01 curso de pedagogia e mercado moderno

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CURSO DE PEDAGOGIA E MERCADO MODERNO
Magna Coeli de Sousa e Silva Galas
Universidade Federal do Piauí – UFPI
Este trabalho tem como objetivo relatar as conclusões a que chegamos
em nossa investigação de mestrado, com o título original: Os impactos das
Novas tecnologias na educação sob a perspectiva dos alunos de Pedagogia –
O caso do Curso de Pedagogia da UFPI em Parnaíba. Analisamos os impacto
das novas tecnologias sobre a Educação, observando para isso as demandas
implicadas nas novas formas de organização do trabalho sobre o perfil do
estudante de Pedagogia. Tomamos como realidade empírica o Curso de
Pedagogia da Universidade Federal do Piauí, em Parnaíba. Identificar o tipo
de homem, a sociedade, o conhecimento implicados nas metamorfoses do
trabalho eram alguns de nossos objetivos específicos. Junto à análise do
processo que desencadeou o interesse pela Informática Instrumental no
referido curso, analisamos a percepção do aluno sobre as vantagens e ou
limitações referentes às possibilidades profissionais da Informática incluída em
sua formação.
1 A história
A formação do educador está condicionada às determinações
econômicas e políticas, refletindo nos seus cursos as influências das formas de
controle da administração do trabalho, variando conforme as necessidades de
superação das crises da sociedade capitalista. Deste modo, na década de
1970, no contexto do taylorismo e do Estado do bem-estar social, o currículo foi
caracterizado
pela
fragmentação
da
teoria
e
prática
pedagógica,
apresentando-se tecnicamente neutro. Apesar dos vínculos formais, deixou em
distintos planos a teoria e a pratica, refletindo também a separação entre a
execução e o mando, característica do mundo do trabalho capitalista; podemos
inferir, ainda, que a própria departamentalização do ensino superior reflete a
estrutura departamentalizada da empresa taylorista.
Aos anos 1980, coube uma acirrada critica ao modelo econômico
taylorista/fordista. No âmago de suas contradições, em termos internacionais, o
Estado do bem-estar social, de um lado, favoreceu um prolongando padrão de
acumulação capitalista e, de outro, nas tensões das lutas sindicais, viabilizou a
conquista dos direitos e garantias ao trabalhadores.
No caso brasileiro, as lutas políticas de rejeição ao sistema foram
fortalecidas pela negação da ditadura, e a conquista de maiores espaços
democráticos fortaleceu a negação ao modelo de administração taylorista. A
influência marxista deu lugar, em um primeiro momento, à critica reprodutiva
que se aprofundou, trazendo à tona a teoria crítica emancipadora.
Nos anos 1990, no contexto da introdução das novas tecnologias sem
que,
como
brasileiros,
tenhamos
conhecido
de
forma
plena
suas
possibilidades, assistimos à desagregação do Estado do bem-estar social, que,
em sua contradição, ampliava o espaço do Estado, da intervenção estatal nas
negociações privadas, garantindo ganhos favoráveis à classe trabalhadora. A
perspetiva do Estado mínimo que se instaura, além da privatização da
sociedade e da Educação, dissolve as garantias e conquistas alcançadas,
fazendo renascer idéias que se consubstanciam nas atuais políticas
neoliberais. Vivemos duas de suas conseqüências mais cruéis: o desemprego
e a violência.
As novas tecnologias aparecem, também, como perspectivas de duplo
sentido: por um lado, as possibilidades da emancipação humana se aproximam
no desenvolvimento das forças produtivas com o aumento da cristalização do
trabalho vivo em trabalho morto, cristalizado nas máquinas e ferramentas
eletrônicas e microeletrônicas; ao favorecer a economia de tempo, implicam a
necessária diminuição da exploração da força do trabalho, acrescentado ao
cenário as condições do trabalho livre.
Por outro lado, a própria novidade introduzida pela microeletrônica,
microbiologia e a robótica, ao implicar novas formas de organização do
trabalho que as absorvam em suas possibilidades produtivas, favorecem o
fortalecimento das relações de capitalistas, criando formas de exploração,
formas de gestão e controle do trabalho que ameaçam todas as conquistas
políticas anteriores.
O desemprego aparece como um fenômeno estrutural. O trabalho
temporário, o emprego a tempo parcial e a prestação de serviços surgem como
novas condições de trabalho e emprego, que reforçam a perda de direitos
conquistados e a própria desestruturação das organizações trabalhistas.
Todo este contexto influi sobre nossos estudos. Analisamos o impacto
das novas tecnologias nos cursos de Pedagogia. Se elas e, mais
especificamente,
o
mundo
da
Informática,
dos
computadores,
das
comunicações, afetam o perfil do profissional da Educação, no âmbito das
possibilidades do mercado, acabam por influir nos cursos e nas expectativas
dos alunos, futuros profissionais da Educação, a maioria já em atividade no
próprio mercado.
Toda uma nova linguagem, própria do mundo do trabalho, se introduz
na educação: globalização, qualidade total, competência técnica, trabalho em
equipe, novas relações entre trabalho manual e trabalho intelectual, novas
relações com o conhecimento, o saber e o saber-fazer, redundam na demanda
de uma educação polivalente. As realidades novas suscitam uma mistificação
da técnica que necessita seu desvendamento. Nesse sentido, tomando cada
um desses aspectos, observamos em nossos estudos que tudo precisa ser
objeto de reflexão:
1.
O fenômeno da globalização iniciado com o próprio capitalismo,
que se constitui na abertura do mercado internacional, apresenta elementos
novos na imediaticidade das comunicações e da forma de fluir o capital.
O capital que entra e sai das sociedades e conforme encontre formas
de se ampliar, se instala; ou, ao contrário, ameaçadas as possibilidades
lucrativas, foge na mesma rapidez com que se instalara. Se a globalização da
cultura também foi parte do fenômeno, refletindo a globalização da economia
instaurada, criando o que Marx chamou de literatura universal para mostrar
suas possibilidades ao nível da cultura, hoje o fenômeno se aprofunda e o
desenraizamento ameaça a identidade cultural, na mesma medida com que
fortalece os laços da comunicação.
2.
A qualidade total reflete as necessidades da competição capitalista
que se acirra e entra na linguagem pedagógica com perigosas conseqüências.
A astúcia capitalista tem conquistado muitos educadores que sempre
lutaram pela qualidade de ensino; mas, desprovidos de uma crítica às novas
tecnologias e suas conseqüências, é comum a aderência às perspectivas da
qualidade comprometida com a produção, sem que o compromisso com a
qualidade, a verdadeira qualidade do ensino, no sentido de mais e melhor
educação científica e técnica, teórica e prática, possa ter lugar no contexto.
Nesse sentido, a qualidade se reflete na competência técnica que pode
não significar competência política de ampliação das possibilidades da classe
trabalhadora. E, por outro lado, se reflete na qualificação dos educadores.
Pode, assim, significar a qualidade adequada ao contexto produtivo, uma
educação apenas na perspectiva do adestramento.
No caminho das possibilidades lucrativas, as técnicas da gestão e
controle do trabalho se organizam. Conforme as necessidades da produção, o
trabalho individual foi o motor do modelo taylorista. Atendendo às mesmas
necessidades, o trabalho em equipe é hoje a base da atividade produtiva do
modelo de inspiração omhnista, toyotista, em acordo com a tendência
neoliberal.
1.
As novas relações entre trabalho manual, trabalho intelectual,
apesar da frente emancipatória aberta, parecem não caminhar nesse sentido,
pois as decisões continuam na cúpula das empresas e vêm embutidas nos
softwares dos computadores.
É preciso observar que, se o trabalho manual, rude e brutal diminuiu,
aumentou a exploração mental e mecânica do trabalho, não implicando uma
compreensão de totalidade que ultrapasse o nível da empresa. Isto é, a
exploração do trabalho mental e mecânico aumentou sem que favorecesse
uma educação teórica mais ampla, capaz de tomar a empresa em suas
relações com a sociedade. A exclusão social continua de forma ampliada pelo
desemprego.
3.
As novas relações com o saber não favorecem a visão de
totalidade. São as novas formas de saber-fazer que se alteram em função das
necessidades capitalistas.
A educação polivalente, própria da sociedade industrial, reaparece
assumida como necessidade das empresas. Assim, retomando historicamente
o processo, no estágio manufatureiro, o trabalho como uma atividade exclusiva
exercida por toda uma vida foi por algum tempo fator de uma educação
unilateral. Com o advento das máquinas, nasce a necessidade de uma
educação polivalente que, por algum tempo, serviu na ampliação do saberfazer do trabalhador.
As novas formas da gestão taylorista/fordista, ao fazer das atividades
parceladas, fragmentadas e controladas pelo cronômetro um dos pilares
fundamentais
da
produtividade,
eliminaram
a
atividade
criativa
dos
trabalhadores, absorvendo seus saberes produzidos no chão da fábrica e
submetendo-os ao controle de gerência.
A educação unilateral retoma impulso durante várias décadas. A
introdução das novas tecnologias demanda um trabalhador de novo tipo e a
Educação polivalente entra em cena como a perspectiva pedagógica
adequada. Ainda que a polivalência implique uma visão mais ampliada do
processo produtivo, segundo nossos estudos, somente uma educação na
perspectiva da politecnia, na que se aprofundem os conhecimentos científicos
e técnicos, seria possível favorecer a visão de totalidade e a perspectiva da
emancipação humana.
Trazendo este resgate para o contexto de nossa investigação,
concluímos, numa análise mais geral, que a introdução das novas tecnologias
e, em especial, a Informática, implica, de fato, um novo perfil do educador. No
entanto, nem a visão mais ampliada, nem as múltiplas atividades da
polivalência, nem a diminuição da estrutura hierárquica ou a suposta
diminuição entre a execução e o mando mudam radicalmente a perspectiva da
Educação.
No contexto em que nos encontramos, as mudanças são limitadas e
nossos estudos mostram uma aprendizagem de novo tipo, encobrindo velhos
procedimentos: uma educação funcional, mecânica e restrita à incorporação
nas atividades voltadas para o mercado de trabalho que solicita profissionais
capazes de operar novos instrumentos, os computadores. Ao nível das atuais
demandas do profissional da educação que sai dos cursos de Pedagogia, a
Informática Educativa ainda não se instalou em todas as suas possibilidades e
de modo a exigir profissionais criadores dos programas. Mais do que
Informática Educativa, a Introdução à Informática, que ajuda a operar os
computadores, parece ser o suficiente para cobrir, de momento, as aspirações
dos estudantes. Mesmo esta perspectiva limitada é insuficientemente coberta
pelos cursos de Pedagogia. A falta de recursos é precariamente suprida pelos
cursos de Administração de Empresa que dispõe de laboratórios apropriados.
Isso também denota a dependência da educação da economia e de suas
formas de gestão.
A formação dos educadores parece ser outro elemento que retarda um
processo mais criativo. Formados sob outras influências, apesar de dotados de
uma compreensão mais profunda do problema, também parecem se encontrar
sem o preparo suficiente para dar um passo além dos temores de serem
absorvidos pelas engrenagens capitalistas.
Quanto aos alunos, apesar de sua formação advertir para a
necessidade de compreender as razões de ser da realidade e empreender
ações radicais transformadoras, suas expectativas parecem limitadas às
demandas do mercado. Suas expectativas não vão além da necessidade de
operar as máquinas. A elaboração de programas pedagógicos ou a criação de
programas educativos através do computador não são mencionados, senão de
forma indireta e subentendida através de alguns traços que pretendem
ultrapassar o utilitarismo imediatista. Apesar da pureza ou grandeza de suas
intenções, o nível da interferência transformadora é praticamente nulo.
2 As perspectivas dos educadores e a reformulação do currículo
4.
A leitura dos documentos permitiu observar as posições
defendidas pela UFPI em torno da política de formação profissional do
pedagogo. As intenções sobre a formação do profissional da Educação se
dirigem a uma adequação ao modelo econômico. Quando as mudanças são
percebidas, mas o contorno do modelo não é claro, os documentos falam da
necessidade de “abertura às mudanças”. Sem clareza de seu sentido, observase uma concepção abstrata e genérica de mudança.
1.
Ao nível da estrutura curricular, as mudanças são justificadas por
pressões externas, onde os professores fundamentam a necessidade de
reformulação do currículo de Pedagogia para atender às “necessidades do
momento”.
1.
As reformulações não implicam necessariamente uma adequação
do currículo às mudanças tecnológicas. Apenas são mencionados aspectos
gerais, abstratos, em aberto, a respeito da definição dos objetivos e do perfil do
educador; e, ainda, a necessidade de alteração nas ementas das disciplinas,
da carga horária, da posição das disciplinas na grade curricular e a definição de
uma nova metodologia e processo de avaliação; fica em aberto a possibilidade
da “inclusão de novas disciplinas no currículo”.
1.
A nova proposta curricular menciona a premência de formar
professores com “mentalidade aberta às necessidades da sociedade em
transformação”; em capacitá-los para perceber as relações entre a educação e
as outras relações sociais na perspectiva das possíveis “soluções dos
problemas”.
1.
A postura ética e o compromisso político são aspectos que
aparecem fundamentados no domínio da competência, do conteúdo técnico,
científico e pedagógico. A sensibilidade diante dos problemas educacionais, a
capacidade de julgar e optar entre alternativas, o senso de responsabilidade e
moralidade, a capacidade de aceitar e respeitar o outro, e atributos que
capacitem trabalhar no interesse coletivo são excelências que conformam o
perfil do educador, que há de ser, ainda, capaz de produzir conhecimentos e
estendê-los à comunidade. O difícil é perceber as possibilidades de concretizar
estes ideais, pois as condições para isso se chocam com os interesses
imediatistas e utilitários da sociedade capitalista.
1.
No perfil do profissional do magistério não são explicitadas as reais
e atuais necessidades da economia; e o perfil do profissional projetado na
estrutura curricular não se aproxima das novas realidades da revolução
tecnológica, deixando de respondê-la e de suas conseqüências sociais onde se
instalam os problemas éticos.
1.
Apesar das intenções éticas, o Curso de Pedagogia expressa
valores da política neoliberal; a falta de uma direção do sentido das mudanças,
dá abertura para a introdução da política neoliberal e deixa sem resposta uma
educação voltada para a emancipação humana.
3 A perspectiva dos estudantes: o que falam seus documentos contidas
nas propostas dos cursos de Informática
1.
Os estudantes parecem mais questionadores e objetivos do que os
professores em suas opiniões sobre a reformulação curricular. A falta de
clareza política não impede uma definição mais objetiva e uma postura mais
ativa na perspectiva da mudança. A própria elaboração de um curso básico de
informática, o Curso de Informática instrumental, revela a concretização de um
projeto para aliar a Educação ao mundo do trabalho no contexto das novas
tecnologias.
1.
As propostas dos alunos convergem para a necessidade da
introdução de novas tecnologias na Educação. Os cursos de Introdução à
Informática, Informática e Educação ou os mais específicos como Informática
Aplicada à Educação e Informática Educativa são propostas dos alunos para
atender suas necessidades profissionais. Não são propostas dos educadores
ou da instituição. Nesse sentido, os alunos se antecipam.
1.
Nas suas justificativas, o mercado de trabalho é o alvo principal.
Suas palavras revelam a adesão acrítica à ideologia neoliberal: a “busca de
qualidade”, a “necessidade de informatização”, o encurtamento das distâncias
através dos “meios modernos e globalizantes”, a “introdução do computador na
educação” e o “estudo da Informática” são necessidades do “mundo
contemporâneo”.
1.
Quanto aos seus objetivos, os alunos necessitam da Informática
para que possam “concorrer no mercado de trabalho atual”. “Integrar o
educador através dos instrumentos modernos”, habilitando-os no “manuseio de
diversos recursos” oferecidos pelo computador, capacitando-os para usá-lo
“como instrumento de apoio às matérias e aos conteúdos selecionados”, para
“desenvolver e aplicar a informatização na dinâmica educacional” são objetivos
específicos que situam a educação no contexto neoliberal.
1.
A intenção crítica é manifestada na análise dos benefícios e
malefícios da Informática na Educação em alusões à análise “crítica da
informática no mundo de hoje” e à necessidade de “fundamentação teórica e
prática dos avanços tecnológicos”, em geral. Nada, porém, é feito nesse
sentido: os cursos oferecidos não ultrapassam o caráter instrumental; e a
perspectiva do mercado de trabalho, da competitividade, são os objetivos mais
prementes.
1.
Alguns traços, porém, podem anunciar a necessidade de
ultrapassar o imediatismo da produção capitalista quando, dando asas à
criatividade, os alunos se referem ao “computador como fonte de pesquisa”,
como “auxílio ao aluno em trabalhos educativos” e ao desenvolvimento de
“jogos instrucionais”; outras possibilidades apontam para a “necessidade de
descobrir no computador a maneira mais inovadora para fazer chegar
[informações] à compreensão do aluno” ou “identificar técnicas para o uso do
computador nos planejamentos e avaliações”.
1.
Sem perder a perspectiva das exigências do mercado e da
abertura de mercado na educação, ao nível das idéias e de sugestões, os
alunos criticam os métodos e conteúdos usuais dos cursos e reivindicam
métodos compatíveis com a revolução tecnológica, “sem aulas expositivas”, por
exemplo; ou que possibilite “a compreensão didática do computador” ou ainda,
a educação escolar na rede pública com computadores.
1.
Apesar da necessidade explícita de refletir sobre os benefícios ou
malefícios da Informática, revelando uma preocupação maniqueísta em meio a
outras que indagam o porquê e o para quê das relações entre Educação e
Informática, as idéias e sugestões pouco ultrapassam “o conhecimento
superficial” e mal chegam à compreensão do funcionamento mecânico da
aparelhagem, à “digitação de textos”, “às funções de recursos, das planilhas e
gráficos” e das “faixas”.
1.
Em que ultrapassem aos conhecimentos mecânicos, “as técnicas
de manejo em computadores”, restam a necessidade de observar “as relações
entre escola e computador”, “algumas noções da informatização no Brasil” e
“no mundo”.
1.
A Educação inserida no mundo da computação oferece novos
contornos à qualificação do educador. Reforçando a observação sobre uma
idéia de qualidade comprometida com os ideais da produção capitalista, “o
acompanhamento da informática traz a qualificação tão desejada ao educador
que visa a melhoria do ensino”.
1.
A possibilidade de ampliação das pesquisas se justifica sem uma
preparação maior do investigador. Apenas com domínio mecânico das técnicas
de computação pelo profissional da Educação, o computador descortina
informações para satisfazer “com entusiasmo sua curiosidade”.
4 As Entrevistas: o que dizem
1.
As entrevistas revelam que a Informática é trabalhada numa
perspectiva instrumental, sem articulação com os problemas pedagógicos mais
específicos. Coerentes com a racionalidade técnica, os conteúdos de caráter
filosófico são substituídos pela lógica calculista de uma Matemática financeira.
Com os conteúdos voltados para a administração das empresas, a escola não
é sequer mencionada nessa informática que se pretende educativa.
1.
As novas tecnologias são focos de curiosidade e o uso dos
computadores a principal preocupação. Apesar do desejo de posicionar-se
criticamente, os alunos revelam um discurso aderido às necessidades
produtivas e do mercado: o trabalho em equipe, a flexibilidade das ações, as
novas habilidades, a competência e a competitividade fazem parte de um
discurso que se mistura a outro de caráter político, que fala em ética e estética.
Tais palavras, no entanto, carecem de elementos que lhes dêem conteúdo, o
que nos leva a concluir que não passam de uma reação sensível ou intuitiva
para não se deixar submergir de todo nas necessidades do sistema.
1.
Os alunos revelam a clara consciência de que um novo perfil de
educador é exigido, mas esta exigência não passa dos limites do mercado:
uma nova postura, um novo comportamento, há de lhes colocar em condições
de competitividade. Assim, tal como na produção se misturam as velhas formas
de organização do trabalho com as novas, na educação para o mundo do
trabalho se passa o mesmo. As velhas exigências de saber ler e escrever se
ampliam na perspectiva de instrumentalizar-se diante da realidade nova: os
computadores exigem o domínio dos saberes da Informática.
1.
No conteúdo das novas tecnologias, os computadores e a
Informática parecem resumir toda a nova realidade perceptível. O domínio de
computador é fundamental para o dia-a-dia e a Informática um recurso cujo
domínio marca a diferença entre um educador tradicional e um educador de
novo tipo.
1.
Inserir-se na globalização é “navegar” na Internet e explorar suas
possibilidades; de parte dos alunos, um instrumento de comunicação, e de
parte dos professores, a condição de desenvolvimento de suas pesquisas.
1.
A perda da visibilidade do papel do educador é também
perceptível. Mais uma vez, renovam-se o dilema e a incompreensão das
relações entre humanismo e tecnologia. Ao que parece, a incorporação do que
ocorre no mundo do trabalho torna o educador impotente para colaborar no
sentido de uma educação emancipadora. Perdido frente à realidade nova das
transformações técnicas, e ignorante do que pode fazer delas e com elas,
resta-lhe esperar passivamente, deixando ao aluno o papel de protagonista de
sua educação, sem capacidade para exercer seu papel formador. Embora
consciente de seu papel desmistificador da ideologia dominante, apresenta-se
sem condições de exercê-lo com rigor diante das técnicas.
5 Considerações Finais
Para finalizar, as falas apresentadas refletem predominantemente as
experiências vividas pelos alunos, trabalhadores da Educação. Em suas
práticas, convivem com o apelo desenfreado do mercado de trabalho da
sociedade capitalista, que exige do trabalhador o manuseio de instrumentos
que, em si, já trazem uma filosofia de trabalho embutida. Ao se posicionar a
favor da aprendizagem das técnicas, ressaltam seu valor e a necessidade de
domínio. Apesar de falarem de seu papel pedagógico desmistificador, assim
como os professores, não demonstram a necessária capacidade de fazê-lo.
Segundo o presidente do Centro Acadêmico, a iniciativa dos alunos
não foi incentivada, nem repercutiu na estrutura do Curso de Pedagogia. O
material sobre os cursos realizados sobre Informática não se encontra nos
registros da Universidade, da UFPI. Permanece apenas no âmbito do Centro
Acadêmico, como resultado das lutas estudantis.
Os alunos participaram de todas as fases do desenvolvimento empírico
de nossa investigação e questionaram constantemente o distanciamento entre
as novas tecnologias e o ensino técnico, chamando a atenção para a
necessidade
de
um
aprendizado
voltado
para
a
prática
educativa
historicamente situada. Refletindo sobre a entrada das novas tecnologias no
Curso de Pedagogia, destacaram a importância de uma fundamentação teórica
para sua conveniente concretização didático-pedagógica. Otimistas, acreditam
ser este processo de objetivação algo lento, mas perceptível, diante das
mudanças que estão ocorrendo no cenário da Educação.
Nossa pesquisa indica que são lentas a integração da Informática à
cultura
escolar e sua
programação. Os
materiais
continuam a
ser
predominantemente elementares e de baixa qualidade. Em geral, os alunos
manifestam pouca crítica e muita concordância com o fato de necessitarem
incorporar a tecnologia ao seu trabalho, no dia-a-dia.
De um modo geral, constatamos nos alunos o desejo de aprofundar
seus conhecimentos por meio da teoria e de atividades práticas, pudemos
observar que os alunos se posicionaram favoráveis à introdução da Informática
porque a maioria das escolas adicionou o computador à Educação. No entanto,
é preciso frisar que existe grande diferença entre o potencial do uso do
computador na escola e a preparação de recursos humanos para o uso efetivo
dessa tecnologia, sob pena da subutilização dos recursos que apontamos. Há,
pois, um longo caminho de preparação do educador a ser trilhado, mesmo na
perspectiva do sistema.
A análise dos materiais de pesquisa nos mostrou que o Curso de
Pedagogia mudou seu discurso e privilegia a autonomia do aluno, a
criatividade, a responsabilidade, a crítica, o trabalho em grupo, a pesquisa e
até uma determinada versão do que é totalidade, contudo isto está na
dependência das determinações oficiais. Ele próprio não tem autonomia e está
a reboque de uma política econômica mais ampla e dependente de outras
influências externas. Diante disso, os alunos continuam aceitando as decisões
da Instituição e estão concluindo o curso de graduação sem acesso a um
estudo aprofundado sobre as novas tecnologias, ficando na dependência da
interferência do Estado ou do mercado para complementar sua formação
profissional.
Apesar do louvável esforço e da capacidade de iniciativa demonstrada
com a realização dos cursos para superar as limitações do currículo,
encontramos ainda certa acomodação e aceitação dos alunos às necessidades
do mundo do trabalho. Não obtivemos falas que questionassem as novas
exigências do mundo do trabalho relativas à sua profissão. O discurso dos
alunos é marcado pela ambigüidade: não querem se deixar levar, se
pretendem críticos e, por outro lado, sua linguagem revela uma aderência às
novas necessidades: são eles mesmos que desejam estar em condições de
competitividade, dentro dos padrões de qualidade impostos pela economia e
cultura globalizada.
Tomando o caminho da prática, como profissional da Instituição e
professora do Curso de Pedagogia, da UFPI, em Parnaíba, no contexto de
nossos compromissos, resta-nos ouvir as reivindicações dos estudantes e unir
nossas forças para, em nosso próprio âmbito, fazer com nossos colegas as
alterações curriculares que este trabalho já aponta como necessárias.
Poderemos fazer chegar às outras instâncias da Instituição a
necessidade de recursos capazes de equipar devidamente o Curso de
Pedagogia para a entrada das novas tecnologias. Na graduação, disciplinas
como, “Trabalho e Educação” e “Informática Educativa” poderão ser ofertadas,
desde que devidamente apoiadas pelo corpo docente. Na pós-graduação, na
especialização, cursos de Informática e Educação poderão ser estruturados.
Cobrindo as disciplinas de fundamentos e envolvendo posteriormente certas
práticas, a Introdução à Informática se seguiria com vistas ao manuseio técnico
do instrumento; a Informática e Educação cuidaria de aprimorar os trabalhos
pedagógicos da Informática; e à Informática Educativa caberia relacionar a
Educação com a Informática através de programas específicos. Destes, três
núcleos se constituiriam outras disciplinas que se fizessem necessárias.
Para encerrar, de todas as formas, fica registrada uma inovadora
experiência, em processo que esperamos germinar e não ficar à margem da
história da Educação do Piauí. A dificuldade de nosso otimismo está na própria
dificuldade de valorização da Educação. Não sendo uma atividade prioritária do
Estado, o que assistimos é à repetição de políticas que consolidam o sistema
econômico capitalista, favorecendo o enriquecimento de uma pequena parcela
da população, deixando abaixo da chamada linha de pobreza uma maioria
incapaz de suprir suas necessidades básicas e alimentar-se, vestir-se, habitar
e educar-se para exercer a cidadania.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Documentos Oficiais
1.
Resolução no. 093/94: Proposta de Reformulação do Curso de Pedagogia de
Parnaíba-PI em l994.
2.
Resolução do CFE no 02/69
3.
Portaria do MEC no 399/89,
4.
Portaria MEC no 12/94.
5.
GUIA ACADÊMICO DO ESTUDANTE. UFPI. 1997.
6.
PROGRAMA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO. MEC - SEED-CONSED, 20O9-1996
7.
INFORMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA: um currículo para escolas.
WEET, Tom. (org).MEC – SEED - UnB: UNESCO, 1997.
Referências Básicas
CORIAT, Benjamin. Pensar pelo avesso: o modelo japonês de trabalho e
organização. [Penser à l’ènvers] Trad. Emerson S. da Silva. Rio de Janeiro,
Revan/UFRJ, 1994. 212p.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. [Das Kapital – Kritik der
polistischen Ökonomie] Trad. Regis Barbosa & Flávio R. Kothe. 3.ed. São
Paulo: Nova Cultural, 1988. 586p. (Os economistas 1-2).
TAYLOR, F. Princípios de administração científica. [The Principle of scientific
management] Trad. Arlindo Vieira Ramos. 8ª ed. São Paulo, Atlas, 1995. 109p.
VEIGA, I. et alii. Licenciatura em Pedagogia; realidades, incertezas, utopias.
Campinas, Papirus, 1997.
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