S O L U Ç Õ ES IN O VAD O RAS Hidrofresa inovadora KARINA YUMI IAMATO é engenheira civil da Damasco Penna Engenharia Geotécnica, formada pela Fesp JOSÉ MARIA DE CAMARGO BARROS é engenheiro civil, doutor Poli/USP e pesquisador do IPT Envie seus comentários, críticas, perguntas e sugestões de temas para esta coluna: [email protected] [email protected] 48 Com a diminuição de áreas disponíveis para novos empreendimentos e o crescimento da frota veicular, há uma forte demanda por edifícios com mais subsolos. Dentre as alternativas existentes, a parede diafragma é a contenção mais recomendada quando se precisam escavar subsolos abaixo do lençol freático. Constituída por lamelas ou painéis de concreto armado e muitas vezes atirantada, essa solução é muito utilizada. Procura-se sempre embuti-la em solo impermeável, eliminando-se assim a necessidade do rebaixamento externo do lençol freático. Em geral não há maiores dificuldades para escavações em solo, utilizando-se o equipamento clam-shell. Entretanto, em razão do grande número de subsolos, atinge-se com frequência o material rochoso, onde a escavação é bem mais complexa. É aí que entra a hidrofresa. Quando se utiliza o clam-shell, as fases principais de execução são: • execução da mureta-guia para proteção do topo da escavação; • escavação com clam-shell até a profundidade de projeto, mantendo-se o furo sempre cheio de lama bentonítica ou polímero; • limpeza do fundo da escavação, tratamento da lama bentonítica, colocação das chapas-junta e colocação da armadura; • lançamento do concreto, de baixo para cima, através de tubos de concretagem; • recuperação das chapas-junta e da mureta-guia. As muretas-guia de concreto armado têm a função de guiar o equipamento nos primeiros metros de escavação. Após sua execução, começa-se a escavação da lamela com o clam-­shell, que tem espessuras variando de 30 a 120 cm e larguras de 250, 280 ou 320 cm. Esse equipamento, preso a um cabo de aço, cai com as mandíbulas abertas dentro da vala. revista notícias da construção / outubro 2013 Estas se fecham, levando para a superfície o material escavado. Para o sucesso desta escavação é indispensável a utilização da lama bentonítica ou de polímeros sintéticos para seu preenchimento. Estes são cada vez mais usados, pois, embora mais caros, reduzem os impactos ambientais e os custos com o descarte da lama. Ambos os materiais dão estabilidade à escavação e devem passar por testes de qualidade no canteiro de obras antes de serem utilizados. Terminada a escavação, colocam-se verticalmente, com seção trapezoidal, as chapas­ -junta nas extremidades laterais da lamela, dando-lhe o formato de encaixe. As chapas são retiradas após o inicio da pega do concreto. A armadura é montada em formato de “gaiola” conforme especificações de projeto, içada por guindaste e posicionada dentro da lamela. A concretagem, feita após o posicionamento da armação, é submersa, empregando-se um tubo tremonha que executa o processo de baixo para cima, expulsando a lama bentonítica conforme o concreto é lançado. Assim são executados todos os painéis. Ao final, é necessária uma viga de coroamento, que unifica todas as lamelas, para que não trabalhem isoladamente e não tenham reações diferenciadas. Execução das juntas secantes com a hidrofresa Com o emprego da hidrofresa, os processos iniciais são os mesmos. Como a hidrofresa apresenta bom desempenho somente em rochas, matacões e solos mais duros, é necessário o uso do clam-shell para escavação da lamela nos seus primeiros metros em solo. A velocidade para execução com clam­ -shell em solos depende de diversos fatores, mas, em geral, varia de 2 m/h a 12 m/h. Quando essa faixa de valores não é atingida, entra em ação a hidrofresa, e a partir daí a execução começa a ser diferenciada. A hidrofresa é montada num guindaste movimentado sobre grandes esteiras ou por unidade hidráulica. O equipamento possui espessuras variando de 60 até 150cm e larguras de 250 à 320cm. A hidrofresa possui duas rodas de corte, acionadas por motores hidráulicos. Elas giram em sentidos opostos em torno de seus eixos horizontais e possuem bits de tungstênio ou vídea, para triturar a rocha. Os detritos, juntamente com o fluido estabilizante, são aspirados por uma bomba hidráulica de alta capacidade de sucção, e direcionados à estação de tratamento da lama, onde ela é reciclada e limpa, retornando à vala. Esse procedimento garante o uso de materiais estabilizantes permanentemente reciclados e limpos. Ao final, o posicionamento das armações e a concretagem seguem os mesmos processos descritos. Sensores instalados no equipamento medem a sua velocidade de avanço e o torque do motor. Sua verticalidade também é medida continuamente e eventuais desaprumos podem ser corrigidos. A central de tratamento de fluidos necessita de um espaço maior e é bem mais complexa, por possuir mais etapas de tratamento, do que a utilizada na escavação com o clam-shell. Em geral, executam-se inicialmente duas lamelas separadas denominadas primárias e entre elas posteriormente uma denominada fechamento ou secundária. As primárias podem ser simples ou duplas (com duas descidas da hidrofresa) e as de fechamento são sempre simples. O espaço entre as duas primárias reservado para a de fechamento tem uma largura menor que a do equipamento, de forma que, quando essa lamela é escavada, a hidrofresa escarifica as laterais das lamelas primárias vizinhas. Obtém-se uma superfície rugosa no contato entre o concreto fresco e o já endurecido. Essas juntas secantes proporcionam melhor desempenho estrutural da parede e maior estanqueidade da escavação. Como no caso convencional, executa-se a viga de coroamento ao final da execução de todos os painéis. A experiência brasileira no uso de hidrofresa é bastante recente, cerca de quatro anos, e por essa razão ainda há pouca informação sobre seu desempenho. Em certos tipos de rochas, principalmente as mais resistentes e sãs, o desempenho do equipamento deixa a desejar, apresentando dificuldades de avanço e até mesmo não atingindo a profundidade de escavação prevista. Por outro lado, tem mostrado um desempenho bastante satisfatório em obras com a presença de rochas mais brandas ou mais alteradas. Para essas situações, a hidrofresa é uma ferramenta bastante interessante para viabilizar obras com escavações profundas em rocha. Agradecemos à empresa Geofix Fundações pela cessão de algumas das ilustrações deste trabalho. revista notícias da construção Conjunto completo da hidrofresa Processo executivo de uma lamela primária dupla / Outubro 2013 49