ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA E SUA INFLUENCIA SOBRE O

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ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA E SUA INFLUENCIA SOBRE O EXERCÍCIO
DA ENFERMAGEM
PARTICIPATIVE ADMINISTRATION AND ITS INFLUENCE OVER THE
NURSING EXERCISE
Resumo
Trata-se de uma revisão bibliográfica que aborda as influencias da administração participativa
sobre o exercício da enfermagem. Na história da enfermagem prevalece uma raiz de
autoritarismo, centralização das decisões e impessoalidade nas relações, ainda visíveis
atualmente. No entanto, gradativamente ocorre a introdução de novas abordagens gerenciais,
tornando a administração mais participativa, fundamentada na liderança, disciplina e
autonomia. Nesse sentido, objetivamos identificar as influências da administração
participativa, um novo paradigma das teorias administrativas, sobre o exercício da
enfermagem. Trata-se de um estudo qualitativo e exploratório que teve como recorte histórico
o período de 1995 a 2009, tendo sido identificados quatro artigos e seis livros. Verificamos
que a gerência participativa no âmbito hospitalar é uma abordagem gerencial que traz em seu
bojo conceitos de flexibilidade, redução da hierarquia, descentralização das decisões, trabalho
em equipe e aproximação de todos os elementos do grupo, oferecendo a eles, oportunidade de
participarem efetivamente da discussão e aperfeiçoamento constante do processo de trabalho,
incentivando a inovação e criatividade dos colaboradores. Dessa forma, obtém-se satisfação
dos usuários e trabalhadores, bem como produtividade e responsabilidade compartilhada,
além de uma assistência qualificada aos clientes. Ressaltamos que o gestor é o impulsor
fundamental do processo administrativo, desse modo, cabe ao enfermeiro, que é responsável
pela gerência do cuidado, integrar-se de novos conhecimentos e habilidades, sintonizados a
uma prática administrativa mais aberta, flexível e participativa.
Palavras-chave: Enfermagem. Administração. Participação.
Abstract
It is a bibliographic revision which approaches the influences of participative administration
over the nursing exercise. In the nursing history prevails a root of authoritarianism,
decision’s centralization and impersonality in the relationships, still currently visible.
However, gradually occurs the introduction of new managerial approaches, making
administration more participatory, reasoned on leadership, discipline and autonomy.
Accordingly, we aim to identify the influences of participative administration, a new
paradigm of administrative theories about the nursing exercise. It is a qualitative and
exploratory study that had as a historical crop the period from 1995 to 2009, and four articles
and six books have also been identified. We verified that participative management in
hospital scope is a managerial approach that brings in its wake concepts of flexibility,
hierarchy reduction, decentralization of decisions, teamwork and approach of all group
elements, offering them the opportunity to participate effectively in the discussion and
constant improvement of the work process, incentivizing the innovation and creativity of the
employees. In this way, it was obtained satisfaction from the users and employees, such as
productivity and shared responsibility, and plus a qualified assistance for the clients. We
emphasize that the manager is the fundamental pusher of the administrative process, in this
way, it concerns to the nurse, who is the responsible for the care management, to be
integrated in new knowledge and abilities, tuned to a more opened, flexible and participative
administrative practice.
Key words: Administration. Nursing. Participation.
1
INTRODUÇÃO
A administração em seu princípio básico, é um processo pelo qual o administrador
cria, dirige, mantém, opera e controla uma organização. Segundo Maximiano1:60, “a
administração é o processo que tem como finalidade garantir a eficiência e a eficácia de um
sistema”. Procurando fundamentar a prática da administração, os estudiosos recorrem às
teorias administrativas, que surgiram no início do século XX. No decorrer dos anos, várias
teorias foram emergindo a partir de adversidades identificadas em organizações, buscando
sanar tais problemáticas.
Na área da saúde, as teorias administrativas contribuem para instrumentalizar os
profissionais e gestores na resolução de problemas do cotidiano assistencial. Em particular, a
teoria da administração participativa, oferece subsídios para que as informações, decisões e
resultados sejam compartilhados entre os membros da equipe de uma organização de saúde.
De acordo com Maximiano2:371, “administrar de forma participativa, consiste em compartilhar
as decisões que afetam a empresa, não apenas com funcionários, mas também com clientes ou
usuários, fornecedores e, eventualmente, distribuidores ou concessionários da organização”.
A participação é uma idéia antiga, nasceu na Grécia, há mais de 2.000 anos, com a
invenção da democracia. No entanto, atualmente, é considerada um dos novos paradigmas da
administração. A administração participativa rompe com as premissas autoritárias dos
modelos e concepções tradicionais da administração e é fundamentada na liderança, disciplina
e autonomia2. Porém, isso não significa destruir ou anular os centros de poder dessas
organizações. Segundo Chiavenato3:63,
[...] a administração participativa é compatível com a hierarquia. Não significa
subverter a autoridade, desautorizar, bagunçar. As pessoas são envolvidas,
estimuladas e desejosas de contribuir, em um clima de confiança mútua entre as
partes, especialmente entre gerentes e subordinados.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que existem alguns aspectos fundamentais em uma
administração participativa, dentre eles, o processo de liderança que envolve confiança entre
superiores e subordinados; a motivação que tem por base a participação das pessoas; a
informação correndo livremente em todos os sentidos; e o processo de interação livre, de
modo que as pessoas influenciam nos objetivos, definem metas e são responsáveis pelo seu
autocontrole. Conforme Maximiano2:375, “uma organização com tais características possui
2
melhor desempenho, medido pela satisfação de seus funcionários e pelos resultados
econômico-financeiros”.
Com isso, pode-se afirmar que a gestão participativa corresponde a um conjunto de
princípios e processos que defendem e permitem o envolvimento regular e significativo dos
trabalhadores na definição de metas e objetivos, na resolução de problemas, no processo de
tomada de decisão, no acesso à informação e no controle da execução.
De acordo com Kurcgant4:3, “as teorias administrativas coexistem, em diferentes graus
na administração em enfermagem”. Assim como as teorias tradicionais, as novas teorias
administrativas influenciam a gestão dos serviços de enfermagem. Dessa forma, este estudo
tem o objetivo identificar as influências da administração participativa, um novo paradigma
das teorias administrativas, sobre o exercício da enfermagem.
Deste modo, este estudo justifica através da seguinte premissa: depois de perceber a
forma como a administração participativa influencia positivamente o exercício da
enfermagem, os enfermeiros podem refletir sobre sua prática diária, podendo transformá-la,
tornando-a mais participativa, o que possibilitaria uma melhor assistência ao paciente e maior
satisfação de seus funcionários.
METODOLOGIA
Esta revisão bibliográfica sobre as influencias da administração participativa no
exercício da enfermagem, trata-se de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa.
Segundo Fachin5:125, “a pesquisa bibliográfica diz respeito ao conjunto de conhecimentos
humanos reunidos nas obras”. Com este propósito foi efetuada uma revisão das publicações
na área de administração e da saúde, em que o recorte histórico foi do período de 1995 a
2009. Foram utilizados quatro artigos e seis livros, os quais contemplaram toda a bibliografia
empregada neste estudo.
A ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA COMO AGENTE DE MUDANÇAS NAS
INSTITUIÇÕES HOSPITALARES
Contemporaneamente, a busca do cliente por produtos e serviços de qualidade, o
crescente avanço tecnológico em diversas áreas, alterações nos processos de trabalho, entre
3
outros, são fatores que estão exigindo das empresas uma adaptação rápida e constante às
mudanças6. Nesse contexto, observa-se que deve haver uma transformação na conduta do
gerente. De acordo com Galvão7:303,
“[...] as estruturas organizacionais tradicionais, caracterizadas por formas
autoritárias nas quais os trabalhadores eram dirigidos ou instruídos sobre o que,
como e quando fazer, estão dando passagem a formas democráticas de organizações,
caracterizadas por um estilo participativo e cooperativo. Os trabalhadores estão
exigindo voz nas decisões e nos processos decisórios que os afetam”.
Frente a essas mudanças, alguns hospitais estão buscando novos modelos assistenciais
e novas formas de gestão, a fim de alcançarem resultados capazes de melhorar o bem-estar
dos profissionais, humanizar a assistência, otimizar recursos e garantir a qualidade dos
serviços prestados. Coloca-se em evidência que esses resultados podem ser efetivados, se a
empresa aderir aos princípios da administração participativa.
Uma organização estruturada de acordo com os princípios da administração
participativa é dividida em equipes, diminuindo seus níveis hierárquicos, a fim de obterem
responsabilidade compartilhada. As equipes devem ter o máximo de autonomia para
desenvolver novos projetos e métodos de trabalho, formular políticas de pessoal, bem como
sugerir novas diretrizes para a organização6. A organização do trabalho baseada na formação
de equipes, segundo Fernandes6:164, “certamente tem sido a forma mais democrática,
produtiva e humanizada de se efetuar o trabalho em saúde”. Pensar sob essa perspectiva faz
com que cada vez mais enfermeiros adotem condutas norteadas pelo estilo de gerência
participativa.
A gerência participativa no âmbito hospitalar é uma abordagem gerencial que
preconiza, dentre outras, a descentralização das decisões e aproximação de todos os elementos
da equipe de trabalho, oferecendo aos mesmos, oportunidade de participarem efetivamente da
discussão e aperfeiçoamento constante do processo de trabalho do hospital, incentivando a
inovação e criatividade dos colaboradores, aproveitando o recurso humano disponível para
prestar uma assistência de melhor qualidade ao usuário. Portanto, a gerência participativa e o
exercício da democracia são pontos fundamentais para o desenvolvimento do trabalho dentro
de uma instituição hospitalar, pois acredita-se que,
a partir dessa micropolítica, os
trabalhadores procuram melhorar a qualidade do produto final, bem como suas condições de
trabalho.
4
INFLUÊNCIAS SOBRE O EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM
Acredita-se que a enfermagem deverá acompanhar as transformações da sociedade
contemporânea. Assim, cabe ao enfermeiro, que é responsável pela gerência do cuidado,
buscar cada vez mais inovações na esfera gerencial que permitam amenizar as consequências
do modelo de gerência clássica, adotado até hoje na maioria das instituições de saúde.
O desenvolvimento dos trabalhadores é uma constante na atual abordagem da gerência
participativa, a qual preconiza a figura do gerente, enquanto líder da equipe6. Os enfermeiros
responsáveis por liderarem a equipe de enfermagem necessitam desenvolver habilidades
relativas à comunicação e ao relacionamento interpessoal, pois, para Fernandes6:164,
“[...] os líderes do futuro assumirão diferentes posturas no desenvolvimento de suas
funções, destacando dentre outras o papel de professor e guia potencializador,
auxiliando as pessoas a desenvolverem-se, propiciando o trabalho em grupo”.
O gestor é o impulsor fundamental do processo participativo, portanto espera-se que
ele tenha atitude interativa perante as questões estratégicas da organização, saiba tomar
decisões estabelecendo prioridades, esteja voltado para o processo de inovação, além de saber
delegar. A delegação é uma ferramenta gerencial fundamental para o desenvolvimento de uma
equipe de trabalho. Em primeiro lugar, porque desenvolve a co-responsabilidade, princípio
para o desenvolvimento da autonomia da equipe. E em segundo, porque, quando feita
adequadamente, estimula a iniciativa e a criatividade8.
A administração participativa propicia além de humanização nas relações, agilidade
nas decisões, interação pessoal, desenvolvimento da criatividade, valorização individual do
funcionário e do trabalho realizado6. Portanto, esta forma de gestão possibilita maior
proximidade entre os profissionais e destes com o paciente e sua família, além do aumento da
qualidade dos serviços.
Para esse remodelamento da profissão de enfermagem, torna-se necessária a
integração de novos conhecimentos e habilidades, sintonizados a uma prática administrativa
mais aberta, flexível e participativa, fundamentada não só na razão, mas também na
sensibilidade e na intuição7.
Assim, entende-se que o enfermeiro necessita estar constantemente atualizado,
influenciando seu grupo de maneira positiva, criando um ambiente que vise o crescimento
individual, para que acompanhem a crescente incorporação de novas tecnologias, a mudança
5
nos processos de trabalho e no perfil dos clientes, que estão ficando cada vez mais exigentes,
buscando serviços de qualidade.
Apesar dos serviços de enfermagem aos poucos aderirem às novas configurações da
administração, o ensino da administração nos cursos de enfermagem continua,
predominantemente, voltado para as velhas teorias administrativas, não preparando o
enfermeiro para uma intervenção adequada na realidade e para uma gerência inovadora e
centrada na aquisição de competências9. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que as novas
teorias administrativas deveriam ser prioridade na atual formação de enfermagem, pois
possibilitaria uma geração de enfermeiros provedores de uma gerência mais participativa,
preparados para as adversidades encontradas atualmente nos serviços de enfermagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na história da enfermagem prevalece uma raiz de autoritarismo, centralização das
decisões e impessoalidade nas relações, ainda presentes nos dias atuais. No entanto,
observamos que a introdução de novas abordagens gerenciais, devido às intensas
transformações que estão ocorrendo na sociedade, está impulsionando os gerentes a buscarem
novas alternativas para organizar o trabalho. A nova abordagem participativa traz no seu bojo
conceitos de flexibilidade, redução da hierarquia, trabalho em equipe e descentralização das
decisões, visando à satisfação dos clientes e trabalhadores, bem como a produtividade e a
responsabilidade compartilhada, que devem ser vislumbradas pelos gerentes6.
Sem dúvida, a palavra participação é primordial para esse novo estilo de gerência, mas
não se pode esquecer que tal conceito deve abranger tanto os membros da equipe de saúde,
quanto os pacientes que são os maiores interessados em receber assistência de qualidade6.
Nesse sentido, o cliente ocupar lugar de destaque é uma tendência da gestão contemporânea
dos serviços de saúde, o que significa que a equipe necessita se preparar para lidar de maneira
natural com esse usuário, que cada vez mais estará envolvido com o seu processo terapêutico
e com o trabalho desenvolvido nas organizações, propiciando grande avanço no que se refere
ao atendimento das reais necessidades da clientela atendida6.
Portanto, é evidente a necessidade de mudança na gestão e organização dos serviços
de enfermagem para a implementação dos chamados “cuidados integrais”, a partir de uma
gestão mais participativa, que suceda o trabalho em equipe, com maior envolvimento de seus
6
integrantes, bem como do usuário e família no planejamento e avaliação da assistência.
Contudo, não se pode esquecer, da educação no trabalho como forma de garantir o
desenvolvimento contínuo dos trabalhadores e também como fator de motivação para o
trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
Maximiano ACA. Introdução à administração. 4.ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1995.
p.59-81.
2.
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6.ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.370-388.
3.
Chiavenato I. Gerenciando pessoas: o passo decisivo para a administração participativa.
3. ed., rev. e ampl. São Paulo: Makron Books, 1997.
4.
Kurcgant P. Administração em enfermagem. São Paulo: EPU, 2008. p.3-13.
5.
Fachin O. Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 2005. p.121-137.
6.
Fernandes MS, Spagnol CA, Trevizan MA, Hayashida M. A Conduta Gerencial da
Enfermeira: um estudo fundamentado nas teorias gerais da administração. Rev Latino-am
Enfermagem 2003 mar-abr; 11(2):161-7.
7.
Galvão CM, Trevizan MA, Sawada NO. A liderança do enfermeiro no século XXI:
algumas considerações. Rev.Esc.Enf.USP 1998 dez; 32(4):302-6.
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Santos AC, Lopes LF, Graças RM, Alberto SG, Nunes TC, Rutkowski J. Gestão
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9.
Matos E, Pires D. Teorias Administrativas e Organização do Trabalho: de taylor aos dias
atuais, influências no setor saúde e na enfermagem. Rev. Texto Contexto Enferm. 2006
jul-set; 15(3):508-14.
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