REPERTÓRIO BRASILEIRO NA EDUCAÇÃO MUSICAL Karen B. Ávila Silva & Marli Batista Ávila Objetivo Sugerir uma metodologia amplamente empregada em ensino musical a partir da visão construtivista. Do simples ao complexo Nesta semana, vamos tratar de metodologia e o repertório brasileiro. Como já começamos a praticar, nas aulas anteriores, consideremos o uso da música brasileira como um material apropriado para basear o aprendizado da música, em sua acepção mais completa: audição; memorização; releitura - através da vivência; análise de pequenas partes e construção de conceitos a elas relacionados, e, sintetizando, aplicação das aquisições ao processo de leitura e escrita – como ferramenta para a criação, codificação e decodificação de um novo material. Exemplificando: Ouvir a canção “Ai, ona” (DOWNLOAD) Memorizar a canção Vivenciar a brincadeira relacionada com a canção, cantando-a Selecionar o trecho inicial “ai ona, ona ê”, ressaltando-se os dois sons diferentes e os dois batimentos rítmicos contrastantes ali encontrados. Associar os dois sons da melodia às notas sol e mi, e os batimentos simples e duplo às figuras semínima e duas colcheias. Ler, modificar, registrar graficamente, e, após o domínio do conteúdo adquirido, criar uma nova melodia, registrando-a e lendo-a. Anteriormente, abordamos a necessidade de um treinamento prévio da escuta do aluno, pois, sem a percepção das diferenças de altura e duração, sem o senso da pulsação, fica inviável a aquisição do conteúdo acima sugerido. Glossário 1 terça menor intervalo melódico de um tom e meio. Situase entre o segundo e quarto, terceiro e quinto e sexto e oitavo sons de uma escala maior. Anhembi Morumbi Esse procedimento, com eventuais alterações - vinculadas a novos conteúdos, via de regra atinge perfeitamente os objetivos implícitos na educação musical. Para que a aprendizagem siga um curso natural, sem que o aluno encontre dificuldades que estabeleçam barreiras ao longo do percurso, é preciso estabelecer uma seqüência de conteúdos que vá do simples ao complexo, do conhecido ao desconhecido, do “fácil” ao “difícil”. Da mesma forma que sugerimos a aquisição inicial de apenas duas figuras rítmicas, recomendamos também apenas dois sons – preferivelmente o intervalo de terça menor 1– representado pelas notas sol e mi. Página 2 Glossário 2 Conteúdos abstratos os que não são percebidos diretamente pelos sentidos. As crianças só adquirem a capacidade de abstração após a idade de dez anos, em média. 3 Howard Gardner psicólogo na Universidade de Harvard, juntamente com uma grande equipe de pesquisadores desenvolvem diversos projetos, buscando a caracterização e o desenvolvimento do que é chamado de Inteligência Múltipla. A consideração da competência musical como uma das dimensões básicas da inteligência é, para Gardner, resultante de numerosas observações empíricas e é apresentada como um dado de realidade. Ele analisou o papel desempenhado pela música em sociedades paleolíticas, em diferentes culturas, em diferentes épocas, bem como no desenvolvimento infantil e convenceu-se de que a habilidade musical representa uma competência em estado "puro", no sentido de que não estaria necessariamente associada a nenhuma das outras dimensões citadas. 4 dó móvel originado do sistema hexacordal de Guido D’Arezzo, resulta da possibilidade de se nomear “dó” a tônica de qualquer tonalidade maior, entoando as notas segundo a clave, mas relacionando os intervalos segundo a função de cada grau da escala – tomando como parâmetro a escala de Dó maior. REPERTÓRIO BRASILEIRO NA EDUCAÇÃO MUSICAL RECURSOS PEDAGÓGICOS Podemos inserir em nossas atividades muitos recursos que se tornam elementos motivadores para o aluno, e, ao mesmo tempo, por se tratarem de meios concretos para a percepção sensorial, facilitam a compreensão de conteúdos abstratos 2. Howard Gardner 3 inclui a inteligência musical entre os demais tipos de inteligências múltiplas que estabeleceu (lingüística, musical, lógicomatemática, visual-espacial, cinestésica-corporal, intrapessoal e interpessoal – em sua classificação original), sendo que, através de atividades musicais, se pode estimular todas as inteligências, segundo GOODKIN, 2002. Os estímulos musicais influenciam de forma natural no desenvolvimento da inteligência, o que não quer dizer que, em nossos procedimentos de ensino musical, praticamos música como um meio de atingir tal objetivo, mas que praticamos música para usufruí-la, para nos beneficiarmos de suas propriedades estéticas e delas nos apropriarmos para enriquecimento de nossas vidas – nos aspectos: físico, intelectual e emocional. Recurso n. 1 - Palavras rítmicas Existem muitas opções para o uso de palavras rítmicas. Estudaremos esse assunto mais detidamente na disciplina Pedagogia Musical. A finalidade principal é a de facilitar a leitura do ritmo, cujas frases são, como tais, lidas numa seqüência de palavras. Selecionamos, no momento, as palavras rítmicas Tá – para a semínima, e Ti para a colcheia, apresentando, de início, sempre a palavra TiTi, equivalente, ritmicamente ao Tá. Tiritiri refere-se a quatro semicolcheias, e suas células variantes sofrem também variação na ordem das sílabas. No entanto, o uso dessas palavras é livre, podendo ser modificadas à vontade, desde que mantenham um sentido lógico, para surtirem o efeito desejado. Outro recurso associado às palavras rítmicas, e que vem auxiliar a aquisição da leitura e escrita do ritmo, é a possibilidade de se utilizar gráficos – os que aqui apresentamos sugerem proporções dimensionais em suas figuras, as quais devem ser associadas às proporções temporais das figuras musicais. Trata-se de proporções matemáticas de dobro e metade e outras subdivisões. Recurso n. 2 – Leitura relativa É um processo visual de reconhecimento das notas na pauta musical, com base no dó móvel 4. Implica o conhecimento do mecanismo da pauta, ou seja, da disposição das notas e seu relacionamento de nomenclatura nas linhas e espaços, por graus conjuntos e demais intervalos. O Repertório Brasileiro na Educação Musical O treinamento deve ser feito, primeiramente, sem o uso de claves, indicando-se um ponto de referência – o nome de uma nota e sua hipotética localização. Por exemplo, nota fá na terceira linha. As demais notas serão nomeadas segundo a localização dessa nota chave 5. A leitura relativa também se refere ao ritmo, no sentido de que as unidades de tempo, ou de pulsação, são representadas por qualquer figura, impondo, assim, diferentes valores às demais figuras. Por exemplo, o valor de uma semínima, em um compasso dois por quatro 6, é o dobro do seu valor em um compasso dois por dois 7. Inicialmente, deve-se oferecer ao aluno um treinamento sem o uso de fórmulas de compasso, com base na equivalência das figuras musicais entre si: uma mínima equivale a duas semínimas, e assim por diante. Página 3 Glossário 5 nota chave origem da palavra clave – letra que determina os nomes das notas. 6 dois por quatro compasso binário de subdivisão binária, tendo a semínima como unidade de tempo, ou de pulsação. 7 dois por dois compasso binário de subdivisão binária, tendo a mínima como unidade de tempo, ou de pulsação. Saiba Mais Inteligências Múltiplas; Lado direito do cérebro Bibliografia BRAUNWIESER, M. Vinte e cinco rodas cantadas. São Paulo: Irmãos Vitale Editores CAMPO,P.del.(Coord.) La música como proceso humano. Salamanca: Amarú Ediciones,1997. CAMPOS, M. C. A Educação Musical e o novo paradigma. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000. GARDNER, Howard. A criança Pré-Escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. GOODKIM, Doug. Sound Ideas. 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