Ginástica cerebral Sabe aquela história de que “quanto mais velho, mais sábio”? Bem, ela pode ter um fundo de verdade, desde que o indivíduo não se acomode com o passar dos anos e não deixe de buscar novos conhecimentos e novas formas de intensificar a atividade cerebral. Assim como o corpo, o nosso cérebro também precisa de exercícios para que não se acomode e passe a avançar ainda mais na degeneração que a própria natureza nos impõe. O que adianta ter um corpo ‘sarado’ e barriguinha de tanque se a memória não funciona direito e sua mente já não é mais aquele computador de antes, atenta a detalhes, estratégica e focada em objetivos cotidianos? Quanto mais cedo buscarmos atividades estimulantes à mente, melhor. Cientistas norte-americanos publicaram uma pesquisa na Neurobiology of Aging sugerindo que a capacidade mental do seu humano começa a se deteriorar aos 27 anos, iniciando aí o processo de envelhecimento. O auge da agilidade da mente ocorre aos 22 anos e o declínio, a partir dos 30, segundo estudos realizados na Universidade da Virgínia (EUA). Podemos comparar o cérebro a um músculo que se não for exercitado atrofia-se, perdendo sua força. Como exercitá-lo então? Segundo o fisiologista Márcio Mousinho, existe uma série de exercícios e atividades que podem ser desenvolvidas para estimular o cérebro, muito além de jogos tradicionais e simples como palavras cruzadas, sodoku, jogo da memória, xadrez e outros jogos de tabuleiro — os chamados exercícios cognitivos. Ele classifica isso como um mito e esclarece que qualquer atividade diária pode servir para exercitar a mente; seja um serviço de jardinagem, arrumar a casa, assistir a filmes e novelas, caminhar, correr, praticar ginástica. Em tudo isso, o cérebro tira proveito. “Executando essas tarefas, o nosso cérebro recebe estímulos do tato, da audição, visão”, diz Mousinho. As atividades físicas, esportes em geral, exercitam o corpo e beneficiam o cérebro, fornecendo a ele oxigênio e os nutrientes necessários e fundamentais para um bom funcionamento. Nutrientes como glicoses, sais minerais, vitaminas e proteínas são levadas pela corrente circulatória, irrigando o cérebro e favorecendo a recuperação de neurônios perdidos e constituindo outros novos. Esse é um pensamento relativamento novo, já que antes os cientistas acreditavam que, uma vez mortos, os neurônios não se reconstituam novamente ou que novas células nervosas poderiam ser criadas. Foi na década de 1980 que a ciência desfez esse paradigma. O fisiologista propõe como estímulo cerebral não parar de estudar, “buscando uma nova área de conhecimento, seja outra graduação acadêmica, uma pós-graduação, um mestrado, um curso de informática ou de línguas.” Para ter uma boa saúde cerebral, Mário Mousinho indica, em resumo: (1º) Ter uma boa alimentação, uma dieta equilibrada: “Pois não adianta se exercitar sem ter os nutrientes fundamentais.” (2º) Dormir bem: “É fundamental ter uma boa noite de sono para repor as energias.” (3º) Buscar uma nova área de conhecimento: “Estar sempre aprendendo algo novo na vida.” (4º) Praticar exercícios físicos: “Pois aumenta a oxigenação e leva nutrientes para o cérebro.” Existem alguns alimentos que também estimulam o cérebro, principalmente a glicose, proveniente de comidas ricas em carboidratos. Estudos realizados pela Universidade RoeHampton, em Londres, indicam para os que vão precisar usar a memória de curto prazo um café da manhã com carboidratos de baixo índice glicêmico (mingau de aveia, granola ou cereais). Se for ter um dia estressante, o ideal é evitar pão branco, bebidas açucaradas e flocos de milho, pois aumentam o cortisol (hormônio do estresse) e prejudicam a memória. Café, chocolate e chá, em moderação, estimulam o sistema nervoso central e melhoram a concentração. Já cereiais enriquecidos com nozes ajudam a ter uma boa memória em longo prazo. “Leitura é de extrema importância” O indivíduo ter consciência de que é preciso estimular o cérebro para ativar as suas potencialidades já um fato bastante positivo, na opinião da psicóloga Jemima Morais Veras. Sair da rotina de ações repetitivas e buscar sempre novos conhecimentos é uma das sugestões para ativar a mente. Confira trechos da entrevista concedida por ela ao TN Família. Como podemos estimular o cérebro? É importante pensar, a leitura é de extrema importância, a própria escola, os exercícios de matética, as atividades de lógica, o próprio interpretar de textos seja de qual disciplina for. Hoje em dia, a neurociência tem alguns exercícios que fazem justamente isso, quebrar as rotinas e dar ao cérebro essas possibilidades de vivenciar coisas novas. É bom sempre mudar o caminho de casa para o trabalho, de casa para a escola, e tomar consciência das coisas no caminho, observar. E jogos como palavras cruzadas, xadrez, soduku podem ajudar na atividade cerebral? Tudo isso é de extrema importância. A palavra cruzada é boa, mas se ela não cair na rotina, porque aí não tem o exercício do pensamento, você não precisa de um raciocínio lógico para resolver, não está desenvolvendo sua capacidade estratégica. Você, na verdade, está usando a memória. Se você tem o conhecimento, seu cérebro vai fazer algumas associações para que você chegue naquele resultado. Só que as palavras cruzadas se repetem muito. Aí, se o jogo vira rotina, passa a ser como qualquer outra coisa. Mas o xadrez é fantástico. Cada partida nunca vai ter essa coisa da repetição; é sempre um novo circuito. Além da estratégia, tem também o fato de estar sempre atento ao outro e a você. Há sempre a preocupação com que o outro está pensando e o que você vai fazer em cima desse pensamento do outro; a hora exata de atacar, a hora de se defender, de recuar. E isso também é importante para a vida. O jogo de xadrez tem uma coisa que eu acho muito interessante: todas as peças têm caminhos diferentes, movimentos próprios e, unidas, elas têm um único objetivo. Falam muito dos aspectos negativos dos games, pela violência, mas alega-se que eles também têm seu lado positivo. É verdade? Hoje em dia tem muitos jogos eletrônicos muito legais. Até os games de violência, para o cérebro, têm o seu lado positivo: a rapidez do raciocínio, do alvo, da estratégia. Tem uns que podem ajudar até no controle da ansiedade. Alguns jogos de tabuleiro vêm com uma ampulheta para você agir mais rápido. E a vida também pede isso de você, que seja mais rápido, que pense mais. Acho que tem muita coisa para se descobrir. Acho que vai chegar um momento em que as pessoas, assim como vão para uma academia malhar, também irão a algum lugar fazer exercícios para o cérebro. Existem pessoas que não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo. Tem exercícios para dividir as atividades no cérebro? Tem sim. Alguns estudos falam que o homem tem essa dificuldade mais do que a mulher, que ele não consegue fazer muitas coisas ao mesmo tempo, e a mulher consegue. Ela faz o café da manhã preparando um suco, a torrada e fritando um ovo ao mesmo tempo. O homem, jamais. Ele faz o suco, coloca na geladeira, aí vai e faz a torrada e depois frita o ovo. A mulher faz tanta coisa ao mesmo tempo, mas, por outro lado, não consegue achar um lugar a partir de um mapa. Se ela vai numa rua tal, no conjunto Gramoré, por exemplo, pela manhã, é bem provável que à tarde ela não consiga chegar. Já o homem tem mais isso. Aí, a Antropologia explica que o homem saía para a caça e escolhia novos caminhos, por onde era melhor caçar para pegar o animal de surpresa, então ele desenvolveu isso. Enquanto a mulher ficava em casa, colhendo frutos, observando os filhos, por isso ela tem essa coisa menor. Mas embora o homem tenha essa habilidade, ele não acha uma maionese na geladeira. O Cérebro Córtex cerebral Envolvido no processamento recuperação de memórias. sensorial, raciocínio abstrato, arquivamento e Hipocampo Essencial na formação e recuperação de memórias e na criação de mapas mentais Cerebelo Cuida da coordenação física Amígdala Centro de emoções Bulbos olfativos As informações dos bulbos olfativos fazem conexão direta com o córtex, a amígdala (centro emocional) e o hipocampo (memória). Isso pode explicar as lembranças e emoções fortes que podem ser evocadas por cheiros Tálamo As mensagens sensoriais para o cérebro são divididas no tálamo e encaminhadas para os centros de recepção apropriados no córtex Corpo caloso Ponte de tecido nervoso ligando os hemisférios esquerdos e direito Alguns exercícios para o cérebro - Tome banho de chuveiro com os olhos fechados: Debaixo do chuveiro, tente encontrar todos os objetos apenas com o tato. Passe xampu, sabonete, hidratante, faça a barba (com barbeador elétrico é melhor), tudo com os olhos fechados. - Vista-se com olhos fechados: À noite, separe a roupa que usará no dia seguinte (ou peça alguém para fazer). De olhos fechados, usando apenas o tato, coloque a calça ou o vestido, meias, camisa, sapatos. - Escove dos dentes com a outra mão: Tente escovar os dentes com a mão esquerda, ou com o direito caso seja canhoto. Comece já por abrir o tubo e colocar o creme dental na escova. Troque de mão quando for pentear os cabelos, fazer a barba, maquiar-se, abotoar as roupas, comer ou usar o controle remoto da tevê. - Use os pés: Explore outros circuitos sensoriais e motores pouco usados pelo córtex usando os pés para, por exemplo, colocar meias e roupas usadas no cesto de roupa suja, ou ainda para pegar o sapato que irá usar. - Introduza novidades na rotina: Tente mudar a ordem das coisas no seu dia- a-dia: vista-se depois do café da manhã; dispense o pão com manteiga, mude para mingau de aveia; troque as estações de rádios e programas de tevê que costuma acompanhar; passeie com o seu cachorro por um novo caminho ou siga outros trajetos para caminhar. - Abra as janelas do carro: Enquanto dirige, desligue o ar-condicionado e deixe os aromas da rua entrar: cheiro de chuva no asfalto, de pipoca sendo feita, maresia; sons de passarinho cantando, sirenes distantes. - No ônibus, trem ou metrô: Feche os olhos e use outras informações como velocidade, curvas, paradas, pessoas embarcando e desembarcando, para visualizar mentalmente onde você está como é a paisagem lá fora, e o quanto falta para chegar ao seu ponto. - Cultive um jardim, uma horta e o cérebro: A jardinagem é um ótimo exercício para o cérebro pelo uso de vários sentidos no processo: apalpando a terra, cheirando as flores, frutas e hortaliças, provando as ervas. Explore sua capacidade espacial e de planejamento, escolhendo as plantas e onde colocá-las. - Seja criativo e ativo: Faça curos de pintura, fotografia, música, teatro, informática, línguas, gastronomia, pratique esportes como natação, basquete, ciclismo e outros.