersas não conseguem se efetivar na dinâmica local, tendo o
brasileiro como possível dever, participar ativamente da politica, pensando a organização
local e efetivando mudanças nas estruturas sociais. O grande aglomerado populacional pode
participar do desenvolvimento, não se deve esperar que ele venha de fora, primeiramente
porque não atenderá as peculiaridades regionais e certamente se tornará indesejado e falho. É
papel dos cidadãos e intelectuais regionais desvendar a organização territorial e moldá-la a
sua necessidade.
O pensamento do filósofo Hegel contribui como possibilidade de interpretação da
realidade, em especial com dois conceitos que permitem almejar a ideia. O primeiro se refere
à Filosofia da História. Leitura amparada por uma cronologia da realidade, ou seja, nosso
cotidiano é formado por pequenos fragmentos que se agruparam durante o passar dos tempos
e findaram na organização social que encontramos hoje, o segundo conceito relatado é a
Dialética, ou melhor, diálogo de opostos, resultante de síntese, da qual convergirá em um
novo diálogo e assim ciclicamente.
Ambos os conceitos permitem interpretar a realidade. A sociedade sofre constantes
mudanças, onde nos adequamos gradativamente a elas, sendo assim, a Filosofia da História
nos proporciona identificar essas alternativas, indo buscar no passado o nascimento do caos
que acomete o presente dia. Este termo auxilia a participação nos processos diante da
necessidade do pensamento de políticas públicas, quando identificado a origem da desordem,
logo se pode enumerar maneiras de solucionar as problemáticas, através da participação
social.
O processo dialético leva ao constante questionamento social, permitindo aprimorar
cada vez mais as relações sociais, sendo assim, o desenvolvimento regional pode ser
almejado, sempre adaptado há demanda. Nasce disto a necessidade do Intelectual local
representado pela figura do político ou popular que reconhece seu povo.
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