Complicações vasculares pulmonares da cirrose hepática

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realização
sociedade brasileira
de hepatologia
Programa de Educação
Médica Continuada
Complicações
vasculares pulmonares
da cirrose hepática
apoio
FEderação brasileira de
gastroenterologia
Editorial
Raimundo Paraná
Presidente
A Sociedade Brasileira de Hepatologia tem como um de seus objetivos
primordiais a promoção de Educação Médica Continuada de elevada qualidade
científica. Neste projeto ela se propõe a fazê-lo através de discussão de casos
clínicos, entrevistas e revisões de atualização sobre temas fundamentais em
Hepatologia, abordados por renomados especialistas da área.
A Zambon participa desta iniciativa, levando à classe médica a melhor
mensagem técnico-científica, com a realização da Sociedade Brasileira de
Hepatologia.
Nesta edição o médico terá a oportunidade de atualizar seus conhecimentos
através da informação mais precisa e atual sobre um importante problema:
Complicações vasculares pulmonares da cirrose hepática.
Editores científicos
ALBERTO QUEIROZ FARIAS
Coordenador Clínico do Serviço de Transplante e
Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Doutor em Gastroenterologia pela USP
Aécio Flávio Meirelles de Souza
Professor Adjunto de Gastroenterologia do Departamento de Clínica Medica da UFJF; Chefe do
Serviço de Gastroenterologia e Coordenador do Centro de Hepatites do Hospital Universitário
da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG
realização:
sociedade brasileira
de hepatologia
Cortesia:
Atha Comunicação e Editora – e-mail: [email protected]
Criação e Coordenação editorial
apoio:
FEderação brasileira de
gastroenterologia
Complicações vasculares pulmonares
da cirrose hepática
Walnei Fernandes Barbosa
Assistente Doutor do Departamento de Gastroenterologia
da Faculdade de Medicina da USP.
Professor Assistente Doutor de Clinica Médica da
Universidade de Taubaté – Unitau.
1. Síndrome hepatopulmonar
Introdução
Quadro Clínico
A síndrome hepatopulmonar (SHP) é uma relação clínica
existente entre disfunção hepática e dilatações vasculares
intrapulmonares, levando a concentrações arteriais de oxigênio abaixo da normalidade(1,2) e/ou aumento do gradiente
alvéolo arterial de oxigênio(3). Portanto, é caracterizada por
uma tríade de hipertensão porta, dilatações vasculares intrapulmonares (DVI) e alteração do gradiente alvéolo-arterial
de oxigênio ou hipoxemia. É encontrada em 17,5% dos
candidatos ao transplante hepático(4) e 10% dos pacientes
com cirrose(5). Existe grande variação da sua prevalência na
literatura, dependendo do método diagnóstico empregado,
como ecocardiograma com contraste, cintilografia de perfusão ou angiografia pulmonar e do cut off determinado como
referência para definir hipoxemia e aumento do gradiente
alvéolo-arterial de oxigênio.
Mais frequentemente, a SHP é encontrada em pacientes com
doença crônica do fígado; no entanto, o achado de SHP em
paciente com hipertensão porta não cirrótica indica que esse
seja o fator predominante relacionado com essa síndrome(6).
Suas causas são desconhecidas, mas acredita-se decorrer
de um desequilíbrio entre vasoconstritores e vasodilatadores, como o óxido nítrico (NO), e/ou entre fatores hepáticos de inibição ou estimulação do crescimento de células
vasculares, tais como o fator de crescimento hepático ou
o fator de crescimento endotelial vascular.
As alterações vasculares pulmonares podem ocorrer tanto como dilatações vasculares pré-capilares ou capilares,
variando de 15 a 500µ de diâmetro ou como comunicações arteriovenosas, localizadas nas unidades de trocas
gasosas(3). O mecanismo proposto no defeito da difusão
decorrente das dilatações vasculares intrapulmonares seria
consequente da incapacidade de as moléculas de oxigênio alcançarem o centro do vaso dilatado. A hipoxemia resultante
desse fenômeno seria agravada pelo estado hiperdinâmico
circulatório, levando à diminuição do tempo disponível para
o trânsito das hemácias dentro do capilar pulmonar, reduzindo, portanto, o tempo para as trocas gasosas.
Os sinais e sintomas da doença hepática constituem a forma mais comum de apresentação, encontrada em 82%
dos casos. Dispneia está presente apenas em 18% dos
pacientes(3). Platipneia é um sintoma caracterizado por
dispneia, quando o paciente assume a posição em pé ou
sentado e melhora com o decúbito. Se estiver associado à
dessaturação do oxigênio arterial maior do que 3mmHg,
na gasometria, é denominado ortodeóxia. A presença de
platipneia e ortodeóxia nesses pacientes reflete a gravidade
da dilatação vascular pulmonar que predomina nos terços
inferiores do pulmão. Hipocratismo digital associado a aranhas vasculares foi descrito como um dos mais sensíveis
marcadores clínicos da SHP. Portanto, a associação de hipertensão porta, aranhas vasculares, hipocratismo digital
e hipoxemia sugerem SHP(3) (figura 1).
Diagnóstico
Gasometria arterial
Como as alterações gasométricas fazem parte da tríade para
o diagnóstico da SHP, a gasometria arterial deve ser realiza-
Figura 1 – Paciente com SHP, apresentando cianose e hipocratismo digital
3
da em todos os pacientes. O sangue arterial é colhido com o
paciente deitado e sentado respirando o ar ambiente; aqueles
que apresentam hipoxemia (PaO2 menor do que 70mmHg) e/
ou aumento do gradiente alvéolo-arterial de oxigênio (DA-aO2)
maior do que 20mmHg em repouso(7) preenchem um dos
critérios diagnósticos da SHP(8). Os pacientes hipoxêmicos
devem ser submetidos à nova coleta após a administração
de oxigênio em concentração a 100%. Considera-se resposta
satisfatória quando a PaO2 for maior do que 500mmHg, moderada quando permanecer entre 300 e 500mmHg e sem
resposta quando a PaO2 for menor do que esses valores(9).
Geralmente, uma resposta insatisfatória é encontrada quando existem grandes e difusas dilatações, comunicações arteriovenosas (shunt verdadeiro) ou shunt intracardíaco.
Hipoxemia grave (PaO2 menor do que 55mmHg) é incomum
e, na ausência de doença pulmonar primária, sugere o diagnóstico de SHP(10).
tracardíaco (por ex.: forame oval patente) e intrapulmonar,
mas não quantifica o shunt e nem diferencia entre shunt
verdadeiro (comunicações arteriovenosas) e funcional (vasodilatação). Também pode ser realizado o ecocardiograma
transesofágico (ETE). Devido à maior sensibilidade do ETE,
a simples presença do contraste nas cavidades esquerdas
não deve ser critério para diagnosticar DVI; portanto, o ETE
deve ser classificado conforme a maior ou menor presença
de contraste no átrio esquerdo(14,15).
Ecocardiograma com contraste
Para o diagnóstico da SHP é fundamental documentar a
presença das dilatações vasculares intrapulmonares (DVI).
Atualmente, o ecocardiograma com contraste é considerado
o procedimento não invasivo de escolha para confirmar a
presença de shunt intrapulmonar(11,12), sendo o método mais
adequado para rastreamento e identificação das alterações
vasculares presentes na SHP(13). Podemos utilizar o ecocardiograma transtorácico (ETT), considerado padrão- ouro, ou
o ecocardiograma transesofágico (ETE)(14,15).
Quando utilizamos solução salina agitada para produzir
microbolhas (entre 24 e 180µ), esta é injetada em veia
periférica, causando opacificação das cavidades cardíacas
direitas. Em condições normais essas microbolhas são absorvidas no leito capilar pulmonar e não chegam às câmaras
cardíacas esquerdas (figura 2). Nos shunts intracardíacos
e intrapulmonares as microbolhas são visualizadas também
nas cavidades esquerdas. O shunt pode ser diferenciado,
baseando-se no tempo de aparecimento das microbolhas
no átrio esquerdo. No shunt cardíaco direito-esquerdo, as
microbolhas chegam ao átrio esquerdo, precocemente, nos
três primeiros ciclos cardíacos após aparecer nas câmaras
direitas; no shunt intrapulmonar o seu aparecimento nas
câmaras esquerdas é tardio, ocorrendo entre o quarto e
sexto ciclo cardíaco (figura 3). Dessa forma, o ecocardiograma com contraste consegue diferenciar entre shunt in-
4
Figura 2 – Ecocardiograma com contraste em câmaras direitas e nenhum
contraste é observado em câmaras esquerdas - Eco negativo
Figura 3 – Ecocardiograma com contraste em câmaras direitas e câmaras
esquerdas – Eco positivo
Outros Exames Complementares
A radiografia simples do tórax frequentemente é normal(1);
em alguns casos é possível identificar tênue infiltrado nos
terços inferiores de ambos os pulmões, sobretudo na incidência posteroanterior(16). Discretas opacidades nodulares
ou reticulonodulares nas bases pulmonares também foram
descritas(17) (figura 4).
Na tomografia computadorizada podem-se evidenciar espessamento pleural e aranhas vasculares na pleura(16). Segundo
alguns autores(17), podemos observar dilatação dos vasos
pulmonares periféricos com alguma extensão para a pleura
(figura 5).
Figura 4 – Radiografia de tórax evidenciando padrão reticulo nodular nas
bases pulmonares
A angiografia pulmonar determina anormalidades na vascularização pulmonar, bem como sua localização, e através
dela é possível classificar a SHP em tipo I e tipo II(10). A SHP
tipo I é subclassificada em mínima e avançada. Na SHP tipo
I mínima, observamos a presença de aranhas vasculares
pequenas e difusas e, na avançada, evidenciamos dilatações
importantes, imagens com padrão de esponja ou manchada,
com distribuição difusa em ambos os campos pulmonares.
No tipo II, menos comum, a presença de pequenas anormalidades vasculares lembra comunicações arteriovenosas
ou malformações(21).
Tratamento
Figura 5 – Tomografia computadorizada do tórax evidenciando dilatação dos
vasos pulmonares periféricos, estendendo-se para a pleura
Os testes de função pulmonar na SHP usualmente demonstram volume pulmonar normal. Ocasionalmente, os pacientes podem ter redução no volume pulmonar devido a ascite
ou derrame pleural. A capacidade de difusão do monóxido
de carbono (DLco) está geralmente baixa, sendo a alteração mais frequentemente encontrada no teste de função
pulmonar. A medida da capacidade vital forçada (CVF) e a
do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1)
são essencialmente normais, ou seja, não existem sinais
de obstrução de vias aéreas ou de restrição, considerando
sempre pacientes sem outras doenças cardíacas ou pulmonares associadas. A medida do volume residual também não
demonstra alteração significativa nessa síndrome(16).
A cintilografia com macroagregados de albumina, através da
injeção endovenosa de partículas de albumina marcadas com
tecnécio-99, pode indicar a presença de shunt intrapulmonar
quando o radioisótopo é encontrado no cérebro e rins. Esse
método é capaz de gerar partículas menores do que as
microbolhas, em torno de 20 a 60µ de diâmetro. Considerase fração de shunt normal até 6%, com sensibilidade de
84% e especificidade de 100%(18). É possível quantificar o
shunt, mas não é possível diferenciar entre shunt cardíaco
e pulmonar e entre shunt verdadeiro e funcional. A utilização do ecocardiograma transtorácico (ETT) e da cintilografia
pulmonar de perfusão foi avaliada, concluindo-se que o ETT
é o melhor método de screening para a dilatação vascular
intrapulmonar, por ser mais frequentemente positivo do que
a cintilografia(19). Na prática clínica, a melhor indicação para
utilização da cintilografia pulmonar de perfusão seria nos
pacientes com cirrose, doença pulmonar primária e ecocardiograma com contraste positivo. Se a cintilografia apresentasse uma fração de shunt elevada, indicaria que a SHP
contribui para a hipoxemia observada; se normal ou próxima
do normal, demonstraria que a hipoxemia teria como causa
a doença pulmonar primária, portanto, não seria revertida
com o transplante hepático. Vinte a 30% dos pacientes com
SHP tem doença pulmonar primária associada, portanto, a
cintilografia pulmonar de perfusão distinguiria razões vasculares e não vasculares para a hipoxemia(20).
Várias modalidades terapêuticas têm sido empregadas na
SHP, sem resultados satisfatórios ou ainda necessitando
de mais estudos clínicos para melhor definir seus resultados, como o almitrine, indometacina, tamoxifen, análogos
da somatostatina, simpaticomiméticos, betabloqueadores,
azul de metileno, plasmaférese, Garlic e TIPS(22-26) e, mais
recentemente, a pentoxifilina(27,28).
Suplemento de oxigênio, inclusive domiciliar, pode ser necessário quando o paciente apresenta hipoxemia importante.
Em pacientes respirando oxigênio a 100%, com PaO2 menor do que 300mmHg, está indicada a angiografia pulmonar. Se forem evidenciadas comunicações arteriovenosas
(shunts verdadeiros) passíveis de embolização, esse método
terapêutico deve ser empregado. Após a embolização, se
for observada melhora na hipoxemia, esse paciente poderá
apresentar melhor evolução se submetido ao transplante
hepático(21).
A reversibilidade da SHP após o transplante hepático já foi
descrita(7,20,29). Teoricamente, o padrão tipo I mínimo tem
melhores chances por ser um problema funcional e não
muito importante(21).
Uma grande revisão de 73 casos de SHP(7) demonstrou que
82% dos pacientes (adultos e pediátricos) normalizaram a
PaO2 em nove a 15 meses após o transplante hepático, com
normalização também do ETT e da cintilografia. Raramente,
a SHP recorre após o transplante. Ainda em relação ao
transplante hepático, maior índice de mortalidade com taxas
de 30% em 90 dias foi encontrado quando a PaO2 foi menor
do que 50mmHg no pré-transplante. Outros fatores que estão associados com maior índice de mortalidade são a falta
de resposta ao oxigênio a 100% (menor que 300mmHg) e
a captação extrapulmonar (cerebral) maior do que 30% na
cintilografia(30).
Devido ao crescente número de transplantes realizados no
mundo e no nosso país, e ao fato de a SHP hoje ser considerada uma indicação ao transplante hepático mesmo quando
a disfunção hepática se encontra estável, mudando de forma
definitiva o prognóstico do paciente, é importante que saibamos reconhecer essa síndrome e a sua prevalência no nosso
meio. Segundo a Portaria 1.160 de 29 de maio de 2006 do
Ministério da Saúde, que modifica os critérios de distribuição
de fígado de doadores cadáveres para transplante, a SHP é
considerada situação especial e, quando diagnosticada e o
paciente apresentar PaO2 menor do que 60mmHg em ar ambiente, se não for transplantado em três meses, sua pontuação no MELD passa para 24 e, em seis meses, para 29.
5
2. hipertensão portopulmonar
Definição
Hipertensão pulmonar (HP) é definida por pressão média
da artéria pulmonar (PMAP) > 25mmHg em repouso ou
> 30mmHg durante exercício. Diversos fatores, como a
circulação hiperdinâmica, o aumento do volume intravascular, embolia pulmonar, miocardiopatia cirrótica, fístulas arteriovenosas e esquistossomose, por exemplo, podem ser
responsáveis pelo aumento da PMAP, em pacientes com
hipertensão porta(31,32).
Hipertensão portopulmonar (HPP) é uma condição específica caracterizada pelo aumento da PMAP (> 25mmHg),
aumento da resistência vascular pulmonar – RVP (>120
dyne.s.cm5) e pressão em cunha capilar pulmonar normal (<
15mmHg), em um paciente com hipertensão porta (pressão
porta > 10mmHg)(31).
A sua prevalência é de 2 a 5% entre os pacientes com
hipertensão porta(31).
Os achados histopatológicos variam desde hipertrofia da
íntima e da média, que são alterações patológicas reversíveis, até a arteriopatia plexogênica, proliferação endotelial
e alterações trombóticas, que seriam irreversíveis(32). Essas
alterações são decorrentes de um desequilíbrio entre vasodilatadores (prostaciciclina, óxido nítrico) e vasoconstritores
(endotelina, serotonina, tromboxano).
hipertensão pulmonar, como hipertrofia ou dilatação do átrio
ou ventrículo direito, insuficiência valvular pulmonar, regurgitação tricúspide e retificação ou desvio do septo interventricular para o ventrículo esquerdo.
Através da medida da velocidade de regurgitação tricúspide, utilizando-se a equação de Bernouilli modificada, pode-se
calcular o gradiente de pressão entre o ventrículo e o átrio
direito e estimar a pressão sistólica ventricular direita que,
na maioria dos casos é semelhante à pressão sistólica da
artéria pulmonar (PSAP). Quando a PSAP for maior do que
50mmHg (normal < 30mmHg), sugere a presença de hipertensão portopulmonar. Esses pacientes deverão ser encaminhados para realização do cateterismo cardíaco direito,
para confirmar o diagnóstico e ser realizado o teste com
vasodilatadores para avaliar sua resposta ao mesmos(32).
Tratamento
Várias drogas já foram utilizadas no tratamento da HPP, como
prostaciclina e seus análogos (treprostinil, beraprost, iloprost),
inibidores da fosfodiesterase (sildenafil), L-arginina, óxido nítrico
Quadro Clínico
A maioria dos pacientes encontra-se assintomática quanto à
HPP, restringindo-se os sintomas àqueles relacionados com a
doença hepática. O sintoma mais frequente é a dispneia, que
ocorre em 80% dos casos sintomáticos, seguidos de síncope
(26%), dor torácica (24%), astenia (15%) e hemoptise (12%).
Em relação ao exame físico, o componente pulmonar da segunda bulha cardíaca (P2) está hiperfonética em 82% dos
casos. Encontra-se sopro sistólico de regurgitação tricúspide
em 69%, assim como edema em 35% e sinais sugestivos de
insuficiência cardíaca direita em 34%(33). Portanto, pacientes
com hipertensão pulmonar mais grave terão sinais e sintomas
referentes à sobrecarga de volume, como turgência jugular,
ascite, edema de membros inferiores ou mesmo anasarca.
Figura 1 – Ecocardiograma com dilatação de cavidades direitas e retificação
do septo interventricular
Exames complementares
6
Em 50% dos casos a radiografia de tórax evidencia aumento
da artéria pulmonar e do ventrículo direito com redistribuição vascular para os lobos superiores.
O eletrocardiograma pode demonstrar sobrecarga de átrio e
ventrículo direito, bloqueio de ramo direito e fibrilação atrial.
Na espirometria pode-se ter defeito restritivo leve e na gasometria arterial hipoxemia leve, quando se tem shunt intracardíaco que pode ocorrer devido ao fluxo direito-esquerdo através de um forame oval patente, por exemplo, em decorrência
de maiores pressões em cavidade direita. Consequentemente,
pode-se ter também alcalose respiratória compensatória(33).
O ecocardiograma transtorácico com doppler é o exame
de rastreamento de escolha, com achados que sugerem
Figura 2 – Ecocardiograma com doppler demonstrando refluxo tricúspide
Figura 3 – Ecocardiograma com estimativa da pressão sistólica da artéria
pulmonar
inalado, betabloqueadores, nitratos, antagonistas da endotelina (bosentan, sitaxsentan), sendo ainda necessários trabalhos
para avaliar a eficácia, além de posologia e meios de administração que possibilitem a aderência ao tratamento(31).
O uso de bloqueadores dos canais de cálcio demonstrou
melhora na sobrevida dos pacientes com HPP, mas deveriam
ser usados apenas naqueles que responderam positivamente durante o cateterismo direito, com queda da PMAP.
HPP está relacionada com morbidade e mortalidade intra
e pós-operatória; portanto, tem sido considerada uma contraindicação ao transplante hepático, porém, a sobrevida
média de um paciente após o diagnóstico de HPP é de 15
meses e a mortalidade em seis meses é de 50%.
Segundo Krowka(32), em uma revisão, 44 pacientes em 19 estudos apresentaram mortalidade de 40%, sendo maior entre
aqueles com pressão da artéria pulmonar média > 35mmHg
e com resistência vascular pulmonar > 240 dynes.s.cm.
O uso de prostaciclina como “ponte” para o transplante obteve benefício em pacientes com HPP grave, passando alguns
a serem considerados candidatos ao transplante. O epoprostenol também pode ser utilizado no pré e intra-operatório
nesses pacientes, assim como óxido nítrico inalado(31).
Le Pavec et al.(34) referem que em pacientes com HPP, a indicação e segurança do transplante hepático ainda são discutidas. Pacientes com HPP submetidos ao transplante podem
melhorar, estabilizar ou piorar após o mesmo. Concluem que
na HPP, o transplante hepático deveria ser indicado apenas
na presença de hipertensão pulmonar leve a moderada.
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7
Ursacol Revista SBH/ Mar2010
202721
O uso prolongado diminui a progressão
da CBP e a necessidade de transplante
hepático1
Estimula a secreção biliar
2
Ação imunomoduladora
2
Diminui a evolução para
o óbito e melhora os sintomas
de prurido e fadiga em 4 anos
1,2
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Ursacol®, ácido ursodesoxicólico. Comprimido simples 50, 150 e 300 mg, embalagens com 20 comprimidos. Uso oral - Uso adulto. Indicações:
ç Dissolução
ç dos cálculos biliares, formados por colesterol que apresentam litíase por cálculos não radiopacos,
com diâmetro inferior a 1 cm, em vesícula funcionante ou no canal colédoco; para pacientes que recusaram a intervenção
ç cirúrgica ou apresentam contraindicações
ç para a mesma; em casos de supersaturação
ç biliar de colesterol na análise da bile colhida
por cateterismo duodenal. Cirrose biliar: tratamento da forma sintomática da cirrose biliar primária; alterações
ç qualitativas e quantitativas da bile; colecistopatia calculosa em vesícula biliar funcionante; litíase residual do colédoco ou recidivas após intervenção
ç
sobre as vias biliares; síndrome dispéptico-dolorosas das colecistopatias com ou sem cálculos e pós-colecistectomia; discinesias das vias biliares e síndrome associada; alterações lipêmicas por aumento do colesterol e/ou triglicérides; terapêutica coadjuvante
da litotripsia extracorpórea.
Contraindicações: Icterícia obstrutiva e hepatites agudas graves; colecistite, cólicas biliares frequentes, úlcera gastroduodenal em fase ativa; alterações hepáticas e
intestinais,,qque interferem com a circulação
ç entero-hepática
p dos ácidos biliares;; insuficiência renal grave;
g ;ppacientes em estado terminal de cirrose biliar primária. É contraindicado em processos inflamatórios do intestino delgado ou do intestino grosso e em caso de hipersensibilidade aos componentes da fórmula.
Precauções
ç e advertências: - Gerais: Os cálculos radiotransparentes, que melhor respondem ao tratamento litolítico, são aqueles pequenos e múltiplos em vesícula biliar funcionante; um eventual controle da composição
ç biliar, para verificar a saturação
ç em
colesterol, representa importante elemento de previsão para um êxito favorável do tratamento. - Gravidez e/ou lactação:
ç Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica. Informe imediatamente seu médico em caso de
suspeita de gravidez. Não há estudos que confirmem ou não a eliminação através do leite materno e, portanto, não é recomendado a mulheres que estejam amamentando.
Interações medicamentosas: Com antiácidos a base de alumínio, colestiramina, clofibrato e neomicina.
Reações
ç adversas: Diarreia, dores estomacais, náusea a vômito, constipação
ç intestinal, dor de cabeça,
ç indigestão ou gosto metálico na boca. Posologia e administração:
ç A dose diária deve ser administrada em 2 ou 3 vezes ao dia, após as refeições.
ç Metade da
dose diária poderá ser administrada após o jantar. A ingestão antes de deitar aumenta a eficácia do medicamento. - Dissolução
ç de cálculos biliares: 5 a 10 mg/kg de peso corporal, dividida em duas ou três tomadas, por períodos de 4 a 6 meses, pelo menos,
podendo chegar a 12 meses. - Prevenção
ç da litíase biliar: 300 mg duas vezes ao dia, por períodos de tratamento de até seis meses. - Sintomas dispépticos: geralmente são suficientes doses de 50 mg três vezes ao dia, ou 150 mg duas vezes ao dia. - Cirrose
biliar primária estágio I a III: 12 a 15 mg/kg/dia, dividida em duas a quatro doses, por um período de 9 meses a 2 anos de tratamento. - Cirrose biliar primária estágio IV com bilirrubinemia normal: 12 a 15 mg/kg/dia, dividida em duas a quatro doses, por um
período de 9 meses a 2 anos de tratamento, devendo ser realizado controle periódico da função
ç hepática. - Cirrose biliar primária estágio IV com bilirrubinemia elevada: 6 a 8 mg/kg/dia (metade da normal), dividida em duas a quatro doses. - Terapia coadjuvante
de litotripsia
p extracorpórea:
p 8 mg/kg/dia,
g g , associada a 7 mg/kg/dia
g g de ácido ursodesoxicólico,,p, por um período
p de tratamento que
q se inicia 2 a 3 semanas antes da intervenção
ç até 1 mês após
p o procedimento.
p
Não é necessária a redução posológica na insuficiência
renal, uma vez que o ácido ursodesoxicólico é excretado predominantemente pela bile e somente uma quantidade muito pequena pela urina. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Registro MS.: 1.0084.0067z
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